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MESTRADO EM COMUNICAÇÃO E SEMIÓTICA

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC/SP

Edilaine Correa Gonçalves

CHARGES ANTICLERICAIS DE ALUÍSIO AZEVEDO:

reminiscências teatrais e carnavalescas em crítica política

MESTRADO EM COMUNICAÇÃO E SEMIÓTICA

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC/SP

Edilaine Correa Gonçalves

CHARGES ANTICLERICAIS DE ALUÍSIO AZEVEDO:

reminiscências teatrais e carnavalescas em crítica política

MESTRADO EM COMUNICAÇÃO E SEMIÓTICA

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Mestre em Comunicação e Semiótica sob a orientação do Prof. Dr. Amalio Pinheiro.

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Edilaine Correa Gonçalves

CHARGES ANTICLERICAIS DE ALUÍSIO AZEVEDO: reminiscências teatrais e carnavalescas em crítica política

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Mestre em Comunicação e Semiótica sob a orientação do Prof. Dr. Amalio Pinheiro.

Aprovada em: ___ de ____________ de 2013.

BANCA EXAMINADORA

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AGRADECIMENTOS

Essa é a página em que é cedido espaço para os agradecimentos àqueles que de alguma forma contribuíram com essa pesquisa como silenciosos torcedores, efusivos comentadores, críticos ou estimuladores em todos os percalços de todo ou de parte do percurso.

Gostaria primeiro de agradecer especialmente aqueles que já não estão mais presentes, mas que igualmente propiciaram a confecção desse trabalho e que levo em minha lembrança, sempre, com muito orgulho de ter compartilhado com eles um pedaço de minha vida. Ao meu pai Leonel Araujo que sempre confiou em meu futuro, à minha avó Maria Benedita Alexandre que sempre torceu e me incentivou para que eu aproveitasse a vida e todas as boas oportunidades que surgissem, diferentemente do que lhe aconteceu e, também, ao professor Philadelpho Menezes, que nos idos de 1994 me incentivou a ingressar na Pós-Graduação em Comunicação e Semiótica ainda que eu não me sentisse suficientemente preparada para tal empreitada. Prontos nunca estamos: o novo sempre é algo assustador que, mesmo contemplando-o como um desafio saudável, tememos não alcançar êxito.

Poderia mencionar tantas pessoas que me incentivaram, tranquilizaram e/ou orientaram durante pouco mais de dois anos que levei para cumprir o curso, assistindo às aulas e eventos, elaborando trabalhos, pesquisando o objeto que escolhi, entre outras etapas. Pessoas essas que sempre acreditaram em meu potencial, muito mais do que eu mesma. Pessoas que já eram amigas, outras que se tornaram, como Julia Lúcia Oliveira e Magali Fernandes Oliveira.

Dando continuidade no elenco, agradeço aos funcionários da Central de Cópias da PUC-SP, que sempre me receberam com um grande sorriso tranquilizador nos lábios, dando uma importância maior do que a devida às páginas que eu pedia para serem impressas, lidas, relidas, reescritas, sempre em um exercício sem fim, tal como Sísifo com sua pedra rolando montanha acima.

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Agradeço também minhas amigas Ariadine Garcia, Arlete Venites Sanchez, Elaine Verônica, Lúcia Sérvulo e Miriam Tamura Makibara que sempre, como boas ouvintes e estimuladoras, escutavam pacientemente minhas divagações e, quantas vezes, ao demonstrar interesse pelo o que eu pesquisava, me estimulavam a discorrer sobre o trabalho. Agradeço ainda a Rafael Coelho que de forma carinhosa e interessado na leitura da dissertação, como um todo, elaborou a tradução para o inglês do resumo dessa pesquisa.

Aos meus filhos Letícia e Gustavo, de quem me ausentei várias vezes e a quem neguei a possibilidade de assistirmos a programas juntos ou outros lazeres, em função da urgência das inúmeras leituras a que me propus fazer. Mas que, de certa forma, os fez ver que mesmo nós adultos somos cobrados e precisamos cumprir tarefas não necessariamente prazerosas, mas que nos fazem crescer. Vi meus filhos se tornando mais aplicados, ainda que, como pais, nunca acreditamos ser suficiente a doce e ingênua dedicação que reservam às obrigações escolares, cobrando deles mais empenho, preocupados com a grande concorrência num mundo onde precisamos saber tudo ou quase tudo a fim de podermos garantir um futuro promissor.

Aos amigos da Biblioteca da PUC-SP, em especial à Helen Nepomuceno de Oliveira, maravilhosa em sua praticidade e forma clara de ver soluções para todos os pequenos problemas que me atormentaram durante a última década e meia, tempo esse que nos conhecemos. À Rosana da Silva Portela, mestre em cinema que me orientou, deu dicas poderosas em relação à parte burocrática do curso além de estar sempre disposta a revisar de forma amiga meus textos truncados desde o início da pesquisa. Poderia elencar todos os outros amigos de meu local de trabalho, mas tornaria essa leitura exaustiva, porque felizmente tenho muitas pessoas amigas na torcida.

Agradeço ainda à minha mãe Marilene Bernardes Correa, que sempre, desde os meus primeiros passos, me apoia carinhosamente, sempre disposta a me socorrer em momentos de crise, ainda que não entenda porque insisto em continuamente estudar – acreditando que vou enlouquecer, certamente.

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Ao meu orientador Amalio Pinheiro pelo acolhimento de meu projeto, paciência diante de minhas hesitações e sua valiosa orientação promotora de uma necessária sensibilização e crescimento intelectual para compreender a complexidade de nossa cultura.

Não poderia também deixar de mencionar a secretária do programa, Maria Aparecida Ribeiro Bueno, que sempre se mostrou parceira em minha empreitada, comemorando comigo cada uma das minhas conquistas.

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GONÇALVES, Edilaine Correa. As Charges Anticlericais de Aluísio Azevedo: reminiscências teatrais e carnavalescas em crítica política. Dissertação de Mestrado. Programa de Estudos Pós Graduados em Comunicação e Semiótica. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, SP, Brasil, 2013.

RESUMO

A pesquisa procura analisar como em charges de Aluísio Azevedo apresentam-se técnicas caricaturais, das artes cênicas e, ainda, elementos provenientes do carnaval. Como corpus, foram escolhidos, dentre os vários temas que o autor literário e caricaturista ilustrou, quatro imagens anticlericais publicadas no jornal anticlerical e satírico O Mequetrefe no ano de 1877 em seus contextos histórico e social como instrumentos de e para contestação, ao mesmo tempo, séria e risível, religiosa e satírica que já permitia, na época, a participação da sociedade ao trazer em forma de traços que permitem pressupor a presença da comicidade, recursos teatrais da farsa e do burlesco, imediatamente compreensível com o objetivo de informar e contribuir com reflexões e mudanças de postura do público leitor do jornal. Essa forma de análise seria apenas uma das possibilidades de investigação desse objeto crítico de entretenimento e informação, dentre outras. Como base teórica para análise e interpretação, consultamos autores como FLUSSER (2008) e suas reflexões sobre as imagens técnicas; MUNIZ SODRÉ (2006) e as estratégias sensíveis presentes nos meios de comunicação; a teoria da ação comunicativa em HABERMAS (1987); a construção de imagens culturais em MORIN (1984); MARTIN-BARBERO (2002) e os processos de formação da cultura através do jornal e BAKHTIN (2005, 2010), sobre os elementos carnavalizados, além de pesquisadores da área do teatro, tais como PRADO (1999), MEYER (2001), SOUZA (2002), RABETTI (2007) e GUINSBURG (2009). Objetivamos, assim, demonstrar como essa imagem auxiliava na divulgação de um fato, na medida em que entendemos que a ideia em relação à presença do cômico é qualidade facilitadora para a recepção da charge, como um convite previamente aceito e efetivamente traduzível pelo leitor, educando, informando e servindo como objeto crítico político e de reflexão para possíveis mudanças sociais.

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GONÇALVES, Edilaine Correa. As Charges Anticlericais de Aluísio Azevedo: reminiscências teatrais e carnavalescas em crítica política. Dissertação de Mestrado. Programa de Estudos Pós Graduados em Comunicação e Semiótica. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, SP, Brasil, 2013.

ABSTRACT

This research aims to analyze how in cartoons designed by Aluísio Azevedo are presented caricatural techniques of scenic arts and elements from Carnival. As the corpus were chosen among several themes that the literary and cartoonist author approaches, four anticlerical images published in the anticlerical and satiric newspaper O Mequetrefe in the year 1877. These images were analysed according to their historical and social contexts as tools to and for contestation. A contestation that at the same time is as much serious as laughable, religious and satirical, aspects which have already allowed in that age the participation of the society to bring some traits that let assume the presence of comicality through the usage of theatrical resources such farce and burlesque, immediately understandable with the purpose to inform and contribute with reflections and changes seen in the posture of the reader audience of the newspaper. This form of analysis, among others, is just one of the study possibilities of this critical object active as entertainment and information. As theoretical background for the review and interpretation, we consulted some authors such as FLUSSER (2008) and his reflections about technical images; MUNIZ SODRÉ (2006) and the sensitive strategies present in the media; the communicative action theory by HABERMAS (1987); the construction of cultural images by MORIN (1984); MARTIN- BARBERO (2002) and the processes of cultural formation through the newspaper and BAKHTIN (2005, 2010), about the carnivalesque elements. In addiction to this we consulted researchers from theatre field, such as PRADO (1999), MEYER (2001), SOUZA (2002), RABETTI (2007) and GUINSBURG (2009). Therefore we summarized to demonstrate how this image assisted in the propagation of an event, according as we realize the idea in relation to the presence of comic is a facilitator quality to the reception of the cartoon. It also acts as an invitation previously accepted and effectively translatable by the reader, educating, informing and serving as a political critic object and still operating as a reflection to possible social changes.

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ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1 Aluísio Azevedo - caricatura de Toni D´Agostinho. Disponível em: <http://www.acaricaturadobrasil.com.br>. Consultada em: 22.04.2011... 24

Figura 2 Imagem central de Aluísio Azevedo. Disponível em: <http://files.asliteratas.webnode.com.br/200000128-b35cfb456e

/aluisio-azevedo.jpg>... 29

Figura 3 Casa de Pensão. (Originalmente publicado em 1884). (Capa

ilustrativa) Disponível

em:<http://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=casa+de+pens%C 3%A3o+aluisio+azevedo&source=images&cd=&cad=rja&docid=uO cFIttjRwMgpM&tbnid=7zm5P0QJJkA1TM:&ved=0CAQQjB0&url

=http%3A%2F%2Fproduto.mercadolivre.com.br%2FMLB-488374437-casa-de-penso-aluizio-azevedo _JM&ei=FC3KUeGw A8640AH0qYHICw&bvm=bv.48340889,d.dmQ&psig=AFQjCNFg FhnuuC5wxYGH8kGJ2D765mjohQ&ust=1372290655229593>... 29

Figura 4 Mattos, Malta ou Matta. (Originalmente publicado em 15 episódios em 1885). (Capa ilustrativa da Editora Nova Fronteira, SP, 1973). Disponível em:<http://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q= alu%C3%ADsio%20azevedo%20mattos%2C%20malta&source=ima ges&cd=&cad=rja&docid=rBei4gzTMcMy5M&tbnid=pztASgaQ1QI 14M:&ved=0CAQQjB0&url=http%3A%2F%2Fproduto.mercadolivr e.com.br%2FMLB-483132843-aluizio-azevedo-mattos-malta-ou-matta-JM&ei=pz7KUdKbJ7Hj4AOrpoGoCQ&psig=AFQjCN

Haidvt_XrI64aYAmZK13bfAyH3fg&ust=1372295201920441>... 29

Figura 5 O Cortiço. (Originalmente publicado em 1890). (Capa ilustrativa da Editora Ática, SP). Disponível em:<http://www.google.com.br/ url?sa=i&rct=j&q=alu%C3%ADsio%2Bazevedo%2Bcorti%C3%A7 o%2Beditora%2Batica&source=images&cd=&cad=rja&docid=4MU 1dZ6007qZvM&tbnid=LJyf7P0kyHe5M:&ved=0CAQQjB0&url=htt p%3A%2F%2Flivraria.folha.com.br%2Fcatalogo%2F1027215%2Fo ortico&ei=QTPKUcb1KtHI0AGLo4GQDA&bvm=bv.48340889,d.d mQ&psig=AFQjCNETZqGf1Vtq23dCNbtIDyysVyhHsQ&ust=1372 292282913980>... 29

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B250%3B366>... 29

Figura 7 Demônios de Aluísio Azevedo em quadrinhos por Guazzelli. Editora Peirópolis. (Originalmente publicado em 1893). (Capa ilustrativa). Disponível em: <http://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q= alu%C3%ADsio%2Bazevedo%2Bdemonios&source=images&cd=& cad=rja&docid=HwtFei3oNUofM&tbnid=obdun9Aq8PLu8M:&ved= 0CAMQjhw&url=http%3A%2F%2Fproduto.mercadolivre.com.br%2 FMLB-483530401-demnios-em-quadrinhos-de-aluisio-azevedo-por-guazzelliJM&ei=3zTKUbLvC7Ss0AGm34H4Bw&psig=AFQjCNFk VbfaAJE8SSg8kvPjSVcYtqT2Xg&ust=1372292701472837>... 29

Figura 8 Filomena Borges. (Originalmente publicado em 1884). (Capa ilustrativa de Martins Editora, SP). Disponível em: <http://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=alu%C3%ADsio%20 azevedo%20filomena%20borges&source=images&cd=&cad=rja&do cid=Hr8qQWVqVg_M&tbnid=WztjEKhaHPiNiM:&ved=0CAMQjh w&url=http%3A%2F%2Fwww.aluisioazevedo.xpg.com.br%2Fobras .html&ei=OzXKUd3wHefU0gGvoIH4Cw&psig=AFQjCNFSd5hr8S EuZDZfpbNzxsdyIzBVSA&ust=1372292789024896>... 29

Figura 9 O Homem. (Originalmente publicado em 1887). (Capa ilustrativa da Martins Editora, SP). Disponível em: <http://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=alu%C3%ADsio%2B azevedo%2Bohomem&source=images&cd=&cad=rja&docid=RuET LGUQpyqW9M&tbnid=whbdjWDzdvFOM:&ved=0CAQQjB0&url =http%3A%2F%2Faluisiotgazevedo.blogspot.com%2Fp%2Ffotos.ht ml&ei=9DXKUfGRBujV0QHcoBA&psig=AFQjCNGoWVsR5sBH BUrrADGFKFI8EBBA&ust=1372292977491848>... 29

Figura 10 O Japão. (Publicado postumamente). (Capa ilustrativa da Editora Rowitha Kempf, 1984). Disponível em: http://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=aluisio%2Bazevedo%2 Bo%2Bjapao&source=images&cd=&cad=rja&docid=477WoRRtvFa cJM&tbnid=T1SCNKUpU046BM:&ved=0CAMQjhw&url=http%3 A%2F%2Fwww.bn.br%2Fportal%2Findex.jsp%3Fplugin%3DLojaD oLivro%26acao%3DVerDetalhes%26codProduto%3D150%26pagina %3Dnull&ei=q4DTUc_CNonU8wS87IDgAQ&psig=AFQjCNH626 HA7h2s4D_tKlKc_z8UnO0cMw&ust=1372901707310517... 29

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11 azevedo%2Bo%2Btouro%2Bnegro&source=images&cd=&cad=rja& docid=cB0oUY9eO7vtqM&tbnid=GdzalfzKCdU3VM:&ved=0CAM Qjhw&url=http%3A%2F%2Fproduto.mercadolivre.com.br%2FMLB -483192947-o-touro-negro-aluisio-azevedo-JM&ei=mTnKUfSv NMiy0QGR1oGwDw&psig=AFQjCNFaLpdOzCsAEHEdlYmcnqOj BfTJ9w&ust=1372293903161885>... 29

Figura 12 A Condessa Vésper. (Originalmente publicado em 1901). (Capa ilustrativa da Editora Garnier). Disponível em: <http://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=alu%C3%ADsio%2B azevedo%2Bcondessa%2Bvesper&source=images&cd=&cad=rja&d ocid=a6rd4BYyVEX1PM&tbnid=Exzcq8smq6yuPM:&ved=0CAUQ jRw&url=http%3A%2F%2Faluiziozevedo.blogspot.com%2F&ei=M zrKUdrVLLSp0AG2q4CYDA&psig=AFQjCNGEnNLohgFCDcfv1r 4bJ7dTn9kUEQ&ust=1372294065300726>... 29

Figura 13 Girândola de Amores. (Originalmente publicado em 1900). (Capa ilustrativa da Martins Editora, SP). Disponível em: <http://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=alu%C3%ADsio%2B azevedo%2Bgirandola%2Bde%2Bamores&source=images&cd=&ca d=rja&docid=gQ6fn1Hak7bd_M&tbnid=iNJWoDaEeDiRzM:&ved= 0CAQQjB0&url=http%3A%2F%2Fproduto.mercadolivre.com.br%2 FMLB-481215392-livro-e-book-girndola-de-amores-aluisio-azevedo_JM&ei=JzvKUaWWKai90AGb4GACA&psig=AFQjCNEC cGoCItPssyefkVe2wmR34ziJw&ust=1372294307477694>... 29

Figura 14 O Mulato. (Originalmente publicado em 1881). (Capa ilustrativa da Martins Editora, SP). Disponível em:<http://www.google.com.br/url? sa=i&rct=j&q=alu%C3%ADsio%2Bazevedo%2Bo%2Bmulato&sour ce=images&cd=&cad=rja&docid=LtP0RHbgHpez4M&tbnid=SZ1zir nmAYeDdM:&ved=0CAQQjB0&url=http%3A%2F%2Fproduto.mer cadolivre.com.br%2FMLB-478760412-o-mulato-aluisio-de-azevedo-_JM&ei=ZDvKUdr3Gqq90gG39IHADg&psig=AFQjCNHsSVOqfR 25F4oYkpATpt1V_wlR-g&ust=1372294353705394>... 29

Figura 15 A Mortalha de Alzira. (Originalmente publicado em 1893). (Capa ilustrativa da Editora Garnier, RJ). Disponível em: <http://www.elivrosgratis.com/download/2393/a-mortalha-de-alzira-aluisio-azevedo.html>... 29

Figura 16 Livro de uma Sogra. (Originalmente publicado em 1893). (Capa ilustrativa). Disponível em:<http://www.google.com.br/url?sa= i&rct=j&q=alu%C3%ADsio%2Bazevedo%2Bmortalha%2Bde%2Bal zira&source=images&cd=&cad=rja&docid=7b_4zTtHN_oYzM&tbn id=7rI2xMkzjxWfUM:&ved=0CAQQjB0&url=http%3A%2F%2Fber

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Figura 17 As Memórias de um Condenado. (Originalmente publicado em 1886). (Capa ilustrativa da Asymb.com Books). Disponível em: <http://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=alu%C3%ADsio%2B azevedo%2Bmemorias%2Bde%2Bum%2Bcondenado&source=imag es&cd=&cad=rja&docid=_e5pfRGcdZPxnM&tbnid=BB2lRF8_ijx1 WM:&ved=0CAQQjB0&url=http%3A%2F%2Fwww.amazon.com% 2FMem%25C3%25B3rias-Condenado-Portuguese-Edition-ebook %2Fdp%2FB008ISC17Q&ei=eD3KUY3xHaPk4AO_4oGICA&psig =AFQjCNGW4YFAf_3jCXJ76Xnpf02gdtXK-Q&ust=1372294

898579992>... 29

Figura 18 Uma Lágrima de Mulher. (Originalmente publicado em 1879). (Capa ilustrativa Editora Clube do Livro, SP, 1956). Disponível em: <http://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=alu%C3%ADsio%2B azevedo%2Buma%2Blagrima%2Bde%2Bmulher&source=images&c d=&cad=rja&docid=E0PzdOw5lCWZKM&tbnid=Wk0AVbbTcmuf oM:&ved=0CAQQjB0&url=http%3A%2F%2Fproduto.mercadolivre.

com.br%2FMLB-452820128-uma-lagrima-de-mulher-aluisio-azevedo-clube-do-livro-1956 M&ei=5z3KUajJG9O64AP6_4GoBA &psig=AFQjCNEU1TMhTGJ8h_D8pTzzSqe6UzV0Fw&ust=13722 94997030144>... 29

Figura 19 La Barricade (1871) de Édouard Manet. Disponível em: <http://fr.wikipedia.org/wiki/%C3%89douard_Manet>... 29

Figura 20 Câmara, Estado e Igreja de Aluísio Azevedo. IN: O Mequetrefe, n. 110, 28.08.1877. Disponível em:<http://memoria.bn.br/pdf/709670/ per709670_1877_00110.pdf>... 36

Figura 21 A Sagrada Família de Aluísio Azevedo. IN: O Mequetrefe, n. 99, Rio de Janeiro, 25.4.1877. Disponível em: <http://memoria.bn.br/pdf/709670/per709670_1877_00099.pdf>... 43

Figura 22 A Sagrada Família de Rafael Sanzio (entre 1504-1505). Disponível em:<http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/c/cf/Raffael_0 50.jpg>... 44

Figura 23 A Sagrada Família com Cordeiro de Rafael Sanzio (1507). Disponível em:<http://www.galeria.cluny.com.br/v/Artes+Plasticas/ Pintores+Escultores+Estrangeiros/Rafael/14+A+Sagrada+Fam__lia+ com+um+Cordeiro.jpg.html>... 45

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Figura 25 Antes do Crisol e Depois ou À chegada e Alguns Anos Depois de Aluísio Azevedo. O Fígaro, n. 20, 13.05.1876. Disponível em: <http://memoria.bn.br/pdf/706710/per706710_1876_00020.pdf>... 46

Figura 26 Napoleon the Gingerbread Baker Creating New Kings de Gillray. (aprox. 1800) Disponível em:<http://www.google.com.br/url?sa= i&rct=j&q=Napoleon%20the%20Gingerbread%20Baker&source=im ages&cd=&cad=rja&docid=oFHRwHv9pgOtbM&tbnid=ycTkcYqrN baTqM:&ved=0CAQQjB0&url=http%3A%2F%2Fwww.musee- armee.fr%2FExpoNapoleonEurope%2Fthe-emperor-and-the-conquest-of-europe.html&ei=j07KUaKmA460QGw4YHQCA&b vm=bv.48340889,d.dmQ&psig=AFQjCNGP5OHDuozOZxVplPI5hj 4lEqWB7Q&ust=1372299255194866>... 47

Figura 27 Solano Lopez como Sanguinário (1869) de Angelo Agostini. Disponível em:<http://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q =angelo+agostini+solano+lopez&source=images&cd=&docid=paT6 6YiTz8AZHM&tbnid=b17pUslWwHuOIM:&ved=0CAQQjB0&url= http%3A%2F%2Fimagenshistoricas.blogspot.com%2F2010%2F01% 2Fguerra-doparaguai.html&ei=EbfQUYSBMYyA9QSrzIHIAg

&bvm=bv.48572450,d.dmQ&psig=AFQjCNFq6OdHCcy0n_X-VFnv2-EjBrTFQ&ust=1372718957923764>... 52

Figura 28 Danger caricatures French (2006) de Jean Claude Morchoisne. Disponível em: <http://nisearch.com/book/danger-caricatures-french-_44217.html>... 52

Figura 29 The Ghost of Kohada Koheiji (1830) de Hatsushita Hokusai. Disponível em : <http://www.culturajaponesa.com.br/htm/manga. html>... 52

Figura 30 As Três Edades de Aluísio Azevedo. IN: O Mequetrefe, n. 94, 19.3.1877. Disponível em:<http://memoria.bn.br/pdf/709670/ per709670_1877_00093.pdf>... 52

Figura 31 The Stolen Kisses sexual (s. d.) de Thomas Rowlandson. Disponível em:<http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://upload.wikime dia.org/wikipedia/commons/8/83/Rowlandson_Stolen_Kisses.jpg&i mgrefurl=http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Rowlandson__Sto len_Kisses.jpg&h=600&w=482&sz=303&tbnid=9yk4jzz32E4qHM: &tbnh=92&tbnw=74&zoom=1&usg=__IrbC3AxeqSjaqKWGlZbmm Wxz78=&docid=xg5fIQQys04vUM&hl=ptBR&sa=X&ei=GFVzUer QIZCO8wTZvYG4DA&ved=0CD4Q9QEwAQ&dur=2897>... 52

Figura 32 As Fallas do Trono (1882) de Angelo Agostini. IN: Revista Illustrada, n. 518, de 13.10.1888. apud MAGNO (2012, p.

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Figura 33 As Aventuras de Nhô Quim ou Impressões de Uma Viagem à Corte (1869) de Angelo Agostini. apud Magno (2012, p. 214)... 52

Figura 34 Primeira edição do jornal Gazeta do Rio de Janeiro em 1808. Disponível em: <http://hemerotecadigital.bn.br/gazeta-do-rio-de-janeiro/749664>... 58

Figura 35 Primeira edição do jornal Correio Brazilienseem 1808. Disponível em: <http://hemerotecadigital.bn.br/correio-braziliense/700142>... 58

Figura 36 Gargantua litografia (1831) de Honoré Daumier publicada em La Caricature. Disponível em: <http://t0.gstatic.com/images?q=tbn: ANd9GcRtAUTYxj2QpzrJOK42D9NSnhU3yDfiKqxuhDt4fySJbCU IRtz9xw>... 62

Figura 37 Jornal La Caricature, 1851 fundado por Honoré Daumier. Disponível em: <www.gallica.bnf.fr>... 64

Figura 38 Leo Taxil et La Lanterne. Disponível em: <www.gallica.bnf.fr>... 65

Figura 39 A Lanterna de 23.10.1909 editado em São Paulo. Disponível em: <http://memoria.bn.br/pdf2/366153/per366153_1909_00002.pdf>... 66

Figura 40 Credulity, Superstition and Fanaticism (1762) de William Hogarth (1697-1764). Disponível em:<http://www.artoftheprint.com/ jpegimages/hogarth_william_credulitysuperstitionandfanaticismamed ley.jpg>...……….. 67

Figura 41 Indecency de Isaac Cruishank (1756-1811) Londres Disponível em: <http://en.m.wikipedia.org/wiki/File:Indecency.jpg>…...…………. 68

Figura 42 Da série: Duendes e Monges de Goya, 1799. In: BAUDELAIRE, Charles. Os Caprichos de Goya. São Paulo: Imaginário, 1995. ... 69

Figura 43 Álbum de desenhos preparatórios para a série Los Caprichos de Goya entre 1797 a 1799. IN: BAUDELAIRE, Charles. Os Caprichos de Goya. São Paulo: Imaginário, 1995. ... 70

Figura 44 Cabeças grotescas Da Vinci. IN: Coleção Folha Grandes Mestres da Pintura, 3. Barueri: Editorial Sol 90, 2007, p. 43)... 71

Figura 45 Desenho de perfil masculino Da Vinci. IN: Coleção Folha Grandes

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Figura 46 Superbia ou Pride (1556-1557) Brueghel Disponível em:

<http://www.wikipaintings.org/pt/pieter-bruegel-the-elder/pride-1556>... 72

Figura 47 Gluttony ou Gula de 1557 de Brueghel. Disponível em: <http://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=glutonny%2Bbrueghe l&source=images&cd=&cad=rja&docid=6GmXd2RSw-jZpM&tbnid =9dkFfl27KNCsM:&ved=0CAQQjB0&url=http%3A%2F%2Fcomm ons.wikimedia.org%2Fwiki%2FFile%3APieter_Bruegel_the_Elder-_The_Seven_Deadly_Sins_or_the_Seven_Vices_-_Gluttony.JPG &ei=7VbKUaidJOnC0gHm74DwCw&bvm=bv.48340889,d.dmQ&p sig=AFQjCNHF01RjeckaGA_G2EA8Fa5e_mZC6Q&ust=13723014 15892111>... 72

Figura 48 E o povo... o povo também é rei, é rei como Jesus! Para provar o fel, para morrer na cruz. IN: O Mequetrefe, n. 97, Rio de Janeiro, 10.4.1877. Disponível em: <http://memoria.bn.br/pdf/709670/ per709670_1877_00097.pdf>... 74

Figura 49 Fecharam-se os Teatros. Abriram-se os Bordéis. IN: O Mequetrefe, n. 97, Rio de Janeiro, 10.4.1877. <http://memoria.bn.br/pdf/709670/per709670_1877_00097.pdf>... 79

Figura 50 Capa do livro de Champfleury sobre a Histoire de La Caricature Moderne, 1885. Disponível em :<http://gallica.bnf.fr/ark:/ 12148/bpt6k205641c.r=daumier+la+caricature.langPT>... 84

Figura 51 Discurso d´El Rei Momo. (Provável autoria de Valle). IN: O Mequetrefe, n.7, 11.2.1875. Apud MAGNO, p. 263, 2012... 87

Figura 52 Autocaricatura de Aluísio Azevedo se apresentando à sociedade como irmão de Artur munido da pena em tamanho desproporcional. IN: O Fígaro, n.20, Rio de Janeiro, 13.5.1876. <http://memoria.bn.br/pdf/706710/per706710_1876_00020.pdf>... 88

Figura 53 A República(autoria não identificada). IN: O Mequetrefe, edição n. 2 de 07.01.1875. Disponível em: <http://memoria.bn.br/pdf/709670/ per709670_1875_00002.pdf>... 90

Figura 54 Uma vela para Deus, outra para o Diabo. Autoria não identificada. IN: O Mequetrefe, n.5 de 28.01.1875. Disponível em: <http://memoria.bn.br/pdf/709670/per709670_1875_00005.pdf>... 92

Figura 55 Capa da edição comemorativa do Tricentenário de Luiz de Camões. Autoria não identificada. IN: Fonte: Diário do Maranhão,

n. 2049, 10.6.1880. Disponível em:

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Figura 56 A Igreja e o Estado. (Autoria não identificada). IN: O Mequetrefe, n.

9, 25.02.1875. Disponível em:

<http://memoria.bn.br/pdf/709670/per709670_1875_00009.pdf>... 97

Figura 57 O Brasil à deriva: uma orgia de piratas de Aluísio Azevedo. IN: O Mequetrefe, n. 104 de 25.06.1877. Disponível em:<http://memoria.bn.br/pdf/709670/per

709670_1877_00104.pdf>... 109

Figura 58 Álbum de Preciosidades: Luta Constante (Autoria atribuída a Aluísio). Disponível em: <http://memoria.bn.br/pdf/709670/per

709670_1877_00106.pdf>... 112

Figura 59 As Três Edades de Aluísio Azevedo. IN: O Mequetrefe, n. 93 de 09.03.1877. Disponível em:<http://memoria.bn.br/pdf/709670/ per709670_1877_00093.pdf> (Idem Figura 30)... 113

Figura 60 O sonho oriental de Aluísio Azevedo. IN: O Mequetrefe, n. 94, p. 6 de 09.03.1877. Disponível em: http://memoria.bn.br/pdf/709670/ per709670_1877_00094.pdf... 117

Figura 61 Juízo Final de Aluísio Azevedo. IN: O Mequetrefe, n. 96 de 24.03.1877. Disponível em: <http://memoria.bn.br/pdf/709670/ per709670_1877_00096.pdf>... 122

Figura 62 Nas Igrejas de Aluísio Azevedo. IN: O Mequetrefe, n. 97 de 10.03.1877. Disponível em: <http://memoria.bn.br/pdf/709670/ per709670_1877_00097.pdf>... 126

AS REPRODUÇÕES CONTIDAS NESSE VOLUME SÃO SOMENTE PARA FINS DE PESQUISA E DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA, SEM QUALQUER FINALIDADE DE LUCRO.

TODAS AS CHARGES E CARICATURAS, ASSIM COMO CAPAS DE JORNAIS OU REVISTAS, ESTÃO DISPONÍVEIS EM DOMÍNIO PÚBLICO NA HEMEROTECA DIGITAL DA BIBLIOTECA NACIONAL BRASILEIRA, EM ARQUIVO NACIONAL OU GALLICA – BIBLIOTHÈQUE NATIONALE NUMÉRIQUE (BIBLIOTHÈQUE NATIONALE DE FRANCE).

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...

CAPÍTULO I – NO TEMPO DE ALUÍSIO AZEVEDO – VIDA E OBRA... 1.1 ESTADO DA ARTE... 1.2 BIOGRAFIA DE ALUÍSIO AZEVEDO... 1.3 PERCURSO JORNALÍSTICO DO AUTOR... 1.4 BREVE PANORAMA DA LITERATURA NA ÉPOCA...

CAPÍTULO 2 - IMAGEM COMO ESTRATÉGIA JORNALÍSTICA... 2.1 ALGUNS PERIÓDICOS DO SÉCULO XIX... 2.2 INTERCÂMBIOS FRANCESES... 2.3 PRESENÇA DA CHARGE EM PERIÓDICOS BRASILEIROS DO SÉCULO XIX...

CAPÍTULO 3 - O PODER DA CARICATURA... 3.1 RAÍZES DA CARICATURA...

CAPÍTULO 4 – CHARGE, TEATRO E CARNAVAL... 4.1 PÁGINAS DE OMEQUETREFE (1875-1893)...

4.2 ELEMENTOS CARNAVALIZADOS – PRODUTOS MOTIVADOS PELA RELIGIÃO... 4.3 ALGUNS PROCEDIMENTOS DRAMATÚRGICOS DO SÉCULO XIX PRESENTES NAS CHARGES... 4.4 AS CHARGES ANTICLERICAIS EM ANÁLISE...

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INTRODUÇÃO

Entre as muitas personalidades que participaram do meio político e jornalístico brasileiro, gozando prestígio e reconhecimento, apresentamos Aluísio Tancredo Gonçalves de Azevedo, escritor do século XIX, pois vimos como oportuna a investigação de suas obras não literárias, ao considerar suas charges publicadas na imprensa da época como registros de nossa história social.

Durante a pesquisa e o contato com as imagens de Azevedo, percebíamos certas características específicas que o diferenciavam de outros artistas e, intuitivamente, fomos desenvolvendo a hipótese de que suas imagens apresentavam vários personagens e temas, como música, teatro, política, arte, filosofia, religião, dentre outros elementos, como uma encenação teatral na folha do jornal. À medida que cogitávamos essa possibilidade, descobrimos aos poucos informações sobre a origem do teatro brasileiro iniciada pelo padre católico José Anchieta (1534-1597), através da dramatização dos sermões, ainda que a arte teatral não fosse o objetivo principal a ser atingido, mas sim a catequização. Assim, a

relevância da Igreja Católica para as artes cênicas até meados do século XVIII apresenta “uma

religiosidade difusa e mal compreendida” misturando elementos da sagrada escritura, outros da Roma Antiga, além de homens, anjos, demônios e alegorias como atividade social da Colônia. É bem verdade que a comédia surge no Brasil em meados do século XIX, com peças abusando dos elementos da farsa popular, tratando de assuntos do dia a dia de forma cômica.

Essa é uma das questões a que nos dispomos investigar: pensar na caricatura como um procedimento inspirado nas artes cênicas, que apresenta elementos carnavalizados amplamente divulgados nos periódicos, espaço ocupado na época por escritores e/ou jornalistas tais como Machado de Assis, José de Alencar, Eça de Queiroz, Olavo Bilac, dentre outros. Esse já seria por si um fato relevante para pesquisar o papel que as imagens teriam cumprido junto aos leitores. Nomes importantes como esses expressavam suas ideias, promoviam suas carreiras e contribuíam com o meio jornalístico e com os caminhos seguidos pela nação, cada qual de sua forma.

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Assim, a primeira hipótese formulada seria de que a charge convidaria o leitor primeiramente ao riso e, em seguida, à reflexão e possível mudança em relação à consciência sobre o ambiente político. Porém, o trabalho foi revelando outro tema interessante: se a imagem caricatural de Azevedo apresentaria, em sua trama, técnicas da dramaturgia, dada à forte influência que o gênero teatral parece ter tido para o autor, em uma possível conexão com o modo de produção literária, teatral e cômica na caricatura em cena no jornal. Para tanto, utilizamos a leitura de Rabetti, cujo trabalho investiga a alegria presente nos palcos através da historiografia da comédia, da organização do mundo artístico brasileiro, na elaboração textual das peças, promovendo uma leitura múltipla da dramaturgia de nosso país quando menciona:

Onde o que é determinante é a constante copresença de todos os elementos constituintes do complexo cênico em cada um dos aspectos que entram em jogo, é, portanto, recompor seu lugar também num importante momento da história do teatro brasileiro [...] continuadamente em construção e reconstrução, efêmera como o espetáculo, passageira como o olhar do espectador, e que desta transitoriedade compartilha, em fluxo interminável de produção, reprodução, reaproveitamentos [...] a comediografia ligeira é um dos elementos mais generosamente disponíveis à mutação; ela é componente de uma produção em série. Não era parte do teatro sério; é quase o seriado, o teatro de diversão de todos os dias, quando um público consumidor afluía aos teatros “em enchentes”; fato nada desprezível para a história do nosso teatro. (RABETTI, 2007, p. 14 - 15)

Assim, observamos como autores que pesquisaram Aluísio Azevedo mencionam repetidas vezes que seu sonho em ser artista do desenho teria sido frustrado, assim como ocorreu com a literatura, vindo a trocá-la pela diplomacia. Investigamos se o fato dele não tê-lo realizado poderia ter sido ou não prejudicial à sua carreira. Então, atentamente buscamos explorar a maior quantidade de informações disponíveis sobre suas diversas obras, sua maneira de colocar-se a favor de interesses coletivos, deixando impressa sua opinião a respeito da ordem ou desordem social de diferentes formas, através da literatura, crônica, poesia ou charge e mantendo alguma relação entre essas formas de expressão.

Tudo o que ele produziu apresentava conflitos pertencentes à situação política e social. E o local de publicação de suas obras mantém forte relação com o jornalismo opinativo, caminhando de mãos dadas com a história construída no dia a dia, todas em formas artísticas de expressão.

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fim para que Azevedo desejasse seguir carreira diplomática em busca de melhor estabilidade financeira. Sua faceta como chargista foi explorada por alguns pesquisadores, revelando uma série de particularidades em suas imagens. Menezes (1958), Montello (1975), Mérian (1988), Lavin (2005), dentre outros, foram consultados, sobretudo, no que diz respeito aos dados biográficos e históricos, assim como aos contextos social e político. Mais especificamente sobre a charge azevediana consultamos Queluz (2002), Carvalho (2002, 2003) e trabalhos acadêmicos específicos. No que diz respeito às informações sobre a arte gráfica de modo geral, fizemos contato com Lima (1963), Fonseca (1999), Magno (2012) e outros.

Consultamos ainda autores como Flusser (2008) a respeito das imagens técnicas; Muniz Sodré (2006) sobre a existência de estratégias sensíveis presentes nos meios de comunicação, a teoria da ação comunicativa em Habermas (1987), a construção de imagens culturais em Morin (1984); Martin-Barbero (2002) a respeito dos processos de formação de cultura através do jornal e o elemento cômico resultante de processos carnavalizados em Bakhtin (2005, 2010) e, ainda, alguns textos sobre o teatro cômico no Brasil a partir de autores como Prado (1999), Meyer (2001), Souza (2002), Machado (2003), Rabetti (2007) e Guinsburg (2009). Todas as indicações bibliográficas serviram como base de investigação dos elementos que compõem a charge de modo geral ou mais especificamente as de Azevedo como estratégicas imagens que, divertindo, sensibilizando, desestabilizam como um mise-en-scène político.

De certa forma, acreditamos que possa ser outorgado a essa imagem a responsabilidade por transformações sociais, ainda que discussões sobre a eficiência de um tipo de linguagem em detrimento de outra, sejam constantemente elaboradas sem chegar a um consenso. Trabalhamos com a hipótese de que há toda uma particularidade contida na imagem caricatural, em seu contexto extraverbal ou processo dialógico que seriam facilitadores em meios comunicacionais e cuja comicidade seria uma destas facilidades.

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Sobre interpretações dos termos “caricatura” e “charge”, informamos desde já que

não há diferenças conceituais relevantes, para o âmbito dessa pesquisa, entre ambas. Tais imagens eram chamadas de caricaturas e continuam a ser assim denominadas. Também eram e são charges. Ambas imagens resultantes do uso de traços ou técnicas que as tornam signos que supomos carregados de caráter cômico. É bem verdade que procuramos por correspondências entre a imagem do século XIX e a que se apresenta nos dias de hoje – o que as diferencia seria a questão latente apresentada a partir do todo de sua imagem: a caricatura distorceria para provocar o riso sem ter a pretensão da crítica, enquanto que a charge necessariamente é crítica e faz uso de elementos que a vinculem a contextos políticos, econômicos, sociais etc.

A ideia que temos de charge é um pouco diferente daquela do século XIX, esteticamente mais resumida em traços nos dias de hoje, mas essa arte gráfica mantém em suas novas apresentações sua característica principal – representar algo ou alguém atraindo o leitor para o cômico representado. Claro que cada artista tem seu modo particular de expressão: alguns exploram o grotesco ou o exagero dos traços e outros, como Azevedo, se expressam de forma teatral, criando imagens como encenações carregadas de elementos carnavalizados, ou recursos cênicos como elementos que pertencem à memória coletiva que acompanha os acontecimentos, corporificando o ausente.

Por questões de preservação dos jornais antigos, poupando-os de manipulação ou processos de reprodução que podem comprometer sua existência, ao invés de consultá-los diretamente, em acervos públicos ou particulares, tal como fizeram outros pesquisadores, o que demandaria muito mais tempo e recursos, optamos pelo resgate das imagens, felizmente disponíveis através da Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, de trabalhos acadêmicos e livros que embasaram a pesquisa.

A metodologia de pesquisa para o desenvolvimento desse trabalho, sobretudo para o quarto capítulo, se baseou na leitura da primeira centena de edições do jornal O Mequetrefe, até as edições do ano de 1878 em que Azevedo colaborou, seja como chargista, seja na redação de textos em crônicas, poesias etc. A ausência da leitura e pesquisa da primeira edição se deve à indisponibilidade da mesma em arquivo digital. Porém, quando se fez necessária a consulta, utilizamos como fonte textos de outros pesquisadores, devidamente citados.

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imagens podem apresentar particularidades de expressão ao utilizar elementos mitológicos, fantásticos, grotescos, cômicos, satíricos, eróticos, dentre outros.

Atendendo ao compromisso de atribuir os devidos créditos a quem ou à instituição que detém as imagens utilizadas nessa pesquisa, informamos em Índice de Figuras todas as fontes consultadas. Tal decisão deve-se ao fato de acreditarmos que o trabalho seja apresentado de maneira esteticamente melhor, ao invés de colocarmos os endereços eletrônicos em cada uma das figuras.

No que concerne à seleção de charges anticlericais, nos baseamos em critérios objetivos, de forma a apresentar os acontecimentos da época que teriam servido como inspiração para Azevedo elaborá-las para publicação em O Mequetrefe no ano de 1877. A crítica anticlerical de Azevedo apresenta maior teor político que necessariamente críticas à crença ou descrença nos dogmas cristãos, embora eles sejam frequentemente utilizados como elementos desestabilizadores.

Ainda no começo do século XX, a charge se mantinha como arte gráfica bastante divulgada, procurada inclusive como item colecionável ou como fonte inspiradora para muitos caricaturistas e chargistas para, a partir de reproduções ou adaptações como as publicadas nos jornais La Caricature, La Lanterne, dentre outros, ilustrarem parcial ou totalmente revistas e jornais nacionais. Assim, surgem na sociedade, periódicos como A Lanterna, Fon-Fon, Careta, O Malho, entre outros. Artistas como o “trio de ouro” da

caricatura brasileira - K. Lixto, Raul e J. Carlos na primeira metade desse século e, nas gerações seguintes, chargistas como Ziraldo, Fortuna, Millôr, Zélio, Henfil, Luis Fernando Veríssimo, os irmãos Paulo e Chico Caruso, Miguel Paiva, Angeli, Laerte, Glauco, Edgar Vasques, Jaime Leão, Gual e Jal1, têm em seus trabalhos recursos como traços hiperbólicos, trocadilhos, frases de duplo sentido, paródias, enfim, uma série de técnicas para elaborar o que se pretende representar, talento que somente um artista gráfico munido de sagacidade pode realizar.

No primeiro capítulo apresentamos trabalhos que analisam vários aspectos das obras de Aluísio Azevedo, seguidos de resumida biografia do autor, com fatos que teriam sido importantes para seu percurso artístico e jornalístico, além de panoramicamente trazermos breves informações sobre a literatura da época.

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No segundo capítulo, discorremos sobre a história da imprensa no Brasil e intercâmbios estabelecidos com a Europa, trazendo, como exemplo, alguns periódicos que abriram espaço para a caricatura no século XIX.

No terceiro capítulo, informações sobre a história da caricatura ou charge, com suas possíveis origens, aproveitando para apresentar algumas imagens azevedianas com temática política mais geral e seus contextos.

No quarto capítulo, trazemos informações específicas do jornal O Mequetrefe, como história, textos, imagens e manchetes da época, objetivando reproduzir como o jornal se apresentava à sociedade até o momento em que Azevedo começa a colaborar com artigos, poesias e charges. Esse será o momento em que reproduziremos as charges anticlericais azevedianas, apresentando o contexto histórico e social de forma descritiva, em uma análise que procurará estabelecer relação com os elementos carnavalizados, segundo as teorias de Bakhtin – as possíveis fontes de inspiração exploradas pelo artista que podem ser provenientes dos processos carnavalizantes presentes na sociedade, assim como também provenientes das artes cênicas, quando exemplificaremos com algumas informações gerais sobre o teatro, mais especificamente no Brasil, apropriando-nos de alguns termos técnicos relacionados a essa arte como empréstimos para pensarmos na imagem caricatural como formas de encenação.

Em resumo, tencionamos, com essa pesquisa, refletir sobre a charge como instrumento comunicacional de expressão popular que mantém alguma associação com o

gênero cômico teatral, utilizando como mote a seguinte frase de Azevedo: “o teatro foi

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Fig.1 – Caricatura de Toni D´Agostinho. 2

Fonte: Vide Índice de Figuras.

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CAPÍTULO I – NO TEMPO DE ALUÍSIO AZEVEDO – VIDA E OBRA

A crônica é para o jornalismo o que a caricatura é para a pintura: fere, rindo; espedaça, dando cambalhotas; não respeita nada daquilo que mais se respeita; procede pelo escárnio e pelo ridículo; e o ridículo em política é de boa, é de excelente guerra [...] A caricatura, como a crônica, é uma arma terrível; ataca mais perversamente e defende-se com inocência: dá uma grande punhalada, depois toma um ar de candura e fica-se, toda risonha, fazendo acenos e afagos; e depois, como se há de combater se está estabelecido nos costumes que ela não pode ser tomada a sério? (QUEIROZ, Eça de. Distrito de Évora, n. 1, de 06.01.1867)

1.1 Estado da Arte

Aluísio Tancredo Gonçalves de Azevedo atuou como chargista, escritor, jornalista e diplomata, participando ativamente do panorama da literatura brasileira do século XIX. Suas obras estão em domínio público desde 1970, sendo frequentemente consultadas como material didático-pedagógico, indicadas em concursos vestibulares ou pesquisadas academicamente, em território nacional ou estrangeiro, revelando, assim, sua importância até os dias de hoje. Seus trabalhos são fontes de valor documental histórico e social. Ocupou a cadeira número quatro da Academia Brasileira de Letras3 como um dos quarenta integrantes fundadores, idealizada para representar a cultura e literatura brasileiras, e “deixou uma obra dispersa por

domínios tão distintos quanto são os campos da pintura, do teatro e da poesia” (LAVIN, 2005,

p. 150).

Este trabalho tem o objetivo de explorar um pouco mais a faceta caricaturista de Azevedo, buscando entender a produção de suas imagens, não como mero instrumento de entretenimento, mas como manifestação de engajamento político e expressão artística, que reivindica mudanças sociais através de denúncias dos vícios e mazelas da vida pública.

Tivemos acesso a alguns trabalhos com diferentes pontos de vista ao explorar a produção de caricaturas ou charges azevedianas, tais como a pesquisa de doutorado de Carvalho (2002), em que se analisa o trajeto intelectual e artístico de Azevedo, assim como sua importância na imprensa, no que diz respeito à sua forma de expressão, ao abordar temas como a abolição da escravatura, o republicanismo, o naturalismo, a presença da Corte no Rio

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de Janeiro e polêmicas envolvendo representantes religiosos, ocorridas em São Luis do Maranhão, igualmente criticadas em suas obras literárias4. Em artigo, Carvalho (2003) reflete também sobre o ato da percepção, diante das caricaturas, considerando a presença de elementos e combinações que resultam em simbologias ou alegorias, dispensando a necessidade de se ter conhecimento histórico ou social para compreender a imagem apresentada. A autora conclui que “alegorias, deformidades, contrastes revelam aspecto

convencional ou objetivo do mundo exterior”. Conclui, em sua pesquisa, que “o poético na

caricatura não pressupõe uma atitude de resignação diante da representação e, sim, uma espécie de rebeldia que nos surpreende e encanta” (CARVALHO, 2003, p. 4).

Outro trabalho, considerado rico pelos críticos, é o do pesquisador francês Mérian (1988). Trata-se de uma pesquisa biográfica, organizada e subdividida em: Anos de Aprendizado do Autor; O Mulato Abre o Caminho para o Naturalismo no Brasil; Aluísio

Azevedo e a Condição de Escritor (1881–1895); O Romancista (1881-1885) e, no epílogo, A Vida Como Escritor e Como Diplomata (1896–1913). Nele obtemos informações sobre: contexto histórico, influências sociais vividas, possíveis fontes de inspiração, diferentes versões de romances, questões polêmicas que fomentaram ações e reações durante o período em que trabalhou no Rio de Janeiro, resultando em querelas entre representantes contrários à Monarquia, tanto como resposta ao que escrevia, quanto ao que desenhava. O sexto capítulo é dedicado à produção caricatural azevediana de 1877, em seu contexto histórico social e em relação à liberdade da imprensa da época. Como exemplo do tipo de liberdade, Mérian (1988) menciona que era possível, na época, retratar o imperador Dom Pedro II, de forma satiricamente violenta, sem correr qualquer risco perante a Justiça. Esse fato revela uma vantajosa liberdade em relação a tantos que, em diferentes épocas, cumpriram penas por causa da divulgação de suas charges ou de outras formas de crítica política, social etc. Durante o período em que Azevedo trabalhou como caricaturista, pelo menos seis jornais satíricos

estavam em circulação, ou seja, jornais não oficiais, “com tiragem global que se elevava a uns

10 mil exemplares por semana” (MÉRIAN, 1988, p. 104).

Menezes (1958), Lima (1963), Montello (1975), Queluz (2002), Carvalho (2002 e 2003), Lavin (2005), Oliveira (2011) e Magno (2012) foram alguns dos autores consultados para esta pesquisa tendo como objeto Aluísio Azevedo. Desses trabalhos, alguns dão maior destaque às obras literárias, enquanto outros apresentam dados biográficos e do contexto histórico apoiados em artigos publicados por seus amigos, por seu irmão Artur de Azevedo ou

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por críticos da época. Outros, poucos, fazem menção à sua produção caricatural. Tencionamos colaborar com a investigação da imagem e de como o elemento cômico está presente na charge recorrendo à Bakhtin e à sua teoria sobre os elementos carnavalizados presentes em gêneros culturais, assim como a possíveis reminiscências das artes cênicas.

Assim, diante de tantas informações obtidas, mostrando Azevedo como pintor-romancista e intelectual, fizemos um recorte em sua produção caricatural, mais especificamente no jornal anticlerical fluminense O Mequetrefe, em 1877, quando polemicamente retratava em charges sua crítica ao clero, pois esse tema parece ter sido mais frequentemente retratado em suas obras da época, provocando uma instituição tão antiga como a Igreja Católica, em seu usufruto do poder concedido pelo Estado, como moeda de troca por favores políticos, dentre outros privilégios.

À Igreja cabia indicar o rei escolhido por Deus e ao rei cabia a construção das igrejas, as indicações de bispos e sacerdotes considerados como funcionários do Estado, cuidando de jurisdições importantes e garantindo o total sustento deles, assim como custear festas religiosas, dentre outras despesas. Esse período do século XIX foi pontilhado por acontecimentos que desestruturaram instituições como a monarquia ou mesmo a Igreja, como por exemplo, a Questão Religiosa ocorrida em 1872 que, resumidamente, segundo citação de Mérian, foi uma tomada de:

Medidas enérgicas para devolver à Igreja uma credibilidade que esta estava perdendo, sobretudo junto à juventude do Maranhão. Numerosos padres foram sancionados por sua vida dissoluta, outros foram transferidos. Estas medidas disciplinares não eram suficientes; era preciso relançar a propaganda religiosa e elevar a consciência dos padres e dos fies. (MÉRIAN, 1988, p. 156)

A Igreja que Azevedo criticava era aquela que defendia o sistema escravocrata, pois recebiam heranças em terras ou em escravos através de doações generosas dos fiéis católicos. Também era ela que desempenhava o papel educacional e confessional de jovens, tornando-os submissos e temerosos em relação à religião, manipuláveis, orientando-os a se casarem, estabelecendo, muitas vezes, verdadeiras transações comerciais objetivando não corromperem os valores da sociedade patriarcal, controlando a “pureza” da raça branca.

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voltar para Portugal ainda mais consciente de que um pedido de comerciantes, negociadores dentre outros, viam como forma estratégica tal presença em nossas terras objetivando atender favores comerciais. Esse dia ficou conhecido como o Dia do Fico e será comentado na análise

da charge (Fig. 59, p. 113) de Azevedo, no quarto capítulo desse trabalho.

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1.2 Biografia de Aluísio Azevedo

Fig. 2 – Aluísio Azevedo e algumas de suas obras literárias.

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Aluísio Tancredo Gonçalves de Azevedo nasceu em 14 de abril de 1857 em São Luis do Maranhão e faleceu em 21 de janeiro de 1913 em Buenos Aires, Argentina. Tornou-se escritor renomado, principalmente após a publicação de O Mulato (1881), porém já fazia parte de um grupo de intelectuais, escritores, jornalistas e poetas que, na época, eram ainda jovens, no auge de seus 20 a 30 anos, anônimos, ascendendo na carreira literária ou política, tais como Machado de Assis, Araripe Junior, Joaquim Nabuco, Graça Aranha, Visconde de Taunay, Rui Barbosa, Medeiros e Albuquerque, Artur Azevedo (seu irmão) e outros conhecidos que viriam a fundar, por exemplo, a Academia Brasileira de Letras, mencionada anteriormente. Todos estabelecendo, através da imprensa, relações internacionais importantes para os rumos do país destacando, para exemplificar, ao menos um simples fato: o objetivo de traduzir os periódicos estrangeiros trazendo para o público as ideias defendidas fora do Brasil,

tais como menciona Massaud (1983):

A extinção da escravatura procurando com isso promover o progresso do Brasil buscando representar “os fatos do momento, as reflexões sobre o passado e as sólidas conjecturas do futuro” comentando “não só as notícias políticas como as de natureza religiosa, científica, artística, etc., sempre no intuito de bem (in)formar o leitor patrício (MASSAUD, 1983, p. 327).

A seguir, apresentaremos informações para melhor compreensão de vida e obra de Azevedo, trazendo os fatos mais importantes, segundo nosso ponto de vista, para a sua construção como cidadão consciente do papel que poderia cumprir na sociedade ao utilizar a imprensa para a divulgação de suas ideias.

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O Gabinete Português de Leitura5 possuía, em 1867, 4892 volumes. Eram essencialmente romances, folhetins, contos, poesias em português traduzidas do francês. Algumas dessas obras haviam sido traduzidas e publicadas em São Luis mesmo. Rapidamente adquiriam-se as obras mais recentes: em alguns casos a diferença cronológica com a Europa era de algumas semanas apenas, o tempo de travessia do mar. (MÉRIAN, 1988, p. 41)

São Luís chegou a ser conhecida como a “Atenas cultural durante a época do renascimento da cidade” (MERIAN, 1988, p. 31), mas perdeu com o tempo esse atributo, apresentando problemas sociais críticos em vários segmentos. A condição financeira de sua família nunca foi das melhores e, por isso, com aproximadamente sete anos, Azevedo começou a trabalhar com um comerciante amigo de seu pai, David Freire, por quinze horas diárias, arrumando tempo para ler nos pouquíssimos momentos que tinha para dormir e já produzindo na época, caricaturas que provocavam polêmicas6, assim como Bilac (1895) confirma no trecho do artigo a seguir:

Naturalmente, fez uma tristíssima figura n´esse officio, porque, em vez de aviar os despachos, caricaturava os empregados da Alfandega em pedacinhos de papel que corriam a cidade. Com as caricaturas, appareciam satyras em verso: é fácil calcular quantos ódios se accumularam desde logo sobre a cabeça do atrevido despachante. Um dia, uma nausea mais forte lhe subiu da alma à garganta, e o futuro romancista atirou às ortigas o emprego e entregou-se à Arte de corpo e alma, com uma bravura de criança e uma confiança de predestinado.

Já antes de ir bocejar de tédio nos escuros armazéns aduaneiros, Aluísio mostrava tanta vocação para a pintura, que um velho professor italiano, que por esse tempo vegetava na província, Domingos Tribuzzi, enthusiasmado, quiz que o rapazelho partisse para a Itália. Bastava para isso que o pae do pequeno lhe fornecesse uma pensão módica. Mas, ai de nós! Os nossos paes pertenceram a uma geração, em cujo espírito a ideia de Arte se confundia com a ideia de devassidão e de vagabundagem. E o menino, que tinha então 12 anos, e que n´essa edade já fora substituto do seu professor na aula de desenho, teve de ir despachar gêneros. (BILAC, jan. 1895, n. 54)

Domingos Tribuzzi, italiano naturalizado brasileiro, foi o professor de desenho e pintura responsável por despertar em Azevedo o sonho de estudar no exterior, nunca

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No Rio de Janeiro, na Rua Luis de Camões, número 30 (Centro), existe o Real Gabinete Português de Leitura fundado em 1837 atendendo ao objetivo de “ampliar os conhecimentos de seus sócios e dar oportunidade aos

portugueses residentes na então capital do Império de ilustrar o seu espírito”. Os livros que Aluísio tinha acesso

são os do Gabinete Português de Leitura de São Luis do Maranhão, criado em 1852, por iniciativa do presidente da época, seu pai David Gonçalves de Azevedo, com o mesmo objetivo.

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realizado. Ainda com escassos conhecimentos adquiridos com o mestre, abandonou o trabalho como professor de gramática portuguesa e de desenho no Colégio Teillon, em razão de má remuneração, para viver da pintura, aceitando encomendas.

Definitivamente, Azevedo se via como um artista preocupado com a pintura realista. Então, aproveitando-se de um costume da época, passa a trabalhar como retratista funerário por encomenda. Porém, ele em nada melhora as feições do cadáver, achando necessária a representação nos mínimos detalhes cadavéricos em relação à cor e à forma e, desse modo, suas obras provocam até mesmo repulsa. Bilac (1895) em artigo especial para o periódico O Álbum, em homenagem ao amigo menciona:

Aluísio abalançou-se a tomar quantas encomendas de retrato a óleo lhe apareceram. Começou a transportar para a tela todas as oleosas faces da burguesia maranhense: chegou a dedicar-se especialmente a retratar defuntos. Nesse tempo já o dominava a ardente preocupação com a verdade na Arte. Os outros retratistas pintavam os seus mortos como “cocottes”, lábios tintos a vermelhão, olhos cuidadosamente cerrados, faces barbeadas de fresco indo para o fundo da cova como para um salão de baile. Nas telas de Aluísio, o pavor e a fealdade da morte se mostravam sem disfarce: um olho mal fechado, a cor terrosa da face descomposta, um dente cariado entre os lábios do morto, tudo aparecia fielmente reproduzido no quadro. Imagine-se o escândalo produzido na província por essas espantosas telas! Um dia, contando-me isso, dizia-me Aluísio: “Ah! Meu caro! Imagine que um desses retratos era tão feio, na sua crua verdade, na sua horripilante representação horror da morte, que serviu muito tempo, em São Luis do Maranhão, para intimidar as crianças manhosas... Não ria! Digo-lhe a verdade! O retrato era emprestado de casa em casa, entre famílias. Assim que as crianças começavam a fazer manha, as mães intervinham: ‘Olha que vou buscar o tabelião!’ Oh! Ainda hoje há lá no Maranhão muita gente que deve a boa criação que tem à sinistra influência do retrato do tabelião”. (BILAC, jan. 1895, n. 54)

Aos 17 anos, escreveu o romance Uma Lágrima de Mulher 7 e, em 1876, aos 19 anos, aceita sugestão do irmão de ir ao Rio de Janeiro para trabalhar. Assim, os irmãos Azevedo ampliam seus círculos de amizade, permeados de intelectuais, escritores, artistas, enfim, homens que marcaram a vida cultural, social e política do final do século XIX, tais como José Patrocínio, Joaquim Nabuco, Fontoura Xavier, Silvio Romero, Franklin Távora, Inglês de Souza, Ramalho Ortigão, Artur Barreiros, Tomás Alves, Teófilo Dias, Lins de

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Artigo de Bilac: “Aos 17 anos (1874) Aluísio Azevedo escreveu o romance Uma Lágrima de Mulher, publicado em 1879, e um livro ilustrado Minhas Memórias, ainda hoje inédito. Foi então que o Rio de Janeiro começou a atraí-lo com a sua fama de cidade civilizada [...] Uma Lágrima de Mulher é uma obra romântica

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Albuquerque, Cordoville, Pereira da Silva, Gustavo Fontoura e Teixeira Mendes8 (MÉRIAN, 1988, p. 96).

Vem a ocupar, na ocasião do falecimento do conhecido caricaturista Luigi Borgomainerio, em razão de febre amarela, a vaga de caricaturista no jornal O Fígaro, publicando apenas em quatro edições, até agosto de 1876 e, alguns meses depois, em março de 1877, começa a trabalhar no jornal OMequetrefe.

Dedica-se, porém, mais à carreira literária, embora também tenha escrito, traduzido e adaptado peças teatrais. Além disso, confeccionou painéis cenográficos para as peças escritas pelo irmão Artur Azevedo, muitas vezes representando os papéis femininos de forma zombeteira e maliciosa, atividade que apreciava muito, considerando o teatro como uma escola.

É porque entendemos ser o teatro o melhor meio de exercitar a memória e os pulmões, educar o gosto artístico e o olho, desenvolver a inteligência e cultivar a garganta dos meninos. O Bandido que escreve estas linhas, nunca teria cultivado com tanto amor a indecência da pintura, e tirado dela bons resultados, se não fosse a circunstância escandalosa de haver em criança cenografado, de pândega com os bons irmãos, um teatrinho de varanda, concebido por “Garniers” de sete anos e arquitectado por um sistema tão inteiramente novo, como nova era a ordem arquitetônica a que o destinavam. Se não fosse essa escandalosa circunstância, não teria o mesmo bandido o gostinho de estar cá a rabiscar crônicas, e a meter torcidas no nariz dos padres. Foi no teatrinho, nesse “centro de perdição”, que o desgraçado aprendeu a formar uma opinião sua a respeito das coisas, e expor as suas ideias desassombradamente, sem medo de um fantasma, que se chama... o público. Foi nesse mesmo inferninho que Artur Azevedo fez-se escritor, dramaturgo, comediógrafo, poeta, jornalista e operista. Que calamidade! (AZEVEDO, Aluísio Apud MÉRIAN, 1988, p. 42)9

Azevedo intensifica sua colaboração em periódicos diversos com crônicas, poesias e contos, assinando o próprio nome ou utilizando pseudônimos diversos, como: Acropólio, Lambertini, Semicúpio dos Lampiões, Lhino, Vitor Leal, Pitibri, Giroflê ou Milord. Essa prática nos chamou a atenção para as possíveis razões para o uso de pseudônimos. Viemos a descobrir ser uma prática bastante comum na época, muitas vezes escolhidos de acordo com o gênero de publicação, tal como Chalhoub (2005) comenta:

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Os nomes dos intelectuais trazidos por Mérian (1988) que influenciaram a sociedade através da imprensa

podem ser consultados no artigo de Ana Lucia Lana Nemi intitulado “Brasil e Portugal: a História Nacional Entre Tradição e Renovação” ouem livro da autoria de Beatriz Berrini, Brasil e Portugal: A Geração de 70

(Porto: Campo das Letras, 2003), dentre outros.

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Exemplar, a esse respeito, é a cuidadosa escolha dos pseudônimos, artifício frequente entre os cronistas brasileiros desde meados do século XIX. Coelho Netto, um dos mais assíduos cronistas da virada do século, dá um precioso testemunho sobre o sentido desse hábito, em entrevista ao jornal Gazeta de Notícias em junho de 1912. Afirmava, de início, que o pseudônimo “não é bem um disfarce, uma máscara”, constituindo antes uma cuidadosa opção narrativa adotada pelo autor em cada uma de suas séries [...] construídos no intuito de abordar questões específicas em diferentes momentos: “o pseudônimo adequa-se ao assunto e à preocupação da época”, marcando “épocas diferentes, verdadeiros períodos” da vida literária de um autor, “fases diferentes” do seu “espírito”. (Gazeta de Notícias, 12.06.1912 apud CHALHOUB, 2005, p. 15)

Diante de tal informação, buscamos então pelos possíveis significados, como parte do percurso da pesquisa, objetivando contribuir para um melhor entendimento das escolhas feitas, não ao sabor do acaso. Assim, transmitimos algumas pistas sobre a possível razão para a escolha dos pseudônimos mencionados a seguir:

a) Acropólio – nome da associação artística criada por Candido Caetano de Almeida Reis como forma de oposição aos padrões estéticos ditados pela Academia Imperial de Artes. Uma de suas obras foi bastante criticada por Angelo Agostini, caricaturista bastante conhecido, a respeito da escultura intitulada O Progresso;

b) Lambertini – esse pseudônimo parece ter relação com a Cia Lambertini10 de teatro que, por sua vez, traz o italiano Michelangelo Lambertini (1860-1920), compositor musical para obras teatrais e óperas cômicas, que participou de circuito de apresentações no Rio de Janeiro e em São Paulo;

c) Semicúpio – segundo pesquisas, trata-se de um dos personagens de uma ópera joco-séria de Antonio José da Silva intitulada Guerra dos Alecrins e da Manjerona encenada em Lisboa no ano de 1737. O autor era mais conhecido como “O Judeu”.

d) Giroflê - seguindo o mesmo método de pesquisa para encontrar possíveis razões para a escolha dos pseudônimos anteriormente mencionados, descobrimos uma opereta cômica intitulada Giroflé Girofla de Charles Lecoq (1832-1918), também autor da peça La fille de Madame Angot traduzida e adaptada por Artur Azevedo como A Filha de Maria Angu, encenada no Rio de Janeiro em 1876.

e) Victor Leal – quando Azevedo assina com esse pseudônimo mostra-se como um personagem (e não ele próprio, como uma representação), descrevendo-se como homem magro, de nariz pontudo usando chapéu de abas largas e monóculo, criticando a produção

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literária naturalista, usando, provavelmente como estratégia de divulgação de trabalho de sua autoria. Esse mesmo pseudônimo foi utilizado pelo poeta Olavo Bilac, pelo dramaturgo Coelho Netto e pelo jornalista Pardal Mallet concomitantemente, em escrita coletiva. (NUNES, 2010, p. 6)

A partir dos significados elencados, observamos certa recorrência às escolhas relacionadas ao universo do teatro em todos os gêneros de suas obras. Assim, apresentaremos mais dados biográficos que observamos, de alguma forma, estarem ligados ao gênero cômico popular e teatral.

Aos 22 anos, já no Rio de Janeiro, efetua sua matrícula em um curso na Academia de Belas Artes, na disciplina de modelo vivo, procurando trilhar caminhos alternativos a fim de realizar o sonho de ser pintor. Por volta de 1880, não se sabe a data com precisão, produz a tela Depois da Barricada11 em homenagem ao mestre e grande incentivador Domingos Tribuzzi, recém-falecido na época, em que apresenta nova forma de expressão artística e, por causa dela, recebe muitas críticas, sendo a obra qualificada como uma “hemorragia pictural”

cheia de cadáveres sobrepostos em exagero.

Acreditamos que possivelmente Azevedo tenha se inspirado na peça litográfica praticamente homônima de Édouard Manet, com o título La Barricade de 1871 (Fig. 19), em que é retratada a cidade de Paris como um campo de batalha, com algozes soldados armados

massacrando civis. A tela azevediana foi exposta, “num dos salões da Confeitaria La Glace

Eleganteno Rio de Janeiro”, segundo Mérian (1988, p. 86).

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