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Panorama sobre o uso de agrotóxicos no Brasil. - Portal Embrapa

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P anoram a sobre o uso

de ag ro tó xico s no Brasil

Introdução

Clayton Campanhola Wagner Bettiol

A s p rin c ip a is ca u sa s do c re s c im e n to do s e to r a g ro p e c u á rio b ra sile iro nas ú ltim a s d é ca d a s p o d e m ser re s u m id a s c o m o : a e xp a n s ã o das fro n te ira s a g ríc o la s , a in tro d u ç ã o de n o va s té c n ic a s in te n s iv a s de p ro d u çã o e de in su m o s q u ím ic o s , a m e c a n iz a ç ã o das a tiv id a d e s a g ríc o la s e o d e se n ­ v o lv im e n to de s e m e n te s m e lh o ra d a s g e n e tic a m e n te .

D esde a d é ca d a dos anos 6 0 , s u c e s s iv o s p ro g ra m a s g o v e rn a ­ m e n ta is fo ra m e s ta b e le c id o s co m o o b je tiv o de v ia b iliz a r a im p la n ta ç ã o des­ te m odelo de m o d e rn iz a ç ã o da a g ric u ltu ra . Em d e c o rrê n c ia do e x p re ssivo m o n ta n te de in v e s tim e n to s re a liz a d o s para v ia b iliz a r esse m o d e lo de a g ric u l­ tu ra , m u ito s p ro b le m a s a m b ie n ta is pa ssa ra m a ser o b s e rv a d o s , um a vez que pouca a te n ç ã o fo i d e s p e n d id a no c o n h e c im e n to da e s tru tu ra e fu n ç õ e s dos e co ssiste m a s e n v o lv id o s , na a v a lia ç ã o d o s ris c o s à q u a lid a d e a m b ie n ta l e no redesenho dos s is te m a s de p ro d u ç ã o .

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A expansão do setor agrícola m o stro u -se , s o b re tu d o , incapaz de gerar em pregos e o p o rtu n id a d e s e conôm icas necessárias para absorver a o fe rta de tra b a lh o rural, pro vo ca n d o as co rre n te s m ig ra tó ria s para as c id a ­ des, a redução do em prego na a g ric u ltu ra , e novas fo rm a s de relação de tra b a lh o , com o os “ b ó ia s -fria s ” (tra b a lh a d o re s te m p o rá rio s c o n tra ta d o s por d ia , sem v ín c u lo e m p re g a tíc io fo rm a l, para d e s e n v o lv e re m a tiv id a d e s agropecuárias de baixa q u a lific a ç ã o - capina m anual e c o lh e ita , entre o u tro s - em dete rm in a d o s períodos do ano).

Paralelamente à política de desenvolvim ento agrícola, verificou- se nítido avanço na legislação am biental brasileira fre n te à crescente preocupa­ ção da sociedade com as atividades im pactantes. A política am biental brasileira teve seu principal m arco quando da institu içã o da Política Nacional do Meio Am biente (PNMA), pela Lei n°. 6 .9 3 8 , de 3 1 /0 8 /1 9 8 1 , onde se verifica uma postura em ergente de conciliação do desenvolvim ento econôm ico com a preser­ vação dos recursos naturais. Por meio dessa lei foi criado o Sistema Nacional de Meio Am biente (SISNAM A), uma estrutura regulam entadora da PNMA, com pos­ ta, em um primeiro nível, pelo Conselho Nacional de M eio A m biente (CO NAM A), cuja função é a de propor diretrizes às políticas am bientais e deliberar sobre normas e padrões visando assegurar a qualidade am biental.

Por sua vez, o Programa Nacional de M icrobacias H idrográficas apresenta-se com o uma das políticas de conservação dos solos, sobretudo nas regiões Sul e Sudeste. 0 Programa teve ê xito em áreas-piloto sob a coordena­ ção de órgãos públicos estaduais. C ontudo, apesar da visão sistêm ica que essa unidade de espaço possa perm itir em term os m etodológicos, não se v e rifico u ainda estudos fundam entados na sustentabilidade das atividades agrícolas, ou na avaliação e no m onitoram ento de seus im pactos no am biente.

Com a revisão constitucion al de 1 988, dedicou-se uma atenção maior à necessidade de avaliar im pactos am bientais, bem com o do planejam en­ to am biental e da recuperação de áreas degradadas. Como decorrência dessa

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nova fase da legislação brasileira, exem plifica-se a prom ulgação da Lei dos A g ro tó xico s, em 1989, e a exigência da realização de avaliações ecotoxicológicas para o registro e com ercialização dos agrotóxicos (Portaria n°. 3 4 9 /9 0 - Ibama).

C ontudo, apesar do enfoque ecodesenvolvim entista expresso na legislação ambiental, a política agrícola nacional ainda encontra-se incipiente no que se refere à expansão de práticas agrícolas alternativas e ecologicam ente sustentáveis. Não obstante a existência de um acervo de contribuições técnico- cie n tífica s em controle biológico de pragas e fitopatóg enos, técnicas de rotação de culturas, utilização de restos de colheitas, m elhoram ento genético de varie­ dades, p o licultivo, controle físico de pragas e fitopatóg enos, utilização de pro­ dutos naturais e controle cultural de doenças entre outros, as iniciativas gover­ nam entais para o incentivo ao uso dessas práticas são ainda restritas.

Cabe ressaltar que os agrotóxicos fazem parte do conjunto de tecnologias associadas ao processo de m odernização da agricultura, que ocor­ reu a partir da década de 60. 0 objetivo principal era aum entar a produtividade da agricultura para atender aos desafios da demanda mundial crescente de ali­ m entos. Com o uso generalizado dos agrotóxicos nas mais diferentes condições am bientais, m uitos problemas começaram a ser percebidos e diagnosticados, tais com o a ocorrência de resíduos em alim entos, a contam inação de solos e águas, o efeito em organismos não-visados e a intoxicação de trabalhadores rurais. Com a crescente conscientização sobre o risco do uso desses produtos, houveram significativos avanços nas legislações de registro e uso desses quím i­ cos em m uitos países. Com isso, há uma tendência de se substituir os agrotóxicos mais problem áticos em term os am bientais e de saúde humana por produtos quím icos mais específicos e que sejam mais seguros.

Embora haja tendência de se disponibilizar no mercado agrotóxicos mais seguros, há ainda m uito o que fazer nesse assunto, diante de novos conhe­ cim entos que estão sendo gerados e de problemas ainda observados no uso do controle químico de pragas, de doenças de plantas e de plantas invasoras.

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Consumo de agrotóxicos

e perspectivas de uso no Brasil

A evolução do consum o de agrotóxicos m ostrou que houve um aum ento de 16 mil toneladas em 196 4 para 6 0 ,2 mil toneladas em 1991, en­ quanto a área ocupada com lavouras agrícolas expandiu de 2 8 ,4 para 50 m i­ lhões de ha, no mesmo período. Isso significa um aum ento de 2 7 6 ,2 % no co n ­ sumo de agrotóxicos para um aum ento com parado de 76% em área. Essa in fo r­ mação evidencia os efeitos da política de modernização da agricultura introduzida no País nos anos 60, levando o País a ocupar o quarto maior m ercado mundial de agrotóxicos. A despeito do aum ento no emprego desses produtos, as perdas atribuídas a pragas e doenças não sofreram reduções drásticas, enquanto os ganhos de produtividade foram relativam ente restritos. Por outro lado, proble­ mas de contam inação de alim entos, do am biente, e casos de intoxicação de a g ric u lto re s , p rin cip a lm e n te dos pequenos, aum entara m s ig n ific a tiv a m e n te (Campanhola et al., 1998).

0 m ercado mundial de agrotóxicos foi avaliado com o sendo de US$ 3 0 ,5 6 bilhões, em 1996 (FAO, 1999). Q uanto ao Brasil, verifica-se um aum ento sig n ifica tivo no uso de agrotóxicos na década de 90. No seu início (1 9 9 2 ), o valor anual de agrotóxicos com ercializados foi de US$ 9 5 0 m ilhões, e em 1998 atingiu US$ 2,5 bilhões, representando um aum ento de 163% no período (Figura 1).

Q aum ento observado a partir de 1 9 9 4 deveu-se ao plano de estabilização econôm ica (Plano Real) im plantado pelo Governo Federal. O enfoque principal desse plano foi a estabilização da moeda por meio da paridade cambial da moeda nacional (Real) com o dólar am ericano, o que estim ulou as im p o rta ­ ções a preços mais com p e titivo s, refletindo tam bém na queda dos preços dos agrotóxicos, cujos ingredientes ativos são, em sua m aioria, im portados. Entre­ ta n to , com a desvalorização do real em relação ao dólar ocorrida em m arço de

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P a noram a sobre o uso de a g ro tó x ic o s no Brasil 1 7

1 9 9 9 , houve uma retração no uso de agrotóxicos neste ano, mas em 2 0 0 0 o c o n s u m o já v o lta v a ao p a ta m a r de 1 9 9 8 . A te n d ê n c ia é desse nível de com ercialização se m anter, m ostrando claram ente que há m uito a ser fe ito em relação ao desenvolvim ento de sistemas de produção agropecuários que sejam hum ana e am bientalm ente mais adequados.

Figura 1. Comércio de agrotóxicos no Brasil: 1 9 9 2 -2 0 0 0 .

Fonte: ANDEF IGazeta M e rc a n til, Cad.

A gribusiness, 13 e 14 de m aio de 2 0 0 0 , p. B-20).

Em relação à quantidade de a g ro tó xico s com ercializada, c o n s ta ­ ta-se que, em 2 0 0 0 , os Estados de São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul e M ato Grosso foram responsáveis por 6 2 ,8 % do to ta l consum ido (Tabela 1 ). Se forem incluídos os Estados de M inas Gerais, Goiás e M ato Grosso do Sul, a quantidade chega a mais de 8 0 % do to ta l consum ido no País. Q uanto ao valor apurado nas vendas de agrotóxicos em 2 0 0 0 , os Estados mais im portantes em ordem decres­ ce n te foram : São Paulo, Paraná, M ato Grosso e Rio Grande do Sul (Tabela 1).

Se for observada a variação da quantidade de agrotóxicos utilizada no período 1998-20 00 para o agregado do País, verifica-se um ligeiro decréscimo em 1999 quando comparado a 1998, mas em 2000 a quantidade usada voltou a crescer. Se a mesma análise fo r realizada em cada Estado, verifica-se que no Paraná, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, M ato Grosso do Sul e Santa Catarina, há o mesmo padrão de com portam ento que para o País. Por sua vez, em outros Estados, a quan­ tidade de agrotóxicos utilizada foi sempre crescente no período 1 9 9 8 -2 0 0 0 , como

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1 8 M é to d o s A lte rn a tiv o s de C ontrole F itossa n itá rio z i

são os casos de: Mato Grosso, Goiás, Bahia e Pará. As exceções ficam por conta de São Paulo, Pernambuco, M aranhão, Rio de Janeiro e D istrito Federal, onde houve tendência de decréscimo no uso de agrotóxicos no período considerado.

No que se refere à quantidade usada de cada classe de agrotóxico, a Figura 2A mostra que os herbicidas foram responsáveis por quase 60% do to ta l de agrotóxicos utilizados e com tendência de aumento, no período 1997-2000, enquan­ to as demais classes (fungicidas, inseticidas, acaricidas e outros) permaneceram

pra-Tabela 1. Q uantidade de ingredientes a tivo s (em toneladas) e valor com ercializado de agrotóxicos (em US$ 1 .0 0 0 ), no período 1 9 9 8 -2 0 0 0 .

E s t a d o Ingrediente A tiv o (t) 1 9 9 8 1 9 9 9 2 0 0 0 V alor |US$ 1 .0 0 0 ) 1 9 9 8 199 9

2000

São Paulo 3 2 .8 3 6 3 2 .7 3 6 3 0 .8 4 8 6 0 5 .5 0 1 5 1 7 .7 3 4 5 1 2 .0 6 8 Paraná 2 1 .0 9 6 1 9 .3 4 4 2 2 .4 9 0 4 5 1 .6 0 5 3 6 8 .1 1 3 4 1 7 .1 0 2 Rio Grande do Sul 1 7 .0 7 2 1 5 .6 4 0 1 8 .0 5 2 3 4 2 .4 8 1 2 7 6 .1 8 7 2 9 9 .8 6 7 M ato Grosso 1 2 .3 3 6 1 2 .5 0 7 1 6 .7 2 6 2 7 1 .1 7 2 2 6 2 .9 2 5 3 4 6 .6 2 8 M inas Gerais 1 1 .8 0 8 1 1 .0 2 4 1 3 .8 8 6 2 4 7 .4 3 6 2 4 7 .4 9 3 2 4 3 .7 5 4 Goiás 1 0 .0 0 7 1 0 .1 7 2 1 2 .3 9 3 2 0 1 .3 0 3 188.331 2 1 5 .3 8 9 M ato Grosso do Sul 7.681 7 .5 6 3 8 .0 1 0 1 4 2 .0 3 2 1 3 3 .5 7 7 1 4 1 .7 8 7 Santa Catarina 4 .5 2 3 4 .2 4 7 4 .7 4 9 7 7 .2 8 5 7 3 .2 6 9 7 6 .0 6 4 Bahia 2 .7 0 6 3 .5 1 9 3 .6 6 9 6 0 .1 3 9 7 7 .7 5 9 8 4 .9 8 1 Espírito Santo 1 .2 5 4 3 .4 3 6 2 .1 8 6 1 9 .7 2 2 5 6 .8 7 2 3 0 .4 9 6 Pernambuco 1 .8 2 2 1 .5 0 8 1 .5 3 4 3 4 .2 6 4 2 4 .9 8 2 2 7 .3 7 3 M aranhão 1 .0 3 8 1 .0 3 9 9 2 0 1 8 .7 1 6 1 5 .1 9 8 1 8 .6 4 3 Rio de Janeiro 8 1 4 8 9 3 6 1 3 1 3 .9 7 9 1 5 .5 5 2 9 .0 0 6 Pará 2 0 0 2 9 9 3 9 8 4.551 4 .9 4 7 6 .4 3 2

Rio Grande do Norte 221 195 2 7 6 5 .6 8 2 4 .9 5 3 5 .6 9 7

D istrito Federal 3 8 9 3 6 3 2 2 3 1 0 .7 6 0 8 .2 9 2 5 .0 3 5

B r a s i l 128.712 140.473

127.585 2,

2.329.067

557.849 2.499.958

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: P a noram a so b re o uso de a g ro tó x ic o s no Brasil 1 9

tic a m e n te constantes. Os fungicidas e os inseticidas m ostraram com portam ento m uito semelhante e se posicionaram em segundo lugar em quantidade utilizada. Na categoria "o u tro s ” estão incluídos os antibrotantes, reguladores de crescim ento, óleo m ineral e espalhantes adesivos. Quanto aos valores das vendas, os herbicidas tam bém são os mais im portantes, com mercado de US$ 1,3 bilhão, em 2 0 0 0 , ou seja, quase metade do valor total de agrotóxicos com ercializados no País (Figura 2B). No entanto, o montante de vendas de herbicidas manteve-se praticamente

cons--Herfaicklas -Fuiÿcidas -Inseticidas -Acarícidas -Outres 1997 1998 1999 2000 Figura 2A : Quantidade de ingredientes ativos (t). Figura 2B: Valores de vendas para diferentes classes de a g rotóxicos (US$ m ilhão). Brasil (1 9 9 7 -2 0 0 0 ).

ta n te no período 1 9 9 7 -2 0 0 0 , o mesmo se dando com as classes de fungicidas, acaricidas e outros. Por outro lado, os inseticidas mostraram valores crescentes de comercialização no período, atingindo US$ 690 mil, em 2000. Este valor corresponde a praticam ente o dobro daquele referente ao mercado de fungicidas, no mesmo ano.

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2 0 M é to d o s A lte rn a tiv o s de C ontrole F itossa n itá rio

A Tabela 2 mostra a quantidade de cada classe de agrotóxicos utili­ zada nos diferentes Estados, em 2000. Os Estados que mais usaram herbicidas, em ordem decrescente, foram : Paraná, Rio Grande do Sul, São Paulo, M ato Grosso, Goiás, Minas Gerais e M ato Grosso do Sul, sendo que os quatro primeiros Estados desta lista somam mais de 60% do total de herbicidas consum idos no País. No caso dos fungicidas, São Paulo, Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul representam prati­ camente 70% do total usado no Brasil. Para os inseticidas, São Paulo, M ato Grosso,

Tabela 2. Quantidade consum ida de cada classe de a g ro tó xico s (em toneladas de ingredi­ ente ativo), por estado, em 2 0 0 0 .

Estado

Herbicidas Inseticidas O u tro s*

Fungicidas A caricidas T otal

São Paulo 1 1 .7 1 6 5 .7 4 7 4 .0 0 2 7 .9 6 0 1 .4 2 3 3 0 .8 4 8

Paraná 1 5 .0 1 0 2 .3 5 3 2 .5 7 5 2 2 2 2 .3 3 0 2 2 .4 9 0

Rio Grande do Sul 1 4 .0 0 4 1.6 0 2 1 .2 1 5 92 1 .1 3 9 1 8 .0 5 2

M ato Grosso 1 0 .2 3 4 957 3 .3 2 6 36 2 .1 7 3 1 6 .7 2 6

M inas Gerais 6 .1 4 3 3 .5 9 9 3 .1 2 7 29 6 721 1 3 .8 8 6

Goiás 8 .4 1 4 1 .1 1 8 1 .6 3 0 56 1 .1 7 5 1 2 .3 9 3

M ato Grosso do Sul 5 .6 6 5 2 9 9 1 .0 9 4 13 9 39 8 .0 1 0

Santa Catarina 2 .9 7 8 9 7 0 3 5 4 48 3 99 4 .7 4 9 Bahia 1 .6 9 6 8 1 4 7 2 3 80 3 5 6 3 .6 6 9 Espírito Santo 998 6 5 4 4 5 0 46 38 2 .1 8 6 Pernambuco 9 6 2 205 172 81 114 1 .5 3 4 M aranhão 6 83 70 101 0 66 9 2 0 Rio de Janeiro 1 54 262 129 22 46 6 1 3 Pará 2 95 32 37 3 31 3 9 8

Rio Grande do Norte 79 93 85 7 12 2 7 6

D istrito Federal 109 69 21 5 19 2 2 3

Brasil 8 1 .8 6 2 1 9 .0 7 2 1 9 .4 4 7 8 .9 8 5 1 1 .1 0 7 1 4 0 .4 7 3

* A n tib ro ta n te s , reguladores de cre scim e n to , óleo m ineral, e spalhantes adesivos. Fonte: S in d ica to Nacional da Indústria de Produtos para Defesa A grícola - SINDAG.

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P anoram a sobre o uso de a g ro tó x ic o s no Brasil 21

Minas Gerais e Paraná somam 67% da quantidade total comercializada. Quanto aos acaricidas, somente o Estado de São Paulo consome próximo a 90% do total do País, devido ao seu uso na cultura de citros.

As culturas que mais consum iram agrotóxicos, em 2 0 0 0 e em ordem decrescente, foram : soja, m ilho, citros, cana-de-açúcar, café, algodão, b a ta ta inglesa, arroz irrigado, pastagem , fe ijã o , trig o , h o rtic u ltu ra , to m a te envarado, maçã, fruticultura e tom ate rasteiro (Tabela 3). Somente a cultura da soja é responsável por um terço do consumo de agrotóxicos no Brasil. Se as quatro cultu­ ras que mais consomem agrotóxicos forem tomadas em conjunto, elas representam

Tabela 3. Uso de a grotóxicos (em t de ingredientes ativos), por cultura, em 2 0 0 0 .

Ingrediente A tiv o (t) V alor (US$ 1.0 0 0 )

C ultura 1 998 1999 2 0 0 0 1998 1999 2 0 0 0 Soja 4 2 .0 1 5 4 1 .3 4 4 4 6 .2 7 4 8 8 5 .7 9 8 8 0 3 .861 8 7 9 .5 3 4 M ilh o 1 5 .2 5 3 1 6 .1 4 0 21.201 1 8 5 .0 3 5 1 8 5 .1 2 0 2 5 0 .1 8 3 C itros 1 2 .6 7 2 1 4 .8 3 3 1 4 .4 8 6 1 6 3 .1 0 5 1 2 8 .5 8 8 1 0 1 .4 6 6 Cana-de-açúcar 9 .8 1 7 8 .0 6 5 1 1 .3 3 7 2 1 0 .0 6 9 1 4 2 .0 9 4 1 8 5 .5 4 3 C afé 8 .7 8 0 9.391 9 .0 8 5 1 8 8 .6 5 3 1 8 5 .7 2 7 1 6 1 .4 9 3 A lgodão 4.851 6 .7 2 4 8 .1 7 3 1 3 6 .0 5 4 1 9 1 .1 0 7 2 7 8 .1 0 6 Batata inglesa 5 .1 2 2 4 .1 7 2 3 .6 8 6 9 2 .8 7 2 7 1 .6 6 8 6 1 .6 6 5 A rro z irrigado 4.241 3 .9 5 6 3 .6 1 6 8 1 .7 9 5 7 4 .7 2 8 7 5 .7 6 6 Pastagem 9 5 3 2 .8 2 6 2 2 .9 1 9 42.161 Feijão 4 .1 9 9 3 .6 8 5 2.781 1 0 5 .0 5 0 9 4.721 6 3 .4 4 2 T rigo 1 .956 1 .6 3 9 1 .9 1 4 6 5 .4 7 6 5 6 .2 1 2 53.851 H o rticu ltu ra 3 .0 9 4 3 .0 6 0 1 .8 6 3 5 7 .9 8 3 5 9 .0 8 3 4 0 .2 0 9 T om ate envarado 1.7 7 5 1 .4 7 3 3 7 .2 8 8 2 9 .1 9 9 M açã 1.851 1 .4 7 3 1 .4 7 2 1 7 .5 8 3 1 6 .5 7 6 14.851 F ru ticu ltu ra 1.6 2 5 8 9 2 1.221 2 9 .1 2 8 1 4 .4 9 9 1 4 .4 4 9 Tonnate rasteiro 1 .1 3 2 1 .0 1 6 2 1 .6 6 9 2 0 .5 4 9

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i j 2 2 ' M é to d o s A lte rn a tiv o s de C o n tro le F itossanitário :

dois terços da quantidade total utilizada no País. Se forem considerados os valores das vendas, a ordem decrescente em importância passa a ser; soja, algodão, milho, cana-de-açúcar, café, citros, arroz irrigado, feijão, batata inglesa, trig o , pastagem, horticultura, tom ate envarado, tom ate rasteiro, maçã e fruticultura.

A Tabela 4 apresenta a quantidade de cada classe de agrotóxicos utilizada em cada cultura, em 2 0 0 0 . As culturas que mais consum iram herbicidas foram : soja, m ilho, cana-de-açúcar, café, arroz irrigado, pastagem e algodão. Para algumas culturas, os herbicidas representaram mais de 90% da quantidade

Tabela 4. Uso de a grotóxicos (ingredientes ativos, em t), por cultu ra e por classe de produ­ to , em 2 0 0 0 .

Cultura

Herbicidas Inseticidas O u tro s*

Fungicidas Acaricidas Total

Soja 3 2 .6 2 5 1 .626 5 .6 9 0 3 6 .3 3 0 4 6 .2 7 4 M ilho 19.231 29 1 .3 9 0 551 21.201 C itros 1 .449 2 .1 3 0 8 2 4 8 .5 1 5 1 .5 6 8 1 4 .4 8 6 C ana-de-açúcar 1 0 .5 9 7 555 185 1 1 .3 3 7 Café 3 .5 7 9 3 .6 8 0 1 .4 7 9 7 3 4 0 9 .0 8 5 A lgodão 2 .8 3 4 5 1 8 4 .3 7 5 52 3 9 4 8 .1 7 3 Batata inglesa 76 2 .7 9 7 756 1 56 3 .6 8 6 Arroz irrigado 3.061 97 113 3 4 5 3 .6 1 6 Pastagem 2.811 15 2 .8 2 6 Feijão 99 4 821 8 0 6 2 158 2.781 Trigo 1 .3 9 6 299 142 77 1 .9 1 4 H o rticu ltu ra 2 0 4 9 4 8 4 8 6 59 166 1 .8 6 3

Tom ate envarado 6 1.1 2 5 3 0 6 2 3 4 1 .4 7 3

Maçã 41 8 4 6 145 10 4 3 0 1 .4 7 2

F ru ticu ltu ra 3 7 4 385 255 2 119 1.221

Tom ate rasteiro 9 78 9 198 1 19 1 .0 1 6

•A n tib ro ta n te s , reguladores de crescim e n to , óleo m ineral, espalhantes adesivos. Fonte: S in d ica to Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Agrícola - SINDAG.

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: Panoaim a sobre o uso de a g ro tó x ic o s no Brasil 2 3

tota d e agrotóxicos consum ida, tais como: milho, cana-de-açúcar, arroz irrigado e pastagem. Quanto aos fungicidas, destacaram-se o café, a batata inglesa, os citros, a soa e o tom ate envarado. No caso da batata inglesa, os fungicidas representaram cerca de 76% do total de agrotóxicos utilizados na cultura. Para os inseticidas, os destaques foram para: soja, algodão, café e milho. No caso dos acaricidas, os citros foran os mais expressivos, sendo que esses produtos compuseram quase 60% da quan- tidace total de agrotóxicos utilizada nessa cultura.

Observando-se os consumos médios de ingredientes ativos por ha, em ciferentes países, o Brasil ocupa o oitavo lugar, o que pode ser considerado ex­ pressivo, pois a extensa área cultivada dilui a grande quantidade de agrotóxicos utili­ zada (Figura 3). Na vanguarda do País, em termos de intensidade de uso de agrotóxicos, estão: Holanda, Bélgica, Itália, Grécia, Alemanha, França e Reino Unido.

Figura 3. Consumo

médio de agrotóxicos (ingredientes ativos) por unidade de área, em alguns países

(1 9 9 5 /9 6 ).

Entretanto, há culturas no País onde o uso de agrotóxicos por unida­ de de área é altam ente expressivo, como pode ser visto na Tabela 5. Os destaques ficam oor conta da maçã, do tom ate e da batata., que em 2 0 0 0 consum iram , em média 49,0; 43 ,8 e 24,2kg de ingredientes ativos de agrotóxicos por ha, respectiva­ mente Cabe destacar que, para todas as culturas abordadas na Tabela 5, houve um aumerto das quantidades de agrotóxicos utilizadas em 2000, quando comparadas a 1990. Essa observação é surpreendente, pois retrata um aumento da dependência de

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agrotóxicos para o controle fitossanitário, embora os produtos mais modernos te ­ nham maior potência, ou seja, requerem doses bem menores para atingirem níveis adequados de controle dos organismos visados.

Diante dos dados apresentados, é possível definir duas classes de cul­ turas agrícolas em relação ao emprego de agrotóxicos (Campanhola et al., 1998). A primeira classe refere-se àquelas culturas importantes pela quantidade total utilizada de agrotóxicos devido à abrangência geográfica da cultura, na qual o uso, embora não m uito intenso, resulta em grandes quantidades totais (Tabela 3). E a segunda classe consiste daquelas culturas nas quais se emprega uma grande quantidade de agrotóxicos

2 4 ,____________^ ___________________1 M é to d o s A lte rn a tiv o s de C o n tro le F ito s s a n itá rio _ |

Tabela 5. Consumo de a grotóxicos em quantidades de ingrediente a tivo por unidade de área, em algumas culturas agrícolas no Brasil: 1 9 9 0 e 2 0 0 0 .

Cultura kg/ha kg/ha

em 1 9 9 0 * em 2 0 0 0 * * Maçã 4 9 ,0 Tom ate 3 9 ,5 4 3 ,8 Batata 2 1 ,8 2 4 ,2 C itros 1 2,2 1 4 ,9 A lgodão 2 ,4 10,1 Cana-de-Açúcar 1,6 2 ,3 Soja 0 ,9 2 ,4 M ilho 0 ,4 1,7

•D a d o s o b tid os de S p a d o tto e t al. (1 9 9 6 ). In: XIII Congresso Latino A m e rican o de C iência do Solo, 4 a 8 de agosto, 1 9 9 6 , Águas de Lindóia, SP. CD-ROM.

‘ •O b tid o s a p a rtir de dados do SINDAG (w w w .s in d a g .c o m .b r) e do IBGE (área p lantada, em lia ).

por unidade de área, resultando em cargas locais significativas, embora com quantida­ des totais menores (Tabelas 3 e 5).

Por exemplo, nota-se que as culturas de soja, milho, citros, cana- de-açúcar, café e algodão destacam-se por apresentarem grande consum o to ta l de agrotóxicos, enquanto que maçã, tomate, batata, citros e algodão são importantes em

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term os de intensidade de uso. Cabe ressaltar que, tanto os citros, quanto o algodão, são culturas que se enquadram nas duas categorias de uso de agrotóxicos.

A consideração dessas diferenças perm ite duas perspectivas de ganho potencial para um programa de racionalização do uso de agrotóxicos no País. Em primeiro lugar, reduções no uso de agrotóxicos naquelas culturas de ampla ocu­ pação geográfica podem trazer ganhos reais em termos de economia financeira e de conservação do ambiente para o País, devido ao seu im pacto na quantidade total consumida. Já em relação às culturas com uso intensivo de agrotóxicos, um progra­ ma de redução do uso pode trazer importantes ganhos contingenciais, no sentido de perm itir uma sensível melhora da qualidade dos produtos agrícolas, com redução nos níveis de resíduos presentes, bem com o ganhos na qualidade do ambiente agrícola local, com conseqüente melhora na segurança e saúde do trabalhador rural.

No que se refere à tendência no uso de agrotóxicos, é provável que os inseticidas/acaricidas tenham uma diminuição na quantidade total utilizada, com a ampliação da adoção do manejo integrado de pragas e na utilização de produtos mais potentes, ou seja, que eliminam as pragas em menor concentração. Por sua vez, os fungicidas tendem a se manter na situação atual de consumo com um leve decrésci­ mo no volume total utilizado, como resultado da incorporação gradual de novas vari­ edades de plantas resistentes a patógenos e ao uso do manejo integrado. Quanto aos herbicidas, o uso tende a aum entar devido à crescente adoção da prática do plantio direto na produção de grãos e à escassez de mão-de-obra no campo, resul­ tante do êxodo rural causado pela própria modernização da agricultura.

Cabe ressaltar, no entanto, que a quantidade de agrotóxicos utiliza­ da vaha de ano para ano, havendo m uitos fatores que contribuem para isso, poden­ do-se citar: custos financeiros do crédito agrícola, preços dos agrotóxicos, preços dos produtos agrícolas, nível de ocorrência de pragas e doenças nas culturas, que variam com as condições clim áticas, utilização de variedades de plantas resistentes

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às pragas e doenças e surgim ento de novas pragas e doenças (Campanhola et al., 1998). Portanto, o mercado atual de agrotóxicos, embora aparentemente estável, pode ser alterado na medida em que esses fatores se m odifiquem .

Riscos ao homem e ao meio am biente

associados ao uso de agrotóxicos

A agricultura, paralelamente à concentração de atividades pro­ dutivas nos centros urbanos, tem sido apontada com o uma das principais a tiv i­ dades produtivas responsáveis pela degradação do meio am biente, principal­ m ente devido à grande extensão de terra utilizada.

Com o processo de intensificação da agricultura, ela tornou-se dependente de insumos externos que consistem da utilização de sementes de variedades melhoradas, da mecanização, de fertilizantes e de agrotóxicos, com o objetivo de aum entar a produtividade. Os insumos quím icos e m ecânicos têm causado im pactos negativos nos diferentes com partim entos dos ecossistem as, representados por erosão e com pactação dos solos, contam inação de águas superficiais e subterrâneas, resíduos quím icos nos solos, efeitos nos organis­ mos edáficos e aquáticos e danos à saúde humana, entre outros.

0 uso intensivo de agrotóxicos tem um alto potencial de im pacto n e g a tiv o , ta n to d e n tro , q u a n to fo ra do a g ro e co ssiste m a . Nos lim ite s do agroecossistem a, o uso intensivo de agrotóxicos aum enta a dependência do seu uso, pois provoca desequilíbrios biológicos que eliminam os inim igos naturais das pragas e doenças de plantas e animais, favorecendo a reincidência de altas populações das pragas e patógenos (ressurgência), assim com o o aparecim ento de novas pragas que estavam sob controle natural (Campanhola et al., 1998). Há tam bém o dano causado à saúde das pessoas que manipulam e aplicam os agrotóxicos no campo. Há ainda um maior potencial para o desenvolvim ento da resistência das pragas, dos fitopatógenos e das plantas invasoras aos agrotóxicos.

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que resulta na necessidade de se utilizar doses mais elevadas, ou de se m isturar ag ro tó xico s ou ainda de se elevar a freqüência das pulverizações, aum entando ainda mais o seu potencial de dano ao homem e ao meio ambiente.

Externam ente aos lim ites dos agroecossistem as, os agrotóxicos causam danos à saúde do consum idor e da população em geral, assim com o a poluição ou contam inação do solo, da água e do ar. Os seus efeitos podem se m anifestar de diferentes form as e intensidades, intoxicando e eliminando espé­ cies terrestres e aquáticas e, com isso, interferindo nos diferentes níveis tró fico s e sim plificando sistem as biológicos com plexos e equilibrados.

0 co m portam ento dos agrotóxicos no meio am biente está d ire ta ­ mente relacionado com as propriedades físico-químicas das formulações e dos ingre­ dientes ativos (solubilidade em água, coeficiente de partição, hidrólise, ionização, pressão de vapor, reatividade), com a quantidade e freqüência de uso, com os m éto­ dos de aplicação, com as características bióticas e abióticas do ambiente, e com as condições m eteorológicas (Klingman et al., 1 982, apud Frighetto, 1997). Isto significa que após a aplicação os agrotóxicos não permanecem intactos, mas são submetidos a uma série de transformações e movimentos que podem aumentar o seu potencial de dano ambiental. Segundo Frighetto (1997), os principais processos que determinam o destino dos agrotóxicos no ambiente são: retenção, transformação quí­ mica e bioquím ica e transporte para a atm osfera, água subterrânea e água super­ fic ia l. Cabe ressaltar que m uitas vezes o a g ro tó x ic o original é tra n sfo rm a d o em outras m oléculas quím icas que apresentam características distintas da m olécula o rig in a l, podendo ser, in clu sive , mais tó x ic o s . Cada um desses processos não é exclusivo, ou seja, há sempre mais de um ocorrendo ao mesmo tem po e que confe­ rem a cada agrotóxico características específicas de com portam ento em cada situa­ ção particular, ou ecossistema. Por exemplo, o processo de adsorção ao solo, quando associado ao processo de erosão, pode resultar em um maior dano aos recursos hídricos, pois as partículas de solo carregam consigo os agrotóxicos que a elas este­ jam adsorvidos.

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0 envenenam ento humano e as doenças são certam ente o maior im pacto causado pelo uso de agrotóxicos. Um relatório da Organização Mundial

da Saúde (OMS) registra que mais de três milhões de pessoas são envenenadas com agrotóxicos a cada ano, com cerca de 22 0 mil m ortes e de 7 5 0 mil pessoas que apresentam intoxicação crônica, câncer, problemas neurológicos, e assim por diante (Pimentel, 1998). Enquanto que os países desenvolvidos utilizam anualmente cerca de 80% de todo o agrotóxico produzido no mundo (Pimentel, 1990, apud Pimentel et al., 1993), menos da metade das m ortes induzidas por agrotóxicos ocorrem nesses países. Portanto, uma grande parte dos envenena­ m entos e m ortes causados por agrotóxicos ocorre em países em desenvolvi­ m ento, onde os padrões ocupacionais e de segurança são inadequados, a regu­ lamentação e a rotulagem dos agrotóxicos são insuficientes, o nível de analfabe­ tism o é elevado, a infra-estrutura para lavagem e o uso de equipam entos de proteção individuais são inexistentes ou inadequados, e os operadores desco­ nhecem os perigos dos agrotóxicos à sua saúde (Buli, 1 982, apud Pimentel et al., 1993). Ainda no caso específico dos países em desenvolvim ento, e stim a ti­ vas mostram que o número de pessoas intoxicadas por agrotóxicos chega a 25 milhões (FAO, 1999). Além dessas deficiências, o guia da FAO (op. c it., 1999) ainda atribui outras razões para os envenam entos, com o o manuseio inadequa­ do dos resíduos e embalagens de agrotóxicos e a prática com um de se utilizar os recipientes de agrotóxicos para armazenar alim entos e água.

No Brasil, não se têm estim ativas precisas dessa natureza, em ­ bora existam inform ações parciais sobre intoxicações por agrotóxicos em al­ guns centros de to xico lo g ia de hospitais universitários. 0 problem a é sério, principalm ente porque os próprios agricultores ainda não têm consciência do perigo a que estão expostos quando utilizam agrotóxicos, o que os leva a des­ respeitar as medidas de segurança recomendadas.

É im portante ressaltar ainda que m uitos dos e feitos causados pelos agrotóxicos não são agudos, mas crônicos, com os efeitos e sintom as se

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m anifestand o ao longo da vida das pessoas, tais com o alterações de natureza g enética, fisiológica ou com portam ental. São docum entados casos de m ortali­ dade em brionária, reprodução debilitada. Inibição das atividades enzim áticas do cérebro, redução ou inibição de crescim ento e de deform ação da espinha dorsal e perda de apetite (Frighetto, 1997).

No que se refere à aplicação dos agrotóxicos no campo, sabe-se que menos que 50% de agrotóxico aplicado por avião atinge a área tida como alvo, sendo que o restante vai para o meio am biente. A quantidade de agrotóxico que realm ente atinge a praga ou patógeno é extrem am ente pequena, menos que 1 %, o que significa que 99% ou mais vai para o ambiente (Pimentel, 1998). E no caso das aplicações terrestres, muito da quantidade aplicada tem como destino o próprio aplicador. Chaim et al. (1999) realizaram a avaliação de perdas de pulveri­ zação com trator em culturas de feijão e tom ate, em condições de campo. Os resultados da deposição total da solução no solo e nas plantas, assim como a quantidade perdida por deriva foram transformados em porcentagem da dose apli­ cada. Verifica-se que as perdas para a cultura do feijão ficaram entre 49 e 88% do total aplicado, e as do tom ate, entre 4 4 e 70% . No caso do feijão, de 30 a aproxi­ madamente 74% do total aplicado foi para o solo, e de 6 a 40% foi perdido por deriva. Para o tom ate, as perdas para o solo variaram de 9 a 36% e por deriva, de 16 a 5 3 % , aproximadamente. Esses resultados comprovam a baixa eficiência dos equipamentos de aplicação de agrotóxicos no sentido de atingir o alvo desejado, o que contribui para aumentar ainda mais o potencial de dano dos agrotóxicos.

Os efeitos dos agrotóxicos no homem e nos organismos não- alvo são diretam ente proporcionais à sua concentração e ao tem po de exposi­ ção. Portanto, deve-se buscar mecanismos que contribuam para que esses dois fatores sejam minimizados.

Em um trabalho de revisão para avaliar os dados publicados so­ bre a contam inação ambiental por agrotóxicos e resíduos nos países do Cone Sul, Rodrigues (1998) registra que: “ os resíduos de agrotóxicos estão presentes em Panoram a sobre o uso de a g ro tó x ic o s no BrasH — --- --- 2 9

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todos os com partim entos ambientais do globo, desde as áreas mais remotas. Traços de DDT, BHC, aldrim, heptacloro, entre outros, podem ser detectados na atmosfera sobre o A tlântico Sul e Oceano A ntártico, em amostras de solo, água, gelo e neve na A ntártica, e em elevadas altitudes nos Andes Chilenos. A contam inação alcança as águas subterrâneas extraídas para consumo humano e é m antida mesmo em águas tratadas e oferecidas para consum o nas cidades, ainda que em níveis considerados seguros” . Ressalta o autor que resíduos de DDT alcançaram 0 ,3 7 p p m em peixes capturados no poluído Rio Tietê que corre ao longo da cidade de São Paulo (Yokomizo et al., 1980, apud Rodrigues, 1998), e 41 ppb no litoral da cidade de Santos, onde a contam inação por BHC era mais alarm ante, atingindo 9 4 0 p p b (Lara et al., 1980, apt/ty Rodrigues, 1998). Esses exemplos servem para ilustrar o que aconteceu com o uso incontrolado de agrotóxicos clorados em passado recente. Esses produtos e seus derivados continuam presentes em praticamente todos os compartimentos ambientais de todas as regiões geográficas do planeta, devido à sua elevada estabilidade química e à bioacumulação que ocorre na medida em que se avança nos níveis tróficos. Mes­ mo que hoje se conheça mais sobre o com portam ento dos agrotóxicos no meio ambi­ ente, não se pode assegurar que os danos causados sejam desprezíveis, pois torna-se praticam ente impossível acompanhar toda a dinâmica do agrotóxico original, e das moléculas originadas de sua degradação, e os seus efeitos biológicos nas mais diversificadas situações ecológicas.

No que se refere aos alim entos, a contam inaçã o de hortaliças por resíduos de fungicidas representa um problem a mais sério (Ferreira, 1993,

a p u d R odrigues, 1 9 9 8 ). Estudos realizados com fu n g ic id a s do grupo dos ditiocarbam atos freqüentem ente apontam a presença de resíduos nos produtos colhidos. Em um e studo d e ta lh a d o analisando fru ta s e legum es p ro n to s para co m e rcia liza çã o no Rio de Ja n e iro , de 4 6 6 a m o stra s h avia resíduos em 63% delas, sendo que 24% apresentavam resíduos até 5 0 % acim a do lim ite de to le ­ rância (Reis & Caldas, 1 9 9 1 , a p u d R odrigues, 1 9 9 8 ). Esses re s u lta d o s são preocupantes uma vez que esses agrotóxicos (m ancozeb, m aneb, propineb, tiram

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e zineb) a p re s e n ta m c o m o p rin c ip a l re síd u o a s u b s tâ n c ia e tile n o tio u ré ia , c a rc in o g ê n ic a e m u ito e s tá v e l (T o le d o & O liv e ira , 1 9 8 8 , a p u d R o d rig u e s,

1998).

Os agrotóxicos podem tam bém influir no com portam ento de o r­ ganismos benéficos da natureza, com o é o caso das bactérias fixadoras de nitrogênio atm osférico para as plantas, das micorrizas que estim ulam o desen­ volvim ento e conferem resistência às plantas, e dos m icrorganism os com fu n ­ ção antagônica a fitopatóg enos de solo.

Como exem plo das questões abordadas, a Tabela 6 reproduz resultados de um a e s tim a tiv a de avaliação e conôm ica e social dos danos am bientais causados pelo uso de agrotóxicos nos EUA.

Por exemplo, os custos dos efeitos na saúde humana foram calcula­ dos a partir dos custos das internações hospitalares, do tratam ento dos envenena­ mentos em pessoas que não foram internadas, de dias não trabalhados, do câncer gerado, e das m ortes. Neste caso, é difícil e até antiético atribuir-se um valor mone­ tário a uma vida humana, pois será que uma vida não vale mais que US$ 2 milhões, que foi 0 valor considerado pelos autores (op. c it., 1993)?

Embora os agrotóxicos representem uma econom ia de US$ 16 bi­ lhões por ano de perda de produtos agropecuários nos EUA, os dados da Tabela 6 mostram que os custos ambientais e sociais dos agrotóxicos podem chegar a cerca de US$ 8 bilhões, valor que representa duas vezes o m ercado americano anual de agrotóxicos, que é de US$ 4 bilhões. Assim sendo, a relação benefício/custo, mesmo se considerados os custos indiretos am bientais e sociais, ainda é favorável (1 ,3 3 : 1), mas as estimativas apontadas estão longe de refletir todos os possíveis impactos que os agrotóxicos podem causar nos organism os dos diferentes com partim entos ambientais. Além disso, há as questões éticas e valores culturais que são alterados com o uso dos agrotóxicos, interferindo nas práticas agrícolas e no modo de vida das comunidades. Ainda, há que se considerar a distribuição dos custos associados ao uso dos agrotóxicos.

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Pouco dos custos da poluição causada pelos agrotóxicos se revertem para os produtores ou para as empresas produtoras/formuladoras de agrotóxicos. Ao contrário, a maior parte dos custos se manifesta fora do seu domínio, gerando proble­ mas de saúde pública e degradação ambiental. Há, portanto, que se distribuir melhor os custos sociais originados do uso de agrotóxicos, devendo recair a maior parte dos custos indiretos sobre as empresas produtoras e usuários.

Tabela 6. Estimativa anual dos custos ambientais e sociais decorrentes do uso de agrotóxicos na agricultura dos Estados Unidos.

3 2 --- --- M éto d o s A lte rn a tiv o s de C o n tro le F itossa n itá rio

Danos US$ M ilhões/ano

Efeitos na saúde humana 7 8 7

Envenenam ento de anim ais dom ésticos 3 0

Eliminação de inim igos naturais 5 2 0

Resistência das pragas aos a g rotóxicos 1 .4 0 0

Perda de abelhas e de polinização 3 2 0

Perda de cu ltu ra s e de produtos 9 4 2

Perda de peixes 2 4

Perda de aves 2 .1 0 0

C ontam inação de águas subterrâneas 1 .8 0 0

C ontrole governam ental 2 0 0

M icrorganism os e invertebrados do solo ?

TO TAL 8.123

Fonte: Pim entel e t a i.(1 9 9 3 ).

Gestão dos agrotóxicos no Brasil

Legislação sobre agrotóxicos

A legislação am biental brasileira apresentou expressivo avanço a partir da prom ulgação da revisão co n stitu cio n a l de 1 9 8 8 . A prim eira grande mudança veio com a Lei no. 7 .8 0 2 , de 11 /0 7 /1 98 9 , que dispõe sobre a pesquisa, a

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e x p e rim e n ta ç ã o , a p ro d u çã o , a em balagem e ro tu la g e m , o tra n s p o rte , o armazenam ento, a com ercialização, a propaganda com ercial, a utiliza çã o , a im ­ p o rta çã o , a e xportação , o destino final dos resíduos e em balagens, o registro, a classificação, o controle, a inspeção e a fiscalização de agrotóxicos, seus com po­ nentes e afins. De acordo com esta lei, os agrotóxicos só poderão ser produzidos, exportados, im portados, com ercializados e utilizados, se previam ente registrados em órgão federal, de acordo com as diretrizes e exigências dos órgãos federais responsáveis pelos setores da saúde, do meio am biente e da agricultura. É tra ta ­ da a questão das responsabilidades em caso de infrações desta lei e a aplicação das sanções, que vão desde a suspensão ou cancelam ento do registro do produto até a pena de reclusão.

O Decreto n° 8 .8 1 6 , de 1 1 /0 1 /1 9 9 0 regulam enta a Lei no. 7 .8 0 2 acima mencionada. Ele tra ta dos seguintes itens: a) das com petências im puta­ das ao M inistério da A gricultura, ao M inistério da Saúde e ao M inistério do Interior (atualm ente, com petência atribuída ao M inistério do Meio Am biente - IBAM A); b) das providências referentes ao registro do produto, produtos desti­ nados à pesquisa e experim entação, das proibições, do cancelam ento ou da impugnação, e do registro das empresas; c) da embalagem, da rotulagem e da propaganda comercial e da destinação final de resíduos e embalagens; d) do armazenamento e do transporte; e) do receituário; f) do controle, da inspeção e da fiscalização e g) das infrações, das sanções e do processo.

Dentre esses, cabe ressaltar que o Decreto estabelece que os agrotóxicos e afins só poderão ser com ercializados diretam ente ao usuário me­ diante apresentação de receituário próprio prescrito por profissional legalmente habilitado, o qual deve ter form ação técnica no mínimo de nível médio ou segun­ do grau. Consideram-se com o casos excepcionais as prescrições e as vendas de agrotóxicos destinados à higienização, desinfecção ou desinfestação de am bi­ entes domiciliares, públicos ou coletivos, ao tratam ento de água e ao uso em cannpanhas de saúde pública.

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As exigências apresentadas no referido Decreto referem-se não so­ mente ao registro de agrotóxicos, seus componentes e afins, mas também ao proces­ so de renovação de registro e de extensão de uso dos produtos. Havia também um prazo de validade do registro que era de cinco anos, no fim do qual deveria ser reali­ zada a renovação de registro com os mesmos procedim entos adotados para efeitos de registro. Com o argumento da inexequibilidade de tal procedim ento utilizado pelo “ pool” das empresas produtoras e distribuidoras de agrotóxicos no país, houve altera­ ções nos dispositivos que tratavam do assunto. Assim, pelo Decreto no. 991, de 24/ 11 /1 993, fica excluída a necessidade de renovação de registro de agrotóxicos, assim como o prazo de validade do registro, restando apenas a cláusula que estabelece que os agrotóxicos, seus componentes e afins que apresentam redução de sua eficiência agronômica, riscos à saúde humana ou ao meio ambiente poderão ser reavaliados a qualquer tem po e ter seus registros alterados, suspensos ou cancelados.

Os estados e municípios podem ter sua legislação própria e com ple­ mentar ao que estabelece a Lei 7 .8 0 2 , podendo ser mais restritivas, não podendo, contudo, conflitar com o conteúdo da legislação federal.

Por sua vez, cada um dos órgãos federais responsáveis pelo re gistro e sua fiscalização adotaram m edidas com plem entares à legislação de agrotóxicos, por meio de Portarias referentes às suas respectivas com petências. 0 M inistério da Saúde estabeleceu as diretrizes e exigências referentes à a u to ri­ zação de registros pela norma no. 1, de 0 9 /1 2 /1 9 9 1 , que tra ta especificam ente dos a sp e cto s de p ro te ç ã o à saúde (a va lia çã o to x ic o ló g ic a , c la s s ific a ç ã o to xicológica e fixação de lim ites m áxim os de resíduos de agrotóxicos, seguran­ ça dos aplicadores e da população em geral). A classificação to x ic o ló g ic a dos produtos técnicos, ingredientes ativos e produtos form ulados é fe ita com base nas inform ações to x ico ló g ica s fornecidas pela in s titu iç ã o re g istra n te com a alocação dos produtos nas seguintes classes: classe I - produtos extrem am ente tóxicos, classe II - produtos altam ente tóxicos, classe III - produtos medianamente tó xico s e classe IV - produtos pouco tó xico s. Os lim ites m áxim os de resíduos.

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OU tolerância, são estabelecidos com base em ensaios de campo para cada cultura a lim e n ta r. Os lim ites m áxim os de resíduos referem -se aos produtos agropecuários em bruto, após colheita do vegetal, abate ou ordenha do animal, por ocasião de sua com ercialização, antes de qualquer processamento dos refe­ ridos produtos e com a remoção das partes não com estíveis. Esse procedim ento é válido tam bém para alim entos de animais e fum o. No caso de a lim entos processados onde houver co n ce n tra çã o ou d esidrataçã o do a lim ento, o c á l­ culo se re fe rirá ao alim e n to preparado para ser co n su m id o . Os lim ite s m á xi­ m os de re s íd u o são a q u e le s e s ta b e le c id o s p e la C o m is s ã o do C o d e x

A lim e n ta riu s para Resíduos de A g ro tó x ic o s (CCPR/FAO/OM S) e são u tiliz a ­ dos para se e stabele cer os períodos de carência para os d ife re n te s pro d u to s e c u ltiv o s (o período de carência ou in te rv a lo de c o n fia n ç a é o tem po d e co r­ rido após a ú ltim a aplicação de a g ro tó x ic o e a c o lh e ita , necessário para que o nível de resíduo esteja abaixo do lim ite perm itido).

A referida Norma trata ainda das inform ações referentes à saúde e aos cuidados a serem tom ados que deverão constar do rótulo dos produtos, tais com o: necessidade de uso de equipam entos de proteção individual e in fo r­ mações relativas aos cuidados com a saúde humana - prim eiros-socorros, tra ta ­ m ento médico de emergência (dirigido ao médico), antídoto, telefones do Centro de Inform ações Toxicológicas da região e da empresa, e pictogram as. Os ró tu ­ los poderão conter ainda frases de advertência com relação a: precauções ge­ rais (ex.: “ não coma, não beba e não fum e durante o manuseio do produto” ); manuseio do produto (ex.: “ use máscaras cobrindo o nariz e a boca” ); aplicação propriam ente dita (ex.: “ não aplique o produto contra o vento"); precauções após aplicação (ex.: “ não reutilize a embalagem vazia” ), ingestão (ex.: “ provo­ que vôm ito e procure logo o m édico, levando a em balagem, rótulo, bula ou receituário agronômico do produto” ); olhos (ex.: “ lave com água em abundância e procure o médico levando a embalagem, rótulo, bula ou receituário agronôm i­ co do produto” ); pele (ex.: “ lave com água e sabão em abundância e, se houver Panorama s o b re o uso de a g ro tó x ic o s no Brasi! ..... ... 3 5

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irritação, procure o médico levando a embalagem, rótulo, bula ou receituário agronô­ mico do produto” ); inalação (ex.: "procure lugar arejado” ). As bulas ou folhetos que acompanham os produtos deverão conter, além de todos os dados constantes do rótulo, as seguintes inform ações: mecanismo de ação, absorção e excreção para o ser humano, efeitos agudos e crônicos e efeitos colaterais.

E para as questões do meio am biente, há a Portaria N orm ativa no. 84, de 1 5 /1 0 /1 9 9 6 , que estabelece procedim entos a serem adotados ju n to ao In stitu to Brasileiro do Meio A m biente e dos Recursos Naturais Renováveis - Ibama, para efeito de registro e aprovação do potencial de periculosidade ambiental de agrotóxicos, seus com ponentes e afins. Esta P ortaria in s titu iu ta m b é m o^ S istem a Perm anente da A va lia çã o e C o n tro le dos A g ro tó x ic o s , seus compo-^ nentes e a fin s, que com preend e os se g u in te s su b siste m a s: c la s s ific a ç ã o do p o te n cia l de pericu lo sid a d e a m b ie n ta l; e stu d o de c o n fo rm id a d e ; avaliaçãol do risco a m b ie n ta l; d ivu lg a çã o de in fo rm a çõ e s; m o n ito ra m e n to a m b ie n ta l a fis c a liz a ç ã o . A cla s s ific a ç ã o q u a n to ao p o te n cia l de p e ricu lo sid a d e am b ie n ta b a se ia -se nos p a râ m e tro s de b io a c u m u la ç ã o , p e rs is tê n c ia , tra n s p o rte to x ic id a d e a d iv e rs o s o rg a n is m o s , p o te n c ia l m u ta g ê n ic o , te ra to g ê n ic o e ca rc in o g ê n ico , obedecendo a se guinte g raduaçã o: classe I - p ro d u to alta m ente pe rig o so ; classe II - p ro d u to m u ito p e rig o so ; classe III - p ro d u tc perigoso e classe IV - p ro d u to pouco p erigoso. Um dos itens im peditivos c obtenção de registro de um agrotóxico é se as suas classificações de potência de periculosidade am biental e/ou avaliação do risco am biental indicarem índices não aceitáveis de periculosidade e/ou risco, considerando os usos propostos.

Os testes e inform ações necessárias à avaliação ecotoxicológic? dos agrotóxicos e afins devem ser realizados ta n to com o produto té cn ico (in g re d ie n te a tiv o ), com o com o p ro d u to fo rm u la d o , sendo que para algun parâm etros aceitam-se apenas os resultados de produtos té cn ico s. Esses teste referem-se a: características físico-quím icas (estado físico, cor, odor, identifica ção molecular, grau de pureza, p onto/fa ixa de fusão, p o n to /fa ix a de ebulição

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pressão de vapor, solubilidade/m iscibilidade, pH, constante de dissociação em meio aquoso, hidrólise, fotólise, densidade, viscosidade, corrosividade, ponto de fulgor, vo latilidad e, entre outros), sendo que para algumas delas aceitam-se publicações científicas com pletas e inform ações referenciadas em substituição aos testes; toxicid a d e para organismos não-alvo (m icrorganism os, algas, orga­ nismos do solo, abelhas, m icrocrustáceos, peixes, aves, plantas); com p o rta ­ mento no solo (biodegradabilidade, m obilidade, adsorção/dessorção); toxicidade para a n im a is s u p e rio re s (ra to s , cã e s, c o e lh o s ); p o te n c ia l g e n o tó x ic o , e m b rio fe to tó xico e carcinogênico. Entretanto, esta Portaria não se refere à ava­ liação am biental de saneantes dom issanitários, registro e avaliação ambiental de produtos biotecnológicos, e registro e avaliação de produtos destinados ao uso em am bientes aquáticos.

Uma outra ação inovadora foi introduzir a diferenciação nas exi­ gências de registro de produtos sem ioquím icos e de m icrorganism os utilizados no controle biológico em relação aos agrotóxicos convencionais, pois pela Lei no. 7 .8 0 2 , de 1 1 /0 7 /1 9 8 9 , os procedim entos e exigências para registro ju n to aos órgãos com petentes eram os mesmos para todos. O objetivo dessas porta­ rias foi adequar e ao mesmo tem po sim plificar o processo de registro de produ­ tos alternativos aos agrotóxicos químicos, a fim de que eles possam ser registrados a custos menores e terem a sua viabilidade com ercial assegurada. Isso porque, geralm ente, esses produtos apresentam grande especificidade quando com pa­ rados aos agrotóxicos, o que reduz o seu potencial de mercado.

No caso dos sem ioquím icos, a Portaria no. 121, de 0 9 /1 0 /1 997, da Secretaria de Defesa Agropecuária do M inistério da A gricultura estabelece as exigências para o seu registro. É interessante observar que não há exigências quanto aos testes toxicológicos ou ecotoxicológicos, ficando a apresentação do relatório técnico restrito a: teste e inform ações sobre a eficiência e praticabilidade agronôm ica do produto, modelo de rótulo e bula, e modelo e características da em balagem . Essa Portaria estabelece tam bém que devem ser apresentadas

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formações sobre o registro em outros países, inclusive o de origem, e que os órgãos federais responsáveis pelos setores de saúde pública e de meio ambiente deverão se manifestar, no prazo de trin ta dias, caso haja restrições ao produto.

Para fins de registro e avaliação am biental de agentes m icrobianos vivos de ocorrência natural empregados no controle de um o u tro organism o vivo considerado nocivo, o Ibama publicou a Portaria N orm ativa no. 131, de 0 3 /1 1 / 1997. Esta Portaria estabelece os procedim entos a serem adotados, com a apre­ sentação das seguintes inform ações: dados do requerente e inform ações gerais sobre o organism o a ser registrado, docum entos relativos à avaliação da eficiên­ cia do produto com ercial, docum entos exigidos pelo M inistério da Saúde para fins de avaliação e classificação toxicológica do produto quanto ao aspecto de saúde humana, dados e inform ações referentes à avaliação am biental do produ­ to , modelo de rótulo e de bula e descrição da embalagem quanto ao tip o , m ate­ rial e capacidade volum étrica.

A avaliação to xico p a to ló g ica tem por o b je tivo verifica r os efeitos adversos do agente m icrobiano de controle sobre m am íferos. Os principais as­ pectos a serem considerados são: patogenicidade, infe ctivid a d e /p e rsistê n cia , e toxicidade do agente de biocontrole, de contam inantes m icrobianos e de seus subprodutos. Essa avaliação é realizada por meio de uma série de te ste s, d ivid i­ da em três fases distintas. A Fase I consiste de uma bateria de testes de curta duração, onde o organism o-teste (mamífero) recebe uma dose m áxim a única do agente de controle com o objetivo de se obter a m áxim a chance do agente de controle causar toxicidade, infectividad e e patogenicidade. Se nenhum efeito adverso fo r observado na Fase I, não há necessidade de se realizar nenhum dos testes das Fases II e III. A Fase II foi elaborada para avaliar uma situação p a rti­ cular, quando se observa toxicidade ou infectividad e na Fase I, sem evidências de patogenicidade. Na Fase II, estudos de to xicidade aguda são norm alm ente exigidos com o com ponente tó x ic o da preparação do bioagente. Nas Fases II e III, estudos adicionais para avaliar o e fe ito de to xicid a d e de preparações do

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agente de biocontrole deverão ser realizados de acordo com protocolos apropri­ ados. Estudos subcrônicos de toxicidade/patogenicidade tam bém constam da Fase II. A Fase III contém testes para identificar efeitos adversos particulares de parasitos de células de m amíferos, e só serão exigidos quando efeitos adversos forem observados na Fase II.

Por sua vez, a avaliação de danos sobre organismos não-visados e com portam ento ambiental do agente biológico de controle tam bém é feita por testes estabelecidos em três Fases. Na Fase I, os organismos indicadores, que representam os principais grupos de organism os não-alvo, são subm etidos a uma dose única m áxima do produto biológico, estabelecendo-se um sistema em que a chance de expressão dos efeitos indesejáveis é máxima. A ausência de danos aos organism os indicadores nesta fase implica um alto grau de confiança de que nenhum efeito adverso ocorrerá no uso prático do agente de biocontrole. Do mesmo modo que na avaliação to xicopato lógica, aqui, se os efeitos adversos significativos forem observados na Fase I, então os testes da Fase II são realiza­ dos, onde a exposição potencial dos organismos não-alvo ao agente de biocontrole é estimada. Os testes desta Fase contem plam estudos de sobrevivência, persis­ tência, m ultiplicação e dispersão do agente m icrobiano de controle, em diferen­ tes ambientes. Se os testes da Fase II mostrarem que pode haver exposição significante dos organismos não-alvo ao agente de biocontrole, então a Fase III torna-se necessária. Os testes da Fase III servem para determ inar efeitos dose- resposta, ou certos efeitos crônicos. Há ainda os testes da Fase IV, que são exigidos apenas quando forem observados, na Fase III, efeitos patogênicos nas doses efetivas, ou em níveis residuais de exposição. São estudos simulados de curta dura­ ção ou efeitos em campo sobre aves e mamíferos, organismos aquáticos, insetos predadores e parasitóides e insetos polinizadores.

Considera-se que toda a legislação sobre agrotóxicos e uso de agentes microbianos de controle de pragas e doenças constitui-se em um gran­ de avanço, pois disciplinou a oferta e, conseqüentemente, a utilização desses produ­

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tos, 0 que tem contribuído para dim inuir o potencial de dano dos agrotóxicos e de organismos vivos à saúde humana e ao meio ambiente.

Um novo avanço na legislação de agrotóxicos foi estabelecido com o Decreto n° 4 .074, de 4 de janeiro de 2002, que regulamenta a Lei n° 7 .802, de 11 de julho de 1989. Entre os avanços encontra-se em sua Seção II, sobre a Destinação Final de Sobras e de Embalagens, o estabelecimento da criação de centro ou central de recolhimento, destinado ao recebimento e armazenamento provisório de embala­ gens vazias, de agrotóxicos e afins. Além disso, nos seus artigos 53 e 60, estabelece que os usuários de agrotóxicos e afins deverão efetuar a devolução das embalagens vazias, e respectivas tampas, aos estabelecimentos comerciais em que foram adqui­ ridos, no prazo de até um ano, contado da data de sua compra. Para isso as empresas produtoras e as comercializadoras de agrotóxicos, seus componentes e afins deverão estruturar-se adequadamente para as operações de recebim ento, recolhim ento e destinação de embalagens vazias e produtos de que trata o decreto 4 .0 7 4 , até 31 de maio de 2002. 0 estabelecimento da devolução de embalagens de agrotóxicos vem suprir um dos graves problemas relacionados com a poluição ambiental.

O papel das indústrias de agrotóxicos

A indústria de agrotóxicos está organizada por duas grandes asso­ ciações nacionais: a ANDEF - Associação Nacional de Defesa Vegetal, que agrega apenas as empresas multinacionais e os grandes conglomerados internacionais, e a AENDA - Associação das Empresas Nacionais de Defensivos Agrícolas. Cabe ressaltar que as indústrias nacionais geralmente restringem as suas atividades à formulação de agrotóxicos, adquirindo os ingredientes ativos de terceiros.

As Organizações N ão-G overnam entais (ONGs) desem penham papel im portante na restrição de uso de agrotóxicos na produção animal ou vegetal. Esse com portam ento tem influenciado não só as decisões governam en­ tais, com o tam bém as estratégias das empresas de agrotóxicos, que adotaram o discurso a favor do manejo integrado de pragas (MIP) e do uso adequado e

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racional de agrotóxicos. Além de cursos de capacitação, as indústrias têm se e n v o lv id o no problem a do descarte e da c o le ta de em balagens vazias de agrotóxicos. Há mais de cinco anos, a ANDEF lançou um programa para a tríplice lavagem das embalagens em todo o país, assumindo todo o trabalho de sua divulgação ju n to aos técnicos, extensionistas e agricultores. O processo da tríplice lavagem consiste em se lavar a embalagem com água, por três vezes, despejan­ do a m istura no tanque de pulverização. Com esse procedim ento, argumentam os técnicos das indústrias, elimina-se mais de 9 9 ,9 % do agrotóxico que restaria na em balagem. Essa ação está vinculada à posterior coleta e reciclagem das embalagens.

A coleta de embalagens vazias continua sendo um problema bas­ ta n te sério. Por exem plo, no município de Vinhedo, localizado a 70km da cidade de São Paulo, constatou-se que a sua atividade agrícola, baseada na fru tic u ltu ­ ra, consom e 4 4 toneladas de agrotóxicos por ano e gera 18 mil embalagens que são jogadas em córregos ou terrenos^ . Considerando-se que a população rural deste município é de 4 ,2 mil pessoas, esse número representa uma quantidade média de embalagens descartadas, inadequadamente, de 4 ,3 por habitante rural.

A partir de 1 9 9 8 , o “ Programa nacional de destino final de em ba­ lagens de defensivos agrícolas” , coordenado pela ANDEF, foi colocado em p rá ti­ ca. No país, há a tu a lm e n te 29 c e n tra is de re ce b im e n to de em balagens que as condensam antes da reciclagem . Entretanto, do to ta l de embalagens consum idas por ano, que é de 1 0 0 m ilhões de unidades, apenas 10% é reciclado. Do to ta l reciclado, 85% das em balagens são de p lá stico , 10% são de metal, e o restante são de vidro ou papelão.

Há exemplos de municípios onde se implantou um sistema de coleta de embalagens de agrotóxicos por iniciativa conjunta do poder público local, dos agri-Panoram a sobre o uso de a g ro tó x ic o s no Brasi! ... 41

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cultores e suas associações, de cooperativas de trabalhadores, e das indústrias de agrotóxicos. 0 interessante é que as indústrias custeiam apenas parte da construção das centrais de coleta de embalagens vazias, desempenhando um papel mais educativo ju n to aos agricultores. Os custos do transporte são rateados entre as indústrias em função das vendas estimadas de cada uma no município considerado. Cabe ressaltar que as centrais de coleta estão sendo instaladas em municípios que conseguem exer­ cer maior pressão sobre as indústrias de agrotóxicos para que tom em providências nesse sentido.

S ituação do manejo integrado de pragas no Brasil

As pesquisas realizadas com o o b je tiv o de in tro d u z ir a p rá tica do m anejo inte g ra d o de pragas (MIP) no país iniciaram -se na década de 70. M u ito s resultados co n c re to s e prom issores foram o b tid o s , mas não se pode dizer que o MIP seja uma p rá tica am plam ente u tiliza d a pelos a g ric u lto re s . M esm o em casos de sucesso, para um m esm o c u ltiv o , algum as p rá tic a s a lte rn a tiv a s aos a g ro tó x ic o s são adotad as no c o n tro le de algum as pragas e doenças, mas não de o u tra s. E na m aioria das situ a çõ e s não há um a v e rd a ­ d e ira in te g ra ç ã o dos d ife r e n te s m é to d o s de c o n tr o le d o s p ro b le m a s fito s s a n itá rio s de pragas e doenças, com o preconizam os p rin c íp io s do MIP, mas sim o c o n tro le u tiliz a n d o apenas d ife re n te s a g ro tó x ic o s .

Vários fatores contribuem para a adoção lim itada do MIP, desta- cando-se três deles. 0 prim eiro, refere-se à cultura dos agricultores, que utilizam quase que exclusivam ente agrotóxicos no controle das pragas e doenças de plantas e animais devido à facilidade de uso e à eficiência desses produtos quím icos, associadas a um sistema público de assistência té cn ica e extensão rural pouco eficiente na divulgação e im plem entação do MIP. 0 segundo fator apoia-se na própria formação dos técnicos de assistência técnica e extensão rural, que está voltada à recomendação de agrotóxicos para a solução dos problemas fitossanitários, sem se preocupar com as causas que possam estar contribuindo para a

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ocorrência de pragas e doenças nas culturas e na pecuária, e senn buscar conhecimento das alternativas existentes. E o terceiro fator refere-se à indústria de agrotóxicos, que tem um papel importante na assistência técnica aos produtores que adotaram as práti­ cas preconizadas pela agricultura moderna. Os seus técnicos fazem visitas programa­ das aos agricultores para a oferta e venda de agrotóxicos e ao mesmo tempo prestam- lhes qualquer outro tipo de assistência técnica para os seus cultivos. Esse vínculo estrei­ to tem de certo modo favorecido a continuidade da cultura do uso de agrotóxicos pelos agricultores, pois a recomendação básica é a integração de produtos e não de métodos.

Entretanto, com a pressão de grupos organizados contra o uso de agrotóxicos na agricultura, que se tornou mais forte na década de 80, as indústrias de agrotóxicos se organizaram para oferecer cursos de MIP e de uso adequado de agrotóxicos, que incluem o destino final de produtos e de embalagens e o uso de equipamentos individuais de proteção. Geralmente esses cursos têm duração de uma semana, são realizados nas diferentes regiões do país e visam atender principalmente técnicos do serviço de extensão, que repassam aos agricultores as informações rece­ bidas. Na programação desses cursos atuam com o palestrantes ta n to técnicos do setor privado como pesquisadores de universidades públicas e de institutos de pesqui­ sa oficiais. Porém, as táticas e práticas recomendadas nunca vão na direção da subs­ tituição dos agrotóxicos, mas no seu uso adequado, respeitando os limites de dano econômico das pragas e a integração desses produtos.

A divulgação e a implem entação de m uitas das práticas citadas se dá, na maioria dos casos, por canais não-públicos de comunicação, embora a Empre­ sa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa - tenha tido um papel essencial na geração desses resultados e na sua difusão aos agricultores.

Pontos fracos na operacionalização da gestão de agrotóxicos

A seguir, são identificados problemas que requerem algum tipo de redirecionamento e de decisão para que não se constituam em pontos de estrangula­ mento para o controle de pragas e doenças agropecuárias, levando-se em conta os P anoram a sobre o uso de a g ro tó x ic o s no Brasil " 4 3

Referências

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