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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO TRÊS RIOS DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DO MEIO AMBIENTE - DCMA

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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO TRÊS RIOS

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DO MEIO AMBIENTE - DCMA

JUSTIÇA AMBIENTAL VERSUS DESENVOLVIMENTO: PERCEPÇÃO AMBIENTAL DOS MORADORES DE TRÊS RIOS - RJ

Maurício Correia Batista Júnior

ORIENTADOR: Dr. Alexandre Ferreira Lopes

TRÊS RIOS - RJ

DEZEMBRO – 2019

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2

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO TRÊS RIOS

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DO MEIO AMBIENTE - DCMA

JUSTIÇA AMBIENTAL VERSUS DESENVOLVIMENTO: PERCEPÇÃO AMBIENTAL DOS MORADORES DE TRÊS RIOS - RJ

Maurício Correia Batista Júnior

Monografia apresentada ao curso de Gestão Ambiental, como requisito parcial para obtenção do título de bacharel em Gestão Ambiental da UFRRJ, Instituto Três Rios da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.

TRÊS RIOS - RJ

DEZEMBRO – 2019

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3 Correia Batista Júnior, Maurício, 1998-

Justiça ambiental versus desenvolvimento: percepção ambiental dos moradores de Três Rios – RJ / Maurício Correia Batista Júnior. - 2019.

68f. : il,.

Orientador: Alexandre Ferreira Lopes.

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Gestão Ambiental, 2019.

1. Industrialização. 2. Conflitos Socioambientais3. Educação Ambiental Crítica. I.

Ferreira Lopes, Alexandre , 1977-, orient. II. Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Gestão Ambiental. III.

Justiça ambiental versus desenvolvimento: percepção ambiental dos moradores de Três Rios - RJ

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4 UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO TRÊS RIOS

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DO MEIO AMBIENTE - DCMA

JUSTIÇA AMBIENTAL VERSUS DESENVOLVIMENTO: PERCEPÇÃO AMBIENTAL DOS MORADORES DE TRÊS RIOS – RJ

Maurício Correia Batista Júnior

Monografia apresentada ao Curso de Gestão Ambiental como pré-requisito parcial para obtenção do título de bacharel em Gestão Ambiental da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Instituto Três Rios da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.

Aprovada em 04/12/2019

TRÊS RIOS - RJ SETEMBRO – 2014

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5 “Dedico esse trabalho a minha vó (in memoriam), uma mulher batalhadora que, por mais que não tenha tido a oportunidade de estudar, teve a educação como seu maior legado”

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6 AGRADECIMENTO

Antes de tudo, eu quero dedicar esse trabalho a minha vó Tereza. Ter sido seu neto foi, com certeza, um enorme privilégio. Toda minha trajetória acadêmica eu te carreguei comigo no pensamento. Ter ficado longe da senhora durante parte da graduação foi difícil, mas a partir do momento em que soube que você não estaria lá em casa para reclamar do meu cabelo grande, do meu “brinco no nariz” e de estar “riponga” demais, tudo pareceu mais difícil ainda. Eu não acredito no Deus que a senhora adorava, mas sei que acredito que você está em paz, seja lá o que aconteça após o fim do nosso ciclo aqui na Terra. Uma amiga uma vez, logo após a sua morte, me fez olhar para o céu e te procurar nas estrelas. Desde então me pego observando o céu e tenho certeza de que você está bem. Obrigado por ter sido você e ter me apoiado tanto.

Você faz falta.

Aos meus pais, agradeço ao amor incondicional que vocês sempre me proporcionaram.

Eu sempre falo que a gente não pode ter as melhores condições financeiras do mundo, mas amor é algo que nunca faltou. Obrigado por me apoiarem, me respeitarem como indivíduo e por sempre estarem dispostos a entender meus posicionamentos, por mais que haja divergências em algum momento. Por mais que eu sei que tenha sido difícil, eu quero agradecer a vocês por terem confiado em mim e me apoiado a mudar para uma cidade tão longe de casa para fazer faculdade. O incentivo e a torcida que partem de vocês só me deram mais forças para encarar tudo que vivi aqui. Mais uma vez, obrigado.

Aos meus irmãos Thiago, Tathiane, Lucas e Vitória e aqui ainda incluo Isabelle e Thaynara, primas que são praticamente irmãs, obrigado por entenderem a minha ausência e por sempre apoiarem minhas decisões. Sou muito grato pela relação de cumplicidade e zelo que sempre tivemos um com o outro. Sei que posso ser 100% eu com vocês e isso me conforta muito. Obrigado!

À minha família, por sempre me apoiar e enxergar em mim o potencial que muitas vezes eu não conseguia. Agradeço à minha vó Delma, às minhas tias Geane, Gleice, Geise, Renata e aos meus tios Fábio, Caetano, Mário e César. Agradeço a meus primos e primas Isabelle, Thaynara, Marcella, Pablo, Miguel e Heloísa. Vocês são minha referência. O que eu sou e o que eu quero me tornar. Quero agradecer em especial às minhas tias Gleice e Geane por sempre investirem na minha educação. Se eu estou formando em uma faculdade pública, foi porque vocês apostaram em mim e sempre me estimularam intelectualmente. Obrigado por tanto!

Eu tenho muito carinho pela cidade de Três Rios. Foi onde eu vivi tanta coisa boa, conheci tantas pessoas legais e desenvolvi fortes relações que eu quero – e vou – levar para a vida toda. Foi onde eu cresci e aprendi. Muito do que sou hoje eu devo ao que vivi nessa cidade.

Sair de casa aos 17 anos e ver um mundo que eu só via da janela de casa foi transformador. Sou muito grato por tudo que a cidade me proporcionou e saber que o meu ciclo aqui pode estar se encerrando tem um gosto muito agridoce.

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7 Agradeço à UFRRJ - ITR e à Gestão Ambiental por terem conseguido me tirar de uma caixa de ignorância e por terem me permitido enxergar o mundo com olhos mais críticos e com mais empatia. Eu sempre falo que eu fico triste por enxergar que nem todas as pessoas conseguem aproveitar e realmente curtir a experiência acadêmica assim como eu vivenciei. Sou grato por todas as oportunidades que tive e por tudo que construí aqui. Sou resultado do potencial transformador da educação. Tudo que vivi nesse espaço colaborou positivamente com o profissional, pesquisador e ser humano que eu sou e pretendo me tornar. Obrigado!

Além do privilégio de estar em uma faculdade pública, eu também tive o privilégio de ter professores extremamente competentes e brilhantes nas suas mais diversas áreas de pesquisa. Grato por todo os ensinamentos e dicas que recebi. Conviver com vocês durante todos esses anos foi enriquecedor. Agradeço a – quase – todo o corpo docente do curso, em especial aos professores Fábio Almeida, Erika Cortines, Thais Gallo, Leonardo Mitrano Neves, Michaele Milward, Julianne Milward, Mauricio Soares, Calu Rodrigues e Fábio Freitas.

Obrigado!

Sou muito grato também ao meu orientador, Alexandre, pela orientação e pela relação que a gente desenvolveu nesse tempo de pesquisa. Todo mundo fala que depois de um certo tempo, o aluno acaba ficando parecido com o seu orientador. Aqui o caso não se aplica porque eu já acho que a gente era bem parecido em alguns aspectos. Obrigado por acreditar nesse projeto e por não perder a paciência toda as vezes em que eu chegava vomitando um milhão de ideias. Acho que, no final, o saldo foi bem positivo. Aproveito aqui, também, para agradecer a Mônica, por, além de sempre ter sido gente boa comigo, ter se mostrado solícita quanto à pesquisa, disponibilizando diversos textos que me ajudaram na elaboração do trabalho.

Obrigado aos dois!

Quando paro para pensar em sorte, eu penso na turma que tive o prazer de compartilhar os anos de faculdade. A 2015.1 foi, com certeza, o ponto alto da minha graduação. Chegar em uma cidade que eu nunca tinha ouvido falar antes e sem conhecer ninguém foi assustador, mas o modo pelo qual eu fui recebido por vocês foi incrível. Vocês me apoiaram e seguraram minha barra em todos os momentos em que tive dúvida, medo, angústia e dor. Compartilhamos provas, trabalhos, rolês, almoços em grupo, trilhas, festivais. Se aquela frase clichê que diz que você é a média das pessoas que você mais convive estiver certa, eu estou bem demais. Foi ótimo crescer, amadurecer e me desenvolver pessoal e profissionalmente com vocês. Tenho certeza que vocês serão bem-sucedidos em tudo que se proporem a fazer e que eu vou estar por perto para aplaudir cada vitória. Tem uma música da Lee Ann Womack que traduz tudo que sinto nesse momento de ‘até logo’: “I hope you never lose your sense of wonder / you get your fill to eat but always keep that hunger / may you never take one single breath for granted / God forbid love ever leave you empty handed / I hope you still feel small when you stand beside the ocean /whenever one door closes I hope one more opens / promise me that you'll give faith a fighting chance / and when you get the choice to sit it out or dance / I hope you dance”. Que vocês dancem, vivam e sejam as melhores versões de si mesmos. Mariana, Gisella, Lécio, Bruna, Júlia, Tamiris, Alan, Izabela, Jaqueline, Caio, Larissa, Natani, Yuri, Karol, Victor,

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8 Giuliana, Juliana, Larissa: vocês são incríveis! Gabi e Lorena, vocês não concluíram o curso conosco, mas são igualmente especiais para mim. Queria falar de cada um de vocês especificamente, mas se eu me atrevesse a fazer isso, provavelmente a parte de agradecimentos da minha monografia ficaria maior que os meus resultados. Amo todos vocês! Obrigado por tudo!

Aos amigos que fiz no PET: Gabi, Loranne, Ana, Marcella, Mayara, Andriele, Patric, Leandra, Victória, Ricardo, Ingrid e Angélica, o meu muito obrigado (Gisella, obrigado por entrar nessa comigo. Essa experiência nos aproximou muito e fez com que nós nos tornássemos o que somos hoje). A gente passou por muita coisa junto e isso só nos fortaleceu. Eu tenho um carinho enorme por todos vocês, sei que vocês serão bem-sucedidos e superarão todas as adversidades que a vida colocar no caminho. Nunca se esqueçam que vocês são luz!

Aos meus amigos do grupo mais icônico que já surgiu nessa faculdade, o Ruralinos Eventos, o meu obrigado! Se eu fosse na onda de vocês o tempo todo, eu provavelmente não conseguiria me formar. Foram com vocês que eu tive os rolês mais icônicos e que eu consegui ter as melhores histórias para contar. Quem diria que uma social em que a parede do apartamento caiu renderia tanto? Vocês são incríveis, família, e eu só tenho a agradecer por todo o companheirismo! Obrigado!

Agradeço também aos meus amigos – que já deixaram de ser virtuais há muito tempo – que trago comigo desde o Orkut: Antonia, Bruna, Sarah, Iza e Samuel. A gente viu o outro crescer e eu tenho muito orgulho das pessoas que vocês se tornaram. Sei que, mesmo de longe, posso contar com vocês. Obrigado por me aturarem há tanto tempo e por me apoiarem em tudo que eu me proponho a fazer. Obrigado!

Aos meus amigos de Nova Iguaçu (Bruna, Hérica, Camila, Rodrigo e Rany), obrigado por entenderem a minha ausência e por não me odiarem pela minha incapacidade de manter contato via whatsapp. Prometo estar mais presente e espero que a gente viva muita coisa junto.

Obrigado por tudo!

Eu queria agradecer também a essa invenção maravilhosa do curso de GA que é a sala de pesquisa. O desenrolar da minha monografia muito aconteceu porque tive esse espaço para trabalhar. Aos amigos que tornaram o processo de monografia mais leve, obrigado! Lécio, Milaine, Tamiris e Júlia. Tenho que agradecer especialmente a Milaine por todas as dicas, os conselhos e ensinamentos. Se eu tenho um mapa na minha monografia, é por sua causa. Você é incrível! Sou grato por todos os debates que rolaram nessa sala, pelos momentos de descontração e por todas as horas em que vocês seguraram a minha barra quando o nervosismo batia.

Aos amigos que construí em Três Rios: o meu muito obrigado! As relações que construí aqui me marcaram muito. Eu vou sentir muita falta de ter todos no meu dia a dia. Grato por todos os momentos e espero que todos nós consigamos ser presentes na vida um do outro.

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9 Obrigado Asaph (por ter sido meu companheiro de república há quase quatro anos! Você é incrível, amigo!) Camila Pecly, Mylena Orlandini, Gabriella e Zizi Amaral, Camila Knop, Naila dos Anjos, Júlia Martins, Carol Medeiros, pessoal do TEMAS (Gabrielle, Yuri, Natália e Delira), Maju Santos e muitos outros que, apesar de não terem sido mencionados, foram de extrema importância para mim. Eu sou porque vocês são. Obrigado!

Por fim, agradeço ao CNPQ pela concessão da bolsa que me possibilitou realizar essa pesquisa. Obrigado!

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“Para mim o utópico não é o irrealizável; a utopia não é o idealismo, é a dialetização dos atos de denunciar e anunciar, o ato de denunciar a estrutura desumanizante e de anunciar a estrutura humanizante. Por isso a utopia também é um compromisso histórico.”

(Paulo Freire, 1980)

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RESUMO

Os espaços urbanos podem ser compreendidos como a projeção de relações socioeconômicas.

Entende-se que o direcionamento de danos ambientais advindos de atividades produtivas tem uma preferência a certos grupos sociais, historicamente marginalizados. Assim, o objetivo do trabalho foi analisar a percepção ambiental dos moradores do bairro Habitat, no município de Três Rios – RJ, enquanto atores sociais atingidos por impactos socioambientais provenientes dos setores público e privado. O município de Três Rios, localizado na região Centro Sul do Estado do Rio de Janeiro, passa por um processo intenso de industrialização impulsionado pelo poder público local através da Lei Estadual nº 4533/2005 e da Lei Municipal nº 3346/2009.

Além da geração de empregos e renda à cidade, as estratégias utilizadas para atrair os empreendimentos foram corroborados pela localização estratégica que a cidade possui. O Habitat, objeto de estudo deste trabalho, é um bairro caracterizado por suas habitações sociais construídas e disponibilizadas pelo Poder Público e pelo número significativo de empreendimentos instalados no seu território. O método utilizado para coleta de dados foi a entrevista semiestruturada e a técnica de amostragem aplicada foi o snowball sampling. Para responder as questões propostas no trabalho, também foi solicitado acesso às licenças ambientais emitidas no município ao órgão ambiental responsável. Dados secundários como legislações municipais, reportagens locais, bibliografias sobre a área e sites institucionais também foram consultados. Foram entrevistados quatro indivíduos, que residem no bairro há mais de 10 anos e, assim, conseguiram acompanhar o processo de implementação do distrito industrial. As informações solicitadas à Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Agricultura não foram disponibilizadas até o fechamento do trabalho. Após a chegada dos empreendimentos ao bairro, foram percebidas de maneira positiva pelos voluntários as mudanças na infraestrutura urbana e as oportunidades de emprego que as fábricas traziam consigo. Contudo, foi relatado que há uma marginalização dos moradores por parte das empresas, que não empregam os moradores do bairro. O bairro possui uma imagem estigmatizada de local violento, que é rejeitada pelos moradores. Os moradores recebem as pressões socioambientais dos empreendimentos, mas não são contemplados com os benefícios socioeconômicos da industrialização. Com exceção do transporte público, são percebidas diversas carências no acesso aos serviços públicos, o que reforça a dicotomia centro-periferia. Apesar dos relatos anteriores, os voluntários consideram que o bairro é amparado pelo poder público. No que se

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12 refere às melhorias demandadas pelos moradores é possível destacar como a maior demanda a construção de uma escola de ensino fundamental no bairro. É preciso que haja implementação de programas de EA crítica nas comunidades que estão nas áreas de influência dos empreendimentos como parte obrigatória do processo de licenciamento ambiental. O fortalecimento dos processos de gestão participativa e dos espaços públicos democráticos também deve ser considerado, de modo a minimizar os danos socioambientais gerados no processo produtivo.

Palavras-chave: Industrialização, Conflitos Socioambientais, Educação Ambiental Crítica.

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ABSTRACT

The urban spaces can be understood as the projection of socioeconomic relations. It’s understood that the targeting of environmental damage that came from productive activities has a preference to certain historically marginalized social groups. Therefore, the objective of this study was to analyze the environmental perception of the Habitat neighborhood residents in the city of Três Rios – RJ, as social actors infected by social and environmental impacts from the public and private sectors. The Três Rios city, located in the south central of the state of Rio de Janeiro, goes through an intense process of industrialization driven by the local public power through the State Law nº 4533/2010 and Municipal Law nº 3346/2009. Beyond the generation of jobs and income to the city, the strategies used to attract enterprises were corroborated by the strategic location that the city has. The Habitat, object of study of this work, is a neighborhood characterized by its social dwellings built and made available by the government and by its significant number of ventures installed in its territory. The method used was the semi-structured interview and the sampling technique was the snowball sampling. To answer the questions proposed at this paper, access to the environmental licenses issued in the city was also requested to the responsible environmental agency. Secondary data as municipal laws, local news, bibliographies on the area and institutional sites were also consulted. Four individuals were interviewed that lived in the neighborhood over than ten years and thus they were able to follow the industrial district implementation process. The information requested from the Municipal Secretary of Environmental and Agriculture was not made available until the closure of this work. After the arrival of the projects in the neighborhood, the volunteers perceived positively the changes in urban infrastructure and the job opportunities that the factories brought with them. However, it has been reported that there is a marginalization of the residents by the businesses that don’t employ neighborhood residents. The neighborhood has a stigmatized image of being a violent place, which is rejected by residents.

Keywords: Industrialization, Socio-Environmental Conflicts, Critical Environmental Education.

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LISTA DE ABREVIAÇÕES E SÍMBOLOS

CONAMA - Conselho Nacional de Meio Ambiente CONEP - Comissão Nacional de Ética em Pesquisa

CNS/MS - Conselho Nacional de Saúde/Ministério da Saúde CSN - Companhia de Siderurgia Nacional

EA - Educação Ambiental

EIA/RIMA - Estudo de Impacto Ambiental/Relatório de Impacto Ambiental IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

ICMS - Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços

LEA – ITR/UFRRJ - Laboratório de Ecologia Aquática e Educação Ambiental do Instituto Três Rios da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

MAB - Movimento dos Atingidos por Barragens NIMBY - Not In My Backyard

ONG - Organização Não-Governamental PDM - Plano Diretor Municipal

PEA - Programa de Educação Ambiental RAS - Relatório Ambiental Simplificado RBJA - Rede Brasileira de Justiça Ambiental

SEMMA – TR - Secretaria de Meio Ambiente e Agricultura de Três Rios SISNAMA - Sistema Nacional de Meio Ambiente

SLAM - Sistema de Licenciamento Ambiental

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15 TCLE - Termo de Compromisso Livre e Esclarecido

US EPA - United States Environmental Protection Agency

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Mapa indicando onde o estudo foi realizado (bairro Habitat do município de Três Rios – RJ) ...29

Figura 2. Publicação do Jornal Extra informando o sorteio e as entregas do último lote de casas no bairro Habitat, Três Rios – RJ ...35

Figura 3. Moradias sociais no Habitat após a última fase de construção ...46

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1. Manchetes sobre o bairro Habitat...47

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Sumário

1. INTRODUÇÃO ... 19

1.1 OBJETIVO GERAL ... 26

1.1.1 Objetivos Específicos ... 26

2. MATERIAIS E MÉTODOS ... 27

2.1. ÁREA DE ESTUDO ... 27

2.2. PROCEDIMENTOS LEGAIS...30

2.3. LEVANTAMENTO DOS DADOS...30

2.4. ANÁLISE DOS DADOS...31

2.4.1. Percepção Ambiental...32

2.5. DIFICULDADES METODOLÓGICAS...33

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO...33

3.1. TRÊS RIOS, A CIDADE EMPREENDEDORA ... 37

3.1.1. O Licenciamento Ambiental no município ... Erro! Indicador não definido. 3.2. A MARGINALIZAÇÃO DOS MORADORES...43

3.2.1. A estigmatização do Habitat...45

3.3. A PRECARIEDADE DOS SERVIÇOS PÚBLICOS...47

3.4. A DEMANDA POR MELHORIAS...49

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 52

5. REFERÊNCIAS ... 54

6. ANEXOS ... 60

7. APÊNDICES...65

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19 1. INTRODUÇÃO

Os espaços urbanos podem ser compreendidos como a projeção de relações socioeconômicas, características das sociedades que os produziram. Os processos de acumulação do capital não existem fora dos respectivos contextos geográficos, provendo um papel importante na alteração das configurações espaciais (Harvey 2010, p. 120). Assim, as cidades refletem estas alterações, dando suporte às transformações estruturais que ocorrem por meio do modo de produção capitalista (Spósito 1988, p. 58). Através deste, é possível observar as cidades expressando o caráter excludente do capital (Da Guia 2016), por meio das relações desiguais de poder que produzem injustiças socioambientais e marginalização de populações com menor poder aquisitivo. Conforme David Harvey (2010, p. 120), novos espaços e relações espaciais estão sendo criados a todo momento.

Os conflitos socioambientais, assim, nascem através de uma contradição estrutural deste sistema econômico, onde a produção é relacionada à busca pelo crescimento econômico, a ser obtida via integração ao mercado, através da exportação. Essa contradição também foi apontada por Fernandes & Sampaio (2008) quando afirmam que o sistema econômico esgota suas próprias fontes de sustentação e riqueza: o homem e a natureza. Assim, os embates ocorrem a partir do momento em que o sentido e a utilização de um espaço ambiental por um determinado grupo ocorrem em detrimento dos significados e usos que outros indivíduos possam fazer de seu território (Zhouri 2008). Segundo Quintas (2006), todo conflito tem como objeto de disputa algum recurso escasso. Estes conflitos podem ocorrer no momento de extração de recursos naturais, na geração de energia e na produção de mercadorias, estando associados a diversas atividades e setores como na produção agrícola e pecuária, na instalação e operação de fábricas, entre outros.

Os processos que englobam a produção industrial são compostos por mecanismos sociais, políticos e econômicos que concentram os processos decisórios, privatiza bens públicos, de modo a legitimar o uso de recursos coletivos e naturais para interesses privados (Loureiro & Layrargues 2013). Assim, há uma relação entre riqueza acumulada, desenvolvimento tecnológico com disseminação de pobreza e degradação ambiental cujos

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20 custos sociais e ambientais são pagos com mais intensidade pelos pobres, principalmente no que diz respeito à saúde (Herculano 2001, 2006). Segundo Santos (1996, p. 170):

O investimento público pode aumentar em uma dada região, ao mesmo tempo em que os fluxos de mais-valia que vai permitir irão beneficiar a algumas firmas ou pessoas, que não são obrigatoriamente locais. Essa contradição entre fluxo de investimentos públicos e fluxo de mais-valia consagra a possibilidade de ver acrescida a dotação regional de capital constante ao mesmo tempo em que a sociedade local se descapitaliza. Da mesma forma, a vulnerabilidade ambiental pode aumentar com o crescimento econômico local.

No paradigma atual, o crescimento econômico é visto como a resolução da degradação socioambiental que o próprio sistema gerou, abrindo mercados a tecnologias “limpas”

(Acserald 2002; Fernandes & Sampaio 2008). Através do princípio poluidor-pagador e do discurso direcionado à busca pelo “desenvolvimento sustentável”, parte do mercado apropria- se do discurso ambientalista para tentar, através do investimento em tecnologia, minimizar os impactos ambientais decorrentes de seus processos produtivos e, assim, evitar que haja um

“desgaste” de sua imagem frente ao mercado e aos consumidores, indo de encontro com Malagodi (2012), quando este afirma que a ideia de sustentabilidade tem sido utilizada como combustível da renovação da lógica capitalista. Alier (2007, p. 26) identifica o evangelho da ecoeficiência como uma das tendências do ambientalismo atual. Calcado no pragmatismo e tendo a modernização ecológica e o desenvolvimento sustentável como alguns de seus conceitos-chave a corrente atribui um valor utilitarista à natureza, muitas vezes defendendo o crescimento econômico concomitantemente ao manejo sustentável – e eficiente – dos recursos naturais, ou seja, “a busca de ‘soluções de ganhos econômicos e ganhos ecológicos’” (Alier 2007, p. 28).

Contudo, é possível inferir que essa visão vai de acordo com os interesses do mercado, por desconsiderar que, além dos impactos ambientais dos processos produtivos, há implicações sociais que marginalizam grupos que já estão à margem, e também por não apresentar um parecer mais crítico e amplo sobre a conjuntura, sem apresentar questionamentos acerca do modo que se dá a acumulação do capital. Boltanski & Chiapello (1999) chamam de

“deslocamentos” as mudanças organizativas ou de critérios de alocação social que o capital assegura continuidade a seus próprios mecanismos, esvaziando as críticas que lhes são dirigidas

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21 (apud Acserald 2010). A corrente acaba colaborando com a desigualdade ambiental, pois, segundo Acserald et al. (2012), uma das condições decisivas para a produção desta é o esvaziamento político da questão ambiental.

Em contraponto, surge a corrente, denominada por Alier (2007, p. 33) de ecologismo dos pobres, que é originada a partir de uma demanda por justiça social ao entender que alguns grupos são privados ao acesso aos recursos e aos serviços ambientais ao mesmo tempo em que sofrem mais com os danos ambientais. Assim, a noção de justiça ambiental vai em direção a uma ressignificação da questão ambiental, por incorporar a temática ambiental em dimensões sociopolíticas tradicionalmente envolvidas com a construção de justiça social (Acserald 2010).

As primeiras discussões sobre justiça ambiental surgiram nos Estados Unidos através de dois marcos: em 1978 quando uma comunidade de operários, residentes em Love Canal, em Niagara Falls, tomou consciência de que estava vivendo acima de um aterro de resíduos tóxicos, articulando-se posteriormente para exigir reparação de danos ao poder público quanto à saúde dos que ali viviam e o direito à informação (Herculano 2008, Silva 2012); e em 1982 quando foi decidido implantar um depósito de resíduos químicos perigosos ao ambiente e à saúde humana em Afton, no condado de Warren, na Carolina do Norte (Bullard & Johson 2000, Acserald 2002, Alier 2007, p. 231; Herculano 2008), cuja população era constituída majoritariamente por pessoas que viviam abaixo da linha da pobreza, sendo 60% dos moradores afro-americanos (Alier 2007, p. 231). No último caso, apesar do movimento local não ter triunfado, foi através do protesto não violento que ganhou reconhecimento nacionalmente com a sigla NIMBY (not in my backyard) que a luta por justiça ambiental, segundo Alier (2007, p.

231), nasceu e inseriu o movimento no mapa (Bullard & Johnson 2000). No ano seguinte, os protestos de Warren County impulsionaram um estudo desenvolvido pelos US General Accounting Office que mostrou que a distribuição espacial de resíduos químicos e a localização de indústrias poluentes estavam sobrepostas a áreas habitadas por etnias historicamente desfavorecidas, como as comunidades negra e latina (Bullard & Johnson 2000; Herculano 2008).

Entende-se que o direcionamento de danos ambientais advindos de atividades produtivas tem uma preferência a certos grupos sociais e étnicos, historicamente desfavorecidos e marginalizados que possuem uma menor articulação e organização política, além de um diferencial em relação à mobilidade, onde os mais ricos conseguiriam escapar dos riscos e os mais pobres circulariam em um circuito de risco (Acserald 2010). A Agência de Proteção

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22 Ambiental estadunidense (US EPA) define justiça ambiental como “a busca do tratamento justo e do envolvimento significativo de todas as pessoas, independentemente de sua raça, cor, origem ou renda no que diz respeito à elaboração, desenvolvimento, implementação e reforço de políticas, leis e regulações ambientais” (apud Bullard & Johnson 2000).

Através de Loureiro & Layrargues (2013), a justiça ambiental também pode ser entendida como um conjunto de ações articuladas de atores sociais que estão em condição de expropriados e que defendem politicamente projetos de societários anticapitalistas, estando pautados por princípios como:

Equidade na distribuição das consequências ambientais negativas, de forma que nenhum grupo social, étnico ou de classe suporte uma parcela desproporcional dessas consequências;

Justo acesso aos bens ambientais do país;

Amplo acesso às informações relevantes sobre as atividades poluentes, tais como o uso dos recursos naturais, o descarte de seus rejeitos e a localização das fontes de risco;

Fortalecimento e favorecimento da constituição de sujeitos coletivos de direitos, isto é, de movimentos sociais e organizações populares capazes de interferirem no processo de decisão da política e da economia. (Loureiro &

Layrargues 2013)

A luta por justiça ambiental perpassa no entendimento que as relações de poder existentes no sistema capitalista contribuem para a degradação ambiental, atingindo desproporcionalmente diferentes classes sociais e etnias. Portanto não haveria, nesta perspectiva, como separar os problemas ambientais da maneira como é distribuído desigualmente o poder sobre os recursos políticos, materiais e simbólicos. Formas simultâneas de opressão seriam responsáveis por injustiças ambientais decorrentes da natureza inseparável das opressões de classe, raça e gênero (Acserald 2002). A partir de debates que permeiam as questões de justiça ambiental que os conflitos referentes à qualidade de vida da população, como saneamento básico, disposição de resíduos perigosos em áreas habitadas e consequente risco de contaminação daqueles que residem e trabalham no local, passaram a ser designados como embates ambientais (Silva 2012).

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23 Acserald et al. (2012), utilizando o conceito de desigualdade ambiental, que pode ser entendida como a exposição diferenciada de indivíduos e grupos sociais a amenidades e riscos ambientais Alves (2007), inferiu que o capitalismo liberalizado faz com que os danos oriundos de práticas poluentes recaiam principalmente em grupos sociais vulnerabilizados, configurando uma distribuição desproporcional dos benefícios e malefícios do desenvolvimento econômico.

Os grupos marginalizados pelas injustiças ambientais não são somente excluídos do chamado desenvolvimento, mas acabam assumindo todo o ônus oriundo deste (Zhouri 2008), em nome da geração de emprego e renda para uma suposta maioria, reforçando o discurso do sacrifício social “necessário” de “alguns” para que haja a realização do interesse de “todos” (Malagodi 2012). Os problemas são deslocados, os custos sociais e ambientais são transferidos (Alier 2007, p. 114) e os benefícios são concentrados em pequenos grupos econômicos.

Os indivíduos não são iguais tanto no que tange ao acesso a bens e amenidades ambientais quanto em relação à exposição de riscos ambientais (Alves 2007). Portanto, de acordo com Torres (1997), fatores como localização da moradia e acesso a serviços públicos podem limitar o acesso a bens ambientais, da mesma forma que também podem aumentar o grau de vulnerabilidade ambiental. Há uma relação direta, segundo Jacobi (1995), entre exposição a riscos ambientais e precariedade de acesso a serviços públicos. É possível observar esse processo quando há o estabelecimento de zonas de sacrifício, que, assim definido por Viégas (2006), são localidades em que observa-se uma superposição de empreendimentos e instalações responsáveis por danos e riscos ambientais, geralmente localizada em locais onde não há um alto poder aquisitivo e um menor acesso por parte dos moradores a informações tanto acerca dos impactos socioambientais que estarão sujeitos quanto referentes aos processos decisórios de instalação dos empreendimentos, como as audiências públicas de processos de licenciamento ambiental.

No Brasil, a luta articulada por justiça ambiental é recente. Contudo, é possível identificar movimentos sociais que resistem às injustiças ambientais decorrentes do crescimento econômico, legitimadas pelo mercado e pelo Estado. É o caso do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), de movimentos extrativistas que resistem contra a expansão capitalista nas fronteiras florestais, de populações tradicionais que se veem ameaçadas pelo agronegócio e diversos movimentos locais que lutam contra a poluição e a contaminação ambiental. Destaca-se no país a Rede Brasileira de Justiça Ambiental (RBJA) (Herculano 2002, Porto 2005, Acserald 2010, MMA 2012), criada em 2001 após o Colóquio Internacional sobre

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24 Justiça, Trabalho e Cidadania, que ocorreu em Niterói. O evento contou com a participação de diversos movimentos sociais, entidades e pesquisadores da área e o maior produto desenvolvido durante o evento foi o lançamento do Manifesto de Lançamento da RBJA (Anexo 1), cujo conteúdo definiu o conceito de injustiça ambiental e os princípios e práticas que permeiam a justiça ambiental, além de ter traçado os objetivos a serem alcançados pela RBJA (Herculano 2002, Porto 2005).

Lopes (2006) afirma que todo trabalho institucionalizado em torno da questão ambiental está permeado por conflitos sociais. Assim, como mediador principal da gestão ambiental no país, o Poder Público tem que estar presente intervindo na resolução dos conflitos socioambientais (Quintas 2006), utilizando os mecanismos legais presentes na legislação ambiental brasileira para evitar que os diversos interesses e formas de apropriação de variados atores sociais interfiram na qualidade ambiental do meio natural e construído. O Licenciamento Ambiental, por exemplo, sendo um dos principais instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente, evidencia as dinâmicas do campo ambiental (Zhouri 2008), ao avaliar a viabilidade socioambiental de diversos projetos e empreendimentos, de modo que os usos e apropriação dos recursos naturais sejam decididos. O licenciamento, na teoria, deve ser um espaço democrático e participativo onde os atores sociais envolvidos no seu desenrolar possam estar atuando ativamente nos processos decisórios (Ambivero 2016).

Ao mesmo tempo que o Poder Público pode se apresentar como mediador de conflitos (Quintas 2006), é também possível observar o Estado atuando como promotor de injustiça ambiental, quando a premissa de crescimento econômico é priorizada frente a possíveis prejuízos socioambientais que alguns grupos teriam que suportar e também quando o mesmo se apresenta omisso frente às necessidades das classes populares. A infraestrutura urbana, a atuação do governo local e a forma como foi realizado o planejamento territorial, por exemplo, podem ser fatores de vulnerabilidade socioambiental à população residente quando há carências referentes ao saneamento ambiental, à falta de mecanismos de drenagem hídrica, à contaminação de corpos hídricos, à ocupação desenfreada de áreas suscetíveis a deslizamentos por não haver a garantia de moradia efetivada, que gera a favelização das cidades, à falta de acesso a serviços públicos no geral, entre outros. Herculano (2008) defende que não são apenas os trabalhadores industriais e os moradores que residem no entorno de fábricas que pagam, com sua saúde, os custos da produção de riquezas e, portanto, a questão da justiça ambiental deve englobar outros aspectos que atingem a população.

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25 A partir da mobilização social, a luta por justiça ambiental pode influenciar uma série de legislações. Nos Estados Unidos, a luta por justiça ambiental impactou a legislação norte- americana: foram criadas normas de descontaminação, foi institucionalizado o direito de saber o que existe ou existirá em uma dada comunidade e foram criados fundos direcionados aos locais afetados (Herculano 2008). Bullard & Johnson (2000) destacam a Ordem Executiva 12.898, que dispõe de ações federais dispostas na legislação americana para lidar com a problemática da injustiça e do racismo ambiental existente no país, solicitando obtenção de dados de comunidades pobres e de minorias que possam estar em risco, além de melhores metodologias para mitigar os impactos na saúde humana e no ambiente.

No Brasil, os conflitos socioambientais também se mostraram importantes na promulgação de leis federais. Lopes (2006) aponta o decreto-lei de 1975 (que institui normas sobre controle da poluição industrial), promulgado no período militar, como originário de um conflito social acerca do fechamento de uma fábrica poluente de cimento em Contagem1, Minas Gerais. O mesmo autor também evidencia que o caso de Cubatão2, em São Paulo, ocorrido na década de 80 também teve influência nas normas ambientais sancionadas posteriormente.

Por ser um país com uma desigualdade social acentuada, o vínculo entre os meios de produção e a distribuição de danos ambientais que a justiça ambiental combate fica ofuscado em detrimento justamente das demais injustiças sociais que encobrem e naturalizam o ônus desigual oriundos de atividades produtivas (Herculano 2002). A mesma autora defende que o ambientalismo brasileiro tem grande potencial para expandir seu alcance social na medida em que se solidarize com as massas pobres e marginalizadas que já vem lutando pelo seu direito, visto que as lutas representam um mesmo objetivo: a luta pela democracia, pelo bem comum e pela sustentabilidade.

1 Após manifestações de moradores do entorno da fábrica contra a sua poluição, com o apoio de atores como o padre local, e após prisões de manifestantes, por suspeita de “subversão”, há uma reação de outras autoridades com apoio popular velado: o prefeito instaura uma ação por “direito de vizinhança” e o juiz fecha a fábrica, por desobediência às determinações municipais quanto à instalação de fábrica sem filtros. O governo federal reage fazendo o citado decreto, monopolizando no nível federal a faculdade de fechar fábricas por razões ecológicas e de poluição (Lopes 2006).

2 O município de Cubatão - SP ficou conhecido nacional e internacionalmente nas décadas de 70 e 80 devido ao seu alto nível de poluição do ar. Apelidada de “Vale da Morte” e conhecida, na época, como a cidade mais poluída do mundo, Cubatão é utilizada como bandeira e exemplo dos movimentos ecológicos até hoje no que se refere à denúncia de problemas ambientais (Alonso & Godinho 1992).

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26 O mapeamento de casos conflitos socioambientais e de injustiças ambientais precisa ser feito de modo constante para assegurar a parte envolvida mais vulnerável que haja a busca por justiça ambiental através da mobilização, pressão e apoio de diversos setores da sociedade, além da utilização dos mecanismos legais que a legislação ambiental brasileira dispõe. Segundo Herculano (2006), estudar os conflitos socioambientais é extremamente relevante para o fortalecimento e aumento da capacidade de resistência dos atores sociais vulnerabilizados.

Vasco & Zakrzevski (2010) enfatizam a utilização das pesquisas de percepção ambiental como ferramenta para formulação de estratégias de amenização dos problemas socioambientais, elaboração e implementação de políticas públicas e Programas de Educação Ambiental (PEA), que garantem aos atores envolvidos na problemática a formação de uma consciência crítica emancipatória, de modo que estes participem da resolução do conflito estabelecido e dos demais processos de gestão ambiental. De acordo com Siqueira (2008), os problemas ambientais são interpretados de diferentes maneiras, uma vez que os indivíduos encaram os problemas de acordo com as peculiaridades de suas percepções. Tais peculiaridades influenciam a compreensão de alguns aspectos do ambiente em detrimento de outros.

Portanto, fez-se necessário observar o processo de incentivo à industrialização com fins de desenvolvimento econômico que o município de Três Rios – RJ foi submetido. Como reflexo das políticas públicas que tornaram a cidade mais atraente a diversos empreendimentos e vendendo-se como “Cidade Empreendedora”, Três Rios licenciou cerca de 179 empresas desde 2011 (Lucas 2018).

A partir deste fenômeno, o Habitat foi o bairro escolhido como foco para este trabalho.

Com cerca de 18 empreendimentos em seu território, o bairro é, também, caracterizado por suas casas populares e pela atuação de programas de habitação social. É preciso investigar as consequências socioambientais desta superposição de empreendimentos para com a população na área de influência dessas indústrias e verificar a percepção dos atores sociais vulnerabilizados nessa relação.

1.1 OBJETIVO GERAL

Analisar a percepção ambiental dos moradores do bairro Habitat, no município de Três Rios – RJ, enquanto atores sociais atingidos por impactos socioambientais provenientes dos setores público e privado.

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27 1.1.1 Objetivos Específicos

• Avaliar a distribuição de danos socioambientais em Três Rios a partir da ótica da Justiça Ambiental e da Educação Ambiental Crítica;

• Analisar a relação entre o processo de industrialização do bairro Habitat, no município de Três Rios – RJ, e as questões socioambientais geradas no processo.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

2.1. ÁREA DE ESTUDO

O município de Três Rios, localizado na região Centro Sul do Estado do Rio de Janeiro (Figura 1), tem sua história diretamente relacionada à construção da Rodovia União e Indústria (1861) e da Ferrovia D. Pedro II (1867) (Três Rios). O desenvolvimento local foi marcado pela cultura cafeeira até o início do século XX (Almeida 2012, Ambivero 2016), refletindo-se na paisagem degradada que o território apresenta (Ambivero 2016).

Em 1890 foi elevado a 2º Distrito de Paraíba do Sul, emancipando-se em 1939, com o nome Entre-Rios. Contudo, por haver outro município com a mesma denominação, a cidade adotou, no final de 1943, o nome de Três Rios, devido aos principais rios que cortam seu território: Paraíba do Sul, Paraibuna e Piabanha (Silva 1991, p.

113).

A partir da decadência da atividade cafeeira, o setor secundário ascendeu como importante ator no desenvolvimento da região, através da construção da rodovia BR- 393 e da instalação da Companhia de Siderurgia Nacional (CSN), em Volta Redonda (Almeida 2012). Com o entroncamento ferroviário se mostrando como um fator importante no desenvolvimento local (Oliveira 2014), Três Rios seguiu se desenvolvendo economicamente através da chegada da Companhia Santa Matilde, uma fábrica de trens, em 1963 (Almeida 2012). Atraído por incentivos fiscais, o empreendimento focava na produção de vagões de trens e, posteriormente,

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28 implementos agrícolas, o que lhe colocou em uma posição centralizadora da economia local devido ao desempenho nas décadas de 70 e 80, sendo assim considerado o maior empregador do município (Almeida 2012).

Com o declínio da economia brasileira na década de 80, a Companhia Santa Matilde começou a mostrar sinais de enfraquecimento, resultando em uma decretação formal de falência (Oliveira 2014), fato que culminou no afastamento de outras empresas fornecedoras que orbitavam a Santa Matilde a outros centros urbanos como o Rio de Janeiro e Volta Redonda (Almeida 2012). A economia do município foi impactada negativamente, o que levou a cidade a entrar em um processo de estagnação socioeconômica (Almeida 2012).

Para recuperar-se dessa estagnação, foi realizada uma série de incentivos fiscai e políticas públicas nos variados níveis federativos, além de parcerias público-privado (Almeida 2012). Dentre eles, é possível destacar a Lei Estadual nº 4533/2005 (atual Lei Estadual nº 5636/2010) que contemplava a alguns municípios fluminenses a redução de alíquota do Impsoto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) para empreendimentos do setor industrial (Almeida 2012, Oliveira 2014) e a isenção de variados impostos, através da Lei Municipal nº 3346/2009 (Oliveira 2014).

Com a população estimada pelo último censo de 77.432 habitantes (IBGE 2010), o município passa por um processo intenso de industrialização impulsionado pelo poder público local. Além da geração de empregos e renda à cidade, as estratégias utilizadas para atrair os empreendimentos foram corroborados pela localização estratégica que a cidade possui:

“O governo municipal, no propósito de tornar Três Rios um município próspero e forte, vem trabalhando no sentido de atrair novos investimentos, oferecendo incentivos fiscais, proporcionando isenções de impostos, tais como: Imposto Predial, Imposto Territorial Urbano, Imposto Sobre Serviço de Qualquer natureza, Licença para Execução de Obras. Três Rios possui disponibilidade de energia elétrica, eficiente serviço de água, facilidade de mão de obra especializada, fácil acesso aos fornecedores de matéria-prima e ao escoamento de sua produção para os mercados interno e externo, devido a sua localização privilegiada e seu entroncamento rodoferroviário. (...) Por tudo isso, Três Rios é a opção mais atraente e promissora, é o presente do grande

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29 futuro que aguarda empreendedores e que lhe dá a certeza de sucesso”

(Três Rios 2012 apud Ambivero 2014).

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30 Figura 1. Mapa indicando onde o estudo foi realizado (bairro Habitat do município de Três Rios – RJ).

O Habitat é um bairro caracterizado por ser receptor de programas de moradias sociais disponibilizadas pelo Poder Público e pelo número significativo de empreendimentos instalados no seu território. O Plano Diretor Municipal (PDM), Lei nº 3.906/2013, em seu Art. 21, § 1º, inciso V identifica o bairro como Zona de Expansão Urbana Continuada, com a seguinte definição:

Art. 21 – A Zona de Expansão Urbana Continuada compreende a área formada pelos bairros localizados na periferia imediata da Zona Urbana Consolidada, onde se observa um processo de parcelamento da terra e de adensamento populacional e construtivo disperso localizado nas áreas lindeiras nos eixos rodoviários municipais e federais, vetores naturais do processo de expansão urbana em curso no município. (Três Rios 2013)

2.2. PROCEDIMENTOS LEGAIS

De acordo com as Resoluções da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa envolvendo seres humanos (CONEP) e do Conselho Nacional de Saúde/Ministério da Saúde (CNS/MS 1997), o projeto de pesquisa foi aprovado pela Comissão de Ética na Pesquisa da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro / CONEP-UFRRJ, processo nº 23083.026947/2019-91.

Todos os informantes da pesquisa assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (APÊNDICE 1), sendo que cada integrante teve a opção de escolha em participar ou não da pesquisa, conforme instruções da Resolução 466/12 para pesquisas com seres humanos.

2.3. LEVANTAMENTO DE DADOS

O método utilizado para coleta de dados com os moradores da comunidade foi a entrevista semiestruturada (APÊNDICE 2). De acordo com Cruz Neto (1993), através da entrevista o pesquisador busca obter informes contidos nas falas dos atores sociais, não podendo ser considerada uma conversa despretensiosa e neutra, já que é o meio de coleta dos fatos

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31 relatados pelos atores enquanto sujeitos-objetos que vivenciam uma realidade focalizada. Essa técnica gera compreensões ricas das biografias, experiências, opiniões, valores, aspirações, atitudes e sentimentos dos indivíduos entrevistados (May 2004, p. 145).

Foi utilizado o snowball sampling (Biernacki & Waldorf 1981) como técnica de amostragem, onde os participantes iniciais da pesquisa apontam novos participantes que por sua vez fazem o mesmo e assim sucessivamente (Baldin 2011). O número de entrevistados não foi definido, visto que não é possível prever a quantidade de indivíduos que irão prover todas as informações necessárias para atingir os objetivos da pesquisa. Importante ressaltar que nem todas as pessoas que foram indicadas aceitaram participar das entrevistas. Para ser apto a participar da pesquisa, o indivíduo precisava residir em Três Rios há pelo menos 10 anos, para que pudesse responder acerca do crescimento do município, das mudanças ocorridas com a chegada das indústrias e dos impactos decorrentes destas.

Foi apresentado a cada voluntário um TCLE apresentando a natureza da pesquisa, contendo informações relevantes ao processo de concessão de entrevistas e estabelecendo um canal para sanar as possíveis dúvidas que o entrevistado poderia apresentar. As entrevistas foram gravadas com a anuência dos entrevistados para posterior transcrição de dados relevantes ao estudo. O sigilo foi garantido para evitar algum tipo de constrangimento e receio por parte dos voluntários em responder às perguntas. Os temas abordados foram referentes à qualidade de vida e à infraestrutura dos bairros, ao acesso a serviços públicos e aos impactos sentidos nas comunidades com a chegada dos empreendimentos. Todos os termos de consentimento, assim como os áudios obtidos e suas respectivas transcrições estarão disponíveis para consulta no Laboratório de Ecologia Aquática e Educação Ambiental do Instituto Três Rios – UFRRJ (LEA/UFRRJ-ITR).

Em relação aos processos de licenciamento ambiental realizados pelo município, foi solicitado acesso às licenças emitidas através de um requerimento institucional ao órgão ambiental responsável, a Secretaria de Meio Ambiente e Agricultura (SEMMAA – TR), visando compreender a distribuição de empreendimentos pelo território e as condicionantes impostas no processo, de forma a entender o efeito socioambiental que a implementação desses empreendimentos causaram para com os moradores. Além disso, também foram consultados dados secundários que incluem legislações municipais, reportagens locais, bibliografias sobre a área e sites institucionais. Até a data de fechamento do trabalho, os dados solicitados à SEMMAA – TR não foram disponibilizados.

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32 2.4. ANÁLISE DOS DADOS

Em relação à identificação dos voluntários, a nomeação foi feita com a inicial “E”, referente ao termo “entrevistado”, acompanhado de um número que seguiu a ordem de realização das entrevistas, garantindo o anonimato que lhes fora assegurado. No que se refere à transcrição das falas, optou-se por eliminar os vícios de fala, visando aproximar o leitor do relato oral experienciado em campo. Ambivero (2016) argumenta que o tratamento é um respeito à contribuição dos entrevistados, trazendo a relevante citação:

“Porém, não tenho medo de manejar o testemunho, porque o que é importante é realizar um texto que aproxime o leitor, o mais possível, à experiência do diálogo que encontramos no trabalho de campo. Ou seja, que este texto renda, a quem o lê, algo da experiência do encontro entre historiador e testemunho.

Então, a reprodução exata e passiva da transcrição da fita, frequentemente, não é a mais fiel, porque vai interferir com a qualidade do relato. Um discurso oral muito envolvente, se é transcrito exatamente, palavra por palavra sobre uma página, torna-se algo que não se pode ler. Assim, não é fiel, porque não se pode ler a experiência que está contida nesse relato extraordinário. Há que se preservar a qualidade da experiência e basicamente a qualidade de performance: o fato é que os entrevistados, todos nós, quando falamos oralmente (eu mesmo, agora), estamos buscando as palavras e estamos construindo o que queremos dizer ao mesmo tempo em que o dizemos, ou seja, ‘tateamos’, e algo disso deve permanecer no texto escrito, mas não na mesma dimensão nem na mesma quantidade do que é possível e aceitável oralmente” (Almeida & Koury 2014 apud Ambivero 2016).

Através dos relatos, as falas foram analisadas e contextualizadas utilizando como base a bibliografia selecionada.

2.4.1 Percepção Ambiental

A percepção ambiental foi escolhida como conteúdo teórico-metodológico pelo seu potencial de entender as relações estabelecidas entre o homem e o ambiente, no que se refere à

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33 forma como cada pessoa percebe, reage e responde às diversas manifestações sobre o meio em que vive.

2.5 DIFICULDADES METODOLÓGICAS

Nem todos os indivíduos indicados resultaram em entrevistas. Houve resistência por parte de alguns dos moradores quando o contato foi estabelecido para agendar as conversas.

Além disso, houve dificuldades com relação a dados do município. O site da prefeitura não forneceu as informações necessárias e não foi obtido retorno com os dados que foram solicitados à Secretaria de Meio Ambiente, o que comprometeu algumas análises.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram entrevistadas quatro pessoas, apresentando uma variação de faixa etária de 21 a 70 anos. Todos os voluntários residem no bairro há mais de 10 anos e conseguiram acompanhar o processo de implementação do distrito industrial, reflexo da Lei Estadual nº 4533/2005 (atual Lei Estadual nº 5636/2010), que contemplava a recuperação industrial de algumas regiões através de um regime especial de tributação (Rio de Janeiro 2010), e da Lei Municipal nº 3346/2009, que tratava sobre a disposição de incentivos fiscais às empresas que se instalassem no município (Três Rios 2009).

Foi feito um contato informal, via telefone, com a Secretária Municipal de Promoção Social solicitando dados acerca do processo de formação do bairro Habitat, porém a orientação que foi dada foi acessar o site do município para obter essas informações. Contudo, não há qualquer tipo de menção à formação do bairro no site. Só foi possível compreender esse processo através dos relatos dos voluntários.

O bairro surgiu no ano 2000, através da ação social de uma Organização Não- Governamental (ONG) não identificada, cuja nomenclatura se deu através do termo “os americanos” por se tratar de estrangeiros, que construiu cerca de 101 casas populares em terrenos que foram doados para essa finalidade:

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34 Quando eles estiveram aqui, eles trouxeram o projeto Casa Fácil. [...] Eram homens e mulheres construindo suas casas. Foi assim que surgiu o bairro. [...]

O terreno foi na época do prefeito Raleigh Ramalho. Ele era prefeito na época.

O terreno foi desapropriado do Silvio Guaraciaba e doado para a ONG construir as casas. As nossas. 101 casas. Ai depois as outras [casas] foram com os governos juntos com a prefeitura. (E1)

Após a construção das casas populares, os primeiros moradores se instalaram em 2001.

As moradias foram construídas em 6 etapas, através de parcerias entre as três esferas federativas (Figura 2), sendo que a última etapa foi entregue em 2014, com 426 casas construídas:

Então primeiro construíram as nossas [casas], depois 50 [casas] no mandato do Celso Jacob, depois construíram mais 150 [casas] já no governo Cabral, depois 89 [na área] lá embaixo, já era o Pezão no lugar dele [Cabral], depois 20 do Josema, que desapropriou o pessoal do passatempo e construiu essas 20 casas e por último essas 426 [casas] no mandato do Vinicius Farah. (E1)

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35 Figura 2. Publicação do Jornal Extra informando o sorteio e as entregas do último lote de casas no bairro Habitat, Três Rios – RJ. Fonte: Jornal Extra.

Em um primeiro momento, o bairro carecia de infraestrutura urbana mínima. Não havia asfalto, iluminação pública, água potável, ônibus que passasse pelo bairro. Os moradores iam se inserindo de forma precária naquele território conforme as casas eram disponibilizadas. Em relação à vida que era vivida na comunidade, E1 e E2 apontam:

[...] quando vim pra cá não tinha essas indústrias que tem aí não. Não tinha esse asfalto que tem hoje, a gente não tinha ônibus, não tinha iluminação nas ruas. Não tinha água da SAEETRI. Era uma água horrível que a gente bebia aqui, que várias pessoas passavam mal, iam até parar no hospital por causa da água. (E2)

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36 Os moradores, não conformados em viver nas condições precárias em que o bairro se encontrava, procuraram formas de reivindicar os seus direitos e de contornar as adversidades:

Não tinha ônibus, aí eu fui a pé, subi aquela ponte, fui lá na Transa3 conversar com o responsável4 pedir a ela o ônibus. (...) Aí botaram ônibus sete da manhã, uma hora da tarde e cinco horas da tarde. Três horários por dia. Passou seis meses e eu voltei lá. “Estão poucos os horários de ônibus. As pessoas trabalham fora de manhã e só voltam uma hora? Se vai uma hora só volta às cinco? E se for às cinco vem a pé? As pessoas estudam, trabalham, querem ir a uma igreja.” Não tinha igreja nenhuma aqui (...). Aí botou outro ônibus dez [da noite], passaram alguns meses e eu voltei lá e hoje nós temos ônibus de 20 em 20 minutos. (E1)

Aí chegava no fim do ano com época de chuva os alunos não conseguia estudar. Eu ajudei com uma turma de pessoas com enxada e pá e fomos lá pra baixo, lá pro início, depois que passa o viaduto, pra arrancar o barro pra fazer com o que o ônibus conseguisse passar. Era fim de ano e os alunos precisavam fazer a prova. (E1)

3.1. TRÊS RIOS, A CIDADE EMPREENDEDORA

Como já foi mencionado anteriormente, o município de Três Rios adotou políticas públicas que incentivaram a implantação de diversas empresas no seu território e o bairro Habitat apresentou reflexos desse processo de industrialização. Com 18 empreendimentos instalados na área nos últimos dez anos, o bairro recebeu investimentos no que se refere à sua infraestrutura. Milton Santos (2002) argumentava que os lugares se distinguem pela capacidade de oferecer rentabilidade aos investimentos. Essa rentabilidade varia de acordo com as

3 Empresa de ônibus que atua no município.

4 O nome do responsável foi suprimido para resguardar o anonimato dos colaboradores e dos citados.

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37 condições locais de ordem técnica e organizacional, no que tange aspectos como infraestrutura, leis locais, impostos, entre outros.

Essas mudanças foram percebidas pelos voluntários quando perguntados sobre as mudanças em suas vidas com a chegada das indústrias:

Foi na época do Vinícius [Farah] que começaram as fábricas. Aí cada empresário foi adquirindo o terreno.Eu não sei explicar se eles compraram ou se foi adquirido através de doação. [...] Mudou muita coisa [com a chegada das fábricas]. A estrada agora é toda iluminada, pra começar, porque antigamente não era. Dão emprego pra várias pessoas que moram aqui dentro, então quer dizer, isso ajuda muito. (E2)

Veio com as fábricas, através das fábricas [o asfalto]. Então são coisas que trouxe melhorias para o bairro. Antes, quando nós nos mudamos para cá, não tinha ônibus. (...) Então, com a chegada do asfalto tudo melhorou. Aí veio as empresas, porque as empresas não podiam funcionar se não tivesse asfalto, aí pressionou a prefeitura. Aí foi e botou asfalto por causa das empresas. (E1)

Então, o que se criou aqui com a vinda das indústrias foram benfeitorias, isso sim tá? Vem muita gente de fora aqui. Melhorou muito! Veio o asfaltamento, melhorou o serviço de água, que a água aqui era salobra, agora não, agora está [barulho que representa a expressão “ok”]. E melhorou muito mesmo. (E3)

Acserald (2010) chamava de acumulação flexível os processos de flexibilização de leis urbanísticas e ambientais, quando necessário, que os governos locais que buscam atrair investimentos realizavam. É possível observar semelhanças desse processo no município de Três Rios, através das políticas públicas de incentivos fiscais. Conforme Vainer (2007):

A guerra fiscal expressa, de um lado, o vácuo de políticas territoriais na escala federal e, de outro, a emergência de novas formas de articulação entre capitais e forças políticas que favorecem uma redefinição das relações entre as escalas subnacionais (municipal, estadual, regional), nacional e global.

(...) Esta situação propicia a eclosão de uma guerra de todos contra todos, da qual saem vencedoras, como se sabe, as empresas privadas, que promovem

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38 verdadeiros leilões para os que ofereçam maiores vantagens – fiscais, fundiárias, ambientais, etc. (Vainer 2007)

3.1.1. O Licenciamento Ambiental no município

Para compreender melhor como que ocorreu o processo de industrialização da cidade e do bairro, foi solicitado à SEMMA – TR dados sobre as licenças emitidas pelo órgão, de modo a mapear e quantificar os empreendimentos na cidade, além de visualizar as condicionantes exigidas no processo de licenciamento ambiental. Até a data de fechamento deste trabalho, as informações solicitadas não foram disponibilizadas pelo órgão ambiental, o que contraria a Lei nº 10650/2003, que dispõe sobre o acesso público aos dados e informações existentes nos órgãos e entidades integrantes do Sistema Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA):

Art. 2º Os órgãos e entidades da Administração Pública, direta, indireta e fundacional, integrantes do Sisnama, ficam obrigados a permitir o acesso público aos documentos, expedientes e processos administrativos que tratem de matéria ambiental e a fornecer todas as informações ambientais que estejam sob sua guarda, em meio escrito, visual, sonoro ou eletrônico, especialmente as relativas a:

I - qualidade do meio ambiente;

II - políticas, planos e programas potencialmente causadores de impacto ambiental;

[...]

§ 1º Qualquer indivíduo, independentemente da comprovação de interesse específico, terá acesso às informações de que trata esta Lei, mediante requerimento escrito, no qual assumirá a obrigação de não utilizar as informações colhidas para fins comerciais, sob as penas da lei civil, penal, de direito autoral e de propriedade industrial, assim como de citar as fontes, caso, por qualquer meio, venha a divulgar os aludidos dados.

[...]

§ 5º No prazo de trinta dias, contado da data do pedido, deverá ser prestada a informação ou facultada a consulta, nos termos deste artigo.

[...]

(39)

39 Art. 4º Deverão ser publicados em Diário Oficial e ficar disponíveis, no respectivo órgão, em local de fácil acesso ao público, listagens e relações contendo os dados referentes aos seguintes assuntos:

I - pedidos de licenciamento, sua renovação e a respectiva concessão;

(grifo nosso) (Brasil 2003)

A Resolução do Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA) 237/97, que dispõe sobre licenciamento ambiental, traz em seu Art. 10 os procedimentos que devem ser adotados em processos de licenciamento ambiental:

Art. 10 - O procedimento de licenciamento ambiental obedecerá às seguintes etapas:

[...]

II - Requerimento da licença ambiental pelo empreendedor, acompanhado dos documentos, projetos e estudos ambientais pertinentes, dando-se a devida publicidade;

[...]

VIII - Deferimento ou indeferimento do pedido de licença, dando-se a devida publicidade. (grifo nosso) (CONAMA 1997)

O Decreto Estadual nº 44820/2014 que dispõe sobre o Sistema de Licenciamento Ambiental (SLAM), também traz em seu Art. 32 normas referente à publicização das licenças ambientais expedidas:

Art. 32. Os pedidos de licenciamento, sua renovação e a respectiva concessão serão publicados no jornal oficial, bem como em periódico regional ou local de grande circulação, ou em meio eletrônico de comunicação mantido pelo órgão ambiental competente.

§ 1º Os requerimentos de Licença Prévia de empreendimentos e atividades sujeitos à elaboração de Estudo de Impacto Ambiental/Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA) e Relatório Ambiental Simplificado (RAS), bem como sua concessão, renovação, averbação e indeferimento serão publicados no jornal oficial, em periódico regional ou local de grande circulação e em Diário Eletrônico de comunicação mantido pelo órgão ambiental licenciador.

Referências

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