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A REPRESENTAÇÃO DA CRIANÇA NEGRA EM MENINA BONITA DO LAÇO DE FITA

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Academic year: 2021

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A REPRESENTAÇÃO DA CRIANÇA NEGRA EM MENINA BONITA DO LAÇO DE FITA

Karina Carla da SILVA1 Rosângela TENÓRIO2

INTRODUÇÃO

O artigo se insere no campo dos estudos étnico-raciais associado aos estudos sobre literatura infantil, sua realização tem relevância para a política de ações afirmativas. Interessa-nos observar como a literatura atua na sociedade, integrada as relações de poder, sem a pretensão de conceituá-la, ou defini-la de alguma forma. Na declarada democracia racial brasileira, na obra de Freyre (2015), os saberes de matriz africana são menosprezados, diante de um modo de pensar hegemônico tecido no período colonial, que não concede visibilidade a produção cultural das minorias. Tendo em vista que a obra literária transmite mensagens que revelam expressões culturais da sociedade, partimos desse lugar de subalternidade, onde o indivíduo negro é representado como uma figura subserviente, permitindo que o consenso hegemônico fabricado anteriormente seja reeditado no presente e continue sua ciranda no tempo, repetindo suas ideias de representação, frequentemente reforçando a imagem da pessoa negra marginalizada e inadequada ao social.

Embora se reconheça que há um crescimento no número de obras literárias voltadas para o público infantil que tratam as questões de etnia em consequência da legislação brasileira dos anos recentes, há, contudo, que se investigar como essa representação tem sido feita.Os negros que conseguiram chegar vivos em nosso litoral, a partir do século XVI para enfrentar o trabalho pesado na lavoura e na mineração também deixaram sua contribuição para a cultura nacional, essas informações precisam estar em debate nas salas de aula. A relação étnico-racial é um tema que ganha mais espaço a cada dia, recebendo maior notoriedade após a promulgação da Lei nº 10.639/03, que altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (BRASIL, 1996), e institui a obrigatoriedade do ensino de história

1 Mestranda em Educação | UFPE | E-mail: karinna_carla_@hotmail.com

2 Prof.ª Drª na linha de pesquisa Formação de Professores e Prática Pedagógica | UFPE | E-mail: rosangelatc@gmail.com

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2 e cultura africana e afro-brasileira na educação básica. A lei trouxe a

obrigatoriedade do conteúdo, mas ainda não conseguiu convencer a sociedade, de que os professores precisam ser preparados para atuarem e para isso é necessária à reformulação dos programas de cursos de graduação também, o educador precisa de uma formação não apenas pautada na criticidade, mas também contínua. Embora a lei esteja em vigor, ainda são raros os cursos de Pedagogia ou licenciatura que abordem temas relativos à África ou história dos negros no Brasil e sua representação social. É preciso pesquisar a fundo esses temas, para não cairmos em erros comuns, como por exemplo, tratar o continente africano como um só, ignorando suas particularidades. As narrativas voltadas para o público infantil carregaram consigo as características próprias dos povos europeus, tanto nas abordagens no enredo, quando na coloração e plasticidade das ilustrações, resultando em um legado iconográfico e discursivo pautado na voz do colonizador, representando as vozes dos colonizados de acordo com suas próprias formações ideológicas e discursivas.

OBJETIVOS

Temos como nosso objetivo analisar os discursos referentes a representação da criança negra no livro Menina Bonita do Laço de Fita, escrito por Ana Maria Machado.

Observando as relações de poder e traços de colonialidade que se fixam nos artefatos culturais. Almejamos também, analisar os livros de literatura infantil, como artefato cultural.

REFERENCIAL TEÓRICO

Imaginando e representando a nós mesmos, temos a oportunidade de saber como nos tornamos quem somos (HALL, 2005), sendo assim dimensionamos a importância do discurso que um sujeito faz de si, do outro e ainda os discursos que lhe são expostos, auxiliando-o a conformar-se com um posicionamento (im)posto diante do mundo.

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3 A identidade e a diferença, estão ligadas aos sistemas de poder. Sendo assim, aqueles que detêm o poder, definem a identidade e a forma de questionar a diferença.

Tendo em vista a cultura como sistema de significação, segundo os Williams (1992), enfatiza-se a dimensão significante, em um sistema de signos, caracterizando a cultura , como um conjunto de práticas significantes, que operam no aparato do poder e regulação, remontando um processo de fixidez cultural, essencial a conservação dos discursos coloniais, segundo Silva (2010).

A cultura, assume o papel produtora dos significados postos, enquanto a linguagem desenvolve a função de meio pelo qual os significados serão propagados, fazendo com que a realidade seja construída discursivamente, evidenciando o sujeito colonial como desajustado. O discurso , por sua vez, é produtivo e desdobra-se em artefatos culturais que carregam mensagens e conceitos através do tempo.

METODOLOGIA E ANÁLISE DOS RESULTADOS

O presente projeto de pesquisa busca compreender como a criança negra tem sido representada na literatura infantil brasileira. Para tanto, tomamos como lentes a abordagem teórico-metodológica da Análise Cultural, que está sustentada no campo dos Estudos Culturais, compreendendo que a mesma apresenta profunda afinidade com o objeto de investigação.

Para alcançarmos os objetivos desta pesquisa adotamos as lentes da abordagem teórica baseadas nos Estudos Culturais.

A análise cultural está sustentada nos Estudos Culturais, onde o que é representado não atua em plenitude no significante, já que sua representação é tida como processo e nessa condição não se mostra de maneira fixa (SILVA, 1999). Nosso procedimento metodológico fará uso da técnica de Análise do Discurso, que de acordo com Mussalim (2006, p. 102) trabalha em três regiões do conhecimento, a serem o materialismo histórico, a linguística envolvida nos processos de enunciação e a Teoria do Discurso, que determina os processos semânticos, ainda há o fato de que essas três regiões são afetadas pela subjetividade, que auxilia na formação do significado.

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4 A AD (Análise do Discurso) apresenta como objetivo refletir sobre as

condições de produção e apreensão dos significados dos textos produzidos.

Segundo Orlandi, a AD, é uma proposta crítica que busca, problematizar formas de reflexão, incorporando a compreensão do texto mediante sua condição de produção. O sentido do discurso não é fixo. Ele muda em função do contexto, da estética, da ordem do discurso e da sua forma de construção.

Esta técnica nos possibilita analisar as relações de poder, de discurso, de representação e de literatura de maneira singular trilhando um caminho investigativo próximo da perspectiva foucaultiana. que nos permite fazer inferência em relação aos objetivos da pesquisa.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A forma como criança negra é representada na literatura infantil, pode vir a impedir o desenvolvimento de uma identidade positiva com relação à negritude, reforçando a ideia de inadequação. Os discursos na literatura infantil estão envoltos em ideologias marcadas pelos conflitos sociais, que operam silenciosamente, consolidando estereótipos a respeito da população e da criança negra, reforçando o processo de negação de sua própria etnia.

As interações que surgem entre a criança e a narrativa são muito intensas. São terreno fértil para a elaboração de imagens e modelos de comportamento e, onde os discursos são vividos como um drama real unindo o texto ao leitor. Acreditamos que as crianças negras só terão a oportunidade de tornarem-se interlocutoras em meio ao processo de comunicação, quando a literatura representar de forma positiva a sua imagem e identidade. A luta pela desconstrução de discursos postos e produção de significados reafirma a importância da análise cultural na ressignificação das práticas discursivas.

REFERÊNCIAS

FOUCAULT, Michel. A arqueologia do saber. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2005.

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5 HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 2005.

MUNANGA, Kabenguele (org.). Superando o racismo na escola. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, 2005.

WILLIAMS, Raymond. Cultura. São Paulo: Paz e Terra, 1992.

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