• Nenhum resultado encontrado

A variabilidade da ordem das palavras na aquisição da língua de sinais brasileira: construções com tópico e foco

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "A variabilidade da ordem das palavras na aquisição da língua de sinais brasileira: construções com tópico e foco"

Copied!
129
0
0

Texto

(1)ALINE LEMOS PIZZIO. A VARIABILIDADE DA ORDEM DAS PALAVRAS NA AQUISIÇÃO DA LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA: CONSTRUÇÕES COM TÓPICO E FOCO. FLORIANÓPOLIS - SC 2006.

(2) ALINE LEMOS PIZZIO. A VARIABILIDADE DA ORDEM DAS PALAVRAS NA AQUISIÇÃO DA LÍNGUA DE SINAIS BRASILEIRA: CONSTRUÇÕES COM TÓPICO E FOCO. Dissertação apresentada ao Curso de PósGraduação em Lingüística da Universidade Federal de Santa Catarina como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Lingüística. Orientadora: Profa. Dra. Ronice Müller de Quadros. Florianópolis, março de 2006..

(3)

(4) Dedico este trabalho ao meu filho Bernardo que, desde a concepção, acompanhou toda esta trajetória ao meu lado e é a minha grande fonte de inspiração..

(5) Agradecimentos. A realização desta dissertação só foi possível graças ao apoio e contribuição de algumas pessoas. Meu agradecimento especial. Ao meu marido Robinson pelo amor, paciência e apoio incondicional durante todo o mestrado;. Aos meus pais, José Antonio e Rosamaria pelo desprendimento de largar suas rotinas por vários meses para cuidar de mim no período em que fiquei de repouso durante a gravidez;. Aos meus familiares que sempre me deram apoio e incentivo: meus irmãos e minha tia Yeda ( in memorian);. À minha orientadora Ronice Müller de Quadros pelo incentivo e pelos ensinamentos durante todo o mestrado;. Aos colegas do GES pelas trocas constantes e pelas palavras de incentivo nos momentos difíceis;. À minha amiga Roberta pelas valiosas revisões..

(6) i SUMÁRIO. RESUMO ABSTRACT. IV V. LISTA DE TABELAS. VI. LISTA DE QUADROS. VII. ABREVIATURAS. IX. INTRODUÇÃO. 1. 1 CARACTERIZAÇÃO DA TEMÁTICA. 4. 1.1 AS LÍNGUAS DE SINAIS. 4. 1.1.1 Aquisição da língua de sinais. 7. 1.1.1.1 Balbucio manual. 8. 1.1.1.2 Primeiros sinais: estágio de um sinal. 9. 1.1.1.3 Estágio das primeiras combinações. 10. 1.1.1.4 Estágio de múltiplas combinações. 11. 1.2 A TEORIA GERATIVA. 12. 2 AQUISIÇÃO DA ORDEM DAS PALAVRAS. 19. 2.1 NAS LÍNGUAS ORAIS. 19. 2.1.1 Inglês. 19. 2.1.2 Russo. 20. 2.2 NAS LÍNGUAS DE SINAIS. 24. 2.2.1 Língua de sinais americana (ASL). 25. 2.2.2 Língua de Sinais Holandesa (SLN). 33.

(7) ii 2.2.3 Língua de sinais brasileira (LSB). 36. 3 TÓPICO E FOCO. 39. 3.1 TÓPICO. 39. 3.1.1 Tópico nas línguas de sinais. 46. 3.1.2 Aquisição de tópico. 52. 3.2 FOCO. 54. 3.2.1 Foco nas línguas de sinais. 58. 3.2.2 Aquisição de foco. 66. 3.3 TÓPICO VERSUS FOCO. 69. 4 METODOLOGIA. 74. 4.1 PROTOCOLO DE TRANSCRIÇÃO. 75. 4.1.1 Informações sobre o contexto da filmagem. 76. 4.1.2 Marcações manuais. 79. 4.1.3 Marcações não-manuais. 80. 4.1.4 Segmentação. 81. 4.1.5 Tipos de verbos. 82. 4.1.6 Classificadores. 85. 4.1.7 Tradução para o português. 85. 4.2 ANÁLISE DOS DADOS. 86. 5 ANÁLISE DOS DADOS. 88. 5.1 ANÁLISE QUANTITATIVA. 88. 5.2 ANÁLISE QUALITATIVA. 97. 5.2.1 Construções com tópico. 98.

(8) iii 5.2.2 Construções com foco. 104. 5.2.3 Outras construções. 106. CONSIDERAÇÕES FINAIS. 109. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS. 111.

(9) iv RESUMO. Esta dissertação tem como objetivo analisar a variabilidade encontrada na ordem das palavras durante a aquisição da língua de sinais brasileira (LSB) por uma criança surda, filha de pais surdos, por meio de um estudo longitudinal. A ordem básica desta língua é a SVO, mas outras ordens, como OSV, SOV e VOS, são derivadas da primeira e são possíveis em determinados contextos lingüísticos. Dentre os fatores que podem gerar essa variabilidade estão as construções com tópico e foco. O tópico é o constituinte que veicula informação partilhada pelos interlocutores, enquanto o foco apresenta a informação não pressuposta. Nos dados da criança analisada, foi constatado que as construções com tópico e foco aparecem desde o início da aquisição da linguagem, já no estágio das primeiras combinações, embora haja inconsistência no uso das marcações não-manuais associadas a esses fenômenos. A criança surda apresentou evidências da ocorrência de todos os tipos de tópico e foco possíveis na LSB. Estes resultados revelam que os dados das crianças surdas apresentam similaridades com os dados das crianças ouvintes, indicando que não há efeitos de modalidade na aquisição da linguagem..

(10) v ABSTRACT. The objective of this thesis is to analyze through a longitudinal study the variability of the word order in the acquisition of the Brazilian Sign Language (LSB) by a deaf child born to deaf parents. The basic order of this language is SVO, but other orders, such as OSV, SOV, and VOS are derived from the basic one and are possible in some linguistic contexts. Some factors can generate this variability, such as topic and focus constructions. Topic is the information shared by the speakers and focus is the non-presupposed part of the sentence. In the data analyzed from the deaf child that was the subject of this study, we can observe that topic and focus constructions appear in a very early age, since the stage of the first words combinations. Nevertheless, the use of non-manual marks associated with these phenomena is inconsistent. The deaf child presented evidences of all types of topic and focus possible in LSB. These results reveal that the data collected from deaf children is similar to the data collected from hearing children, indicating that there are not modality effects in language acquisition..

(11) vi LISTA DE TABELAS. Tabela 2.1: Porcentagem das construções VO e OV na produção de Varvara. 23. Tabela 3.1: Resumo dos tipos de tópicos com duas instâncias verbais. 45. Tabela 3.2: Tipos de construção com tópico na ASL (Aarons, 1994). 48. Tabela 3.3: Elementos da estrutura de informação na ASL e LSB. 66. Tabela 3.4: Idade da primeira produção consistente de cada tipo de foco. 69. Tabela 5.1: Ordens de palavras encontradas na produção de LÉO. 89. Tabela 5.2: Tipos de verbos produzidos com as ordens OV, OSV e SOV. 92. Tabela 5.3: Tipos de sujeito no final da sentença. 93. Tabela 5.4: Ocorrências por idade e percentual. 94. Tabela 5.5: Ordens das palavras encontradas mês a mês. 95. Tabela 5.6: Tipos de verbo em cada idade. 96. Tabela 5.7: Tipos de marcação não-manual em cada idade. 96.

(12) vii LISTA DE QUADROS. Quadro 2.1: Critérios para identificação das operações de reordenação. 30. Quadro 2.2: Distribuição da ordem das sentenças na LSB. 37. Quadro 4.1: Exemplo do registro de início da transcrição de um determinado trecho das filmagens. 75. Quadro 4.2: Exemplo da finalização da transcrição de um determinado trecho das filmagens. 75. Quadro 4.3: Exemplo de trecho da transcrição indicando o tempo do ato conversacional. 76. Quadro 4.4: Exemplo de descrição do contexto da interação comunicativa. 77. Quadro 4.5: Exemplos de possíveis contextos para o enunciado do LÉO ao produzir a palavra LIVRO. 77. Quadro 4.6: Exemplo de informação contextual relacionadas ao enunciado. 78. Quadro 4.7: Exemplos de transcrições que incluem a informação quanto à direção do olhar. 78. Quadro 4.8: Exemplo de transcrição de gesto. 79. Quadro 4.9: Exemplo de trecho da transcrição em que foi necessária a utilização de várias palavras do português para expressar um único sinal. 79. Quadro 4.10: Exemplo de transcrição da soletração manual. 80. Quadro 4.11: Exemplo de trecho de transcrição incluindo marcas nãomanuais e com segmentação indicada por meio do símbolo |. 81. Quadro 4.12: Exemplos de transcrição de trechos contendo verbos simples. 82. Quadro 4.13: Exemplo de um trecho de transcrição contendo um verbo com concordância pura. 83.

(13) viii Quadro 4.14: Exemplo de um trecho de transcrição contendo um verbo com concordância reversa. 83. Quadro 4.15: Exemplo contendo um verbo espacial. 83. Quadro 4.16: Exemplo contendo um verbo simples com a incorporação do loc de CASA. 83. Quadro 4.17: Exemplo com verbos manuais. 84. Quadro 4.18: Exemplo contendo verbo modal. 84. Quadro 4.19: Exemplo contendo verbos com aspecto e com forma imperativa. 84. Quadro 4.20: Exemplo contendo verbo com marca de reciprocidade. 85. Quadro 4.21: Exemplo contendo classificador. 85. Quadro 4.22: Exemplo de transcrição com a respectiva tradução para o português. 85. Quadro 5.1: Demonstrativo do quadro de análise dos dados (LÉO). 89.

(14) ix LISTA DE ABREVIATURAS. A – argumental A’ – não-argumental agr – agreement – concordância AS – Assertion Structure – Estrutura de Asserção ASL – American Sign Language – Língua de Sinais Amerciana asp – aspecto cl – classificador CP – Complementizer Phrase – Sintagma Complementador cv – categoria vazia do – direção do olhar DP – Determiner Phrase – Sintagma Determinante DS – Deep Structure – Estrutura Profunda E-focus – Emphatic Focus – Foco de Ênfase FocP – Focus Phrase – Sintagma de Foco GU – Gramática Universal hand – handling – verbos manuais I-focus – Information Focus – Foco de Informação ILP – Individual Level Predicates – Predicados de Nível Individual imp – imperativo interrogativas s/n – interrogativas sim/não IP – Inflection Phrase – Sintagma Flexional ISL – Israeli Sign Language – Língua de Sinais Israelense LAD – Languge Acquisition Device – Mecanismo de aquisição da Linguagem LF – Logical Form – Forma Lógica.

(15) x loc – loccus – local LSB – Língua Brasileira de Sinais mc – movimento de cabeça NP – Nown Phrase – Sintagma Nominal OagrP – object agreement phrase – Sintagma de concordância do objeto PF – PhoneticForm – Forma Fonética PPA – Possible Pragmatic Assertions – Asserções Pragmaticamente Possíveis SagrP – subject agreement phrase – Sintagma de concordância do sujeito SLN – Sign Languege of Netherlands – Língua de Sinais Holandesa spec – specifier – especificador SS – Superficial Structure – Estrutura Superficial SVO – Sujeito–verbo–objeto – (SV, VO, VS, OSV, SOV, VOV, SVS, etc.) t – trace – vestígio t-c – tópico-comentário tm – topic mark – marca de tópico TopP – Topic Phrase – Sintagma de Tópico TP – Tense Phrase – Sintagma Temporal VP – Verb Phrase – Sintagma Verbal WCO – Weak Cross-Over – Cruzamento Fraco Wh – qualquer palavra Wh (Who, Where, What, When, How).

(16) 1 INTRODUÇÃO. Nesta dissertação será trabalhada a questão da variabilidade da ordem das palavras na aquisição da língua de sinais brasileira (LSB) por uma criança surda, filha de pais surdos, por meio de um estudo longitudinal. Mais especificamente, será analisada a aquisição de tópico e foco. Como ponto de partida, utilizou-se um estudo semelhante realizado com a língua de sinais americana (ASL), intitulado Word order variation and acquisition in American Sign Language (Pichler, 2001). As análises existentes sobre a ordem das palavras na língua de sinais brasileira (Felipe, 1989; Ferreira-Brito, 1995; Quadros, 1999) evidenciam que a ordem mais básica da frase é SVO. Porém, as autoras afirmam a existência de outras possibilidades de ordenação que são derivadas do movimento de determinados elementos licenciados em contextos lingüísticos específicos. Assim, encontra-se também na LSB as ordens OSV, SOV e VOS. Dentre os mecanismos gramaticais que podem gerar essa variabilidade estão a topicalização e as construções com foco, que serão analisadas durante o período da aquisição da linguagem. Para fundamentar os dados será utilizada a teoria gerativa, já que se acredita que todo o indivíduo nasce com uma capacidade para desenvolver a linguagem e que esta é uma habilidade presente no cérebro/mente. A união entre a capacidade inata e os fatores ambientais faz com que a linguagem se desenvolva. Na verdade, a interação com o ambiente apenas ajuda a torná-la mais complexa e sofisticada envolvendo fatores epifenomenais, ou seja, questões de outra ordem que irão constituir o ser humano culturalmente e socialmente. Este trabalho deter-se-á às questões relacionadas com a linguagem no sentido chomskiano, isto é, a faculdade da linguagem. Dentro dessa concepção, existe a proposta de Princípios e Parâmetros (Chomsky e Lasnik, 1991), que compõem essa faculdade da linguagem. Os princípios são as leis gerais.

(17) 2 que valem para todas as línguas naturais e compõem a Gramática Universal (GU). Dessa forma, uma sentença que viola um princípio não é tolerada em nenhuma língua natural. Já os parâmetros são as propriedades que uma língua pode ou não apresentar e que são responsáveis pela diferença entre as línguas. Eles são uma espécie de comutador lingüístico, cujo valor final e definitivo apenas é atingido durante o processo de aquisição. Para melhor situar a temática trabalhada nesta dissertação, optou-se por destinar o primeiro capítulo a uma revisão mais geral sobre a caracterização das línguas de sinais e também da teoria gerativa, embora este capítulo não objetive apresentar uma discussão exaustiva sobre tais aspectos, uma vez que existem bibliografias nacionais específicas sobre os mesmos, conforme será indicado no próprio capítulo. Isto se justifica em virtude de os estudos sobre a LSB no Brasil ainda estarem amadurecendo na área da lingüística. Desta forma, ao se introduzir uma revisão desses dois assuntos, contempla-se tanto as pessoas que necessitam de um maior conhecimento sobre as línguas de sinais, principalmente na área da própria lingüística, quanto àquelas que necessitam aprofundar questões sobre a teoria gerativa, como, por exemplo, profissionais do campo da surdez. O capítulo 2 faz um apanhado de alguns trabalhos sobre a aquisição da ordem das palavras, tanto em línguas orais, como em línguas de sinais. Além disso, mostra que a variabilidade na ordem encontrada na língua de sinais brasileira ocorre, também, em outras línguas de modalidade visual-espacial. Isto não quer dizer, conforme mencionado anteriormente, que existam várias ordens possíveis na LSB, mas sim que existe uma ordem básica, que é a SVO, e a possibilidade de movimentar determinados elementos que são licenciados em determinados contextos lingüísticos. No capítulo 3, são analisados os dois fenômenos citados acima que possibilitam a variabilidade na ordem das palavras na LSB: o tópico e o foco. Assim, é feito um apanhado.

(18) 3 dos trabalhos sobre tópico e foco tanto em línguas orais como em línguas sinalizadas, bem como os resultados encontrados na aquisição dessas línguas. No capítulo 4, é apresentada a metodologia utilizada durante a pesquisa, além do sistema de transcrição de dados para analisar línguas de sinais, elaborado pelo grupo de pesquisa relacionado ao projeto de aquisição da LSB da Universidade Federal de Santa Catarina, do qual este trabalho faz parte. Os passos seguidos para a realização desta são descritos detalhadamente, pois apesar de muitos aspectos serem protocolo padrão na transcrição em aquisição da linguagem, o fato de as pesquisas sobre a LSB serem escassas requer que esse tipo de cuidado seja tomado, para que outros pesquisadores tenham a possibilidade de realizar trabalhos semelhantes. De forma a tornar mais claro o trabalho realizado, é apresentada, no capítulo 5, a análise detalhada dos dados e os resultados encontrados. A análise está dividida em duas partes: na primeira, é feita uma descrição minuciosa dos dados encontrados, incluindo o levantamento estatístico dos mesmos; na segunda, a análise é direcionada para as construções com tópico e/ou foco, levando em consideração questões fundamentais como o contexto discursivo e as marcações não-manuais. No capítulo final, são apresentadas algumas discussões, conclusões e possibilidades de trabalhos futuros..

(19) 4 1 CARACTERIZAÇÃO DA TEMÁTICA. 1.1 AS LÍNGUAS DE SINAIS. A língua de sinais é a língua natural da comunidade surda. Ao contrário do que muitas pessoas pensam, ela não é universal, e cada país possui sua língua de sinais específica, que apresenta características distintas da língua falada pela comunidade local. Como qualquer outra língua, possui gírias e vocabulário diferente dependendo da região onde é usada. No Brasil, tem-se a língua de sinais brasileira (LSB), utilizada pela comunidade surda e objeto de estudo nesta dissertação, e também a língua de sinais indígena da tribo Urubu Kaapor (Ferreira Brito, 1995; Quadros, 1995). Durante muito tempo, as línguas de sinais foram consideradas apenas como gestos ou pantomima, incapazes de expressar conceitos abstratos. Até hoje, ainda há muito preconceito e desconhecimento sobre as mesmas, principalmente nos lugares onde a pesquisa nesta área ainda está iniciando e há poucos profissionais pesquisando e difundindo seu trabalho, não só para a comunidade acadêmica, como para a comunidade local em geral. As línguas de sinais só foram reconhecidas como língua quando surgiu um sistema de notação que pudesse representar a estrutura de seus sinais. Segundo Hoiting & Slobin (2002), os primeiros estudos que mencionam as línguas de sinais datam da década de 1960, com os trabalhos sobre a língua de sinais americana (ASL) realizados por Stokoe. Desta forma, as pesquisas sobre as línguas de sinais são muito recentes se comparadas às línguas faladas, que já possuem uma longa tradição. Além disso, a maioria delas ainda não está totalmente descrita em seus níveis fonológico, morfológico e sintático e carecem de maior investigação. Com relação à LSB, as pesquisas lingüísticas ainda são escassas, e há necessidade de mais trabalhos na área para que se.

(20) 5 melhore a descrição da mesma. Entre os trabalhos realizados destacam-se Ferreira-Brito (1995) e Quadros & Karnopp (2004). Quanto à estrutura, tanto as línguas de sinais quanto as línguas faladas apresentam as mesmas propriedades abstratas da linguagem, mas se opõem fortemente na sua forma na superfície. Enquanto as línguas orais são apresentadas na modalidade auditivo-oral, as línguas de sinais se apresentam na modalidade visual-espacial. Apesar desta diferença na modalidade de percepção e produção entre línguas de sinais e línguas orais, o termo “fonologia” é também utilizado para referir-se ao estudo dos elementos básicos das línguas de sinais. Estas têm os mesmos princípios subjacentes de construção que as línguas faladas, tendo à disposição um léxico, isto é, um conjunto de símbolos convencionais, e uma gramática, ou seja, um sistema de regras que regem o uso desses símbolos. Segundo Quadros e Karnopp (2004), a diferença fundamental entre línguas de sinais e línguas faladas diz respeito à estrutura simultânea de organização dos elementos das línguas de sinais. Enquanto as línguas orais apresentam uma ordem linear (uma seqüência horizontal no tempo) entre os fonemas, nas línguas de sinais além da linearidade, os fonemas são articulados simultaneamente. Os sinais são decompostos em três aspectos ou parâmetros que não carregam significados isoladamente. Assim, as unidades mínimas que constituem os sinais são: configuração de mão, locação da mão e movimento. Desta forma, uma mesma configuração de mão e um mesmo movimento, mas com locação diferente resulta em mudança de significado formando um par mínimo (como, por exemplo, os sinais para “aprender” e “sábado”). Pares mínimos também são encontrados a partir das configurações de mãos e dos movimentos, evidenciando, portanto, a existência das unidades sem significado na língua que implicam em mudança de significado da.

(21) 6 palavra. Análises mais recentes das línguas de sinais adicionam mais dois parâmetros ao estudo da fonologia de sinais: a orientação da mão e as marcas não-manuais (expressões faciais e corporais). Quanto à morfologia, assim como as palavras em todas as línguas humanas, os sinais pertencem a categorias lexicais ou a classes de palavras, tais como nome, verbo, adjetivo, advérbio, etc. As línguas de sinais têm um léxico e um sistema de criação de novos sinais em que os morfemas (as unidades mínimas com significado) são combinados. Porém, as línguas de sinais se diferenciam das línguas faladas no tipo de processos combinatórios que cria palavras morfologicamente complexas. Nas línguas orais, as palavras complexas são formadas, freqüentemente, pela junção de um prefixo ou sufixo a uma raiz. Já nas línguas de sinais, estas formas resultam, muitas vezes, de processos não-concatenativos em que um radical é enriquecido com vários movimentos no espaço de sinalização, como é o caso dos verbos com concordância (Quadros e Karnopp, 2004). Em relação à sintaxe espacial, esta apresenta a possibilidade de estabelecer relações gramaticais no espaço, através de diferentes formas. No espaço em que são realizados os sinais, o estabelecimento nominal e o uso do sistema pronominal são fundamentais para tais relações sintáticas. Qualquer referência usada no discurso requer a especificação de um local no espaço de sinalização (espaço definido na frente do corpo do sinalizador). Os pronomes são realizados por meio da apontação para um local específico no espaço (estipulado pelo sinalizador quando a pessoa estiver ausente), ou para a própria pessoa, se ela estiver presente. O sistema de verbos com concordância também é realizado espacialmente. Os sinais desses verbos se movem no espaço, carregando marcas para pessoa e número, através de indicações no espaço. Além disso, especificam o sujeito e o objeto do verbo..

(22) 7 Conforme Bellugi et al. (1989), este uso do espaço para indicar referentes, verbos com concordância e relações gramaticais é, claramente, propriedade única de um sistema visual-gestual, ou seja, específico das línguas de sinais. Esta diferença na forma de superfície entre línguas de sinais e línguas faladas possibilita novas investigações acerca da percepção e produção da linguagem. Estes são aspectos gerais comuns à estrutura das línguas de sinais. Entretanto, cada língua de sinais pode apresentar suas próprias regras, diferenciando-se em alguns parâmetros fonológicos, morfológicos e sintáticos específicos, assim como as línguas faladas também se diferenciam nestes aspectos.. 1.1.1 Aquisição da língua de sinais. A idéia que a maioria das pessoas tem é de que uma criança adquirindo a língua de sinais se depara com uma tarefa bem diferente daquela criança que adquire uma língua falada. Esta atividade envolve um conjunto diferente de mecanismos e a linguagem é percebida de forma distinta, por um sistema sensorial diferente. Apesar disso, estudos revelam que crianças surdas filhas de pais surdos adquirem a língua de sinais da mesma maneira que crianças ouvintes filhas de pais ouvintes adquirem a língua falada. Ou seja, os dois grupos de crianças passam pelos mesmos estágios do desenvolvimento, mais ou menos no mesmo período, e cometem os mesmos tipos de substituições. Estes resultados mostram que os mecanismos envolvidos na aquisição da linguagem (psicológicos, lingüísticos e neurais), não são específicos para a fala e a audição como muitas pessoas pensam. A seguir serão apresentados os estágios iniciais do desenvolvimento da linguagem em bebês surdos. É importante ressaltar que o termo ‘bebês surdos’, na.

(23) 8 apresentação dos estágios da aquisição da linguagem, refere-se às crianças surdas filhas de pais surdos, que adquirem a língua de sinais naturalmente, como as crianças ouvintes filhas de pais ouvintes.. 1.1.1.1 Balbucio manual. O surgimento do balbucio é um importante marco no início do desenvolvimento da linguagem. Segundo Bonvillian (1999), o balbucio oral é claramente percebido por volta dos seis a oito meses de idade em crianças ouvintes. Crianças surdas também balbuciam, mas o início desse balbucio é tardio em comparação com as crianças ouvintes. Além disso, esse balbucio é pobre em variação e não se desenvolve como nas crianças ouvintes, já que o indivíduo surdo não tem o retorno da audição em suas vocalizações e não tem experiências auditivas com a fala dos outros. No entanto, assim como as crianças ouvintes balbuciam antes de produzirem suas primeiras palavras, as crianças surdas balbuciam com suas mãos, antes de produzirem seus primeiros sinais (Petitto e Marantette, 1991). Este balbucio manual aparece nas crianças surdas filhas de pais surdos no final do primeiro ano de vida. Estudos mostram que crianças ouvintes também balbuciam manualmente e, segundo Meier (2000), diferentemente das crianças surdas produzindo balbucio oral, as crianças ouvintes recebem um retorno visual de seus gestos e vêem gestos não-lingüísticos produzidos pelos adultos a sua volta. De qualquer forma, o mais importante é que todos os bebês começam a descobrir a estrutura fonológica da sua língua, seja visual ou falada, através do balbucio. O fato de ambos, balbucio manual e oral, começarem no mesmo período durante o desenvolvimento sugere que ele reflete a maturação de um mecanismo mais geral que.

(24) 9 mapeia padrões perceptuais de estímulo (seja auditivo ou visual) com a sua produção motora (seja oral ou manual). O desenvolvimento desta conexão perceptual-motora permite que as crianças descubram as unidades que servem para expressar significados lingüísticos, falados ou sinalizados. Conforme Quadros (1997), “as semelhanças encontradas na sistematização das duas formas de balbuciar sugerem haver no ser humano uma capacidade lingüística que sustenta a aquisição da linguagem independente da modalidade da língua: oral-auditiva ou espaço-visual”.. 1.1.1.2 Primeiros sinais: estágio de um sinal. Muitos estudos sugerem que os primeiros sinais são produzidos mais cedo do que as primeiras palavras. Segundo Emmorey (2002), pais surdos reportam o aparecimento dos primeiros sinais em seus filhos por volta dos oito meses e meio, enquanto as primeiras palavras aparecem entre os dez e treze meses. Outro fato interessante é que as crianças ouvintes que estão adquirindo simultaneamente a ASL e o Inglês falado começam a sinalizar antes de começar a falar. Esta aparente precocidade na produção dos primeiros sinais baseia-se em um desenvolvimento motor diferente entre as mãos e o trato vocal. Entretanto, o que pode parecer uma vantagem em relação aos sinais é, na verdade, uma desvantagem da fala. Isto porque todas as crianças têm condições cognitivas e lingüísticas de produzir seus primeiros itens lexicais entre o oitavo e nono mês de vida, mas dificuldades perceptuais e articulatórias associadas à fala atrasam esse início de produção oral em crianças ouvintes. Já as crianças surdas não possuem estas restrições, e os primeiros sinais aparecem antes..

(25) 10 Entretanto, o que aparece antes das primeiras palavras pode ser, na verdade, apenas gestos e não sinais lexicais. Estes últimos são produzidos por volta dos catorze meses, e esta produção gestual faz parte do balbucio manual. Além disso, a questão da apontação, usada tanto por crianças surdas como por ouvintes para indicar pessoas e objetos, é interrompida pela criança surda quando esta entra no estágio de um sinal. Segundo Bellugi et. al. (1989), a criança surda faz uma reorganização do uso da apontação, quando isto passa de um simples gesto (no balbucio manual) para um elemento gramatical da língua de sinais (uso lingüístico). Assim, as primeiras palavras e os primeiros sinais (como itens lexicais) aparecem ambos por volta do primeiro ano de vida da criança, mostrando um mesmo período de desenvolvimento tanto para crianças ouvintes como para crianças surdas. Isto indica que o mecanismo maturacional que subjaz o desenvolvimento lexical independe dos sistemas articulatório e perceptual das duas modalidades.. 1.1.1.3 Estágio das primeiras combinações. As primeiras combinações de sinais surgem por volta dos dois anos de idade nas crianças surdas. Normalmente, a ordem utilizada pelas crianças neste estágio é SV, VO ou SVO, para estabelecer relações gramaticais. Uma das formas de estabelecer relações gramaticais é através do sistema pronominal, que nas línguas de sinais é feito com o uso da apontação. Entretanto, neste estágio, o uso do sistema pronominal ocorre de forma inconsistente. Bellugi et. al. (1989) realizaram um estudo em que constataram que o padrão da criança surda é semelhante ao da criança ouvinte. Por exemplo, assim como a criança ouvinte tem dificuldade com a reversibilidade dos pronomes EU e TU na língua falada, as crianças.

(26) 11 surdas apresentam o mesmo padrão na língua de sinais. Os pronomes, nesta última, são realizados por meio da apontação para si (EU) e para o outro (TU) e pode parecer fácil para a criança surda adquiri-los. Porém, elas cometem erros, como no caso de se referirem a si próprias com a apontação feita para o interlocutor. Apesar da aparente relação entre a forma e o significado da apontação, a criança não compreende o sistema pronominal rapidamente. Este fenômeno está relacionado de forma direta com o processo de aquisição da linguagem, assim como também a interrupção no uso da apontação mostrada no estágio anterior. Segundo Quadros (1997), “as semelhanças na aquisição do sistema pronominal entre crianças ouvintes e surdas sugerem um processo universal de aquisição de pronomes, apesar da diferença radical na modalidade”.. 1.1.1.4 Estágio de múltiplas combinações. Entre os dois anos e meio e três anos de idade, as crianças surdas parecem ter uma explosão de vocabulário, e distinções derivacionais começam a ocorrer nesse período (Quadros, 1997). A criança ainda não utiliza os pronomes para se referir aos objetos ou pessoas que não estejam presentes fisicamente. Além disso, ela não utiliza os substantivos associados com pontos no espaço, e as tentativas apresentam falhas na correspondência entre a pessoa e o ponto espacial. A partir dos três anos, a criança surda começa a utilizar o sistema pronominal com referentes ausentes no discurso, mas ainda comete alguns erros. Muitas vezes mais de um referente é estabelecido no mesmo ponto espacial. Com três anos e meio, ela inicia o uso de concordância verbal com referentes presentes, mas muitas vezes ocorre a chamada supergeneralização (Bellugi e Klima, 1990). Ou seja, a criança usa a.

(27) 12 concordância mesmo com verbos que não a aceitam. O uso correto da concordância ocorre entre os cinco e seis anos de idade. Outra posição sobre o uso da concordância é apresentada em Quadros, Lillo-Martin e Mathur (2001). As autoras observaram que quando há uso de concordância, há ocorrências corretas, ou seja, com verbos que pedem concordância. Além disso, Quadros e Lillo-Martin (2005) também analisaram detalhadamente as ocorrências de concordância precoce e chegaram à conclusão de que, apesar de haver poucas ocorrências, há uso correto da mesma desde muito cedo. Uma questão interessante refere-se à iconicidade nas línguas de sinais. Pode parecer que o fato de alguns sinais apresentarem uma relação direta entre significante e significado seja um facilitador para aquisição da linguagem na modalidade visualespacial. Entretanto, esse fato não é verdadeiro, visto que o sistema pronominal e a concordância não são adquiridos precocemente na língua de sinais. Desta forma, as crianças surdas adquirindo uma língua de sinais apresentam um desenvolvimento lingüístico semelhante às crianças ouvintes adquirindo uma língua oral, mostrando que a iconicidade/modalidade não altera o curso da linguagem.. 1.2 A TEORIA GERATIVA. A Teoria Gerativa apresenta uma natureza mentalista. Ela surgiu a partir dos estudos de Chomsky (1957), com base no pressuposto de que a linguagem é inata no ser humano, ou seja, é uma faculdade específica da mente humana. A faculdade da linguagem tem como componente principal um sistema de natureza computacional que gera representações mentais a partir de um conjunto de regras e princípios. Este sistema computacional que existe na mente de todos os falantes adultos de uma determinada língua é chamado de gramática, sendo que o estado inicial do referido sistema é.

(28) 13 nomeado de gramática universal (GU). Para Chomsky (1986, p. 23), a gramática universal é “uma teoria do estado inicial da faculdade da linguagem, anterior a qualquer experiência lingüística”. Os objetivos da teoria gerativa abrangem tanto a caracterização das gramáticas particulares das línguas humanas quanto à caracterização da GU como um conjunto de propriedades determinadas biologicamente, isto é, inatas. Desta forma, a relação entre o desenvolvimento deste conjunto somado à interação com o meio ambiente é o fator determinante para a construção de uma gramática particular na mente de cada indivíduo. Chomsky coloca algumas questões básicas como forma de definir o programa de investigação gerativista: 1) O que constitui o conhecimento da língua? 2) Como é adquirido o conhecimento da língua? 3) Como é usado o conhecimento da língua? 4) Como as propriedades da mente/cérebro ocorrem na mente humana? A resposta da primeira pergunta leva ao desenvolvimento da gramática gerativa de uma língua particular, ou seja, de uma teoria que se ocupa do estado da mente/cérebro do falante, um modelo que seja capaz de representar o sistema de conhecimentos particular desse falante. Já a questão dois, envolve os estudos sobre aquisição da linguagem, nos quais essa dissertação está inserida. Sua resposta está na especificação da GU e na forma como seus princípios interagem com a experiência, dando origem a uma língua particular. A resposta à questão três é estudada pelas teorias de performance, enquanto a questão quatro ainda não tem uma resposta. Apesar dos vários estudos realizados, os pesquisadores não têm muito a dizer sobre os mecanismos neuronais que suportam o conhecimento gramatical..

(29) 14 Além disso, Chomsky (1986) faz uma distinção entre língua externa (Elanguage) e língua interna (I-language). A primeira refere-se ao conjunto de ações e comportamentos reais de uso da língua, enquanto a segunda é a gramática internalizada pelos falantes de uma dada língua e está representada na mente/cérebro das pessoas. É a língua interna que é o objeto de estudo da teoria gerativa. Uma das preocupações trabalhadas pelo gerativismo é a questão da aquisição da linguagem, ou seja, a forma como a gramática se desenvolve na mente do falante e o papel específico que a mente humana tem neste processo. Para Chomsky, que vem de uma tradição racionalista, a mente humana desempenha um papel fundamental na aquisição da linguagem. Segundo esta concepção, as propriedades da linguagem são determinadas por princípios mentais de conteúdo especificamente lingüístico que se desenvolvem de forma predeterminada, sendo a aquisição da linguagem uma questão de maturação e desenvolvimento de um órgão mental biológico. Chomsky dá o nome de “Mecanismo de Aquisição da Linguagem”, doravante LAD (do inglês Language Acquisition Device), a este conjunto das estruturas mentais lingüísticas. Entretanto, o papel que o meio ambiente desempenha na aquisição da linguagem não é negado, pois a fala das pessoas que rodeiam a criança e as experiências vividas por ela são determinantes para dar início ao funcionamento do LAD, mas não determinam as propriedades finais alcançadas pelo sistema gramatical do adulto. Isto quer dizer que se a criança não estiver exposta a um ambiente lingüístico, ela não aprende a falar. Além disso, existem outros fatores - como os meios lingüístico, educacional e emocional - que não determinam o desenvolvimento ou o conteúdo final da linguagem, mas que desempenham um papel fundamental no grau de desenvolvimento da linguagem pela criança..

(30) 15 Uma questão importante, segundo Raposo (1992), refere-se ao “problema da projeção”, que consiste em identificar qual a relação existente entre os dados primários a que a criança tem acesso durante o período de aquisição da linguagem e o sistema de conhecimento final que caracteriza a competência lingüística do adulto. Isto porque o sistema final da competência do adulto é muito mais complexo - tanto quantitativa quanto qualitativamente - do que o sistema que caracteriza os dados primários da aquisição da linguagem. Desta forma, a questão da aquisição, segundo Raposo (1992, p. 37), leva à seguinte conclusão: (...) existe um mecanismo mental inato de aquisição que medeia entre os dados primários e a gramática final e que procede à projeção quantitativa e qualitativa que caracteriza o sistema final. Em síntese, a gramática final (o sistema da competência) é o resultado da interação entre os dados primários e o mecanismo mental de aquisição. A resolução do problema da projeção consiste, pois, em determinar tão precisamente quanto possível as responsabilidades respectivas do mecanismo de aquisição e dos dados primários no processo de aquisição e desenvolvimento do sistema final da competência do sujeito falante.. Para Chomsky (1986), essa questão está relacionada com o problema de Platão, que se refere ao fato de sabermos tanto, termos um conhecimento tão complexo da linguagem a partir de tão poucas evidências dadas no período da aquisição. A solução proposta por Chomsky para resolver esse problema é estipular que há um componente inato, um conjunto de princípios lingüísticos complexos que determinam a aquisição da linguagem. A essa característica inata específica, Chomsky dá o nome de “argumento da pobreza dos estímulos”. A teoria gerativa passou por diversas fases ao longo dos anos. Desde seu início, houve uma tensão entre a descrição e a explicação. O problema central estava na dificuldade em desenvolver um sistema que fosse, ao mesmo tempo, flexível para permitir a variação lingüística e restrito para explicar a rigidez encontrada no sistema de conhecimentos final do falante..

(31) 16 Assim, a primeira fase da teoria foi essencialmente descritiva. Chomsky apresentava uma preocupação com a explicação da linguagem, mas sua herança estruturalista mantinha a descrição de forma mais evidente. É conhecida como Teoria Padrão (Chomsky, 1965) e concebe as gramáticas como um sistema de regras que interagem entre si através de um número restrito de relações. As línguas humanas, dentro dessa concepção, apresentam dois tipos de regras: regras gerativas e regras transformacionais. De forma resumida, as regras gerativas derivam a estrutura profunda das sentenças e sobre esta se aplicam regras transformacionais, gerando a estrutura superficial. Devido à grande flexibilidade na construção de regras que poderiam gerar qualquer tipo de sentença, mesmo que esta tenha probabilidade nula de ocorrência em qualquer língua, dentre outros motivos, houve o desenvolvimento de um modelo alternativo, a Teoria Padrão Estendida (Chomsky, 1970). Neste modelo, a preocupação é restringir a possibilidade de regras e simplificar o seu formato. A teoria deixa de ser uma gramática unicamente de regras, passando a ser caracterizada por regras e princípios. Através dos princípios da teoria x-barra, as regras gerativas foram reduzidas a um pequeno número de opções. Além disso, as regras transformacionais perderam sua capacidade descritiva no momento em que passaram a ser consideradas através da relação do léxico com o sistema de regras de reescrita. Após a caminhada de aproximadamente uma década, a teoria gerativa chega ao modelo de Regência e Ligação (1981). Nessa etapa já se percebe uma maior capacidade explicativa, e o modelo não se limita mais a um sistema de regras, apresentando subteorias (teoria da ligação, teoria do caso, teoria-?, entre outras) que restringem as estruturas..

(32) 17 Dentro do arcabouço da teoria gerativa existe também a proposta de Princípios e Parâmetros (Chomsky e Lasnik, 1991) que compõem a faculdade da linguagem. É a partir dessa abordagem que são analisados os dados desta dissertação. Os princípios são as leis gerais que valem para todas as línguas naturais e compõem a Gramática Universal. Dessa forma, uma sentença que viola um princípio não é tolerada em nenhuma língua natural. Já os parâmetros são as propriedades que uma língua pode ou não apresentar e que são responsáveis pela diferença entre as línguas. Segundo Raposo (1986), eles “são uma espécie de comutadores lingüísticos cujo valor final e definitivo apenas é atingido durante o processo de aquisição, através da sua fixação numa das duas posições possíveis com base na informação obtida a partir do meio lingüístico ambiente”. O modelo sintático proposto por Chomsky e representado em Mioto et. al. (2004) apresenta o seguinte formato: DS SS PF. LF. Onde: - DS: estrutura profunda, do inglês Deep Structure; - SS: estrutura superficial, do inglês Superficial Structure; - PF: forma fonética, do inglês Phonetic Form; - LF: forma lógica, do inglês Logical Form.. Tal modelo auxilia na análise das sentenças das línguas naturais, consideradas como uma seqüência de sons (representada abstratamente por PF) que possui certo sentido estrutural (representada abstratamente por LF). A relação existente entre o som.

(33) 18 e seu significado se dá através da estrutura superficial – SS, que é a representação sintática da sentença a ser interpretada tanto fonética (PF) quanto semanticamente (LF). A estrutura profunda DS é formada anteriormente, ou seja, é o primeiro passo na construção de uma sentença. Ao consultar o léxico da língua, o falante seleciona as informações necessárias para que esta primeira estrutura se forme. A partir daí, ao passar de DS para SS, já ocorrem mudanças sintáticas que serão representadas finalmente por PF e interpretadas por LF. Como a língua de sinais é considerada uma língua natural independentemente de ser em uma modalidade diferente das línguas faladas, a proposta da teoria gerativa também se aplica a esta língua. O próprio Chomsky (1995) reconhece isto ao discutir sobre a interface “articulatório-perceptual”, conforme observado por Quadros e Karnopp (2004:29): “O trabalho nos últimos anos em línguas de sinais evidencia que essa concepção é muito restrita (...)”. Além disso, “as línguas de sinais parecem apresentar especial interesse nas pesquisas lingüísticas dentro da perspectiva gerativista. A razão de tal interesse está relacionada à possibilidade de determinar os princípios da GU independentemente da modalidade da língua. Se isso for possível, as línguas de sinais podem ser exemplos de línguas que fortalecem a proposta gerativista quanto à existência de um módulo da linguagem na mente/cérebro do ser humano” (Quadros, 1995)..

(34) 19 2 AQUISIÇÃO DA ORDEM DAS PALAVRAS. Neste capítulo, será abordada a questão da aquisição da ordem das palavras pela criança. Para isso, serão apresentados alguns estudos sobre línguas faladas e também sobre as línguas de sinais.. 2.1 NAS LÍNGUAS FALADAS. 2.1.1 Inglês. A ordem das palavras no inglês não é flexível. A ordem básica nessa língua é SVO. Para indicar a estrutura da informação, o falante do inglês não possui muitos recursos sintáticos e se utiliza de meios fonológicos, como a entonação e a acentuação, para tal. Entretanto, existem algumas construções pragmaticamente marcadas como as sentenças clivadas, passivas e topicalizadas, exemplificadas respectivamente em (1a), (1b) e (1c).. (1). a. It’s the dictionary that my neighbor lent me. b. The dictionary was lent to me by my neighbor. c. His manners I really hate.. (Dyakonova, 2004: 92, 93). Quanto à aquisição, a criança falante do inglês comete poucos erros em relação à ordem das palavras desde as primeiras combinações (Brown 1973 apud Pichler 2001). A grande maioria das primeiras sentenças ocorreu na ordem SVO, conforme exemplo do autor:.

(35) 20 (2). a. Fix bike. b. Mommy read. c. Drink juice.. (Pichler, 2001: 50). Dyakonova (2004) em um estudo comparativo entre o russo e o inglês observou que a criança falante do inglês (Eve) produziu 100% das sentenças na ordem VO nos primeiros meses analisados, ou seja, a partir de 1:9. Nenhuma sentença na ordem OV foi verificada. Quanto à ordem VS, houve duas ocorrências nos dados de Eve. Na primeira foi utilizado um verbo inacusativo, e na segunda, o verbo na posição inicial foi claramente produzido com intuito de ênfase. A ordem OSV também teve duas ocorrências, e essas construções mostram indicação de serem casos de topicalização. Esse pequeno número de produções em ordens não-canônicas indica que a linguagem da criança está seguindo o padrão da sua língua materna. Entretanto, os dados do inglês revelam que, apesar de a criança estar adquirindo uma língua com pouca flexibilidade, ela tem acesso aos componentes da estrutura de informação.. 2.1.2 Russo. Segundo Dyakonova (2004), o russo é uma língua em que a ordem das palavras é relativamente livre. Apesar dessa flexibilidade, a ordem SVO é dita a mais básica. As evidências para determinar o russo como uma língua de ordem SVO advêm de certas propriedades tais como o uso de preposições ao invés de posposições e a tendência de adjetivos qualificativos precederem substantivos (Greenberg, 1966). Outra evidência é o.

(36) 21 teste de pergunta-resposta, em que a resposta mais natural para uma pergunta como “O que aconteceu?” vai ser uma sentença na ordem SVO. A propriedade da linguagem que permite a flexibilidade no russo é o seu rico sistema morfológico. Os papéis temáticos dos argumentos em uma sentença podem ser atribuídos por meio da marcação de caso ao invés da forma estritamente configuracional. Dyakonova apresenta como exemplo a sentença (3) do inglês que pode corresponder perfeitamente com duas sentenças do russo (4).. (3). Raffael kissed Eva.. (Dyakonova, 2004:91). (4). a. Raffael. (Dyakonova, 2004:91). potzeloval Evu.. Raffael.nom. kissed. Eva.acc.. b. Evu. potzeloval Raffael.. Eva.acc.. kissed. Raffael.nom.. Embora a interpretação temática dos argumentos em russo não seja alterada pela sua reordenação, as sentenças (4a) e (4b) diferem no significado. Dependendo da sua posição na sentença, o DP tem uma interpretação pragmática diferente em russo. Outra questão dessa língua é que o russo permite construções com verbo inicial, seguindo a restrição de intransitividade. Com verbos transitivos, as construções com verbo inicial são muito raras. Quanto à estrutura de informação, o russo utiliza a ordem das palavras para marcar o status informacional dos elementos em uma sentença. O russo usa produtivamente o movimento do DP, produzindo diferentes interpretações para a sentença dependendo da posição dos argumentos. A principal restrição é que o tópico.

(37) 22 não pode aparecer na posição pós-verbal, caso contrário seria interpretado como foco de informação. O foco de identificação pode ser interpretado imediatamente antes do verbo ou na posição inicial da sentença. Após essa breve descrição da ordem das palavras em russo, Dyakonova (2004) apresenta os dados de um estudo sobre a aquisição do russo, nos quais leva em consideração o desenvolvimento da estrutura de informação pela criança. O objetivo era mostrar evidências de que a criança tem acesso à estrutura de informação desde os primeiros estágios do desenvolvimento da linguagem. Sua hipótese é a de que a estrutura de informação é adquirida em paralelo com a sintaxe, ao contrário da afirmação corrente de que o início da linguagem da criança é puramente manifestação do desenvolvimento morfossintático. Os dados analisados pela autora são de um estudo longitudinal de fala espontânea de uma menina (Varvara) adquirindo o russo como língua materna. O período observado compreendeu as idades de 1:6 a 2:10. Foram selecionadas para a análise as produções com pelo menos duas palavras, para ser possível investigar a ordem das mesmas. O contexto em que uma sentença foi produzida também foi levado em conta, dado o tipo de fenômeno gramatical investigado, ou seja, a estrutura da informação que está associada com a interface sintaxe e pragmática. Por isso, a análise da produção do adulto se fez necessária. Como resultado, foi observado que a menina, desde os primeiros registros, utilizou ambas as ordens VO e OV. Isto já era esperado devido às propriedades da língua em questão, como mostra a Tabela 2.1:.

(38) 23 Idades 1:6 1:7 1:8 1:10 2:0 2:4 2:10. Ordem VO 40% 40% 58% 66% 57% 60% 40%. Ordem OV 60% 60% 42% 34% 43% 49% 60%. Tabela 2.1: Porcentagem das construções VO e OV na produção de Varvara. Entretanto, apesar de sua língua materna ter a ordem SVO como básica, nos dois primeiros meses analisados a produção da ordem OV foi maior em relação à ordem VO (60% e 40%, respectivamente). Analisando a produção do input de Varvara, Dyakonova percebeu que este apresenta uma produção maior de ordem OV do que VO, sendo que este fato está relacionado à freqüência no uso de objetos pronominais com a ordem OV, ao invés de NPs completos. Assim, a autora concluiu que a predominância no uso da ordem OV nos primeiros meses reflete uma supergeneralização da regra da posição de objeto pronominal (o qual não deve aparecer na posição final da sentença). Como resultado, não apenas os pronomes como também os NPs completos na posição de objeto estão precedendo o verbo nas construções de Varvara. Além disso, o uso da ordem das palavras indica que a menina apresentou um desenvolvimento em forma de U. Ela começou com o uso predominante de OV, posteriormente produziu mais na ordem VO e finalmente a ordem OV prevaleceu de novo. Essa predominância da ordem OV com 2:10 é explicada pelo fato de a menina já estar utilizando os pronomes produtivamente. Quanto à ordem VS, esta também foi produzida por Varvara. As construções com verbo inicial, conforme descrito anteriormente, restringem-se a intransitivos. Nos dados da criança foram observadas 19 sentenças na ordem VS, de um total de 609. Dessas 19, 13 construções foram realizadas com verbos inacusativos. Analisando o.

(39) 24 status informacional das sentenças pelo contexto, é possível determinar que a escolha da ordem VS foi para enfatizar o verbo. Esta estratégia também é observada no padrão adulto do russo. Na verdade, este é o único caso em que o sujeito pode ser pós-verbal no russo, isto é, quando o foco está no verbo. Varvara produziu também sentenças na ordem OSV. Todas as construções com objeto inicial na produção dela são instâncias de topicalização do objeto e estão de acordo com o padrão adulto do russo. Os dados apresentados acima fornecem evidências de que há manifestação da estrutura de informação desde cedo na produção da criança. O uso da ordem das palavras para expressar diferentes informações mostra que a criança tem consciência desse recurso lingüístico e o utiliza para marcar o status informacional dos constituintes de uma sentença.. 2.2 NAS LÍNGUAS DE SINAIS. De modo geral, as línguas de sinais são línguas organizadas de forma espacial, tão complexas, quanto às línguas oral-auditivas. Através da organização espacial das línguas de sinais, como por exemplo a LSB e a ASL, é possível estabelecer relações gramaticais no espaço de diferentes formas. Assim, ao se fazer uma referência no discurso, é necessário o estabelecimento de um local no espaço de sinalização que, segundo alguns autores, dependerá de vários mecanismos espaciais para indicar o referente. Como exemplo, têm-se as seguintes possibilidades: fazer o sinal em um local particular, usar um verbo direcional quando o referente for óbvio, usar um classificador em uma localização particular, etc..

(40) 25 Na língua de sinais brasileira, os sinalizantes estabelecem os referentes associados à localização no espaço, sendo que estes referentes podem ou não estar presentes fisicamente. Os sinais manuais são normalmente acompanhados por expressões faciais que podem ser consideradas gramaticais e são chamadas de marcações não-manuais. Quanto à ordem básica da frase, Greenberg (1966) mostra que são possíveis seis combinações de sujeito (S), objeto (O) e verbo (V), sendo que algumas delas são mais freqüentes do que outras. Mesmo havendo variação na ordem das palavras nas línguas, cada uma vai eleger uma ordenação de palavras dominante. Greenberg ainda constata que essa ordem dominante em cada língua sempre será SOV, SVO ou VSO. A seguir serão apresentados os dados sobre a aquisição da ordem das palavras nas línguas de sinais americana (ASL), holandesa (SLN) e brasileira (LSB).. 2.2.1 Língua de sinais americana (ASL). Em Pichler (2001), a autora propõe examinar duas generalizações propostas em estudos anteriores sobre a ordem das palavras em línguas faladas. A primeira generalização diz que os parâmetros da ordem das palavras são ajustados universalmente cedo. Já a segunda propõe que a variação na ordem das palavras em línguas com flexão rica e regular é adquirida antes daquelas com flexão pobre ou irregular. Os dados analisados para tal foram de quatro crianças surdas, filhas de pais surdos, entre vinte e trinta meses de idade aproximadamente, adquirindo a língua de sinais americana como primeira língua. Segundo a autora, a ordem canônica da ASL é SVO, mas outras ordens também são possíveis e freqüentes na produção do adulto. Elas são derivadas da ordem SVO.

(41) 26 através de operações sintáticas (movimentos). Os sujeitos pós-verbais (VS) são bastante limitados na ASL e com exceção dos subject tags, os sujeitos com NPs completos não podem aparecer na posição pós-verbal, conforme exemplo o (5) abaixo:. (5). BABY SLEEP. (Pichler, 2001: 16). *SLEEP BABY The baby is sleeping.. Entretanto, o sujeito na forma de pronome é permitido em posição pós-verbal ou em posição final da sentença e resulta de uma cópia do sujeito (6). Este processo é chamado de cópia do pronome-sujeito e sua função pragmática é de confirmação ou ênfase.. (6). (BABY) SLEEP IX (baby). (Pichler, 2001: 113). ‘(The baby) is sleeping (he is).’. A cópia do sujeito necessariamente deve ser um pronome; NPs completos nesta posição são agramaticais. Pesquisas revelam que essas estruturas são acompanhadas de movimentos de cabeça, indicando confirmação, conforme o exemplo (7):. hn. (7). MOTHER SICK SHE ‘My mother is sick (she is). ’. (Pichler, 2001: 17).

(42) 27 Com freqüência, a cópia do pronome-sujeito ocorre juntamente com elementos nulos, resultando numa ordem V(O)S, em que o único elemento declarado é o pronome cópia, como em (8):. hn. (8). Ø EAT (SUSHI) HE. (Pichler, 2001: 18). ‘(My husband) eats (sushi) (he does). ’. A outra ordem possível refere-se aos objetos pré-verbais, que normalmente são agramaticais em ASL, conforme o exemplo (9) abaixo:. (9). FORGET NUMBER. (Pichler, 2001: 113). *NUMBER FORGET ‘(She) forgot the number.’. Entretanto, esta ordem pode ser gramatical quando licenciada por topicalização do objeto. Os tópicos em ASL são acompanhados por uma marcação não-manual específica, cujo escopo é mostrado por uma linha, conforme o exemplo (10):. top. (10). NUMBER, (SHE) FORGET. (Pichler, 2001: 114). ‘The number, (she) forgot (it).’. A marca não-manual de tópico pode incluir uma combinação de vários traços não-manuais como: elevação das sobrancelhas, inclinação da cabeça, elevação do queixo, o arregalar dos olhos, inclinação do corpo, entre outros. Desta lista, a elevação.

(43) 28 das sobrancelhas é universalmente considerada como a mais saliente e o único componente obrigatório da marcação não-manual de tópico. Sem a elevação das sobrancelhas, os tópicos são considerados inaceitáveis. Outra possibilidade de gerar objetos pré-verbais refere-se a condições morfológicas, cujas ocorrências incluem os verbos manuais, os verbos com aspecto e os verbos espaciais. A questão que gira em torno desses verbos é se a ordem OV é obrigatória nestes contextos. Segundo a autora, esta idéia parece convincente, em vista de outros estudos conflitantes quanto à aceitabilidade da ordem SVaspO, que o objeto pré-verbal obrigatório é uma característica dialetal da ASL. O ponto crucial é que a ordem OV está disponível, independentemente do dialeto. O mesmo serve para os verbos manuais e espaciais. Após conversar com sinalizantes nativos, Pichler verificou que eles aceitam ambas as ordens (VO e OV) para certos verbos, enquanto outros necessitavam especificamente a ordem OV. A autora ainda não encontrou uma explicação para o fato de que a ordem OV é obrigatória em alguns contextos, mas não é em outros. Como esta ordem é normalmente agramatical com verbos simples, a autora acredita que deve haver questões morfológicas que licenciam esta ordem não-canônica. Assim, ela propõe agrupar estes verbos (manuais, aspectuais e espaciais) em uma única categoria, chamada de “reordenação morfológica”. Segue abaixo exemplos destes três tipos de verbos, respectivamente (11a), (11b) e (11c):. (11). a. Verbos manuais:. (Pichler, 2001: 115). SHOES TAKE-OFF ‘(In Japan, before entering a house, people) take off their shoes.’. b. Verbos com aspectos:. (Pichler, 2001: 115).

(44) 29 PAPER TYPEasp ‘(She was) typing (and typing) her paper.’. c. Verbos espaciais:. (Pichler, 2001: 115). MONEY PUT-on-table ‘Just put the money on the table.’. Segundo Pichler, estudos anteriores sobre a ordem das palavras em ASL se restringem basicamente a dois autores: Hoffmeister (1978) e Schick (2001). Esses estudos são aparentemente contraditórios. No primeiro, os achados revelam forte preferência pela ordem canônica SVO na combinação espontânea de sinais dos três sujeitos analisados, enquanto que, no segundo estudo, as crianças surdas de vinte e quatro meses de idade produziram alta variabilidade na ordem das palavras na sua produção espontânea. Já os dados em Pichler revelam que as crianças surdas usaram a ordem canônica das palavras de forma inconsistente, de forma similar às crianças em Schick (2001). Entretanto, este resultado não indica necessariamente falha no ajuste do parâmetro da ordem das palavras, ao contrário, indica que as crianças estão usando uma ordem gramatical variada das palavras decorrente da ordem canônica. Para testar esta possibilidade, todos os exemplos de ordem VS e OV realizados pelas crianças foram analisados para identificar evidências de operações de reordenação que licenciam ordens gramaticais VS e OV na produção de ASL em adultos. Os critérios para a identificação das operações de reordenação estão resumidos no quadro 2.1:.

(45) 30. Operação de reordenação Cópia do pronome-sujeito OV aspectual OV espacial. OV manual Topicalização de objeto. Característica Identificada O sujeito pós-verbal é um pronome. O verbo é repetido com movimentos grandes ou produzido com grande duração. O verbo é direcionado para um lugar específico com fixação do olhar ou diretamente articulado sobre o objeto. O verbo é sinalizado com um classificador manual. O primeiro objeto é marcado com a elevação das sobrancelhas.. Quadro 2.1: critérios para identificação das operações de reordenação. Em relação às combinações de sujeito e verbo, todas as quatro crianças preferiram sujeitos pronominais a NPs completos em posição pós-verbal, de acordo com o processo de cópia de pronome-sujeito. Um exemplo dado é o (12):. (12). I SEARCHasp I. (Pichler, 2001: 116). ‘I’m looking and looking (for my shoes).’. Quando consideradas juntas, as ordens SV e VS gramaticais em todas as sessões superam a porcentagem de 95% em cada criança. Estes dados indicam que o conhecimento da ordem sujeito-verbo torna-se igual ao padrão adulto cedo, normalmente antes dos vinte e dois meses de idade. Quanto à ordem OV gramatical devido à reordenação morfológica, ela foi também identificada nos dados das quatro crianças, conforme exemplos (13a) e (13b):. (13). a. YELLOW THROW-into the corner ‘I threw the yellow one (ball) into the corner.’. (Pichler, 2001: 117).

(46) 31 b. CAT SEARCHasp. (Pichler, 2001: 117). ‘I’m looking and looking for the cat.’. Em geral, verbos espaciais e manuais foram mais comuns do que os verbos aspectuais e ocorreram em ambas VO e OV ordens. Esta variação está de acordo com o padrão gramatical adulto, que permite flexibilidade na ordem das palavras com vários verbos espaciais e manuais. Entretanto, a ordem OV para verbos com aspecto é obrigatória para alguns sinalizantes e opcional para outros. Esta diferença parece ser dialetal, e uma das crianças mostrou que está ciente desta restrição em seu dialeto. Em algumas sentenças, as crianças produziram erros de supergeneralização, marcando morfologia espacial e manual em verbos que normalmente não as aceitam. Embora as crianças tenham cometido erros na sua avaliação quanto aos verbos que suportam reordenação morfológica, estes erros constituem evidências de que elas reconhecem a relação entre a reordenação morfológica e a flexibilidade na ordem das palavras. No geral, foi verificado que a variação na ordem das palavras observada na produção inicial das crianças não é casual e reflete a variação permitida na língua adulta. Um achado importante refere-se à topicalização. Uma das crianças fez pouco uso de reordenação morfológica e sua produção na ordem OV aponta para o uso precoce da topicalização. Um exame das combinações OV desta criança, que não estavam justificadas pela reordenação morfológica, revelou que aproximadamente metade delas tinha como característica uma pausa prosódica entre o objeto e o verbo, sugerindo topicalização, apesar de não apresentar a marcação não-manual obrigatória na ASL, no padrão adulto. Segundo Pichler (2001), na língua de sinais israelense (ISL) estas pausas.

Referências

Documentos relacionados

Após a colheita, normalmente é necessário aguar- dar alguns dias, cerca de 10 a 15 dias dependendo da cultivar e das condições meteorológicas, para que a pele dos tubérculos continue

Atualmente existem em todo o mundo 119 milhões de hectarS destinados a plantações florestais, dos quais 8,2 milhões na América do Sul. No Brasil, em 1997 havia cerca de 4,7 milhões

A avaliação ao serviço das aprendizagens, deve obrigatoriamente ter em conta os conhecimentos de que os alunos já têm, proporcionando desta forma uma

O objetivo do curso foi oportunizar aos participantes, um contato direto com as plantas nativas do Cerrado para identificação de espécies com potencial

Cândida Fonseca Duração e local: 11/09/2017 a 03/11/2017 – Hospital São Francisco Xavier Objectivos e actividades desenvolvidas: Os meus objectivos centraram-se na

6 Num regime monárquico e de desigualdade social, sem partidos políticos, uma carta outor- gada pelo rei nada tinha realmente com o povo, considerado como o conjunto de

Com a mudança de gestão da SRE Ubá em 2015, o presidente do CME de 2012 e também Analista Educacional foi nomeado Diretor Educacional da SRE Ubá e o projeto começou a ganhar

Also due to the political relevance of the problem of repressing misguided employment relationships, during the centre-left Prodi Government (2006-2008) and the