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Ana Cristina Santos Limeira

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Academic year: 2019

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP

ANA CRISTINA SANTOS LIMEIRA

ARTESÃS PROFISSIONAIS: estudo das relações entre os saberes da

cultura artesanal e os saberes tecnológicos nas histórias de vida de egressas

do Curso Técnico de Artesanato / PROEJA do Instituto Federal de Ciências

e Tecnologia de Alagoas

IFAL

DOUTORADO EM EDUCAÇÃO: CURRÍCULO

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP

ANA CRISTINA SANTOS LIMEIRA

ARTESÃS PROFISSIONAIS: relações entre os saberes da cultura

artesanal e os saberes tecnológicos nas histórias de vida de egressas do

Curso Técnico de Artesanato / PROEJA do Instituto Federal de Ciências e

Tecnologia de Alagoas – IFAL

Tese apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para a obtenção do título de Doutora em Educação: Currículo, sob a orientação do Prof. Dr. Alípio Márcio Dias Casali.

DOUTORADO EM EDUCAÇÃO: CURRÍCULO

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BANCA EXAMINADORA

_________________________________________________________

Prof. Dr. Alípio Márcio Dias Casali - Orientador

__________________________________________________________

Prof.ª Dra. Edla Eggert - UNISINOS

____________________________________________________________________ Prof.ª Dra. Marinês Viana de Souza - UFAM

____________________________________________________________________ Prof.ª Dra. Nádia Dumara Ruiz Silveira – PUCSP

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AGRADECIMENTOS

Ao meu orientador, Prof. Dr. Alípio Casali, pela amizade, orientação e incentivo nos momentos necessários desta pesquisa.

Às Prof.as Dra. Edla Ergget, Dra. Marinês Viana Souza, Dra. Nádia Dumara Ruiz Silveira, pelas valiosas contribuições dadas na Banca de Qualificação.

À Prof.ª Dra. Maria Stela Santos Graciani, por sua participação nesta Banca de Defesa.

Ao Programa de Pós-Graduação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, na pessoa da Prof.ª Branca Jurema Ponce, o agradecimento a todos os docentes pelos momentos enriquecedores para minha formação.

À Prof.ª Dra. Laura Cristina Vieira Pizzi, o especial agradecimento pela amizade, apoio e incentivo à minha vida acadêmica.

Às artesãs, egressas do curso técnico de artesanato do Instituto Federal de Alagoas, pela disponibilidade, acolhida e confiança ao longo da pesquisa.

Aos docentes do curso técnico de artesanato, pela disponibilidade e acolhimento.

Ao Instituto Federal de Alagoas, pelo apoio institucional e por autorizar a pesquisa, bem como aos colegas de trabalho, pela força constante e imprescindível na caminhada.

Às amigas do doutorado Eulina Nogueira e Daniela Ando, pelos momentos de partilha, amizade e convivência, importantes para superar a saudade da família na estadia em São Paulo.

Às amizades construídas em São Paulo e, sendo inviável citar todas, concentro na família Barboza, que me acolheu nesta cidade, o agradecimento a todos/as os/as amigos/as.

Aos meus familiares em nome de Nazaré Alves, Celso Giória e Selme, a minha gratidão pelo colo amigo quando necessitei de acolhida e incentivo.

Às amigas, que sempre se fizeram presentes, Mary Selma Ramalho e Cláudia Albuquerque, a certeza de que a amizade é imprescindível em qualquer etapa da vida.

E não poderia deixar de expressar gratidão à minha irmã Salete Limeira e a meus irmãos Assis, Lineu, Limeirinha e Arnon, como também aos/as sobrinhos/as, por compreenderem os momentos nos quais me distanciei para o doutorado; minha gratidão pela paciência e carinho para com a conclusão desta etapa tão importante em minha vida acadêmica.

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LIMEIRA, Ana Cristina Santos. Artesãs profissionais: relações entre os saberes da cultura artesanal e os saberes tecnológicos nas histórias de vida de egressas do Curso Técnico de Artesanato / PROEJA do Instituto Federal de Ciências e Tecnologia de Alagoas – IFAL

RESUMO

A presente pesquisa analisa os impactos da formação das artesãs egressas do Curso Técnico de Artesanato - Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos / PROEJA na sua reinserção no mercado de trabalho artesanal após uma formação técnica profissionalizante, que foi realizada no período 2008-2010, no Instituto Federal de Ciências e Tecnologia de Alagoas – IFAL. Através das histórias de vida das artesãs foi possível compreender os impactos do processo da formação das mulheres artesãs nesse curso, suas experiências e expectativas sociais na produção artesanal viabilizadas por meio de práticas curriculares para a Educação de Jovens e Adultos que reconhecem e valorizam o valor da cultura artesanal, a criação e a produção artesanal na educação profissionalizante de artesãs. Ao investigar o retorno ao mercado artesanal após a formação, foi possível, com as narrativas das histórias de vida das artesãs, investigar como se deu o crescimento pessoal através de sua percepção profissional como artesã, seu lugar na família e na sua comunidade. O problema da tese é o desconhecimento de como as artesãs egressas e os docentes do curso técnico em artesanato do IFAL percebem o reconhecimento, a valorização e a visibilidade social do trabalho artesanal a partir da formação oferecida no curso. A opção metodológica é de cunho qualitativo com uso de pesquisa narrativa e abordagem em História de Vida. Tem como referenciais teóricos Nóvoa (2010), Josso (2004), Ferrarotti (2010), Clandinin (2011). Esses autores trazem um viés de uma relação direta com a identidade dos sujeitos desta pesquisa, considerando que o método biográfico permite que seja concedido um grande respeito pelo processo dos adultos que se formam, ao resgatar não somente o contexto de sua vida pessoal, profissional e social, como também a trajetória de sua formação aliada ao valor cultural, político e ético. Os resultados deste estudo podem contribuir para: enriquecer o valor cultural, social e econômico que gera emprego para as mulheres em Alagoas, valorizar o reconhecimento do IFAL enquanto espaço de formação para artesãos/ãs e trazer novos referenciais para a teoria e práticas curriculares na relação entre currículo, conhecimento e cultura.

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LIMEIRA, Ana Cristina Santos. Professional artisan: relationship between the knowledge of handicraft culture and the technological knowledge from the life stories Curso Técnico de Artesanato / PROEJA do Instituto Federal de Ciências e Tecnologia de Alagoas – IFAL attendees.

ABSTRACT

The current research analyses the training impacts of the “Curso Técnico de Artesanato - Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos / PROEJA” attendees in the handicraft labour market after a technical training program, which was realized in the period of 2008-2010, in the Instituto Federal de Ciências e Tecnologia de Alagoas – IFAL. Through the histories of craftswomen lives it was possible to understand the impacts of the formation process in this course, their experiences and social expectations in the handicraft production made viable through curricular practices to the education of young people and adults who recognize and value handicraft culture, the creation and handicraft production in the professional education of craftswomen. By investigating the handicraft marketplace after training, it was possible, with the craftswomen life stories in hand, to investigate how personal growth developed through their professional perception as craftswoman, their place in the family and their community. The problem with the thesis is the lack of knowledge in how the attendee craftswomen and the IFAL handicraft technical course docents realize the recognition, the valuation and social visibility of handicraft work from the formation offered in the course. The methodological option is qualitative with narrative research and life history approach. It has as references the theories Nóvoa (2010), Josso (2004), Ferrarotti (2010), Clandinin (2011). These authors bring a direct relation bias with the identity of the subjects in this research, considering that the biographical method allows to be granted a great respect for the adult training process, by rescuing not only their personal, professional and social lives context but their training trajectory allied to cultural, political and ethical values. The results of this study can contribute to: enrich culture, social and economical values which creates jobs to the women in Alagoas, value the IFAL recognition as training spot for craftsmen and craftswomen, and bring new references to the theory and curricular practices in the relation between curriculum, knowledge and cultures.

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LISTA DE TABELAS

Tabela 01: Distribuição do eleitorado de Alagoas por grau de instrução... 21

Tabela 02: Classificação por faixa etária da Escola de Aprendizes de Artífices de Alagoas/1911... 26

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LISTA DE QUADROS

Quadro 01 Taxa de escolarização bruta e líquida no ensino fundamental e

ensino médio em Alagoas: 1980/2009 (%)... 23

Quadro 02 Matrícula inicial por dependência administrativa na modalidade da educação de jovens e adultos (presencial) em Alagoas 1999/2010... 24

Quadro 03 Demonstrativo de matrícula da primeira turma por ofício na Escola de Aprendizes de Artífices em Alagoas ... 26

Quadro 04 A expansão do IF em Alagoas... 28

Quadro 05 Demonstrativos de oferta dos cursos do campus Maceió/2013... 28

Quadro 06 Demonstrativos de oferta do curso técnico de artesanato no IFAL 2008 /2014... 29

Quadro 07 Distribuição dos módulos na organização curricular integrada ... 32

Quadro 08 Organização Curricular do Módulo I ... 32

Quadro 09 Categorização dos estudos centrada nas histórias de vida dos... 57

Quadro 10 Contexto Histórico e Social das Artesãs em sua trajetória de formação ... 58

Quadro 11 Identificação das artesãs do Curso Técnico Artesanato ... 67

Quadro 12 Perfil das Artesãs da primeira turma matriculada em Curso Técnico de Artesanato/2008 ... 69 Quadro 13 Quantitativo das participantes da Pesquisa, 2014... 70

Quadro 14 Escolaridade do Ensino Fundamental / Curso Técnico de Artesanato ... 73

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LISTA DE FIGURAS

Figura 01 Mapa de Alagoas com os municípios da Costa litorânea do norte ao

sul do estado, Sertão e Agreste ... 38

Figura 02 O tear e o processo de criação do filé... 39

Figura 03 A cultura do bordado “Rendendê”: mãos, agulha e o bastidor... 40

Figura 04 O trançado da palha do Ouricuri e a tradição indígena... 41

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO... 11

CAPÍTULO I - A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E O PROEJA EM ALAGOAS 21 1.1 Contexto educacional de Alagoas... 21

1.2 O PROEJA: a gênese de um programa social no IFAL... 25

1.3 A profissionalização das artesãs em Alagoas... 30

1.3.1 Os desafios para a integração curricular... 31

1.4 A dimensão e o lugar que o artesanato ocupa em Alagoas... 35

CAPÌTULO II - AS ARTESÃS E A CULTURA POPULAR ... 46

2.1 O processo de produção da cultura artesanal... 46

2.2.1 A importância da arte e a criação artística... 49

2.2.2 A indústria cultural e o mercado de trabalho artesanal... 52

2.2.3 A (in)visibilidade da mulher na produção artesanal... 54

2.2 Territórios e fronteiras da formação... 56

2.3 Base conceitual: o artesanato e a arte popular... 61

CAPÍTULO III - AS ARTESÃS NARRADORAS E SUAS HISTÓRIAS DE VIDA ENTRETECIDAS NO ARTESANATO: currículo, vivências e experiências 66 3.1 O caminho da pesquisa e suas trilhas investigativas... 75

3.2 O contexto histórico e social das artesãs em sua trajetória de formação... 78

3.2.1 As trajetórias de vida e os fios que entrelaçam ao artesanato... 80

3.2.2 O artesanato como ofício e o processo de criação artesanal... 84

3.2.3 Os Impactos do processo de formação: da profissionalização ao mercado de trabalho artesanal... 86

CAPÍTULO IV

TENSIONAMENTO DO CURRÍCULO AO PROCESSO DE CRIAÇÃO: reflexões docentes ... 91

4.1 O diálogo de saberes e práticas para o processo de criação e produção artesanal... 92

4.2 Os conhecimentos da cultura do saber artesanal validados como eixos norteadores do currículo... 96

4.3 Limites pedagógicos: malha conceitual de pensar o curso... 97

4.4 Os embates da formação e o mercado artesanal... 100

4.5 Traçando novos caminhos para outras narrativas... 108

CONSIDERAÇÕES FINAIS... 110

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INTRODUÇÃO

A trilha investigativa desta tese de doutorado está relacionada diretamente com o entrelaçamento da minha relação de trabalho com a educação profissional em Alagoas, desde o ano de 2002, no Instituto Tecnológico do estado, quando atuei na Coordenação Pedagógica dos cursos técnicos na capital. Isso impulsionou a minha trajetória acadêmica, influenciando o objeto de pesquisa desde o mestrado, quando foi investigado o currículo do curso técnico de artesanato na modalidade da educação de jovens e adultos no âmbito do PROEJA no Instituto de Educação, Ciências e Tecnologia – IFAL1. Essa investigação culminou na dissertação

(2010): Currículo integrado do Proeja: um estudo dos (des)encontros de várias práticas e saberes - PPGE/ UFAL.

Os desdobramentos da pesquisa, por meio das análises da integração de saberes tradicionais, possibilitaram observar as inter-relações entre os saberes profissionais e tecnológicos, próprios dos currículos de cursos técnicos, e os saberes tradicionais, dos ofícios artesanais.

O curso técnico em artesanato ofertado no Instituto Federal de Ciências e Tecnologia de Alagoas – IFAL, no período 2008/2010, trouxe inquietações que não se esgotaram na pesquisa de mestrado (2010), pela sua pertinência e relevância para os estudos no campo curricular. Daí a razão de, agora, uma pesquisa em nível de doutorado.

A pesquisa realizada no curso técnico de artesanato, em 2008, possibilitou à investigação uma experiência inovadora na época, uma formação técnica profissionalizante em nível médio para artesãs com uma proposta curricular idealizada e estruturada para essa categoria de profissionais, valorizando a cultura e os saberes práticos advindos de uma tradição artesanal.

As questões centrais da discussão desta pesquisa junto ao curso técnico de artesanato estão estruturadas em práticas de um currículo integrado, que foi pensado e planejado para uma clientela específica: as artesãs de Alagoas, cujo saber está incorporado na cultura popular, a qual se mantém constituída de saberes perpetuados através de seus ofícios, tradição de uma cultura artesanal.

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Nossa pesquisa do mestrado (2010) possibilitou compreender que a vertente desta organização curricular não se constrói e/ou se estabelece apenas por materializar-se em uma confluência de níveis e modalidades da educação básica com os saberes artesanais e científicos. Essa integração curricular também se propôs a superar a dualidade clássica entre o ensino profissional e a formação geral, tendo a modalidade da educação de jovens e adultos como centro do processo de aprendizagem e exigindo “novos redimensionamentos” aos docentes para atender a especificidade da proposta pedagógica do curso.

A complexidade da proposta do PROEJA está contida nas relações que se tecem em uma proposta de integração curricular para artesãos e artesãs nesse curso. E o diferencial da proposta pedagógica se deu a partir da interação e reconhecimento dos sujeitos da educação de jovens e adultos, trazendo para dentro do currículo a cultura do artesanato e a valorização da cultura popular.

O reconhecimento da arte e da cultura especificamente nesse curso técnico profissionalizante para artesãs, ademais, tem respaldo, como direito cultural, na Constituição de 1988, que estabeleceu em seus artigos 215 e 216 o exercício dos direitos culturais e o acesso às fontes de cultura nacional, ao valorizar e incentivar a produção cultural e difusão das manifestações culturais.

A Ementa Constitucional nº 71, de 2012, ao acrescentar o art. 216-A à Constituição Federal, institui o Sistema Nacional de Cultura, que consiste em um movimento de reconhecimento de uma política nacional de cultura, a saber:

§ 1º O Sistema Nacional de Cultura fundamenta-se na política nacional de cultura e nas suas diretrizes, estabelecidas no Plano Nacional de Cultura, e rege-se pelos seguintes princípios:

I - diversidade das expressões culturais;

II - universalização do acesso aos bens e serviços culturais;

III - fomento à produção, difusão e circulação de conhecimento e bens culturais;

IV - cooperação entre os entes federados, os agentes públicos e privados atuantes na área cultural;

V - integração e interação na execução das políticas, programas, projetos e ações desenvolvidas;

VI - complementaridade nos papéis dos agentes culturais; VII - transversalidade das políticas culturais;

VIII - autonomia dos entes federados e das instituições da sociedade civil; IX - transparência e compartilhamento das informações;

X - democratização dos processos decisórios com participação e controle social;

XI - descentralização articulada e pactuada da gestão, dos recursos e das ações;

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O Sistema Nacional de Cultura consiste, portanto, em uma política do governo federal para implementar uma articulação entre o Estado e a sociedade com a proposição de organicidade, racionalidade e estabilidade às políticas públicas de cultura, através de ações integradas nos estados e municípios brasileiros, buscar promover a diversidade cultural, fomentar a produção e circulação de bens culturais como direito cultural, como direito do cidadão à cultura.

Segundo dados da pesquisa de Informações do Perfil dos Municípios Brasileiros (MUNIC, 2006/ p. 42), dos 5.564 municípios existentes no País, apenas 33,9% aderiram ao Sistema Nacional de Cultura, enquanto 42,1% ainda não têm uma política cultural formulada, o que denota uma fragilidade na institucionalização da adesão dos municípios ao aludido Sistema. Atualizando esses indicadores por meio do Ministério da Cultura, os dados estatísticos do acordo de cooperação federativo do SNC, pelo menos até 01/04/2015, apresentam um percentual de 34,9%, ou seja, 1% de adesão dos municípios em 09 anos.

Quanto aos tipos de ações de cultura existentes nos municípios brasileiros, os dados da mesma pesquisa (MUNIC, 2006, p.80) apontam uma notável diversificação das atividades culturais existentes nos municípios. Os mais importantes destaques são as exposições de artesanato (57,7%), as feiras de artes e artesanato (55,6%), os festivais de manifestação tradicional popular (49,2%), os festivais de música (38,7%), os eventos de dança (35,5%), os concursos de dança (34,8%) e os de música (31,9%).

Levando em conta os 16 diferentes tipos de atividades artísticas presentes nos municípios, observa-se que 64,3% dos municípios brasileiros possuem algum tipo de produção artesanal, liderando o percentual das manifestações esculturais identificadas na pesquisa.

Em Alagoas, o censo do artesão realizado pela Secretaria de Estado do Planejamento e do Desenvolvimento Econômico de Alagoas, entre 2008/2010, cadastrou 7.918 artesãos e, apesar de 86% terem o artesanato como principal fonte ativa de renda, 90% não possuem vínculo empregatício, apenas 6% estão inseridos em alguma associação e apenas 1% em cooperativas. É importante destacar que o censo não faz nenhuma referência à escolaridade dos artesãos em Alagoas, o que seria um dado relevante, de suma importância para fomentar políticas públicas para a categoria.

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1. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Brasília - Campus Taquatinga, com a oferta do curso técnico integrado de jovens e adultos em artesanato. Eixo tecnológico: produção cultural e design. Carga horária: 2.400 horas, cujo início se deu em 2013, segundo consta da proposta do plano de curso (www.ifb.edu.br).

2. O Instituto Federal de Educação, Ciências e Tecnologia de Goiás – Campus Cidade de Goiás, com a oferta do curso técnico em artesanato integrado ao ensino médio, no período noturno. Eis um curso na modalidade da educação de jovens e adultos, com carga horária de 2.460 horas, ofertado no período noturno (www.ifg.edu.br).

3. O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão, no Centro Histórico, oferta o curso técnico em artesanato, com a proposta de criação e desenvolvimento de produtos artesanais, utilitários ou decorativos, a partir de materiais, técnicas e processos variados, além de gestar organizações referentes à produção artesanal. Modalidade: integrado e PROEJA (www.ifma.edu.br).

São cursos técnicos profissionalizantes em artesanato, todos ofertados dentro da proposta do PROEJA, visando atender a modalidade EJA em nível médio de ensino integrado à educação profissional. A iniciativa ainda é, porém, incipiente no âmbito federal, apesar de os cursos serem estruturados de acordo com a proposta pedagógica de cada um deles, com suas especificidades próprias e com as demandas sociais de cada região onde são ofertados. São propostas curriculares diferenciadas, todas voltadas para formar artesãos.

Também se insere nesse contexto o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego/PRONATEC. Teve início em 2011, é considerado como programa prioritário da agenda do governo federal e visa a ampliar a formação do profissional, principalmente trabalhadores e beneficiários de programas de transferência de renda. Inicialmente ofertado pelo IF, as redes estaduais e municipais de educação e as instituições do Sistema S (SENAI, SESI, SENAC, SESC) também ofertam. E essa demanda foi ampliada em 2013 com a oferta das instituições privadas.

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formativo para esses trabalhadores, reafirmando, dessa forma, a inserção imediata de mão de obra para atender a demanda de mercado.

A oferta e a expansão dos atuais programas de qualificação traz uma conotação que o investimento do governo federal em implementar a qualificação e inserção de trabalhadores através de cursos de formação continuada, em novos programas, visando à inserção de forma mais imediata/restrita ao mercado de trabalho, não tem impulsionado a politica do PROEJA no âmbito da rede federal, como afirma Franzoi, 2013:

O “esquecimento” do PROEJA diante do PRONATEC pode pôr a perder os

ganhos que esse programa trouxe ao público da EJA, tanto em qualidade quanto em acesso às escolas federais onde antes não tinham vez nem lugar. A intencionalidade de oferecer o PROEJA dentro do PRONATEC é outra perspectiva que preocupa, com o agravante de que esta possibilidade pode condená-lo ao seu fim, tendo em vista que o PRONATEC possui caráter emergencial e pode ser substituído a qualquer tempo por um novo programa de governo para formação aligeirada de trabalhadores (FRANZOI, 2013, on-line).

A inserção da proposta do PROEJA no IF, mesmo que ainda tenha sido efetivada com resistências para institucionalizar a modalidade EJA em seu plano de desenvolvimento institucional, trouxe avanços, considerando a dívida social do governo federal para com a formação de trabalhadores, uma conquista que tem sintonia com a LDBEN e o Plano Nacional de Educação/PNE (2014-2024). A questão central está na descontinuidade de propostas que não trazem um caráter formativo social para os trabalhadores.

PROBLEMA, OBJETO e OBJETIVO DA PESQUISA

A pesquisa exige que o pesquisador adote procedimentos teóricos e metodológicos para nortear o planejamento, seja para encontrar o fio condutor que irá tecer o próprio trabalho, seja para refinar o problema a ser investigado, o objeto e os objetivos. Essa construção do caminho metodológico nos remete a escolhas que delimitaram a abrangência da pesquisa, o que não é uma tarefa tão fácil para o pesquisador; é desafiante e provocadora.

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seduz para que o conhecimento por ele produzido possa ser validado pela comunidade acadêmica.

A pesquisa nesta tese é oriunda do desdobramento das investigações do mestrado e das inquietações ao conhecer a organização curricular do curso técnico de artesanato, o locus onde se deu o curso, o Instituto Federal de Educação de Alagoas/IFAL, que tem tradição centenária na oferta da educação profissional no estado. Além disso, são relevantes neste trabalho a importância da cultura que envolve os seus sujeitos, a relação da pesquisadora que se estabeleceu com os atores da pesquisa e, principalmente, a relevância de investigar uma política pública para a formação das artesãs de Alagoas.

O Instituto Federal de Alagoas / IFAL, uma entidade formadora com tradição em produzir conhecimentos tecnológicos de ponta, conhecimentos estes que são articulados entre a ciência e o mundo produtivo, tem como um dos princípios norteadores atender as demandas do setor de produção da região. Foi nesse instituto, onde os saberes tecnológicos possuem uma dinâmica própria, altamente valorizada com a oferta do ensino tecnológico, que se instituiu a oferta do curso técnico de artesanato, em 2008, como uma das ações de implantação do PROEJA.

Dessa forma, é importante compreender o que representa a formação em artesanato para o fortalecimento da identidade cultural do estado de Alagoas. Considerando que o artesanato em Maceió é um segmento “profissional” importantíssimo e que tem, em sua arte de fazer, o trabalho feminino, ele possui valor cultural de arte popular e, não bastasse, resiste à indústria cultural, empreendendo um segmento econômico importante, pois gera emprego com efeitos culturais. A artesã é uma categoria profissional desvalorizada por diversos fatores, mas um deles é o fato de ainda não haver a regulamentação da profissão, apesar da tramitação na Câmara dos Deputados do Decreto para o reconhecimento da profissão.

Portanto, o problema central em discussão é o desconhecimento de como as artesãs egressas e os docentes do curso técnico em artesanato do IFAL percebem o reconhecimento, a valorização e a visibilidade social do trabalho artesanal a partir da formação oferecida no curso.

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No entanto, há outro fator importante, que diz respeito à forma como atuam, ainda de maneira muito precária, em Alagoas, e que diz respeito à luta pelos direitos sociais das artesãs: o movimento de uma categoria pela aprovação do Projeto de Lei2 para a

regulamentação do ofício do artesão no país.

Apesar de existir um apoio institucional do Programa do Artesanato Brasileiro / PAB, através da Secretaria da Indústria e Comércio de Alagoas, as vendas dos produtos artesanais são realizadas em feiras livres de artesanato, em mercados de artesanato ou mesmo de “porta em porta” nos bairros da cidade, diretamente ao cliente. Na cidade de Maceió, mesmo com seu potencial turístico, nem todas as artesãs têm acesso a pontos de venda do artesanato, nem todas têm trabalhos reconhecidos e consolidados que garantam a sobrevivência econômica exclusivamente do artesanato.

Poucas são as artesãs que conseguem ser reconhecidas e/ou valorizadas como artistas e viver exclusivamente de sua profissão, pois em sua maioria o trabalho artesanal é uma segunda fonte de renda. É um percentual pequeno das artesãs que possuem barracas em espaço público; algumas só conseguem participar de exposição em feiras de artesanato ou em pontos turísticos da cidade, em determinados períodos, dependendo do fluxo do turismo, da alta temporada.

É perceptível que nas feiras há um artesanato massificado, a exemplo da jangadinha em madeira que existe em todas as regiões do nordeste do Brasil, identificando a cidade em sua vela: “Estive em Maceió, lembrei de você”, por exemplo. Esses produtos são comercializados por atravessadores que dividem os espaços de venda com as artesãs.

Quanto aos ateliês das artesãs, na sua maioria, são espaços improvisados em suas residências, sem infraestrutura de trabalho, pois lhes faltam recursos para investir na produção, na matéria-prima, nos instrumentos de trabalho para o processo de criação, experimentação e elaboração dos produtos.

É imprescindível considerar a diversidade cultural existente no país, a relevância do artesanato como fortalecimento do resgate cultural e de definição de políticas para o fomento da cultura e, em especial, para a profissionalização e visibilidade social das mulheres artesãs.

2Projeto de Lei nº 7.755/2010, que visa a definir a atividade profissional do artesão. Eis um tema que tramita nas

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Dessa forma, pretende-se desenvolver uma pesquisa cujo objetivo geral consiste em analisar em que medida os conhecimentos, as experiências e as vivências produzidos através de uma organização curricular integradora do curso de artesanato do PROEJA/IFAL viabilizaram a reinserção das artesãs, com mais autonomia, no mercado de trabalho após a formação profissionalizante.

Como desdobramento, teremos os seguintes objetivos específicos:

a. Identificar as mudanças das práticas e as transformações na cultura das artesãs após a formação técnica e suas implicações na sua inserção no mercado de trabalho;

b. Identificar a incorporação dos conhecimentos tecnológicos aos saberes tradicionais na produção artesanal;

c. Analisar em que medida o entrelaçamento das práticas e saberes reconhecidos e ampliados que se estabeleceram na organização curricular deste curso possibilitou a autonomia das artesãs no processo de criação do artesanato;

d. Apresentar como se dá a implementação da política de fomento para o artesanato em Alagoas;

A relevância desta pesquisa reside em contribuir para um debate na educação de jovens e adultos, na formação profissional das mulheres no artesanato e no campo curricular, através do processo de formação continuada de mulheres artesãs. Dialogar com a instituição escolar, através dessa pesquisa, para validar e ampliar as experiências sistematizadas e vivenciadas que teceram pelas mãos das artesãs egressas na aprendizagem e no processo laboral.

Como também, no processo de criação, da produção artesanal e na sua inserção no mercado artesanal, o que revela respeito ao processo de quem se forma – Artesãs Narradoras, e, através de suas histórias de vida, respeito à identidade cultural, da autonomia econômica e, sobretudo, da visibilidade social do trabalho dessas mulheres.

Para o desenvolvimento deste estudo, foi empregada a pesquisa narrativa, como enfoque metodológico para a análise das narrativas das histórias de vida das artesãs egressas do curso técnico em artesanato (primeira turma, que concluiu em 2010).

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criação, para assim validar o currículo no qual ela se forma. Uma proposta é apresentada por Nóvoa (2010), que também nos guia nessas reflexões:

A questão central continuou se formar (Como? Quando? Onde?) e não

formar-se (o que é formador na vida de cada um?); continuou a refletir-se (e

a trabalhar-se) fundamentalmente em torno de uma formação

institucionalizada. [...] Mas faltou uma interrogação epistemológica sobre

o processo de formação [...] (grifos do autor) (NÓVOA; FINGER, 2010, p. 23).

Nessa perspectiva, Nóvoa; Finger (2010) trata da necessidade de uma interrogação epistemológica para o processo de formação de adultos, o que está subtendido numa crítica sobre uma “visão desenvolvimentista” de educação, visando, com isso, através da pesquisa narrativa, a favorecer o indivíduo para “pensar-se na ação”.

O método biográfico permite que seja concedida uma atenção muito particular e um grande respeito pelos processos das pessoas que se formam: nisso reside uma das principais qualidades, que o distinguem, aliás, da maior parte das outras metodologias de investigação em ciências sociais. Respeitando a natureza processual da formação, o método biográfico constitui uma abordagem que possibilita ir mais longe na investigação e na compreensão dos processos de formação e dos subprocessos que o compõem (NÓVOA; FINGER, 2010, p. 23).

E, para a pesquisa com os docentes, optamos pela entrevista e grupo de discussão, para trazer suas análises e reflexões sobre o curso, pois fazem parte desse processo, são os mediadores dessa formação e têm contribuições significativas para o processo de formação dessas mulheres. Weller (2013), apresenta uma abordagem desenvolvido por grupos de discussão na Alemanha, destacando a importância do aporte teórico metodológico desse procedimento como um método de investigação.

Após a breve contextualização, apresentamos a estrutura da tese, composta em quatro capítulos assim organizados e definidos:

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No segundo capítulo, definido As artesãs e a cultura popular, buscamos analisar o processo de produção da cultura artesanal, retomando a importância da arte e da criação artística, a indústria cultural e o mercado de trabalho artesanal, além da (in)visibilidade da mulher na produção artesanal e dos “embates” do território e fronteiras de formação.

No terceiro capítulo, denominado As artesãs e suas histórias de vida entretecidas no artesanato: currículo, saberes, vivências e experiências, foi estudado o entrelaçamento trazendo o currículo como campo onde se deu o diálogo dos saberes aliados às experiências que as artesãs trazem de seus ofícios, que resgatamos das narrativas das histórias de vida das mulheres no exercício de seus ofícios, na cultura popular.

No quarto capítulo, Tensionamento do currículo ao processo de criação: reflexões docentes, é discutido o tensionamento do curso a partir da visão formadora de quem o planeja, de quem esteve no cotidiano da sala de aula e vivenciou, durante três anos, a experiência da organização curricular integrada para formar mulheres artesãs, resgatando suas histórias e seus conhecimentos em um curso que reconhece seus saberes e ofícios artesanais. Isso deveras tem, nesses sete anos de implantação do curso, contribuído com a formação das artesãs em Alagoas.

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CAPÍTULO I – A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E O PROEJA EM ALAGOAS

Neste capítulo abordaremos a educação em Alagoas tomando como base o perfil do eleitorado de 2008/2012 e as taxas de escolarização da educação básica de 1980/2009. A tarefa é refletir sobre a dimensão do PROEJA para a formação de mulheres artesãs e considerar o valor cultural e econômico da cultura para o estado de Alagoas. É, pois, uma análise que se propõe a discutir o papel social do Instituto Federal de Alagoas, ao ofertar curso de formação de artesãos/ãs.

1.1 Contexto educacional de Alagoas

Analisar os indicadores sociais do estado de Alagoas nos possibilita compreender as variáveis presentes nas relações intersubjetivas que permeiam o processo formativo em Alagoas, pois são indicadores que retratam o contexto social, político e educacional. Nesta pesquisa, a proposta inicial foi redimensioná-los para a escolaridade dos ensinos fundamental e médio, visando a investigar como se deram os processos da escolaridade das artesãs.

Enfatizamos que, muito mais que retratar dados estatísticos para quantificar o diagnóstico desses indicadores, a ideia é repensar o processo educacional em Alagoas, tendo como base o perfil de escolaridade dos eleitores, cujos indicadores sociais, ao retratar o grau de instrução da população, revelam também o perfil do eleitor jovem, de 16 anos, que é a idade mínima exigida pelo Tribunal Superior Eleitoral, apesar de não demarcá-los nos percentuais divulgados pelo site.

Através do relatório do TSE de 2008/2012, foi possível conhecer os percentuais da eleição de 2012 e a escolaridade dos eleitores alagoanos, conforme apresentamos na tabela 01, para uma posterior análise do que representam os índices para o estado de Alagoas:

Tabela 01: Distribuição do eleitorado de Alagoas por grau de instrução

Grau de Instrução 2008 % 2010 % 2012 %

Não Informado 1.663 0,0084 1.438 0,0071 2 0,000

Analfabeto 332.791 16,835 325.009 15,976 248.433 13,335

Lê e escreve 489.681 24,771 472.014 23,202 312.238 16,760

E. Fund. Incompleto 631.774 31,959 651.018 32,002 506.010 27,161

E. Fund. Completo 89.667 4,536 90.178 4,433 86.800 4,659

E. Médio Incompleto 235.016 11,888 265.775 13,065 197.247 10,587

E. Médio Completo 138.147 6,988 160.309 7,880 322.125 17,290

Superior Incompleto 23.988 1,213 29.522 1,451 76.269 4,094

Superior Completo 34.109 1,725 39.063 1,920 113.905 6,114

Total 1.976.836 2.032.888 1.863.029

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Destacamos inicialmente o índice de analfabetos dos que leem e escrevem, cujo percentual em 2012 foi de 30% dos eleitores alagoanos. Outro aspecto a considerar refere-se aos eleitores que possuem o ensino fundamental incompleto ou completo, perfazendo um total de 31%, o que significa dizer que 61% dos eleitores de Alagoas possuem baixo índice de escolaridade. Apenas 17% dos eleitores têm o ensino médio completo. É relevante refletir acerca desses indicadores, pois os dados expressam a desigualdade social da população alagoana, que, consequentemente, não possui uma qualificação elevada para o trabalho. Para Carvalho (2007), esses indicadores retratam as consequências diretas da combinação entre pobreza, concentração de renda e baixa escolaridade.

Segundo os indicadores sociais (IBGE 2012), entre as regiões que concentram a maior parcela de trabalhadores informais, o Nordeste apresenta a menor média de anos de estudo. Tal resultado é reflexo, por um lado, da maior oferta de empregos precários e, por outro, da baixa qualificação da população; ou seja, quanto menor é o nível de escolaridade, maior é o índice de pessoas que atuam na informalidade: eis a relação capital humano e trabalho.

Quanto à educação superior em Alagoas, podemos considerar qualitativamente o avanço dos índices de 3% para 10% dos eleitores que obtiveram o acesso ao nível superior no período 2008/2012, o que pode ser atribuído à expansão e à interiorização da educação superior, tanto na esfera pública quanto na privada.

A análise dos indicadores do TSE requer uma interpretação que favoreça a compreensão das causas e/ou consequências desses entraves que permeiam o sistema educacional em Alagoas, em especial na educação básica, redimensionando o olhar sobre a educação de adultos.

Uma das hipóteses sobre a baixa escolarização da população de Alagoas está nas distorções entre a idade cronológica e o ano cursado. Os indicadores apresentados no Anuário Estatístico (2010) da Secretaria de Educação de Alagoas retratam como a distorção foi acentuada desde a década de 1980 até 2009, principalmente no ensino fundamental.

Considere-se que a matrícula bruta é a razão do número total de estudantes que frequentam determinado curso independentemente da idade, enquanto a matrícula líquida é o percentual de pessoas com faixa etária apropriada para frequentar determinado curso, consoante estipula a legislação educacional vigente.

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Ano Bruta Ensino Líquida Bruta Ensino Médio Líquida

1980 74,5 59,5 19,5 5,6

1991 93,4 72,4 24,6 8,5

1998 132,4 86,3 34,7 11,5

2000 134,5 89,3 44,5 11,5

2009 115,3 89,3 67,4 33,3

Quadro 1: Taxa de escolarização bruta e líquida no ensino fundamental e ensino médio de Alagoas: 1980/2009 (%)

Fonte: Anuário Estatístico da Educação de Alagoas/2010

A educação em Alagoas, segundo o PEE/AL 2006/2015, sofre nos anos finais de 80 os impactos das mudanças econômicas no cenário nacional e, nos anos 90, as demandas provocadas pelas demissões de servidores públicos e professores (plano de demissão voluntária/PDV), o que implicou esvaziamento de servidores nas instituições públicas e nas escolas.

No final dos anos 90, tanto a rede pública estadual, como as redes municipais, com raríssimas exceções, indicavam grandes lacunas no acesso escolar e na qualidade do ensino, expressas pela inexistência de uma política educacional pensada para o estado com um todo, que tratasse de forma integrada e com financiamento adequado, as dimensões da matricula, das condições de educação de uma linha de ação pedagógica construída, assumida e avaliada coletivamente, bem como de uma previsão realista de financiamento ( PEE/AL, 2006, p.15).

Considerando que, quanto maior é a matrícula bruta, maior será a defasagem entre a idade cronológica dos estudantes e o ano cursado, a distorção idade-série é um dos fatores predominantes para abandono e reprovação. Esse quantitativo é muito mais expressivo no ensino fundamental. Entre 2000 e 2009, em nada avançou, reafirmando as desigualdades sociais e as condições de acesso da população alagoana à educação, como retrataram os índices da escolaridade apresentados pelo Tribunal Superior Eleitoral.

A dimensão de políticas públicas para a educação básica está no bojo do Plano Nacional de Educação (PNE 2014/2024), em suas metas 2 e 3, que visam a garantir o acesso e a conclusão na idade certa, o que representa grande desafio aos estados e municípios, assim como à União, porquanto devem garantir políticas públicas para a educação básica – não só o direito à educação como também condições de garantir o acesso com qualidade de aprendizagem.

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instituição a partir dos 06 anos de idade e que predominam nas classes populares que não tiveram direito à pré-escola. São questões que direcionam para o fator tempo de permanência na escola e condições de permanência, de aprendizagem, de sucesso escolar, entre outros fatores, que envolvem também políticas públicas de formação e valorização do trabalho docente, essencialmente na esfera municipal, responsável pela oferta do ensino fundamental.

Já a meta 3, que propõe universalizar, até 2016, o atendimento escolar para toda a população de 15 (quinze) a 17 (dezessete) anos e elevar a taxa líquida de matrículas no ensino médio para 85% (oitenta e cinco por cento), atinge diretamente a universalização do ensino médio, que requer mais investimentos da esfera estadual, com políticas para garantir a ampliação da demanda e abranger as áreas urbana e rural.

Considerados os dados da realidade de Alagoas, são muitos os desafios à rede pública para o cumprimento dessas metas, para conter a demanda de jovens fora da faixa etária, que aumentam gradativamente as matrículas da modalidade de jovens e adultos. Um contingente plural e heterogêneo de jovens, adultos/as e mulheres predominantemente marcados/as pelo insucesso em suas trajetórias escolares, de ingresso e (re)ingresso, continuidade e (des)continuidade, torna-se público-alvo de programas de qualificação para aligeiramento e inserção mais imediata no mercado de trabalho.

A LDBEN, ao tratar dos princípios e fins da educação no art. 3º, inciso I, sobre a igualdade de condições para o acesso e permanência na escola, garante o direito institucional. No entanto, o acesso à educação tem uma defasagem histórica, e vários fatores determinam essa desigualdade de oportunidades.

Segundo dados do IBGE (2012), o Norte e o Nordeste são as regiões com maior quantitativo de pessoas de 15 anos ou mais que frequentam cursos de educação de jovens e adultos ou o supletivo nos ensinos fundamental e médio. Esses dados agravam-se quando retratamos a realidade das matrículas na modalidade de jovens e adultos em Alagoas, nas esferas pública e privada, conforme apresentamos:

Ano Total Federal Estadual Municipal Particular

1999 46.697 - 25.756 18.652 2.289

2000 48.660 - 20.948 23.935 3.777

2005 103.926 - 31.082 70.460 2.384

2008 103.272 139 32.626 68.098 2.409

2009 112.037 217 32.214 77.427 2.179

2010 97.178 370 21.968 72.978 1.862

Quadro 02: Matrícula inicial por dependência administrativa na modalidade da educação de jovens e adultos (presencial) – Alagoas 1999/2010

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O quadro 02 acima nos possibilita realizar algumas análises do diagnóstico da modalidade da educação de jovens e adultos nas esferas pública e privada em Alagoas. Destacamos a esfera federal, quando em 2008 teve início à oferta da modalidade PROEJA no IF de Alagoas. Uma política de profissionalização para adultos, homologada pelo Decreto nº 5.840/2006, que instituiu o PROEJA na rede federal e que se efetivou em um campo de resistência pelos docentes por considerar como imposição do governo federal a inserção de programa para jovens e adultos, por meio de decreto, no âmbito da rede Federal. Resistências estas que não ampliaram a oferta de cursos para o PROEJA e não se institucionaliza no IFAL enquanto política de profissionalização.

1.2 PROEJA: a gênese de um programa social no IFAL

Para compreender a dimensão da atual política da rede federal de educação profissional, é importante retomar brevemente, em uma linha de tempo, como se consolidou a educação profissional no Brasil, que teve a sua origem com a formação dos artífices em 1909, com as 19 escolas de artes e ofícios, por Nilo Peçanha, em cada uma das capitais dos estados da República. O IFAL comemorou 105 anos de implantação da rede federal, a primeira instituição a ofertar o ensino técnico no estado.

Segundo Manfredi (2002), a definição da localização das escolas obedeceu mais a um critério político do que econômico, pois na época havia poucas capitais com parque industrial desenvolvido, como foi o caso de Alagoas.

A escola de aprendizes de Alagoas foi inaugurada em 10 de janeiro de 1910, instalada em Maceió em local cedido pelo governo do estado, na rua Conselheiro Lourenço de Albuquerque. Foi necessário passar por adaptações em sua estrutura por não ter os requisitos necessários para satisfazer as necessidades da escola. Posteriormente, o governo a transferiu para outras instalações, em prédio próprio (BONAN, 2010), onde se encontra até hoje.

De acordo como o Decreto nº 7566/1909, que trata da criação, a proposta das escolas de aprendizes artífices tinha por objetivo “[...] não só habilitar os filhos dos desfavorecidos da fortuna com o indispensável preparo técnico e intelectual, como fazê-los adquirir hábitos de trabalho profícuo, que os afastará da ociosidade, escola do vício e do crime” (BRASIL, 1909).

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A finalidade educacional das escolas de aprendizes era a formação de operários e contramestres, por meio do ensino prático e de conhecimentos técnicos transmitidos em ofícios de trabalhos manuais ou mecânicos mais convenientes e necessários ao Estado da Federação que a escola funcionasse, consultando, quando possível, as especialidades da indústria local (MANFREDI, 2002, p. 83).

Conforme o Decreto de sua criação, a escola deveria ofertar até cinco oficinas de trabalhos manuais ou mecânicos, de acordo com a estrutura e a capacidade da escola, e atender as especialidades das indústrias locais. Considerando que a economia de Alagoas era mais agrária que industrial, as primeiras oficinas criadas tiveram origem com um trabalho manual, com o intuito de formar menores com ofício de operário e contramestre, consoante apresentamos na tabela 02:

Tabela 02: Classificação por faixa etária da escola de aprendizes artífices de Alagoas/1911

FAIXA ETÁRIA ALUNOS (%)

10 a 11 anos 38 41

12 a 13 anos 55 59

TOTAL 93 100

Fonte: Bonan (2010).

Essa tabela retrata o perfil dos alunos das primeiras oficinas, todos menores, atendendo a determinação da legislação do ensino profissionalizante à época, cujos requisitos visavam a atender aos desfavorecidos de fortuna com idade mínima de 10 anos e máxima de 13 anos, na sua maioria, analfabetos.

Para ensinar os ofícios, foram contratados mestres em marcenaria, funilaria, sapataria, carpintaria, ferraria e serralharia, além de uma professora, para oferta de curso primário obrigatório para alunos que não soubessem ler, escrever e contar. Segundo Bonan (2010), constava do relatório do diretor da escola uma curiosidade: à época, para a divulgação dos cursos, foram distribuídos 2.500 folhetos à comunidade, contudo não houve demanda. Foram realizadas 93 matrículas, e apenas 60 alunos frequentaram os cursos, conforme apresentamos no quadro 03 a distribuição por oficinas na primeira turma:

OFICINAS MATRÍCULA FREQUÊNCIA DOS CURSOS

Aprendiz de marceneiro 15

60 alunos

Aprendiz de sapateiro 23

Aprendiz de serralheiro 27

Aprendiz de carpinteiro 12

Aprendiz de funileiro 16

Total 93

Quadro 03: Demonstrativo de matrícula na escola de aprendizes de artífices em Alagoas/ 1911

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Por que retomamos a constituição dessas escolas, uma história de 105 anos de oferta do ensino profissional em Alagoas? Porque esse percurso remete à origem da criação de oficinas com o trabalho manual, o trabalho artesanal, constituído de um saber prático do ofício de seus mestres, da experiência e da tradição de produção artesanal, em que aprender ofícios era um requisito mínimo para obter a escolaridade.

Em 1937, em função do processo de desenvolvimento do país, que foi outro marco para o ensino profissional em Alagoas, a transformação das escolas de aprendizes de artífices em liceus profissionais configurou novos rumos para a educação profissional, por causa do processo de desenvolvimento industrial do Brasil: em 1942, escolas industriais e técnicas; em 1959, escolas técnicas; em 1978, surgem os Centros Federais de Educação Tecnológica – CEFET, que mais recentemente foram transformados nos atuais Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia – IF.

Dessa forma, um século depois há um retorno à oferta de um curso artesanal com a oferta de curso técnico em artesanato, trazendo outro viés, não mais o da escola de aprendizes artífices, dos desafortunados da sorte; estamos, agora, no século XXI, com a exigência de saberes tecnológicos, com as transformações no modo de produção, o que exige um redimensionamento do ensino profissional e tecnológico, com mudanças determinantes na oferta do ensino profissionalizante em Alagoas.

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Institutos Federais Cidades

Campus

Maceió Marechal Deodoro Palmeira dos Índios

Satuba

Expansão

Arapiraca Maragogi Murici Penedo Piranhas Santana do Ipanema São Miguel dos Campos

Em Projetos

Batalha Coruripe Rio Largo União dos Palmares

Quadro 04: A expansão do IF em Alagoas, 2014.

Fonte: http://www.mec.gov.br

A dimensão da oferta dos cursos, enquanto Instituto de Educação, Ciência e Tecnologia, retrata as demandas do estado de Alagoas, com a expansão de sua economia e o desenvolvimento econômico, em especial, do campus Maceió, no qual iremos focalizar, tendo em vista o objeto da pesquisa. No quadro 05 apresentamos sua atual estrutura de oferta dos cursos:

CAMPUS MACEIÓ

CURSOS TÉCNICOS

Técnicos Integrados Edificações / Eletrônica/ Eletrotécnica/ Estradas / Informática / Mecânica / Química

Técnicos Subsequentes Eletrônica / Eletrotécnica / Mecânica/ Química / Segurança do Trabalho

Técnicos Subsequentes em EAD Secretaria Escolar / Infraestrutura Escolar

Proeja Artesanato

CURSOS SUPERIORES

Tecnológicos Alimentos / Construção de Edifícios / Design de Interiores / Gestão de Turismo / Hotelaria

Bacharelado Sistema de Informação

Licenciatura Ciências Biológicas / Letras / Matemática / Química Superior EAD Administração Pública / Ciências Biológicas /

Letras/ Português

Lato Sensu Pós-Graduação em Educação de Jovens e Adultos Especialização em Gestão Municipal a distância

Quadro 05: Demonstrativos de oferta dos cursos do campus Maceió/2013

Fonte: http://www2.ifal.edu.br

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para jovens e adultos, e a resistência em reconhecer o instituto federal como locus para oferta dessa modalidade.

O quadro 06 apresenta a oferta do curso técnico de artesanato no campus Maceió (2008/2014):

Turma I Módulos Matricula Inicial Aprovados Retidos Evadidos

2008

I 31 25 6

15

II 23 14 9

III 22 19 3

IV

V 19 18 1

VI 18 16 2

Total Aprovados 16

Turma II Módulos Matricula Inicial Aprovados Retidos Evadidos

2009

I 27 21 6

14 II

III 20 18 2

IV 22 20 2

V 19 19 0

VI 19 13 3

Total Aprovados 13

Turma III Módulos Matricula Inicial Aprovados Retidos Evadidos

2011

I 22 17 4

5

II 20 17 3

III 20 15 5

IV 18 17 1

V 17 - 17

VI 17 17 -

Total Aprovados 17

Turma IV Módulos Matricula Inicial Aprovados Retidos Evadidos

2012 I, II, III,IV Curso em Andamento 15

Turma V Módulos Matricula Inicial Aprovados Retidos Evadidos

2014

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Curso em Andamento

Quadro 06: Demonstrativo da oferta do curso técnico de artesanato no IFAL 2008 /2014 Fonte: Arquivo da Coordenação do Curso Técnico em Artesanato – PROEJA/ IFAL, 2014

Com esses dados podemos observar a oferta das vagas do curso técnico em artesanato no período de 2008/2014. Essas ofertas são de 05 turmas, perfazendo um total de 120 alunos/as. Desse total, 03 turmas já concluíram, englobando 80 alunos/as; no entanto, apenas 46 alunos concluíram o curso, o que equivale a 57,5 % de aprovação, com uma evasão de 42,5%. Em 2010 a instituição não abriu vagas para matrículas.

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A dimensão da política de profissionalização dessa pesquisa está voltada para as camadas populares em um processo de formação continuada de adultos - o PROEJA, e pautada em uma organização curricular integrada. A temática alicerça-se em um tripé que envolve o campo do currículo, da cultura artesanal e da formação para o trabalho, cuja relevância aos estudos contribui para um debate com um tema que é pouco investigado na área da educação, ao trazer a formação de mulheres no processo artesanal, o processo de ensinar e aprender que se constitui na cultura do artesanato brasileiro.

1.3 A profissionalização das artesãs em Alagoas

Ao investigar as transformações que se deram no campo profissional das artesãs egressas do curso técnico de artesanato, é imprescindível retomar o percurso da trajetória da formação profissionalizante dessas mulheres, tendo como ponto de partida a natureza específica do curso: a integração curricular e os saberes e ofícios das artesãs através de suas experiências. Uma organização curricular que valoriza os saberes oriundos da cultura artesanal por meio de uma linearidade com os saberes tecnológicos, um diálogo sobre o pensar e fazer artesanal com design.

Nesse contexto, que fez parte do nosso mestrado, Limeira (2010), o resgate irá favorecer o estudo desta tese sobre as histórias de vida dessas mulheres, compreender o crescimento da participação das mulheres no processo de produção artesanal e suas formas de organização profissional e social no mercado de trabalho.

Na proposta do curso do IFAL, estão presentes elementos centrais para nortear a pesquisa: um currículo que propõe novos arranjos voltados efetivamente para artesãs - valorização dos conhecimentos dos saberes, práticas, técnicas, tecnologias e dos saberes oriundos da cultura popular, como também a valorização das experiências e vivências, o que foi o diferencial desta proposta, o reconhecimento das experiências das artesãs para o currículo.

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A dinâmica do processo pedagógico do curso trouxe elementos na sua metodologia que romperam com uma estrutura e uma organização curricular tradicional centrada nas disciplinas escolares, além de trazer para o centro desse currículo proposições à cultura artesanal, como eixo articulador do processo de aprendizagem.

1.3.1 Os desafios para a integração curricular

É de fundamental importância apresentar como foi a metodologia de avaliação do curso, que teve um diferencial nessa organização curricular, pois foi considerada por alunas e professores como elemento impulsionador para o processo de criação das peças artesanais. Para tanto, retomo a pesquisa de mestrado (2010) para, em alguns momentos, fundamentar a atual pesquisa de doutorado e com ela dialogar. Eis uma análise das alunas e docentes que é possível hoje, tendo como parâmetro o distanciamento da primeira turma do curso, hoje como egressas.

A proposta de avaliação por Banca foi uma metodologia impulsionadora para promover a integração curricular, foi considerada por docentes e artesãs um processo desafiador. Uma metodologia de avaliação que se propôs a superar modelos de avaliação tradicional, fragmentada, cujo desafio consistiu em redimensionar em um único momento de avaliação todas as disciplinas para avaliação do módulo a cada semestre.

Trata-se, portanto, de uma metodologia que possibilitou o diálogo entre os saberes trazidos pelas artesãs através dos seus ofícios, suas experiências aliadas aos novos conhecimentos. Ao apresentar os produtos artesanais que foram criados em cada módulo, sob a orientação dos docentes, apresentavam seus projetos e defendiam a criação da peça por elas elaborada e, consequentemente, toda a metodologia do seu processo artesanal.

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Módulos C/ H Eixos Disciplinas Projeto

Módulo I 400h/a Fundamentação Projeto de Composição Plástica

Módulo II 400h/a Instrumentação Filosofia e Projeto de Valor Estético Módulo III 400h/a Identidade Cultural Projeto de Valor Cultural

Módulo IV 400h/a Composição Projeto de Composição de Referências

Módulo V 400h/a Produção Projeto de Responsabilidade Social

Módulo VI 400h/a Veiculação -

Quadro 07: Distribuição dos módulos na organização curricular integrada Fonte: Limeira//2010.

A distribuição dos componentes curriculares foi alinhada à formação geral e à profissional, além de distribuídos homogeneamente com carga horária de 400h em cada módulo. Os eixos foram considerados como princípios norteadores na disciplina-projeto, por serem o elemento que dimensiona a proposta do módulo a cada semestre. Apresentamos a seguir o módulo I, para exemplificar como se deu essa organização curricular:

Módulo I

Eixo Tema Gerador Disciplinas

Fundamentação Moda3

Língua Portuguesa História Geral da Humanidade

Matemática

Projeto de Composição Plástica

Desenho Aplicado Introdução ao Design

Quadro 08: Organização Curricular do Módulo I

Fonte: Limeira/2010.

No módulo I, a temática “moda” era norteadora dos projetos, para criação de peças artesanais e projeto de composição plástica. Foi a disciplina mediadora para fomentar a interdisciplinaridade com os demais componentes curriculares e promover a ação da Banca de avaliação.

A Banca foi considerada como elemento desafiador para as artesãs, pois a integração dos saberes e ofícios agregados aos novos conhecimentos era imprescindível para a criação do produto artesanal, para fazer pesquisa sobre a origem da peça, para o estudo das cores, para elaborar cálculos dos custos, para elaborar croquis e, enfim, para apresentar o produto final.

A Banca propôs estabelecer parcerias em dupla e/ou em grupo, de acordo com a as tipologias, apesar de haver a resistência pela dificuldade de passar para o outro a sua técnica,

3 Tema Gerador: uma proposição da Banca que desafia as artesãs a criarem produtos artesanais alinhados à

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pois para elas a colega era vista como concorrente (impera a sobrevivência econômica do trabalho). Depois, as dificuldades para aceitar novas metodologias de trabalho, a resistência em agregar outras ideias, novos elementos ao seu produto. Foram momentos que exigiram dos docentes outras formas de organização, e as parcerias foram sendo formadas por afinidades, confiança e, para outros, a opção por trabalhar individualmente.

Por último, o momento da defesa perante as Bancas: o emocional das artesãs para defender o projeto do produto artesanal, pois a maioria sentia-se despreparada para enfrentar uma apresentação, já que estava há 15, 20, 25 anos fora da sala de aula. Mas essa dinâmica e o fato de estudar no IFAL trouxeram autoestima, de modo que foram, gradativamente, sentindo mais confiança e autonomia na feitura do seu artesanato.

É importante ressaltar que a preparação para a Banca exigiu toda uma reorganização da metodologia dos docentes, desde a elaboração de material didático em função da natureza do curso, até a formação dos grupos, das relações do coletivo. Também exigiu um redimensionamento da metodologia de trabalho; apesar de trazer, desde 2001, essa experiência das Bancas do curso tecnológico de design de interiores, houve uma reestruturada devido ao perfil dos sujeitos da educação de jovens e adultos.

A pesquisa atual se propõe a trazer as narrativas das artesãs, não mais alunas do curso, mas em outra etapa de sua vida profissional; agora, na condição de EGRESSAS, para conhecer as suas reflexões a respeito dessas experiências vividas a partir do curso. Compreender o sentido que essa formação trouxe à vida profissional. Essa pesquisa gira em torno de eixos que visa a compreender os sentidos existentes: a experiência na vida dessas mulheres, o retorno à sala de aula, o olhar crítico das artesãs sobre o caminhar da formação, compreendendo que as narrativas são essências para compreender as mudanças que se deram na vida profissional e social dessas mulheres.

Que sentidos o curso proporcionou para a formação dessas mulheres? Que análises fazem dessa formação na sua aprendizagem? Eis os depoimentos posteriores à formação; eis como analisam o formar-se:

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adolescência, de certa forma tinha a cobrança, que tinha que ter, mas não que a gente se desesperasse (CARMEM, 2014).

E, ao indagar que aspecto do curso considerou mais importante na sua formação de artesã, ressalta:

As disciplinas de projetos, a parte técnica: foi mostrado como fazer as etiquetas, como embalar meus produtos, como dá uma cara nova para eles, tudo foi interessante de aprender. Assim, eu acredito que só não vai adiante quem realmente quiser fazer uma pincelada no fazer, mas a forma de fazer vai ser o diferencial dos outros. Quem seguiu o projeto do produto, de etiquetas, embalagem, tudo foi muito interessante de fazer (CARMEM, 2014).

Ao questionar as mudanças que se deram também no âmbito pessoal, afirma:

As mudanças se deram em todos os aspectos. Eu morria de medo de ir para frente, ficar na frente, falar sobre um trabalho, nossa, eu tremia toda, parecia mais um papel. Então, nas bancas que eu apresentava lá no IFAL o professor pensava que eu iria desmaiar de tanto nervosa que eu estava. Através dessas técnicas, eu fiz até apresentação em palco. Está vendo como eu estou segura? Me apresentei, fiz peça no teatro Marista, fiz peça no IFAL, fiz reportagem para o programa do AL TV Escola (reportagem local da TV Gazeta de Alagoas). Foi sobre os trabalhos que a gente fez sobre reaproveitamento de lixo (PAULA, 2014).

Um dos maiores desafios no processo de preparação para Banca teve início quando foi proposto às artesãs romper com a cultura de elaborar peças artesanais, reproduzindo modelos de revistas, ou mesmo de modelos preestabelecidos pelo artesanato local. A proposta da Banca visou a romper a cultura de cópia e reprodução de produtos massificados pelo mercado artesanal, desafiando-as a criar peças com as experiências de que dispunham, sem deixar, porém, de agregar o design ao artesanato. Para a Paula, o curso proporcionou a teoria, porque o ofício, o fazer, ela já o dominava, como afirmou: "É um curso que ele dá a prática, não é? Não, é a teoria. Ele dá a teoria porque a prática a gente já leva no sangue [...] (PAULA, 2014)".

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As dificuldades, principalmente nós que somos da área de exatas, geralmente existe muitas. Matemática é passada como aquela disciplina, aquele campo do conhecimento que nem todos tem habilidade para prosseguir, não é assim? Mas, em função já da maturidade deles, eu acredito que essa questão traz um pouco da responsabilidade deles, que ajudou bastante para que eles conseguissem superar em grande parte dessas dificuldades. Por outro lado o que aliciou também foi à matemática aplicada nas atividades que eles já vinham desenvolvendo, e isso gerou uma motivação muito maior para aprender algo mais naquilo que aqueles já conseguiam fazer que fosse a prática do artesanato (DOCENTE 1, 2014).

Como as mudanças foram acontecendo e se efetivando a partir desse curso na prática do fazer artesanal, no processo de criação e na autoria? Foram criados momentos que conduzissem as artesãs a pensar como pesquisadoras, momentos que as autorizassem a construir conhecimentos? São indagações que trazem um olhar reflexivo sobre a proposta do curso, fazendo uma relação com a atuação no mercado artesanal.

Eu diria que as dificuldades não se deram apenas no âmbito pedagógico. É um curso que embora a gente tenha se preparado durante dois anos, nos ensaios pedagógicos4, que apesar de já ter passado três turmas por nós

docentes, a gente vem melhorando a forma de passar as técnicas, de mostrar formas de criação, a gente vem alterando esse processo. [...] E hoje, refletindo, há algo que está na relação cultural que eles/as tinham com o produto delas. E, fazendo a reflexão os alunos/as que tiveram mudanças nos seus produtos, eles quiseram, eles passaram a olhar com outros olhos os produtos deles. (DOCENTE 2, 2014)

Portanto, as análises serão retomadas no capítulo III, que trata da relação dos saberes da cultura artesanal com os conhecimentos tecnológicos, de agregar um valor à peça artesanal, de inserir o design. Além disso, conhecer como os docentes analisam os efeitos da profissionalização após a formação, no capitulo IV; afinal, estamos tratando da primeira turma, mas já concluíram mais três turmas e há outras sendo ofertadas.

1.4 A dimensão e o lugar que o artesanato ocupa em Alagoas

Propusemos destacar uma questão imprescindível: identificar o perfil das artesãs, cujas atividades artísticas estão subordinadas à lógica do mercado e que são fatores determinantes quanto se trata da valorização e reconhecimento dessa categoria de trabalhadoras. Trazemos,

4“Ensaios pedagógicos”, assim denominados pelos docentes, foram os encontros pedagógicos para discutir a

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Tabela 01: Distribuição do eleitorado de Alagoas por grau de instrução
Tabela  02:  Classificação  por  faixa  etária  da  escola  de  aprendizes  artífices  de  Alagoas/1911
Tabela 03: Demonstrativo do Censo de Artesãos por Estado /2014
Figura 01: Mapa de Alagoas com os Municípios da Costa litorânea, do norte ao sul do estado, Sertão e Agreste
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Referências

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