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Redesenho da cidade através da arquitetura formas modernas em Londrina/PR

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Academic year: 2021

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Redesenho

da cidade através da arquitetura:

formas modernas em Londrina/PR

Dafne Marques de Mendonça

Salvador,2012 v.1

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Redesenho

da cidade através da arquitetura:

ormas modernas em Londrina/PR

f

Prof° Dr° Marco Aurélio Andrade de Filgueiras Gomes Orientador:

Salvador

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo, Faculdade de Arquitetura, Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Arquitetura e Urbanismo.

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Faculdade de Arquitetura da UFBA - Biblioteca

M357 Mendonça, Dafne Marques de.

Redesenho da cidade através da arquitetura: formas modernas em Londrina/PR / Dafne Marques de Mendonça. 2012.

259 f. : il.

Orientador: Prof. Dr. Marco Aurélio Filgueiras Gomes.

Dissertação (mestrado) - Universidade Federal da Bahia, Faculdade de Arquitetura, 2012.

1. Arquitetura Londrina (PR) Séc. XX. 2. Arquitetura moderna -Urbanização - Londrina (PR). Universidade Federal da Bahia. Faculdade de Arquitetura. II.Gomes, Marco Aurélio Filgueiras. III. Título.

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Há muitas pessoas a quem agradecer por esta etapa concluída. Deixo aqui registrado algumas delas que, de alguma maneira, contribuíram diretamente ao longo do período de realização da pesquisa e sem as quais não imagino como conseguiria os resultados atingidos.

Agradeço primeiramente à minha família, minha mãe Ivone, meu pai José e minha irmã Ariadne, por todo o apoio incondicional, o carinho e a paciência ao longo de todo o percurso. Sem vocês, nada seria possível.

Ao Thiago, pela compreensão e incentivo. Suas palavras sinceras e amáveis foram fundamentais, especialmente nos momentos de dúvida, assim como as conversas arquitetônicas e a parceria nas pesquisas em campo.

Ao meu orientador, Professor Marco Aurélio Andrade de Filgueiras Gomes, pelo privilégio de ter sido sua orientanda, por todos os ensinamentos e por ter acreditado na pesquisa, mesmo quando os caminhos desta se perdiam ou se desviavam.

Aos membros que integraram as bancas e que também foram parte imprescindível da pesquisa: O Professor

participou da fase inicial durante o CECRE/ UFBA,

no qual fui sua aluna. A Professora me acolheu, juntamente com

a Professora Anna Beatriz Ayrosa Galvão, no Núcleo DOCOMOMO/ UFBA, onde tanto aprendi e vivenciei. Carol, você não imagina como me realizava nas reuniões de sextas-feiras sobre a preservação da arquitetura modernista, muito obrigada pela oportunidade. A Professora , que apesar de não a ter conhecido pessoalmente antes, já a conhecia através de seus textos precisos, tornando uma honra tê-la como parte desta etapa.

À Silvandira que, com paciência e destreza, estendeu a mão amiga quando se fazia necessário.

Às minhas amigas que considero irmãs de coração, Virgínia e Aline. Mesmo longe, vocês estiveram sempre perto. Não há mais caminhada sem levar vocês comigo.

E por último, mas não menos importante, agradeço aos colegas conquistados no mestrado, Andrea, Fernanda, Sérgio e Gustavo. Devo a vocês os melhores dias da minha vida baiana . Obrigada pela amizade, cumplicidade e companheirismo. Lembro com saudades tudo que vivemos juntos e quero mais!

Luiz Antônio Fernandes Cardoso, além da contribuição ao longo da

pesquisa, quando a idéia do tema surgiu

Ana Carolina Bierrenbach

Nelci Tinem

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Na primeira metade do século XX, os produtos de arquiteturas modernas esbarram muitas vezes nas definições espaciais e formais já estabelecidas nas cidades existentes, onde legislação, divisão cadastral e aspectos culturais influenciam na possibilidade de propor inovações e de distanciamento da forma convencional de pensar arquitetura e cidade. Esta questão se coloca como pano de fundo para a pesquisa, onde a cidade de Londrina/ PR apresenta-se como objeto de estudo. Para isto, arquiteturas modernas são classificadas e diferenciados os aspectos de modernidade presentes no cenário urbano brasileiro

. Estas arquiteturas modernas podem ser ilustradas através da polarização de dois modelos: o , como o título empregado para agrupar uma série de manifestações de estética moderna, mas ainda presos a relações convencionais de implantação na cidade existente e a arquitetura modernista, que visa o rompimento. As intenções desta última extrapolam apenas o desejo de reconfigurar a forma arquitetônica. O real interesse é repropor a cidade em seus aspectos considerados retrógrados e herdados de períodos anteriores. Isto pode ser confirmado quando são observados os discursos dos primeiros Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna que criticam a “rua-corredor” e a arquitetura ditada pela forma e não como resultante da funcionalidade de uma planta. Se a busca pela inovação é a principal intenção da arquitetura modernista, este intento se viabiliza de modo mais pleno em áreas de expansão, ou seja, distantes da cidade existente, e em grandes programas como habitações coletivas, complexos esportivos, campus universitário, clubes, centros cívicos etc. O caso de Londrina se torna paradigmático do cenário arquitetônico difuso de modernidades arquitetônicas e urbanísticas em curso no período. Por ser cidade nova, localizada no interior do Norte do estado do Paraná e fundada em 1929, portanto, fruto do século XX, poderia ser considerada local propício para o florescimento de propostas inovadoras mas, assim como nos centros consolidados das demais cidades, a divisão cadastral, a legislação e aspectos culturais já induzem uma forma de implantação e relação dos edifícios com a cidade. A legislação local será um grande incentivo no processo de renovação e ao mesmo tempo uma aliada para a permanência do existente. Em Londrina, assim como em outras localidades, os princípios que regem o Movimento Moderno, tais como: a planta como geradora da forma, os cinco pontos d nova arquitetura propostos por Le Corbusier, a verticalização, a tentativa de tornar os térreos espaços de uso coletivo e a disposição assimétrica dos edifícios sob um fundo neutro, são reinterpretados e reinventados para conseguirem se materializar, dadas as limitações. O entendimento presente na pesquisa, ao considerar a arquitetura do Movimento Moderno como transformação do espaço urbano, potencializa as intenções do discurso modernista e permite estabelecer novos parâmetros para a preservação e discussão acerca deste patrimônio. Como resultado, a pesquisa também valoriza a apresenta exemplares londrinenses sob a ótica de que estes incorporam intenções presentes em arquiteturas modernistas nacionais e internacionais do período.

Arquitetura moderna. Movimento Moderno. Patrimônio. Londrina (PR). através de alguns exemplares

Art Déco

status quo

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In the first half of the twentieth century, the products of modern architectures often collide in spatial and formal definitions already established in existing cities where law, cadastral division and cultural aspects influence the possibility to propose innovations and distancing the conventional way of thinking about architecture and city. This question arises as a background for the research, and the city of Londrina, located at Paraná State, presents itself as an object of study. For this, through some examples, modern architectures are classified and aspects of modernity are differentiated in Brazilian urban setting. These modern architectures can be illustrated through the polarization of two models: the Art Deco, as the title used to group a series of demonstrations of modern aesthetics, but still attached to conventional city and modernist architecture, which aims breaking the conventions. The intentions of modernist architecture extrapolate the desire to only reconfigure the architectural form. The real interest is to repurpose the city aspect considered retrograde and inherited from previous periods. This can be confirmed when observing the speech of the first International Congress of Modern Architecture which criticize the "rue-corridor" and architecture dictated by the form and not as a result of the functionality of a floor plan. If the quest for innovation is the main intention of modernist architecture, this intent is made possible more fully in areas of expansion, ie, away from the existing city, and in large programs such as collective housing, sports complexes, university campus, civic centers etc. Londrina, as a case study, becomes paradigmatic because demonstrates the diffuse architectural and urban modernity in course at the period. Being a new city, located within the North of Paraná state and founded in 1929, therefore, the fruit of the twentieth century, Londrina could be considered a more suitable place for the flourishing of innovative proposals but, as well as consolidated centers of other cities, the urban division, legislation and cultural aspects induce a traditional form of urban insertion of buildings in the city. In Londrina, as elsewhere, the principles governing the Modern Movement, such as the plant as a generator of form, the Le Corbusier five principles of architecture, the vertical forms, the intention of making the ground floor a collective space and the use of asymmetric arrangement of buildings on a neutral background, are reinterpreted and reinvented to become real, given the constraints. The understanding presented in this research, which considers the architecture of the Modern Movement as transformation of urban space, enhances the intentions of the modernist discourse and allows to establish new parameters for the preservation and discussion of this heritage. As a result, the research also shows and valorizes Londrina´s examples from the perspective that these incorporate intentions present in national and international modernist architecture of the period.

Modern architecture. Modern Movement. Heritage. Londrina (PR).

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Introdução 09

CAPITULO

1

Hibridismo e arquiteturas modernas: modelos de modernidade  23

1.1  Moderno,  modernismo,  modernidade,  modernização  novo,  modernista  e 

modernizante: uma definição  24 1.2 Pluralidade de modernidades na primeira metade do século XX  27 1.2.1 O antagonismo entre propostas arquitetônicas e urbanísticas 33 1.2.2 A modernidade de aparências: o Art Déco 43 1.2.3  A modernidade de ruptura: o Movimento Moderno 52 1.2.3.1 A arquitetura modernista brasileira 67 1.2 A relação da arquitetura com a cidade nos modelos de modernidade  77

CAPITULO

2

O redesenho como intenção: arquitetura para transformar a cidade  88

2.1 A necessidade de repropor a cidade 89 2.1.1 Propostas de Le Corbusier e o redesenho 90 2.1.1.1 Le Corbusier e a arquitetura modernista brasileira 105 2.1.2 Os CIAM´s e o redesenho  108 2.1.2.1 A planta como geradora do projeto e a nova implantação 121 2.1.3 O vazio como espaço projetado  126 2.1.3.1 A disposição assimétrica equilibrada de volumes 131 2.1.3.2 A dissolução da fronteira entre o público e o privado 135 2.1.3.3 Superquadras de Brasília: a perda da quadra tradicional 148 2.1.4 A verticalização como símbolo de modernidade 154 2.1.4.1 O modelo verticalizado de Louis Sullivan 156 2.1.4.2 O modelo verticalizado modernista 160

2.2  Categorias  de  implantação  da  arquitetura  moderna  em  áreas  consolidadas  e  de 

expansão 

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Apropriações de modernidades e releituras: o caso de Londrina  176   3.1 O sentido de moderno no contexto local  177 3.1.1 A arquitetura das décadas de 1930 e 1940 174 3.1.2 O incentivo a verticalização e a nova arquitetura na década de 1950 188 3.1.2.1 As galerias comerciais e a loggia: novas rotas de percolação  198 3.1.2.2 Ousadias de João Batista Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi 225 3.2 Shangri lá o bairro jardim: paradoxo da modernidade  235 3.3 Catálogo de edifícios quanto ao redesenho  237 FICHA 1: Edifício Sahão (1950): junto ao alinhamento com pilotis térreos 242 FICHA 2: Edifício Alaska (1961): junto ao alinhamento com loggia térrea 243 FICHA 3: Conjunto Edifício Autolon, Confeitaria Caloni e Cine Ouro Verde (1950) 244

CAPITULO

4

Formas modernas e espaço urbano: considerações finais  246

 

   

Bibliografia e fontes de pesquisa 252

(10)

 

Introdução

      Ao longo das primeiras décadas do século XX, são várias as arquiteturas de características  modernizantes que se manifestam. O Movimento Moderno desponta no final da década de 1920  e pretende ser o único a ter para si o adjetivo de arquitetura moderna do novo século. No Brasil,  é neste período que se intensifica a expansão urbana nas cidades brasileiras e criação de novas  no interior. A ruptura com o período colonial – deflagrada com a independência do país, fim da  escravidão e do sistema de sesmaria – propicia a necessidade de novos modelos urbanos para as  cidades existentes, assim como, para as novas a serem criadas. A cidade de Londrina, objeto de  estudo da pesquisa, localiza‐se ao Norte do Estado do Paraná (figura 2), e é fruto deste contexto  efusivo:  cidade  nova,  projetada  e  implantada  em  1930  pela  Companhia  de  Terras  Norte  do  Paraná (CTNP) ela passa, entre as décadas de 1930 a 1960, por diferentes fases na busca de sua  modernização espacial e arquitetônica. A vinculação entre campo e cidade ainda é estreita nas  cidades‐novas e, ao mesmo tempo, o desejo pelo moderno é latente. 

É importante ter em mente que a condição de porção remotamente conhecida da faixa  mais  interiorana  do  país  se  faz  presente,  no  discurso,  até  as  primeiras  décadas  do  século  XX,  especialmente na bibliografia da época quando aborda a questão das terras localizadas na região  pioneira.  A  chamada  zona,  franja  ou  região  pioneira  se  define  como  os  territórios  pouco  ocupados  localizados  mais  ao  oeste  da  costa  litorânea  de  parte  da  região  sul  e  centro‐sul  do  Brasil. São várias as cidades que, ao longo do processo, recebem a alcunha de “boca do sertão”,  definindo‐se como último ponto avançado em áreas remotamente ocupadas. (figura 1) 

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FIGURA 1: Mapa que indica os níveis de ocupação do território brasileiro em 1950: primeira hachura,  ocupação concentrada; segunda hachura, ocupação dispersa; e terceira hachura, ocupação extremamente  dispersa. Nota‐se que o oeste paulista e norte do Paraná localizam‐se na área de “ocupação concentrada”,  sinalizando o processo de ocupação intenso pelo qual passa no período  Fonte: JAMES e SPEDIÃO, 1960, p.772.   FIGURA 2: Mapa localizando o Paraná no Brasil e Londrina no Paraná   Fonte: Própria autora, 2009. 

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A  ocupação  do  norte  do  Paraná  é  consequência  das  experiências  no  oeste  paulista ,  porém condicionada pelas circunstâncias proporcionadas pelo território na outra margem do rio  Paranapanema. A forma como se dá a presença de terra roxa – solo fértil para a agricultura – é  um  importante  fator  que  evidencia  como  as  condições  encontradas  na  nova  área  a  ser  explorada,  acarretam  nas  diferenças  entre  a  ocupação  nos  dois  Estados.  No  interior  de  São  Paulo, o derramamento deste tipo de solo fértil se dá de forma esparsa, com pequenas manchas  distantes entre si, já no norte do Paraná, concentra‐se em um único ponto. Isto permite – e pode  justificar  –  a  proposta  de  uma  ocupação  planificada  de  maior  dimensão  encontrada  no  norte  paranaense. O oeste paulista, ao contrário, é retalhado em diferentes pontos de ocupação que  ocorrem simultaneamente e de forma autônoma.  

A  Companhia  de  Terras  Norte  do  Paraná  (CTNP)  é  subsidiária  da  Brazil  Plantation 

Sindicate, firma inglesa dedicada ao plantio e à exploração de algodão. Em 1925, esta adquire do 

governo  do  Estado  do  Paraná,  uma  área  total  de  515.000  alqueires  e  implanta  –  a  partir  das  experiências já consolidadas, aliadas ao conhecimento dos técnicos da Companhia – uma rede  de cidades dispostas linearmente, ao longo da linha de trem, e vinculadas à zona rural.  

A ocupação orientada por uma Companhia Colonizadora, como são chamadas na época,  representa  uma  nova  etapa  no  processo  de  ocupação  do  interior  do  país.  Em  um  primeiro  momento do ciclo cafeeiro, são os grandes fazendeiros e proprietários de terras, associados ou  não a outros, quem destinam uma porção de suas posses para a criação de um patrimônio leigo  para ser loteado e servir ao abastecimento local. A grande monocultura prevalece neste período 

       

1

  Autores  ressaltam  o  aspecto  da  região  pioneira  paranaense  ter  íntima  relação  com  a  paulista.  Sobre  isto  Monbeig  (1945)  salienta  que  o  lado  paranaense  mesmo  que  “pertença  administrativamente  ao  Estado  do  Paraná – não deixa de ser de fato uma região da economia paulista” (p.11).  Nilo Bernardes (1952) excetua a  região pioneira do restante do Paraná e a coloca mais próxima às características paulistas, tanto pelas questões  econômicas como pela presença maior de migrantes se comparado aos imigrantes, estes, mais numerosos na  colonização  das  outras  regiões  do  Estado.  Mas  vale  destacar  que  os  imigrantes  constituem  importante  contingente populacional na área, e foram responsáveis ou pela criação ou ocupação de cidades e patrimônios.  Só  em  relação  ao  norte  do  Paraná,  os  japoneses  tiveram  participação  considerável  nos  assentamentos;  Rolândia e Heimtal recebe alemães; Warta foi estabelecida por imigrantes poloneses; Colônia Concórdia pelos  eslavos de origem romena, etc. 

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juntamente com a figura do dono da terra que dita leis e dá as ordens no local (DEFFONTEAINES,  1944;  1945).  As  cidades  criadas  pelas  Companhias  não  se  vinculam  mais  diretamente  a  um  grande  fazendeiro,  como  na  primeira  fase  do  ciclo  cafeeiro  e,  sim,  são  terras  adquiridas  por  empresa  ou  grupo  de  particulares.  Estes  assumem  a  responsabilidade  pelo  parcelamento  e  venda e se ocupam tanto pela área urbana como rural. Seu lucro está baseado no retalhamento  da grande propriedade em glebas menores para a venda.  

A  entrada  para  o  norte  do  Paraná  se  dá  através  da  extensão  da  linha  férrea  de  Ourinhos/SP.  A  primeira  cidade  implantada  é  Londrina,  com  ocupação  iniciada  em  1929,  tornando‐se o local da sede da Companhia nos primeiros anos. A CTNP estabelece como diretriz  para  a  implantação  das  cidades  uma  hierarquia  entre  os  núcleos.  Os  mais  importantes  são  implantados  de  forma  equidistante  e  entremeados  por  outras  ocupações  hierarquicamente  menores.  As  cidades  “destinadas  a  se  tornarem  núcleos  econômicos  de  maior  importância  seriam demarcadas de cem em cem quilômetros, aproximadamente” e entre elas, “distanciados  de 10 a 15 quilômetros um do outro, seriam fundados os patrimônios, centros comercias e de  abastecedores  intermediários”  (COMPANHIA,  1977,  p.77).  Ao  redor  das  áreas  urbanas,  determina‐se a implantação de “cinturões verdes”, cuja função era constituir “uma faixa dividida  em chácaras que pudessem servir para a produção de gêneros alimentícios de consumo local”  (COMPANHIA, 1977, p.77‐78). À medida que se afasta do núcleo urbano as glebas aumentam de  dimensão. 

Em  1943  –  devido  à  Segunda  Grande  Guerra  e  à  exigência  do  governo  pela  nacionalização das empresas – a CTNP foi colocada à venda e comprada por um grupo paulista  composto por funcionários da até então Companhia inglesa, passando a chamar‐se Companhia 

Melhoramentos  Norte  do  Paraná  (CMNP).  Esta  fase  inaugura  a  criação  de  dezenas  de  novas 

cidades,  dando  continuidade  ao  eixo  de  expansão  linear  e  às  diretrizes  de  hierarquia  estabelecidas na fase CTNP.  

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De  acordo  com  Yamaki  (2003),  ao  todo,  são  criados  setenta  e  oito  núcleos  urbanos,  sendo que cinquenta e oito são implantados pela Companhia e vinte fundações de particulares.  Entre  todas  as  ocupações,  quatro  são  os  núcleos  hierarquicamente  maiores  implantados:  Londrina (1930), Maringá (1947), Cianorte (1953) e Umuarama (1955). 

FIGURA 3: Localização das quatro cidades pólo implantadas pela CTNP (Londrina, Maringá, Cianorte e  Umuarama). Ourinhos é a porta de entrada à região pelo lado paulista 

Fonte: da autora sobre base Google Earth <www.googleearth.com>, acesso em Abril de 2009. 

 

…Para  cada  uma  destas  pequenas  cidades  está  estabelecido  um  plano  exato  de  urbanismo,  que  já  se  nota  em  aplicação  em  Londrina.  É  claro  que  não  se  deve  esperar  achar  aí  os  últimos  confortos;  as  ruas  são  cuidadosamente  traçadas;  nas  grandes chuvas, porém, a lama avermelhada as cobre; as casas são de construção  extravagante,  entretanto  a  higiene  é  perfeita;  o  problema  do  abastecimento  de  água  potável  foi  resolvido  sem  grandes  dificuldades,  a  encosta  sobre  a  qual  está  construída  a  cidade  facilita  o  escoamento  das  chuvas  e  evita  a  estagnação  das  águas  com  seus  consequentes  perigos.  A  declividade  do  terreno  e  a  umidade  trazem como consequência a construção sobre estacas da maioria das habitações;  umas sessenta construções em tijolos escapam à necessidade das estacas; e dão a  Londrina um aspecto de cidadezinha bem estabelecida e com futuro garantido [...].  Mas  o  fato  é  que  a  função  essencial  destes  centros  é  de  ser  o  mercado  de  abastecimento  e  de  exportação  para  o  grande  número  de  pequenos  lavradores  invisíveis pelo fato de estarem espalhados dentro da mata. (MONBEIG, 1945, p.12).   

Na  fase  nacional  da  Companhia  (pós‐1943)  é  quando  se  dá  a  implantação  do  maior  número  de  núcleos  e  constitui‐se,  com  isto,  momento  em  que  a  importância  dada  à  configuração  das  cidades  se  reveste  de  um  novo  enfoque  se  comparadas  com  as  surgidas  durante  a  primeira  fase.  Este  fato  pode  ser  atribuído  à  distância  temporal  entre  estes  dois  momentos – pois a urbanização aumenta sua relevância progressivamente ao longo das décadas 

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– como também, às incertezas iniciais do sucesso do empreendimento. Nas cidades da primeira  fase  inglesa  os  traçados  são  menos  complexos  em  relação  às  cidades  seguintes,  mas,  mesmo  assim,  não  completamente  descuidados  quanto  às  questões estéticas.  Na  fase  CMNP,  a  malha  urbana  busca  se  assentar  melhor  ao  sítio,  tornando‐se,  em  alguns  casos,  uma  condicionante  direta do traçado como é o exemplo de Maringá e Cianorte, ambas com desenho de autoria de  Jorge Macedo Vieira e, portanto, mais relacionadas ao ideário cidade‐jardim. (figuras 4 e 5) 

As cidades novas da zona pioneira, como representantes do mundo civilizado em locais  até  então  remotos,  adquirem  também  a  função  de  tornarem‐se  chamarizes  de  futuros  compradores.  Sua  imagem  deve  ser  convidativa  e  passar  a  impressão  de  ser  dotada  dos  melhores  aspectos  dos  grandes  centros  e  da  vida  moderna.  Esta  é  uma  tarefa  difícil  dada  as  distâncias e os poucos recursos, mas é imprescindível para garantir o sucesso dos loteamentos –  juntamente com a qualidade da terra e as facilidades de escoamento da produção.  FIGURA 4: Planta figura‐fundo de Londrina de 1939 FIGURA 5: Maringá, projeto de 1943, de autoria de  Jorge Macedo Vieira, representa uma nova fase de  criação de cidades pela Companhia  Fonte: YAMAKI, 2003. . Fonte: PUPO, 1948.   O projeto de Londrina é do engenheiro Alexandre Rasgulaeff (YAMAKI, 2008), contratado  pela  companhia.  Em  1929,  inicia‐se  a  ocupação  implantação  da  cidade,  sendo  que  o  núcleo  urbano só se torna município em 1934. A proposta é em malha xadrez interrompida pela elipse 

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central onde está localizada a Catedral, no ponto mais elevado do traçado, e ladeada por praças.  O eixo rodoviário corta em diagonal a malha xadrez e contorna a elipse e, o eixo ferroviário, está  em  paralelo a este.   FIGURA 6: Fotografia de Londrina mostrando as praças  (em verde) adjacentes às principais edificações  posicionadas estruturando um eixo: a Catedral e  Estação Ferroviária  FIGURA 7: Aerofoto de 1949 de Londrina, detalhe na  elipse central do traçado onde está a Catedral ladeada  pelo Bosque e pela Praça da Bandeira. Próximo à  Estação ferroviária, no centro superior da imagem,  está a Praça Rocha Pombo   Fonte: Pró´pria autora, 2011, sobre base “A Pioneira”,  1952.  Fonte: Yamaki, 2003.

Ao  longo  da  primeira  metade  do  século  XX,  a  cidade  de  Londrina  é  reconstruída  três  vezes (YAMAKI, 2008): a primeira fase pioneira ocorre nas décadas iniciais de ocupação quando a  cidade  é  construída  em  madeira;  uma  segunda  fase  é  iniciada  ao  final  da  década  de  1930  e  vigente  ao  longo  de  toda  a  década  de  1940,  onde  as  edificações  em  madeira  são  progressivamente substituídas por sobrados em alvenaria de arquitetura déco e residências em  estilo eclético e, uma terceira fase, cujo início se dá ao final da década de 1940 e ao longo da  década  de  1950  e  1960,  onde  se  almeja  implantar  a  arquitetura  modernista  à  realidade  local.  Cada  fase  reflete  também  o  progresso  econômico  da  cidade,  sendo  a  última,  o  momento  de  maior pujança econômica decorrente da alta do café (SUZUKI, 2007) que faz o gabarito de altura  dos edifícios atingirem mais de 20 pavimentos. 

 

Todo  este  processo  de  renovação  toma  curso  na  atual  área  central  da  cidade,  ou  seja,  aproximadamente  entre  os  limites  do  Plano  inicial  proposto  pela  CTNP  (figuras  4,  7  e  8). 

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Inicialmente, a expansão urbana – além dos limites da CTNP – se dá sobre a área de “cinturão  verde” que circunda o plano inicial. Esta expansão é feita com o prolongamento da malha xadrez  para formar, principalmente, novos bairros residenciais. Nestes, se mantêm a técnica construtiva  da  madeira  como  principal  meio  de  construção.  Uma  nova  concepção  para  os  bairros  residenciais é introduzida a partir do convite à Prestes Maia em 1950 para a elaboração de um  plano  urbanístico  de expansão  para a  cidade.  O plano  introduz  o  bairro‐jardim em  Londrina  e,  com  isso,  o  centro  passa  a  ser  um  setor  dentro  de  um  planejamento  em  maior  escala,  cuja  verticalização  e  o  uso  comercial  ou  misto  residencial/comercial  tornam‐se  suas  características  principais.     FIGURA 8: A dimensão do núcleo inicial da cidade (em roxo)  projetado pela CTNP nos dias atuais      Fonte: Própria autora, 2011, sobre base IPPUL, 2005.    Ao mesmo tempo em que Prestes Maia é chamado para Londrina, o arquiteto Vilanova  Artigas,  importante  nome  na  história  do  modernismo  brasileiro,  é  convidado  para  inserir  edifícios na área central. Esta aí uma situação paradoxal da arquitetura e urbanismo londrinense 

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que  refletem,  em  menor  escala,  uma  realidade  também  recorrente  nos  grandes  centros:  o  urbanismo moderno e arquitetura modernista estão, na maioria das vezes, desvinculados. 

A transição da cidade em madeira para a cidade déco não exige alterações significativas  no traçado inicial de Londrina, pois é uma arquitetura que se acomoda ao local e, portanto, de  mais fácil assimilação (COELHO, 2000). A prática comum adotada pelas construções em madeira  é  implantar  edifícios  comerciais  junto  às  divisas  e  alinhamentos  e,  os  residenciais,  isolados  no  lote.  Esta  concepção  é  idêntica  para  a  arquitetura  déco,  apenas  alterando‐se  o  material  construtivo em madeira pela alvenaria. 

Mas a transição da cidade déco para a modernista é menos tranquila, pois a arquitetura  do  Movimento  Moderno,  ao  almejar  romper  com  as  práticas  urbanísticas  e  arquitetônicas  vigentes,  nega  a  cidade  tradicional  e,  assim,  exige  uma  nova  espacialidade,  desvinculada  dos  elementos  morfológicos  tradicionais,  tais  como,  as  quadras  e  lotes.  Este  espaço  inovador  é  a  condição ideal para a nova arquitetura, porém não é a realidade das cidades na primeira metade  do  século  XX.  Os  modelos  urbanísticos  modernos  são,  neste  período,  majoritariamente  de  influência Beaux Arts ou vinculados ao ideário cidade‐jardim. Para comprovarmos esta condição  é só pensarmos no Plano Agache para o Rio de Janeiro ou no projeto da cidade de Goiânia.  

Sendo  assim,  a  concretização  da  proposta  do  Movimento  Moderno,  só  consegue  ser  materializada – e ainda, muitas vezes, parcialmente – em áreas afastadas, como novos bairros,  ou  então  em  conjuntos  arquitetônicos  de  grande  porte,  como  universidades,  clubes,  etc.  Nas  cidades consolidadas, ou com planos que ainda flertam com a concepção tradicional de cidade, a  possibilidade  de  materialização  da  arquitetura  do  Movimento  Moderno  está  vinculada  à  tentativa de  acomodar  os  pressupostos  modernistas  às  realidades  locais  encontradas e,  assim,  tornando‐se  o  compromisso  com  o  redesenho  do  espaço  urbano  uma  de  suas  características  fundamentais. Desse modo, a arquitetura – ou seja, o conjunto de edifícios em sua relação com  o espaço urbano e público em cidades pré‐estabelecidas – torna‐se o instrumento modernista da 

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mudança  em  áreas  consolidadas.  Este  é  o  caso  de  Londrina  e  reflete  a  sua  terceira  fase  de  reconstrução. 

Desta  forma,  o  cenário  arquitetônico  londrinense,  como  objeto  de  estudo da  pesquisa,  reflete  a  complexidade  e  os  paradoxos  intrínsecos  à  primeira  metade  do  século  XX  e,  a  partir  desta  condição  que  lhe  é  própria,  torna‐se  o  veio  condutor  para  a  seleção  das  temáticas  abordadas  na  dissertação.  O  ponto  central  do  estudo  é  expresso  pelo  título:  a  questão  do 

redesenho das cidades proporcionado pela arquitetura. Com este intuito, direciona os esforços 

no sentido de definir o que caracteriza o redesenho de áreas consolidadas – considerando esta  como uma das intenções chave do Movimento Moderno – e quais são as formas e motivações  para a sua realização, concepção e materialização. Esta abordagem é relevante para permitir a  ampliação  do  entendimento  da  arquitetura  modernista  não  como  uma  simples  imposição  de  novas  propostas  em  espaços  urbanos  existentes,  mas  sim,  e  muitas  vezes,  tentativas  de  adaptação e acomodação de idealizações ao plano real. 

A  segunda  parte  do  título,  as  formas  modernas  encontradas  em  Londrina/PR,  reflete  o  intuito de compreender a complexidade do objeto, onde diferentes propostas de modernidade  se sobrepõem em um mesmo espaço e tempo adquirindo, muitas vezes, características híbridas.  Esta  condição  heterogênea  do  senso  de  modernidade  não  parece  ser  uma  particularidade  londrinense e, sim, a condição “padrão” na primeira metade do século XX. A pesquisa debruça‐ se  em  estabelecer  um  entendimento  para  as  arquiteturas  modernas  na  primeira  metade  do  século  XX,  através  de  revisão  bibliográfica  e  estudos  a  partir  de  exemplares.  Dois  modelos  de  modernidade  são  considerados  dominantes:  a  arquitetura  déco,  considerando  o  hibridismo  como  a  qualidade  chave  desta  definição,  e  a  arquitetura  modernista,  ou  seja,  a  arquitetura  vinculada  ao  Movimento  Moderno  internacional.  Neste  sentido,  uma  questão  importante  se  evidencia:  qual  modernidade  Londrina  almeja  construir  dada  a  sua  distância  dos  grandes  centros, ausência de parque industrial significativo (a não ser o relacionado à agroindústria) e a 

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sua configuração espacial a partir de elementos morfológicos tradicionais? Para responder a este  questão, o esforço de relacionar a realidade londrinense a situações de outras cidades do país  torna  possível  compreender  as  limitações  encontradas  localmente,  assim  como,  destacar  as  tentativas  de  estabelecer  similaridades  com  o  proposto  em  outras  localidades.  Desta  forma,  o  objeto de estudo é tratado não como um fenômeno isolado, mas como parte de um contexto. 

Com  isto,  os  objetivos  da  pesquisa  podem  ser  resumidos  nos  seguintes  tópicos  e  ilustrados no quadro 1:  

 Demonstrar a complexidade do objeto de estudo como reflexo da complexidade  presente  na  primeira  metade  do  século  XX,  onde  diferentes  manifestações  de  modernidade se sobrepõem e coexistem; 

 Contribuir  para  a  ampliação  do  entendimento  da  arquitetura  modernista  enquanto estratégia de redesenho do espaço urbano; 

 Identificar,  caracterizar  e  categorizar  as  estratégias  de  redesenho  em  áreas  consolidadas e de expansão e rebatê‐las na área central de Londrina.      QUADRO 1: Organograma com os objetivos da pesquisa Fonte: da autora, 2011.  

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A  metodologia  baseia‐se  na  revisão  da  literatura  acerca  dos  temas  importantes  para  a  pesquisa,  assim  como  dos  principais  discursos  adotados  pelos  personagens  e  publicações  da  época quanto a estabelecer o valor de moderno e o desejo de ruptura com a cidade tradicional.  Para  rebater  os  conceitos  teóricos  ao  plano  “real”  e  arquitetônico,  é  feita  uma  leitura  de  exemplares nacionais e internacionais, com o objetivo de categorizá‐los em sua interação com o  espaço  urbano.  Esta  pesquisa  é,  portanto,  baseada  em  publicações  e  revistas  nacionais  e  internacionais que tratam sobre o tema, assim como observações em campo. Compreende‐se o  risco decorrente da seleção de um número restrito de exemplares para a ilustração da pesquisa,  deixando‐se  outros  de  fora.  Dessa  forma,  ao  longo  dos  capítulos,  a  escolha  e  organização  dos  exemplos  considerados  relevantes  procuram  não  ser  organizados  apenas  em  termos  cronológicos, mas, principalmente, pela proximidade conceitual ou de intenção com o respectivo  assunto abordado e, assim, deixar margem para que outros possam ser incluídos. O estudo de  caso,  devido  à  maior  proximidade  do  pesquisador  com  o  objeto,  torna‐se  não  apenas  um  rebatimento  de  conceitos  teóricos  abordados  nas  outras  seções,  mas  uma  possível  ampliação  dos mesmos a partir de uma realidade palpável, cujos agentes que o condicionam e balizam são  passíveis de identificação. 

O recorte temporal percorre o início do século XX até a década de 1960, portanto, são  abrangidos, em menor ou maior grau, os anos iniciais de gestação de arquiteturas modernas e o  fortalecimento  da  arquitetura  modernista.  A  cidade  de  Londrina  localiza‐se  no  decorrer  desta  linha  do  tempo  com  ocupação  iniciada  a  partir  da  década  de  1930  e,  na  década  de  1960,  encontra‐se no declínio de seu apogeu econômico decorrente do ciclo cafeeiro. Como o que se  quer  compreender  é  a  interação  da  arquitetura  com  o  espaço  urbano  local,  a  área  central  da  cidade,  por  ser  onde  os  processos  de  renovação  se  sobrepuseram  ao  longo  das  décadas,  é  a  escolhida para aprofundamentos e análises (figura 8). 

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Os  temas  relevantes  para  a  pesquisa  são  distribuídos  em  quatro  capítulos  e  suas  respectivas  seções.  Na  sequência,  são  resumidamente  apresentados  os  principais  objetivos  de  cada capítulo: 

Capítulo 1 – Hibridismos e arquiteturas modernas: modelos de modernidade 

Apresenta  a  primeira  metade  do  século  XX  como  palco  para  uma  diversidade  de  modernidades  e  arquiteturas  híbridas,  sendo  o  termo  “moderno”  empregado  como  adjetivo  para  caracterizar  o  que  é  dotado  de  novidade.  Dois  modelos  de  modernidade  tornam‐se dominantes: a de aparências (Art Déco) e o de ruptura (Movimento Moderno),  esta dualidade sintetiza duas condições de relação com a cidade, a primeira que adapta a  arquitetura “moderna” à cidade tradicional e a segunda que propõe o seu redesenho. O  antagonismo entre propostas arquitetônicas e urbanísticas no período, também é tema  abordado, assim como o hibridismo presente nas arquiteturas do período.  Capítulo 2 – O redesenho como intenção: arquitetura para transformar a cidade  A nova arquitetura exige uma nova cidade. O redesenho é definido e caracterizado como  o rompimento com a cidade tradicional através da arquitetura. As propostas modernistas  primam  por  estabelecer  estratégias  de  viabilizar  este  ideal  através  da  célula  mínima,  posteriormente dos agrupamentos das mesmas, e assim, transformar toda a cidade. São  abordados temas como os CIAM´s, Le Corbusier, a dissolução da fronteira entre o público  e o privado, o vazio como espaço projetável e a verticalização. Quanto a este último, dois  modelos de verticalização são apresentados: o norte‐americano e o modernista, ambos  com  diferentes  estratégias,  mas  modelos  recorrentes  na  arquitetura  brasileira.  Ao  final  do  capítulo, e  a  partir dos  conteúdos do  capítulo 1  e  2,  uma  categorização  de  tipos  de  implantação  e  relação  de  arquitetura  com  a  cidade  é  proposta  a  partir  de  exemplares  encontrados no Brasil. 

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Capítulo 3 – Apropriação de modernidades e releituras: o caso de Londrina  

A cidade de Londrina é fruto do contexto de uma modernidade híbrida e diversificada. Os  modelos  de  modernidade  são  assimilados  e  reinventados  para  se  obter  a  imagem  modernizante  almejada  pela  sociedade  ao  longo  da  primeira  metade  do  século  XX.  Limitações  culturais,  legislativas,  econômicas  e  técnicas  inviabilizam  muitas  das  propostas  de  redesenho,  mas  algumas  são  atingidas,  mesmo  que  parcialmente.  O  capítulo visa defini‐los a partir do conteúdo abordado nos capítulos anteriores. Ao final  do capítulo, a partir de três edificações londrinenses, é proposta uma ficha síntese, que  exemplificam três diferentes estratégias de redesenho encontrados na cidade.  Capítulo 4 – Formas modernas e espaço urbano: considerações finais   Este capítulo encerra a pesquisa e busca relacionar as conclusões atingidas ao longo da  pesquisa e possíveis direcionamentos futuros para a mesma.        

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1.1 Moderno, modernismo, modernidade, modernização, novo, modernista e modernizante: uma definição

   

O  termo  moderno  é  empregado  como  adjetivo  abrangente  para  definir  qualquer  manifestação, obra ou objeto que se diferencie do existente, do antigo ou do tradicional.  

A  possibilidade  de  atribuição  de  um  valor  moderno  a  um  objeto  perpassa  a  sua  comparação  como  algo  antigo,  portanto,  para  o  primeiro  existir  é  necessária  a  existência  do  segundo.  A  atitude  perante  o  antigo,  pode  ser  tanto  de  referência  como  de  desprezo  e  descrédito, oscilando a forma de abordagem a cada época (LE GOFF, 2003). Por exemplo, na arte  Neoclássica  a  atitude  é  de  referência  à  antiguidade  clássica  como  modelo  ideal  a  ser  imitado,  assim como parece ter sido, de certa forma, no Renascimento e no Barroco. Já nas vanguardas  artísticas iniciadas a partir da virada do século XIX, a postura é de aversão às tradições e a tudo  relacionado a ela.  Porém, moderno não é o mesmo que novo, apesar de estarem relacionados. Este último  define uma condição diferente: se o moderno necessita do antigo para se contrapor, o novo “é  uma ausência de passado” (LE GOFF, 2003, p. 179), algo que surge imaculado, resultante de um  esquecimento. Ao buscar a oposição ao antigo, o moderno baseia‐se na novidade, na criação de  uma transformação inédita que inevitavelmente se torna ultrapassada ao ser superada por algo  mais atual: “o novo está por definição destinado a se transformar no seu contrário, no não‐mais‐ novo,  e  o  moderno  passa  consequentemente  a  designar  um  intervalo  de  atualidade  cada  vez  mais restrito” (DOURADO, 1997, p. 144). Atualmente, o entendimento do tempo não mais como  algo cíclico e sim como algo linear – cujo início se dá com o Iluminismo – privilegia o moderno,  ou seja, a constante negação do que o antecede de forma a se atingir o novo.  

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Esta condição torna o espaço temporal entre o novo e o antigo, cada vez mais curto. A  relação  moderno/antigo  percorre  a  cultura  ocidental  desde  a  Idade  Média  ao  século  XIX  (LE  GOFF, 2003), mas é apenas neste último que o embate ganha valores de oposição. Isto se dá a  partir da consciência de modernidade. Baudelaire é considerado o primeiro a empregar o termo  no artigo de 1863 “Le peintre de la vie moderne”1. O escritor francês dá a palavra um significado 

de  transitório,  de  atual,  de  fugaz  e  de  moda,  definindo‐o  como  algo  que  só  é  perceptível  no  presente e só faz sentido ao seu tempo. A partir do momento que se compreende o presente  como  dotado  de  uma  particularidade  própria  que  não  pode  ser  desprezada  ou  sublimada  –  a  guisa de valores ideais – o abismo entre moderno e antigo se abre. 

[...] A modernidade é o transitório, o fugaz, o contingente, a metade da arte, cuja  outra metade é o eterno e o imutável. Houve uma modernidade para cada pintor; a  maioria  dos  belos  retratos  remanescentes  dos  tempos  passados  apresenta  costumes de sua época. Eles são perfeitamente harmoniosos, porque o costume, o  penteado e até o gesto, o olhar e o sorriso (cada época tem seu porte, seu olhar e  seu  sorriso)  formam  um  todo  de  uma  vitalidade  completa.  Esse  elemento  transitório  e  fugaz,  cujas  metamorfoses  são  tão  freqüentes,  não  pode  ser  desprezado  ou  ignorado.  Suprimindo‐o,  caímos  forçosamente  no  vazio  de  uma  beleza abstrata e indefinível [...] (BAUDELAIRE, 2004, p. 127). 

 

Já  o  termo  modernismo,  está  relacionado  a  três  movimentos  de  naturezas  distintas,  sendo elas, literária, artística e religiosa e a intenção de ruptura permeia todos os modernismos  (LE  GOFF,  2003).  Nas  artes,  o  modernismo  é  frequentemente  empregado  para  incluir  sob  a  mesma  égide  diversos  movimentos  estéticos  do  início  do  século  XX  e  que  se  pautam  principalmente,  na  rejeição  das  tradições  acadêmicas  e  ao  modelo  clássico.  Já  o  conceito  de 

modernização, pressupõe o domínio ou a superioridade de um modelo perante outro existente, 

de  modo  a  este  ser  substituído  pelo  primeiro,  seja  através  da  força  ou  pela  imposição  de  sua  preponderância. 

   

       

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QUADRO 2: Definições dos termos: moderno, modernismo, modernidade, modernização e novo 

 Fonte: Própria autora, 2011   

A arquitetura do Movimento Moderno é moderna, parte do modernismo do século XX,  por buscar declaradamente se opor as tradições e aos “estilos” empregados pelo Ecletismo, ou  seja,  escolhe  um  passado  a  qual  se  opor.  Portanto,  sendo  moderna,  se  opõe  ao  antigo,  mas  almeja tornar‐se o novo. No caso brasileiro, o contraditório fato da arquitetura do Movimento  Moderno florescer ao mesmo tempo em que há uma preocupação quanto à preservação de um  determinado passado como representativo e digno da nação, talvez seja um reflexo da exigência  da modernidade para a produção do novo.  

Para esta pesquisa, ao se tratar da arquitetura do Movimento Moderno se adota o termo 

arquitetura  modernista  e  quando  empregado  arquitetura  moderna  refere‐se  à  definição  mais 

dilatada do termo que incorpora outras possibilidades arquitetônicas modernizantes.   

QUADRO 3: Significados adotados na pesquisa para modernizante e modernista

Fonte: Própria autora, 2011 

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1.2 Pluralidade de modernidades na primeira metade do século XX  

O  final  do  século  XIX  ao  início  do  século  XX  configurou‐se  como  um  momento  de  mudanças no contexto social, político e econômico. O crescimento das cidades em detrimento  da  vida  no  campo,  a  intensificação  da  produção  industrial  para  a  massa,  o  encurtamento  das  distâncias através dos novos meios de transporte, a eclosão dos conflitos mundiais e lutas pela  hegemonia no mundo, são alguns dos acontecimentos que marcaram a transição do século XIX  para  o  XX  e  as  primeiras  décadas  do  novo  século.  Este  ambiente  tumultuado  sinalizou  a  diversidade de um período fundamental para qualquer compreensão da atualidade. Nas artes e  na  arquitetura  os  discursos  dos  diferentes  “ismos”  e  a  resistência  às  mudanças  dos  grupos  conservadores, são razões que motivam e fomentam as principais discussões da época.  

Nos  movimentos  artísticos  a  busca  por  formas  de  expressão  que  negam  a  partir  de  diferentes estratégias, os modelos do passado como referência, já se evidencia nos séculos XVIII  e  XIX,  através  do  Romantismo  que  adota  novas  técnicas  pictóricas  e  novas  temáticas.  No  final  século  XIX,  se  fortalece  o  desejo  de  libertação  dos  cânones  clássicos  e  “revolucionar  radicalmente  as  modalidades  da  arte”  (ARGAN,  1992,  p.  185).  Este  processo  se  intensifica  nas  vanguardas,  até  a  perda  do  objeto  figurativo,  alcançada  primeiramente  com  o  impressionismo  na  virada  do  século  XIX  para  o  XX  e  levado  ao  extremo  pela  arte  abstrata,  dadaísmo  e  tantas  outras  correntes  vanguardistas.  A  crítica  ao  espaço  pictórico  estático  é  tema  abordado  pelo  cubismo, e a exaltação da estética da máquina passa a fazer parte da apologia do futurismo.  

Na arquitetura, as experiências artísticas das vanguardas são assimiladas e reelaboradas  em aspectos construtivos. O Art Nouveau, que revoluciona e influencia e arquitetura e o design  da  virada  do  século,  apresenta  sinais  de  desgaste  no  início  do  século  XX  e  novas  propostas  buscam suplantar sua hegemonia.  

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Mas  ao  mesmo  tempo  em  que  se  configuram  rupturas,  o  rompimento  completo  não  é  almejado por algumas correntes arquitetônicas do período, entre elas, pode‐se citar o Ecletismo  e o Art Déco.  Estas tendências não se encerram com o advento do Movimento Moderno no final  da década de 1920, mas sim, muitas vezes, ainda são vigentes até a década de 1940.  Na verdade, entre cerca de 1890 e a década de 1920, surgiram inúmeras posições  que apresentavam a “modernidade” como o seu principal atributo, até o momento  em que, em 1920, finalmente se chegou a um consenso amplo. Pelo menos, isso é  o  que  alguns  profissionais  e  defensores  queriam  que  seus  contemporâneos  acreditassem.  Assim,  eles  investiram  esforços  consideráveis  para  diferenciar  as  características  do  “Estilo  Internacional”  [...].  Eles  defendiam  que  essa  era  a  arquitetura realmente autêntica do século vinte. Outros avanços contemporâneos  eram convenientemente desconsiderados e tudo feito para “se rebocar” diferenças  e preservar a fachada de uma frente unificada. (CURTIS, 2008, p. 12) 

 

Neste  sentido,  no  início  do  século  XX,  podem  ser  identificadas  várias  tendências  arquitetônicas  em  desenvolvimento,  cada  uma  em  busca  da  modernidade  sintetizadora  dos  novos  tempos.  Como  já  destacado  na  seção  1.1,  o  termo  moderno  –  especialmente  quando  empregado  na  primeira  metade  do  século  XX  –  é  adjetivo  usado  para  definir  qualquer  forma  diferente,  atual  ou  recente  que  se  oponha  ao  existente,  ao  tradicional  ou ao  senso  comum.  O  artigo de Renato Anelli (in GUERRA, 2010a), ao pesquisar a recepção da mídia impressa quando  da  inauguração  dos  cinemas  na  cidade  de  São  Paulo  na  década  de  1930,  conclui  que  independente de adotarem uma estética em “estilo” exótico (egípcio, inca, mourisco, marajoara,  etc.) são todos eles considerados modernos, indistintamente:  

A vontade de ser moderno, entendido como uma diferenciação do que é arcaico,  passa por uma valorização estética das manifestações da técnica e da urbanidade,  de  maneira  semelhante  ao  futurismo,  que  glorifica  a  velocidade  e  a  destruição  daquilo  que  é  velho.  Nesse  processo  tudo  que  é  novo  se  torna  igualmente  moderno,  Todos  os  cinemas  foram  saudados  pela  imprensa  na  sua  inauguração  como modernos, fosse qual fosse o seu estilo[...] (ANELLI in GUERRA, 2010a, p. 264,  grifo nosso). 

 

Na  Revista  Acrópole  –  publicação  de  São  Paulo  que  circulou  ao  longo  dos  anos  1938  a  1971 com distribuição em várias capitais e cidades do país – nos números referentes às décadas  iniciais até 1940, entre os temas abordados estão os “estilos” como protorenascença, florentino, 

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marajoara,  entre  outros.  Ao  mesmo  tempo,  há  artigos  a  favor  da  “arquitetura  moderna”  de  filiação  racionalista  e  exemplares  de  linhas  ecléticas,  neocoloniais  e  art  déco  e  são  todos  igualmente  adjetivados  como  modernos  em  páginas  seguintes.  À  parte  da  discussão  sobre  os  mecanismos  de  seleção  das  obras  a  serem  publicadas  na  revista,  o  interessante  é  notar  a  possibilidade  de  uma  convivência  entre  tendências  –  que  atualmente  podem  ser  consideradas  contrárias  –  em  uma  mesma  publicação,  o  que  só  atesta  uma  heterogeneidade  de  formas  modernas sendo produzidas e que dividem um mesmo espaço.  

FIGURA  9:  Acima,  imagens  do  Cine  Metro  (aspecto  externo  e  interno)  e  abaixo  fotografias  do  Edifício  Esther, projeto de Álvaro Vital Brasil, ambos em São Paulo/SP e contemporâneos 

 

   Fonte: Acrópole, maio‐1938, p. 45, 47 e 55

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A  revista  Acrópole  de  maio  de  1938  ilustra  esta  situação:  no  início  da  revista  há  uma  matéria  sobre  o  Cine  Metro,  descrito  como  “construcção  em  concreto  armado,  a  fachada  é  simples e sóbria, linhas horizontaes e verticaes”, cuja forma, de acordo com a reportagem, segue  o padrão internacional adotado pelo estúdio Metro Goldwin Meyer (proprietária do imóvel). Já  ao final da publicação, há o memorial do Edifício Esther, localizado em São Paulo, dos arquitetos  Álvaro Vital Brasil e Adhemar Marinho com clara alusão à Le Corbusier onde se afirma ter sido a  forma resultado direto da planta através da busca por soluções de maior funcionalidade. Ambos  os edifícios materializam intenções modernas e atestam a diversidade de modernidades de uma  época em ebulição. (figura 9) 

As  exigências  por  uma  maior  simplificação  de  formas  onde  primasse  a  ortogonalidade,  limpeza  de  ornamentos  e  definição  clara  de  volumes,  tornam‐se  itens  a  serem  considerados  relevantes  no  campo  da  arquitetura  de  forma  a  limpá‐las  de  excessos  e  de  formas  de  difícil  execução. Os arquitetos Charles Rennie Mackintosh, Otto Wagner e Josef Hoffmann estão entre  os  que  já  repercutem  esta  tendência  no  início  do  século  XX  (figura  10  e  11).  Os  conflitos  mundiais e o período entre guerras acentua ainda mais esta exigência nas décadas de 1920 e até  a década de 1930 (MALLGRAVE, 2005), quando a demanda por habitação, faz a necessidade de  construções  de  execução  mais  rápida  aumentar  exponencialmente.  Isto  justifica  o  grande  número  de  propostas  modernas  ocorrerem  neste  período,  principalmente,  nos  países  diretamente envolvidos nos conflitos. É neste contexto que o Movimento Moderno se fortalece  e  assume  para  si  a  pretensão  de  ser  a  arquitetura  moderna  adequada  ao  momento  onde  o  caráter funcional, economia, standartização e rapidez tornam‐se as qualidades que a qualificam  como a arquitetura ideal para tal intento. 

 

O  cenário  europeu  composto  por  uma  profusão  de  tendências  não  é  diferente  do  encontrado  no  Brasil  no  início  do  século.  Nas  cidades  brasileiras  é  notável  a  presença  de  uma 

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arquitetura  que  não  se  encaixa  nas  intenções  difundidas  pelo  Movimento  Moderno  e  onde  adornos  geometrizados,  composições  volumétricas  imbricadas  e  formas  aerodinâmicas  são  considerados  como  significativas  para  representar  uma  tendência  particular.  Ou  então  há  arquiteturas  que  conseguem  viabilizar,  mas  apenas  parcialmente,  intenções  modernizadoras  difundidas  pelas  vanguardas  artísticas  e  propostas  modernistas,  caso  das  obras  de  Gregori  Warchavchik e Flávio de Carvalho na década de 1920 no Brasil.  FIGURA 10: Palais Stoclet em Bruxelas   (1905) de Josef Hoffman  FIGURA 11: Casa de Chá “The Willow Tea         Rooms” em Glasgow (1902‐1904) de  Rennie Mackintosh    Fonte: < http://www.greatbuildings.com/buildings/ Stoclet_Palace.htm>, acesso em Mai. 2011      Fonte: < http://www.greatbuildings.com/ buildings/The_Willow_Tea_Rooms.html>,  acesso em Mai. 2011 

Para  Castriota  (1997)  a  arquitetura  na  virada  do  século  no  Brasil  pode  ser  dividida  em  três grandes blocos com intenções modernizadoras: historicismo oitocentista, o modernismo art 

nouveau  e  art  déco  e  o  movimento  moderno  vanguardista.  Ainda  para  o  autor,  entre  os 

diferentes  blocos  não  há  uma  seqüência,  como  se  um  substitui‐se  o  outro,  mas  sim  “vamos  encontrar  muitas  vezes  convivendo  lado  a  lado  variantes  da  atitude  moderna”  (CASTRIOTA,  1997,  p.  180).  Portanto,  são  tendências  que  “correspondendo  a  diferentes  resultados  formais,  produzem  inusitadas  justaposições  temporais  e  espaciais”  (ibidem,  p.  180).  A  justaposição  de 

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tendências torna alguns exemplares bastante híbridos e de complexa definição estilística, a não  ser que se aceite ser ele fruto de várias tendências sobrepostas.  

O modernismo nouveau/déco e o de vanguarda, por serem tendências modernas, negam  os  referenciais  passadistas,  ao  contrário  do  historicismo  oitocentista,  representado  especialmente pelo ecletismo. Dessa forma, as correntes de intenções modernas constituem‐se  em estratégias inovadoras frente aos desafios de uma época, cada qual ao seu modo. Ambos são  reflexos dos conflitos mundiais e da industrialização e conseqüente urbanização que, somados,  geram a demanda por novas construções e a necessidade de novos equipamentos e espaços nas  cidades.  

[...]  enquanto  a  arquitetura  das  vanguardas  é  incensada  pela  historiografia  e  amplamente  documentada  e  discutida,  o  Déco  é  visto  até  a  pouco  tempo,  como  uma variante sem maior importância para a compreensão da arquitetura brasileira,  sendo na maioria das vezes relegado ao esquecimento. (CASTRIOTA, 1997, p. 179)   

A  tendência  Déco  no  Brasil,  frequentemente  serve  para  reunir  uma  diversidade  de  manifestações  que  não  se  encaixam  dentro  do  esquema  proposto  pelas  vanguardas  ou  pela  tendência  modernista,  já  que  esta  última  apresenta  aspectos  específicos  difundidos  internacionalmente.  

Coelho  (2000)  considera  o  Art  Déco  como  uma  vertente  da  modernidade  presente  nas  cidades brasileiras na primeira metade do século XX. Outra tendência identificada pelo autor é  definida como arquitetura alemã, ou seja, a arquitetura de caráter racionalista. A diferença entre  as  duas  é  que  enquanto  a  primeira  “ocorre  de  forma  mais  integrada  culturalmente,  sem  as  usuais conceituações de rupturas” (ibidem, p. 26) o que lhe confere maior aceitação popular e a  faz  funcionar  “como  um  elemento  de  transição  entre  a  tradição  e  as  propostas  racionalistas”  (ibidem,  p.  26),  a  segunda  já  almeja  o  engajamento  social  e  o  desejo  de  constituir‐se  em  um  movimento com princípios estabelecidos que a universalizam.  

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A  grande  diferença  está  também  na  concepção  de  espaço  necessária  para  a  realização  das  propostas  modernizantes.  O  Art  Déco  se  acomoda  a  cidade  existente,  enquanto  as  tendências  de  vertentes  vanguardistas  e  modernista  exigem  uma  nova  espacialidade  para  se  materializarem. Apesar da chave da diferenciação entre as propostas modernistas e déco estar  na  relação  da  arquitetura  com  a  cidade,  esta  equivalência  entre  forma  urbana  e  a  intenção  arquitetônica nem sempre foi possível na primeira metade do século XX, sendo o mais corrente  a  desconexão  entre  a  arquitetura  e  o  traçado  urbano,  especialmente  nas  cidades  já  consolidadas. A discrepância entre ideais e condições reais, vai resultar em um hibridismo formal  e  na  dualidade  de  tendências  nas  cidades,  no  período  ou  então  é  possível  identificar  o  compromisso  com  a  arquitetura  modernista  ou  vanguardista,  em  algumas  obras  que  buscam  estratégias para conseguir viabilizar o intento, apesar de o espaço urbano existente apresentar  limitantes.  

Sendo  assim,  a  dualidade  entre  propostas  modernistas  e  déco  pode  caracterizar  as  possibilidades arquitetônicas modernizantes nas primeiras décadas XX. A diferença entre ambas  é  devido  à  primeira  pretender  levar  adiante  o  desejo  vanguardista  de  mudar  a  cidade  e,  já  a  segunda, relaciona‐se mais a uma intenção de estabelecer uma transformação epidérmica que  confere aparência moderna aos edifícios.  

 

1.2.1 O antagonismo entre propostas arquitetônicas e urbanísticas

 

Quando  observada  a  produção  do  espaço  urbano  das  cidades  brasileiras  nas  décadas  iniciais  do  século  XX,  encontram‐se  pontos  antagônicos  ou  personagens  de  tendências  consideradas  atualmente  opostas,  trabalhando  ao  mesmo  tempo  na  construção  das  cidades.  Esta  condição  reforça  o  cenário  encontrado  no  período  onde  o  desejo  de  mudança  do  Movimento Moderno ou das vanguardas não consegue se materializar plenamente. 

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FIGURA 12: Plano Agache para a cidade do Rio de Janeiro de 1930    Fonte: GOMES (org.), 2009  FIGURA 13: Maquete (imagem acima) e planta (imagem baixo) dos blocos denteados (a redent) da Ville  Radieuse de Le Corbusier, 1930    Fonte: MONTEYS, 2005      No Rio de Janeiro há a presença de Le Corbusier em 1929, quase ao mesmo tempo em  que  Alfred  Agache  chega  à  cidade  a  convite  do  prefeito  para  “realizar  um  plano  de  expansão, 

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embelezamento  e  remodelação”  (PINHEIRO,  2009,  p.  119).  Le  Corbusier  é  membro  e  um  dos  fundadores dos Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna (CIAM),  instaurados um ano  antes  enquanto  Agache  “é  herdeiro  da  tradição  Beaux‐Arts”  e  do  “Movimento  City  Beautiful”  (ibidem, p. 119). Dessa forma, enquanto Le Corbusier exige a reconfiguração da cidade, Agache  propõe plano onde se perpetua o modelo rua‐corredor. (figura 12 e 13)  O Plano de Remodelação de Alfred Agache2 para a cidade do Rio de Janeiro, então capital  federal do Brasil, é editado em 1937 e, apesar de não executado totalmente, apresenta aspectos  condizentes com os valores de modernidade almejados no período, como o ordenamento viário  da cidade, a verticalização, zoneamento e diretrizes para a implantação dos edifícios de modo a  criarem‐se espaços mais salubres e funcionais. Mas, a modernidade proposta por Agache não vai  de  encontro  aos  princípios  almejados  pelo  Movimento  Moderno  no  período,  a  ponto  de  Le  Corbusier considerar o plano como “lixo agáchico” (SEGAWA, 2002, p.91) em carta endereçada à  equipe  brasileira  que  conduzia  os  trabalhos  para  a  Sede  do  Ministério  da  Educação  e  Saúde  (antigo MES, atual MEC).  

O  aspecto  do  plano  de  Agache  a  qual  Le  Corbusier  se  refere  na  crítica  ofensiva  ao  proposto pelo urbanista francês ancora‐se no fato da legislação resultante do mesmo obrigar a  implantação  de  edifícios  alinhados  aos  limites  dos  lotes,  sem  espaçamentos  entre  as  torres,  tornando  os  miolos  das  quadras  locais  reservados  aos  ocupantes  dos  edifícios.  Mesmo  nos  edifícios verticais que – seguindo as recomendações de implantação do Plano Agache – formam  galerias  térreas  para  pedestres  ou  loggia´s,  estas  ocorrem  através  da  projeção  do  volume  edificado sobre o passeio, ou seja, são externas aos limites do lote privado (figuras 14, 15 e 16).   FIGURA  14:  Av.  Presidente  Vargas,  Rio  de  Janeiro/  RJ,  edifícios  com 

galerias térreas e implantação avançando sobre o passeio          2 Donat Alfred Agache (1875‐1959), urbanista francês “que vinha se notabilizando na França desde  1910, em assuntos urbanísticos” (SEGAWA, 2002, p. 25) , elabora planos para o Rio de Janeiro, Belo  Horizonte (consultoria para o prefeito JK no final dos anos 1930), Porto Alegre (desenho do Parque  Farroupilha em 1935), Curitiba (Plano Diretor em 1943), etc. 

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FIGURA  15:  Vista  aérea  de  trecho  da  Av. Presidente  Vargas,  Rio  de  Janeiro/ RJ, edifícios formando rua‐corredor

FIGURA  16:  Rua  Heitor  de  Melo,  Rio  de  Janeiro/RJ,  com  as  galerias  térreas e avanço dos edifícios sobre o passeio                    Fonte: Google Earth – Google Street  View <www.googleearth.com>,  acesso em Jun. 2011    Os princípios do Movimento Moderno pretendem radicalizar com a propriedade privada  do solo quando em torres verticais, tornando os térreos locais para a fruição coletiva, além disso,  o  distanciamento  entre  as  torres  e  em  relação  à  via  pública  é  defendido  como  soluções  mais  salubres e econômicas de implantação do que os que mantêm os edifícios ainda contínuos uns  aos outros. No Plano Agache o lugar da praça pública é claramente definido e delimitado pelo  espaço privado  construído  ao  redor e  esta relação,  entre arquitetura  e  espaço  público,  resulta 

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em  uma  concepção  espacial  estática  diferente  do  espaço  com  inúmeras  possibilidades  de  percolação da Ville Radieus, e idealizada em 1930 por Le Corbusier (figura 13). Nesta, o público e  o  privado  se  confundem  e  as  vias  de  percolação  e  tráfego  não  são  barreiras  para  o  desenvolvimento  livre  do  espaço  privado,  representado  pelo  edificado,  a  ponto  de  ambos  coexistirem em um mesmo lugar, mas em planos diferentes, através do uso de pilotis.   FIGURA 17: Edifício da Bauhaus em Dessau na Alemanha, projeto de Walter Gropius de 1929  Fonte: < http://www.greatbuildings.com/buildings/Bauhaus_Dessau.html>, acesso em Mai. 2011    Walter Gropius em 1929 no projeto para o Edifício da Bauhaus em Dessau já emprega a  confusão entre arquitetura e urbanismo proposta por Le Corbusier na Ville Radieuse através da  colocação  de  um  edifício  ponte  sobre  a  via,  e  assim  interligando  duas  quadras  segregadas  inicialmente  pelo  espaço  público.  Esta  solução  é  bastante  adotada  em  conjuntos  residenciais  construídos no entre‐guerras na Alemanha. (figura 17) 

Se  considerada  a  arquitetura  do  Movimento  Moderno  como  uma  das  tendências  dominantes  a  partir  de  final  de  1930  no  Brasil  que  progressivamente  assume  cada  vez  mais  hegemonia nas cidades, o descompasso entre os princípios do urbanismo modernista e do que é  construído nas cidades, ainda se encena, décadas depois, na cidade de Londrina no interior do  Paraná.  Em  1950,  o  arquiteto  Vilanova  Artigas  e  o  urbanista  Prestes  Maia  são  chamados  –  praticamente  ao  mesmo  tempo  –  para  apresentarem  propostas  para  a  cidade  a  título  de  lhe 

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