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História do Teatro. Prof. a Aline de Oliveira Ferraz. Indaial a Edição

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(1)

H istória do t eatro

Prof.a Aline de Oliveira Ferraz

(2)

Copyright © UNIASSELVI 2021

Elaboração:

Prof.ᵃ Aline Ferraz

Revisão, Diagramação e Produção:

Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial.

Impresso por:

F381h

Ferraz, Aline de Oliveira

História do teatro. / Aline de Oliveira Ferraz – Indaial:

UNIASSELVI, 2021 189 p.; il.

ISBN 978-65-5663-977-2 ISBN Digital 978-65-5663-974-1

1. Teatro. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci.

CDD 792

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a presentação

Antes de dar início às observações dos principais movimentos históricos que serão propostos neste curso de História do Teatro, solicitamos a sua atenção para algumas considerações iniciais, a fim de que possam otimizar os estudos e usufruir do legado cultural que o teatro representa para a história. Caro acadêmico, saudações!

A linguagem teatral constitui uma área do conhecimento bastante ampla, o que nos permite eleger diferentes aspectos norteadores para o estudo da cena. Assim, por exemplo, podemos subdividir a história do teatro em história da pedagogia teatral, que diz respeito aos movimentos que marcaram os processos de ensino-aprendizagem do teatro; história da encenação, história da interpretação teatral, história da dramaturgia textual – e assim por diante.

Nesse curso, priorizaremos uma abordagem híbrida dos diversos elementos constitutivos da cena. Assim, por exemplo, na Unidade 1, estudaremos diversas manifestações ocorridas em espaços e tempos distintos, que deram origem ao que hoje designamos como teatro. Em seguida, na Unidade 2, veremos a função, as características e os principais autores da teatralidade do período histórico entre a Idade Média e o século XIX. Por fim, na Unidade 3, observaremos como os movimentos anteriores possibilitaram a estruturação dos principais movimentos do século XX, bem como das produções teatrais dos nossos dias.

Ao conceber uma linha historiográfica, temos em mente que a narrativa é sempre uma edição diante da impossibilidade de abarcar todos os fatos que constituem a história teatral. De tal sorte, que ao eleger os principais movimentos representativos do teatro temos, por objetivo, construir uma sequência de conhecimentos que facilite a compreensão das cenas produzidas nos dias de hoje.

Esperamos ainda que o relato desses acontecimentos possa despertar o seu interesse pelas diversas transformações da cena, que, por sua vez, são representações da evolução das próprias sociedades em que eles ocorreram.

Se é possível dizer que são muitos os teatros, pois as artes cênicas abarcam em si a diversidade de experiências existentes nos contextos históricos e sociais em que se inserem, é possível também afirmar que existem muitas formas de se compreender um acontecimento teatral, visto que um movimento teatral tem o potencial de nos revelar as inquietações das épocas

(4)

A tradução dos questionamentos humanos nos conteúdos e formas que compõe a linguagem teatral nos possibilita conhecer importantes aspectos da vida social, nos diversos tempos e espaços do mundo. Olhar para a sociedade de cada época, pode nos ajudar a compreender a cena teatral de forma mais ampla.

Por teatro, entendemos não apenas os prédios. E por acontecimento teatral, compreendemos não apenas os eventos cênicos, mas, também a diversidade de materialidades artísticas produzidas por atores, encenadores, produtores de teatro e não apenas esses, mas também os dramaturgos, os cenógrafos, os iluminadores, os bilheteiros, e aqueles que são o sentido de tudo isso: os espectadores.

“A Filosofia do Teatro afirma que o teatro é um acontecimento (no sentido que Deleuze atribui à ideia de acontecimentos: algo que acontece, algo onde se coloca à construção de sentido, por extensão, existência e habilidade) que produz entes no seu acontecer, ligado à cultura vivente, à presença aurática dos corpos” (DUBATTI, 2011, p. 16).

Nesses teatros, que desde a Grécia Antiga são lugares de onde se vê, ocorrem as encenações que, para além das apresentações públicas, carregam em suas estruturas muitas horas de trabalho dedicadas aos processos de criação, que podem ser compreendidos como espaços de “ensaios”, nos quais os artistas diversos, envolvidos em um mesmo projeto, colocam-se em situação de “ensaio” – a fim de obter as melhores soluções expressivas das formas e dos conteúdos que constituíram um discurso cênico. Assim como não existe um aspecto do teatro mais importante que outro, não deveria existir valorização das funções que cada um ocupa na produção teatral.

A matéria-prima dos teatros são as experiências dos que produzem e dos que ressignificam os sentidos do que é apresentado. Ao elaborarem sentidos cênicos, artistas e espectadores promovem práticas dialógicas a partir do que os constituem, num processo de retroalimentação de experiências. De tal forma, é possível aferir que os teatros são tão ricos quanto a multiplicidade de interações realizadas a partir do que a cena suscita em cada sociedade. Que os saberes teatrais aqui sintetizados nos possibilite apreender mais sobre a história dos homens, das mulheres e da cultura do convívio social. Pronto para

“embarcar” conosco em uma diversidade de espaços e tempos históricos?

Prof.ᵃ Aline Ferraz

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Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE.

Bons estudos!

NOTA

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s umário

UNIDADE 1 — A ORIGEM DO TEATRO E SUAS PRIMEIRAS MANIFESTAÇÕES ... 1

TÓPICO 1 — A HISTÓRIA E O SURGIMENTO DO TEATRO ... 3

1 INTRODUÇÃO ... 3

2 A ORIGEM DO TEATRO ... 3

3 PRÉ HISTÓRIA TEATRAL ... 4

4 A ORIGEM DO CONCEITO DE TEATRO ... 6

RESUMO DO TÓPICO 1... 7

AUTOATIVIDADE ... 8

TÓPICO 2 — O TEATRO NA GRÉCIA ANTIGA ... 9

1 INTRODUÇÃO ... 9

2 MITOLOGIA GREGA ... 11

3 A POÉTICA DE ARISTÓTELES ... 13

4 A TRAGÉDIA E OS TRÁGICOS GREGOS: ÈSQUILO, SÓFOCLES E EURÍPEDES ... 15

RESUMO DO TÓPICO 2... 29

AUTOATIVIDADE ... 30

TÓPICO 3 — O TEATRO ROMANO ... 31

1 INTRODUÇÃO ... 31

2 A POLÍTICA DO PÃO E CIRCO ... 34

3 A LITERATURA DRAMÁTICA DE PLAUTO, TERÊNCIO E SÊNECA ... 35

RESUMO DO TÓPICO 3... 39

AUTOATIVIDADE ... 40

TÓPICO 4 — PANORAMA DO TEATRO ORIENTAL ... 41

1 INTRODUÇÃO ... 41

2 OS DIVERSOS TEATROS DO ORIENTE ... 43

3 OS DRAMATURGOS ORIENTAIS ... 52

LEITURA COMPLEMENTAR ... 55

RESUMO DO TÓPICO 4... 59

AUTOATIVIDADE ... 60

REFERÊNCIAS ... 62

UNIDADE 2 — DO MEDIEVAL AO SÉCULO XIX ... 65

TÓPICO 1 — TEATRO NA IDADE MÉDIA ... 67

1 INTRODUÇÃO ... 67

2 O TEATRO A SERVIÇO DA FÉ ... 67

(8)

3 O TEATRO POPULAR ... 74

RESUMO DO TÓPICO 1... 78

AUTOATIVIDADE ... 79

TÓPICO 2 — COMMEDIA DELL’ARTE ... 81

1 INTRODUÇÃO ... 81

2 OS TIPOS DA COMMEDIA DELL' ARTE ... 83

RESUMO DO TÓPICO 2... 88

AUTOATIVIDADE ... 89

TÓPICO 3 — TEATRO E A RENASCENÇA ... 91

1 INTRODUÇÃO ... 91

2 O TEATRO DOS HUMANISTAS ... 91

2.1 TEATRO ELISABETANO: SHAKESPEARE E SEUS CONTEMPORÂNEO ...93

2.1.1 George Buchanan ...93

2.1.2 John Lyly ...93

2.1.3 Christopher Marlowe ... 94

2.1.4 Thomas Kyd ... 95

2.1.5 William Shakespeare ... 96

2.1.6 Beaumont e Fletcher ... 106

2.1.7 George Chapman ... 107

2.1.8 John Marston ... 107

2.1.9 Thomas Dekker ...108

2.1.10 Thomas Heywood ...108

RESUMO DO TÓPICO 3... 109

AUTOATIVIDADE ... 110

TÓPICO 4 — OUTRAS TEATRALIDADES EUROPEIAS ... 113

1 INTRODUÇÃO ... 113

2 O SÉCULO DE OURO ESPANHOL ... 114

3 A TRAGÉDIA CLÁSSICA FRANCESA ... 116

4 O ROMANTISMO ALEMÃO ... 120

5 O REALISMO ... 122

LEITURA COMPLEMENTAR ... 125

RESUMO DO TÓPICO 4... 128

AUTOATIVIDADE ... 129

REFERÊNCIAS ... 130

UNIDADE 3 — A TEATRALIDADE NOS SÉCULOS XX E XXI ... 131

TÓPICO 1 — O NATURALISMO ... 133

1 INTRODUÇÃO ... 133

2 O SURGIMENTO DO ENCENADOR ... 136

3 STANISLAVSKI E O TEATRO DE ARTE DE MOSCOU ... 138

RESUMO DO TÓPICO 1... 142

AUTOATIVIDADE ... 143

TÓPICO 2 — BRECHT E O “TEATRO ÉPICO” ... 145

1 INTRODUÇÃO ... 145

2 ELEMENTOS DO DISTANCIAMENTO ... 147

3 PEÇAS DIDÁTICAS ... 150

(9)

RESUMO DO TÓPICO 2... 152

AUTOATIVIDADE ... 153

TÓPICO 3 — VANGUARDAS TEATRAIS ... 155

1 INTRODUÇÃO ... 155

2 O TEATRO ENGAJADO DE MEYERHOLD E PISCATOR ... 155

3 ARTAUD E O "TEATRO DA CRUELDADE'’ ... 159

4 A DRAMATURGIA DO ABSURDO DE SAMUEL BECKETT E EUGÈNE IONESCO ... 162

4.1 SAMUEL BECKETT (1906-1989) ... 163

4.2 EUGENE IONESCO (1906-1994) ... 163

RESUMO DO TÓPICO 3... 166

AUTOATIVIDADE ... 167

TÓPICO 4 — TEATRO CONTEMPORÂNEO: PRINCIPAIS NOMES E CARACTERÍSTICAS DA CENA DOS NOSSOS DIAS ... 169

1 INTRODUÇÃO ... 169

2 O TEATRO EXPERIMENTAL GROTOWSKI ... 170

3 PETER BROOK E A RESSIGNIFICAÇÃO DOS ELEMENTOS CÊNICOS ... 171

4 EUGÊNIO BARBA E ANTROPOLOGIA TEATRAL ... 173

5 ARIANE MNOUCHKINE E A PRODUÇÃO COLABORATIVA ... 174

6 O TEATRO COMO POSSIBILIDADE DE CONHECER O MUNDO ... 175

RESUMO DO TÓPICO 4... 177

AUTOATIVIDADE ... 178

TÓPICO 5 — TEATRO CONTEMPORÂNEO E PERFORMATIVIDADES ... 179

1 INTRODUÇÃO ... 179

2 ARTE RELACIONAL ... 179

3 PERFORMANCE ... 180

4 TEATRO PERFORMÁTICO ... 182

LEITURA COMPLEMENTAR ... 184

RESUMO DO TÓPICO 5... 188

AUTOATIVIDADE ... 189

REFERÊNCIAS ... 190

(10)

UNIDADE 1 — A ORIGEM DO TEATRO E SUAS

PRIMEIRAS MANIFESTAÇÕES

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

PLANO DE ESTUDOS

A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

● compreender que o teatro surge com a própria socialização humana;

● reconhecer o potencial pedagógico da teatralidade grega;

● estudar a diversidade de objetivos das manifestações teatrais na pré- história, na Grécia e em Roma;

● observar as especificidades do teatro do Ocidente e Oriente.

Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No decorrer da unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – A HISTÓRIA E O SURGIMENTO DO TEATRO TÓPICO 2 – O TEATRO NA GRÉCIA ANTIGA

TÓPICO 3 – O TEATRO ROMANO

TÓPICO 4 – PANORAMA DO TEATRO ORIENTAL

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.

CHAMADA

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TÓPICO 1 —

UNIDADE 1

A HISTÓRIA E O SURGIMENTO DO TEATRO

1 INTRODUÇÃO

Acadêmico, neste tópico, abordaremos o teatro como manifestação da presença, em um determinado espaço, que prevê a interação entre pessoas, originada da própria necessidade de expressão do homem.

Podemos imaginar que à medida que o homem pré-histórico transitou do nomadismo para as condições de vida em comunidades agrícolas, as necessidades comunicacionais se fizeram mais evidentes.

Em um contexto no qual o convívio com a natureza era mais intenso, os homens se valiam da materialidade natural (peles de animais, tintas naturais, cascas de árvores, fogueiras) para construírem representações que os permitissem expressar os temas e as questões que povoavam seus imaginários.

Por meio de rituais nos quais as comunidades se organizavam em circunferências e compartilhavam danças, sons, narrativas, manipulação de objetos e a representação do divino, o homem pré-histórico buscou formas de dizer para além das palavras. E, graças aos estudos arqueológicos, podemos, atualmente, compreender que onde há um grupo de pessoas reunidas há também espaços para coexistência da teatralidade.

2 A ORIGEM DO TEATRO

É conhecida a legitimidade da seguinte afirmação: toda história tem uma pré-história. Entretanto, o que seria a pré-história do teatro? Sabemos que a inexistência da escrita é o que caracteriza um período pré-histórico. Então, a pré-história do teatro diz respeito a todas as manifestações cênicas anteriores aos textos produzidos pelas antigas civilizações. “Onde quer que o teatro floresça, o homem volta a ser, não caindo em apologia, um animal superior ou uma criança imitando a criatura-mundo e desfrutando do prazer igualmente fundamental de brincar com a ajuda de todas as suas faculdades, desde o mais elementar movimento físico aos mais elaborados voos da fantasia" (GASSNER.1991, p. 4).

O estudo das artes ao longo dos diversos tempos e espaços distintos comprovam a necessidade da expressão humana, mesmo nas sociedades tidas como mais "primitivas" como ocorre nos casos das civilizações que antecedem a escrita, também conhecidas como pré-históricas. Houve uma necessidade de as comunidades buscarem, na simbologia, formas de falarem para além das palavras.

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UNIDADE 1 — A ORIGEM DO TEATRO E SUAS PRIMEIRAS MANIFESTAÇÕES

A história da comunicação (GONTIJO, 2001) nos informa que à medida que as comunidades deixaram de ser nômades, os recursos comunicacionais se fizeram mais necessários. Sabemos ainda que, muito antes da invenção das palavras, os homens já se valiam dos recursos cênicos, tais como: os gestos, os movimentos, os sons, para expressar necessidades e emoções. O que nos permite compreender que o teatro, como meio expressivo, surge muito antes da sua própria nomenclatura.

E o que é possível saber sobre as manifestações teatrais por meio dos estudos arqueológicos do período pré-histórico? Segundo Berthold (2001, p.

3) “[...] o teatro primitivo utilizava acessórios exteriores, exatamente como seu sucessor altamente desenvolvido o faz. Máscaras e figurinos, acessórios de contrarregragem, cenários e orquestra eram comuns, embora nas mais simples formas concebíveis".

FIGURA 1 – REPRESENTAÇÃO DE RITUAL PRÉ HISTÓRICO

FONTE: <https://bit.ly/3ksjKg7>. Acesso em: 4 jun. 2021.

3 PRÉ HISTÓRIA TEATRAL

Podemos compreender que, diante da necessidade desses povos se expressarem e estabelecerem meios para tornar possível a comunicação, bem como produzir justificativas para os eventos naturais advindos de um universo desconhecido, originaram-se os mitos.

A explicação dos fatos desconhecidos, a origem das existências, as justificativas para os acontecimentos e fenômenos da natureza, bem como a projeção de desejos para o futuro, tornaram- se motivos para elaboração de

(14)

TÓPICO 1 — A HISTÓRIA E O SURGIMENTO DO TEATRO

Por meio dos rituais, a comunidade dava vida às representações mitológicas rudimentares. Em circunferências, ou em outras estruturas espaciais favoráveis à participação de todos, organizavam-se ao redor de fogueiras, ou diante da luz solar, para produzir cerimônias, onde se compartilhavam tais narrativas, de forma oral e ou através de mimesis (imitação de gestos, de posturas e sons de animais), que pudessem explicar os temas e fenômenos da natureza de origem enigmática.

É possível imaginar que a personificação de entidades, a produção de alegorias, a ornamentação dos corpos, a realização de movimentos, de sons permitiam a representação concreta dos elementos muitas vezes indisponíveis (tais como o divino, um animal feroz, o desconhecido, ou mesmo o próprio medo) possibilitando, assim, a criação de uma série de expressões dramáticas.

Tudo indica que muitas dessas manifestações foram elaboradas com o intuito de controlar as intempéries e fenômenos naturais – ou, ainda, com o objetivo de

"acalmar os deuses".

FIGURA 2 – ILUSTRAÇÃO EM PAREDE

FONTE: <https://img.comunidades.net/mos/mosqueteirasliterarias/prehistoria.jpg>.

Acesso em: 4 jun. 2021.

A presença dessas manifestações simbólicas da realidade, provavelmente, produzia possibilidades de uma percepção mais ampliada tanto dos temas da vida cotidiana (caçadas, guerras, colheitas etc.), como dos acontecimentos de caráter mais ritualístico, ligados ao universo mágico. O formato coletivo e festivo desses eventos propiciava aos participantes uma relação igualitária, onde se podia atuar e observar simultaneamente.

Nessas cerimônias, de forma muitas vezes instintivas, surgiam os contadores de histórias. Tais narrativas eram incrementadas pelo uso de máscaras, figurinos construídos a partir de pele de animais, madeira e argila. Imagens incrustadas em cavernas e vestígios de instrumentos musicais são indícios de que a música e as danças compunham a teatralização de diversos aspectos da vida dessas comunidades.

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UNIDADE 1 — A ORIGEM DO TEATRO E SUAS PRIMEIRAS MANIFESTAÇÕES

Devemos salientar que não existem registros escritos deste período. As informações que temos são frutos de pesquisas arqueológicas, nas quais a herança cultural dos povos primitivos se evidencia através das expressões artísticas primárias bastante simples.

4 A ORIGEM DO CONCEITO DE TEATRO

Como vimos, as manifestações teatrais primitivas tinham como característica uma expressão espontânea e improvisada, visto que no período não existia a escrita, o que nos impossibilita o acesso preciso aos registros das possíveis estruturas cênicas do período.

Por meio do estudo da teatralidade durante o período pré-histórico, podemos conhecer mais sobre essas culturas, tais conhecimentos, nos demonstram que os rituais dramáticos foram produzidos paralelamente em culturas localizadas em espaços distintos do mundo, contribuindo para a produção das particularidades de diferentes formas de expressão dos povos pré-históricos.

Para melhor compreender a cultura pré-histórica, recomendamos que você assista ao filme A Guerra do Fogo. Direção de Jean-Jacques Annaud, Anthony Burgess e Desmond Morris. Você conseguirá outras referências de filmes sobre a pré-história em:

https://cinema10.com.br/tipos/filmes-sobre-pre-historia.

DICAS

(16)

Neste tópico, você aprendeu que:

● Podemos saber mais sobre a história a partir da história do teatro.

● Que as manifestações teatrais são anteriores à própria nomeação teatral.

● A vida do homem pré-histórico em comunidades agrícolas propiciou o desenvolvimento das expressividades cênicas.

● A partir de estudos arqueológicos, é possível perceber que os elementos dramáticos foram usados de formas variadas em lugares e épocas diferentes.

● Que a teatralidade na pré-história teve uma função importante na elaboração de narrativas que visavam explicar muitos fenômenos que permaneciam interditados, inclusive em uma fase anterior ao uso da palavra.

● Que o teatro na pré-história acontecia em cerimônias de caráter ritualístico, e se caracterizava pela participação coletiva circulares, com práticas de danças, músicas, uso de máscaras, pinturas corporais etc.

RESUMO DO TÓPICO 1

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1 As manifestações cênicas ocorridas na fase anterior à história escrita, também conhecido como período pré-histórico, ocorreram em espaços e tempos distintos, apresentando variações de acordo com as necessidades de cada comunidade. De forma geral, com relação ao objetivo das manifestações teatrais que ocorreram na pré-história, analise as sentenças a seguir:

I- Em cerimônias ritualísticas que propiciavam a participação de todos os integrantes da comunidade na elaboração de um mundo bastante desconhecido.

II- A partir de uma relação entre palco e plateia, no qual os espectadores apreciavam em absoluto silêncio os textos dramáticos.

III- Geralmente, os espetáculos aconteciam sob carroças onde os atores da comunidade improvisavam cenas a partir da supervisão dos chefes religiosos.

IV- Se valiam de elementos da própria natureza: fogueiras, peles de animais, máscaras de argilas em rituais destinados a estabelecerem comunicação com os deuses, com os sentimentos e realidades vivenciadas.

Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Somente a sentença III está correta.

b) ( ) As sentenças I e II estão corretas.

c) ( ) As sentenças II e IV estão corretas.

d) ( ) As sentenças I e IV estão corretas.

2 Segundo Margot Berthold (2001, p. 1), "[...] o teatro é tão velho quanto a humanidade. Existem formas primitivas desde os primórdios do homem.

A transformação numa outra pessoa é uma das formas arquetípicas da expressão humana. O raio de ação do teatro, portanto, inclui a pantomima de caça dos povos da idade do gelo e as categorias dramáticas diferenciadas dos tempos modernos". Nesse sentido, podemos apreender que:

a) ( ) O teatro surge da própria necessidade dos homens se expressarem.

b) ( ) O teatro só tem início na Grécia Antiga.

c) ( ) O teatro sempre esteve atrelado aos textos, por isso só passou a existir com a escrita.

d) ( ) O teatro é condicionado à relação entre atores e espectadores e, por isso, necessita de um edifício teatral para que possa se estabelecer.

3 A descoberta de artefatos arqueológicos tem sido, em grande medida, fonte para o conhecimento sobre a cultura que a humanidade desenvolveu ao longo do período pré-histórico. Sabemos que as comunidades primitivas se estabeleceram em diversos territórios ao longo de um período extenso, fazendo

AUTOATIVIDADE

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TÓPICO 2 —

UNIDADE 1

O TEATRO NA GRÉCIA ANTIGA

1 INTRODUÇÃO

Se a história nos mostra que as manifestações teatrais são tão antigas quanto a própria humanidade, nos informa também que foram os gregos que criaram a nomenclatura teatral, e nos possibilitaram, por meio dos registros escritos, ter acesso a toda uma estrutura cênica que ainda hoje são estruturantes para as formas como pensamos e fazemos teatro dos nossos dias.

FIGURA 3 – PAPIRO CONTENDO TRECHO DO CORO DE ORESTES (EURÍPIDES), 200 a.C.

FONTE: <http://docplayer.com.br/docs-images/68/59726866/images/7-0.jpg>.

Acesso em: 4 jun. 2021.

Entretanto, de que forma a teatralidade grega transitou do teatro primitivo para as apresentações nos moldes palco e plateia? Ao longo dos tempos, os refinamentos expressivos propiciaram a transformação das antigas narrativas e das cerimônias ritualísticas em verdadeiros atos cívicos, nos quais as questões fundantes dos povos gregos tornaram-se matéria-prima para o exercício estético.

Vale lembrar que a origem da palavra estética, assim como muitos outros termos do vocabulário artístico, é grega, e pode ser traduzida, como ciência do belo. Uma beleza compreendida como sublime, possível de ser vista e sentida.

O termo teatro tem origem na palavra grega (theatron), e significa “local onde se vê” ou “lugar para olhar”. Interessante observar que também em outras regiões a compreensão do teatro tem vínculo com lançar um olhar para questões coletivizadas para acessar as subjetividades, numa espécie de contemplação.

(19)

UNIDADE 1 — A ORIGEM DO TEATRO E SUAS PRIMEIRAS MANIFESTAÇÕES

Assim, por exemplo, na Mesopotâmia, a ideia do teatro, num primeiro momento, vai dizer respeito aos ritos de encontros com os deuses descidos à terra; no Egito, esteve ligado a uma espécie de ritual mágico-mítico, mitológico, de cunho farsesco; na Pérsia, às lendas originárias, na Turquia aos rituais xamânicos e as crenças relativas às divindades da Ásia Menor e na Índia, às danças dramáticas produzidas em homenagem aos deuses.

Os registros das manifestações teatrais na Grécia ocorreram por volta do século 550 a.C., principalmente em Atenas. Tais eventos se estabeleceram nas comemorações e nos festivais, em celebrações grandiosas em louvor e homenagem a Dioniso, divindade grega relacionada às uvas, ao vinho, e às festas e a fertilidade.

Essas celebrações mitológicas chegaram a durar semanas. Nelas havia procissões, onde um coro, formado por homens livres, cantavam, dançavam, bebiam e representavam, utilizando máscaras e vestimentas especiais. Na Antiga Grécia, somente os homens detentores de terras eram considerados livres.

Mulheres e escravos não participavam das atividades teatrais, da mesma forma como não participavam de outras atividades da polis (cidade em grego).

Nas cerimônias havia cânticos, danças e representações. Dioniso, a divindade do vinho, era personificado como um bode. Os gregos se fantasiavam com roupas de pele de cabra e folhas de parreiras na cabeça. As procissões tinham um aspecto cívico religioso, em forma de drama frequentemente imposto pelos deuses, pelo destino ou pela sociedade, caracterizado pela sua seriedade e dignidade.

Nos festivais os textos dos dramaturgos premiados eram lidos publicamente.

O coro lia em uníssono (em um único tom vocal). Atribui-se a Téspis de Icária o título de primeiro ator da história. Téspis viajava com um carro (Carro de Téspis) levando o teatro pelas cidades da Grécia. Em síntese Téspis foi um homem grego, que em 534 a.C., utilizou uma máscara e interpretou Dioniso, proferindo o texto em primeira pessoa. Essa atitude chocou muitos espectadores, pois, até então, ninguém havia tido a coragem de encenar um símbolo divino. Téspis também é conhecido como o primeiro diretor de coro (corifeu) e dramaturgo.

A evolução final do ditirambo cantado para o texto recitado e dialogado teve como base “Os Cantos” de Homero que narravam as histórias mitológicas de deuses, semideuses e heróis gregos. Essa passagem favoreceu o surgimento dos festivais, que chegaram a reunir mais de 20 mil participantes.

Além de ser um evento que reunia a pólis grega, graças aos festivais herdamos uma série de textos dramatúrgicos dos autores premiados nesses eventos, entre eles temos os trágicos: Èsquilo, Sófocles e Eurípides e os cômicos Aristófanes e Menandro. As obras desses dramaturgos, assim como a "A poética de Aristóteles"

(20)

TÓPICO 2 — O TEATRO NA GRÉCIA ANTIGA

Devido a circunstâncias socioeconômicas e influência de outras sociedades, uma conjunção de fatores geográficos e históricos, os gregos transformam situações sociais, políticas e mitológicas em enredos cênicos, dando um tratamento diferenciado aos acontecimentos.

2 MITOLOGIA GREGA

A sociedade grega, assim como outros povos da antiguidade, tinha, na tradição oral – que passava de geração em geração –, narrativas que explicam todas as coisas existentes, essas histórias acabaram por dar origem aos "mitos''.

Como nos explica o pesquisador Junito Brandão (1985, p. 36) "[...] o mito expressa o mundo e a realidade humana". O estudo dos mitos elaborados coletivamente determina a mitologia de um povo, de tal forma que podemos entender que a mitologia consiste em um sistema de crenças composto por uma série de narrativas. Essas histórias buscam atribuir sentido e explicar as origens dos fenômenos naturais e, ainda, elaboram justificativas para as questões mais relevantes de uma determinada sociedade.

As fontes são bastante controversas quanto à origem do deus Dioniso, como mostra José Antônio Dabdab Trabulsi (2004, p. 63) i: "[...] Segundo Heródoto (II, 49), o culto de Dioniso veio do Egito, por intermédio de fenícios, estabelecidos com Cadmo da Beócia. Heródoto assinala ainda (II, 145) que, diferentemente do que os egípcios pensavam de Osíris, os gregos consideravam Dioniso uma divindade menos tradicional, quando comparado aos demais deuses gregos”.

Esse fato fez com que por muito tempo o culto ao Deus Dioniso ocorresse de forma clandestina e pouco aceita pela elite grega.

Conforme nos informa Eurípides, em sua tragédia "Bacantes" (2003, p.

13-24), o culto em adoração ao Deus Dioniso tem origem na Lídia e na Frígia.

A tradição dionisíaca percorreu muitos outros países antes de chegar a Tebas.

Dioniso, segundo a mitologia, foi fruto de uma relação extraconjugal entre o Deus Zeus e a princesa tebana Sêmele (que era uma mortal). Hera, tendo descoberto sobre a amante de Zeus, levou Sêmele à morte. Zeus recolheu o filho do ventre da amante morta e o colocou na sua própria coxa, até o final da gestação. Nascido

As festividades gregas foram evoluindo tanto nos aspectos da organização do evento quanto na elaboração da linguagem teatral, passando a ter enredo, atores, plateia, encenação, gênero e até uma teoria sobre o que foi produzido, como nos mostra a obra "A poética", de Aristóteles.

IMPORTANTE

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UNIDADE 1 — A ORIGEM DO TEATRO E SUAS PRIMEIRAS MANIFESTAÇÕES

o filho, Zeus o entrega aos cuidados de Sátiros e Ninfas do Monte Nisa. Lá, em uma sombria gruta, Dioniso cresceu, cercada de frondosa vegetação, e em cujas paredes se entrelaçaram galhos de viçosas videiras, onde pendiam maduros cachos de uva.

Certa vez, Dioniso colheu cachos das atrativas uvas, espremeu as frutinhas em taças de ouro e bebeu o suco em companhia de sua corte. Todos ficaram então conhecendo o novo néctar: o vinho. Bebendo-o repetidas vezes, Sátiros, Ninfas e Dioniso começaram a dançar vertiginosamente, ao som dos címbalos, embriagados até caírem em semiconsciência. Dioniso, não era um deus estático, era um deus epidêmico, nômade e migrante. O autor Marcel Detienne (1988) refere-se a Dioniso como um estrangeiro (provavelmente, asiático) perseguido pelo poder oficial.

Todos os anos, no final das colheitas de uvas, eram feitos festivais, em Atenas e por toda Ática, em que os participantes se embriagavam, começavam a cantar e dançar até ficarem inconscientes. Esses excessos eram contrários à religião e à aristocracia da pólis, onde os deuses do Olimpo estavam sempre prontos para aniquilar mortais entusiasmados, que rompiam com a ordem ética, política e social.

Algumas facetas do rito não seriam aceitas por parte da população, e muitos cultos deveriam ser praticados nos bosques, longe dos olhos do poder oficial, transformando assim Dioniso em uma divindade ctônica, ou seja, vinculado à terra, aos bosques e às florestas.

As mênades, também conhecidas como bacantes, eram as principais sacerdotisas do deus Dioniso; estas mulheres que saíam errantes pelos bosques, praticavam nos cultos dionisíacos atos orgásticos, com a presença de cortejos com falos gigantes, danças, músicas, e consumo de bebidas, que as tornavam malvistas pelo poder oficial. Vale lembrar que mesmo na evolução das manifestações cênicas em louvor a Deus Dioniso, as mulheres permaneceram apartadas do teatro grego, por não serem consideradas cidadãs das pólis (cidades gregas). Sendo que os bosques, as florestas distantes do convívio da elite grega permaneceu sendo o espaço para as celebrações dionisíacas clandestinas.

FIGURA 4 – REPRESENTAÇÃO DE UMA CERIMÔNIA DAS MÊNADES

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TÓPICO 2 — O TEATRO NA GRÉCIA ANTIGA

Faziam parte dos rituais, em honra e glória ao deus Dioniso, que os devotos da divindade, se expressassem por meio de uma dança vertiginosa. O entusiasmo era tamanho que, por vezes, os devotos caiam de tanto dançar. O estado alterado pelo entusiasmo continha a centelha daquilo que hoje chamamos de ator.

Nessas celebrações eram frequentes a presença das procissões e dos ditirambos. Os ditirambos eram cantos líricos entoados com o auxílio de fantasias e máscaras, sendo essenciais para representação do deus e para tornar a peça mais convincente. Pouco depois, essas manifestações evoluíram para a forma de representação inteiramente cênica, dando origem ao teatro, influenciando outros povos e tornando-se referência para cultura ocidental.

3 A POÉTICA DE ARISTÓTELES

A Poética (do grego antigo: Περὶ ποιητικῆς; e em latim poiétikés, de onde se origina o termo em português) trata-se de um compilado de aulas produzidas pelo filósofo Aristóteles, entre os anos 335 a.C. e 323 a.C. Nesses escritos, Aristóteles se dedica a pensar a arte e a poética produzidas na Grécia Antiga contemporânea ao período em que produzia seu tratado filosófico.

Na série documental "Grandes Mitos Gregos", do canal Curta Brasil, os mitos são abordados por meio de uma viagem no tempo de belíssimas produções artísticas.

Acesse www.canalcurta.tv.br e aproveite! Caso queira outras indicações de filmes sobre a cultura mitológica grega, basta acessar: https://guiadoestudante.abril.com.br/estudo/11- filmes-e-series-para-quem-e-fa-de-mitologia-grega/.

DICAS

"A Poética" de Aristóteles é uma obra de domínio público de fácil acesso em variados sites. No entanto, um estudo feito em 2006, de Alessandro Barriviera, apresenta tradução da Poética de Aristóteles, acompanhada do texto grego e notas. Ficou interessado?

Confira em: http://repositorio.unicamp.br/jspui/handle/REPOSIP/268984.

DICAS

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UNIDADE 1 — A ORIGEM DO TEATRO E SUAS PRIMEIRAS MANIFESTAÇÕES

FIGURA 5 – ESCULTURA DO ROSTO DE PLATÃO

FONTE: <https://static.todamateria.com.br/upload/pl/at/platao-cke.jpg>. Acesso em: 4 jun. 2021.

Nascido em 384 a.C., em uma cidade da Macedônia denominada Estagira, Aristóteles foi um dos discípulos de Platão e se tornou, junto com seu mestre, um dos maiores filósofos da Grécia Antiga. Ao contrário de Platão, via a imitação como um exercício importante para se perceber e, portanto, refletir sobre o mundo.

A partir do tratado de Aristóteles podemos compreender que a tragédia teve um importante papel para a antiga civilização Grega, funcionando para os espectadores como uma espécie de pedagogia teatral coletiva, conforme bem define o pesquisador Junito Brandão: "É, pois, a tragédia a imitação de uma ação, séria e completa, dotada de extensão, em linguagem condimentada, para cada uma das partes (imitação que se efetua) por meio de atores e não mediante narrativa e que se opera, graças ao terror e à piedade, à purificação de tais emoções" (BRANDÃO,1985, p. 12).

Diz Aristóteles que, na tragédia, o protagonista, com suas características e méritos exaltados, através da compaixão e do terror, por meio de uma relação empática com o público, tem o potencial de provocar a catarse.

IMPORTANTE

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TÓPICO 2 — O TEATRO NA GRÉCIA ANTIGA

As contribuições desse tratado ultrapassaram a produção de uma série de reflexões, entre outros assuntos, sobre a arte, a denominada "Tecné" dedicada ao exercício do equilíbrio e da perfeição; as implicações das mimesis como a arte da imitação; as diferenças entre o teor da tragédia e da comédia; a importância das unidades de tempo e de espaço para o estabelecimento da ação; ou ainda a função da purificação das almas por meio da catarse, se configurando sobretudo, em um documento histórico sobre as relações do homem grego com o universo imaginário.

4 A TRAGÉDIA E OS TRÁGICOS GREGOS: ÈSQUILO, SÓFOCLES E EURÍPEDES

Com o passar do tempo as celebrações dionisíacas, que ocorriam nas encostas das montanhas, foram ganhando mais projeção, o que exigiu maiores refinamentos em relação aos modos de compartilhar os enredos, assim como as representações e as estruturas cênicas que envolvem a relação palco-plateia. De tal forma, que as apresentações passaram a ocorrer nas encostas de uma montanha, de forma a favorecer a boa acústica, ao ar livre, em uma espécie de praça, onde se estabelecia uma divisão entre atores e espectadores.

Com relação à arquitetura teatral, sabemos que a disposição da cena ocorria por meio de uma semiarena. A plateia era formada com bancos de madeira e posteriormente, com bancos de pedra. Os atores se apresentavam no proscênio.

FIGURA 6 – PLANTA BAIXA, CONTENTO OS PRINCIPAIS ELEMENTOS DO TEATRO GREGO

FONTE: <https://bit.ly/3AvE5H8>. Acesso em: 4 jun. 2021.

Podemos entender a catarse como objetivo real da ação trágica, que conduz a purificação da culpa, uma espécie de reparação que se estabelece por meio do reconhecimento dos erros. Aristóteles esclarece que a especificidade da condensação das emoções diz respeito exclusivamente ao terror e à piedade e não a todas as paixões que carregamos em nossa alma.

ATENCAO

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UNIDADE 1 — A ORIGEM DO TEATRO E SUAS PRIMEIRAS MANIFESTAÇÕES

Havia um espaço destinado à orquestra onde o coro realizava a sua interpretação (era circular em terra batida ou com lajes de pedra situada no centro das bancadas). Um espaço denominado "skené", logo atrás da orquestra, tinha inicialmente a função de servir como um espaço destinado a proteger as trocas de roupas dos atores, posteriormente, passou a funcionar como o que hoje conhecemos por cenário, e servia para representar a fachada de um palácio ou templo.

FIGURA 7 – TEATRO DE EPIDAURO, SÉC. IV A.C. (350 a.C.)

FONTE: <https://bit.ly/3tX0k6n>. Acesso em: 4 jun. 2021.

As apresentações teatrais gregas eram compostas por vários elementos cênicos, tais como cenários e figurinos. Suas apresentações incluíam músicas, danças e mímicas que eram avaliadas por um júri. A realização dos concursos de autores dramáticos, reunia muitos espectadores. À medida que esses eventos foram evoluindo surgiram os diretores de coro, que tinham a função de ensaiar as leituras e organizar as procissões. Um júri composto por cinco pessoas importantes da aristocracia se responsabilizava por premiar os textos que seriam apresentados publicamente em eventos subvencionados pelo Estado, que tinham o potencial de alterar totalmente a rotina das polis (cidades), conforme bem sintetizam Jean- Pierre Vernant e Pierre Vidal-Naquet (1999).

A tragédia não foi apenas uma forma de arte, representou uma instituição social. Durante os concursos trágicos, a cidade tinha toda sua rotina alterada, mesmo os órgãos políticos e judiciários interrompiam os atendimentos durante os festivais. Instaurado sob a autoridade do arconte epônimo, no mesmo espaço urbano e segundo as mesmas normas institucionais que regem as assembleias ou tribunais populares, os grandes festivais apresentavam espetáculos abertos a todos os cidadãos. Essas apresentações eram dirigidas, desempenhadas e julgadas

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TÓPICO 2 — O TEATRO NA GRÉCIA ANTIGA

Todos os papéis dos espetáculos eram apresentados pelos homens, em função disso, o uso de máscaras esculpidas em madeira e pedras se tornava indispensável à caracterização cênica, pois a distinção dos gêneros feminino e masculino, bem como as faixas etárias (jovem e idoso) eram definidas por meio de diferentes características das máscaras.

Vale lembrar que um mesmo personagem, como o próprio Dioniso tinha uma série de máscaras distintas para representar suas emoções.

Os principais temas eleitos para construir as fábulas teatrais gregas giravam em torno do cotidiano social, problemas emocionais e psicológicos, lendas e mitos, homenagem aos deuses gregos, fatos heroicos, guerras e críticas políticas. O teatro torna-se uma síntese das artes, poesia e ação dramática, suplementadas pelas demais artes, resultando em um poderoso recurso para a expressão da experiência e dos pensamentos humanos. A evolução da forma das apresentações proporcionou a introdução de enredos fictícios, de conteúdo amplamente humano, possibilitando a transição do ritual para arte. Assim, dois gêneros foram estabelecidos no teatro grego: a tragédia e a comédia.

FIGURA 8 – DIVERSAS EXPRESSÕES FACIAIS DAS MÁSCARAS UTILIZADAS NO TEATRO GREGO

FONTE: <https://static.todamateria.com.br/upload/ma/sc/mascarasgregas.jpg>.

Acesso em: 10 ago. 2021.

A origem do nome Tragédia vem dessas celebrações: a palavra tragédia vem da palavra grega “tragoide”, que significa o canto do bode. Se caracteriza pela morte do herói, justificada pelas leis, pelo destino, pelo castigo dos deuses. Numa representação da memória coletiva. Ao mesmo tempo que a tragédia tem um caráter cívico e pedagógico, a organização do enredo tem por objetivo provocar a catarse, que conforme vimos tratar-se de uma comoção coletiva que promove uma espécie de alívio público, nos espectadores.

Eis aí o enquadramento trágico: a tragédia só se realiza quando o métron (medida de cada um) é ultrapassado (êxtase, entusiasmo). No fundo, a tragédia grega, como encenação religiosa, é o suplício do leito de Procusto contra todas as desmesuras (violências). E mais que isto:

como obra-de-arte, a tragédia é a desmistificação das bacchi.analid. Eis aí porque o Estado se apoderou da tragédia e fê-la um apêndice da religião da política da polis (BRANDÃO, 1984, p. 12).

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UNIDADE 1 — A ORIGEM DO TEATRO E SUAS PRIMEIRAS MANIFESTAÇÕES

FIGURA 9 – MÁSCARA TRÁGICA. DIONISO. MYRINA SÉC II A.C.

FONTE: <https://bit.ly/3lJnvNQ> Acesso em: 10 ago. 2021.

As tragédias eram compostas por cinco atos, nos quais os personagens eram deuses, reis ou heróis, que viviam situações e conflitos trágicos, podendo ou não alcançar a redenção. Nesse gênero, destacaram-se Ésquilo, Sófocles e Eurípides.

Quando o herói (um príncipe ou governante) cometia uma violência a si próprio e aos deuses imortais, ocorria a falha trágica, que coloca o herói em situação de competição com os deuses, atraindo para si a catástrofe. A punição é imediata:

contra o herói é lançada a cegueira da razão, tudo que o fizer realizá-lo-á contra si mesmo. Segundo, Brandão (1985), de forma semelhante às tradições mitológicas a infelicidade permanece presente na estrutura da tragédia, uma vez que:

"[...] Todos os mitos são, em sua forma bruta, horríveis e, por isso mesmo, trágicos. As cenas são dolorosas, que tem um desfecho, as mais das vezes, trágico, infeliz. A tragédia é, não raro, a passagem da boa à má fortuna. Aristóteles expressa que todas as paixões, todas as cenas dolorosas e mesmo o desfecho trágico são mimese, "imitação", apresentados por via do poético, não em sua natureza trágica e brutal, não são reais, passam-se num plano artificial, mimético. Não são realidade, mas valores pegados à realidade, pois arte é uma realidade artificial”.

No gênero trágico destacaram-se Ésquilo, Sófocles e Eurípides.

IMPORTANTE

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TÓPICO 2 — O TEATRO NA GRÉCIA ANTIGA

FIGURA 10 – ESCULTURAS DE ÉSQUILO, SÓFOCLES E EURÍPEDES

FONTE: <https://bit.ly/2VZq1GJ>. Acesso em: 10 ago. 2021.

Ésquilo (525-456 a.C.), o primeiro dramaturgo trágico reconhecido nos dias de hoje, foi quem conferiu grandeza e esplendor ao gênero trágico. Empregou máscaras expressivamente pintadas em resposta às exigências dos personagens de suas tragédias. Quando estas tornavam-se progressivamente mais complexas, decorava o palco onde as ações eram desenvolvidas, com objetos cênicos requeridos por cada uma das peças em particular.

Ésquilo ficou conhecido por valorizar o potencial das pausas de efeito, e as usava com uma frequência que inspirou Aristófanes a citar esse fato em As Rãs. Também fez progredir a dança trágica, desenvolvendo grande variedade de posturas e movimentos, treinava seus próprios coros.

O padrão do primeiro grande dramaturgo, tal como o de diversos de seus companheiros posteriores, foi o de estar sempre colocado entre dois mundos ou princípios. Suas personagens, eram mais heróis que homens, seu drama é uma luta desesperada entre as trevas e à luz, entre a agonia e o terror, em uma busca desesperada de uma conciliação entre o destino e o princípio de justiça.

Ésquilo, deu prioridade aos diálogos, aumentando de um para dois o número de atores e reduzindo a importância do coro. “... Os gregos consideravam Ésquilo como um homem intoxicado de deuses que conseguia seus efeitos por inspiração;

segundo Sófocles, ele fazia "o que devia fazer, mas o fazia sem sabê-lo"... (GASSNER, 1991, p. 23).

• Das suas obras premiadas, chegaram até nós:

A trilogia Oréstia (composta por Agamenon, Coéforas e Eumênides), A Oréstia de Ésquilo, encenada em 458 a.C., consta de três tragédias de assunto correlato: Agamêmnon, Coéforas e Eumênides.

É a única trilogia ligada, que nos chegou do Teatro grego, em que Sófocles e Eurípides vão focalizar o mesmo assunto em uma única tragédia, Electra. Quando se pode ver a diferença básica entre os três grandes trágicos: Ésquilo elabora suas

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UNIDADE 1 — A ORIGEM DO TEATRO E SUAS PRIMEIRAS MANIFESTAÇÕES

personagens em função da fábula e, por isso mesmo, suas tragédias nunca têm um fim, constituindo-se realmente numa obra aberta; em Sófocles e EurÍpides, ao revés, o drama completa-se, já que a fábula existe em função das personagens.

Os persas, inspirado na invasão da Grécia pelos persas, em 480 a.C., a obra descreve a vitória dos atenienses na batalha de Salamina e com ela conquistou sucesso em uma competição literária.

• Trilogia Tebana

Sabe-se que a obra era composta de “Laio”, “Édipo” e “Sete Contra Tebas”, mas apenas o último texto foi preservado. O texto trágico “Agamenon” que narra a morte do herói grego, assassinado pela esposa Clitemnestra e seu amante Egisto, após seu retorno vitorioso de Troia; A peça “As Coéforas” conta a vingança de Orestes, filho de Agamenon. Informado do crime pela irmã Electra, Orestes mata Clitemnestra e o amante. Na terceira peça, “As Eumênides”, ou “As Benevolentes”, Orestes é julgado e absolvido pelo areópago, o grande tribunal de Atenas, restituindo a honra de trazer luz e paz ao mundo assolado pelos fantasmas e pela vingança.

Outra trilogia, com data desconhecida, é composta por: “Prometeu Acorrentado”, “Prometeu Libertado” e “Prometeu Portador do Fogo”. Prometeu Acorrentado foi a única que sobreviveu e constitui um belo canto à liberdade e aos dilemas da condição humana, encarnada por um Prometeu que, apesar de todas as adversidades, se nega a curvar-se diante dos deuses.

Em síntese, o teatro de Ésquilo é um drama sem esperanças e promessas.

O sofrimento é uma página de sabedoria, a dor redime e concilia, concluindo de que é o mal no homem e não a inveja dos deuses que destrói a felicidade.

Sófocles (497 – 406 a.C.), nascido em Colono, cidade perto de Atenas, por volta de 497 a.C., filho de um rico fabricante de armaduras, teve oportunidade de uma boa educação. Com 16 anos, por sua beleza física, sua bravura e seu talento musical, foi escolhido para dirigir o coral aos deuses, para celebrar a vitória sobre os persas na batalha de Salamina.

Em 468 a.C. escreveu 123 peças para participar das competições dramáticas anuais das festas dionisíacas, obtendo nesse período 24 textos vitoriosos. As conquistas foram o marco inicial de uma carreira de sucessos.

A obra Sófocliana ficou reconhecida por abordar os desagradáveis temas da insanidade, da tortura e até do suicídio. De forma realista, retratou as pessoas nas suas mais amplas perspectivas, conseguindo o feito de expressar com serenidade, o caráter humano em um mundo ainda permeado pelo universo mítico.

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TÓPICO 2 — O TEATRO NA GRÉCIA ANTIGA

Em suas tragédias encontramos a adição de um terceiro ator interlocutor ao drama ático, de forma distinta à Èsquilo descartou a trilogia em suas produções. Enquanto Èsquilo usava três tragédias para contar uma história, embelezando-as com partes líricas irrelevantes, Sófocles usava apenas uma peça para cada trama e consequentemente era obrigado a confiar nela toda ação. A forma abreviada oferecia maiores possibilidades dramáticas, impulsionando uma maior teatralidade.

Entre os trágicos que temos acesso, Sófocles surge como o primeiro escritor a incorporar aspectos cômicos em suas tragédias, o que conferiu as mesmas amplitudes de emoções e distinção em relação às demais as produções do período. Sófocles tornou-se popular ainda em vida, reconhecido pela arte de sustentar o "suspense trágico", do qual Édipo Rei é um exemplo supremo.

Suas tragédias apresentam personagens, que se destacam pela determinação e poder, dotados de defeitos ou virtudes fortemente delineadas.

Essas qualidades agem sobre um conjunto de circunstâncias que esbarram em um acontecimento trágico, desenha seus personagens, principalmente as mulheres trágicas, como "Electra e Antígona", com compaixão e vigor. O tema principal era o destino do personagem central, do herói que sofre (hybris) e é destruído.

Inovou a técnica e a construção do teatro grego de seu tempo, quando acrescentou um terceiro ator aos dois já empregados por Ésquilo, permitindo ampliar o número de personagens, uma vez que um ator desempenhava vários papéis.

Aumentou também o número de participantes do coro, que de 12 passou para 15 membros e deu a ele um caráter independente, recurso depois ampliado por Eurípides. Fez uso de um verso mais rítmico e articulado, elevando a tragédia à perfeição artística, operando mudanças no gênero. Adicionou mais ação às tramas e potencializou a decoração e o figurino dos atores.

Quanto as suas obras, restaram apenas sete completas: Ajax, Antígona, Édipo Rei, as traquinas, Electra, Filoctetes e Édipo em Colono.

Entre essas, a mais antiga é “Ajax” (450 a.C.), ainda muito influenciada pelo estilo de Ésquilo. Na sequência surgem: “Antígona” (442 a.C.), “Édipo Rei” (430 a.C.) “Electra” (425 a.C.), “As Traquínias” (420-410 a.C.), “Filoctetes” (409 a.C.) e

“Édipo em Colonos” – o final poético da tragédia de Édipo, representada em 401 a.C., após sua morte:

De forma geral, a obra de Sófocles nos convida ao equilíbrio, ao uso do bom senso. Assim, por exemplo, a luta entre o velho e o novo tempo, será a base para Antígona, uma tragédia em torno da rivalidade entre o Estado e a consciência individual de uma mulher. A Protagonista Antígona perde sua vida de possíveis privilégios, mas não ousa desacatar suas convicções morais.

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UNIDADE 1 — A ORIGEM DO TEATRO E SUAS PRIMEIRAS MANIFESTAÇÕES

Já em Édipo Rei, peça considerada a obra-prima de Sófocles, a ação trágica se desenvolve em torno da cegueira do filho do rei de Tebas e sua dificuldade em compreender as profecias de um destino que previa que ele se casaria com a própria mãe e mataria seu próprio pai. Séculos mais tarde, Freud, ao criar os fundamentos da psicanálise, inspirado no conflito dessa tragédia, denominará como “complexo de Édipo” o desejo humano incosciente de possuir o progenitor do sexo oposto, ao mesmo tempo em que se estabelece uma rivalidade em relação ao genitor do mesmo gênero.

Eurípides (484-406 a.C.)

Eurípides nasceu em Salamina, Grécia, por volta de 484 a.C., considerado por um lado, excêntrico para os padrões da Grécia do seu período, e de forma distinta de Sófocles, bem pouco popular, foi tido por Aristóteles como o mais trágico dos poetas.

Teve sua vida particular exposta por acusações, envolvendo boatos de traição e dificuldades de conviver com mulheres. Foi julgado com impiedade em sua vida privada e teve suas inovações dramatúrgicas mal compreendidas. Sendo inclusive alvo de críticas de seu colega de ofício, o cômico Aristófanes.

Diante de uma série de repúdios, Eurípedes abandonou a cidade de Atenas totalmente desacreditado, e se instalou em Macedônia, na corte do rei Arquelau, onde passou os últimos dias de sua vida. A notícia de sua morte chega ao grande público no festival de Dioniso por meio de uma homenagem que o dramaturgo Sófocles realizou em reconhecimento à relevância de sua obra.

Eurípedes havia dedicado cinquenta anos de sua vida ao ofício de dramaturgo teatral, produzindo nesse período noventa e duas peças, com as quais conquistou apenas cinco prêmios, um dos quais foi concedido postumamente.

Com relação a sua obra, é possível afirmar que as peças de Eurípides tinham a capacidade de manter os ensinamentos dos exilados. A aceitação de suas propostas se justifica no fato de que as heresias proferidas em sua obra, geralmente, eram expressas por suas personagens e não pelo próprio autor. Além disso Eurípides, cuidava de apresentar sua filosofia em um molde tradicional.

Uma de suas estratégias, era empregar deuses em seus prólogos e epílogos. A aparição dessas entidades era mais frequente do que nas obras de seus predecessores, aparentando um caráter mais formal que o próprio tradicional Ésquilo. Seus esforços em dourar as pílulas mais amargas levaram-no à inclusão de solos que mantêm relação incerta com a ação dramática e servem apenas para excitar os sentidos ou induzir a uma morna aquiescência ao drama como todo.

O desejo de equilibrar tradição e inovação estrutural, irá prejudicar as Unidades

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TÓPICO 2 — O TEATRO NA GRÉCIA ANTIGA

Conforme sintetiza Gassner (1991), a produção euripidiana: “Conseguiu criar o mais vigoroso realismo e crítica social da cena clássica”, criando personagens profundamente humanos, inserindo temas inovadores e modernos, privilegiando as mulheres e promovendo as ao status de heroínas. Em Eurípides, as personagens femininas, ao contrário dos homens, em geral fracos, concentram coragem e ternura, ódio e paixão.

Os elementos da encenação ganham mais destaque no teatro de Eurípedes.

Já o coro perde potência passando a se expressar indiretamente. Constrói um prólogo inicial com o objetivo de fornecer esclarecimentos adicionais às tramas.

E para as soluções improváveis utiliza uma série de peripécias conhecidas como

“deus ex-machina” a fim de solucionar os conflitos do enredo. Sua escrita inovará tanto na abordagem das variadas formas de amor como nas narrativas de deuses e heróis da Grécia, numa versão humanizada.

“O povo simples começou a aparecer em suas peças e seus heróis homéricos socialmente superiores eram, com frequência, personagens anônimos ou desagradáveis. Seus Agamenon e Menelau são, positivamente, anti-heróis, como se desejasse mostrar aos espectadores, o que era na realidade, eram os heróis militares convencionais. Outras personagens homéricas como Electra e Orestes são até hoje casos caros à clínica psiquiátrica. Ademais, Eurípides, é o primeiro dramaturgo a dramatizar conflitos internos do indivíduo sem atribuir a vitória final aos impulsos mais nobres. Como exemplos de personalidades divididas, em Medeia, quando a esposa enganada luta entre o amor pelos filhos e o desejo de punir o pai deles, Jasão, matando-os; e em Alceste, quando Admeto oscila entre amor à vida e afeição pela esposa, cuja morte é a única coisa capaz de salvá-lo. Algumas vezes o elemento psicológico chega mesmo a transcender o caso individual e torna-se amplamente simbólico; Hipólito e As Bacantes colocam a questão de quão longe pode ir um homem na negação das exigências de alguma força vital superior como a sexualidade e a liberação emocional, sem ser finalmente destruído por ela, quando esta assume seu poder"

(GASSNER, 1991, p. 68-69).

As peças de Eurípides concorrem em vinte dois festivais, mas apenas dezenove tragédias e alguns fragmentos de outras obras foram resgatadas. A primeira tragédia de Eurípides, “As Pelíadas”, obra que não chegou até nós, foi apresentada no festival de teatro ateniense, em homenagem a Dioniso, em 455 a.C. Entre as suas tragédias reconhecidas estão: Alceste, Medeia, Andrômaca, As Troianas, Ifigênia em Táurida, Electra, Orestes e As tocantes e ainda um drama satírico denominado: O Ciclope. Nessas obras permanecem constantes a temática política.

Entre as obras mais conhecidas de Eurípedes, sem dúvidas, merece destaque a peça Medeia (431 a.C.). Nela, o autor deu vida a um dos personagens mais representados no teatro universal. Medeia é a esposa traída e abandonada, que para se vingar do marido infiel, mata sua rival e seus próprios filhos. O momento culminante da tragédia é a oração que dirige aos filhos. No ano 1975, no Brasil, os autores Chico Buarque e Paulo Pontes escrevem Gota d'água, uma transposição de Medeia para o contexto carioca.

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UNIDADE 1 — A ORIGEM DO TEATRO E SUAS PRIMEIRAS MANIFESTAÇÕES

Sobre as demais obras, temos: “Hipólito” 428 a.C., obra que inspirou as Fedras de Sêneca e as tragédias de psicologia feminina de Racine, entre elas, Ifigênia e Ester; “Heracle” (424 a.C.) é uma de suas tragédias mais aterrorizantes, depois de salvar sua família, o herói, em um acesso de loucura, mata o pai, esposa e filhos; Já

“As Suplicantes” (422 a.C.) narra a trajetória das mães dos sete heróis gregos mortos na batalha de Delion, cujo sepultamento é proibido por Creonte, rei de Tebas; “As Troianas” (415 a.C.) é uma obra essencialmente lírica e exalta o pacifismo. Em

"Electra" (413 a.C.) Eurípides retoma o tema do matricídio, já explorado por Ésquilo e Sófocles, revelando-se tecnicamente, nesse caso, superior aos seus predecessores.

FIGURA 11 – MÁSCARA GREGA CÔMICA DO SÉCULO II a.C.

FONTE: <https://bit.ly/2XDKpyd>. Acesso em: 10 ago. 2021.

A Comédia Grega se instaura como um desdobramento dos cantos invocados ao “Cosmos” que eram cânticos rituais nas procissões em honra ao Deus Dioniso, onde bandos festivos dançavam e cantavam pelos campos, embriagados pelo vinho, usando gestos obscenos e mímicas burlescas. De forma oposta a tragédia, trazia as questões terrenas da vida cotidiana, conforme esclarece o pesquisador Junito Brandão para quem a oposição da comédia à tragédia, ambas com a mesma origem, tendo a tragédia nascido meio século depois da tragédia, consiste na distinção de suas finalidades (BRANDÃO, 1985).

Algumas características marcantes originárias da Comédia Antiga, foram conservadas ao longo dos tempos, influenciando os textos poéticos construídos para serem dramatizados. Entre eles, destacam-se os elementos díspares: as farsas e o Kômos – que tanto pode ser popular, profano ou dionisíaco, como também religioso. Além disso, habitualmente encontramos na dramaturgia cômica um prólogo cuja influência se deve à própria tragédia e um debate no centro da peça de inspiração sofística, no qual muitas vezes o autor expressa seu ponto de vista sobre um determinado tema, diretamente, aos espectadores.

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TÓPICO 2 — O TEATRO NA GRÉCIA ANTIGA

costumavam se dirigir diretamente ao público. Nas encenações da comédia grega sempre existiam quatro atores e todos usavam máscaras. Os atores usavam roupas e sandálias parecidas com a dos cidadãos. A interação entre atores e espectadores era bastante acentuada, tornando os espetáculos cômicos bem mais participativos.

As apresentações cômicas contavam como na cena inicial de caráter expositivo, a fim de apresentar ao público os personagens, cenário e o enredo. Um coro, muitas vezes paramentado de forma alegórica e fantasiosa, com figurinos tais como de vespas, rãs, nuvens e pássaros, fazia sua entrada com uma canção, a procissão do coro grego e a passagem lateral de acesso ao palco eram chamados de parados. Os integrantes do coro podiam se apresentar divididos, em certos casos, em duas facções rivais.

Uma vez no palco, os vinte e quatro membros do coro cômico lá permaneciam durante toda a ação, nela participando de várias formas e gozando de muitas liberdades. Um ponto alto era a disputa ou agon, na qual duas personagens representando interesses ou pontos de vista opostos discutiam até que uma delas derrotava verbalmente a rival. Neste clímax, enquanto os atores se retiravam do palco, o coro voltava-se para a plateia e, marchando em sua direção de forma militar, tecia longas considerações sobre um determinado tema. Esse discurso, conhecido como parábase, emitia os pontos de vista do dramaturgo, algumas vezes chegava a proferir repreensões diretas para figuras eminentes da plateia.

Em determinada época, os enredos cômicos priorizaram a política grega, o que despertou muita polêmica. Nesse gênero são notáveis as criações do autor da comédia antiga (458 a 404 a.C.), Aristófanes. Ele retratava em suas peças o cotidiano do governo grego, a educação dos sofistas e a guerra.

Em outras fases, a vida privada ganhou mais espaço nas fábulas cômicas, e havia uma preponderância em retratar os laços familiares conturbados como, por exemplo, as deslealdades e traições abordadas pelo autor da comédia nova (340 a 260 a.C.) Menandro.

FIGURA 12 – BUSTO DO POETA GREGO ARISTÓFANES (COMÉDIA ANTIGA).

FONTE: <https://greciantiga.org/img/j/ji393.jpg>. Acesso em: 10 ago. 2021.

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UNIDADE 1 — A ORIGEM DO TEATRO E SUAS PRIMEIRAS MANIFESTAÇÕES

Ateniense do século V a.C., Aristófanes nos deixou onze comédias completas – e é somente através delas que podemos não apenas fazer um juízo da comédia ática, mas ainda e sobretudo um levantamento das ideias básicas do poeta cômico a frente da Grécia do seu tempo.

Os Atenienses gozavam de um fantástico espetáculo enquanto observavam o coro grotescamente vestido e os atores, algumas vezes compostos de modo a se parecerem com algum ilustre cidadão que se revelava um embusteiro e um papalvo. Fantasia, extravagância e franca bufonaria caracterizavam a estória que se desdobrava.

Galhofas, obscenidades [e injúrias] tais que fariam corar uma peixeira condimentavam o diálogo e as canções. Estes recursos atrairiam a ira da censura em qualquer parte do mundo atual (GASSNER,1991, p. 101).

Pouco se conhece sobre a vida de Aristófanes. Deve ter recebido cuidadosa educação, a julgar pela cultura que demonstra em suas obras e pelos ataques que faz contra a ignorância. Assinou as primeiras comédias com um pseudônimo, mas revelou sua verdadeira identidade depois de alcançar sucesso. Aristófanes era ligado ao partido aristocrático e combateu violentamente os demagogos Cléon e Hipérbolo, então dominantes na cidade.

A incontrolada liberdade da comédia foi consideravelmente reduzida com a ascensão dos aristocratas ao poder, justamente no período em que seu deu a produção do dramaturgo. De qualquer modo, criativamente, Aristófanes conseguiu adaptar-se às limitações, produzindo diálogos vivos e inteligentes.

Das quarenta peças que escreveu, chegaram até nós, integralmente, apenas onze textos. Das restantes, só conhecemos fragmentos, a comédia de Aristófanes alimentou um espírito especial e seguiu um padrão unicamente seu, especializando-se na sátira social e política, e é difícil encontrar um escritor de agressividade igual. Entre suas obras, destacam-se:

"As nuvens", cujo enredo traz uma crítica a seu suposto amigo Sócrates, como representante dos metafísicos e sofistas; "As vespas", com crítica está endereçada aos tribunais; "Lisístrata" na qual a temática circula em torno da guerra entre Ateniense e Espartanos (assunto bastante recorrente na obra de Aristófanes);

"As rãs", uma sátira dirigida ao dramaturgo Eurípedes; "A assembleia de mulheres" na qual o ator mais uma vez busca empoderar as mulheres, projetando uma realidade de mais igualdade; e sua obra prima "Os pássaros".

A Comédia "Os pássaros" narra as peripécias de uma dupla de idosos atenienses que, revoltados com o contexto político e bélico de sua cidade, passam a viver entre os pássaros A defesa de uma possível "soberania da cidade das aves entre as nuvens" é a base para uma sátira divertida sobre as utopias infundadas.

No período da morte de Alexandre Magno, durante um período de

Referências

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