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Scrum, lean e os desperdícios do desenvolvimento de software: um estudo exploratório

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Academic year: 2021

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(1)

INSTITUTO DE CIˆ

ENCIA E TECNOLOGIA

MESTRADO EM ENGENHARIA DE PRODUC

¸ ˜

AO E SISTEMAS

COMPUTACIONAIS

FELIPE DOS SANTOS ANDRADE

SCRUM, LEAN E OS DESPERD´ICIOS DO DESENVOLVIMENTO DE

SOFTWARE: UM ESTUDO EXPLORAT ´

ORIO

RIO DAS OSTRAS, RJ

2016

(2)

SCRUM, LEAN E OS DESPERD´

ICIOS DO

DESENVOLVIMENTO DE SOFTWARE: UM ESTUDO

EXPLORAT ´

ORIO

Disserta¸c˜ao apresentada ao Instituto de Ciˆencia e Tecnologia da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial `a obten¸c˜ao do t´ıtulo de Mes-tre em Engenharia de Produ¸c˜ao e Sistemas Com-putacionais.

Campo de Confluˆencia: Engenharia de Sistemas de Informa¸c˜ao.

Orientador:

Prof.a Dr.a Adriana Pereira de Medeiros

Co-orientador:

Prof. Dr. Carlos Bazilio Martins

Rio das Ostras, RJ

2016

(3)

SCRUM, LEAN E OS DESPERD´

ICIOS DO

DESENVOLVIMENTO DE SOFTWARE: UM ESTUDO

EXPLORAT ´

ORIO

Disserta¸c˜ao apresentada ao Instituto de Ciˆencia e Tecnologia da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial `a obten¸c˜ao do t´ıtulo de Mes-tre em Engenharia de Produ¸c˜ao e Sistemas Com-putacionais.

Campo de Confluˆencia: Engenharia de Sistemas de Informa¸c˜ao.

Aprovada em 16 de fevereiro de 2016.

BANCA EXAMINADORA

Prof.a Dr.a Adriana Pereira de Medeiros - UFF Orientador

Prof. Dr. Carlos Bazilio Martins -Co-orientador

Prof. Dr. Edwin Benito Mitacc Meza- UFF

Prof. Dr. Andr´e Duarte Bueno- UENF

Rio das Ostras, RJ

2016

(4)

Catalogação na fonte. UFF / SDC / Biblioteca de Rio das Ostras.

A553 Andrade, Felipe dos Santos

2016 Scrum, Lean e os desperdícios do desenvolvimento de software um estudo exploratório. / Felipe dos Santos Andrade ; Adriana Pereira de Medeiros, orientadora , Carlos Bazílio Martins, co-orientador. Rio das Ostras : s. n., 2016.

110 f.

Dissertação (mestrado) – Universidade Federal Fluminense, I Instituto de Ciência e Tecnologia. Campus de Rio das Ostras.

1. Desenvolvimento de software. 2. Desperdício. 3. Produção

enxuta. 4. Controle de qualidade. 5. Produção intelectual. I. Título.

II. Medeiros, Adriana Pereira de (orientadora). III. Martins, Carlos Bazílio (co-orientador). IV. Universidade Federal Fluminense. Instituto de Ciência e Tecnologia. Campus de Rio das Ostras.

(5)

Agrade¸co aos meus orientadores, Prof.a Dr.aAdriana Pereira de Medeiros e Prof. Dr. Car-los Bazilio Martins, que conduziram e possibilitaram a realiza¸c˜ao deste trabalho, mesmo com todas as adversidades encontradas no caminho. Sem a sua ajuda e confian¸ca, este trabalho n˜ao seria poss´ıvel.

`

A minha fam´ılia, amigos e colegas de trabalho, por me proverem motiva¸c˜ao durante todo este per´ıodo.

`

A minha parceira Raquel Borba Nascimento, por ter me apoiado e tornado este trabalho poss´ıvel durante este momento de transi¸c˜ao.

(6)

O Scrum ´e um dos m´etodos de desenvolvimento ´agil mais utilizados no mercado. O fra-mework foi inspirado nas melhores pr´aticas da ind´ustria japonesa, com destaque para o Lean. A abordagem Lean, originada na manufatura automobil´ıstica, tem sido expandida para diversos outros campos, tendo trazido melhorias em rela¸c˜ao a efic´acia dos proces-sos e qualidade dos produtos desenvolvidos. Diversas companhias e estudos presentes na literatura indicam a utiliza¸c˜ao do Scrum como meio de aprimorar processos de desenvol-vimento de softwares, tornando-os enxutos. Entretanto, raros estudos retratam de que forma o Scrum implementa o mais primordial princ´ıpio Lean: A identifica¸c˜ao e elimina¸c˜ao de desperd´ıcios. Neste contexto, o presente trabalho apresenta um estudo explorat´orio que tem como objetivo analisar as poss´ıveis rela¸c˜oes dentre as pr´aticas Scrum e os diferen-tes tipos de desperd´ıcios definidos pelo Lean e adaptados ao desenvolvimento de software. Foi utilizada uma metodologia mista quali-quantitativa, constitu´ıda de um estudo de caso em uma companhia multinacional de desenvolvimento de softwares, que tem sua base na cidade de Auckland e da realiza¸c˜ao de uma survey difundida amplamente aos profissio-nais que atuam com desenvolvimento de software Scrum na Nova Zelˆandia. Os resultados demonstram que o Scrum trata, direta ou indiretamente, de diversos tipos de desperd´ıcios do desenvolvimento de software. Todavia, verificou-se que a ado¸c˜ao parcial do framework, fato comum na ind´ustria de desenvolvimento, pode possuir efeitos contr´arios, gerando diversos tipos de desperd´ıcios no processo. Apesar da amostra alcan¸cada ser limitada, impedindo que os resultados sejam generalizados, a pesquisa provˆe informa¸c˜oes que s˜ao de valor para companhias que adotam, ou que pensam em adotar o Scrum.

(7)

Scrum is one of the most popular agile development processes. The framework was inspi-red by the best practices from the Japanese industry, specially by lean thinking. Lean ap-proach was originated in the automotive manufacturing and has been expanded to several other fields, being well-known for bringing significant improvements related to processes efficiency and product quality. Several companies and studies over the literature indicate the use of Scrum as a way of improving software development processes in a Lean manner. However, few studies depict or analise how Scrum implements the most fundamental Lean principle: Visualize and eliminate wastes. Therefore, this study presents an exploratory approach that aims to analyze the possible relationships among the Scrum practices and the different types of waste defined by Lean and adapted to the software development. A mixed-method approach was taken through a qualitative-quantitative methodology that consists of a case study on a software development multinational company located in Auckland and through a survey implemented and widely disseminated to professionals acting with Scrum software development in New Zealand. The results show that Scrum can treat, directly or indirectly, all types of wastes in software development. However, it was found that the partial adoption of the framework, which is common in the software development industry, may have an opposite effect, becoming a source of different types of waste in the process. Despite the limited sample achieved, preventing the results to be generalized, the study provides various information that can be valuable and useful for companies adopting Scrum.

(8)

Lista de Ilustra¸c˜oes . . . p. xii

Lista de Tabelas . . . p. 1

1 Introdu¸c˜ao . . . p. 1

2 Metodologia . . . p. 4 2.1 Objetivo e Quest˜oes de Pesquisa . . . p. 5 2.2 Fases da Pesquisa . . . p. 5 2.3 Estudo de Caso . . . p. 8 2.3.1 Procedimento para Coleta dos Dados . . . p. 8 2.3.1.1 Observa¸c˜ao e Coleta de Documentos . . . p. 8 2.3.1.2 Entrevistas . . . p. 9 2.3.2 Tratamento e An´alise dos Dados . . . p. 12 2.4 Survey . . . p. 14 2.4.1 Desenvolvimento do Question´ario . . . p. 14 2.4.1.1 Valida¸c˜ao do Question´ario . . . p. 15 2.4.2 Procedimento para Coleta dos Dados . . . p. 16 2.4.3 An´alise e Apresenta¸c˜ao dos Dados . . . p. 17

3 Revis˜ao Conceitual . . . p. 18 3.1 Lean . . . p. 18 3.1.1 Desperd´ıcios Lean . . . p. 20 3.1.1.1 Desbalanceamento (Mura) . . . p. 21 3.1.1.2 Sobrecarga (Muri ) . . . p. 21 3.1.1.3 Desperd´ıcio (Muda) . . . p. 22 3.1.2 Lean em Outras Ind´ustrias . . . p. 24 3.2 Desenvolvimento de Software Lean . . . p. 24 3.2.1 Princ´ıpios Lean no Desenvolvimento de Software . . . p. 25 3.2.2 Desperd´ıcios do Desenvolvimento de Software . . . p. 25 3.2.2.1 Defeitos . . . p. 26

(9)

3.2.2.4 Atrasos . . . p. 28 3.2.2.5 Trabalho Parcialmente Completo . . . p. 28 3.2.2.6 Transferˆencia de Conhecimento (Handoff ) . . . p. 28 3.2.2.7 Extra Processamento . . . p. 29 3.2.2.8 Desbalanceamento (Mura) e Sobrecarga (Muri ) . . . p. 29 3.3 Scrum . . . p. 29 3.3.1 Origem . . . p. 30 3.3.2 Caracter´ısticas Principais . . . p. 30 3.3.3 Papeis . . . p. 31 3.3.4 Eventos . . . p. 32 3.3.4.1 Sprint . . . p. 32 3.3.4.2 Reuni˜ao de Planejamento da Sprint . . . p. 33 3.3.4.3 Reuni˜ao Di´aria . . . p. 33 3.3.4.4 Reuni˜ao de Revis˜ao da Sprint . . . p. 34 3.3.4.5 Reuni˜ao de Retrospectiva da Sprint . . . p. 34 3.3.5 Artefatos . . . p. 34 3.3.6 Elementos Adicionais . . . p. 35 3.3.7 Manufatura ´Agil . . . p. 36

4 Revis˜ao Bibliogr´afica . . . p. 37 4.1 Trabalhos com Fatores Favor´aveis `a Ado¸c˜ao de Lean no Desenvolvimento ´Agil p. 37 4.2 Trabalhos com Fatores Desfavor´aveis `a Ado¸c˜ao de Lean no Desenvolvimento

´

Agil . . . p. 39 4.3 Scrum e os Desperd´ıcios do Desenvolvimento de Software . . . p. 40 4.4 Resultados da Revis˜ao Bibliogr´afica . . . p. 41 4.4.1 Sprint . . . p. 41 4.4.2 Times Pequenos e Multifuncionais . . . p. 41 4.4.3 Planejamento da Sprint . . . p. 41 4.4.4 Reuni˜ao Di´aria . . . p. 42 4.4.5 Defini¸c˜ao de Pronto . . . p. 42 4.4.6 Refinamento do Backlog . . . p. 42 4.4.7 Revis˜ao da Sprint . . . p. 42 4.4.8 Retrospectiva da Sprint . . . p. 43

(10)

5.1.1 O processo de Desenvolvimento . . . p. 44 5.1.1.1 Pr´e-desenvolvimento . . . p. 45 5.1.1.2 Desenvolvimento . . . p. 45 5.2 Resultados . . . p. 46 5.2.1 Desbalanceamento (Mura) . . . p. 46 5.2.2 Sobrecarga (Muri ) . . . p. 48 5.2.3 Desperd´ıcio (Muda) . . . p. 49 5.2.3.1 Defeitos . . . p. 49 5.2.3.2 Funcionalidades Extra . . . p. 50 5.2.3.3 Mudan¸ca de Contexto . . . p. 51 5.2.3.4 Atrasos . . . p. 52 5.2.3.5 Trabalho Parcialmente Completo . . . p. 53 5.2.3.6 Transferˆencia de Conhecimento (Handoff ) . . . p. 53 5.2.3.7 Extra Processamento . . . p. 54 6 Survey . . . p. 56 6.1 Participantes . . . p. 56 6.2 Desbalanceamento (Mura) . . . p. 58 6.3 Sobrecarga (Muri ) . . . p. 60 6.4 Desperd´ıcio (Muda) . . . p. 64 6.4.1 Defeitos . . . p. 66 6.4.2 Mudan¸ca de Contexto . . . p. 69 6.4.3 Funcionalidades Extra . . . p. 71 6.4.4 Trabalho Parcialmente Completo . . . p. 72 6.4.5 Atrasos . . . p. 73 6.4.6 Transferˆencia de Conhecimento (Handoff ) . . . p. 74 6.4.7 Extra Processamento . . . p. 76

7 Resultados Gerais e Discuss˜ao . . . p. 79

8 Conclus˜ao e Sugest˜oes para Trabalhos Futuros . . . p. 83

Referˆencias . . . p. 85

(11)

Figura 1 Metodologia Adotada . . . 7

Figura 2 Estrutura da Codifica¸c˜ao no software QSR NVIVO . . . 13

Figura 3 Princ´ıpios Lean. Fonte: Adaptado de (WOMACK; JONES, 2010)) . . . 20

Figura 4 Muda, Mura, Muri. Fonte: Adaptado de (MARCHWINSKI; SHOOK, 2003) 21 Figura 5 Mapeamento dos desperd´ıcios da manufatura ao desenvolvimento de soft-ware. Fonte: Adaptado de Poppendieck e Poppendieck (2003) . . . 26

Figura 6 Processo Scrum. Fonte: Adaptado de (SUTHERLAND; SCHWABER, 2007) 31 Figura 7 Experiˆencia dos respondentes com o framework Scrum . . . 57

Figura 8 Tipo de desenvolvimento no qual os respondentes atuam . . . 57

Figura 9 Presen¸ca de t´ıtulos nos times de desenvolvimento . . . 58

Figura 10 Designa¸c˜ao principal dos participantes . . . 58

Figura 11 Desbalanceamento (Mura) no per´ıodo inicial das itera¸c˜oes . . . 59

Figura 12 Pr´aticas Scrum x Mura . . . 60

Figura 13 Muri (sobrecarga) no final das itera¸c˜oes . . . 61

Figura 14 Frequˆencia na qual o time sacrifica aspectos de qualidade para finalizar os itens da sprint. . . 62

(12)

Figura 16 Pr´aticas Scrum x (Muri ) . . . 64

Figura 17 Eficiˆencia da reuni˜ao de retrospectiva na elimina¸c˜ao de desperd´ıcios no processo. . . 65

Figura 18 N´ıvel de engajamento dos participantes nas reuni˜oes Scrum . . . 66

Figura 19 Frequˆencia de verifica¸c˜ao da defini¸c˜ao de pronto nos itens implementados 67 Figura 20 Frequˆencia na qual defeitos n˜ao urgentes e d´ebitos t´ecnicos s˜ao prioriza-dos . . . 68

Figura 21 Pr´aticas Scrum x Defeitos . . . 69

Figura 22 Frequˆencia na qual a sprint ´e interrompida por trabalho n˜ao planejado 70 Figura 23 Pr´aticas Scrum x Mudan¸ca de Contexto . . . 71

Figura 24 Pr´aticas Scrum x Funcionalidades Extra . . . 72

Figura 25 Pr´aticas Scrum x Trabalho Parcialmente Completo . . . 73

Figura 26 Pr´aticas Scrum x Atrasos . . . 74

Figura 27 Pr´aticas Scrum x Transferˆencias de Conhecimento . . . 75

Figura 28 Frequˆencia de reaprendizado causado por itens refinados, por´em n˜ao im-plementados . . . 76

Figura 29 Eventos do scrum s˜ao suficientes para realizar o desenvolvimento das solu¸c˜oes. . . 77

(13)
(14)

Tabela 2 Entrevistados . . . 10

Tabela 3 Sete desperd´ıcios da manufatura . . . 23

(15)

1

Introdu¸

ao

Na tentativa de aprimorar a qualidade e eficiˆencia dos processos de desenvolvimento de software, o Lean tem ganhado crescente destaque nos ´ultimos anos, principalmente no contexto de desenvolvimento ´agil de software.

O Lean teve origem no setor automobil´ıstico nos anos 80 e expandiu-se para diversas outras ind´ustrias como log´ıstica, militar e de constru¸c˜oes, tendo proporcionado melho-rias em companhias de diversos campos (POPPENDIECK, 2011). O termo Lean ganhou notoriedade na literatura ap´os um estudo realizado pelo Instituto de Tecnologia de Mas-sachusetts (MIT) sobre a ind´ustria automotiva, onde o Lean foi identificado como um dos principais respons´aveis pelos altos ´ındices de produtividade da ind´ustria japonesa. O estudo culminou no best-seller “The machine that changed the world: The story of Lean production” (WOMACK; JONES; ROOS, 1990), que causou grande impacto na literatura (POPPENDIECK, 2011).

O Lean tem como foco principal eliminar os desperd´ıcios do sistema de produ¸c˜ao, ou seja, todas as atividades ou processos que n˜ao contribuam para a gera¸c˜ao de valor ao cliente (PETERSEN, 2010). De acordo com Poppendieck (2011) o Lean ´e uma abordagem sistem´atica para identificar e eliminar desperd´ıcios por meio de um processo de melhoria cont´ınua, de forma que o fluxo de produ¸c˜ao seja iniciado a partir da solicita¸c˜ao do cliente (produ¸c˜ao puxada), em constante busca pela perfei¸c˜ao.

A ind´ustria de software tem sido caracterizada pelo alto ´ındice de insucesso na execu¸c˜ao de seus projetos (The Standish Group, 2011). As metodologias ´ageis de desenvolvimento de software foram originadas nos anos 90, perante ao descontentamento com o cen´ario de desenvolvimento de softwares. O movimento foi oficializado atrav´es do manifesto ´agil, um documento elaborado no ano de 2000 por alguns dos mais influentes profissionais e autores do desenvolvimento de software da ´epoca (FOWLER; HIGHSMITH, 2001). Estes realizavam cr´ıticas aos modelos de desenvolvimento existentes, como o modelo em cascata, devido a quest˜oes como o seu alto n´ıvel de documenta¸c˜ao e distanciamento do cliente durante

(16)

algumas etapas da implementa¸c˜ao dos sistemas. De acordo com Sutherland e Schwaber (2007), os processos ´ageis de desenvolvimento foram influenciados por melhores pr´aticas da ind´ustria japonesa, principalmente por princ´ıpios do Lean.

Conforme o relat´orio “9th State of Agile Development Survey Results” (VERSION ONE, 2011), o Scrum ´e o m´etodo de desenvolvimento ´agil mais popular no mercado de desen-volvimento de softwares. O Scrum ´e um conjunto de princ´ıpios e pr´aticas idealizadas por Jeff Sutherland e Ken Schwaber (SCHWABER; SUTHERLAND, 2013). De acordo com seus criadores, o Scrum auxilia times a entregarem produtos em curtos ciclos, promovendo a melhoria cont´ınua e a r´apida adapta¸c˜ao a mudan¸cas (SCHWABER, 1997). O Scrum ´e base-ado em um estudo publicbase-ado por Takeuchi e Nonaka em 1986 (TAKEUCHI; NONAKA, 1986), onde indica-se que times pequenos e multifuncionais tˆem historicamente produzido me-lhores resultados em projetos de desenvolvimento de produtos complexos. O Framework se concentra no gerenciamento de atividades di´arias de gerenciamento de projeto e tem como foco a prioriza¸c˜ao de tarefas de acordo com as necessidades do neg´ocio, de forma a entregar valor para o cliente o mais breve poss´ıvel. De acordo com Sutherland e Schwaber (2007), o Scrum pode ser visto como uma abordagem enxuta para o desenvolvimento de software.

O Lean e o desenvolvimento de software ´agil possuem valores semelhantes. A principal semelhan¸ca entre as abordagens ´e o objetivo de maximizar o valor gerado ao cliente ao en-tregar produtos de forma mais r´apida e economicamente eficiente. Todavia, ao contr´ario do ´agil, o Lean possui um forte foco em remover desperd´ıcios do processo. De acordo com

¯

Ono (1988), o primeiro passo para adotar o Lean ´e identificar e eliminar desperd´ıcios no processo atual. Esta medida poder´a trazer melhorias na produtividade e mais importante, causar mudan¸cas fundamentais no processo. A elimina¸c˜ao de desperd´ıcios tornar´a o pro-cesso transparente, tornando poss´ıvel realizar altera¸c˜oes expl´ıcitas a ele e, em seguida, inspecionar e adaptar conforme necess´ario.

O desperd´ıcio ´e definido como qualquer coisa que n˜ao agregue valor ao cliente. Em ja-ponˆes, o desperd´ıcio pode ser definido como Mura, Muri e Muda. Mura diz respeito `a desbalanceamentos ou varia¸c˜ao (na qualidade do processo, custo, entrega), Muri diz res-peito `a sobrecarga de m´aquinas ou pessoas e Muda ´e qualquer atividade que n˜ao agrega valor ao cliente (WOMACK; JONES, 1996). Os tipos de desperd´ıcios originalmente identifi-cados na manufatura, foram mapeados ao desenvolvimento de software por Poppendieck e Poppendieck (2003).

(17)

CON-BOY; CAWLEY, 2012) e (SWAMINATHAN; JAIN, 2012) buscam analisar a rela¸c˜ao entre as abordagens Lean e ´Agil. Entretanto, poucos estudos tem como foco analisar as pr´aticas do m´etodo Scrum e sua habilidade de remover desperd´ıcios do desenvolvimento de soft-ware. Estudos como (JAKOBSEN; POPPENDIECK, 2011) relatam a aplica¸c˜ao do Lean como forma de aprimorar processos Scrum. Barton (2009) sugere que o Scrum implementa um processo para eliminar desperd´ıcios e suavizar o fluxo atrav´es do sistema e prevenir a sobrecarga das equipes ao implementar um modelo semelhante a produ¸c˜ao puxada do Lean. Todavia, n˜ao foram identificados estudos emp´ıricos que indiquem de que forma as pr´aticas do framework Scrum influenciam na identifica¸c˜ao e elimina¸c˜ao de desperd´ıcios no processo.

Portanto, neste contexto, o presente estudo tem como objetivo analisar como os des-perd´ıcios identificados pelo Lean se apresentam em um ambiente de desenvolvimento Scrum, buscando identificar poss´ıveis rela¸c˜oes entre o framework e os desperd´ıcios do de-senvolvimento de software. A an´alise destas rela¸c˜oes ´e de interesse para organiza¸c˜oes que adotam o Scrum como metodologia de desenvolvimento, pois esclarece de que forma as pr´aticas Scrum s˜ao utilizadas para eliminar desperd´ıcios, assim como identifica eventuais desperd´ıcios provocados ou associados ao uso do framework.

Al´em disso, a companhia a ser analisada no estudo de caso realizado nesta pesquisa tem apresentado problemas em rela¸c˜ao ao seu processo de desenvolvimento de software ap´os a ado¸c˜ao da metodologia Scrum, motivando a realiza¸c˜ao de uma an´alise entre as pr´aticas implementadas e os poss´ıveis desperd´ıcios causados no processo. A motiva¸c˜ao deste estudo se deu tamb´em devido ao Lean ser um t´opico de interesse comum dentre as grandes ´areas (Engenharia de Produ¸c˜ao e Sistemas Computacionais) do mestrado realizado.

A pesquisa se delimita ao campo de desenvolvimento de software, onde busca-se analisar as rela¸c˜oes dentre o Lean e o Scrum em um estudo explorat´orio realizado com profissionais da ind´ustria de desenvolvimento de software neozelandesa. A localiza¸c˜ao do estudo foi escolhida devido a facilidade de acesso por parte do pesquisador.

Desta forma, a pesquisa pretende abordar quest˜oes como:

• O Scrum pode identificar e eliminar desperd´ıcios no desenvolvimento de software?

• Quais pr´aticas do Scrum podem auxiliar na elimina¸c˜ao de quais desperd´ıcios?

• O Scrum pode propiciar a ocorrˆencia de algum tipo de desperd´ıcio no desenvolvi-mento de software?

(18)

2

Metodologia

O estudo baseia-se em metodologia mista, envolvendo m´etodos qualitativos e quantitati-vos. De acordo com Guest, Namey e Mitchell (2012), os m´etodos qualitativos auxiliam a compreender o significado narrativo e descritivo de um fenˆomeno particular para um certo grupo de pessoas. Em outras palavras, ajudam a desenvolver uma vis˜ao mais ampla baseada na informa¸c˜ao recebida de participantes individuais. J´a os m´etodos quantitati-vos tem como objetivo explicar fenˆomenos atrav´es da coleta e an´alise de dados num´ericos. (CRESWELL, 1999).

A combina¸c˜ao destas duas abordagens de pesquisa, conhecida como m´etodo de pesquisa misto (“mixed method ”), ´e bem conhecida e estabilizada na academia (JOHNSON; CH-RISTENSEN, 2008). A utiliza¸c˜ao do m´etodo misto ´e potencialmente capaz de prover um melhor entendimento do problema, ao prover uma combina¸c˜ao das vantagens das duas metodologias. Tamb´em permite que pesquisadores olhem para o problema de m´ultiplos pontos de vista, de forma a aprimorar a acur´acia de seus julgamentos. (JICK, 1979).

No presente estudo, a abordagem qualitativa ´e utilizada para analisar como se d´a, na lite-ratura e na pr´atica, a rela¸c˜ao entre o Scrum e os desperd´ıcios do Lean no desenvolvimento de software. A abordagem quantitativa ´e ent˜ao realizada com base nos resultados obti-dos na analise qualitativa e tem como objetivo verificar as hip´oteses obtidas nas etapas anteriores.

A presente pesquisa ´e de natureza explorat´oria. De acordo com Gil (2010), este tipo de pesquisa tem como objetivo proporcionar familiariza¸c˜ao ao t´opico pesquisado, para torn´ a-lo mais explicito ou para que sejam constru´ıdas hip´oteses. As etapas iniciais do presente estudo fornecem hip´oteses e insumos para as fases seguintes de forma a refinar ou validar os resultados obtidos.

(19)

2.1

Objetivo e Quest˜

oes de Pesquisa

O principal objetivo deste estudo ´e avaliar a rela¸c˜ao entre o m´etodo Scrum e os des-perd´ıcios do Lean no desenvolvimento de software. Tal objetivo envolve:

• Identificar na literatura os desperd´ıcios definidos pelo Lean e suas adapta¸c˜oes ao desenvolvimento de software.

• Identificar na literatura a rela¸c˜ao entre o Scrum e o Lean.

• Capturar a rela¸c˜ao entre o Scrum e os desperd´ıcios do desenvolvimento de software em um ambiente real de desenvolvimento de softwares.

• Obter a percep¸c˜ao geral do praticante na utiliza¸c˜ao do m´etodo Scrum em rela¸c˜ao a sua efetividade na elimina¸c˜ao de desperd´ıcios no desenvolvimento de software.

Para alcan¸car os objetivos propostos, as seguintes quest˜oes de pesquisa foram formuladas:

• QP1 - Quais s˜ao os desperd´ıcios do Lean e suas adapta¸c˜oes ao desenvolvimento de software na literatura?

• QP2 - Qual a rela¸c˜ao entre o Scrum e o Lean de acordo com a literatura?

• QP3 - Como se d´a na pr´atica a rela¸c˜ao entre Scrum e os desperd´ıcios do desenvol-vimento de software? i.e. Quais pr´aticas do Scrum est˜ao relacionadas a quais tipos de desperd´ıcios?

2.2

Fases da Pesquisa

Este estudo ´e realizado atrav´es de quatro principais fases:

1. Revis˜ao da Literatura

2. Estudo de Caso

3. Pesquisa Survey

4. Refinamento dos Resultados

Na primeira fase do estudo, livros e artigos s˜ao examinados na tentativa de identificar rela¸c˜oes entre o Scrum e os desperd´ıcios do Lean no desenvolvimento de software. Nesta fase buscou-se responder as quest˜oes de pesquisa QP1 e QP2.

(20)

A revis˜ao da literatura provˆe a fundamenta¸c˜ao te´orica para realiza¸c˜ao da segunda fase da pesquisa. Na segunda fase, busca-se responder parcialmente a quest˜ao QP3 ao se conduzir um estudo de caso em uma das grandes companhias de desenvolvimento de software da Nova Zelˆandia, utilizando-se de ferramentas de coleta de dados como a observa¸c˜ao e a realiza¸c˜ao de entrevistas semi-estruturadas com os gerentes e l´ıderes de desenvolvimento de software na companhia. Uma an´alise dos dados obtidos ´e ent˜ao realizada a fim de obter resultados que sirvam de base para o question´ario utilizado no pr´oximo passo da pesquisa.

Na terceira fase, uma pesquisa survey ´e disponibilizada aos profissionais que atuam na ind´ustria de software, com o objetivo de validar os resultados obtidos nas etapas ante-riores em rela¸c˜ao ao Scrum e sua intera¸c˜ao com os desperd´ıcios do desenvolvimento de software. A Survey ser´a disponibilizada atrav´es da internet, direcionada diretamente `a comunidade desenvolvimento ´agil neozelandesa, atrav´es de divulga¸c˜ao em empresas de desenvolvimento e tamb´em em plataformas como Meetup e LinkedIn, utilizadas por uma relevante quantidade de profissionais que atuam com os temas envolvidos.

Finalmente, na quarta etapa, os resultados da revis˜ao da literatura, estudo de caso e survey s˜ao refinados para identificar respostas a pergunta QP3. Os est´agios da pesquisa e os passos executados s˜ao ilustrados na Figura 1:

(21)
(22)

2.3

Estudo de Caso

Houveram reuni˜oes para explicar a forma como o estudo de caso seria realizado na compa-nhia e ap´os obter a aprova¸c˜ao do gerente de desenvolvimento (CTO), iniciou-se o processo de coleta de dados nas equipes.

2.3.1

Procedimento para Coleta dos Dados

O trabalho de campo teve dura¸c˜ao aproximada de 45 dias, sendo realizado da segunda semana de outubro de 2015 ao final do mˆes de novembro de 2015. A coleta dos dados foi realizada em trˆes principais etapas:

• Observa¸c˜ao do processo.

• Coleta de documentos.

• Entrevista individual com l´ıderes do processo na companhia (Gerente de desenvol-vimento, gerentes de setor, gerente de processo e scrum masters).

2.3.1.1 Observa¸c˜ao e Coleta de Documentos

A coleta de dados foi iniciada com a observa¸c˜ao. A observa¸c˜ao foi selecionada como uma das t´ecnicas de coleta de dados neste estudo, devido `a possibilidade de se captar uma variedade de situa¸c˜oes `as quais n˜ao se teria acesso somente por meio de perguntas realizadas aos colaboradores.

Desta forma, houve a participa¸c˜ao do pesquisador como observador em eventos Scrum em nove equipes durante trˆes itera¸c˜oes. Durante o per´ıodo de observa¸c˜ao buscou-se coletar dados relacionados aos desperd´ıcios do desenvolvimento de software com base no referen-cial te´orico deste estudo, levanto em conta fatores como, fluxo e carga de trabalho das equipes e problemas ou dificuldades relacionados ao processo destacadas por membros durante as reuni˜oes.

Durante este per´ıodo, buscou-se tamb´em coletar documentos ou artefatos relacionados ao processo de desenvolvimento. Desta forma, foram coletados, entre outros, dados sobre o backlog de produtos das equipes, notas de reuni˜oes de retrospectiva e documentos de an´alise do processo elaborados por uma empresa de consultoria contratada anteriormente.

Os dados foram agrupados e inseridos na ferramenta QSR NVivo (QSR, 2016) para an´alise posterior, conforme destacado nas se¸c˜oes seguintes.

(23)

O software QSR NVivo ´e uma ferramenta para an´alise de dados qualitativos criado pela companhia QSR. De acordo com Welsh (2002), ferramentas deste tipo auxiliam o pesqui-sador a identificar uma acurada e transparente imagem dos dados, enquanto que tamb´em proveem mecanismos que tornam o processo de an´alise dos dados mais confi´avel.

2.3.1.2 Entrevistas

Na tentativa de compreender quais tipos de desperd´ıcios se apresentam na companhia e quais as suas rela¸c˜oes com o framework Scrum, foram conduzidas entrevistas semiestru-turadas com dura¸c˜ao de 20 a 40 minutos. As entrevistas foram realizadas com 12 l´ıderes de processo na companhia, incluindo Scrum Masters, l´ıderes de equipe e gerentes de de-senvolvimento. Uma caracteriza¸c˜ao mais detalhada de cada participante est´a descrita na tabela 2:

(24)

Participante Cargo Experiˆencia com desenvolvimento de

softwares (anos)

Experiˆencia com m´etodos ´ageis (anos) 1 Gerente de Desenvolvimento (CTO) 15 2 2 Gerente de Setor 9 2 3 Gerente de Processo 12 2 4 L´ıder de Equipe/Desenvolvedor 7 3 5 Scrum Master/Analista de neg´ocios 7 2 6 Scrum Master/Desenvolvedor 6 2 7 Scrum Master/Desenvolvedor 7 2 8 Scrum Master/Desenvolvedor 5 2 9 Scrum Master/Desenvolvedor 4 1 10 Scrum Master/Testador 6 2 11 Scrum Master/Testador 7 3 12 Scrum Master/Testador 10 2 Tabela 2: Entrevistados

Durante as entrevistas, cada um dos desperd´ıcios foi apresentado ao entrevistado atrav´es de exemplos e descri¸c˜oes presentes na literatura 3.2.2. Ap´os a apresenta¸c˜ao e exempli-fica¸c˜ao do conceito, perguntas sobre os tipos de desperd´ıcios apresentados foram realiza-das.

Neste estudo optou-se pela entrevista semiestruturada, na qual o entrevistado tem a pos-sibilidade de discorrer sobre suas experiˆencias, a partir do foco principal proposto pelo pesquisador e ao mesmo tempo permite respostas livres e espontˆaneas do informante ( DRE-VER, 1995). As quest˜oes elaboradas para a entrevista levaram em conta o embasamento te´orico e as informa¸c˜oes que o pesquisador recolheu previamente atrav´es da observa¸c˜ao do processo. Desta forma, as entrevistas foram guiadas inicialmente atrav´es das seguintes

(25)

perguntas:

1. Vocˆe verifica a ocorrˆencia de sobrecarga (Muri), causada por fatores como altas car-gas de trabalho, na companhia? Existe algum elemento do Scrum que tem auxiliado a evitar este tipo de desperd´ıcio? Existe algo relacionado ao Scrum que pode estar de alguma forma favorecendo a ocorrˆencia deste tipo de desperd´ıcio?

2. Vocˆe verifica a ocorrˆencia de varia¸c˜oes ou desbalanceamentos no fluxo de trabalho na companhia (Mura)? Existe algum elemento do Scrum que tem auxiliado a evitar este tipo de desperd´ıcio? Existe algo relacionado ao Scrum que pode estar de alguma forma favorecendo a ocorrˆencia deste tipo de desperd´ıcio?

3. Defeito diz respeito a partes ou unidades que apresentam problemas ou n˜ao atendem a especifica¸c˜ao do cliente. Vocˆe verifica a ocorrˆencia deste tipo de desperd´ıcio na companhia? Existe algum elemento do Scrum que tem auxiliado a evitar este tipo de desperd´ıcio? Existe algo relacionado ao Scrum que pode estar de alguma forma favorecendo a ocorrˆencia deste tipo de desperd´ıcio?

4. Funcionalidades extra se referem a funcionalidades ou estruturas de c´odigo que n˜ao s˜ao exatamente necess´arias no momento, mas s˜ao adicionadas ao sistema como forma de antecipar futuras necessidades. Vocˆe verifica a ocorrˆencia deste tipo de desperd´ıcio na companhia? Existe algum elemento do Scrum que tem auxiliado a evitar este tipo de problema? Existe algo relacionado ao Scrum que pode estar de alguma forma favorecendo a ocorrˆencia deste tipo de desperd´ıcio?

5. A mudan¸ca de contexto est´a relacionada principalmente a interrup¸c˜oes e ao traba-lho em diversas tarefas simultaneamente. Vocˆe verifica a ocorrˆencia deste tipo de desperd´ıcio na companhia? Existe algum elemento do Scrum que tem auxiliado a evitar este tipo de desperd´ıcio? Existe algo relacionado ao Scrum que pode estar de alguma forma favorecendo a ocorrˆencia deste tipo de desperd´ıcio?

6. O desperd´ıcio relacionado a atrasos est´a principalmente relacionado a espera ociosa causadas por atrasos ou desbalanceamentos no fluxo de trabalho das equipes. Vocˆe verifica a ocorrˆencia deste tipo de desperd´ıcio na companhia? Existe algum elemento do Scrum que tem auxiliado a evitar? Existe algo relacionado ao Scrum que pode estar de alguma forma favorecendo a ocorrˆencia deste tipo de desperd´ıcio?

7. O trabalho realizado parcialmente diz respeito a unidades de trabalho iniciadas, por´em n˜ao completamente finalizado, gerando desperd´ıcios. Exemplos deste tipo de desperd´ıcio s˜ao: Documenta¸c˜ao n˜ao codificada, c´odigo n˜ao testado, c´odigo n˜ao

(26)

sincronizado etc. Vocˆe verifica a ocorrˆencia deste tipo de desperd´ıcio na companhia? Existe algum elemento do Scrum que tem auxiliado a evitar este tipo de desperd´ıcio? Existe algo relacionado ao Scrum que pode estar de alguma forma favorecendo a ocorrˆencia deste tipo de desperd´ıcio?

8. O desperd´ıcio relacionado a Handoffs ou transferˆencia de conhecimento, est´a rela-cionado a perda de conhecimento e ao reaprendizado causado pela transferˆencia de tarefas ou de conhecimento atrav´es de artefatos. Vocˆe verifica a ocorrˆencia deste tipo de desperd´ıcio na companhia? Existe algum elemento do Scrum que tem auxi-liado a evitar este tipo de desperd´ıcio? Existe algo relacionado ao Scrum que pode estar de alguma forma favorecendo a ocorrˆencia deste tipo de desperd´ıcio?

9. O extra processamento diz respeito a etapas do processo que poderiam ser eliminadas para que o fluxo de produ¸c˜ao seja otimizado, como documenta¸c˜ao ou reuni˜oes n˜ao necess´arias. Vocˆe verifica a ocorrˆencia deste tipo de desperd´ıcio na companhia? Existe algum elemento do Scrum que tem auxiliado a evitar este tipo de desperd´ıcio? Existe algo relacionado ao Scrum que pode estar de alguma forma favorecendo a ocorrˆencia deste tipo de desperd´ıcio?

10. Existe algum evento ou artefato do Scrum que vocˆe consideraria como desnecess´ario, ou extra processamento?

2.3.2

Tratamento e An´

alise dos Dados

A an´alise dos dados foi baseada na an´alise tem´atica, que de acordo com Fereday e Muir-Cochrane (2008) consiste em uma busca por temas que apresentem importˆancia para descrever um fenˆomeno. Este processo envolve a leitura cuidadosa dos dados na tentativa de reconhecer padr˜oes, onde temas emergentes se tornam as categorias de an´alise.

O m´etodo de an´alise escolhido para esta etapa foi a abordagem dedutiva baseada em modelos de c´odigos pr´e definidos, definida por Crabtree e Miller (1999). Esta aborda-gem prevˆe a cria¸c˜ao pr´evia de um modelo de c´odigos que visa organizar o texto para interpreta¸c˜oes posteriores. O modelo tem o intuito de organizar fragmentos do texto que possuam similaridades, auxiliando na an´alise posterior do material colhido. (CRABTREE; MILLER, 1999).

Nesta abordagem, o pesquisador define um template antes de iniciar a an´alise profunda dos dados. O modelo de c´odigos pode ser criado atrav´es de uma leitura preliminar dos dados, ou atrav´es de pressupostos externos como quest˜oes de pesquisa ou arcabou¸cos

(27)

te´oricos, permitindo, desta forma integrar pressupostos origin´arios de fontes externas aos dados ao processo de an´alise tem´atica dedutiva. (FEREDAY; MUIR-COCHRANE, 2008).

Assim como em (FEREDAY; MUIR-COCHRANE, 2008), neste estudo o modelo de c´odigos foi desenvolvido a priori, baseando-se nas quest˜oes de pesquisa e no arcabou¸co te´orico. Portanto, o modelo de c´odigos utilizado neste estudo foi criado com base na revis˜ao da literatura realizada, resultando nos desperd´ıcios definidos pelo Lean aplic´aveis ao desen-volvimento de softwares (Sobrecarga (Muri )), Desbalanceamento (Mura), Defeitos, Fun-cionalidades Extra, Mudan¸ca de Contexto, Atrasos, Trabalho Parcialmente Completo, Transferˆencia de Conhecimento, Extra Processamento).

Os dados coletados (transcri¸c˜oes das entrevistas, observa¸c˜oes e documentos do processo) foram inseridas no software de gerenciamento de dados qualitativos QSR NVivo (QSR, 2016), onde o processo de codifica¸c˜ao dos dados foi realizado. O processo de codifica¸c˜ao envolve reconhecer uma ocorrˆencia importante nos dados e destac´a-lo atrav´es de um c´odigo (nome, termo, etc) que o descreva. Este processo ocorre anteriormente ao processo de interpreta¸c˜ao (FEREDAY; MUIR-COCHRANE, 2008). De acordo com Boyatzis (1998), codi-ficar a informa¸c˜ao envolve organizar os dados de forma a identificar padr˜oes na informa¸c˜ao que no m´ınimo descrevam e organizem as observa¸c˜oes e no m´aximo interpretem aspectos do fenˆomeno.

Portanto, utilizando a an´alise dedutiva baseada em modelo de c´odigos (CRABTREE; MIL-LER, 1999), os c´odigos foram aplicados aos dados com o objetivo de agrupar unidades de textos significativas, identificando pontos chave no processo e fatores destacados pelos participantes em resposta `as perguntas das entrevistas. A Figura 2 ilustra a estrutura dos c´odigos no software QSR NVivo (QSR, 2016).

(28)

A fase final envolveu uma an´alise minuciosa do resultado da codifica¸c˜ao, na tentativa de identificar poss´ıveis falhas nas etapas anteriores, o que se assemelha a fase de confirma¸c˜ao definida por Crabtree e Miller (1999). Ap´os esta etapa foi realizada uma an´alise inter-pretativa, que envolve a descoberta de temas e padr˜oes nos dados atrav´es da an´alise e conex˜ao das unidades destacadas. Os resultados s˜ao descritos nas se¸c˜oes posteriores.

2.4

Survey

Ap´os analisar os resultados da revis˜ao liter´aria e do estudo de caso, uma pesquisa survey foi conduzida na tentativa de verificar e validar a forma na qual o Scrum tem sido utilizado na identifica¸c˜ao e elimina¸c˜ao de desperd´ıcios na ind´ustria de softwares neozelandesa, visando responder a quest˜ao de pesquisa QP3 do presente estudo.

De acordo com Freitas et al. (2000), a pesquisa survey ´e utilizada para a obten¸c˜ao de dados ou informa¸c˜oes sobre as caracter´ısticas ou opini˜oes de um determinado grupo de pessoas, utilizando um question´ario como instrumento de pesquisa. A pesquisa survey possibilita que dados sejam obtidos diretamente do grupo de interesse de forma a descrever, comparar ou explicar conhecimentos e comportamentos.

Considerando todos os benef´ıcios, o m´etodo survey foi selecionado como a melhor al-ternativa para obter a informa¸c˜ao necess´aria em um curto espa¸co de tempo e atrav´es de uma popula¸c˜ao significativa. Desta forma, o m´etodo foi aplicado ao se desenvolver um question´ario e disponibiliz´a-lo a profissionais que atuam em diversas organiza¸c˜oes de desenvolvimento de software da Nova Zelˆandia.

2.4.1

Desenvolvimento do Question´

ario

Conforme previsto na metodologia, capitulo 2, o question´ario foi desenvolvido com base nos resultados obtidos nas etapas anteriores do presente estudo. Desta forma, buscou-se obter dados qualitativos a respeito das rela¸c˜oes identificadas entre o Scrum e os des-perd´ıcios do desenvolvimento de software.

Optou-se pela utiliza¸c˜ao da escala Likert com cinco pontos na elabora¸c˜ao do question´ario. A escala Likert ´e um instrumento psicom´etrico proposto por Likert (1932) e utilizado primariamente para se obter o n´ıvel de concordˆancia dos participantes a respeito de uma afirma¸c˜ao ou conjunto de informa¸c˜oes.

(29)

Desta forma, ao realizar a survey os participantes deveriam indicar o n´ıvel de concordˆancia em rela¸c˜ao `as afirma¸c˜oes em uma escala constitu´ıda por 5 pontos, sendo eles:

1. Discordo totalmente

2. Discordo

3. Indiferente (Indeciso)

4. Concordo

5. Concordo Totalmente

Em casos onde buscava-se verificar a frequˆencia de ocorrˆencia de um determinado fator, a escala foi utilizada com os mesmos valores, por´em com diferentes descri¸c˜oes:

1. Nunca

2. Raramente

3. Algumas vezes

4. Frequentemente

5. Sempre

As afirma¸c˜oes presentes na pesquisa est˜ao principalmente relacionadas `a forma na qual os participantes utilizam as pr´aticas do framework Scrum como ferramenta para identificar e eliminar desperd´ıcios em seus processos. Foram levados em conta tamb´em poss´ıveis impactos negativos do framework em rela¸c˜ao aos desperd´ıcios, conforme identificados na etapa do estudo de caso.

2.4.1.1 Valida¸c˜ao do Question´ario

A valida¸c˜ao do question´ario ´e um importante passo na realiza¸c˜ao de uma survey, de acordo com Kitchenham e Pfleeger (2002a), se os participantes n˜ao puderem responder ou compreender a pesquisa, as respostas e an´alises podem ser comprometidas. No presente estudo, a valida¸c˜ao do question´ario envolveu trˆes principais etapas:

Na etapa inicial, uma vers˜ao do question´ario foi elaborada com 32 quest˜oes. Nesta vers˜ao, cada se¸c˜ao correspondia a uma pr´atica do Scrum e as afirma¸c˜oes contidas na se¸c˜ao se referiam a forma na qual tal pr´atica impactava nos desperd´ıcios do desenvolvimento de software no processo do respondente. Ap´os disponibilizar este question´ario a alguns dos participantes do estudo de caso, estes reportaram problemas em rela¸c˜ao `a extens˜ao do

(30)

question´ario e ao tempo requerido para preenchimento do mesmo. Al´em disso, a forma na qual o question´ario havia sido estruturado restringia a identifica¸c˜ao de rela¸c˜oes n˜ao descobertas nas etapas anteriores.

Portanto, a partir do feedback obtido, uma nova vers˜ao do question´ario foi elaborada, constitu´ıdo por 21 quest˜oes. Nesta vers˜ao, as se¸c˜oes foram estruturadas a partir dos des-perd´ıcios do desenvolvimento de software, onde os participantes puderam indicar, atrav´es da escala Likert, o grau de concordˆancia em rela¸c˜ao aos impacto positivo de cada pr´atica Scrum no desperd´ıcio indicado. O question´ario contou tamb´em com afirma¸c˜oes relacio-nadas aos impactos negativos do Scrum identificados nas se¸c˜oes anteriores do estudo.

Esta vers˜ao foi disponibilizada novamente aos participantes da pesquisa que avaliaram o question´ario anteriormente e, ap´os adicionar quest˜oes relacionadas aos dados do partici-pante e realizar pequenos ajustes sugeridos, o question´ario pˆode em fim ser publicado. O question´ario final, em inglˆes, est´a anexado a este documento (Apˆendice A).

2.4.2

Procedimento para Coleta dos Dados

De acordo com Kitchenham e Pfleeger (2002b), uma amostra v´alida ´e um subconjunto representativo da popula¸c˜ao alvo. Portanto, torna-se importante avaliar se os responden-tes s˜ao relevantes para pesquisa. No presente estudo optou-se por utilizar uma amostra n˜ao probabil´ıstica por conveniˆencia, na medida em que uma popula¸c˜ao espec´ıfica, n˜ao aleat´oria, foi buscada. Em amostras n˜ao probabil´ısticas por conveniˆencia, os dados s˜ao obtidos atrav´es de participantes que se disponibilizarem a realizar a pesquisa. De acordo com Freitas et al. (2000), este tipo de amostra n˜ao permite a generaliza¸c˜ao dos resulta-dos, mas pode descrever dados intr´ınsecos da amostra analisada, sendo adequado quando existem restri¸c˜oes de tempo e or¸camento, como no caso da presente pesquisa.

Portanto, buscou-se alcan¸car profissionais que tenham atuado diretamente com o fra-mework Scrum na ind´ustria neozelandesa de desenvolvimento de softwares. Ap´os analisar recursos e identificar formas de contactar tais profissionais, a pesquisa foi disponibilizada de forma eletrˆonica e publicada em diferentes meios:

Empresas: Al´em da empresa na qual o estudo de caso foi realizado, a pesquisa foi enca-minhada diretamente para duas diferentes companhias da cidade de Auckland.

Redes sociais: A pesquisa foi publicada em grupos de desenvolvimento lean e ´agil da Nova Zelˆandia nas redes sociais Meetup e LinkedIn. Al´em dos grupos gerais da Nova Zelˆandia, foram alcan¸cados tamb´em grupos regionais, especificamente para as

(31)

cidades de Dunedin, Christchurch, Auckland e Wellington.

Grupos de e-mails: Foram identificados trˆes grupos de e-mails locais constitu´ıdos por profissionais de desenvolvimento de software que atuam com o desenvolvimento ´agil na regi˜ao.

2.4.3

An´

alise e Apresenta¸

ao dos Dados

A escala Likert, utilizada no presente estudo, ´e uma escala ordinal na qual as observa¸c˜oes s˜ao alocadas em categorias ordenadas. Isto significa que as categorias possuem um valor ordenado, mas os intervalos entre as categorias n˜ao pode ser considerado igual. ( JAMIE-SON, 2004).

Diversos estudos como (JAMIESON, 2004), (JAKOBSSON, 2004) e (BERTRAM, 2007),

indi-cam a estat´ıstica descritiva, utilizando-se de medianas, porcentagens e modas, como a fer-ramenta mais apropriada para interpretar dados oriundos deste tipo de escala. Jamieson (2004), defende que elementos como a m´edia e o desvio padr˜ao, mesmo que amplamente utilizados em estudos deste tipo, s˜ao inapropriados para dados ordinais, onde os n´umeros geralmente representam afirma¸c˜oes verbais.

Portanto, a an´alise estat´ıstica descritiva foi selecionada para apresentar os dados e descre-ver as observa¸c˜oes na amostra numericamente e graficamente. Para elementos da escala Likert, a mediana (med ) foi utilizada como medida de tendˆencia central e a amplitude interquartil (aiq) foi utilizada como medida de dispers˜ao. De acordo com Jakobsson (2004), altos valores de amplitude interquartil sugerem que as opini˜oes est˜ao polarizadas, enquanto que valores menores podem indicar consenso.

Devido a limita¸c˜oes de tempo, n˜ao foi poss´ıvel realizar testes estat´ısticos n˜ao-param´etricos aprofundados. Em trabalhos futuros testes n˜ao-param´etricos, como o teste de Friedman, poder˜ao ser utilizados na tentativa de identificar as diferen¸cas gerais das pr´aticas Scrum em rela¸c˜ao a sua efetividade de eliminar desperd´ıcios.

(32)

3

Revis˜

ao Conceitual

Este cap´ıtulo descreve os fundamentos te´oricos da pesquisa e tem como objetivo contribuir na elucida¸c˜ao dos conceitos relacionados `a problem´atica apresentada.

3.1

Lean

O Lean ´e origin´ario do Sistema Toyota de Produ¸c˜ao, uma filosofia de elimina¸c˜ao de des-perd´ıcios desenvolvida e implementada pela companhia Toyota na manufatura automo-bil´ıstica japonesa a partir da d´ecada de 1940. Esta abordagem revolucion´aria auxiliou a companhia a produzir autom´oveis em cerca da metade das horas de trabalho que as demais companhias americanas e europeias, apresentando n´ıveis superiores de qualidade e satisfa¸c˜ao do cliente. (POPPENDIECK; CUSUMANO et al., 2012).

Em um momento anterior a Ford dominava a ind´ustria automobil´ıstica com carros de baixo custo, oferecendo por´em, baixa variedade. Neste per´ıodo a Ford havia desenvolvido o conceito de produ¸c˜ao em massa e linhas de montagem (KRAFCIK, 1988). Este sistema era considerado como a maneira mais barata e veloz de produzir carros. Todavia, o modelo requeria o armazenamento de uma grande quantidade de pe¸cas brutas para a fabrica¸c˜ao dos autom´oveis. Apesar dos benef´ıcios do sistema, surgiram repercuss˜oes sobre fatores como o custo do maquin´ario utilizado e a baixa flexibilidade do modelo (WOMACK; JONES; ROOS, 1990).

No final dos anos 40 a Toyota, at´e ent˜ao uma pequena produtora de autom´oveis, verificou que alguns fatores da produ¸c˜ao em massa, como a grande quantidade de carros produzidos e a baixa variedade de modelos, eram incompat´ıveis ao pequeno mercado Japonˆes. Taiichi Ohno, que ´e tamb´em conhecido como o pai do Sistema Toyota de Produ¸c˜ao (STP), realizou experimentos e concebeu um novo modo de pensar sobre a manufatura e desenvolvimento de produtos. A ideia central do seu trabalho era eliminar os desperd´ıcios do processo de produ¸c˜ao (ONO¯ , 1988).

(33)

¯

Ono conseguiu alterar a mentalidade dentro da Toyota ao defender o pensamento de que qualquer coisa que n˜ao gere valor ao cliente consiste em desperd´ıcio. Os colaboradores da Toyota aceitaram e compreenderam este princ´ıpio fundamental e aplicaram o conceito de forma a eliminar desperd´ıcios do seu sistema. Este ato possibilitou a Toyota a rever-ter o fluxo de informa¸c˜ao e ter um melhor controle sobre as opera¸c˜oes de produ¸c˜ao. O paradigma se modificou em dire¸c˜ao a um sistema de produ¸c˜ao puxada que buscava uti-lizar a quantidade exata de materiais e componentes necess´arios para a montagem final, atrav´es de um fluxo de produ¸c˜ao continuo. Este modelo ´e contr´ario ao sistema empurrado, utilizado pela produ¸c˜ao em massa e que armazena materiais com base em um plano de produ¸c˜ao pr´e-determinado (WOMACK; JONES; ROOS, 1990).

O Lean ´e uma abordagem e filosofia que tem como foco a melhoria cont´ınua atrav´es da cont´ınua redu¸c˜ao ou elimina¸c˜ao de desperd´ıcios. O Lean ´e classificado como uma abordagem bottom-up e orientada a pessoas baseada na capacita¸c˜ao de empregados que realizam de fato as tarefas, de forma que estes possam realizar aprimoramentos cr´ıticos em seus pr´oprios dom´ınios (MORGAN, 2005). Aprimorar o fluxo e eliminar desperd´ıcios s˜ao os maiores direcionadores para se tornar uma organiza¸c˜ao Lean (ONO¯ , 1988).

Lean pode ser visto como uma abordagem de administra¸c˜ao hol´ıstica de pessoas, produtos e processos, guiada por cinco princ´ıpios fundamentais (WOMACK; JONES, 1996):

Valor: Identificar e compreender valores mensur´aveis no ponto de vista do cliente. Em termos gerais, valor pode ser qualquer coisa que os consumidores s˜ao propensos a pagar.

Fluxo de Valor: Identificar cada passo do processo em detalhe. Mapear a cadeia de processo auxilia a identificar as ineficiˆencias no processo, ´areas de desperd´ıcio e atividades que n˜ao geram valor.

Fluxo Continuo: Alinhar os passos de cria¸c˜ao de valor de uma maneira que possibilite o produto fluir suavemente durante o seu ciclo de vida. Sequenciar os passos que proveem o fluxo mais eficiente para atender as demandas dos clientes ´e um esfor¸co continuo, mas que pode gerar benef´ıcios em rela¸c˜ao aos tempos de concep¸c˜ao de produtos, de processamento de pedidos e de estoques.

Produ¸c˜ao Puxada: Implica que as equipes tenham a capacidade de iniciar e concluir as tarefas quando requerido para o pr´oximo passo do processo. Em outras pala-vras, permite que os clientes puxem o fluxo de valor, reduzindo n´ıveis de estoque e aprimorando o valor do produto.

(34)

Perfei¸c˜ao: Buscar a perfei¸c˜ao significa estabelecer `as equipes da organiza¸c˜ao que todos s˜ao respons´aveis por compreender o fluxo de valor, identificando e eliminando des-perd´ıcios no processo. Esta busca pela perfei¸c˜ao ´e a essˆencia do Lean, onde o valor perfeito ´e criado sem desperd´ıcios.

Os princ´ıpios s˜ao ilustrados na Figura 3.

Figura 3: Princ´ıpios Lean. Fonte: Adaptado de (WOMACK; JONES, 2010))

3.1.1

Desperd´ıcios Lean

O Lean tem como foco eliminar desperd´ıcios para reduzir os custos e aprimorar a qualidade dos processos da organiza¸c˜ao. ¯Ono (1988) identificou trˆes principais fontes de desperd´ıcios no processo de manufatura: Desbalanceamento (Mura), Sobrecarga (Muri ) e Desperd´ıcio (Muda).

De acordo com Womack (2006), tais desperd´ıcios s˜ao relacionados. Mura e Muri podem ser a causa raiz de Muda nas organiza¸c˜oes, na medida em que o desbalanceamento no fluxo causa sobrecargas, que por sua vez acarreta em problemas como defeitos e atrasos, podendo causar outros tipos de desperd´ıcios. A Figura 4 exemplifica como ocorrem os diferentes tipos de desperd´ıcio.

(35)

Figura 4: Muda, Mura, Muri. Fonte: Adaptado de (MARCHWINSKI; SHOOK, 2003)

3.1.1.1 Desbalanceamento (Mura )

Mura se refere a desn´ıveis ou irregularidades prejudiciais ao processo de produ¸c˜ao ( MAR-CHWINSKI; SHOOK, 2003). Este tipo de desperd´ıcio pode se apresentar de diversas formas, como na varia¸c˜ao da dura¸c˜ao de ciclos, varia¸c˜ao do tamanho de lotes de processamento, varia¸c˜ao do tamanho de equipes, entre outros. Este ´e um dos elementos combatidos pelo sistema de manufatura just-in-time que s˜ao baseados em manter baixos n´ıveis de estoques. O prop´osito principal do just-in-time ´e diminuir os custos fixos necess´arios para manter estoques de qualquer item associado a cadeia de manufatura. Por exemplo, quando um produto ´e requerido, este ´e entregue, ap´os a entrega este produto ´e consumido. Portanto, ´e um ciclo que depende da regularidade nos instrumentos aplicados e dos resultados pro-duzidos. Como resultado, isto pode amenizar a ocorrˆencia de desperd´ıcios em tarefas futuras no processo de produ¸c˜ao (FUJIMOTO, 1999).

3.1.1.2 Sobrecarga (Muri )

A sobrecarga, conhecida como Muri em Japonˆes, ´e relativa a carga de trabalho demasiada na qual indiv´ıduos ou m´aquinas que atuam na cria¸c˜ao do produto est˜ao submetidos. Este desperd´ıcio ocorre quando equipamentos ou colaboradores operam em um ritmo maior, mais longo ou mais dificultoso do que o suportado (MARCHWINSKI; SHOOK, 2003). Muri como forma de desperd´ıcio ´e reduzida atrav´es da regularidade de procedimentos e ado¸c˜ao de um ritmo de trabalho sustent´avel. Este desperd´ıcio pode ser tamb´em minimizado

(36)

atrav´es da identifica¸c˜ao de instrumentos e tecnologias que possam tornar trabalhos re-petitivos mais simples e menos onerosos em indiv´ıduos que precisam realizar tarefas na linha de manufatura (FUJIMOTO, 1999). A elimina¸c˜ao de sobrecargas no processo pode ter um impacto geral positivo na disposi¸c˜ao dos trabalhadores, impactando na redu¸c˜ao das outras formas de desperd´ıcio, como Muda e Mura. (WOMACK, 2006).

3.1.1.3 Desperd´ıcio (Muda )

O termo Muda em Japonˆes diz respeito a qualquer atividade ou etapas de processo que n˜ao adicionam valor ao produto. Muda ´e o conceito implementado pelo sistema de produ¸c˜ao Toyota que reconhece desperd´ıcios gerados por pessoas ou atividades que ocorrem como resultado de incompetˆencia ou m´a organiza¸c˜ao das atividades do processo.

De acordo com ¯Ono (1988), existe um n´ıvel m´ınimo de recursos para o funcionamento do processo. Quando este limite ´e superado, desperd´ıcios est˜ao sendo introduzidos no processo. Muda diz respeito a qualquer atividade que n˜ao contribua diretamente para gera¸c˜ao de valor na perspectiva do cliente. De acordo Womack e Jones (2010) Muda pode ser classificado em dois principais tipos:

1. Tipo 1: Tamb´em conhecidos como desperd´ıcios necess´arios, este tipo de Muda diz respeito a atividades que n˜ao geram valor ao cliente diretamente, mas s˜ao necess´arias para o correto funcionamento do sistema. Exemplo: Cria¸c˜ao de documenta¸c˜ao para atendimento `a normas governamentais.

2. Tipo 2: Este tipo diz respeito `a atividades que n˜ao criam valor diretamente e podem ser imediatamente eliminadas.

¯

Ono (1988), identificou 7 principais tipos de Muda no ponto de vista da manufatura Lean. Estes tipos de desperd´ıcios s˜ao descritos na Tabela 3.

(37)

Superprodu¸c˜ao: Produzir em excesso, em uma quantidade superior a necessidade do cliente. Este tipo de desperd´ıcio pode ser considerado com o mais cr´ıtico e que requer maior aten¸c˜ao, pois pode estar relacionado diretamente aos demais tipos de desperd´ıcios.

Defeitos: Talvez o mais evidente dos desperd´ıcios, o defeito diz respeito a partes ou unidades que n˜ao atendem a espe-cifica¸c˜ao do cliente. Os defeitos est˜ao relacionados aos padr˜oes de qualidade estabelecidos pela companhia.

Espera: Referente aos tempos inativos de operadores,

in-forma¸c˜oes ou produtos. A espera pode ser decorrente de bloqueios no fluxo do processo que ocasionam inter-valos onde nenhuma opera¸c˜ao ´e executada.

Transporte: Movimenta¸c˜ao excessiva de pessoas, informa¸c˜oes ou produtos que resultam em desperd´ıcios de tempo, es-for¸co e custo.

Processamento Inadequado: Utilizar o conjunto inadequado de ferramentas, proce-dimentos ou processos, onde geralmente, uma aborda-gem mais simples pode apresentar melhores resultados.

Estoque: Estoque excessivo de mat´eria-prima, material em pro-cesso ou produtos acabados. O estoque representa um capital aplicado que ainda n˜ao gera lucro para o pro-dutor ou consumidor e pode omitir problemas no fluxo de produ¸c˜ao.

Movimenta¸c˜ao Desnecess´aria: A movimenta¸c˜ao desnecess´aria se refere a movi-menta¸c˜ao excessiva de oper´arios ou m´aquinas para execu¸c˜ao de opera¸c˜oes no processo. Al´em de afetar o tempo para realiza¸c˜ao das opera¸c˜oes, a movimenta¸c˜ao desnecess´aria pode causar fadiga e danos a longo prazo.

(38)

3.1.2

Lean em Outras Ind´

ustrias

Embora tenha sido originado na manufatura, o Lean provou ser aplic´avel em diversas ind´ustrias, expandindo-se para diversos outros campos, especialmente a partir dos anos 1980. A abordagem foi aplicada em ´areas como log´ıstica, militar, de sa´ude, entre outras (HIBBS; JEWETT; SULLIVAN, 2009). Os benef´ıcios t´ıpicos da ado¸c˜ao dos princ´ıpios Lean, independentemente do tipo de ind´ustria podem estar relacionados aos seguintes itens:

1. Aprimoramento da qualidade e seguran¸ca: Previne acidentes e reduz erros, resultando em uma maior qualidade de produtos e servi¸cos.

2. Aprimoramento da entrega: Reduz o tempo de entrega ponta a ponta, sem afetar negativamente a qualidade.

3. Aprimoramento da produtividade: (Throughput ) Os mesmos recursos (mes-mas pessoas utilizando os mesmos equipamentos) s˜ao habilitados e motivados a aprimorar a sua maneira de trabalho para obter melhores resultados (JONES; MIT-CHELL, 2006)

4. Aprimoramento da dinˆamica: Um ambiente com procedimentos padronizados que promovem a melhoria cont´ınua.

3.2

Desenvolvimento de Software Lean

Os princ´ıpios do pensamento Lean originalmente direcionados `a manufatura, foram mape-ados ao desenvolvimento de software inicialmente por Mary e Tom Poppendieck ( POPPEN-DIECK; POPPENDIECK, 2003). Os autores examinaram os princ´ıpios b´asicos de engenharia que a Toyota utiliza para desenvolver seus ve´ıculos e buscaram adapt´a-los ao contexto de desenvolvimento de software. A filosofia Lean permite as organiza¸c˜oes definirem o que ´e tomado como valor na perspectiva do cliente, organizar as atividades respons´aveis pela cria¸c˜ao de tal valor e conduzir tais atividades da melhor maneira poss´ıvel, de forma a desempenha-las de maneira cada vez mais efetiva (WOMACK; JONES, 2010).

Desta forma, o desenvolvimento de software Lean provˆe um conjunto de princ´ıpios para analisar e aperfei¸coar o processo de desenvolvimento de software de maneira a minimizar desperd´ıcios e maximizar o valor para o cliente. Os autores apontam que esta abordagem tem levado diversas organiza¸c˜oes a reconsiderar suas pr´aticas de engenharia de software, adquirindo melhorias na qualidade, custos e velocidade no desenvolvimento de produtos

(39)

(POPPENDIECK; POPPENDIECK, 2003). Tais resultados tˆem impulsionado empresas de desenvolvimento de software a adotar Lean (POPPENDIECK, 2011).

Para introduzir Lean no desenvolvimento de software, ´e necess´ario compreender a dife-ren¸ca entre seus princ´ıpios e pr´aticas. Os princ´ıpios (POPPENDIECK, 2011) (WANG; CON-BOY; CAWLEY, 2012) s˜ao ideais e introspec¸c˜oes sobre disciplinas, enquanto as pr´aticas s˜ao a¸c˜oes que concretizam os princ´ıpios. Organiza¸c˜oes de software buscam adaptar os princ´ıpios Lean para aprimorar a qualidade, custo e velocidade de entrega dos seus pro-dutos. Os mesmos s˜ao detalhados a seguir.

3.2.1

Princ´ıpios Lean no Desenvolvimento de Software

Diversos princ´ıpios inerentes ao Lean foram propostos ao desenvolvimento de software por autores como (POPPENDIECK; POPPENDIECK, 2003), (HIBBS; JEWETT; SULLIVAN, 2009), (REINERTSEN, 1996) e (ANDERSON, 2010). Tais princ´ıpios est˜ao alinhados aos fundamen-tos do Lean e est˜ao em constante evolu¸c˜ao. Segundo a (WANG; CONBOY; CAWLEY, 2012), dentre os princ´ıpios presentes na literatura destacam-se:

• Eliminar desperd´ıcios; Fortalecer o time; Entregar rapidamente; Construir quali-dade; Adiar decis˜oes; Amplificar o conhecimento (POPPENDIECK; POPPENDIECK, 2003) ;

• Utilizar uma vis˜ao econˆomica; Gerenciar filas; Explorar variabilidade; Limitar o trabalho em execu¸c˜ao; Controlar o fluxo sobre incerteza; Utilizar feedback r´apido; Descentralizar o controle; (HIBBS; JEWETT; SULLIVAN, 2009);

• Visualizar e controlar o fluxo de trabalho; Tornar explicitas as pol´ıticas do pro-cesso; Melhorar colaborativamente (utilizando-se de modelos e m´etodos cient´ıficos); (ANDERSON, 2010).

Assim como na manufatura, o princ´ıpio de maior destaque do Desenvolvimento de Soft-ware Lean ´e a identifica¸c˜ao e elimina¸c˜ao de desperd´ıcios no processo, de forma que seja respeitado o valor gerado ao cliente (HIBBS; JEWETT; SULLIVAN, 2009). Os tipos de des-perd´ıcios que se apresentam no desenvolvimento de software s˜ao discutidos na se¸c˜ao 3.2.2.

3.2.2

Desperd´ıcios do Desenvolvimento de Software

Assim como na manufatura, no desenvolvimento de software Lean desperd´ıcio ´e definido como qualquer atividade que n˜ao seja conducente a cria¸c˜ao de valor ao cliente

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(MIDDLE-TON; JOYCE, 2012). O desenvolvimento de software Lean tem como foco eliminar itens e processos desnecess´arios, sem que as medidas tomadas causem novos desperd´ıcios como defeitos e reaprendizagem.

A elimina¸c˜ao de desperd´ıcios depende da compreens˜ao dos diferentes tipos de desperd´ıcios que podem ocorrer no desenvolvimento de software. Mary e Tom Poppendieck adaptaram os 7 desperd´ıcios da manufatura (Muda) para a engenharia de software (POPPENDIECK; POPPENDIECK, 2003). Tais desperd´ıcios s˜ao ilustrados na Figura 5 e discutidos nas se¸c˜oes a seguir.

Figura 5: Mapeamento dos desperd´ıcios da manufatura ao desenvolvimento de software. Fonte: Adaptado de Poppendieck e Poppendieck (2003)

3.2.2.1 Defeitos

Defeitos requerem retrabalho e podem ser custosos. O desenvolvimento de software Lean enfatiza a preven¸c˜ao de defeitos com atividade cont´ınua, realizada sempre que poss´ıvel, en-quanto abordagens tradicionais de desenvolvimento de software tendem a dedicar tempos e recursos para a detec¸c˜ao de defeitos. Estat´ısticas demonstram que no desenvolvimento de software legado, em m´edia 40 a 50% do tempo de desenvolvimento ´e consumido na

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detec¸c˜ao e elimina¸c˜ao de defeitos (POPPENDIECK; CUSUMANO et al., 2012). O dano cau-sado por um simples defeito pode ser mensurado como produto do impacto caucau-sado pelo defeito e o tempo que este permaneceu no produto sem ser percebido. Isto significa que um defeito cr´ıtico que ´e detectado nas etapas iniciais do desenvolvimento pode n˜ao ser uma grande amea¸ca ou fonte de desperd´ıcio. Todavia, um pequeno defeito n˜ao detectado no sistema durante um longo per´ıodo de tempo pode trazer grandes preju´ızos ao produto e ao cliente, causando manuten¸c˜oes futuras.

3.2.2.2 Funcionalidades Extra

De acordo com Hibbs, Jewett e Sullivan (2009), o princ´ıpio de Pareto (80-20) aplicado ao desenvolvimento de software sugere que 80% das necessidades dos clientes s˜ao atendi-das por 20% atendi-das funcionalidades do produto. As demais funcionalidades s˜ao raramente, ou nunca utilizadas. Funcionalidades extras se configuram no maior tipo de desperd´ıcio do desenvolvimento de software, de maneira que consome deliberadamente recursos do projeto. Durante o ciclo de vida do software, cada linha de c´odigo escrita deve ser inte-grada, testada e mantida por diversas vezes. As funcionalidades ou peda¸cos de c´odigos que n˜ao podem ser relacionadas `as necessidades ou requisitos reais se tornar˜ao poss´ıveis pontos de falha. Desta forma, recomenda-se que c´odigos ou funcionalidades que n˜ao s˜ao necess´arios imediatamente n˜ao sejam constru´ıdos ou inclu´ıdos na solu¸c˜ao (POPPENDIECK; POPPENDIECK, 2003).

3.2.2.3 Mudan¸ca de Contexto (Task Switching )

Ao contr´ario do que diversas organiza¸c˜oes acreditam, de acordo com Poppendieck e Pop-pendieck (2003), envolver o mesmo recurso em m´ultiplos projetos ao mesmo tempo pode se tornar uma fonte de desperd´ıcio, de forma que esta medida afeta negativamente o fluxo e a produtividade dos profissionais. Toda vez que desenvolvedores de software alteram o foco entre diferentes tarefas ou projetos, uma consider´avel quantidade de tempo ´e ne-cess´aria para que se compreenda os pr´e-requisitos das tarefas e para que um ritmo est´avel seja alcan¸cado. Desta forma, enquanto alternam entre diferentes tarefas, os desenvolve-dores de software devem reaprender diversas vezes para que retomem o mesmo n´ıvel de produ¸c˜ao que possu´ıam quando atuando na mesma tarefa (HIBBS; JEWETT; SULLIVAN, 2009).

(42)

3.2.2.4 Atrasos

Relacionados a esperas ociosas no processo, atrasos no desenvolvimento de software s˜ao detectados frequentemente em situa¸c˜oes onde pessoas est˜ao aguardando a ocorrˆencia de alguma a¸c˜ao, como por exemplo, aguardando a inicia¸c˜ao do projeto, aguardando a cria¸c˜ao e revis˜ao de documentos, aguardando decis˜oes pendentes, aguardando pela configura¸c˜ao de ambientes etc. Na perspectiva do cliente, estes atrasos no ciclo de desenvolvimento prejudicam o tempo de resposta para as suas necessidades, que podem inclusive se alterar rapidamente, impedindo que stakeholders obtenham o valor do produto no tempo esperado (POPPENDIECK; POPPENDIECK, 2003).

3.2.2.5 Trabalho Parcialmente Completo

O trabalho parcialmente completo ´e um trabalho que foi iniciado, mas n˜ao foi finalizado. Este tipo de desperd´ıcio diz respeito a items como, requisitos n˜ao aprovados, requeri-mentos n˜ao implementados, c´odigo n˜ao testado, defeitos identificados e n˜ao corrigidos e funcionalidades n˜ao entregues. Existe o risco que o trabalho realizado parcialmente se torne obsoleto no ciclo de desenvolvimento. Assim como o desperd´ıcio relacionado a es-toque na manufatura (se¸c˜ao 3.1.1.3), trabalho realizado parcialmente no desenvolvimento de software pode ser visto como capital j´a aplicado, mas que n˜ao gera qualquer lucro para o produtor ou para o cliente (POPPENDIECK; POPPENDIECK, 2003).

3.2.2.6 Transferˆencia de Conhecimento (Handoff )

Abordagens tradicionais de desenvolvimento requerem a movimenta¸c˜ao de diversos ar-tefatos, incluindo documenta¸c˜ao de requisitos, de design ou de testes, de um grupo de profissionais para outro. Esta transferˆencia de conhecimento ou de tarefas, definidos como Handoffs, pode gerar desperd´ıcios na medida que tais documentos s˜ao por vezes incapazes de refletir o que os especialistas que os criaram (programadores, arquitetos ou testadores) aprenderam ou descobriram durante o seu trabalho. Isto pode resultar em perda de uma grande quantidade de conhecimento t´acito, que permanece com o criador e n˜ao ´e trans-mitido para os passos seguintes do processo. Hibbs, Jewett e Sullivan (2009) descrevem que a perda de conhecimento ´e agravada a cada handoff realizado.

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3.2.2.7 Extra Processamento

Este desperd´ıcio diz respeito a etapas do processo que poderiam ser eliminadas para que o fluxo de produ¸c˜ao seja otimizado. Como exemplo, a burocracia ou documenta¸c˜ao des-necess´aria consome recursos, reduz os tempos de resposta, omite problemas de qualidade e se torna obsoleta. Em alguns cen´arios de desenvolvimento de software, onde requisitos mudam frequentemente, existe a necessidade de se alinhar o produto com as expectativas do cliente regularmente.(POPPENDIECK; POPPENDIECK, 2003)

O termo extra processamento foi convertido posteriormente para reaprendizado em ( POP-PENDIECK; POPPENDIECK, 2006). Todavia, o sentido permanece semelhante, uma vez que o reaprendizado pode ser visto com um processo ou atividade desnecess´aria, que poderia ser evitada para eliminar desperd´ıcios no processo.

3.2.2.8 Desbalanceamento (Mura ) e Sobrecarga (Muri )

N˜ao foram identificadas na literatura adapta¸c˜oes diretas de Muri e Mura ao desenvol-vimento de software. Todavia, problemas de fluxo n˜ao s˜ao exclusivos da manufatura (GEORGAKOPOULOS; HORNICK; SHETH, 1995). Problemas como sobrecarga e varia¸c˜oes podem ocorrer em diversos tipos de processo. Portanto, presume-se que tais desperd´ıcios podem se apresentar tamb´em em processos de desenvolvimento de software.

3.3

Scrum

Inicialmente formalizado como um processo de desenvolvimento de software (SCHWABER, 1997) e posteriormente definido como um framework para desenvolvimento e sustenta¸c˜ao de produtos complexos (SCHWABER; SUTHERLAND, 2013), o Scrum ´e um conjunto de pr´aticas e regras que aplica uma abordagem iterativa e incremental para execu¸c˜ao de projetos ou constru¸c˜ao de produtos. De acordo com Schwaber (2004), o Scrum implementa os requisitos de transparˆencia, inspe¸c˜ao e adapta¸c˜ao inerentes ao controle de processos emp´ıricos.

No ˆambito do desenvolvimento de softwares, o Scrum ´e considerado como um m´etodo ´agil com foco no gerenciamento de projetos (SCHWABER, 2004), sendo um dos percussores e influenciadores do manifesto ´agil (FOWLER; HIGHSMITH, 2001). O movimento ´agil articula uma s´erie de valores e princ´ıpios a respeito de como desenvolver softwares com qualidade e de forma eficiente, com alta responsividade `a mudan¸cas de neg´ocio. Estudos como

(44)

(VERSION ONE, 2011), (SCHWABER; LEGANZA; D’SILVA, 2007) apontam o Scrum como o processo de desenvolvimento ´agil mais popular no mercado.

3.3.1

Origem

O Scrum foi originalmente formalizado como um processo de desenvolvimento de softwa-res por Ken Schwaber and Jeff Shutterland nos anos 1990 (SCHWABER, 1997). De acordo com Larman e Basili (2003), o m´etodo foi inspirado na abordagem interativa e incre-mental utilizada na constru¸c˜ao de produtos complexos na ind´ustria japonesa em empre-sas como Honda, Canon e Fujitsu. Shutterland e Schwaber (SUTHERLAND; SCHWABER, 2007) definem Scrum como uma abordagem enxuta para o desenvolvimento de softwares influenciada pelas melhores pr´aticas da ind´ustria japonesa, particularmente por princ´ıpios Lean.

O termo Scrum ´e origin´ario do estudo publicado por Takeuchi e Nonaka em 1986 ( TAKEU-CHI; NONAKA, 1986), que indica que times pequenos e multifuncionais tem historicamente produzido resultados superiores no desenvolvimento de produtos complexos. Os autores comparam tais times a forma¸c˜oes Scrum, do Rugby. No Rugby, cada time atua como uma unidade integrada onde cada membro contribui com um papel no time, buscando um objetivo em comum. Esta ´e a forma que times Scrum atuam no desenvolvimento de software (SCHWABER, 2004).

3.3.2

Caracter´ısticas Principais

O Scrum emprega um processo iterativo e incremental estruturado em em ciclos chama-dos de Sprint. A Sprint ´e uma itera¸c˜ao, ou seja, um espa¸co de tempo fixo, onde ocorre a aplica¸c˜ao de esfor¸cos visando a entrega de uma parcela funcional do produto. No in´ıcio de cada itera¸c˜ao o time revisa o que dever´a realizar e ent˜ao seleciona os requisitos que acre-dita poder transformar em um incremento, ou funcionalidade potencialmente utiliz´avel ao fim da itera¸c˜ao. O time ent˜ao coletivamente decide qual a melhor forma para realizar o trabalho planejado para a Sprint, analisando aspectos como requisitos, tecnologia e habi-lidades dos membros. Esta abordagem ´e adaptada e modificada diariamente, na medida em que novas complexidades, dificuldades ou surpresas s˜ao encontradas no caminho ao longo da itera¸c˜ao. Ao final da itera¸c˜ao, o time apresenta os incrementos constru´ıdos para que os stakeholders possam inspecionar e realizar adapta¸c˜oes ao projeto.

Referências

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