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THE FEMININE BEHIND THE BARRIER OF MALE DOMINATION IN ARS AMATORIA

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Academic year: 2021

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ESTUDOS| A MARgem, Uberlândia, v. 15, n. 2, ago-dez. 2018 O FEMININO PERANTE O ÓBICE DA DOMINAÇÃO MASCULINA NA ARS

AMATORIA

Rafaela Cristina de Souza Silva Universidade Federal de Uberlândia (UFU)

RESUMO: O presente trabalho pretende fazer uma análise comparativa do tratamento da figura feminina em relação à figura masculina na obra Arte de Amar (Ars Amatoria) do poeta Ovídio. Mais concretamente, se propõe a realizar uma oposição entre os livros II e III da obra, procurando discutir semelhanças e diferenças na alusão aos dois sexos. Também tenciona a fazer uma problematização da visão sexista da mulher como ser subserviente na Roma Antiga, trazendo a discussão também aos dias atuais. Além disso, têm-se como objetivos demonstrar os recursos retóricos utilizados por Ovídio na construção do feminino e apontar de que maneira o poeta se difere dos seus contemporâneos. O trabalho está organizado em duas partes. Na primeira parte, fez-se necessário uma contextualização histórico-literária para melhor entendimento da obra. Ali se encontra um pouco sobre a vida do autor e sobre a literatura no período em que este produz, além de um estudo sobre a vida amorosa e a mulher na sociedade romana do mesmo período. Na segunda parte se encontra a análise comparativa da obra sobre a ótica já mencionada anteriormente. A metodologia utilizada foi de base bibliográfica. Assim, algumas ideias e conceitos de determinados autores são utilizados para o enriquecimento do estudo aqui feito. No mais, há uma comparação da visão histórica com a visão literária do tema abordado.

PALAVRAS-CHAVE: Ovídio. Ars amatoria. Literatura clássica. Literatura Greco-Latina. Feminino.

THE FEMININE BEHIND THE BARRIER OF MALE DOMINATION IN ARS

AMATORIA

ABSTRACT: The present work intends to make a comparative analysis of the treatment of the female figure in comparison to the male figure in the work Arte de Amar (Ars Amatoria)

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ESTUDOS| A MARgem, Uberlândia, v. 15, n. 2, ago-dez. 2018 by the poet Ovid. More specifically, it aims to oppose books II and III of the book, seeking to discuss similarities and differences in the allusion of the two sexes. It also intends question the sexist view of women as subservient in Ancient Rome, bringing the discussion to the present. In addition, the objectives are to demonstrate the rhetorical features used by Ovid in the construction of the female figure and to point out where the poet differs from his contemporaries. The work is organized in two parts. In the first part, a historical and literary contextualization was necessary for a better understanding of the book. In this part, there is some information about the author’s life and about the literature in the period in which he produces, as well as a study about the love life and the women in Roman society of the same period. In the second part there is a comparative analysis of the work on the view previously mentioned. The methodology used was of bibliographic basis. Some ideas and concepts of certain authors are used to enrich the study. Furthermore, there is a comparison between the historical view and the literary view of the topic addressed.

KEYWORDS: Ovid. Ars amatoria. Classical Literature. Greek and Roman Literature. Feminine.

CONTEXTO HISTÓRICO-LITERÁRIO

“Existe um poeta latino cujo nome é inseparável do sentimento amoroso e que em vida pagou por essa reputação com o exílio” (GRIMAL, 1991, p.153). Públio Ovídio Naso, conhecido na modernidade apenas como Ovídio, foi um dos poetas líricos romanos de maior renome da época do imperador Augusto1. Nascido em 43 a.C em Sulmona, na Itália, mudou-se para Roma a fim de cumprir o demudou-sejo de mudou-seu pai de que mudou-seguismudou-se carreira política. Na mesma cidade descobriria mais tarde a sua verdadeira vocação: a poesia. Dedicou-se à arte literária até sua morte em 17 d.C., quando encontrava-se em exílio2 na cidade de Tomos.

A obra ovidiana surge em um momento de emancipação artística de Roma, nos primórdios do Império Romano. Durante o período da República Romana (509-43 a.C.) a produção de artes em geral era fortemente influenciada pelos moldes gregos. Os escritores romanos haviam importado os modelos de gêneros literários da Grécia e os tomado como padrão estético a ser seguido. É com a consolidação do Império em 27 a.C. que a arte romana se distancia do modelo helenístico e ganha originalidade.

A chamada “pax romana3” propiciou um ambiente ideal para que jovens poetas

pudessem exercer sua criatividade poética. Com um relativo equilíbrio econômico, social e militar, Roma passou por uma grande reconstrução. A época de Augusto é conhecida como sendo o “período áureo” da poesia latina, por ter sido um momento de grande incentivo da

1 Caio Júlio César Otaviano Augusto foi o primeiro imperador do Império Romano, governando 27 a.C. até sua morte em 14 d.C.

2 Neste trabalho será referido o desterro de Ovídio como exílio, porém segundo Prata (2002, p.117): “a

expatriação de Ovídio não se configura como um exilium, mas sim como uma relegatio, uma vez que o poeta não perdeu sua cidadania e seus bens não foram confiscados”.

3 Período longo de relativa paz experimentada pelo Império Romano, que se iniciou em 28 a.C. quando Augusto

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ESTUDOS| A MARgem, Uberlândia, v. 15, n. 2, ago-dez. 2018 produção literária, onde poetas eram financiados e bibliotecas eram construídas. Dessa maneira, os gêneros épico e lírico tiveram grande aprimoramento, também graças ao enriquecimento da língua latina. Este momento propiciou o florescimento de vários poetas de indiscutível talento, entre eles Virgílio, Horácio, Tibulo e o próprio Ovídio.

Ovídio começa a escrever seus primeiros poemas em meio a esta prosperidade da Roma augustana. “Talentoso e culto, brilhante e original, refinado, elegante, irreverente e irônico, Ovídio surgiu no cenário romano entre 20 e 15 a.C.” (CARDOSO, 2003, p. 80). Suas primeiras obras são de caráter erótico (caráter esse que acompanhará boa parte de seu repertório), compostas em versos elegíacos: Heróides (Heroidum epistolae) e Amores (Amores). Percebe-se na temática dessas obras a influência da pax romana, sendo que Ovídio não se preocupa com assuntos delicados como guerra e violência, e ao invés disso se dedica a cantar sobre o amor. Isso pode ser bem observado nos primeiros versos dos Amores:

Armas, em ritmo pesado, e combates violentos, estava eu prestes a cantá-los – o assunto assentava bem no metro;

era igual o segundo verso [ao primeiro]; Cupido soltou uma gargalhada, diz-se, e surrupiou-lhe um pé. (OVÍDIO, 2011, I, 1-4)

Nesta época haviam dois grandes patrocinadores de artistas, os quais tinham apoio do próprio princeps: Mecenas e Messala. Esses patronos eram importantíssimos na carreira dos poetas, pois os davam apoio financeiro e os apresentavam a círculos de intelectuais nos quais podiam debater seus escritos. Ovídio pertenceu ao círculo literário de Messala, através do qual conheceu um amplo círculo de poetas e outros intelectuais, como Tibulo e Propércio.

Todo este contexto permitiu que Ovídio fosse reconhecido em sua época, se tornando o “poeta da moda”. Desde muito novo, ele conseguiu dedicar grande tempo à escrita, e seu repertório é bastante extenso. Foi principalmente sua habilidade de retratar a vida amorosa romana que o tornou famoso, conhecido como praeceptor amoris. Em sua conhecida “fase jovem”, além das obras citadas anteriormente, ele publicou Arte de amar (Ars Amatoria), Remédios de Amor (Remedia Amoris) e Receitas de Beleza (Medicamina Faciei Femineae).

Em 8 d.C. foi condenado pelo imperador Augusto ao exílio na longínqua cidade de Tomos. A causa do banimento é atribuída a seu livro A arte de Amar, considerado imoral pelo princeps, porém muitos consideram essa justificativa duvidosa e debatem sobre os verdadeiros motivos do exílio4. O fato é que o acontecido lhe causou profundo desgosto, e ele continuou suplicando permissão para retornar a Roma até o final da sua vida em 17 ou 18 d.C.

4 “São bem conhecidos os fatos do banimento de Ovídio; o seu verdadeiro motivo é um mistério. O próprio poeta

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ESTUDOS| A MARgem, Uberlândia, v. 15, n. 2, ago-dez. 2018 Neste mesmo ano, Ovídio estava trabalhando em Fastos (Fasti) e nas Metamorfoses (Metamorphoses), livro que muitos críticos consideram sua obra-prima. Durante o exílio produziu em número consideravelmente menor quando comparado a sua produção anterior. Escreveu, antes de sua morte, Tristes (Tristia) e Cartas do Mar Negro (Epistulae ex Ponto), ambos conjuntos de cartas demonstrado seu sofrimento por conta do exílio.

A POESIA ELEGÍACA AMOROSA ROMANA

A elegia tem origem grega, e surgiu como lamentações fúnebres compostas em dísticos elegíacos5. Na época alexandrina torna-se uma forma comum em narrativas de lendas mitológicas, principalmente nas que continham elementos eróticos. É como narrativa erótico-mitológica que ela chega a Roma. Tudo que restou das primeiras elegias latinas são poucos fragmentos. Algumas das mais antigas que se conservaram inteiras até os dias de hoje são as de Catulo. Porém, o gênero apenas é impulsionado com a geração de poetas líricos do período augustano.

A poesia elegíaca amorosa obteve seu grande ápice no período de Augusto, com os poetas latinos Propércio, Tibulo e Ovídio. Nesse sentido, o gênero ganhou uma identidade própria. Pode-se dizer que esse impulso da elegia se deve em partes a pax romana e a tranquilidade trazida pelo império. Esses fatores davam abertura a uma poesia mais subjetiva e preocupada com questões do dia-a-dia da vida boêmia, como o tema do relacionamento amoroso.

Vale destacar que, a elegia busca, antes de tudo, a representação do real. O realismo é qualidade de seu texto, e por isso ela busca se aproximar o máximo possível da vida e do cotidiano da sociedade. Ela não é, no entanto, uma imitação pura e simples. É mais que isso: a recriação do real.

Tibulo é um dos jovens talentos da literatura da época de Augusto. Pertencia, assim como Ovídio, ao Círculo de Messala. Em suas elegias, Tibulo canta o “amor puro”, que para ele é nada mais que o desejo sincero. Dedica poemas à sua musa matrona Délia, à uma prostituta chamada Nêmesis e até mesmo a um escravo referido como Márato. Para ele, o adultério, a prostituição e a atração pelo escravo não tornam o amor impuro, desde que ele seja um desejo sincero.

(error), cuja natureza ele nunca revelou cabalmente.” (GREEN, 2011, p.41-42) Acredita-se que esse error possa estar relacionado à Júlia, neta do imperador Augusto.

5 Tipo de metro composto por estrofes de dois versos dactílicos, sendo o primeiro um hexâmetro e o segundo um

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ESTUDOS| A MARgem, Uberlândia, v. 15, n. 2, ago-dez. 2018 Propércio, contemporâneo de Tibulo, imortalizou em suas elegias a figura de sua musa Cintía. A figura feminina aqui é complexa e apesar de bela, é manipuladora e pérfida, sendo a responsável por anos de sofrimento por parte do poeta. Propércio também faz apologia ao amor puro e desinteressado.

E, finalmente, temos Ovídio sendo conhecido como o mais importante (e último) dos poetas elegíacos. Suas elegias tem estilo rebuscado, graças à sua impecável retórica. Nelas o poeta trata principalmente de sedução e erotismo. Ele vê o amor como uma espécie de arte da conquista, na qual ambos o feminino e o masculino devem se valer de táticas para alcançarem seus objetivos amorosos.

Alguns topói que caracterizam essa forma literária são:

 A presença do amante (geralmente se identifica em primeira pessoa, como o próprio eu-lírico);

 A mulher amada (diferentemente da mulher platônica comum da poesia lírica, aqui é retratada como uma moça bela, porém fatalmente sedutora e muitas vezes infiel e autoritária);

 O amor impróprio, muitas vezes adúltero, fora da moralidade, da tradição, e até ilegal;

 O poeta como um mestre do amor;

 A conquista amorosa como uma batalha, na qual o eu-lírico é um soldado na batalha da relação amorosa;

 O amor como sinônimo de sofrimento;

 O rival do amante.

O AMOR E O FEMININO NA ROMA DE AUGUSTO

É difícil traçar um perfil histórico da maioria das mulheres da Antiguidade. O fato é que estas foram pouco representadas ou completamente ignoradas pela maioria dos historiadores. Nestas poucas representações, as mulheres comumente retratadas são esposas ou mães de imperadores e guerreiros de renome. Já na literatura, eram quase sempre vistas pelos olhos dos homens como mulheres de virtudes ou reles prostitutas. Ou seja, o feminino era, na maioria das vezes, sinônimo de submissão.

No começo do Império Romano esta subserviência estava ainda presente. Percebia-se a distinção entre homens e mulheres desde muito cedo. Ambos, se vindos de boas famílias, receberiam letramento até os 12 anos de idade. Porém, a partir desta idade, enquanto os

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ESTUDOS| A MARgem, Uberlândia, v. 15, n. 2, ago-dez. 2018 meninos continuavam os estudos, as meninas já eram tomadas como “senhoras”. Estavam prontas para serem oferecidas em casamento a quem a figura paterna considerasse mais estratégico.

O casamento era então obrigação moral e resolução de interesses. O homem e a mulher vindos de boas famílias, longe de terem optado pela companhia um do outro, se limitavam a cumprir uma obrigação cívica. A mulher se tornava a responsável por suprir os desejos de seu marido, sendo a obediência a característica mais valiosa em uma esposa. Sobre o papel da mulher no casamento Veyne escreve:

O casamento é apenas um dos atos da vida, e a esposa não passa de um dos elementos da casa, que compreende igualmente os filhos, os libertos, os clientes e os escravos. "Se teu escravo, teu liberto, tua mulher ou teu cliente ousam replicar, tu te enraiveces", escreve Sêneca. Os senhores, chefes de uma casa, resolvem as coisas entre si, como de poder a poder, e se um deles deve tomar uma grave decisão reúne o "conselho de amigos" em vez de discutir com a mulher. (VEYNE, 2009, p.48).

Talvez isso explique em partes o grande número de divórcios na época.6 O amor conjugal não era necessário em um casamento, e se ocorria de os companheiros terem afeto um pelo outro era grande sorte.

Os romanos não tinham a noção de amor cortês ou pureza amorosa. Estar apaixonado por uma mulher era o mesmo que estar aprisionado sob os caprichos desta, tornando-se um mero escravo do amor. Em geral, não era um sentimento louvado como hoje, porque quem amava demais era tido como alguém fraco que não tinha controle sobre o objeto deste amor. E ser dominante era uma característica muito importante para o homem romano, que devia liderar sua mulher e seus servos.

Quando um romano se apaixonava loucamente, seus amigos e ele mesmo consideravam ou que perdera a cabeça por uma mulherzinha devido a um excesso de sensualidade, ou que moralmente caíra em escravidão; e, dócil como bom escravo, nosso enamorado oferecia-se a sua senhora para morrer, se ela assim lhe ordenasse. Tais excessos tinham a negra magnificência da vergonha, e nem os poetas eróticos ousavam enaltecê-los abertamente; levavam o leitor a desejá-los cantando-os com uma engraçada inversão da normalidade, um paradoxo humorístico. (VEYNE, 2009, p. 186).

Um costume comum desde os primórdios de Roma era o concubinato. Os homens poderiam ter várias concubinas em casa, as quais dividiam a sua cama, e isto não era visto com maus olhos pela sociedade romana. Absurdo seria, no entanto, se um homem quisesse tornar uma de suas concubinas em esposa legítima. A amante não era digna de ser uma mãe

6 Ovídio, por exemplo, casou-se três vezes. Na época em questão, divórcio não era um demérito, e nem casar-se

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ESTUDOS| A MARgem, Uberlândia, v. 15, n. 2, ago-dez. 2018 de família, pois ela pertencia a uma classe social inferior e poderia ser até mesmo uma escrava.

Quanto à infidelidade por parte das mulheres, esta era repudiada. A mulher infiel arruinava a imagem de seu pai, marido e filhos. O próprio pai às vezes tomava a atitude de punir a adúltera para libertar a família da vergonha. Assim fez o próprio Augusto com sua filha e sua neta, ambas chamadas Julia. Tanto a mãe quanto a filha eram famosas por seus suas vidas libertinas, e o princeps puniu ambas com o banimento de Roma.

Assim, Augusto tomou várias medidas para incentivar o casamento tradicional entre nobres. Tentou sem sucesso tornar o matrimônio como obrigatório pela lei. Chegou a oferecer vantagens jurídicas àqueles que desposassem esposa legítima e tivessem três ou mais filhos. Também estabeleceu leis que tornavam o adultério crime. Segundo Grimal, o imperador estava preocupado com o número decadente das famílias nobres:

Na verdade parece que, ao promulgar a lei “sobre o matrimônio das ordens”, o imperador quis basicamente restaurar algumas tradições que se tornaram obsoletas e deter uma inegável tendência à “democratização” do casamento e à diminuição da prole. Dissemos que o matrimônio “à moda antiga” tendia cada vez mais a ser negligenciado e substituído por uniões menos incômodas. Isso, porém, acarretava a extinção progressiva das grandes famílias, pois legalmente tais uniões equivaliam a um verdadeiro celibato. Para manter a estrutura tradicional da urbe romana, do tipo aristocrático e baseada na estabilidade e na continuidade das gentes, tornava-se necessário reagir – mas essa seria uma medida de alcance jurídico mais que moral. (GRIMAL, 1991, p. 175).

Pode-se dizer então, que nos tempos os quais viveu Ovídio, busca-se um resgate da tradição e dos bons costumes morais. É nesse contexto que ele lançará a obra que, por sua suposta imoralidade, será tida como a causa de seu exílio: a Ars Amatoria.

A ARTE DE AMAR

A Ars Amatoria é uma coletânea composta por três livros, sendo os dois primeiros dedicados aos homens e o terceiro às mulheres. Os poemas são compostos em dísticos elegíacos, que caracterizam o metro do gênero elegia. O tema central da coletânea é o ensino do ofício da conquista e da sedução. O eu-lírico diz ensinar a arte do amor, da qual ele já é mestre. Há então um hibridismo de gênero entre elegia e poesia didática. Porém, a nomenclatura utilizada neste trabalho será a de elegia.

Alguns teóricos defendem a ideia de que Ovídio, na Ars, não faz mais que uma mimesis dos costumes e realidade romana. Porém, longe de apenas fazer imitações baseadas na realidade, este poeta utiliza de diversos recursos que agregam valor literário à sua obra.

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ESTUDOS| A MARgem, Uberlândia, v. 15, n. 2, ago-dez. 2018 Nesta terceira parte do trabalho será feita uma análise da temática abordada pelo poeta, e das faculdades literárias de que este se vale para agregar valor artístico à sua obra.

Um dos artifícios utilizados por Ovídio em sua obra é entrecortar o poema com narrativas históricas e míticas. Isso confere uma estética adequada à época, mas o poeta também usa o recurso como forma de zombar ou tratar ironicamente a tradição romana, comparando grandes acontecimentos com as questões mais banais do dia-a-dia.

No Livro I, o praeceptor amoris se incube da tarefa de ensinar seus conhecimentos sobre a “arte” do amor aos homens. Arte, assim chamada, porque o relacionamento amoroso é para ele um ofício que requer habilidade. Começa por indicar os lugares nos quais ocorrerá a “caçada”, a busca pela moça que será o alvo de sua paixão. Os teatros, as festas religiosas, as corridas de cavalos, os banquetes e até mesmo o foro são lugares onde poderá desabrochar o amor. O poeta utiliza metáforas e referências em um tom irônico, no qual se percebe certa crítica embutida aos valores da tradição romana. No poema sobre o Rapto das Sabinas7 (I, 101-134), é feita uma comparação irônica entre o episódio famoso e a conquista do amor: o eu lírico compara-se a um soldado de Rômulo8, que com a força de um “costume antigo” (OVÍDIO, 2011, I, 133) tornará os teatros um lugar “de mil ciladas para mulheres formosas”. (OVÍDIO, 2011, I, 134)

Após transcorrer sobre os lugares para encontrar a vítima, ensina-se a conquistá-la. O homem precisa ser confiante, dedicar-lhe cartas cheias de promessas, estar próximo a ela constantemente, além de estar sempre limpo e bem arrumado. É válido também embebedá-la para aproveitar-se do momento, ser ousado e precaver-se dos possíveis rivais.

No Livro II, é o momento do varão aprender a conservar o amor após tê-lo conquistado. É importante que ele seja bondoso e prestativo para com a sua dama, cedendo a alguns de seus caprichos. Quanto mais ele a elogia, mais ela se apega a ele, por isso a lisonja também é essencial. Aqui, o poeta também trata da infidelidade, dizendo que o jovem tem todo o direito de “divertir-se”, porém deve ser cauteloso para que não seja descoberto. Também aconselha que ele ignore as aventuras da amada, para que esta não se sinta envergonhada. Além disso, ele também sugere que o amante suporte os desaforos da amada, evitando irritar-se com ela e tratando-a sempre cortesmente.

7 O Rapto das Sabinas é o nome pelo qual ficou conhecido o episódio lendário da história de Roma em que a

primeira geração de homens romanos teria obtido esposas para si através do rapto das filhas das famílias sabinas vizinhas.

8 Segundo a tradição romana, Rômulo foi o primeiro rei de Roma, cidade a qual fundou juntamente a seu irmão

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ESTUDOS| A MARgem, Uberlândia, v. 15, n. 2, ago-dez. 2018 O Livro III é dedicado às mulheres. Nele, o poeta irá ensinar com mesmo afinco o que já havia ensinado aos homens. Uma característica que o diferencia dos outros dois livros é que ele focará mais em discutir sobre os cuidados estéticos neste. Assim, ele ensinará às mulheres os tipos de roupas, cosméticos, penteados e cuidados com a higiene que poderão contribuir para um melhor desempenho na vida amorosa.

Ovídio também ensinará as artes de encontrar-se com o amante sem ser descoberta, apesar de afirmar a todo tempo que não fala para mulheres casadas.9 E mais: a incentivará a seguir sua natureza que, para ele, é naturalmente sexual, e tomar quantos parceiros quiser sem negar seus desejos.

Vamos agora analisar alguns dos lugares-comuns da elegia amorosa os quais o poeta faz uso ou abnega.

I. O rival:

A figura do rival no poema é pouco utilizada, aparece quando o poeta aconselha tanto ao homem (livro I) quanto à mulher (livro III) a desconfiarem de seus amigos. À mulher ele ainda acrescenta que não dê tanta importância às suas rivais, pois isto pode fazer com que pareça demasiado neurótica aos olhos do amado.

II. O amor como sofrimento:

O poeta tem, em comparação a outros elegíacos, uma visão um tanto positiva sobre o amor. No geral, ele aconselha que o sofrimento amoroso seja tolerado até certo ponto, já que não seria sábio colocar a relação em risco por conta de uma dor passageira.

III. O mestre do amor:

Esse título define a Ars Amatoria. Como a obra se trata de um “manual do amor”, é necessário que aquele que a escreve tenha muita experiência nos assuntos tratados. E Ovídio reafirma sua confiança no assunto diversas vezes. Aliás, ele não se considera apenas um entendido sobre o amor, mas alguém que tem controle do próprio Cupido: “Quíron foi o mestre do Eácida; eu sou o mestre do Amor;”. (OVÍDIO, 2011, I, 17)

IV. Servir aos caprichos da amada:

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ESTUDOS| A MARgem, Uberlândia, v. 15, n. 2, ago-dez. 2018 Ovídio aconselha aos homens a ceder e servir sempre. Ceder nas discussões e servir até a seus caprichos mais inescrupulosos: “Cede quando ela teima; se cederes, sairás vencedor;/ trata, apenas, de agir, como ela determinar.” (OVÍDIO, 2011, II, 197-198) Ele não diz isso de maneira altruísta, no entanto. A intenção aqui é ceder e servir para depois colher os benefícios na relação.

São esses alguns dos lugares-comuns ocorrentes na Ars Amatoria. Como se pode ver, muito do gênero elegíaco é seguido à risca. O que diferencia a obra de outras elegias é, porém, a questão do hibridismo com a poesia didática.

A DICOTOMIA FEMININO X MASCULINO NA ARS AMATORIA

Nesta parte do artigo, pretende-se fazer uma análise comparativa da imagem feminina em contraste com a imagem masculina dentro da Ars Amatoria. Essa investigação se baseará, principalmente, na observação de como o poeta se refere ao homem nos livros I e II, e como ele se refere à mulher no livro III.

Assim, faz-se necessário ressaltar o quão extraordinário é haver um livro dedicado às mulheres no meio literário da época. Em uma sociedade patriarcal como Roma no início do Império, a maioria dos poetas as ignorava, dirigindo-se sempre ao homem. Afinal, a mulher era um ser subserviente, que não tinha identidade própria, estando sempre atrás da figura do pai e do marido. Tudo o que ela fazia em sua vida deveria ter a função de agradar a seu senhor. Sendo considerada como um ser de natureza pérfida, que poderia destruir a vida de um homem, a mulher de respeito deveria abster-se de suas vontades. Porém, a visão que Ovídio nos dá é de uma Roma muito diferente, nela, a mulher é um ser de desejo, que não busca só agradar ao masculino, mas também precisa ter suas vontades supridas. O próprio poeta parece saber o quanto esse quadro pareceria estranho aos leitores e se justifica:

Dentre a multidão, alguém me dirá: “Por que forneces mais veneno às serpentes e entregas o rebanho à loba enraivecida?”.

Deixai de estender a todas o defeito de umas quantas;

É à luz dos seus merecimentos que cada mulher tem de ser vista. (OVÍDIO, 2011, III, 7-10)

Observa-se, então, a opinião de que a mulher deve ser vista como um ser individual, e não como uma generalização de todas as mulheres. Nem toda a mulher deve ser julgada por sua dita natureza farsante, já que elas diferem entre si em seus atos.

Assim ele inicia seu manual da sedução feminina, após afirmar que as damas mereciam estar em pé de igualdade na batalha da sedução (III, 3-5). Ou seja, o mesmo tipo de

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ESTUDOS| A MARgem, Uberlândia, v. 15, n. 2, ago-dez. 2018 conselho dado aos homens nos livros I e II será também dado às mulheres. Um tema recorrente é o da infidelidade. O eu-lírico incentiva ambos à traição, oferecendo conselhos para que esta não seja descoberta pelo parceiro:

Diverti-vos! Mas fique escondida a vossa culpa em furtivo recato; do pecado, glória alguma deve buscar-se.

Não ofereças um presente que outra possa reconhecer, nem uses horas certas para as tuas aventuras,

e, para que a mulher te não apanhe em desvãos de si bem sabidos, não deves marcar encontro com todas no mesmo lugar;

todas as vezes que lhe escreveres, observa primeiro, as tabuinhas,

de uma ponta a outra; muitas leem mais que o que lhes foi escrito. (OVÍDIO, 2011, II, 389-396)

E:

Mas, visto que, apesar de vos faltar a honra das fitas conjugais, vos empenhais em trair os vossos homens,

que mão de criada ou rapazinho leve, bem guardadas, as vossas tabuinhas; mas não confieis o penhor do vosso amor a um escravo recente; (OVÍDIO, 2011, III, 483-486)

É notável, então, que o poeta tratava ambos os sexos igualmente até nos assuntos mais delicados. Estes versos podem ter sido alguns dos que Augusto considerou afrontes a moral romana. Em meio às leis nas quais o princeps havia imposto para evitar a fornicação fora do casamento, escrever tais coisas era de grande ousadia. Outros haviam escrito sobre a infidelidade masculina, mas era bastante a audácia em ensinar truques de adultério a uma mulher. E mais polêmicos ainda são os versos que o poeta aconselha os jovens a se fingirem de ignorantes à infidelidade da parceira:

Melhor seria nada se saber; deixa-a esconder amores furtivos, para não perder a vergonha que a pose do rosto denuncia.

Por isso, mais ainda, ó jovens, evitar colher de surpresa as vossas amadas; que vos enganem; e, quando enganam, que pensem ter vos contado o segredo. (OVÍDIO, 2011, II, 555-558)

Mais sinais dessa igualdade estão nos versos nos quais ele ensina o homem a dar prazer à mulher na relação amorosa. Essa discussão da sexualidade feminina mostra como a Ars é um livro a frente de seu tempo. Durante toda a antiguidade e até hoje, no século XXI, esse assunto é um tabu. As meninas são, desde cedo, reprimidas de demonstrarem liberdade erótica. São vetadas de conhecer seu próprio corpo e até mesmo de falar de qualquer assunto de conotação sexual, para que não corram o risco de serem tachadas de vulgares. Porém, aqui está Ovídio, há 20 séculos, incentivando o prazer feminino e o autoconhecimento do corpo:

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ESTUDOS| A MARgem, Uberlândia, v. 15, n. 2, ago-dez. 2018 “Solte-se, do fundo das suas entranhas, a mulher e sinta os prazeres de Vênus/ e a coisa há de ser aprazível, ao mesmo tempo, aos dois”. (III, 793-794)

O praeceptor amoris acredita que em uma relação há de existir companheirismo. Os parceiros no amor devem se comprazer mutuamente. Aqui há uma postura que vai contra o senso comum do homem como o receptor do prazer e a mulher como mera fonte de obtê-lo. O poeta não acredita que relações forçadas sejam saudáveis, e é preciso haver consentimento para haver o maior prazer possível, e “para dar gozo, devem senti-lo igualmente a mulher e o homem. (II, 681). Em alguns dos versos nos quais o assunto sexo é tratado mais explicitamente, o mestre mostra sua visão sobre relação ideal:

Odeio o ato de amor que não faz soltar ambos os parceiros (eis por que me apraz menos o amor com rapazes); odeio aquela que se entrega por ser preciso entregar-se e que, na sua secura, só pensa na sua lã;

prazer cedido por dever não é prazer que me dê gozo; um dever, que nenhuma mulher o pratique comigo.

A mim, apraz-me ouvir gemidos que me façam sentir o gozo dela, e que me suplique que me demore, que me aguente;

quero ver os olhos rendidos da mulher, já fora de si,

e que ali fique desfalecida e largo tempo não queira que lhe toque. (OVÍDIO, 2011, II, 683-692)

Podemos notar uma ideia - talvez até mesmo feminista na poesia ovidiana -, na qual a mulher tem direitos iguais aos do homem. Por essa característica ele difere de seus contemporâneos elegíacos, já que estes não trazem o desejo feminino como algo relevante. Para Ovídio, a mulher é uma criatura de desejo, possuindo características dadas a ela especialmente por Vênus, que a tornam um ser sexual.

Durante o livro III, o poeta muitas vezes demonstra não ter preconceitos para com as mulheres que seguem seus desejos. Ele mesmo as incentiva a buscar parceiros sem medo de serem julgadas como menos valiosas por isso, dizendo “ainda que mil vos possuam, nem por isso alguma coisa se perde”. (III, 90) E também incentivando a postura de “Que cada uma se conheça bem a si mesma” (III, 771), ou o autoconhecimento do corpo.

Em uma das partes mais eróticas da obra, o praeceptor amoris irá ensinar o homem a agradar a amante, em quais partes deverá tocá-la para levá-la ao deleite.

Acredita no que te digo: não deve apressar-se o prazer de Vênus, mas sim, discretamente, fazer por retardá-lo e demorá-lo.

Quando descobrires o ponto onde a mulher se excita ao ser tocada, não seja o pudor a impedir-te de o tocar; (OVÍDIO, 2011, II, 717-720) Em contrapartida, ele também dá algumas dicas às mulheres:

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ESTUDOS| A MARgem, Uberlândia, v. 15, n. 2, ago-dez. 2018

Solte-se, do fundo das suas entranhas, a mulher e se sinta os prazeres de Vênus,

e a coisa há de ser aprazível, ao mesmo tempo, aos dois; e não deixem de se ouvir falas meigas e murmúrios de delícias, nem fiquem no silêncio, em pleno prazer, palavras menos próprias. (OVÍDIO, 2011, III, 793-796).

Percebe-se que a maneira que ele se refere a ambos é a mesma. Não há sinas de submissão feminina aqui. A mulher e o homem, no ato carnal, são indivíduos de valor igual em busca do prazer mútuo. É nessa igualdade de valores que entendemos porque a obra ovidiana é tão atual. Segundo Silva (2003), na elegia, o homem busca o amor recíproco, e a mulher não se entrega por obrigação, mas pelo seu próprio desejo.

Podemos concluir, então, que a Ars Amatoria é uma obra que difere de suas contemporâneas por dar individualidade e liberdade de escolha à mulher, numa maneira irônica e ousada única de Ovídio. Daí sua importância.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este artigo abordou o assunto das diferenças e semelhanças do tratamento de gênero na Ars Amatoria. Concluiu-se que a obra tem aspectos que conferem igualdade entre homem e mulher.

A importância desse estudo foi ampla para melhor entendimento da literatura e da sociedade romana do início do Império. Percebemos que são fundamentais as obras que tratam da vida cotidiana, pois quando as estudamos conseguimos compreender um pouco da cultura e da mentalidade daquela época.

Além disso, comprovou-se a genialidade de Ovídio. Ele foi, sem dúvidas, um poeta à frente de seu tempo. Um dos primeiros a tratar da psicologia da mulher de maneira igualitária. A análise de sua obra permitiu a problematização de assuntos que continuam atuais, como a sexualidade feminina.

No mais, o trabalho promoveu o desenvolvimento de habilidades de pesquisa e redação. O pensamento crítico e a investigação bibliográfica se mostraram características essenciais para o melhor entendimento da literatura.

REFERÊNCIAS

CARDOSO, Z. A. A Literatura Latina. São Paulo: Martins Fontes, 2003. 219 p.

______________. A representação da mulher na poesia latina. In: In: FUNARI, P. P. A.; FEITOSA, L. C.; SILVA, G. J. (Org.). Amor, desejo e poder na Antiguidade. Campinas: Editora da UNICAMP, 2003. p. 261-286.

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ESTUDOS| A MARgem, Uberlândia, v. 15, n. 2, ago-dez. 2018 GREEN, P. Prefácio. In: OVÍDIO. Amores & Arte de amar. São Paulo: Penguin Classics Companhia das Letras, 2011. p. 11-76.

GRIMAL, P. O amor em Roma. Tradução de Hildegard F. Feist. São Paulo: Livraria Martins Fontes Editora Ltda., 1991. 334 p.

OVÍDIO. Arte de Amar. In: OVÍDIO. Amores & Arte de amar. São Paulo: Penguin Classics Companhia das Letras, 2011.

PRATA, P. O caráter alusivo dos Tristes de Ovídio: uma leitura intertextual do livro I. 2002. 163 f. Dissertação (mestrado) – Curso de Linguística, Instituto de Estudos da Linguagem, Universidade Estadual de Campinas, Campinas.

SILVA, G. J. Representações femininas e relações de gênero na Ars Amatoria. In: FUNARI, P. P. A.; FEITOSA, L. C.; SILVA, G. J. (Org.). Amor, desejo e poder na Antiguidade. Campinas: Editora da UNICAMP, 2003. p. 355-374.

VEYNE, P. O Império Romano. In: VEYNE, P. História da vida privada, 1: do Império Romano ao ano mil. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. p. 11-212.

Referências

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