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4. RESULTADOS

4.5 Conjunto de recomendações e indicações para a comunicação dos

Este conjunto de recomendações e indicações para projetos é um compilado de orientações capazes de atender as demandas identificadas a partir do diagnóstico realizado na Horta do Cajuru, diagnóstico esse que foi possível com

auxílio das abordagens e diretrizes do Design Sustentável.

A elaboração deste conjunto de recomendações pode ser compreendida como uma das funções possíveis de serem executadas pelos designers, como forma de materializar um guia de ações estratégicas e de design gráfico que facilitem e otimizem um sistema ecoeficiente, socialmente coeso e equânime, capaz de

satisfazer as demandas das iniciativas sociais (como as Hortas Urbanas), promover a interação entre atores e valorizar o território.

Para tanto, a estrutura do conjunto de recomendações será divido em três partes, sendo estas: a) Orientações para o cultivo sustentável de PANCs; b) Orientações para o consumo responsável das PANCs; c) Orientações para comunicar o potencial das PANCs; d) Diretrizes norteadores para os projetos gráficos.

Estas orientações serão apresentadas em três diferentes formas: a) tópicos explicativos, com infomações textuais mais detalhadas; b) Tabela que sintetiza e relaciona as orientações aos possíveis papéis de atuação do Design; e c) Esquema ilustrado, com objetivo de apresentar as orientações de forma mais didática, principalmente levando em consideração a necessidade de que este conteúdo seja inteligível e claro aos gestores e e beneficiários das Hortas.

Para colocar em prática o plano de desenvolvimento ou otimização de um sistema ecoeficiente, são necessários os esforços de oriundos de diferentes áreas e habilidades, portanto tratá-se de uma abordagem multidisciplinar, como já citado.

Quantos as diretrizes de Design relacionadas ao desenvolvimento dos materiais e objetos gráficos para informação, divulgação, comunicação e sensibilização, reforça-se a importância de levar em consideração os princípios da sustentabilidade aplicados ao design, onde serão considerados os impactos de todo o clico de vida destes materiais, nos níveis ambiental, social e econômico, a minimização do uso dos recursos (redução dos consumos de matéria e energia), a escolha de recursos e processos de baixo impacto ambiental, a otimização da vida dos produtos e a extensão da vida dos materiais (reciclagem, reúso, compostagem e combustão) (MANZINI E VEZZOLI, 2005).

Portanto, sugere-se a utilização de meios gerem a menor quantidade de resíduos possível, como por exemplos as redes virtuais, ou a produção de materiais para uso coletivo e compartilhado, aplicados em locais alternativos e acessíveis, como nos muros na Horta, nas estruturas públicas das redondezas, dentre outros.

Também sugere-se utilizar formatos mais interativos de informar e divulgar as PANCs, seu cultivo e consumo, como por meio de oficinas, workshops, palestras, ou eventos em geral onde a informação é transmitida oralmente ou através da prática manual.

Reforça-se ainda que as Diretrizes de Design Gráfico podem ser desenvolvidas de forma a se complementarem em seus conteúdos, não sendo necessário o desenvolvendo um tipo de material específico com uma única informação para cada uma das diretrizes listadas.

4.5.1 Orientações para um cultivo sustentável de PANCs

De acordo com as abordagens de Design já descritas e com os conteúdos levantados a respeito do modelo agrícola da Permacultura e seus princípios, definidos por Mollison (1998), pode-se orientar os gestores da Horta do Cajuru quanto ao cultivo sustentável de PANCs, como a seguir:

a) Cultivar espécies nativas, como sugestão, as espécies que foram levantadas no presente trabalho, sendo elas a Carqueja, a Begonia, o Alho Selvagem, o Melão Croá e o Crem;

b) Localizar cada uma dessas espécies dentro da dinâmica da Horta de forma a cooperarem entre si, por exemplo, situar o cultivo da Begônia (uma espécie rizomatosa) nas bordas dos canteiros, tanto de PANCs quanto de espécies convencionais, para que a própria planta sirva de barreira para a propagação sem controle de outras espécies que se alastram com facilidade.

O Melão Croá e o Crem são espécies trepadeiras, portanto sugere-se que sejam cultivadas em espaços que orientem seu crescimento, para que o mesmo não ocorra sobre outras espécies, dificultando seu desenvolvimento. A Carqueja e o Alho Selvagem são espécies de pequeno porte, e visando a otimização do espaço, que na Horta já é reduzido, sugere-se que seu plantio ocorra em sistema de consórcio (entre as duas espécies e também as demais espécies convencionais).

c) Sugere-se com objetivo de organizar a polivalência dos elementos para que executem o maior número de funções possíveis, que as espécies trepadeiras fiquem situadas nas margens na Horta, para também poderem executar (com o auxílio de estruturas adequadas) a função de cerca viva, delimitando com precisão o espaço da Horta para que os moradores próximos deixem de depositar lixo no local, um dos problemas listados pelos beneficiários.

Também, sugere-se a utilização das espécies de Begônia para contenção das bordas dos canteiros da Horta, que atualmente são separados com dormentes retirados dos trilhos do trem, e que podem estar contaminados com resíduos de sua utilização passada.

De maneira geral, sugere-se também algumas alterações nos elementos que compõe a Horta e que estão indiretamente relacionados às PANCs, como por exemplo, no sistema de irrigação, em que a caixa d’água está localizada no meio do terreno, enquanto poderia estar localizada na parte mais alta (pois é um terreno inclinado) e assim aproveitar a própria gravidade para auxiliar na pressão da água que sai da caixa. Também

sugere-se a instalação de reservatório de água da chuva, pois a Horta é um espaço aberto, com declive ideal para orientar a escoada da água da chuva a um local de armazenamento, sem contar que o valor gasto nesse serviço é atualmente rateado entre os beneficiários, e a substituição deste geraria uma economia tanto de recursos naturais quanto financeira.

d) Planejar a localização dos elementos de acordo com a recorrência de uso, ou seja, os elementos mais usuais devem estar mais acessíveis, desta forma sugere-se que, de acordo com a distribuição de espaço que já existe na horta (parte da frente destinada às PANCs e parte dos fundos destinada aos canteiros de espécies convencionais), as espécies de PANCs que possam ser utilizadas diariamente, como as que são utilizadas em saladas e temperos (capuchinha, azedinha, alho selvagem, begônia, dentre outras), estejam mais acessíveis aos beneficiários, o que inclusive

estimula o consumo destas.

e) Reiterar a importância da utilização de recursos biológicos para suprir as necessidades básicas da Horta, como é o caso da realização de compostagem no lugar de fertilizantes industriais, e da utilização de espécies que controlam a incidência de insetos.

f) Otimizar o consumo e produção de energia do sistema, sugerindo-se para tanto a instalação de estrutura para a captação da energia solar, que substituiria os gastos com luz, atualmente bancados pelos beneficiários (da mesma forma que a água), e ainda geraria a preservação dos recursos naturais;

g) Estar atento ao controle das espécies, para que de acordo com o desenvolvimento de suas estruturas, não passem a prejudicar o desenvolvimento de outras, dificultando a fluidez do sistema.

h) Estimular o crescimento natural das espécies com a realização de manejos de acordo com a necessidade, além de utilizar adubos orgânicos e sempre que possível priorizar o cultivo de espécies nativas (como já citado), tanto de PANCs quanto convencionais, que por definição se desenvolvem com mais facilidade em função de sua fácil adaptação às

características de seu local de origem, e por consequência gastam menos energia do sistema.

i) Para aumentar a diversidade de espécies disponíveis, e assim garantir a Autonomia Alimentar, sugere-se a inserção das novas espécies de PANCs nativas (conforme listadas no presente trabalho), que por se tratarem se espécies não convencionais oferecem novas possibilidades no que diz respeito ao consumo de alimentos, e ainda possuem mais facilidade para cooperarem entre si, otimizando o sistema.

j) Localizar as espécies levando em consideração as características naturais do ambiente, como orientação do sol, sentido do vento e áreas de sombra, levando em consideração as especificidades de cada espécie e distribuindo-as de forma a utilizar as características do espaço a seu favor. No caso das PANCs, e em especial as nativas, seu cultivo é mais rústico, sendo que apenas o Melão Croá (dentre as espécies listadas no presente trabalho) apresenta uma restrição no seu cultivo, que diz respeito a não poder ser cultivado em áreas exclusivamente de sombra.

k) Também é importante considerar o volume da produção das espécies cultivadas na Horta, pois não se deve utilizar os recursos do ambiente de forma dispendiosa, devendo-se atentar se o que está sendo produzido está sendo consumido, para que não se ultrapasse a resiliência da terra;

l) Nutrir os beneficiários com mais informações sobre os métodos de cultivo sustentável, em especial sobre a Permacultura, com orientações sobre como executar diferentes métodos agrícolas e sobre a importância desses modelos para a preservação ambiental, cultural e social.

A Figura 49 abaixo compila as recomendações e orientações para cultivo sustentável de PANCs nativas na Horta Comunitária do Cajuru, apresentadas acima, de forma mais sintétizada, para acesso mais rápido e fácil, além de pontuar qual o papel do Design para cada uma das orientações listas (quando convém um papel ao designer):

Figura 49. Orientações para cultivo sustentável.

Também, para apresentá-las – as orientações e recomendações – de maneira didática, foi elaborado um esquema ilustrado (Figura 50), em parceria com a ilustradora e colega de graduação Emily Cristiane, a ser apresentado na sequência:

Figura 50. Esquema para cultivo sustentável de PANCs nativas na Horta do Cajuru.

4.5.2 Orientações para um consumo responsável de PANCs nativas

De acordo com Petrini (2009), uma alimentação responsável e de qualidade deve seguir três princípios, como já supracitados, sendo estes: o bom, o limpo e o justo. Estes princípios englobam o aspecto prático do consumo de alimentos, orientando tanto os critérios de ingestão dos alimentos, quanto às relações que se desenvolvem em todo o processo produtivo.

Portanto, guiando-se por essa perspectiva, e pelas diretrizes de Design levantadas, pode-se estruturar orientações para um consumo responsável de PANCs da seguinte forma:

a) Uma alimentação de qualidade deve ser lida enquanto uma alimentação que causa prazer ao paladar, sendo assim, deve-se incentivar a utilização culinária das espécies PANCs em receitas que recuperem e valorizem tanto o sabor do alimento quanto o saber cultural por trás da mesma. Para tanto, sugere-se a realização de oficinas de preparo e degustação de receitas com PANCs, que podem gerar como livros ou cadernos de receitas para serem compartilhados.

b) Reitera-se a importância de consumir os alimentos (tanto PANCs quanto convencionais) que atendem às diretrizes de cultivo sustentável em sua produção;

c) Deve-se incentivar que o processamento desses alimentos para consumo ocorra de forma a preservar ao máximo suas propriedades nutritivas, pois não basta apenas um alimento de qualidade se o mesmo não for utilizado de forma correta nas preparações alimentares.

Assim, sugere-se produzir e divulgar materiais a respeito do processamento de alimentos e das melhores formas de trabalhá-los na culinária, visando a otimização de seu potencial nutricional.

Além disso, sugere-se também produção e divulgação de materiais que sensibilizem os beneficiários respeito da importância da conservação das características dos alimentos para a saúde.

d) Valorizar o processo de produção do alimento como é realizado na Horta, a cultura, as tradições e a biodiversidade envolvidas, como forma de resgatar a relação o entre o ato de comer e a origem do alimento, promovendo encontros e trocas de informação entre os beneficiários da Horta do Cajuru e demais Hortas ou modelos agrícolas, consolidando uma identidade e o reconhecimento dela a partir da diferenciação com os demais.

e) Compreender o alimento enquanto produto de um sistema que envolve as pessoas, a biodiversidade local, os saberes e as tradições, para que

assim se recuperem hábitos alimentares menos nocivos a saúde, diferente do que se faz ao consumir um alimento de fast food, por exemplo.

Para tanto, sensibilizar os beneficiários, por meio de palestras e materiais informativos, a respeito da importância de se manter hábitos alimentares saudáveis, tanto para a saúde e bem-estar de quem os ingere, quanto para o meio ambiente;

f) Garantir que haja circulação de informações e produtos entre os

beneficiários da Horta, como forma de demarcar uma identidade àquela atividade agrícola conforme as particularidades de seu desenvolvimento;

g) Estimular a cooperação e o modelo de organização em rede entre os beneficiários da Horta, e até mesmo entre as demais Hortas do Programa de Agricultura Urbana, para que características como o respeito pela diversidade tornem-se a força motriz de uma mudança de comportamento sócioprodutivo de alimentos.

Para tanto, sugerir a associação de moradores a realização de novas atividades comunitárias acerca do cultivo e consumo de alimentos, bem como a respeito da preservação dos recursos naturais, como grupos de estudo, mutirões para plantação das novas espécies de PANCs, ou para manutenção do espaço de uma maneira geral, dentre outras;

h) Garantir a participação e acesso equânime dos beneficiários ao alimento, incentivando a participação dos mesmos no processo de produção, para que consequentemente se possa consumir o alimento produzido, otimizando ao máximo a produção no pequeno espaço que compreende a Horta do Cajuru;

i) Respeitar todos os atores envolvidos no processo produtivo do alimento, bem como os recursos naturais utilizados em sua produção, objetivando o bem-estar enquanto comunidade;

j) Consumir espécies nativas, como forma de valorizar a biodiversidade e cultura locais, dando ênfase às espécies de PANCs nativas listadas no presente trabalho, que também desempenham importante papel frente a Segurança e Autonomia Alimentar;

k) Promover a aproximação dos beneficiários com os valores de uma alimentação de qualidade, por meio do incentivo ao intercâmbio entre diferentes contextos (seja entre Hortas ou até mesmo entre diferentes modelos sustentáveis de produção de alimentos) como forma de estimular novas perspectivas sobre o consumo e produção de alimentos.

Também, realizar sensibilização com os beneficiários, por meio de palestras, materiais informativos, bate-papos, dentro outros, a respeito do que significa uma alimentação de qualidade, como é possível realizá-la, e qual sua importância.

A Figura 51 abaixo compila as recomendações e orientações para consumo responsável de PANCs nativas na Horta Comunitária do Cajuru, apresentadas acima, de forma mais sintétizada, para acesso mais rápido e fácil, além de pontuar qual o papel do Design para cada uma das orientações listas (quando convém um papel ao designer):

Fonte: AUTORA (2018)

Também, para apresentá-las – as orientações e recomendações – de maneira didática, foi elaborado um esquema ilustrado (Figura 52), em parceria com a ilustradora e colega de graduação Emily Cristiane, a ser apresentado na sequência:

Figura 52. Esquema para consumo responsável de PANCs nativas na Horta do Cajuru.

4.5.3 Orientações para comunicar o potencial das PANCs nativas

A comunicação das qualidades de um produto, de acordo com Krucken (2009) é uma das competências possíveis do Designer no que se diz respeito a valorização do território.

No sentido buscado no presente trabalho, a comunicação do potencial das PANCs nativas na Horta do Cajuru, além de objetivar a valorização, reconhecimento e preservação da cultura e tradições locais por meio das espécies nativas do planalto sul brasileiro, também visa a promoção do cultivo e consumo destas espécies, que são introduzidas no contexto da Horta com a função de aumentar a diversidade de alimentos disponíveis. Sendo assim, pode-se orientar a comunicação de seu potencial nos seguintes aspectos:

a) Comunicar as qualidades e o conteúdo sócioambiental das espécies de PANCs nativas listadas no presente trabalho, como forma de sensibilizar os consumidores a respeito das consequências positivas que o cultivo de PANCS e em especial as espécies nativas podem trazer para o contexto da Horta e para Segurança e Autonomia Alimentar, pois além de recuperar e valorizar a biodiversidade, as PANCs nativas são espécies resistentes e perenes, o que garante seu acesso durante todo o ano, além de aumentar a gama de produtos disponíveis, garantindo assim independência na produção e consumo de alimentos de qualidade;

b) Comunicar o conteúdo nutritivo das espécies de PANCs nativas, e quais suas contribuições para a saúde e bem-estar de quem as consome;

c) Desenvolver identidade visual e aplicações básicas para a Horta do Cajuru a partir das PANCs nativas enquanto elementos distintivos daquele território, reforçando sua diferenciação dos demais modelos sócioprodutivos de alimentos;

d) Circular informações a respeito das espécies e seus usos culinários, por meio da realização de palestras, workshops, flyers de divulgação e até mesmo por meio mais informais, como nos grupos virtuais de comunicação (Whatsapp, Facebook, email) entre os beneficiários da Horta;

e) Incentivar a interação entre os beneficiários do programa e a sociedade

civil como um todo, como forma de dar visibilidade a iniciativa, além de promover o conhecimento e incentivo ao consumo dessas espécies por parte de quem não as conhecia;

f) Desenvolver materiais de divulgação sobre as potencialidades alimentares

estrutura da Horta, em forma de pintura nos muros, por exemplo, como forma de instigar os agricultores urbanos a experimentá-las.

g) Incentivar que as Hortas possam tornar-se empreendimentos sociais difusos, agregando valor e comercializando o excedente de produção gerado.

h) Desenvolver produtos locais e suas identidades a partir das espécies PANCs cultivadas na Horta;

A Figura 53 abaixo compila as recomendações e orientações para comunicar o potencial das PANCs nativas na Horta Comunitária do Cajuru, apresentadas acima, de forma mais sintétizada, para acesso mais rápido e fácil, além de pontuar qual o papel do Design para cada uma das orientações listas (quando convém um papel ao designer):

Figura 53. Orientações para comunicar o potencial das PANCs nativas.

Também, para apresentá-las – as orientações e recomendações – de maneira didática, foi elaborado um esquema ilustrado (Figura 54), em parceria com a ilustradora e colega de graduação Emily Cristiane, a ser apresentado na sequência:

Fonte: CRISTIANE (2018)

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