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Contribuições do design sustentável para agricultura urbana em Curitiba: uma proposta a partir do estudo da horta comunitária do Cajuru

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Academic year: 2021

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LAYSSA KMIECIK

CONTRIBUIÇÕES DO DESIGN SUSTENTÁVEL PARA AGRICULTURA URBANA EM CURITIBA: uma proposta a partir do estudo da Horta Comunitária do Cajuru

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

CURITIBA 2018

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CONTRIBUIÇÕES DO DESIGN SUSTENTÁVEL PARA AGRICULTURA URBANA EM CURITIBA: uma proposta a partir do estudo da Horta Comunitária do Cajuru

Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado à disciplina TCC 2, do Curso de Tecnologia em Design Gráfico da Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR, como requisito parcial para a obtenção do título de Tecnóloga em Design Gráfico.

Orientador: Prof. Dr. André de Souza Lucca

CURITIBA 2018

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TERMO DE APROVAÇÃO

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO 091

Contribuições do Design Sustentável para a agricultura urbana em Curitiba: uma proposta a partir do estudo da Horta Comunitária do Cajuru

por

Layssa Kmiecik – 1861387

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado no dia 30 de novembro de 2018 como requisito parcial para a obtenção do título de TECNÓLOGO EM DESIGN GRÁFICO, do Curso Superior de Tecnologia em Design Gráfico, do Departamento Acadêmico de Desenho Industrial, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná. A aluna foi arguida pela Banca Examinadora composta pelos professores abaixo, que após deliberação, consideraram o trabalho aprovado.

Banca Examinadora: Profa. Eunice Liu (Dra.) Avaliadora Indicada DADIN – UTFPR

Profa. Elaine Garcia de Lima (Dra.) Avaliadora Convidada

DADIN – UTFPR

Prof. André de Souza Lucca (Dr.) Orientador

DADIN – UTFPR

“A Folha de Aprovação assinada encontra-se na Coordenação do Curso”. Departamento Acadêmico de Desenho Industrial

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Agradeço primeiramente à toda a equipe da Secretaria Municipal de Abastecimento e aos beneficiários da Horta Comunitária do Cajuru, quais me receberam com muita atenção e seriedade, sem medir esforços para viabilizar a execução do presente trabalho. Em especial, agradeço à Maria Imaculada, quem me apresentou às Hortas e me acompanhou durante as visitas, sempre muito solícita e atenciosa.

À Marcelo Silvério, que sempre esteve disponível para conversar e trocar informações sobre as PANCs, e que foi um dos responsáveis por me apresentar esse novo universo de espécies, além de mudar meu ponto de vista pessoal a respeito da produção e consumo de alimentos.

Agradeço imensamente aos professores que me auxiliaram em todo o processo, às críticas construtivas, às considerações e ao apoio. Em especial, agradeço as contribuições da banca de qualificação, composta pelas professoras Eunice Liu e Elaine Garcia e o professor orientador André Lucca, sem as quais o trabalho não teria chegado a forma como está hoje e a professora Milena Gogola pela sua contribuição.

Agradeço também à professora da UFPR Selma Cubas, quem me apresentou a existência das Hortas Urbanas em Curitiba, e possibilitou o contato entre mim e a SMAB.

Dentre os professores, agradeço em especial à paciência e dedicação do meu orientador, o qual acreditou no meu potêncial e orientou o processo de desenvolvimento do trabalho de forma a agregar o máximo de conhecimento possível para o trabalho, mas principalmente para mim enquanto aluna.

Agradeço também, com muito carinho, por todo apoio e compreensão que recebi da minha namorada Duda Berlitz, minha mãe Nilvair Kmiecik e minha irmã Grazieli Kmiecik, que me deram suporte, ouvidos, conselhos e várias doses de amor e motivação para chegar aqui.

Por fim, agradeço de maneira geral aos colegas do curso de Design Gráfico, professores, funcionários e todos que de alguma forma fizeram a diferença durante estes meses de realização do presente trabalho, e também durante toda a minha formação.

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AGRICULTURA URBANA EM CURITIBA: uma proposta a partir do estudo da Horta Comunitária do Cajuru. 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Tecnologia em Design Gráfico. Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Curitiba, 2018.

O presente trabalho perpassa a perspectiva das abordagens do Design Sustentável frente a reorientação dos modelos de cultivo e consumo de alimentos nas iniciativas de Hortas Urbanas em Curitiba. Como objetivo, buscou-se estudar um conjunto de recomendações e orientações para projetos que visam contribuir para comunicar os potenciais das Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANCs) nativas da região Sul e incentivar o seu cultivo e consumo como uma forma de valorizar a biodiversidade local e promover a autonomia e segurança alimentar nas comunidades participantes destas iniciativas. Os estudos foram concentrados na Horta Comunitária do Cajuru. Este recorte foi determinado em razão do importante papel desempenhado por esta iniciativa que busca introduzir o cultivo das PANCs como estratégia de fortalecimento da segurança alimentar na comunidade. O presente trabalho possui caráter qualitativo e os procedimentos metodológicos utilizados no seu desenvolvimento foram a pesquisa bibliográfica, a pesquisa documental, a pesquisa de campo e os levantamentos. Como resultado, este trabalho gerou um compilado de recomendações e orientações de projeto baseadas na introdução das PANCs nativas da região Sul brasileira como forma de guiar os gestores da Horta do Cajuru para que estes possam programar ações possíveis de serem tomadas dentro da dinâmica da Horta, endereçando suas iniciativas para a valorização da biodiversidade local e o fortalecimento da autonomia e segurança alimentar. Para a área do Design, este trabalho procura orientar a participação dos designers em projetos com objetivos análogos e aponta um papel para o Design nas iniciativas de desenvolvimento local e sustentável.

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KMIECIK, Layssa. CONTRIBUTIONS OF SUSTAINABLE DESIGN IN THE CAJURU COMMUNITY GARDEN: recommendations and project guidelines. 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Tecnologia em Design Gráfico. Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Curitiba, 2018.

The present work is based on the perspective of the Sustainable Design approaches to the reorientation of the models of cultivation and food consumption in the initiatives of Urban Gardens in Curitiba. The objective was to study a set of recommendations and guidelines for projects that aim to contribute to the communication of the potential of the Non-Conventional Food Plants (NFPs) of the Southern Region and to encourage their cultivation and consumption as a way to value local biodiversity and promote autonomy and food security in the communities participating in these initiatives. The studies were concentrated in the Community Garden of Cajuru. This cut was determined by the important role played by this initiative that seeks to introduce the cultivation of PANCs as a strategy to strengthen food security in the community. The present work has a qualitative and quantitative character and the methodological procedures used in its development were bibliographic research, documentary research, field research and surveys. As a result, this work generated a compilation of recommendations and project guidelines based on the introduction of the native PANCs of the Brazilian South region as a way to guide the managers of the Horta do Cajuru so that they can program possible actions to be taken within the Horta dynamics, addressing its initiatives for the valorization of local biodiversity and the strengthening of autonomy and food security. For the area of Design, this work seeks to guide the participation of designers in projects with similar objectives and points out a role for Design in local and sustainable development initiatives.

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1.1 Objeto... 12 1.2 Problema... 12 1.3 Hipótese... 13 1.4 Justificativa... 14 1.5 Delimitação do Tema... 15 1.6 Objetivo Geral... 15 1.7 Objetivos Específicos... 16 1.8 Estrutura do Trabalho... 16 2. PROCEDIMENTO METODOLÓGICOS... 18 2.1 Método de Abordagem... 18 2.2 Métodos de Procedimento... 18 2.3 Técnicas... 21 3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA... 22 3.1. Design Sustentável... 22 3.1.1 Inovação Sistêmica... 23

3.1.2 Inovação Social – Comunidades Criativas... 24

3.2 Design de Sistemas para a Sustentabilidade... 27

3.2.1 Design para Equidade e Coesão Social... 29

3.2.2 Design para o Território... 31

3.2.3 Relação entre o Design para o Território e o Design de Sistemas para a Sustentabilidade... 34

3.4 Movimento Slow Food e o consumo responsável... 35

3.5 Permacultura e Cultivo Sustentável... 38

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3.6.2 Hábitos Alimentares Brasileiros... 47

3.6.3 Autonomia e Segurança Alimentar e as Inovações Sociais... 49

3.6.4 Hortas Urbanas: um caso promissor de Inovação Social... 50

3.6.5 Agricultura Urbana... 51

3.6.6 Agricultura Urbana em Curitiba... 52

3.6.7 Horta Comunitária do Cajuru... 57

3.6.8 PANCs – Plantas Alimentícias não Convencionais... 57

3.6.9 PANCs e a Autonomia e Segurança Alimentar... 58

3.6.10 Propação das PANCs... 59

3.6.11 Cultivo das PANCs... 60

4. RESULTADOS... 62

4.1 Embasamento Teórico versus Delimitação do Campo de Pesquisa... 62

4.2 Pesquisa de Campo... 65

4.3 PANCs Nativas da Região Sul Brasileira ... 82

4.4 Diagnóstico Local... 90

4.5 Conjunto de recomendações e indicações para a comunicação dos potenciais e das qualidades das PANCs nativas da região sul brasileira... 94 4.5.1 Orientações para o cultivo sustentável de PANCs nativas na Horta Comunitária do Cajuru... 96 4.5.2 Orientação para um consumo responsável de PANCs nativas na Horta Comunitária do Cajuru... 101 4.5.3 Orientação para comunicar o potencial das PANCs nativas na Horta Comunitária do Cajuru... 106

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EMUDE Emerging Users Demands for Sustainable Solutions

HCU Hortas Comunitárias Urbanas

HE Hortas Escolares

HI Hortas Institucionais

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

ICSID International Council of Society in Industrial Design

ONU Organização das Nações Unidas

PANCs Plantas Alimentícias Não Convencionais

PSS Sistema Produto Serviço

PUC-PR Pontifícia Universidade Católica do Paraná

SMAB Secretaria Municipal de Abastecimento de Curitiba UFPR Universidade Federal do Paraná

USP Universidade de São Paulo

UTFPR Universidade Tecnológica Federal do Paraná

VIGITEL Vigilância de Fatores de Risco e Proteção por Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico.

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1 INTRODUÇÃO

Desde que a sociedade adotou um modelo de produção e consumo insustentável como o que é praticado desde a Revolução Industrial até hoje, várias consequências nocivas foram sendo deixadas para trás e, em função disso, atualmente, têm-se dado mais importância à questões que envolvem a preservação dos recursos ambientais e a sustentabilidade de uma maneira geral (MANZINI, 2005).

Um dos efeitos colaterais provenientes da industrialização diz respeito aos hábitos alimentares pois, a partir da mudança na rotina causada pela Revolução Industrial, a sociedade passou a consumir alimentos processados e prejudiciais a saúde, diminuindo consideravelmente a ingestão de comidas frescas e naturais, como frutas e verduras.

Tal mudança culminou em um quadro social onde a alimentação é responsável pelo surgimento de várias doenças, como obesidade, diabetes, hipertensão, problemas cardíacos, entre outros, além de ser a principal causa relacional de mortes atualmente no cenário mundial (AFP, 2017).

Frente a essas circunstâncias, surgem iniciativas que são consideradas como casos promissores de inovação social (MANZINI, 2008), que possuem como objetivo desenvolver novos modelos e meios de produção e consumo contrários aos que são praticados atualmente por grande parcela da sociedade.

As Hortas Urbanas de Curitiba, projeto pertencente ao Programa de Agricultura Urbana da Prefeitura, existe há mais de trinta anos e é um exemplo de iniciativa promissora que tem por objetivo a utilização e revitalização de vazios urbanos como espaços de cultivo orgânico de alimentos.

Dentre as Hortas Urbanas criadas a partir do Programa, está a Horta Comunitária do Cajuru, inaugurada em Julho de 2017 e, mesmo com pouco tempo de existência, atualmente, é uma das Hortas mais promissoras e com maior autonomia.

Além do cultivo de alimentos convencionais, a referida Horta diferencia-se das demais iniciativas do Programa e de outros modelos agrícolas em geral, pois realiza o cultivo de Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANCs), espécies pouco usuais mas que, de acordo com Kinupp (2014), possuem grande potencial nutricional ainda pouco explorado e podem desempenhar importante papel frente a garantia de Segurança e Autonomia Alimentar.

O designer interessado em desempenhar o papel social de sua profissão deve estar atento à sua capacidade de atuação em relação a iniciativas de inovação social como a supracitada Horta do Cajuru, pois estas possuem grande importância

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para o desenvolvimento sustentável, uma vez que representam uma reorientação do padrão de produção e consumo (MANZINI, 2008).

Atualmente, a atuação do Design Sustentável é mais especializada, isto em função de consecutivas mudanças nas abordagens projetuais do Design, que foram surgindo com o passar do tempo e com o surgimento de novas demandas relacionadas à sustentabilidade.

No início dos anos 90, o foco do Design estava no desenvolvimento de produtos com baixo impacto ambiental. A atenção era dada para os materiais tóxicos e nocivos, os materiais naturais, o gerenciamento do lixo, especialmente a reciclagem de materiais e a incineração para recuperar a energia contida e a biodegradabilidade. Neste contexto surgem as abordagens de Design orientadas para reciclagem (coleta, transporte, desmontagem, limpeza, identificação e produção de matérias-primas secundárias), com foco no uso de recursos renováveis (tanto energéticos quanto materiais): pesquisa e desenvolvimento de diferentes fontes alternativas (solar, eólica, hidráulica, hidrogênio e biomassa) e sua integração nos sistemas de produção (MANZINI, 2005).

Já durante a segunda metade dos anos 90, a atenção foi deslocada para o projeto do ciclo de vida do produto. Este conceito recomendava a análise do projeto durante as fases do seu ciclo de vida, ou seja, todas as atividades necessárias para produzir os materiais do produto, o próprio produto, a sua distribuição, seu uso e, finalmente, seu descarte (MANZINI, 2005).

Ao longo dos últimos anos, a partir de uma interpretação mais exata da sustentabilidade – que aponta para mudanças radicais nos modelos de produção e consumo – a atenção foi deslocada para a inovação de sistemas ecoeficientes. Usualmente chamados de Sistema de Produto-Serviço (PSS), uma inovação de sistema é o “resultado de uma estratégia inovadora que desloca o centro dos negócios, do projeto e da venda de produtos isolados, para oferecer produtos e sistemas de serviços que, conjuntamente, podem satisfazer demandas específicas” (VEZZOLI, 2010).

Neste contexto, o processo de conceituação do Design se desloca do pensamento funcional para o pensamento de satisfação, a fim de enfatizar e ser mais coerente com o alargamento do escopo do design, de um produto único para um sistema mais amplo, que atenda a uma dada demanda de necessidades e desejos.

Portanto, percebe-se que historicamente, desde que a questão ambiental passou a ser evidenciada, durante a segunda metade do século passado, a forma de lidar com os problemas mudou de uma abordagem focada, exclusivamente, em sistemas de despoluição, para a busca da inovação visando reduzir o problema da poluição diretamente na fonte.

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Em outras palavras, as mudanças foram de intervenções, depois que os danos já haviam sido causados, para intervenções no processo. E posteriormente, de intervenções em produtos e serviços, para intervenções nos padrões de consumo.

Devido às características dessa evolução, o papel do design apresenta um claro crescimento. Suas responsabilidades passam de soluções técnicas para soluções atrativas, visto que não se alcança uma inovação radical se ninguém a deseja.

Recentemente, a pesquisa em Design abriu a discussão sobre um possível papel do design na equidade e na coesão social. Este é um papel em potencial para um design que aborda, diretamente, os vários aspectos de equidade e coesão social, visando uma “sociedade justa, que respeite os direitos fundamentais e a diversidade cultura, proporcionando igualdade de oportunidades e combatendo a discriminação em todas as suas formas” (MANZINI, 2005).

Igualmente, o Design para o Território é uma abordagem que parte da interpretação das particularidades de um contexto local para desenvolver produtos e serviços locais, valorizando assim os patrimônios (histórico, cultural e natural) presentes no território, os recursos locais e, por consequência, busca contribuir para uma reorientação de comportamentos sócioprodutivos em consonância com o Design Sustentável.

1.1 Objeto

O trabalho engloba estratégias de Design para a Sustentabilidade, Design para Inovação Social, Design para Equidade e Coesão Social e Design para o Território como abordagem projetual para comunicar o potencial das PANCs nativas e incentivar seu cultivo e consumo na Horta Comunitária do Cajuru.

Com isso, pretende-se inserir estas espécies nos hábitos alimentares locais, contribuindo para a autonomia e segurança alimentar, além de valorizar a biodiversidade da região sul brasileira, incentivar o desenvolvimento de modos de produção colaborativas e sustentáveis.

1.2 Problema

Durante a fase de campo da pesquisa, especificamente durante as visitas à Secretaria Municipal do Abastecimento de Curitiba (SMAB) e à Horta Comunitária do Cajuru, foi possível realizar um diagnóstico a respeito das demandas e potencialidades do sistema de produção e consumo praticado na referida iniciativa,

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sob a perspectiva das abordagens de Design utilizadas na fundamentação do trabalho.

Assim, foi possível identificar o cultivo de espécies PANCs como elemento distintivo da Horta em relação às demais e também a outros modelos agrícolas, e que desempenham um importante papel frente a garantia de autonomia e segurança alimentar dos envolvidos.

Contudo, também pode ser percebido que o potencial dessas espécies estava sendo subutilizado, pois dentre as espécies cultivadas, nenhuma delas corresponde a espécies nativas da biodiversidade local, e os próprios beneficiários, não possuem conhecimento adequado sobre as espécies lá cultivadas, e ainda menos das possibilidades de usos das mesmas.

Desta forma, observou-se uma oportunidade de atuação para o designer, que pode assumir seu papel social, desenvolvendo orientações e recomendações de projeto capazes de guiar os gestores da Horta do Cajuru a suprir estas demandas identificadas e assim valorizar as potencialidades latentes nessas iniciativas comunitárias.

1.3 Hipótese

As abordagens derivadas do Design Sustentável apontam diretrizes para o direcionamento de projetos para a otimização de sistemas de produção e consumo ecoeficientes, socialmente coesos, equânimes.

No caso na Horta do Cajuru e sua especificidade de realizar o cultivo de PANCs, recorte temático estudado no presente trabalho, o designer poderá atuar otimizando esse aspecto dentro de uma iniciativa de inovação social que rompe com os atuais modelos de produção, distribuição e consumo de alimentos, e contribui desta forma para a sustentabilidade.

Nesse sentido, os princípios do Design de Sistemas para a Sustentabilidade – especificamente a suas abordagens que dizem respeito à equidade e coesão social e às inovações sociais – e os princípios do Design para a Valorização do Território, servirão de norteadores para identificar as potencialidades e demandas das PANCs nativas, para assim oferecer alternativas para comunicar suas qualidades, incrementar o seu cultivo e promover o seu consumo inserindo-as nos hábitos alimentares locais.

Como forma de organização das recomendações e indicações propostas – oriundas do diagnóstico realizado na Horta Urbana do Cajuru – será possível elaborar um conjunto de orientações estratégicas destinadas aos gestores das iniciativas de Agricultura Urbana para que estes possam programar ações possíveis de serem tomadas dentro das dinâmicas das Hortas Urbanas quanto à comunicação das potencialidades e qualidades das PANCs, em especial das nativas, e as formas

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de incentivar seu cultivo sustentável e consumo responsável, buscando assim o fortalecimento da autonomia e segurança alimentar, a valorização da biodiversidade local, bem como, incentivar os modelos colaborativos de produção e consumo de alimentos.

1.4 Justificativa

O estudo sobre as formas de reorientação dos hábitos de produção e consumo frente aos modelos hoje praticados e a sua relação com a sustentabilidade é de grande importância como contribuição para a promoção e difusão das iniciativas e ações locais orientadas à sustentabilidade.

Em especial ao tema da sustentabilidade, é relevante abordar a questão da alimentação de qualidade, uma vez que esta é uma necessidade primária e um direito básico de todos os cidadãos, mas que atualmente não está acessível de forma equânime.

Sendo a equidade um princípio por definição do desenvolvimento sustentável (MANZINI; VEZZOLI, 2005), falar de acesso igualitário e de qualidade aos alimentos é falar de sustentabilidade.

Além disso, dentro do recorte do presente trabalho, são abordadas as iniciativas de inovação social, em específico, a Horta Comunitária do Cajuru. De acordo com Manzini (2008), as inovações sociais são o único meio pelo qual uma reorientação de comportamento sócioprodutivo é possível, e em função disso ressalta-se a importância de promovê-las e incentivá-las.

A Horta do Cajuru, possui como elemento distintivo das demais Hortas e modelos de produção agrícola, o cultivo de PANCs. Por se tratarem de espécies pouco convencionais, muitas vezes não são consideradas como alimentos, e desta forma deixam de compor os hábitos alimentares e contribuir com seu potencial nutritivo.

Portanto, incentivar seu cultivo e consumo, em uma iniciativa local de Agricultura Urbana, corresponde a promover a Autonomia e Segurança Alimentar, aumentando a variedade de alimentos de qualidade disponíveis, e com isso, a independência da Horta em suprir a demanda dos beneficiários.

Também, promover o consumo de espécies PANCs nativas locais é uma alternativa para o reconhecimento e valorização da biodiversidade e da cultura gastronômica local.

Nesse sentido, é necessário pontuar as possíveis contribuições do Design no contexto do desenvolvimento sustentável, e para tanto foram listadas as abordagens e princípios do Design para a Sustentabilidade, para a Inovação Social, para a Equidade e Coesão Social e para a Valorização do Território.

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Estas áreas correspondem a um novo campo de atuação do Design, que parte de uma perspectiva estratégica de atuação profissional, ainda pouco praticada (VEZZOLI, 2010; MANZINI, 2008).

Assim, aproximar a atuação do Designer às demandas e potencialidades do cultivo e consumo de PANCs na Horta do Cajuru ilustra este novo campo de atuação e contribui para a discussão do seu papel frente a responsabilidade social da profissão. Também, fornece subsídios para trabalhos futuros que se destinem a interagir com iniciativas sociais locais.

1.5 Delimitação do Tema

O presente trabalho de conclusão de curso aborda as perspectivas do Design

frente a necessidade de uma reorientação de comportamento em relação aos atuais modelos sócioprodutivos para que um desenvolvimento sustentável seja viável, dando-se ênfase ao sistema de produção e consumo de alimentos.

Especificamente, serão consideradas a importância de promover uma

alimentação saudável em detrimento dos hábitos alimentares nocivos praticados atualmente; além do papel fundamental que desempenham neste processo as iniciativas locais de inovação social.

Dentre as iniciativas locais, será dado destaque à Agricultura Urbana, uma prática que contribui para a autonomia e segurança alimentar, bem como para a reterritorialização do sistema de produção e consumo de alimentos, e para a valorização da biodiversidade e dos produtos locais.

Este estudo busca compreender como as abordagens do Design Sustentável, a saber, o Design de Sistemas para a Sustentabilidade (MANZINI; VEZZOLI, 2005 e VEZZOLI, 2010), o Design para Equidade e Coesão Social (VEZZOLI, 2010), o Design para o Território (KRUCKEN, 2009) e o Design para Inovação Social (MANZINI, 2008), podem contribuir para comunicar os potenciais das PANCs nativas e incentivar seu cultivo e consumo a partir das iniciativas de Hortas Urbanas como uma forma de valorizar a biodiversidade local e promover a autonomia e a segurança alimentar nas comunidades envolvidas com tais iniciativas.

1.6 Objetivo geral

Desenvolver de um conjunto de recomendações e orientações estratégicas para projetos, sob a perspectiva do Design Sustentável, para comunicar os potenciais das PANCs nativas da região Sul brasileira e promover o seu cultivo e consumo a partir do estudo da Horta Comunitária do Cajuru, em Curitiba. Este conjunto de recomendações e orientações visa inserir as PANCs nativas nos hábitos alimentares locais, contribuir para o desenvolvimento de modos de produção

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colaborativa nas Hortas Urbanas, fortalecer a autonomia e segurança alimentar nas comunidades onde tais as iniciativas estão presentes e valorizar a biodiversidade paranaense.

De forma geral, as recomendações e orientações para projetos aqui apresentadas são destinadas aos gestores das iniciativas de Hortas Urbanas que compõem o Programa organizado pela Secretaria Municipal do Abastecimento da Prefeitura de Curitiba. Em específico, respondem ao estudo efetuado na Horta do Cajuru e podem auxiliar no planejamento estratégico destas iniciativas, bem como, orientar a participação dos designers em projetos com objetivos análogos e apontar um papel para o Design frente ao desenvolvimento local e sustentável no contexto curitibano.

1.7 Objetivos específicos

a) Identificar as estratégias, recomendações e indicações de Design orientadas à sustentabilidade, à promoção da equidade e coesão social; à valorização dos recursos locais; ao fortalecimento dos modos de produção colaborativa; ao desenvolvimento de uma agricultura saudável, justa e limpa; e para o incentivo a uma alimentação de qualidade.

b) Identificar os princípios da autonomia e segurança alimentar e do consumo responsável;

c) Observar e analisar as demandas e potencialidades presentes na Horta Comunitária do Cajuru;

d) Identificar modelos de cultivo sustentável de alimentos para fundamentar as orientações práticas de cultivo na Horta do Cajuru;

e) Identificar modelos de consumo responsável de alimentos;

f) Identificar as PANCs provenientes da região Sul brasileira, suas propriedades e aplicações;

g) Organizar, na forma de um conjunto de recomendações para projetos, as indicações estratégicas de Design Sustentável para comunicar os potenciais das PANCs nativas da região Sul brasileira, incentivar o seu cultivo e o consumo a partir da Horta Comunitária do Cajuru e pontuar as contribuições do Design Gráfico para a valorização da Agricultura Urbana de Curitiba.

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Para apresentar este trabalho, o desenvolvimento do presente relatório de pesquisa está dividido em quatro capítulos principais: introdução, procedimentos metodológicos, fundamentação teórica e resultados.

A introdução, como já visto acima, aborda a construção do problema de pesquisa, os objetivos a serem alcançados, a hipótese levantada e a justificativa sobre a relvância do tema.

Na sequência são apresentados os procedimentos metodológicos adotados em cada fase da pesquisa, juntamente com as técnicas adotadas para cada um deles.

Depois, é desenvolvida a fundamentação teórica, com breves descrições das diretrizes de cada área do Design sustentável que compõe a base teórica para o desenvolvimento de todo o trabalho, bem como as diretrizes de cultivo e consumo sustentáveis, relacionados à Permacultura e ao Movimento Slow Food, respectivamente.

Também na fundamentação teórica são contextualizados a questão da alimentação na sociedade industrializada, a prática da Agricultura Urbana, o Programa de Agricultura Urbana da cidade de Curitiba, as Hortas comunitárias, que são projetos pertencentes ao Programa, bem como a Horta do Cajuru, uma das Hortas comunitárias da cidade.

No capítulo dos resultados, são apresentadas em forma de diagnóstico a demandas e potencialidade identificadas no contexto da Horta do Cajuru, a partir as relações entre as abordagens presentes no embasamento teórico, as informações presentes na delimitação do campo de pesquisa, e as informação levantadas durante a pesquisa de campo.

Também junto com os resultados é apresentado o conjunto de recomendações e indicações estratégicas com orientações destinadas a suprir as demandas levantadas, sendo estas: comunicar o potencial das PANCs nativas, promover seu cultivo sustentável e consumo responsável nas iniciativas de Hortas Urbanas em Curitiba.

Por fim, depois dos quatro capítulos principais e da explanação acerca dos resultados alcançados, são desenvolvidas e as considerações finais deste estudo e apresentadas sugestões de aprofundamentos e desenvolvimentos futuros para o tema.

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1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Neste capítulo serão abordados os procedimentos metológicos adotados para a realização do presente trabalho. Abaixo, na Figura 1, é apresentado em forma de síntese um esquema que ilustra estes procedimentos:

Figura 1. Procedimentos metodológicos.

Fonte: AUTORA (2018)

.

2.1 Método de abordagem

A abordagem adotada no presente trabalho de conclusão de curso é qualitativa, pois foca no conteúdo subjetivo do objeto a ser tratado, possuindo uma fase de caráter descritiva, onde é apresentada a fundamentação do trabalho, e outra de caráter exploratória, que compreende a realização de uma pesquisa de campo.

Assim, a pesquisa utiliza os conceitos e modelos de Design Sustentável, consumo responsável e cultivo sustentável, para fundamentar a análise das dinâmicas que ocorrem na Horta do Cajuru e também pela utilização, durante a pesquisa em campo, do levantamento de dados por meio de entrevistas livres, cujo roteiro encontra-se no apêndice.

2.2 Métodos de procedimento

Na fase descritiva, dentre os métodos utilizados para o desenvolvimento do presente trabalho encontra-se a pesquisa bibliográfica, realizada nas áreas do Design Sustentável já citadas e também a respeito dos modelos de cultivo sustentável e consumo responsável.

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Dentro da abordagem do Design para a Equidade e Coesão Social, o referencial teórico de base utilizado foi o livro “Design de Sistemas para a Sustentabilidade” de Vezzoli (2010), por se tratar de uma referência constantemente citada nas pesquisas publicadas na área.

Quanto ao Design para a Valorização dos Recursos Locais, o referencial teórico adotado foi o livro “Design para o Território”, de Krucken (2009), autora que introduziu esta temática no Brasil.

Já a abordagem do Design para a Inovação Social foi embasada pelo conteúdo de um curso ministrado por Manzini (2008) no Brasil que está publicado no livro “Design para a Inovação Social e Sustentabilidade”.

Este referencial teórico foi identificado através de uma breve revisão da literatura acerca das publicações científicas sobre Design Sustentável (Figura 1). Para tanto foram analisados trinta e oito artigos provenientes do Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (SBDS) das edições 2013, 2015 e 2017 e do Congresso Brasileiro de Design (P&D Design) das edições 2012, 2014 e 2016.

Figura 1 – Autores mais citados na revisão da literatura sobre Design Sustentável

Fonte: AUTORA (2018)

O recorte específico de busca neste dois eventos supracitados (P&D e SBDS) está relacionado ao objetivo de encontrar trabalhos em fase de andamento, bem como estudos mais curtos de projeto, que pudessem contribuir com experiências em campo semelhantes à proporção do projeto realizado no presente trabalho.

Também por meio da pesquisa bibliográfica foi possível encontrar uma abordagem capaz de fornecer orientações para uma alimentação saudável, justa e limpa, e para tanto foi discorrido sobre o Movimento Slow Food e sua filosofia, e utilizado como referência principal o livro “Slow Food: princípios da nova gastronomia”, de Petrini (2009), escrito pelo próprio fundador do movimento.

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A respeito de diretrizes para um cultivo sustentável, também por meio de pesquisa bibliográfica foram buscados os princípios da Permacultura, um modelo agrícola sistêmico e sustentável em todos os seus aspectos, não somente no que diz respeito a preservação de recursos naturais. Para tanto foi utilizado como referencial teórico a obra de Mollison (1998) denominada “Introdução a Permacultura”, que é indicada como referência no tema por ser uma das primeiras obras a explicitar os princípios deste modelo de agricultura sustentável.

O objetivo de trazer estas duas abordagens – Movimento Slow Food e Permacultura – para o trabalho foi de possibilitar o acesso aos parâmetros capazes de definir um comportamento alimentar saudável e de qualidade, e também orientações reais de práticas para o cultivo sustentável. Ambos os conteúdos

possibilitam pontuar especificidades junto ao conjunto de recomendações e indicações para projetos (produto final do presente trabalho) de acordo com o contexto das iniciativas de Hortas Urbanas de Curitiba.

Por último, também por meio de pesquisa bibliográfica foi realizada uma

contextualização a respeito da alimentação industrializada e suas consequências, além de uma explanação sobre os hábitos de consumo alimentar brasileiros e a importância das inovações sociais diante das circunstâncias apresentadas.

Na fase exploratória, um dos métodos adotados foi a pesquisa documental, que serviu para contextualizar o Programa de Agricultura Urbana de Curitiba. Durante a visita a Secretaria Municipal do Abastecimento, foi disponibilizado um documento interno, que não está público, por se tratar de material a ser enviado para uma premiação na Organização das Nações Unidas (ONU), ainda este ano.

Também foi realizado um estudo de campo na Horta Comunitária do Cajuru e na Feira de Orgânicos da UFPR (para encontro com especialista em PANCs), com a execução de um levantamento de dados por meio de entrevistas livres, de acordo com o modelo de Survey apresentado por Freitas (1999), cujo objetivo foi o de compreender a dinâmica da Horta e quais as demandas e potencialidades relacionadas ao cultivo das PANCs.

Por meio também de levantamento de dados com a realização de entrevista livre, foi realizada uma visita à Feira de Agroecologia da Universidade Federal do paraná (UFPR) e a entrevista com agricultor e engenheiro agrônomo, especialista no cultivo de PANCs, que contribuiu com informações a respeito dessas espécies e em específico sobre espécies nativas do Sul do Brasil (SILVÉRIO, 2018).

Quanto a busca por espécies nativas de PANCs, também foi utilizado o método da pesquisa bibliográfica, a partir do guia “Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC) no Brasil” de Kinupp (2014), única catalogação de PANCs realizada no Brasil.

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2.3 Técnicas

A técnica utilizada neste trabalho para as pesquisas bibliográficas foi o fichamento. O fichamento foi utilizado em todas as referências bibliográficas, cujo objetivo para o seu emprego foi o de identificar os assuntos e contribuições relevantes para o assunto do presente trabalho a partir dos referenciais teóricos identificados, dos artigos, documentos e notícias. Também utilizou-se o fichamento para organização dos dados obtidos a partir da pesquisa documental. Para os levantamentos foi utilizada a entrevista livre, do tipo Survey, segundo o modelo apresentado por Freitas (1999). Para a fase de estudo de campo foi utilizada a observação participante.

Para a realização da entrevista livre, foi elaborado um roteiro de perguntas gerais que orientaram a conversa entre os presentes na visita. O roteiro foi elaborado a partir das diretrizes e orientações retiradas da fundamentação teórica, e o objetivo de sua aplicação foi o de identificar as demandas e potencialidades relacionadas à dinâmica da Horta do Cajuru, e também relacionadas ao cultivo e consumo de PANCs, em especial as nativas.

No estudo de campo, a observação participante consistiu em identificar, durante a exploração do local e as trocas de informação informais, as características da iniciativa a partir da interpretação da própria autora, embasada pela fundamentação teórica elaborada para o presente trabalho.

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3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Este estudo apresenta as abordagens do Design Sustentável, a saber, o Design para Inovação Social (MANZINI, 2008), o Design de Sistemas para a Sustentabilidade (MANZINI; VEZZOLI, 2005 e VEZZOLI, 2010), o Design para Equidade e Coesão Social (VEZZOLI, 2010) e o Design para o Território (KRUCKEN, 2009) e suas relações para a construção das recomendações para comunicar os potenciais das PANCs nativas e incentivar seu cultivo e consumo a partir das iniciativas de Hortas Urbanas como uma forma de valorizar a biodiversidade local e promover a autonomia e a segurança alimentar nas comunidades envolvidas com tais iniciativas.

Na sequência, são apresentas as práticas para o consumo responsável e o Movimento Slow Food (PETRINI, 2009) e as diretrizes para um cultivo sustentável e a Permacultura (MOLLISON, 1998).

Também é apresentada um contextualização a respeito da delimitação do campo de pesquisa, onde são abordadas as relações entre o Design sustentável e às iniciativas locais de Agricultura Urbana.

Abaixo, a Figura 2 ilustra em forma de síntese um esquema dos conteúdos a serem desenvolvidos neste capítulo, e quais suas interrelações.

Figura 2. Mapa de relações da fundamentação teórica.

Fonte: AUTORA (2018)

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Neste subcapítulo serão apresentadas as abordagens de Design Sustentável que possuem diretrizes capazes de contribuir com o problemas e os objetivos propostos pelo presente trabalho.

3.1.1 Inovação sistêmica

O contexto em que se vive atualmente é um cenário de rápidas transformações nas mais diferentes esferas cotidianas, onde tudo está em constante movimento e mudança.

De acordo com Manzini (2005) a crescente conscientização sobre os problemas ambientais e a escassez de recursos naturais levou à discussão e reorientação de novos comportamentos sociais, enfatizando a necessidade de uma radical mudança nos sistemas de produção e consumo, onde o foco deixa de estar no produto isolado e no meio ambiente, e passa a se voltar para sistemas de consumo e questões de ordem ambiental, mas também socioculturais e econômicas. Ou seja, uma perspectiva sustentável de desenvolvimento deve questionar criticamente o atual modelo sócioprodutivo (capitalista e consumista) adotado, e promover as mudanças necessárias para que haja uma descontinuidade sistêmica1, envolvendo todos os atores e relações do sistema. Por desenvolvimento sustentável compreende-se

as condições sistêmicas de desenvolvimento produtivo e social, a nível global e local, dentro dos limites da resiliência ambiental, sem que se comprometa a capacidade das futuras gerações de satisfazer suas necessidades, tendo como base a distribuição equânime de recursos (MANZINI, E; VEZZOLI, C. 2005).

De forma mais esquemática, pode-se afirmar que o desenvolvimento sustável

necessita de mudança radical no modelo socioprodutivo, pautado nos seguintes

aspectos:

a) Ambientais, sem ultrapassar os limites da resiliência da biosfera;

b) Sócioéticos, garantindo condições satisfatórias para as futuras gerações, e promovendo a equidade em relação ao acesso de recursos necessários para a manutenção da vida; e

c) Econômicos e políticos, possibilitando soluções economicamente viáveis a todos.

Essa reorientação sistêmica de comportamentos necessária à sustentabilidade rompe com a dependência que há na relação entre a expectativa de

1Descontinuidade sistêmica corresponde a uma forma de mudança cujo objetivo final está em modificar de maneira nunca vista até então o atual sistema de produção e consumo a nível estrutural. (MANZINI, 2008)

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bem-estar, ou seja, a expectativa de satisfazer uma necessidade/vontade específica, e a necessidade de consumo dos produtos disponíveis no mercado.

Assim, tem-se como consequência a redução do acúmulo de bens materiais, com a utilização mínima de recursos naturais e aumento do consumo de serviços e informações, orientando o bem-estar a fatores qualitativos e não quantitativos.

Nessa “nova sociedade” que se busca, o sucesso econômico não é o objetivo final das relações, mas sim a liberdade enquanto garantia de que as pessoas são responsáveis pelas próprias escolhas e consequências delas, e não dependentes de uma organização ou instituição que em algum momento resolverá todos os problemas (SEN, 1999).

Além disso, todas as inovações de sistemas devem ser percebidas como melhorias tangíveis, e não conceitos paradoxais e abstratos, para que desta forma seja possível difundi-las (VEZZOLI, 2010).

3.1.2 Design para Inovação Social - Comunidades Criativas

A transição rumo à sustentabilidade, como supracitado, deverá ser um processo de reorientação de comportamentos, por meio de um grande processo de aprendizado social e descontinuidades sistêmicas, e de acordo com Manzini (2008), somente será possível por meio de inovações sociais, ou seja, mudanças no modo como os indivíduos agem para solucionar problemas e/ou criar oportunidades (EMUDE, 2006).

De acordo com Manzini (2008) a inovação social ocorre em períodos de intensas modificações na estrutura social, como por exemplo com a inserção de novas tecnologias, ou o surgimento de grandes problemas urgentes, como a questão dos problemas ambientais e escassez de recursos pela qual se vem passando. Portanto, vive-se em um potencial momento impulsionador de inovações sociais, que devem especificamente estar preocupadas com a sustentabilidade ambiental, social e econômica.

Neste cenário, Manzini (2008) afirma que um papel importante nessa transição será desempenhado por iniciativas locais, que romperão com os modelos de produção e consumo vigentes e também com suas consequências negativas.

A efetividade das iniciativas de inovação social não pode ser afirmada, com certeza, sem um aprofundamento em cada uma delas, contudo, certamente podem ser interpretadas como laboratórios de experiências, e seus fatores de sucesso poderão contribuir para a compreensão de sua efetividade.

Atualmente já existem diversos casos de inovação social que podem gerar parâmetros necessários para a sua efetivação, dentre elas o compartilhamento de espaços e serviços, atividades de produção voltadas às habilidades e recursos

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locais disponíveis, e iniciativas de incentivo a alimentação saudável e natural, como são as próprias Hortas Urbanas de Curitiba, dentre outras.

Manzini (2008) afirma que a partir de casos como estes se pode destacar que uma característica comum a todos é a capacidade de articular interesses individuais com interesses sociais e ambientais, o que por consequência reforça o tecido social e a interação entre atores e contextos.

Justamente por essa capacidade de articulação de interesses é que estas iniciativas de inovação social devem ser compreendidas como casos promissores, ou seja, capazes de orientar a expectativa e o comportamento individual para ações coerentes que tenham um horizonte sustentável.

Também, vale ressaltar que estes casos promissores, para serem considerados como tais, precisam de pessoas capazes de desenvolvê-los, estas que para tanto recombinam e reorganizam as configurações já existentes para desenvolver soluções às suas necessidades.

De acordo com Manzini (2008) a capacidade de reorganização dos elementos já existentes em novas combinações é uma definição possível para a criatividade, e portanto, as pessoas envolvidas nesse processo, enquanto reunidas, compõem o que pode ser chamado de comunidades criativas, ou seja, “pessoas que de formas colaborativa, inventam, aprimoram e gerenciam soluções inovadoras para novos modelos de vida” (MERONI, 2007).

Outra característica comum aos casos promissores é que todos nascem das demandas e oportunidades da vida cotidiana. As demandas são criadas a partir de problemas, e busca-se o sentido contrário dos modelos dominantes (e malsucedidos sob a perspectiva social e ambiental, principalmente) para atendê-las. Com isso se criam descontinuidadessistêmicas.

Já as oportunidades se manifestam a partir da combinação de três elementos:

a) A existência de tradições ou o registro/memória das mesmas;

b) A possibilidade de usar de maneira responsável produtos, serviços e infraestruturas; e

c) A existência de condições sociais e políticas favoráveis.

A recuperação das tradições e reconhecimento das mesmas enquanto recursos locais é uma tendência dos casos promissores que nasce da oportunidade das comunidades se aproximarem do saber e fazer de culturas pré-industriais.

O passado é visto como um recurso local na medida em que, de acordo com Manzini (2008):

é o valor da sociabilidade de vizinhança que nos torna capazes de trazer novamente vida e segurança aos bairros e cidades. É o respeito pelas

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estações climáticas e a produção local de alimentos que pode reorganizar a insustentável rede de fornecimento e distribuição atual. É o compartilhamento que nos torna capazes de reduzir o peso da aquisição individual de equipamentos, sem renunciar às funcionalidades que desejamos.

Ou seja, as heranças culturais de cada contexto são uma oportunidade para a construção de soluções aos problemas e condições insustentáveis impostos pela vida moderno-contemporânea.

De forma a sintetizar as características comuns às iniciativas de inovação social, na Figura 3 é apresentado um esquema que as apresenta:

Figura 3. Características comuns aos casos de inovação social.

Fonte: AUTORA (2018)

Além disso, as comunidades criativas não são modelos estáticos e evoluem com o passar do tempo. Neste processo, ao consolidarem-se de forma madura, tornam-se empreendimentos sociais difusos.

Empreendimentos difusos correspondem a um modelo de negócio onde um grupo de pessoas auto-organizadas colaboram entre si visando fins comuns, e na busca pela solução de seus próprios problemas, geram sociabilidade.

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Também, as comunidades criativas e os empreendimentos sociais difusos são um campo muito fértil para o desenvolvimento de uma economia do conhecimento, ou seja, uma economia caracterizada pelo conhecimento difuso, com alto grau de conectividade, tolerância em relação ao modelos não convencionais de fazer, e da qual, tais comunidades são resultados e também promotoras.

Portanto, as comunidades criativas, em seu desenvolvimento, podem se tornar não somente empreendimentos sociais difusos, como também promover novos negócios baseados em uma economia do conhecimento.

3.2 Design de Sistemas para a Sustentabilidade

Neste cenário, como descrito acima, amplia-se área de atuação do Design, que de acordo com o International Council of Society in Industrial Design (2005, apud VEZZOLI, 2010), compreende “uma atividade criativa cujo objetivo é estabelecer as qualidades multifacetadas dos objetos, processos, serviços e seus sistemas, compreendendo todo seu ciclo de vida”.

Essa é uma definição recente, mas pouco tempo atrás, no início dos anos noventa2, com as crescentes preocupações a respeito da sustentabilidade ambiental, a prática do Design já iniciava uma mudança, sendo que deixou de levar em consideração apenas a escolha dos materiais utilizados em projetos como forma de contribuir para a sustentabilidade, passando a desenvolver produtos cuja preocupação ambiental estava relacionada a todo o seu ciclo de vida. Esta prática ficou conhecida usualmente como Design do Ciclo de Vida do Produto.

Nessa abordagem, o designer passa a considerar no projeto desde a produção dos materiais do produto, o próprio produto, sua distribuição, uso e por último seu descarte, visando a sustentabilidade ambiental.

Percebida a ineficiência desta abordagem para uma solução efetiva frente aos problemas já levantados (já que considerava apenas o projeto do produto em si), e a necessidade de uma inovação radical nos sistemas socioprodutivos, surge o Design de Sistemas Ecoeficientes.

Nesta abordagem considera-se necessário promover uma mudança radical de comportamentos para se chegar a um modelo de desenvolvimento sustentável. Para tanto, reconhece-se ser preciso inovar para além do produto em si, criando inovação de sistema, ou seja, um mix integrado de produtos e serviços que, em conjunto, levem à satisfação de uma dada demanda de bem-estar (GOEDKOOP; VAN

2Em 1992 ocorreu no Rio de Janeiro a Conferência ECO92, uma iniciativa das Nações Unidas para debater os problemas existentes relacionados ao meio ambientes, evento este que contou com a presença quase unânime dos chefes de Estado de todo o mundo, e que teve como resultado a elaboração de importantes documentos e tratados frente a questão da sustentabilidade e os rumos do planeta. No mesmo ano, ocorria paralelamente o Fórum Mundial, também do Rio Janeiro, onde foi lançada a Carta da Terra (FRANCISCO, 2018).

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HALEN; RIELE; ROMMES, 1999; BREZET, 2001; CHARTER; TISCHNER, 2001; MANZINI; VEZZOLI, 2001; BIJMA; STUTS; SILVESTER, 2001 apud VEZZOLI, 2010).

Sistema de produto-serviço, também podem ser conceituado, de acordo com Mont, como sendo:

um sistema de produtos, serviços, rede de atores e infraestrutura, que busca, continuamente, ser competitivo, satisfazer as necessidades dos clientes, tendo um impacto ambiental menor que os os dos demais modelos de tradicionais de negócio (MONT, 2002).

Esse tipo de inovação pautada no design de sistemas tem como principal consequência a diminuição do uso de recursos, uma vez que os atores envolvidos no sistema colaboram entre si, visando um objetivo comum.

A esta abordagem se soma um novo nível de aprofundamento para a atuação do designer, onde o mesmo assume seu papel frente a garantia de equidade e coesão social, sendo este um campo ainda novo, com carência de produções

científicas e baixa consolidação.

Portanto, para atender as demandas do desenvolvimento sustentável, o designer deve estar capacitado para projetar produtos e serviços ambientalmente sustentáveis, promover e facilitar novas interações entre diferentes atores com

propósito de encontrar soluções inovadoras, e operacionalizar e simplificar o processo de design participativo3.

É importante salientar que neste quadro, o designer é apenas um dos profissionais envolvidos, dado que as inovações almejadas dependem de uma cadeia multidisciplinar de pessoas engajadas, que seja capaz de propor soluções específicas de acordo com suas competências.

Ainda assim, quanto mais os designers estiverem aptos a conhecer os desafios do desenvolvimento sustentável, com maior propriedade podem propor novos critérios de qualidade, apresentando serviços e produtos atraentes aos produtores e consumidores.

Há, portanto, o que Vezzoli (2010) define como a Estética da Sustentabilidade, ou seja, todo um conjunto de características perceptíveis que despertam o desejo por um determinado produto ou serviço, já que uma inovação radical de sistemas, sem ser percebida enquanto uma melhoria, não é suficiente.

Portanto, o papel do Design de Sistemas para a Sustentabilidade deslocou-se para a dimensão sociocultural, sendo considerado como a área do design voltada à atividade projetual estratégica de sistemas de produtos e serviços ecoeficientes,

3 O Design Participativo pode ser considerado como uma prática ou metodologia de desenvolvimento de sistemas de informação que visa coletar, analisar e projetar um sistema juntamente com a

participação de usuários, funcionários, clientes, desenvolvedores e demais interessados (CAMARGO; FAZANI, 2014).

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socialmente coesos e equânimes, capazes de satisfazer uma demanda específica, além de projetar as interações entre os atores envolvidos no sistema.

Sendo assim, o designer que busque mudanças radicais de comportamento voltadas à sustentabilidade, deve operar desenvolvendo, facilitando e promovendo inovações tecnológicas e sociais sustentáveis, iniciativas locais e organizações em rede.

3.2.1 Design Para Equidade e Coesão Social

Uma das premissas do desenvolvimento sustentável é o princípio da equidade, que de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU, 1992), nada mais é do que o acesso a condições de igualdade e justa distribuição de recursos a toda população.

A atuação do designer nesse nível de aprofundamento do Design Estratégico para a Sustentabilidade ainda é recente, sendo uma área com poucas produções e estudos já desenvolvidos, e por consequência, pouco consolidada (em comparação ao Design do Ciclo de Vida do Produto e do Design de sistemas ecoeficientes).

Compreende-se por Design para Equidade e Coesão Social a atividade projetual dos sistemas de produtos e serviços, pautada por uma demanda de satisfação, baseada na interação entre atores e orientada para a sustentabilidade (VEZZOLI, 2010). Assim, é capaz de promover ou facilitar novos modelos de produção e consumo sustentáveis, locais e estruturados em rede.

A principal singularidade desta abordagem é considerar a dimensão sócioética da sustentabilidade enquanto relacional e interconectada à dimensão ambiental, sem considerá-la uma consequência das demais áreas, mas sim como uma possibilidade de favorecer a melhora na qualidade de vida das pessoas (MARKS; ABDALLAH; SIMMS e THOMPSON, 2006)

Para tanto, o designer pode elaborar cenários de orientação às comunidades, objetivando estabelecer novas interações e parcerias, e facilitar processos de design participativo entre os diferentes atores que compõe o sistema.

De acordo com Vezzoli (2010) às competências, habilidades e ferramentas do designer para o desenvolvimento de sistemas ecoeficientes podem ser adaptadas aos requisitos da equidade e coesão social, contudo, dado a complexidade deste novo campo de estudo do Design, algumas diretrizes definem com maior precisão a atuação do designer, sendo estas:

a) Aumentar a empregabilidade e melhorar as condições de trabalho;

b) Aumentar a equidade em relação aos atores envolvidos;

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d) Favorecer e integrar pessoas com necessidades especiais ou marginalizadas;

e) Melhorar a coesão social; e

f) Incentivar o uso e a valorização dos recursos locais.

Cada uma dessas diretrizes possui suas próprias orientações, de acordo com Vezzoli (2010), e para aplicá-las deve-se analisar as especificidades de cada contexto para assim identificar quais são mais adequadas às demandas do contexto em questão.

Para o recorte do presente trabalho, entende-se que o Design Estratégico para a Sustentabilidade é um novo campo de atuação do designer diante das questões que envolvem o desenvolvimento sustentável, e o Design para Equidade e Coesão Social é, dentre suas abordagens, a que mais se adéqua aos objetivos propostos, pois compreende a sustentabilidade ambiental e social enquanto integradas.

Por tanto, dentre as possibilidades de atuação do designer listadas acima, serão utilizadas as diretrizes voltadas à promoção do consumo responsável e sustentável (c) e ao incentivo ao uso e valorização dos recursos locais (f) como norteadoras dos questionamentos a serem feitos e das possíveis ações a serem executadas.

Na Figura 4 encontra-se um exemplo de sistema que segue as diretrizes da Equidade e Coesão Social, segundo qual o designer pode utilizar como referência para projetar ou otimizar seus próprios sistemas:

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Fonte: AUTORA (2018)

3.2.2 Design Para o Território

Outra abordagem de Design que menciona a questão dos recursos locais é o Design para o Território Esta abordagem tem como premissa a utilização do método projetual estratégico do Design para o reconhecimento e valorização da cultura material e imaterial de um determinado território por meio da identificação das qualidades dos produtos locais, que por sua vez carregam a cultura e tradição de onde foram produzidos.

O reconhecimento e a valorização da cultura local é importante na medida em que preserva as particularidades características de um território, estas que por sua vez reforçam o sentimento de pertencimento entre a comunidade que ali reside, o quê por consequência, aumenta o cuidado e a responsabilidade com o ambiente e as relações existentes.

O conceito de território, na geografia, é utilizado para designar um espaço físico que está sob posse de algo ou alguém, ou seja, quando um espaço é ocupado ele está sendo territorializado (RAFFESTIN, 1993).

A relação entre a prática do Design e o conceito de território tem, no Brasil, como a principal referência teórica a autora Krucken (2009), sendo a primeira autora a lançar uma publicação abordando o tema na obra “Design e Território: Valorização de identidades e produtos locais”,

De acordo com a autora (2009), a abordagem do Design para o Território propõe uma reflexão sobre maneiras de facilitar as dinâmicas dos sistemas de produção e consumo, visando encontrar alternativas para fortalecimento e estabelecimento da reorientação na forma de produzir e consumir, que passa a se voltar para dimensão local, com ênfase nos produtos locais e à sociedade e história que há por trás dos mesmos.

Nesse sentido, para que essa reorientação seja possível, Krucken (2009) afirma que uma das principais funções do designer é a de reconhecer as qualidades e os valores do produto local como meio de tornar visível o contexto de onde este emerge, e o que o faz diferente de outro produto, construindo desta forma uma identidade local e gerando por consequência a valorização do território.

A “qualidade” é o resultado do modo como se produz e se consome, de acordo com Krucken (2009). O reconhecimento das qualidades percebidas de um produto ao longo de toda a experiência produto-usuário, ainda segundo a autora (2009), é resultado de seis dimensões possíveis, como no Quadro 2 a seguir.

(33)

Quadro 1 – Dimensões do reconhecimento da qualidade percebida dos produtos. Dimensões do reconhecimento da qualidade percebida dos produtos.

Funcional e utilitária Relacionado a adequação do propósito do produto e sua utilização, tanto quanto se o mesmo atingiu as expectativas quanto a seu manuseio/uso.

Emocional Diz respeito ao envolvimento afetivo e emocional entre o consumidor, o produto e seu contexto de origem.

Ambiental Quanto a otimização dos processos e recursos ao longo de toda a cadeia de produção, visando um modelo sustentável. Simbólico e cultural Referente aos aspectos subjetivos inseridos no produto, a partir dos processos, materiais, pessoas e contextos em geral de produção.

Social Relaciona-se aos aspectos sociais que perpassam as esferas de produção, venda e consumo.

Econômico Custo-benefício monetário. Fonte: KRUCKEN, 2009.

Definidas as dimensões de reconhecimento da qualidade percebida de um produto, pode-se destacar quais os elementos que apoiam a percepção desta qualidade, de acordo com Krucken (2009), sendo estes:

1) Indicação geográfica;

2) Indicação de qualidade técnica de produção; e

3) Indicação de qualidade socioambiental e econômica de produção;

Estes são parâmetros utilizados para o reconhecimento e percepção da qualidade dos produtos de uma maneira geral, que servem principalmente para consumidores que se encontram distantes do contexto de produção. Especificamente a respeito dos produtos locais, a mesma autora (2009) destaca três dimensões capazes de determinar sua qualidade:

1) Organoléptica4; 2) Ambiental; e

3) Social.

Estes elementos têm origem a partir do capital territorial, que é compreendido como “o conjunto de elementos de que dispõe o território nos níveis material e imaterial”, de acordo com a definição do Observatório Europeu Leader (1999)5. 4Propriedades organolépticas são às características dos materiais que podem ser percebidas pelos sentidos humanos como cor, brilho, luz, odor, textura, som e o sabor. (WIKIPEDIA, 2018)

5 O Observatório Europeu Leader trabalha com a “abordagem Leader”, que consiste em um modelo de criação e participação no desenvolvimento de iniciativas locais de desenvolvimento rural.

(34)

É o capital territorial que dá subsídios a um produto para que este seja compreendido como parte do território, e não à parte dele, podendo ser analisado sob a perspectiva de oito diferentes elementos, definidos por Krucken (2009), sendo estes:

a) Recursos físicos e sua gestão;

b) Cultura e identidade do território;

c) Recursos Humanos envolvidos;

d) Know-how e competências implícitas e explícitas;

e) Instituições locais, organizações políticas e atores comunitários que contribuem para a gestão do território;

f) Atividades empresariais;

g) Mercados e relações externas; e

h) Imagem e a percepção do território.

Assim, o Design para o Território passa a promover e comunicar novos critérios de bem-estar baseados não na quantidade, mas na qualidade (de acordo com o conceito supracitado), envolvendo os produtos, processos e relações que se desenvolvem no território (VEZZOLI, 2010).

Os elementos que auxiliam a percepção do conteúdo socioambiental dos produtos, e por tanto devem ser comunicados aos consumidores, são: a) origem de matéria prima; b) Processos de fabricação e de distribuição. c) história do produto, do território e da comunidade que o produz; d) iniciativas de preservação do território e dos serviços ambientais associados; d) impacto ambiental do produto e da embalagem.

Outra competência do Design para o Território é a de agregar valores aos produtos por meio da “cadeia de valor”, que é entendida como o conjunto de atores que integram seus conhecimentos e competências para desenvolver produtos e serviços, onde o fluxo crescente de valor monetário ocorre a partir das matérias primas, passando pelo produto intermediário e final, até chegar no consumidor.

No presente trabalho, dada a importância das iniciativas locais para o desenvolvimento sustentável (MANZINI, 2008), esta abordagem de Design auxilia na identificação dos elementos de diferenciação que a compõem o território da Horta do Cajuru, e qual seu capital territorial, visando assim a valorização do território e dos recursos locais na Horta, como via de promoção de uma reorientação de comportamento sócioprodutivo.

Na Figura 5 observa-se um exemplo de iniciativa que foi objeto do Design para o Território:

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Figura 5. Exemplo – Instituto Atá.

Fonte: AUTORA (2018)

3.2.3 Relações entre o Design para o Território e o Design de Sistemas para a Sustentabilidade

O Design para o Território, como já visto, compreende uma perspectiva estratégica oriunda das práticas projetuais do Design, com foco no reconhecimento e valorização da identidade e cultura local por meio dos produtos locais. Já abordagem do Design de Sistemas para a Sustentabilidade busca de forma sistêmica soluções inovadoras que permitam a adesão e incentivo a práticas sustentáveis.

Sendo assim, pode-se listar algumas consequências sistêmicas da valorização do território para a sustentabilidade:

a) Estímulo da interação e aproximação entre os atores locais;

b) Reconhecimento do pertencimento a determinado local estimula sua proteção e valorização;

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d) Capacitação de mão de obra para suprir diferentes demandas que antes dependiam de “importação”;

e) Garantia da autonomia da população envolvida com o produto local;

f) Organização em redes e cooperativas que favorecem o auxílio mútuo;

g) Desenvolve-se um perfil de qualidade de experiência e valor associado ao consumo de produtos;

h) Diminuição dos impactos ambientais relativo aos fatores logísticos de “importação” de produtos, principalmente quanto a seu transporte.

Assim, percebe-se que essas duas vertentes teóricas se complementam na medida em que o Design para o Território, tendo uma visão estratégica da sustentabilidade, atua como uma inovação de sistema de produção e consumo, em que o espaço territorial de produção e consumo é o espaço local, e o contexto social e a história por trás dele e das pessoas que o habitam são seus os elementos simbólicos e distintivos.

Além disso, o Design para Equidade e Coesão social, que é, como já dito, uma das abordagens do Design de Sistemas para a Sustentabilidade, enfatiza a

importância do incentivo a utilização de recursos locais para uma sociedade equânime e coesa, bem como faz Manzini (2008), ao afirmar que as iniciativas locais desempenham importante função frente a reorientação de comportamentos almejada, rumo a sustentabilidade.

3.4 Movimento Slow Food e o consumo responsável.

O Fast Food é um tipo de empreendimento alimentar que tem por objetivo oferecer comidas de maneira prática e rápida ao seu consumidor, gerando uma possibilidade de prover a alimentação no ritmo apressado da modernidade. Para tanto, utiliza de sistema de produção mecanizado, alimentos super processados e com muitos aditivos químicos, fatores que afetam diretamente a qualidade da alimentação e comprometem a saúde.

No sentido contrário existe o movimento Slow Food, que nasce na Itália com o gastrônomo Carlo Petrini, por volta de 1986, e tem como filosofia a preservação da satisfação e do gosto nos hábitos alimentares, buscando o respeito pelo homem e pela natureza em desde a produção até o consumo do alimento.

O objetivo de abordar este Movimento na fundamentação teórica do presente trabalho reside na necessidade de trazer conteúdos capazes de serem utilizados enquanto orientações para um consumo sustentável de alimentos no guia

Referências

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