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EVA FURNARI. Assim assado

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Academic year: 2021

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Texto

(1)

Leitor iniciante

Leitor em processo

Leitor fluente

EVA FURNARI

Assim assado

ILUSTRAÇÕES DA AUTORA

PROJETO DE LEITURA

Maria José Nóbrega

(2)

“Andorinha no coqueiro, Sabiá na beira-mar, Andorinha vai e volta, Meu amor não quer voltar.”

De Leitores e Asas

MARIA JOSÉ NÓBREGA

N

uma primeira dimensão, ler pode ser entendido como de-cifrar o escrito, isto é, compreender o que letras e outros sinais gráficos representam. Sem dúvida, boa parte das ativida-des que são realizadas com as crianças nas séries iniciais do Ensino Fundamental têm como finalidade desenvolver essa capacidade. Ingenuamente, muitos pensam que, uma vez que a criança te-nha fluência para decifrar os sinais da escrita, pode ler sozite-nha, pois os sentidos estariam lá, no texto, bastando colhê-los.

Por essa concepção, qualquer um que soubesse ler e conheces-se o que as palavras significam estaria apto a dizer em que lugar estão a andorinha e o sabiá; qual dos dois pássaros vai e volta e quem não quer voltar. Mas será que a resposta a estas questões bastaria para assegurar que a trova foi compreendida? Certa-mente não. A compreensão vai depender, também, e muito, do que o leitor já souber sobre pássaros e amores.

Isso porque muitos dos sentidos que depreendemos ao ler de-rivam de complexas operações cognitivas para produzir inferências. Lemos o que está nos intervalos entre as palavras, nas entrelinhas, lemos, portanto, o que não está escrito. É como se o texto apresentasse lacunas que devessem ser preenchidas pelo trabalho do leitor.

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Se retornarmos à trova acima, descobriremos um “eu” que as-socia pássaros à pessoa amada. Ele sabe o lugar em que está a andorinha e o sabiá; observa que as andorinhas migram, “vão e

voltam”, mas diferentemente destas, seu amor foi e não voltou.

Apesar de não estar explícita, percebemos a comparação entre a andorinha e a pessoa amada: ambas partiram em um dado mo-mento. Apesar de também não estar explícita, percebemos a opo-sição entre elas: a andorinha retorna, mas a pessoa amada “não

quer voltar”. Se todos estes elementos que podem ser deduzidos

pelo trabalho do leitor estivessem explícitos, o texto ficaria mais ou menos assim:

Sei que a andorinha está no coqueiro, e que o sabiá está na beira-mar. Observo que a andorinha vai e volta,

mas não sei onde está meu amor que partiu e não quer voltar. O assunto da trova é o relacionamento amoroso, a dor-de-cotovelo pelo abandono e, dependendo da experiência prévia que tivermos a respeito do assunto, quer seja esta vivida pessoalmente ou “vivida” através da ficção, diferentes emoções podem ser ativadas: alívio por estarmos próximos de quem amamos, cumplicidade por estarmos distantes de quem amamos, desilusão por não acreditarmos mais no amor, esperança de encontrar alguém diferente...

Quem produz ou lê um texto o faz a partir de um certo lugar, como diz Leonardo Boff*, a partir de onde estão seus pés e do que vêem seus olhos. Os horizontes de quem escreve e os de quem lê podem estar mais ou menos próximos. Os horizontes de um leitor e de outro podem estar mais ou menos próximos. As leitu-ras produzem interpretações que produzem avaliações que reve-lam posições: pode-se ou não concordar com o quadro de valores sustentados ou sugeridos pelo texto.

Se refletirmos a respeito do último verso “meu amor não quer

voltar”, podemos indagar, legitimamente, sem nenhuma

esperan-ça de encontrar a resposta no texto: por que ele ou ela não “quer” voltar? Repare que não é “não pode” que está escrito, é “não quer”, isto quer dizer que poderia, mas não quer voltar. O que teria provo-cado a separação? O amor acabou. Apaixonse por outra ou ou-tro? Outros projetos de vida foram mais fortes que o amor: os estu-dos, a carreira, etc. O “eu” é muito possessivo e gosta de controlar os passos dele ou dela, como controla os da andorinha e do sabiá?

___________

* “Cada um lê com os olhos que tem. E interpreta a partir de onde os pés pisam.” A águia e

a galinha: uma metáfora da condição humana (37a edição, 2001), Leonardo Boff, Editora

(4)

Quem é esse que se diz “eu”? Se imaginarmos um “eu” mascu-lino, por exemplo, poderíamos, num tom machista, sustentar que mulher tem de ser mesmo conduzida com rédea curta, porque senão voa; num tom mais feminista, poderíamos dizer que a mulher fez muito bem em abandonar alguém tão controlador. Está instalada a polêmica das muitas vozes que circulam nas prá-ticas sociais...

Se levamos alguns anos para aprender a decifrar o escrito com autonomia, ler na dimensão que descrevemos é uma aprendiza-gem que não se esgota nunca, pois para alguns textos seremos sempre leitores iniciantes.

DESCRIÇÃO DO PROJETO DE LEITURA

UM POUCO SOBRE O AUTOR

Contextualiza-se o autor e sua obra no panorama da literatura para crianças.

RESENHA

Apresentamos uma síntese da obra para permitir que o pro-fessor, antecipando a temática, o enredo e seu desenvolvimento, possa considerar a pertinência da obra levando em conta as ne-cessidades e possibilidades de seus alunos.

COMENTÁRIOS SOBRE A OBRA

Procuramos evidenciar outros aspectos que vão além da trama narrativa: os temas e a perspectiva com que são abordados, cer-tos recursos expressivos usados pelo autor. A partir deles, o pro-fessor poderá identificar que conteúdos das diferentes áreas do conhecimento poderão ser explorados, que temas poderão ser discutidos, que recursos lingüísticos poderão ser explorados para ampliar a competência leitora e escritora do aluno.

PROPOSTAS DE ATIVIDADES a) antes da leitura

Ao ler, mobilizamos nossas experiências para compreendermos o texto e apreciarmos os recursos estilísticos utilizados pelo au-tor. Folheando o livro, numa rápida leitura preliminar, podemos antecipar muito a respeito do desenvolvimento da história.

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(5)

As atividades propostas favorecem a ativação dos conhecimen-tos prévios necessários à compreensão do texto.

 Explicitação dos conhecimentos prévios necessários para que os alunos compreendam o texto.

 Antecipação de conteúdos do texto a partir da observação de indicadores como título (orientar a leitura de títulos e subtítulos), ilustração (folhear o livro para identificar a loca-lização, os personagens, o conflito).

 Explicitação dos conteúdos que esperam encontrar na obra levando em conta os aspectos observados (estimular os alu-nos a compartilharem o que forem observando).

b) durante a leitura

São apresentados alguns objetivos orientadores para a leitura, focalizando aspectos que auxiliem a construção dos significados do texto pelo leitor.

 Leitura global do texto.

 Caracterização da estrutura do texto.

 Identificação das articulações temporais e lógicas responsá-veis pela coesão textual.

c) depois da leitura

Propõem-se uma série de atividades para permitir uma melhor compreensão da obra, aprofundar o estudo e a reflexão a respei-to de conteúdos das diversas áreas curriculares, bem como deba-ter temas que permitam a inserção do aluno nas questões con-temporâneas.

 Compreensão global do texto a partir da reprodução oral ou escrita do texto lido ou de respostas a questões formula-das pelo professor em situação de leitura compartilhada.  Apreciação dos recursos expressivos mobilizados na obra.  Identificação dos pontos de vista sustentados pelo autor.  Explicitação das opiniões pessoais frente a questões polêmicas.  Ampliação do trabalho para a pesquisa de informações com-plementares numa dimensão interdisciplinar ou para a pro-dução de outros textos ou, ainda, para produções criativas que contemplem outras linguagens artísticas.

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Assim assado

EVA FURNARI

UM POUCO SOBRE A AUTORA

Nascida em Roma, na Itália, Eva Furnari vive no Brasil desde os três anos de idade. É escritora e ilustradora de livros infantis, já tendo publicado mais de trinta livros. Durante sete anos publicou pequenas histórias semanais no suplemento infantil do jornal

Fo-lha de S.Paulo. A partir de 1985, colaborou como ilustradora em

diversas revistas. Tem livros publicados no México, no Equador e na Bolívia. Ao longo de sua carreira, Eva Furnari recebeu diversos prêmios: 1980 – Prêmio da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, FNLIJ, pela coleção Peixe Vivo; 1982 – Prêmio de Melhor Livro sem Texto, da FNLIJ, pelo livro A bruxinha atrapalhada; 1987 – Prêmio Orígenes Lessa, da FNLIJ, para a coleção Ping-Pong; 1987 – Prêmio APCA, Associação Paulista dos Críticos de Arte, pelo con-junto da obra; 1992 – Prêmio Adolfo Aizen pela UBE, União Brasi-leira de Escritores; 1993 – Prêmio Jabuti de Melhor Ilustração In-fantil pela CBL, Câmara Brasileira do Livro, com o livro Truks; 1995 – Prêmio Jabuti de Melhor Ilustração Infantil, pela CBL, para o li-vro A bruxa Zelda e os oitenta docinhos; 1998 – Prêmio Jabuti de Melhor Ilustração, pela Câmara Brasileira do Livro, com o livro O

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RESENHA

Já a partir de sua capa, em que um esbranquiçado bicho de óculos escuros parece ir tomar banho de sol, Assim assado é um livro muito engraçado. Cada personagem (bicho, cozinheira, time, gato, menina, espelho, velha, sapo, médico, gato, conversa, faxineiro, homem, ami-go) “desfila” aos nossos olhos, metendo-se em engraçadas encrencas. Tudo recheado com um saboroso non-sense que as crianças adoram.

Todas as histórias têm uma organização binária: apresentação e nomeação da personagem seguida de uma ação atrapalhada e sua conseqüência.

O paralelismo com que os textos são construídos, juntamente com as rimas, cria um jogo verbal que vai envolvendo gostosamente o leitor num fio, ao mesmo tempo, repetitivo na estrutura e novo no conteúdo.

COMENTÁRIOS SOBRE A OBRA

Mais uma vez, Eva Furnari coloca em sua obra, em perfeita sintonia, o texto escrito e a imagem. O livro dialoga ainda com a criança, ao usar certas situações, que quebram a lógica e se aproximam do universo cultural da infância, traduzido em parlendas, trava-línguas, adivinhas, enfim, jogos verbais que encantam as crianças, desde sempre.

Além disso, ao relatar fatos que “não deram certo” com os per-sonagens, o texto também ajuda a construir uma cumplicidade com o pequeno leitor, em suas incursões pelos “insucessos” roti-neiros da vida, em especial, quando se está descobrindo o mundo e a si mesmo.

Áreas envolvidas: Língua Portuguesa, Educação Artística Temas transversais: Ética

Público-alvo: leitor iniciante PROPOSTAS DE ATIVIDADES Antes da leitura:

1. Peça aos alunos para fazerem uma pesquisa sobre parlendas,

trovas, quadrinhas que conheçam ou que os pais conheçam. Com-bine o dia de apresentar esse material.

2. Se preferir, selecione e ouça com os alunos canções infantis que

exploram o rico patrimônio cultural da infância, como forma de aproximá-los da posterior leitura do livro.

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3. Quem conhece Eva Furnari? O que já leu dela? Proponha que os

alunos tragam, de casa ou da biblioteca, livros da autora e propi-cie momentos de leitura desse material.

4. Apresente o título do livro e pergunte: Quem já ouviu essa

ex-pressão? É provável que poucos conheçam esse uso mais antigo — uma possível resposta à fórmula de cortesia: “Como vai?”, quan-do pessoas se encontram e se cumprimentam. Ao responder “As-sim assado”, a pessoa quer dizer “Vou indo mais ou menos” ou apenas quer ser educada e dar uma resposta-chavão.

E, neste livro, qual seria seu significado?

Deixe essas questões no ar e volte a elas depois da leitura, para discutir as hipóteses dos alunos.

5. Em seguida, moµstre a capa. Solicite aos alunos que analisem a ilustração. Que bicho é este? O que será que ele está indo fazer?

6. Para trabalhar com a idéia dos pequenos “fracassos” que são

até engraçados, como é proposto no livro, peça que os alunos con-tem alguns desses momentos para a turma.

Durante a leitura:

1. Leia para as crianças o pequeno poema apresentado como

epígrafe (página 3).

No mundo tem muita gente, você há de concordar. Cada um tem seu jeito, sua maneira de pensar. E pra ver como isto é certo, escute o que vou contar.

Depois mostre as ilustrações criadas por Eva Furnari para o poema e converse com eles a respeito das intenções da autora com essas escolhas.

2. Solicite que cada aluno, individualmente, leia cada uma das

pequenas narrativas, atentando para qual é o jeito e a maneira de pensar de cada personagem em cada uma delas.

3. Peça também “para ver como isto é certo”. Depois da leitura:

1. Organize a turma em trios. Cada trio deve ensaiar uma das

histó-rias para ler em voz alta. Cada componente do grupo lê um trecho: a expressão “Era uma vez”; o personagem e sua característica, como

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por exemplo, “um bicho esbranquiçado” e a encrenca — “Se to-masse muito sol, ficava assim assado”. Observe se cada grupo man-teve o ritmo do texto, bem como a expressiva dicção das rimas.

2. Organize a turma em quatorze grupos e escolha uma história

para cada um analisar as ilustrações atentamente e depois discuti-las com os outros grupos. Peça que observem principalmente:

• as cores usadas;

os contornos dos quadrinhos em que estão os personagens;

as expressões dos personagens.

3. Ao ser introduzida na história, cada personagem recebe uma

característica. Chame atenção para isso, pedindo às crianças para completarem a tabela abaixo, selecionando a característica ade-quada na lista apresentada no final. Depois proponha a eles atri-buírem uma outra característica para elas.

Personagem Característica no livro Característica dada pelo aluno BICHO COZINHEIRA TIME GATO MENINA ESPELHO VELHA SAPO MÉDICO GATO CONVERSA FAXINEIRO HOMEM AMIGO

ESBRANQUIÇADO DIFERENTE COROCA ESTRANHA AVENTUREIRA CABELUDO DA PESADA ENCANTADO APRENDIZ NANICO FIADA MODERNO PIRADO DO MEU VIZINHO

4. Peça aos alunos para lerem como ficaria a história se, em lugar

da característica apresentada pelo livro, estivesse a deles. As rimas seriam preservadas ou não?

Era uma vez uma estranha [péssima / esperta / esquisita] cozinhei-ra. Fazia biscoitos crocantes, com gosto de prateleicozinhei-ra. A rima se mantém.

Era uma vez um time da pesada [azarado / perna de pau / de mais]. Jogava futebol com bola quadrada. A rima não se mantém.

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5. Proponha aos alunos que, em duplas, reescrevam o texto

modi-ficando as ações dos personagens, mas mantendo as rimas. Por exemplo, para a história das páginas 10 e 11:

Era uma vez um gato diferente. Detestava peixe e adorava ser-pente.

Proponha a eles que criem uma nova ilustração para combinar com a nova ação que imaginaram para o personagem. Organize uma exposição dos trabalhos.

6. Se a turma se animar, desafie-os a escreverem um Assim assado

totalmente novo: com novos personagens e novas e engraçadas encrencas.

7. Voltar ao título do livro. Relembrar com os alunos as hipóteses

que levantaram sobre ele. O que pensam, depois das várias leitu-ras que fizeram? Provavelmente, os alunos perceberam-no como mais um jogo de palavras do que realmente um título lógico.

As-sim assado apresenta também uma estrutura binária coerente com

as histórias narradas no livro.

LEIA MAIS...

1. DA MESMA AUTORA

• O circo da lua — São Paulo, Editora Ática • Angelito — São Paulo, Editora Ática

• A bruxinha atrapalhada — São Paulo, Editora Global • Nós — São Paulo, Editora Global

• Cocô de passarinho — São Paulo, Editora Companhia das

Letrinhas

2. SOBRE O MESMO GÊNERO OU ASSUNTO

• Dezenove poemas desengonçados –– Ricardo Azevedo,

São Paulo, Editora Ática

• Mandaliques –– Tatiana Belinky, São Paulo, Editora 34 • Gato Massame e aquilo que ele vê –– Ana Maria

Referências

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