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Reflexos da experiência Turística no olhar fotográfico sobre a cidade do Rio de Janeiro

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO CIÊNCIAS CONTÁBEIS E TURISMO CURSO DE TURISMO

BRUNA RENOVA VARELA LEITE

REFLEXOS DA EXPERIÊNCIA TURÍSTICA NO OLHAR FOTOGRÁFICO SOBRE A CIDADE DO RIO DE JANEIRO

Niterói 2011

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BRUNA RENOVA VARELA LEITE

REFLEXOS DA EXPERIÊNCIA TURÍSTICA NO OLHAR FOTOGRÁFICO SOBRE A CIDADE DO RIO DE JANEIRO

Niterói 2011

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Turismo da Universidade Federal Fluminense como requisito parcial de avaliação para obtenção do grau de Bacharel em Turismo.

Orientador: Prof. MSC. Bernardo Lazary Cheibub

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L533 Leite, Bruna Renova Varela

Reflexos da experiência turística no olhar fotográfico sobre a cidade do Rio de Janeiro / Bruna Renova Varela Leite – Niterói: UFF, 2011.

51p.

Monografia ( Graduação em Turismo ) Orientador: Bernardo Lazary Cheibub, M.Sc.

1. Fotografia e turismo 2. Rio de Janeiro

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REFLEXOS DA EXPERIÊNCIA TURÍSTICA NO OLHAR FOTOGRÁFICO SOBRE A CIDADE DO RIO DE JANEIRO.

Por

BRUNA RENOVA VARELA LEITE

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________________________________

Prof MSC Bernardo Lazary Cheibub – Orientador – UFF

___________________________________________________________________

Profª Drª Karla Estelita Godoy – Departamento de Turismo

___________________________________________________________________

Profª MSC Valéria Lima Guimarães – Departamento de Turismo

Niterói, novembro de 2011.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Turismo da Universidade Federal Fluminense como requisito parcial de avaliação para obtenção do grau de Bacharel em Turismo.

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Aos meus pais, que sempre me apoiaram e incentivaram a seguir na jornada acadêmica.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, por toda a paciência e sabedoria.

A minha família, especialmente a minha mãe Fátima, que se ofereceu algumas vezes para contribuir com a pesquisa na tentativa de diminuir o meu desespero para conclui-la e, ao meu pai Abílio, que sempre me encorajou a estudar qualquer assunto do meu interesse. Ao meu querido irmão Felipe, cúmplice de todas as horas. Aos avós maternos e paternos, exemplos de vida, que sempre me deram muito amor.

Ao professor Bernardo, por todos os conhecimentos compartilhados ao longo da vida acadêmica, pela orientação deste trabalho e pelo estímulo para a realização da pesquisa.

Aos amigos que, direta ou indiretamente, me ajudaram no decorrer deste trabalho e fizeram críticas construtivas para aprimorá-lo. À Rita, pela consultoria e contribuições teóricas sobre o meu tema. À Ana Freire, Ana Pacheco e Flávia, por toda a solidariedade e pela preocupação com o bom andamento do meu trabalho, e também pelo companheirismo dentro e fora do ambiente acadêmico. Aos alunos da turma 2007.1 que acompanharam a minha trajetória acadêmica e trouxeram, de alguma maneira, conhecimentos valorosos para a minha formação. Aos demais amigos e professores da UFF que me acolheram numa grande família de turismólogos.

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O que vai ficar na fotografia São os laços invisíveis que havia As cores, figuras, motivos O sol passando sobre os amigos Histórias, bebidas, sorrisos E afeto em frente ao mar. Leoni, “Fotografia”.

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RESUMO

A fotografia e o turismo são duas atividades intrinsecamente ligadas, uma vez que o olhar fotográfico é insaciável ao buscar novos locais ou objetos para contemplação. A aquisição de imagens fotográficas organiza nossas experiências e envolve nossas recordações enquanto turistas, reforçadas por elementos textuais e verbais, principalmente quando as imagens são mostradas a terceiros. A partir dessas analogias propomos uma investigação sobre a relação do turista com a fotografia. Desta forma, o objetivo do estudo é observar os olhares dos turistas sobre pontos turísticos do Rio de Janeiro por meio da análise das fotografias postadas em blogs. Pretendemos ainda comparar as fotos entre as páginas pessoais e identificar o motivo da postagem das fotografias. Por meio das informações obtidas a partir do questionário enviado aos sujeitos, foi possível constatar que todos postaram nos blogs alguma fotografia da paisagem natural e de pontos turísticos da cidade do Rio de Janeiro. Dentre a amostra de 10 informantes, a maior parte dos respondentes se considera fotógrafo amador e destaca que a fotografia tem um caráter muito importante durante e depois da experiência turística, funcionando como prova da viagem e fonte para reavivar a memória.

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RESUMEN

Fotografía y turismo son dos actividades que están intrínsecamente conectadas, puesto que la mirada fotográfica siempre busca nuevos locales u objetos para comtemplación. Las imágenes fotográficas que adquirimos organizan nuestras experiencias y involucran nuestras recordaciones cuando nos ponemos en la condición de turistas. Además, son reforzadas por elementos textuales y verbales, sobre todo cuando las mostramos a otras personas. A partir de esas semejanzas proponemos una investigación sobre la relación entre el turismo y la fotografía. El objetivo del trabajo es observar las miradas de diez turistas acerca de los sitios turisticos en Rio de Janeiro por medio de un análisis de fotografías publicadas en blogs. Aún pretendemos comparar las fotos e identificar el motivo por lo cual los turistas las han posteado. Las informaciones obtenidas a partir de un cuestionario nos han permitido constatar que todos los turistas han posteado fotos de paisajes naturales y sitios turisticos de Rio de Janeiro. La mayoría de esos informantes ha destacado que la fotografía es importante al inicio y al final de la actividad turística, pues es la prueba del viaje y funciona como un material de recuerdo.

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Lista de Ilustrações

Figura 1: Fotografia cartão-de-visita ... 22

Figura 2: Tempo de permanência na cidade do Rio de Janeiro ... 32

Figura 3: Motivo da seleção das fotografias postadas nos blogs... 35

Figura 4: Relação do informante com a fotografia... 36

Figura 5: Importância da fotografia nas viagens ... 37

Figura 6: Comentário sobre uma foto específica postada no blog ... 38

Figura 7: Óculos espelhados na banca de camelô na praia, com a menina ao fundo ... 40

Figura 8: Senhora passeando com uma galinha em Ipanema ... 42

Figura 9: Amanhecer na cidade do Rio de Janeiro ... 44

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Lista de siglas

NTIC Novas Tecnologias de Informação e Comunicação TICs Tecnologias da Informação e Comunicação

UTI União Internacional de Telecomunicações

CETIC Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação UFF Universidade Federal Fluminense

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 12

1 TURISMO, FOTOGRAFIA E REDES SOCIAIS ... 14

1.1 AS PRIMEIRAS EXPERIÊNCIAS TURÍSTICAS ... 15

1.2 OS OLHARES DO TURISTA ... 17

1.3 CONSIDERAÇÕES INICIAIS SOBRE A FOTOGRAFIA ... 21

1.4 TURISMO E FOTOGRAFIA ... 24

1.5 FOTOGRAFIA E BLOGS ... 27

2 O OLHAR FOTOGRÁFICO E A EXPERIÊNCIA TURÍSTICA : ANÁLISE DAS FOTOS POSTADAS NOS BLOGS E CONSIDERAÇÕES ACERCA DA PESQUISA ... 31 2.1 DESEJOS E NECESSIDADES ... 39 2.2 STATUS ... 43 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 46 REFERÊNCIAS ... 48 APÊNDICE A ... 51

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1

INTRODUÇÃO

O turismo é uma atividade ligada ao imaginário das pessoas que, por sua vez, buscam a vivência de uma experiência única, a viagem dos seus sonhos. O turista não se contenta em guardar esta vivência somente na memória, ele precisa de um bem material, um objeto palpável que comprove a veracidade da experiência turística e possibilite novas lembranças. Uma das formas pelas quais a atividade turística se relaciona, essencialmente, com a imagem, é por intermédio da fotografia. O desenvolvimento da fotografia e o crescimento do turismo sempre estiveram fortemente interligados. É comum encontrar registros acerca da invenção da fotografia no ano de 1839, apenas dois anos antes do famoso tour organizado por Thomas Cook (URRY, 2007, p. 45).

A imagem fotográfica é uma figura integrante de praticamente todas as culturas. Quando as imagens são coletadas, processadas, organizadas e divulgadas tornam-se excelentes instrumentos para a apreensão de dados. O ato de fotografar envolve impressões e atribuição de valor ao que desejamos fotografar. O motivo pelo qual um determinado atrativo turístico é escolhido em detrimento de outro para ser fotografado está intimamente ligado à percepção de cada turista sobre o que julga ser importante.

Com o advento de novas tecnologias, o turista ainda possui outro meio de divulgação da fotografia, a internet. O meio virtual oferece uma vasta gama de recursos para postagem das fotos em sites e permite que haja interação entre os usuários, como ocorre nos blogs e demais redes sociais. Baseado nestas premissas, este estudo permeia questões relevantes e fundamentalmente contemporâneas para as Ciências Sociais: o porquê do interesse cada vez maior por parte dos turistas pela fotografia e se essa prática está relacionada ao crescente uso da internet durante os últimos anos. Assim, formula-se a seguinte questão a ser investigada neste estudo: Qual o papel da fotografia na experiência turística com o advento das redes sócio- virtuais?

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2 Como objetivo geral buscamos compreender os olhares dos turistas sobre atrativos turísticos do Rio de Janeiro por meio da análise das fotografias postadas nos blogs. Os objetivos específicos se propõem a comparar as fotografias postadas entre os blogs, e identificar a percepção dos blogueiros sobre a fotografia divulgada.

O caminho metodológico escolhido é o da pesquisa bibliográfica e o da pesquisa de campo. A primeira compreende a fundamentação teórica extraída de fontes secundárias como livros, periódicos, revistas e sites da internet, e fontes primárias, com informações sobre a evolução das práticas fotográficas, a relação entre o turismo e a fotografia e o advento das novas tecnologias. A segunda diz respeito à análise das fotos e de textos postados nos blogs selecionados.

O presente estudo estrutura-se em dois capítulos. No primeiro “TURISMO,

FOTOGRAFIA E REDES SOCIAIS” são apresentados os conceitos sobre a

experiência turística, o olhar do turista, o desenvolvimento da fotografia e sua relação com o turismo, além de considerações sobre blogs.

O segundo capítulo “O OLHAR FOTOGRÁFICO E A EXPERIÊNCIA

TURÍSTICA: ANÁLISE DAS FOTOS POSTADAS NOS BLOGS E

CONSIDERAÇÕES ACERCA DA PESQUISA” apresenta reflexões sobre a relação

dos turistas com a fotografia, por meio da análise das fotos postadas nos blogs e das respostas extraídas do instrumento de coleta de dados enviado aos sujeitos-informantes.

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1 TURISMO, FOTOGRAFIA E REDES SOCIAIS

O Turismo é um fenômeno social que envolve expectativas relacionadas a novas experiências diferentes daquelas que vivemos no cotidiano. A investigação da atividade turística adquiriu um caráter multidisciplinar ao longo do desenvolvimento acadêmico. Os teóricos recorrem aos princípios científicos da Antropologia, Psicologia, Comunicação Social, Administração, Sociologia, História, Geografia, Economia, entre outros para caracterizá-la. É comum percebermos a preocupação do mercado em dividir a atividade turística em segmentos, tentando categorizá-la de acordo com o interesse do turista. “Durante a década de 70, em termos conceituais, a experiência turística foi entendida como algo que decorre de uma ruptura com a rotina e em que o bizarro e a novidade são elementos-chave.” (COHEN, 1972 apud MENDES; GUERREIRO, 2010, p. 316)

A experiência está arraigada ao ser humano desde seus primórdios, sendo essencial para a socialização e o aprendizado. Nas civilizações antigas já existia a elite que viajava em busca do prazer e de conhecimentos culturais. De fato, até o século XIX, quando se desenvolve a concepção de turismo, a viagem era destinada à aristocracia. Conforme Urry (2001),

Antes, porém, do século XIX, poucas pessoas que não as das classes superiores realizavam viagens para verem objetos, motivadas por razões que não dissessem respeito ao trabalho ou aos negócios. É isso que constitui a característica principal do turismo de massa nas sociedades modernas, isto é, boa parte da população, a maior parte do tempo, viajará para algum lugar com a finalidade de contemplar e ali permanecer por motivos que, basicamente, não têm ligações com seu trabalho. Se as pessoas não viajarem, elas perdem seus status. (p. 20)

Já o turista moderno busca sensações “únicas” e peculiares, que atendam suas expectativas de modo pleno. A primeira premissa para que a viagem aconteça é o planejamento bem feito, seja por parte do turista ou do prestador de serviço. Em seguida, é preciso que os prestadores de serviços turísticos desenvolvam o trabalho com qualidade para que a experiência não seja frustrante durante a viagem.

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4 De acordo com Cohen (1972), a experiência no turismo combina familiaridade à novidade e emoção da mudança aos hábitos já incorporados. Já o grau da familiaridade e novidade que serão usufruídas pelos turistas depende de suas preferências. Ainda segundo o autor, “[...] um novo valor surgiu: a apreciação da experiência da estranheza e da novidade. Essa experiência agora excita, estimula e gratifica, ao passo que, anteriormente, ela apenas assustava”. Desta forma, ele infere que a natureza curiosa do homem faz com que a vontade de viajar para explorar novos locais o impulsione, ainda que haja possibilidade de ele retrair-se, caso essa experiência seja muito diferente de seus costumes.

1.1 AS PRIMEIRAS EXPERIÊNCIAS TURÍSTICAS

Nos tópicos iniciais serão utilizadas, principalmente, as análises do sociólogo John Urry (2001), do seu livro intitulado “O olhar do Turista: lazer e viagens nas sociedades contemporâneas”.

Ele busca detectar as principais mudanças que ocorreram na atividade turística e, para tal, inicialmente apresenta as transformações históricas do Turismo até a contemporaneidade. A obra aborda também as diferentes perspectivas do olhar do turista e como ela se desenvolveu e se modificou ao longo do tempo.

Os mais antigos escritores da humanidade já relatam feitos de seus personagens heróis como desbravadores do mundo. Não se trata apenas de um deslocamento social, geográfico ou cultural, mas de uma verdadeira jornada interior (TRIGO, 2010). No entanto, viajar era difícil e arriscado, principalmente pelo desconhecimento de terras longínquas e pela dificuldade e demora nos deslocamentos. Segundo Urry (2001), dos séculos XII ao XIV, com o crescente número de hospedarias para viajantes mantidas por religiosos, as peregrinações de fiéis tornaram-se uma prática comum. O turismo, semelhante ao que conhecemos hoje, teria surgido na Europa em meados do século XIX. Thomas Cook iniciou suas atividades na Inglaterra, em 1845. Em 1855 estendeu suas atividades a outras localidades européias como Paris (França), Bruxelas (Bélgica), Frankfurt e Heidelberg (Alemanha), além de Suíça e Itália. As práticas de turismo na Europa

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5 passaram a ser valorizadas por um número cada vez maior de pessoas. O deslocamento no inverno para Côte d’Azur teve grande importância para o turismo moderno. Por meio do desenvolvimento do setor náutico, o fluxo pelos mares Mediterrâneo e Atlântico possibilitou o deslocamento em navios luxuosos (MACHADO, 2002).

Com o desenvolvimento dos meios de transporte e a facilidade de locomoção, os fluxos turísticos aumentaram, contribuindo para a difusão do que se fixou como conceito de turismo de massa. Urry (2001, p. 33) afirma que o crescimento desse tipo de turismo representa uma democratização da viagem, já que ela possuía um caráter elitista, símbolo de status social. O autor aborda os balneários marítimos na Inglaterra como os percussores do turismo de massa, ainda que inicialmente eles fossem destinados às altas camadas sociais para fins terapêuticos.

Ao final do século XIX, a jornada de trabalho foi gradualmente reduzida na Inglaterra e a aquisição de intervalos mais prolongados de férias foi iniciativa do norte do país. Ainda que os trabalhadores estivessem ganhando o direito ao lazer e as viagens se tornando mais acessíveis, houve segregação por parte da elite em diversas localidades turísticas. Conforme vemos a seguir,

Á medida que a viagem se democratizava, da mesma forma amplas distinções de gosto passaram a ser estabelecidas entre diferentes lugares: para onde se viajava tornou-se algo de considerável significado social.[...] Alguns desses lugares – balneários da classe trabalhadora - desenvolveram-se rapidamente como símbolos do “turismo de massa”, lugares de inferioridade que representavam tudo aquilo que os grupos sociais dominantes consideravam de mau gosto, comum e vulgar. (URRY, 2001, p.34)

Especificamente sobre o Brasil, conforme aponta Castro (2006), apenas nas primeiras décadas do século XX o turismo funcionou como atividade organizada, sendo o centro principal a cidade do Rio de Janeiro. Apareceram, então, “os primeiros guias, hotéis turísticos, órgãos oficiais e agências de viagens, destinados prioritariamente a atrair e receber turistas” (p. 81). Depois das reformas urbanas vivenciadas pela cidade no século XX, o Rio de Janeiro obteve visibilidade maior além das fronteiras nacionais, tornando-se uma “cidade turística, com elevado grau de atrações que misturavam natureza e monumentos, semblante presente na Modernidade” (MACHADO, 2008, p. 137). Ainda nesta época, como aponta o autor,

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6 importantes ícones do cenário carioca foram inaugurados, como o Pão de Açúcar, em 1913, e o Cristo Redentor, em 1931. Os banhos de mar foram aos poucos tomando caráter mais popular e se tornaram atrativos na cidade, principalmente na praia de Copacabana. Outro marco foi a construção de um dos hotéis mais importantes da cidade, o Copacabana Palace, em 1923. Os hotéis passavam a ser retratados em guias e cartões-postais como forma de divulgação da cidade.

Segundo Castro (2006), “os guias de viagem de 1930 direcionavam o olhar do turista a partir da Baía de Guanabara, por onde entravam os navios que traziam a maior parte dos visitantes” (p. 86). O mesmo autor afirma que a associação do Rio de Janeiro ao futebol, carnaval e praia não era oferecida aos turistas nas primeiras décadas do século XX, fato ratificado por Machado (2008): “O estereótipo de cidadão carioca foi concebido após a Primeira Guerra Mundial, como alguém que viveria junto ao samba, sendo uma figura amável, sem estresse [...]” (p.136). Faz-se necessário ainda creditar ao Estádio do Maracanã, apesar de não ter sido construído no início do século XX, o papel de difusor da imagem do Rio de Janeiro e do Brasil. Todos estes elementos aliados a outros ícones paisagísticos e patrimoniais ajudaram a construir a identidade de “Cidade Maravilhosa”

1.2 OS OLHARES DO TURISTA

Este é o tema que Urry (2001) aborda como meio de reflexão sobre as diferentes percepções dos turistas. Partindo da premissa de que “não existe um olhar único do turista enquanto tal” (p. 16), o autor defende a idéia de que deve haver algum aspecto do local visitado que o diferencia do habitat natural. No entanto, isso não quer dizer que a experiência turística faça com que o turista sinta-se sinta-sempre alheio àquela realidade momentânea. Na verdade, não existe uma experiência turística universal que esteja adequada a todos os turistas em todos os períodos de tempo. O olhar do turista se opõe às experiências não turísticas e contrasta com a sua vida cotidiana, já que ele leva consigo características subjetivas. Estudiosos do tema da autenticidade como MacCannell (1999) apresentam considerações sobre uma autenticidade encenada, enquanto Boorstin

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7 (1999) trata dos pseudo-eventos. Urry (2001), por sua vez, utiliza as teorias destes autores para a discussão sobre os olhares autêntico e inautêntico.

A primeira distinção entre olhar e objeto está pautada no olhar romântico e no olhar coletivo. O ideal romântico, apesar de possuir um conceito essencialmente variável, estava ligado ao desenvolvimento do turismo de massa, que se difundiu a partir das classes médias altas. Urry (2001) afirma que o olhar romântico é um mecanismo importante para a difusão do turismo em escala global pelo fato de o romântico buscar novos objetos de contemplação. O turista nesta situação adota uma personalidade solitária e um relacionamento pessoal com o objeto do olhar, além de valorizar a privacidade. O autor cita o exemplo do filósofo Walter Benjamin (1982) em seu estudo intitulado “A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica”, no qual é mencionada a contemplação de uma cadeia de montanha. Enquanto ela é vista como bem material, pode ser contemplada por sua grandiosidade e beleza, conforme uma visão idealizada da paisagem. No entanto, essa mesma montanha pode ser vista como um santuário da natureza, objeto de desfrute no momento de solidão, demonstrando como a percepção pode ser variada. Contrapondo a idéia apresentada, o olhar coletivo abrange um grande número de pessoas e privilegia locais públicos. Conforme Urry (2001, p. 70) “outras pessoas dão uma atmosfera ou um sentido carnavalesco ao lugar. O uso da palavra “carnavalesco’’ refere-se à percepção do turismo enquanto um grande espetáculo. Como vimos anteriormente, os balneários na Inglaterra, que eram os principais destinos da elite do país, competiam para proporcionar ao turista uma experiência antológica.

Urry (2001) também menciona os olhares histórico e moderno, além do autêntico e inautêntico. Embora não forneça um conceito pontual para o primeiro par, o referido autor faz uma série de comentários exemplificados nas paisagens européias para o olhar histórico. Ele menciona que o Distrito de Lagos, na Inglaterra, pode ser caracterizado como predominantemente histórico. Já o turismo moderno, advindo do século XIX faz parte de modos novos da percepção visual. A expansão da fotografia indica a importância dessa percepção para a reestruturação do olhar do turista. A fotografia faz parte do processo de modernização e sua expansão a partir do século XIX indica a importância desse novo meio de percepção visual.

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8 Com relação aos olhares autêntico e inautêntico, sustentados nas idéias de MacCannell (1999) e Boorstin (1992), Araújo (2001) observa que a diferença de argumentação dos dois autores baseia-se, no caso de Boorstin, na associação da idéia de viagem como advinda da tradição do grand tour, enquanto a de MacCannel lida com a transformação de viagem em turismo através da noção de “autenticidade encenada” (p. 51). MacCannell (1999) afirma que os turistas buscam a autenticidade nas experiências turísticas e “são motivados pelo desejo de ver a vida como ela realmente acontece” (p. 94). Esta busca está pautada no conceito de “pós-moderno” que resulta em inúmeras distinções entre a representação e a realidade, discutidas pelo autor anteriormente mencionado. Não obstante, o turista procura o autêntico no passado e apresenta certo sentimento nostálgico, mas essa marca de autenticidade pode ser uma encenação. MacCannell argumenta que os atrativos turísticos são divididos em fachada (front region) e bastidores (back region), representando performances distintas que evidenciam o cotidiano dos nativos e promovem o lucro. De certa forma, as comunidades também criam um estereótipo do turista que faz parte do imaginário local. Esse imaginário é construído por meio de signos existentes nas propagandas, fotografias e em outros recursos midiáticos.

De acordo com Borges (2010), “Boorstin (1992) em seu livro The image: a guide to pseudo-events in America, questiona a autenticidade no turismo, apesar de não utilizar diretamente o termo” (p. 20). Neste livro, o autor analisa as viagens turísticas vivenciadas pelos turistas norte-americanos, alegando que estes já não podem vivenciar a realidade diretamente e, por esta razão, recorrem a pseudo-eventos (URRY, 2001). Os pseudo-pseudo-eventos constituem-se em uma repetição de fatos com o objetivo de agradar os turistas. São representações do inautêntico. Boorstin (1992) questiona a mudança da concepção de viajar, pois ela passa de viagem individualizada a compartilhada pelo grupo, principalmente a partir do século XIX com a criação de pacotes de viagem. No entanto, o turista passa a buscar prazer, o que o transforma em espectador, e, a partir do momento que transpõe a responsabilidade pelo planejamento da viagem a terceiros, ele se exime dos riscos.

Basicamente, na concepção deste autor, tudo pode ser tratado turisticamente, como algo encenado para o turista, produzindo a materialização do “pseudo-evento/realidade” (ARAÚJO, 2001, p. 58).

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9 Por sua vez, Urry (2001) esclarece que:

Isolado em um ambiente acolhedor e das pessoas locais, o turismo de massa promove viagens em grupos guiados e seus participantes encontram prazer em situações inventadas com pouca autenticidade, gozam com credulidade de “pseudo-acontecimentos” 1

e não levam em consideração o mundo “real” em torno deles. Em conseqüência, os promotores de turismo e as populações nativas são induzidos a produzir exibições cada vez mais extravagantes para o observador de boa-fé que, por sua vez, se afasta cada vez mais da população local. Ao longo do tempo, através dos anúncios e da mídia, as imagens geradas pelos diferentes olhares do turista passam a constituir um sistema de ilusões, fechado, que se autoperpetua e proporciona a esse turista uma base para que ele selecione e avalie os lugares potenciais que visitará. (p. 23)

O turismo de massa é uma particularidade das sociedades modernas, conforme a abordagem encontrada em Urry (2001). Na percepção deste teórico, “fundamental para o modernismo é a concepção do público como massa homogênea” (2001, p.123), ou seja, um conjunto que consegue unificar as pessoas. Em contrapartida, no pós-modernismo o turista vive o paradoxo de ser tratado como parte integrante do conjunto, apesar de ambicionar um tratamento diferencial dos prestadores de serviços. Certamente, os aspectos sociais do olhar também foram modificados a partir da estruturação turística, que fazem parte da “experiência moderna de se viver em novos centros urbanos e visitá-los” (URRY, 2001, p. 182-183). Com o avanço das tecnologias e da mídia, o olhar pode contemplar um objeto através da televisão posicionada dentro de um cômodo em casa, o que diminui a noção de autenticidade, segundo Urry (2001). Contudo, este não é um posicionamento negativo abordado pelo autor, já que o turista pós-moderno (ou “pós-turista”) tem consciência sobre sua condição, aprecia a inautenticidade da experiência turística e sabe que “aquela aldeia de pescadores, tão supostamente pitoresca e tradicional, não conseguiria sobreviver sem a renda obtida através do turismo” (URRY, 2001, p.139).

Após a discussão sobre as três dicotomias do olhar, seguimos para uma nova percepção visual que reestruturou o olhar do turista: a fotografia.

1

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1.3 CONSIDERAÇÕES INICIAIS SOBRE A FOTOGRAFIA

A fotografia vai muito além da reflexão sobre imagens retratadas em meios impressos ou virtuais, pois ela demonstra a percepção do fotógrafo que é dotada de significados. Para embasar as reflexões especificamente sobre fotografia destacamos autores como Kossoy (2001), Benjamin (1994), Fabris (2008), além de algumas considerações relevantes de Urry (2001).

O processo de difusão da informação se tornou mais eficiente com a industrialização, principalmente pela agilidade na produção do material comercializado. Kossoy (2001) observa que a fotografia faz parte de um processo de transformação social, econômica e cultural, sendo um importante instrumento de apoio científico e desenvolvimento artístico. Diversos pesquisadores já vinham buscando métodos de fixar as imagens na Câmera Escura. Conforme destacam Urry (2000) e Benjamin (1994) 2, o surgimento da fotografia ocorre em 1839, quando Niepce e Louis Daguerre anunciam a produção do daguerreótipo3 na França. Este novo método de lidar com imagens se tornou tão cobiçado, que pintores de miniatura transformaram-se em fotógrafos e utilizavam as placas de prata do daguerreótipo como recursos técnicos.

A preferência pelo daguerreótipo manteve-se até os anos 50 daquele século, quando foi substituído pela fotografia feita com papel e negativo. A fotografia desenvolveu-se entre a categoria de arte e a de um negócio lucrativo. De fato, Benjamin (1994) retrata uma expansão de inúmeras pinturas ao ar livre na mesma época em que a fotografia tomava proporções maiores, mas foi o retrato de miniatura que perdeu a cobiça das camadas sociais mais altas. A experiência desses primeiros fotógrafos como pintores foi bastante útil graças à formação

2

Foi utilizada a 7ª edição do livro datada de 1994. O texto “A Obra de Arte na Era da Sua Reprodutibilidade Técnica” é de 1936 e “ Pequena História da Fotografia” de 1931. O autor faleceu em 1940.

3 “Os clichês de Daguerre eram placas de prata, iodadas e expostas na camera obscura; elas

precisavam ser manipuladas em vários sentidos, até que se pudesse reconhecer, sob a luz favorável, uma imagem cinza-pálida. Eram peças únicas; em média, o preço de uma placa, em 1839, era de 25 francos-ouro. Não raro, eram guardados em estojos, como jóias” (BENJAMIN, 1994, p.93)

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11 artesanal, até o momento em que os homens de negócio se tornaram os profissionais no ramo. O autor faz muitos contrapontos entre a arte da pintura, primordialmente utilizada para retratar a sociedade e as paisagens de um determinado local bem como a imagem de membros de uma família, e o surgimento da fotografia com técnicas de reprodução mais aprimoradas. Já era viável registrar tradições, culturas, arquiteturas e monumentos que antes eram conhecidos apenas de forma escrita, oral e por meio de desenhos e pinturas. Também foi possível documentar expedições científicas e exploratórias, além dos acontecimentos históricos das nações.

A sociedade ampliou a relação com a fotografia como maneira de guardar o momento para a posteridade. Neste âmbito surgiram os ateliês fotográficos que possuíam “telões pintados com decorações exóticas e barroquizantes, colunas, mesas, cadeiras, poltronas, tripés, tapetes [...]” (FABRIS, 2008, p. 21). O fotógrafo retratava o indivíduo em alguma “pose” de rosto solene, mas com as inovações de Disdéri4 o cliente passa a ser retratado de corpo inteiro (Figura 1).

Figura 1- fotografia cartão de visita, 1859

Fonte: Palmer Museum of Art5

4

André Adolphe Eugène Disdéri nasceu em 1819 e morreu em 1889 em Paris. Ele ganhou notabilidade pela descoberta das fotografias carte-de-visite (cartão de visita). Produzidas em tamanho menor que as fotografias tradicionais eram acessíveis às classes menos favorecidas, suprindo a carência dos retratos destas classes.

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12 Fabris (2008) considera três momentos para o aperfeiçoamento do processo fotográfico que culminaram na invenção da máquina fotográfica em 1895: (a) a restrição da fotografia à elite que poderia pagar o alto preço cobrado pelos fotógrafos; (b) a descoberta do cartão de visita fotográfico em 1854 que barateou a produção da fotografia, produzida em tamanho menor, suprindo a carência dos retratos nas classes menos favorecidas; (c) a massificação do produto que o tornou meramente comercial.

Na década de 80 do século XIX houve um aumento nas práticas de retoque e coloração nas fotografias, como modo de diferenciar os fotógrafos amadores dos profissionais. Especialmente após a massificação, a fotografia passou a ser pautada em quantidade, não em qualidade estética. Então, teve sua difusão nos jornais e revistas em um esquema propagandístico, principalmente dos militares. No início do século XX, a área judiciária fez com que o fotorretrato e a fotografia criminal surgissem como método fidedigno para provar um fato. Percebe-se que a fotografia começa a sinalizar novas práticas e olhares, distintos do objetivo inicial. Ainda que haja o interesse da burguesia pela prática, a fotografia já estava sendo utilizada em expedições científicas a locais exóticos, que antes eram retratados apenas em pinturas.

Conforme explica a citação de Kossoy (2001) em consonância com Frabis (2008):

O mundo tornou-se de certa forma “familiar” com o advento da fotografia; o homem passou a ter um conhecimento mais preciso e amplo de outras realidades [...] Com a descoberta da fotografia e, mais tarde, da indústria gráfica, que possibilitou a multiplicação da imagem fotográfica em quantidades cada vez maiores através da via impressa, iniciou-se um novo processo de conhecimento do mundo [...] (KOSSOY, 2001, p. 26-27).

O processo de massificação da imagem fotográfica continua com o incremento dos cartões-postais. Estes permitiram – em tempos ainda não globalizados – que as imagens das cidades circulassem pelo mundo, despertando interesse e atraindo o movimento turístico. Suas ilustrações privilegiaram as paisagens, reproduzindo, inicialmente, gravuras e, a partir do final do século XIX,

5

(25)

13 imagens fotográficas. Segundo Venturini (2001), os cartões-postais foram lançados em 26 de janeiro de 1869, por Emmanuel Hermman, economista austro-húngaro, que produziu uma coleção divulgada em uma matéria jornalística com o título “Acerca de um novo meio de correspondência postal”, por se tratar de um meio de correspondência aberta, mais prática e econômica. Ainda de acordo com a autora, chegaram ao Brasil em 1880. Entre 1907 e 1920, o cartão-postal passou a ser usado como propaganda e marketing de magazines, fábricas e estabelecimentos comerciais.

O advento da fotografia nos mostra que, a partir do momento em que as imagens são coletadas, processadas, organizadas e divulgadas tornam-se excelentes instrumentos para apreensão de dados. Segundo Urry (2001, p. 186) “a fotografia parece ser um meio de transcrever a realidade”, parecendo pequenos pedaços do mundo. Em contrapartida, Benjamin (1994), explica que a reprodução da imagem põe fim à sua “aura”, que é uma “figura singular, composta de elementos espaciais e temporais: a aparição única de uma coisa distante, por mais próxima que ela esteja” (p.101). O autor ainda critica a reprodução em massa e afirma que a cada dia torna-se mais difícil resistir à necessidade de possuir um objeto ou sua reprodução.

Percebemos que o olhar sobre a fotografia mudou desde a sua invenção, deixando de contemplar apenas os indivíduos abastados e as paisagens. A fotografia já faz parte do processo de modernização e envolve uma democracia de experiências, conforme Urry (2001). Uma das experiências a qual o autor se refere é a do Turismo. Através dele podemos organizar a viagem, sustentar expectativas e trazer recordações dos lugares onde estivemos.

1.4 TURISMO E FOTOGRAFIA

O turismo envolve expectativas e influencia o imaginário das pessoas, demandando, portanto, planejamento prévio para que a atividade seja satisfatória. Uma das principais formas de divulgação de um destino ou atrativo turístico é o contato antecedente que o turista tem com as imagens, através da internet, material

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14 promocional na mídia ou agências de viagens, e por intermédio das fotografias de amigos e parentes. Gastal (2005) afirma que “Turista e fotografia compõem uma dupla inseparável. Em torno da Torre Eiffel ou no fim de semana na Ilha do Mel, as máquinas fotográficas são companheiras fiéis dos viajantes [...]” (2005 p. 36). A relação entre turismo e fotografia é tão intrínseca, que não conseguimos imaginar atualmente uma viagem sem nossa câmera fotográfica para registrar todos os momentos e locais onde estivemos. Posteriormente, as fotos serão mostradas aos conhecidos, postadas em sites na internet, guardadas ou esquecidas, mas ainda serão as “provas” da experiência de viajar. Segundo Gastal (2005),

Viajar é um hábito presente no mundo contemporâneo. Por razões profissionais ou por lazer, as pessoas se deslocam [...] Pode-se dizer que também haverá em comum, nos diferentes tipos de deslocamento, a presença de imagens e imaginários. Imagens porque, na própria cidade ou no estrangeiro, antes de se deslocarem para um novo lugar, as pessoas já terão entrado em contato com ele visualmente [...] Imaginários porque as pessoas terão sentimentos, alimentados por amplas e diversificadas redes de informação, que as levarão a achar um local “romântico”, outro “perigoso”, outro “bonito”, outro “civilizado”. (p. 11- 13)

De acordo com Ferrari (2010) “a experiência de viajar se assemelha à de fotografar em vários aspectos: ambas trazem ganhos éticos, estéticos, sociais e psíquicos” (p.36). Neste âmbito, a filósofa Susan Sotang, referência no estudo entre turismo e fotografia, traz uma série de reflexões em seu livro “Sobre fotografia” acerca de uma ética do ver e dos significados que o ato de fotografar pode alcançar. A autora também apresenta discussões sobre a relação de posse entre o fotógrafo e o que é fotografado, além das abordagens estéticas em torno da fotografia.

Comecemos o paralelo entre o turismo e fotografia a partir da afirmação “Fotografar é apropriar-se do fotografado” (SOTANG, 2004, p. 14). Há uma relação de poder instaurada na qual a pessoa estabelece uma afinidade com o mundo. Ferrari (2010) indica o aspecto de poder entre o turismo e fotografia a partir da idéia elaborada por Sotang (2004), uma vez que ambas as atividades são signos e permitem diversas interpretações e experiências. Por conseguinte, “fotografar essas experiências de viagem ultrapassa o ato de captar o momento e registrá-lo; é sentir-se poderoso ao eternizar-sentir-se na imagem [...]” (FERRARI, 2010, p. 105).

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15 Por mais que seja importante registrar o momento vivido na experiência turística, tanto Gastal (2005) quanto Sotang (2004) afirmam que a fotografia é um recorte do mundo. Trata-se de uma leitura particular que “não se limita a reproduzir o real, mas o recicla (SOTANG, 2004, p. 244). Passamos a ver a imagem através da lente de uma câmera e no momento em que a capturamos, passa a ter uma carga subjetiva grande por meio da escolha de quem fotografa. De acordo com Gastal (2005), “o bom fotógrafo é aquele que conduz o nosso olhar para aquilo que, em princípio, nossos olhos não veriam” (2005, p. 36), assegurando que “será aquele que procura transmitir, antes do que uma imagem, um sentimento” (p. 36). Essas duas afirmativas nos remetem aos nossos pensamentos e sentimentos quando vemos uma foto da beleza cênica do Rio ao amanhecer ou de um ato de violência, por exemplo. Podemos inferir que o sentimento em relação à primeira imagem será de alegria, entusiasmo e até nos remeta a alguma lembrança romântica. Já a segunda proporciona um sentimento de revolta ou medo e/ou muitas vezes, tristeza.

Essa relação entre turismo e fotografia advém da “modernidade e tornou-se foco de consumo extremamente significativo no mundo contemporâneo” (FERRARI, 2010, p. 115). Todas as autoras citadas fazem uma crítica ao consumismo das imagens, que tomou proporções maiores com a massificação das informações. A função, conforme elucida Gastal (2005), diz respeito à criação de desejos cada vez maiores pelo consumo que “na passagem do momento moderno para o momento pós-moderno, [...] passam a ser vistos como necessidades” (2005 p. 67). Para Sotang (2004) quanto mais imagens são produzidas e consumidas, mais são demandadas pela sociedade. Ainda segundo a autora, a posse de uma câmera pode inspirar algo como a luxúria, mas nunca será satisfatória como um todo, devido ao fato de haver inúmeras possibilidades de fotografias. No entanto, a relação entre a fotografia e a experiência turística nem sempre é opcional. É possível que haja um tom de obrigação dos turistas para registrarem os momentos da viagem, transformando a prática em “um rito” (FERRARI, 2010, p. 115). Este pensamento é sustentado na teoria de Sotang (2004), pois “um modo de atestar a experiência, tirar fotos, é também um modo de recusá-la (p. 20). Assim, viajar transforma-se em um ato cumulativo de fotos, o qual traz certa tranquilidade ao turista desorientado pelo afastamento do seu entorno habitual.

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16 Os motivos para tirar uma fotografia são diversos e permeiam o registro inesquecível, os momentos de lazer, o mundo profissional e o status (FERRARI, 2010, p. 115). Gastal (2005) associa de imediato o status ao imaginário, sendo o fato primordial que impulsiona o sujeito para a experiência turística. Portanto, o momento eternizado numa fotografia é a prova concreta de que ele esteve em determinado local. As imagens divulgadas na mídia fazem com que o imaginário em torno de um atrativo turístico ou destino desenvolva-se ainda mais e, movidos pela expectativa de conhecer o local os sujeitos transformam o ato de fotografar em um verdadeiro fascínio.

Há uma conexão entre a experiência turística e a fotografia, pois os inúmeros símbolos destas práticas proporcionam também múltiplos olhares e tipos de vivência. Tanto a prática turística quanto o ato de fotografar podem ser enxergadas de modo distinto por pessoas de diferentes culturas, classes sociais e idades. Imersas na chamada “civilização da imagem” (GASTAL, 2005, p. 23), as pessoas dispõem de inúmeros meios de acesso à imagem, como cinema, vídeo, fotografia e computadores, que ajudaram a diminuir o olhar sobre as formas de comunicação predominantemente escritas. Então, a fotografia tornou-se um importante meio de registro visual. Com o advento da máquina fotográfica digital, este registro visual ficou ainda mais prático, possibilitando o armazenamento maior de fotos na câmera e a descarga mais simples no computador.

1.5 FOTOGRAFIA E BLOGS

A internet surgiu em meados dos anos 60, nos Estados Unidos da América, CPOR uma decisão do exército americano, cujo propósito era conectar laboratórios do território norte-americano aos supercomputadores concentrados em algum lugar (LEVY, 2000). Ainda segundo o autor, “esse projeto foi imediatamente desviado, já que, desde seus primórdios, o principal uso da Internet foi a comunicação entre pesquisadores (2000, p.226). Começou a popularizar-se entre os anos 80 e 90, quando houve uma transformação do personal computer (off-line) em computador coletivo (on-line) conectado ao ciberespaço (LEMOS, 2005). A inserção das Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (NTIC) nas sociedades modernas tem

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17 acarretado muitas transformações em diversos setores. Novas formas de pensar, de comunicar, de acessar informações e de perceber o conhecimento estão se impondo e facilitando o cotidiano das pessoas. Segundo Lemos (2005), vivemos na era da conexão, que continua a sua expansão com a “computação móvel e novas tecnologias nômades” (2005, p. 2), como laptops, palms e celulares6

. O fato é que a internet torna viável um número quase infindável de ações que somente são possíveis por meio da navegação dos usuários e das atitudes por eles tomadas. Nesse contexto surgiu o blog, uma das inúmeras maneiras de publicar conteúdo on-line. Antes de iniciar as considerações sobre os blogs, apresentamos alguns dados sobre a utilização da internet no mundo e no território nacional.

No âmbito mundial, segundo a União Internacional de Telecomunicações (UTI), o número de usuários de internet no início do ano de 2011 atingiu a marca de 2 bilhões. O número aumentou consideravelmente, se comparado ao ano 2000, quando a quantidade de usuários com acesso não passava de 250 milhões. De acordo com o levantamento do Ibope Nielsen Online7, o número de usuários ativos de internet no Brasil cresceu 23% entre maio de 2010 e maio de 2011, ou seja, de 37,3 milhões para 45,7 milhões. Não foi considerado o acesso a partir de lanhouse8 e outros locais públicos nesse estudo, apesar de serem bastante utilizadas. O Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação – CETIC9 – do Comitê Gestor da Internet no Brasil oferece indicadores atuais sobre acesso, conexão e uso das TICs, e desenvolveu a última pesquisa entre os meses de setembro e outubro de 2010 com aproximadamente 10.000 pessoas. Dentre os entrevistados em todo o país, 24% navegam por meio do acesso pago de centros públicos, ou seja, Internet café, lanhouse ou similares.

6 Um laptop é um computador portátil, leve, designado para poder ser transportado e utilizado em

diferentes lugares com facilidade. Já o palmtop, é um computador de dimensões reduzidas, que cumpre as funções de agenda e sistema informático de escritório elementar. Disponível em <http:// www.wikipedia.com.br> Acesso em 16 nov 2011.

7

O IBOPE Nielsen Online é uma joint-venture (uma associação de empresas, que pode ser definitiva ou não, com fins lucrativos, para explorar determinado(s) negócio(s), sem que nenhuma delas perca sua personalidade jurídica) entre o IBOPE e a Nielsen, líder mundial em medição de audiência de Internet. Com o auxílio de um software proprietário, instalado em um painel de internautas representativo da população domiciliar brasileira com acesso à Web, a empresa detalha o comportamento dos usuários do meio digital. Disponível em <www.ibope.com.br>. Acesso em: 7 ago 2011.

8 Lanhouse é um estabelecimento comercial onde as pessoas podem pagar para utilizar um

computador com acesso à Internet.

9

(30)

18 Em contrapartida, o número de pessoas com acesso à internet em ambientes residenciais, de trabalho e locais públicos atingiu 73,9 milhões no quarto trimestre de 2010. De um total de 191 milhões10 de brasileiros, menos da metade são usuários ativos de internet, porém houve uma maior difusão da rede ao longo dos anos, conforme demonstram os dados das pesquisas.

No que concerne aos blogs, o surgimento ocorreu em 1997, quando o americano John Barger nomeou seu site pessoal como weblog (OLIVEIRA, 2007; BLOOD, 2000). A abreviação blog surgiu em 1999 com Peter Merholz, que fez um pequeno trocadilho com a palavra em sua página pessoal, tal qual “wee blog”. No mesmo ano foi lançado o software Blogger, que poderia ser adquirido gratuitamente e permitia uma navegação mais fácil e rápida (BLOOD, 2000). A partir de então, o uso dos blogs difundiu-se rapidamente, conquistando cada vez mais usuários. Muitos ainda mantêm o formato original e funcionam como ferramentas de compartilhamento de informação. Caracterizam-se, primordialmente, pela composição baseada em microconteúdo, frequência de atualização e organização cronológica (RECUERO, 2003). Não obstante, ainda permitem a integração de múltiplas semioses, como texto, imagens e som (KOMESU, 2004).

Os blogs costumam ser temáticos. Há os pessoais, que nada mais são do que relatos da vida do autor, os jornalísticos, os políticos, os corporativos, os que falam de saúde, beleza e esportes (OLIVEIRA, 2007).

Neste trabalho serão analisados os blogs de cunho pessoal, na tentativa de encontrarmos fotos de turistas que tenham visitado a cidade do Rio de Janeiro. Os relatos contidos nos posts são ocasionalmente importantes a partir do momento que apresentam informações sobre a foto divulgada. Tudo o que é postado nessas páginas é dotado de uma carga subjetiva, uma vez que diversos são os autores do conteúdo.

O blog é imbuído de personalidade. Imbuído das características e das impressões que seu autor quer dar, da maneira através da qual ele deseja ser percebido pelo leitor. A informação divulgada em um blog encontra-se imbuída da personalidade de seu autor. Os blogueiros11 desejam que o leitor saiba que aquele espaço é "seu". Por conta disso, elementos como a

10

Disponível em <http:// www.ibge.gov.br> de acordo com o senso realizado no ano 2010. Acesso em 7 ago 2011.

11

(31)

19 descrição pessoal do indivíduo, o uso da primeira pessoa, o uso das fotografias, a assinatura em todos os posts, são freqüentes (RECUERO, 2003,p.3).

O sucesso da “blogosfera” deve-se à interatividade da internet e à informação pessoal (OLIVEIRA, 2007), que permitem troca de opiniões, olhares e conteúdos postados. Atrelada a esta enorme difusão de informação está a fotografia. De uma forma ou de outra, ela imprime sensações para quem a vê. Ainda segundo Oliveira (2007), com o aparecimento da fotografia digital “os blogs se transformaram em campo fértil para o antigo diário de bordo, aqueles caderninhos nos quais eram anotados todos os detalhes do passeio [...]” (2007, p. 14). De acordo com o estudo State of Blogosphere12, realizado no ano de 2010, 90% dos blogueiros em todo o mundo utilizam algum tipo de mídia nos seus blogs. As fotografias, de modo geral, são as preferidas com um total de 87%.

O advento da fotografia digital contribuiu para a difusão de imagens na internet. Qualquer pessoa que tenha condições de adquirir uma máquina digital pode capturar quantas fotos queira, dependendo do tamanho do cartão de memória, e publicá-las nos sites. Não há mais a necessidade de revelar todas as poses do filme da máquina fotográfica, o que excluía a possibilidade de apagar as de baixa qualidade. Indubitavelmente, a era digital não só facilitou o cotidiano por meio de novas tecnologias, como também o acesso aos destinos turísticos e o registro das experiências turísticas por meio da internet.

12

State of Blogosphere é um estudo realizado desde 2004 pela empresa Technorati para medir a evolução da blogosfera. A pesquisa contou com 7,205 blogueiros em todo o mundo no ano de 2010, a maior amostra desde o início das investigações em 2004. A margem de erro da pesquisa ficou em torno de +/- 1.2 % e possui 95% de confiabilidade. A coleta de dados foi realizada entre 21 de setembro e 08 de outubro de 2010, através da internet. A empresa ainda não divulgou dados sobre o ano 2011. Disponível em <http://technorati.com/blogging/article/state-of-the-blogosphere-2010-introduction/>. Acesso em: 8 ago 2011.

(32)

20

2 O OLHAR FOTOGRÁFICO E A EXPERIÊNCIA TURÍSTICA: ANÁLISE DAS FOTOS POSTADAS NOS BLOGS E CONSIDERAÇÕES ACERCA DA PESQUISA

Apesar de haver bastante material sobre a relação entre turismo e fotografia, não há muitos estudos empíricos sobre suas conexões. John Urry (2001) e Carol Crawshaw (2001) realizaram uma pesquisa qualitativa sobre a prática de fotógrafos profissionais e a influência de imagens fotográficas nas percepções dos turistas a respeito de um determinado lugar. Já a jornalista e mestre em Turismo, Silvia Oliveira (2007), fez uma análise do discurso conduzido pelos blogs de viagem através de textos e fotos, verificando a influência dessa mídia digital na construção da imagem de um destino turístico. Porém, ela não realizou nenhum tipo de coleta de dados com os respectivos donos dos blogs visitados. Em contrapartida, a pesquisadora Bianca Freire-Medeiros (2008) desenvolveu um artigo de análise de aspectos imagéticos e discursivos em 4 travelblogs que narram experiências de contato com a pobreza turística na Rocinha (Rio de Janeiro, Brasil) e Soweto (Joanesburgo, África do Sul).

A expressão genérica “blogs de viagens”, digitada em um site buscador, nos remete a mais de 30 mil resultados somente no idioma português. Essa dimensão prova como são populares no meio virtual. Podem ser acessados em qualquer local que disponha de conexão com a internet, o que permite a atualização dos posts com mais frequência. Além da possibilidade da postagem de um texto com um número maior de caracteres, diferentemente de outras redes sociais, mídias como fotografias e músicas podem ser igualmente utilizadas. No que diz respeito aos blogs, escrita e fotografia se complementam, já que mostram aos leitores a imagem de um determinado local e as impressões descritas do autor sobre a experiência turística. Esta conexão auxiliou no desenvolvimento da pesquisa e, junto ao questionário, permitiu análises da relação entre fotografia e turismo.

A pesquisa aqui desenvolvida é de natureza exploratória. O instrumento de coleta foi um questionário semi-aberto desenvolvido em um site especializado na

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21 confecção de surveys13. As nove questões versavam sobre a relação que o turista tem com a fotografia nas experiências turísticas. O link, que é gerado após o término da confecção e que permite o acesso para responder, foi postado em diversos blogs de turistas nacionais e estrangeiros que estiveram na cidade do Rio de Janeiro. Os dados foram coletados junto aos informantes nos meses de agosto e setembro. Esses informantes foram selecionados por meio de um site buscador. É comum encontrar blogs que mantêm uma listagem de outros blogs conhecidos dentro da página, o que facilitou as buscas. Dentre os 45 blogs contatados, 18 enviaram as respostas, dos quais 10 são utilizados nas análises. Os demais tiveram de ser anulados, pois os informantes não se enquadravam no perfil de turista ou não terminaram o preenchimento do questionário.

Inicialmente, os informantes deveriam identificar o blog do qual eram donos para que as fotos postadas fossem verificadas. Contudo, dois sujeitos não registraram o nome ou o link da respectiva página pessoal. Como maneira de preservar a identidade dos informantes atribuímos códigos a eles. Apenas são revelados os blogs daqueles que permitiram a divulgação das fotos neste trabalho14.

0 10 20 30 40 50 60 Po rc e n ta g e m

Dias permanecidos na cidade

Menos de 3 dias

de 3 a 7 dias

de 8 a 15 dias

Outros

Figura 2 - Tempo de permanência na cidade do Rio de Janeiro

Fonte: Elaboração do autor

13

Disponível em <http://www.qualtrics.com>. Acesso em: 15 ago 2011.

14

A identificação dos sujeitos-informantes diz respeito à ordem do recebimento do instrumento de coleta de dados preenchidos. Portanto, o informante número 1 foi o primeiro a enviar as respostas do questionário, o informante 2 foi o segundo, e assim sucessivamente.

(34)

22 Conforme apontam os resultados, metade dos respondentes afirma que a estada na cidade do Rio de Janeiro foi igual ou menor que 15 dias. Dentre a outra metade, 1 informante (10%) esteve na cidade por 22 dias, 2 (20%) no período de 1 ano, 1(10%) durante 2 meses e 1(10%) reside em outra cidade, que integra a Região Metropolitana, e visita o Rio de Janeiro a trabalho ou a lazer (Figura 2). A opção “outros” foi acrescentada para que não ficássemos com tantas alternativas que delimitassem tempo e para que soubéssemos se o respondente era morador da cidade do Rio de Janeiro. É interessante pensar que as diferenças no tempo de estada de cada turista podem influenciar o olhar sobre a cidade e, consequentemente, os estilos de fotografias capturadas. A interpretação do turista de cada local visitado na cidade e o seu olhar são bastante subjetivos, mas são expressos nas fotografias escolhidas para a postagem nos blogs.

Também foi pesquisado se os turistas estavam acompanhados de guias de turismo quando conheceram o Rio de Janeiro. Dos respondentes, 9 não optaram pelos serviços de um guia, enquanto apenas 1 o utilizou. Sabemos que os guias de turismo, geralmente, levam os turistas aos atrativos mais conhecidos da cidade e direcionam o olhar deles para algum local específico. As recomendações para uma fotografia “perfeita” são bem-vindas, mas o olhar deixa de ser peculiar, já que outra pessoa interveio diretamente sobre ele.

Quando questionados a respeito da quantidade de fotos tiradas na cidade do Rio de Janeiro, 6 inquiridos não se lembravam da quantidade. Os outros 4 responderam que tiraram entre 30 e 883 fotos.

O informante número 1 tirou 60 fotos e selecionou 15 para postagem. Já o respondente 2 tirou 30 fotos quando esteve no Rio de Janeiro. O informante 3 respondeu que capturou 50 fotos na cidade, enquanto o respondente 4 capturou 883 fotos durante os 15 dias no Rio de Janeiro e montou um slideshow15 para apresentar as fotografias em sua página pessoal.

Uma das questões solicitava aos sujeitos-informantes que esclarecessem o porquê da seleção das fotos postadas no blog (Figura 3). O informante número 1 foi o único que respondeu que postou as fotos obtidas para a realização de uma tarefa

15

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23 do curso de fotografia. Já os respondentes 2, 4, 6 e 10 consideram as fotos postadas, entre todas as capturadas, como as melhores, mais bonitas ou mais pertinentes para ilustrar o post16. O informante 6 divide a página pessoal em categorias como “a jornada”, “cultura”, “eventos”, “comidas”, “lugares”, “pessoas” e “situações aleatórias”17

. Conforme a resposta, ele selecionou as fotos porque elas ilustram da melhor maneira um tema específico sobre o qual ele escreve18, dentro de cada categoria supracitada. O informante número 5 apresentou uma resposta semelhante à anterior, alegando que as fotos também ilustram o que ela escreve em sua página pessoal.

Apenas dois informantes responderam de maneira mais direta que o motivo da postagem foi a paisagem carioca. Este é o caso do informante 3, que selecionou fotos do Aterro do Flamengo, Pão de Açúcar e orla da zona sul vista de um hotel de luxo no bairro Leblon. O informante 9 selecionou fotos da zona sul carioca e do Pão de Açúcar. Apesar de todos os informantes que se identificaram postarem imagens da paisagem do Rio de Janeiro, seja da beleza natural ou ícones turísticos construídos, somente aqueles dois apresentaram tal resposta. Como podemos perceber, o informante número 8 aponta um símbolo turístico que também compõe a paisagem carioca, o Cristo Redentor. Já o futebol está relacionado ao estádio do Maracanã19, outro ícone paisagístico da cidade.

O informante 9 foi o que apresentou a resposta relacionada à recordação. Já o informante 10 aponta que as fotos postadas são imagens positivas e mostram um dado momento, o que pode remeter à lembrança do que ele viveu na cidade20. Do mesmo modo, o informante 7 diz que as fotos postadas ilustram “momentos lindos” que passou com os amigos, o que também o aproxima do campo da recordação.

Apesar da proximidade das respostas de alguns inquiridos, elas corroboram a idéia de que as pessoas precisam de um material, seja impresso ou virtual, que

16

Refere-se a uma entrada de texto efetuada em um blog.

17

Tradução em português das palavras inglesas “the journey”, “culture”, “events”, “food”, “places”,

“people” e “random”.

18 Resposta no idioma materno do informante “because they best illustrate the particular theme I wish

to discuss”.

19

Apesar de o informante não mencionar o nome Maracanã na resposta, ele postou uma foto dentro do estádio durante a visitação turística ao gramado.

20

(36)

24 registrem o objeto do olhar. As fotografias ajudam a reavivar a memória. E mais, ajudam a construir imaginários e ampliam os sentidos do turista.

Informantes Respostas

1 Aula prática de Introdução à Fotografia - Módulo 1, Ateliê da Imagem. 2 Porque eram as melhores.

3 Paisagens.

4 Porque me pareceram as melhores. Não levei a minha câmera habitual por questões de segurança. Levei uma muito pequena em que a qualidade não é grande coisa.

5 Porque queria mostrar pra minha família, meus amigos da França e do mundo, como era a cidade onde vivia este ano. Para ilustrar o blog e o que eu escrevia. 6 Ilustram um tema particular que eu quero discutir.

7 Porque foram momentos lindos que eu vivi com os meus amigos.

8 Porque eu gosto de futebol. Também coloquei a do Cristo porque é o símbolo do Rio.

9 Porque são boas lembranças e pela paisagem de algumas delas. 10 Porque são bonitas, imagens positivas e relato de um momento.

Figura 3 – Motivo da seleção das fotografias postadas nos blogs

Fonte: Elaboração do autor

Quando perguntados sobre a relação com a fotografia os sujeitos também apresentaram respostas muito próximas. Como não colocamos itens previamente estipulados nessa pergunta do instrumento de coleta de dados, o informante pôde tecer comentários livremente (Figura 4). Essa pergunta tem um caráter mais abrangente e não está diretamente relacionada às fotos postadas. Conforme a figura, são destacadas palavras dentro de um mesmo campo semântico, como “hobby”, “amador” e “gostar”. Todas estão relacionadas, fundamentalmente, com a busca pelo prazer. Apenas o informante número 6 destaca que a atividade de fotografar também está ligada ao trabalho. Os informantes 5 e 7 mencionam que a fotografia é um meio de recordação da viagem, enquanto o respondente 9 diz que não tem nenhuma relação especial, mas gosta de fotografar. A última resposta nos faz pensar que, às vezes, as pessoas não sabem o porquê de fotografar, não têm um motivo específico, mas o fazem ainda assim. Ora porque são influenciadas, ora por serem cobradas por algum companheiro de viagem que tenha uma relação mais intrínseca com a prática fotográfica.

(37)

25

Figura 4 – Relação do informante com a fotografia.

Fonte: Elaboração do autor

Outra questão abordada foi a importância da fotografia para a experiência turística do respondente (Figura 5). Os informantes 1, 4, 5, 7 e 9 apontaram com veemência o caráter fundamental da fotografia durante a atividade turística. Podemos inferir que o informante 2 também considera a fotografia um mecanismo importante, já que é predominante em algumas viagens. Mais uma vez, percebemos que o ato de fotografar é especialmente válido para documentar a atividade e o produto final, a foto, que aparece como uma lembrança do momento vivido.

A resposta do informante número 3 nos remete à questão do status social, ainda que de um modo sutil, pois ele afirma que mostra o que vê às pessoas. Apesar de haver bastantes fotos das paisagens da cidade do Rio de Janeiro, principalmente as naturais, não encontramos uma imagem fotográfica onde ele, o informante, aparecesse. Portanto, inferimos que a necessidade dele de compartilhar o momento vivido predomina sobre a vontade de se mostrar na imagem. Diferentemente, outras pessoas precisam posar ao lado de um determinado ícone para mostrarem que o viram ou experimentaram, realmente. Apenas o informante número 10 disse que a fotografia não tem um grau muito alto de importância para ele, mas ajuda a recordar o momento, a “matar a saudade”.

Informantes Respostas

1 Hobby. Já fotografo há muito tempo como amador (autodidata) e comecei a fazer cursos neste ano.

2 Amo fotografar. Como viajo bastante, tornou-se um hobby. 3 Fotógrafo amador.

4 Sou amador puro.

5 Gosto de fotografia para fazer imagens lindas, "guardar" as coisas lindas, me lembrar das coisas.

6 Fotografo por hobby e, ocasionalmente, a trabalho.

7 Gosto muito de tirar fotos, porque gosto de olhar e me lembrar de todos os lugares que conheci, os momentos que pude viver.

8 Eu apareço.

9 Não tenho nenhuma em especial, simplesmente eu gosto de fotografar em todas as minhas viagens.

10 Gosto muito, mas eu mesmo tiro como passatempo e não com muita ambição.

(38)

26 Portanto, entendemos que a fotografia parece funcionar como prova de que algo realmente aconteceu e ainda como fonte primordial para preservar a memória.

Informantes Respostas

1 Fundamental. Além da recordação, são materiais para o meu blog de viagens. 2 Algumas viagens eu faço somente para fotografar.

3 Mostrar às pessoas um pouco do que eu vejo, registrar através de fotografias diversidades geográficas, culturais, etc.

4 Acho importante para recordar.

5 Importante, sempre vou com uma câmera.

6 Para eu documentar e me lembrar onde estive e o que fiz.21 7 Para mim é indispensável.

8 São as minhas lembranças de lá.

9 Muito importante. Não posso ficar sem tirar uma foto. Amo as fotos, mesmo que eu não seja uma fotógrafa muito boa.

10 Não muito alto, mas depois mata a saudade.

Figura 5 – Importância da fotografia nas viagens

Fonte: Elaboração do autor

Finalmente, os investigados comentaram as fotos postadas de maior relevância para eles (Figura 6). Os informantes 2, 3, 4, 7, 8 e 9 escolheram imagens onde predominam ícones da paisagem natural da cidade e símbolos turísticos que a compõem. A árvore de Natal da Lagoa, mencionada pelo informante 2, ainda que temporária, é uma atração para os turistas e moradores cariocas ou da região metropolitana. A linha que divide o predominantemente natural do turístico é tênue ou inexistente, pois símbolos característicos das imagens turísticas, que ajudam a promover a cidade nacional e internacionalmente, como exemplo o Pão de Açúcar e as praias, fazem parte da paisagem natural. O turista se depara com vistas amplas e diversificadas quando visitam o Pão de Açúcar e do Cristo Redentor. É possível observar a arquitetura da cidade, o contorno e curvas das montanhas e outros pontos da cidade. Talvez sejam estes os principais motivos que levem as pessoas a visitarem tais pontos turísticos todos os anos.

21Tradução da frase em língua inglesa “To document and remember where I have been and what I

Referências

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