INSTITUTO DE INVESTIGAÇÃO E FORMAÇÃO AVANÇADA ÉVORA, JANEIRO de 2016
ORIENTAÇÃO: João Carlos Pires Brigola
Tese apresentada à Universidade de Évora para obtenção do Grau de Doutor em História
António Jorge Botelheiro Carrilho
OS MUSEUS EM PORTUGAL
António Jorge Botelheiro Carrilho
Tese apresentada à Universidade de Évora para obtenção do Grau de Doutor em História, orientada pelo Professor Doutor João Carlos Pires Brigola
Évora, janeiro de 2016
Os Museus em Portugal
durante a 1.ª República
Tese apresentada à Universidade de Évora para obtenção do Grau de Doutor em História, realizada sob a orientação científica do
Professor Doutor João Carlos Pires Brigola.
Apoio Financeiro da Fundação para a Ciência e Tecnologia através do Programa de Financiamento POPH/FSE.
AGRADECIMENTOS
Não podemos deixar de agradecer a todos os que de algum modo nos deram ânimo para enfrentar os desafios que um trabalho deste tipo foi colocando ou contribuíram para o levar a bom porto.
Em primeiro lugar quero agradecer aos meus pais, Isaura e António Carrilho, que me deram não só o apoio moral mas também financeiro para prosseguir nesta aventura. Em segundo ao Luís, Freud, Zeus, Tita, Zorbas e Elvis, que compreenderam as minhas ausências e alheamentos em prol dos estudos necessários. Em terceiro aos meus primos Mário e Ausenda, que me abriram as portas da sua casa em Lisboa, onde tive que passar algumas temporadas para poder deslocar-me a vários museus, arquivos e bibliotecas. Em quarto aos meus primos Rui Miguel e Renata que me disponibilizaram a sua casa em Coimbra, para os mesmos efeitos. À Filomena Oliveira que fez o mesmo em Santarém, à Ana Sofia e ao Ricardo em Viseu, à Sofia Furtado e à Íris Oliveira pela sua paciência na leitura do trabalho, em busca das inevitáveis gralhas.
O meu agradecimento especial ao Doutor João Carlos Pires Brigola, mestre e amigo que me tem acompanhado desde o Mestrado em Museologia e que se prontificou a orientar-me neste desafio.
A minha gratidão aos Drs. Júlio Barroso e Joaquina Matos, que na qualidade de Presidentes da Câmara Municipal de Lagos, na qual exerço a minha atividade profissional, tornaram possível este projeto, concedendo-me as necessárias licenças sem remuneração.
Um particular obrigado:
- ao Professor Doutor Aires Oliva Teles, Presidente do Departamento de Biologia da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, pela disponibilização de documentação digitalizada.
- à Dra. Alexandra Braga, do Museu de Lamego, que nos facultou o levantamento documental feito por si própria para a sua tese de mestrado, relativo à correspondência expedida por aquele museu entre os anos de 1917 e 1974 e o cadastro geral das coleções elaborado em 1940.
- à Dra. Ana Maria Afonso, Diretora do Museu do Abade de Baçal, por me ter recebido e facultado a consulta da documentação.
- à Dra. Ana Maria Gaspar, do Arquivo Contemporâneo do Ministério das Finanças, que me acompanhou e deu preciosas orientações na pesquisa documental realizada.
- à Dra. Ana Paula Cardoso, do Museu Municipal Santos Rocha (Figueira da Foz), por me receber e facultar o acesso à documentação, na biblioteca especializada da instituição.
- à Dra. Ângela Pereira, da Divisão de Ação Cultural, Museus e Biblioteca da Câmara Municipal de Leiria, por me receber e pela ajuda facultada na busca e no acesso à documentação.
- à Sra. Angelina Pessoa, do Museu do Chiado, por me acompanhar na consulta da documentação e envio das fotocópias solicitadas.
- ao Dr. António Alegria, do Museu de Évora, por me ter recebido e facultado o acesso à Biblioteca da instituição.
- ao Sr. António Amaro das Neves, Presidente da Direção da Sociedade Martins Sarmento, pela disponibilização em formato digital de variadíssimos documentos. - à Dra. Carmen Calixto do Museu da Cidade de Lisboa, que me acompanhou nas pesquisas efetuadas naquele museu.
- à Dra. Celina Bastos e à D. Narcisa Miranda, do Museu Nacional de Arte Antiga, que me deram todas as facilidades na consulta da documentação necessária na Biblioteca daquele museu.
- aos Drs. Elsa Rodrigues e Pedro Campos de Oliveira, do Museu João de Deus, que cederam alguns documentos digitalizados, como artigos de jornais, relatórios de gerência e fotografias e o tratamento de dados relativos a despesas de aquisição daquele museu, retirados dos Relatórios de Gerência da Associação de Escolas Móveis e Jardins-Escolas João de Deus de 1917 a 1921, e dos Relatórios de Gerência da Associação de Jardins-Escolas João de Deus nos anos 1922 a 1926.
- à Dra. Filomena Gaspar, arqueóloga da Câmara Municipal de Abrantes, que facultou para consulta alguma documentação de arquivo da autoria de Diogo Silva Oleiro, primeiro Diretor do Museu D. Lopo de Almeida.
- ao Tenente Gonçalves Neves, do Museu de Marinha, por nos ter recebido e facultado o acesso à Biblioteca do Museu.
- à Dra. Isabel Cunha e Silva, Diretora do Museu D. Diogo de Sousa, que enviou digitalizações da parca documentação disponível sobre a história do museu anterior a 1980.
- ao Dr. João Alpuim Botelho, do Museu Municipal de Viana do Castelo, que facultou a sua Tese de Mestrado alusiva àquele museu.
- ao Dr. João Carlos Pereira Ribeiro da Silva, que facultou a sua tese de mestrado alusiva ao Museu de Arqueologia e Numismática de Vila Real.
- ao Prof. Doutor Joaquim Adelino Vicente, Responsável pela Biblioteca de Botânica da Universidade de Coimbra, pelas informações prestadas.
- ao Doutor José Manuel Brandão pela ajuda prestada na cedência de textos da sua autoria publicados em diversos títulos.
- ao Dr. Luís Bordalo, da Biblioteca Municipal de Lagos, que sempre me facilitou o acesso a alguns livros, muitas vezes excedendo os tempos regulamentados para a sua consulta domiciliária.
- à Dra. Madalena Cardoso Costa, técnica do Museu de Aveiro, que me acompanhou nas pesquisas no centro de documentação daquela instituição.
- à Dra. Maria de Jesus Monge, do Museu-Biblioteca do Paço Ducal de Vila Viçosa, pelas orientações facultadas e pela documentação cedida.
- aos Drs. Maria João Silveira e Duarte Melo, do Museu Carlos Machado, pela documentação disponibilizada.
- à Dra. Margarida Ramos do Arquivo Histórico da INCM, pelo acesso disponibilizado. - à Dra. Maria Helena Trindade, do Museu da Música, que colocou ao meu dispor o centro de documentação do museu.
- à Dra. Maria Cristina Duarte, do IICT, que me recebeu, disponibilizou alguma documentação relativa ao Jardim Colonial e Museu Agrícola Colonial.
- à Doutora Maria de Fátima Nunes, da Universidade de Évora, que me acolheu no Centro de Estudos de História e Filosofia da Ciência como unidade de investigação de acolhimento.
- à Doutora Maria Judite Alves, do Museu Nacional de História Natural e da Ciência, por me receber e facultar documentação original ou digitalizada.
- à Prof. Doutora Maria Teresa L. Andresen, do Departamento de Geociências, Ambiente e Ordenamento do Território da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, pelas pistas facultadas.
- ao Dr. Mário Gouveia, do Museu Rafael Bordalo Pinheiro, que me acompanhou nas pesquisas naquele museu.
- ao Dr. Miguel Narciso, do Arquivo Municipal de Leiria, pela disponibilização de documentos digitalizados.
- ao Dr. Octávio Patrício, arquivista do Arquivo Histórico Municipal João Francisco da Mouca, de Moura, por ter-nos disponibilizado a documentação para consulta.
- à Dra. Paula Leandro, do Aquário Vasco da Gama, que me acompanhou nas pesquisas na biblioteca daquele espaço.
- aos Drs. Paulo Gama da Mota e Maria do Rosário Martins, do Museu da Ciência da Universidade de Coimbra, pelas informações prestadas.
- à Dra. Sara Carvalho, ex Arquivista da Câmara Municipal de Lagos, que então me facilitou a consulta domiciliária de todo o corpo legislativo dos últimos anos da Monarquia e da República.
- ao Dr. Sérgio Gorjão (Diretor) e D. Elisa Sampaio do Museu Grão Vasco, por me terem recebido e facultado parte da documentação existente.
- à Dra. Sónia Alves, do Museu Municipal de Portalegre, por me receber e me orientar para a consulta de alguma documentação.
- ao Dr. Vítor Gens, do Arquivo do Museu Nacional de História Natural e de Ciência, pelo acompanhamento que nos dispensou na consulta da documentação.
Por fim e para evitar esquecimentos, agradeço a todos os profissionais de museus, arquivos e bibliotecas de norte a sul do país, que me ajudaram a aceder à documentação das formas mais cómoda e rápida possíveis.
RESUMO
Este trabalho procura perceber se houve ou não alterações significativas no panorama museológico nacional entre a Monarquia e a 1.ª República, apreciando as propostas do regime implantado em 5 de outubro de 1910.
Os Governos republicanos apresentaram profícuas propostas legislativas, condicionando as instituições museológicas a diversos domínios: Anticlericalismo e Laicismo; Nacionalização dos bens da Casa Real; Defesa do Património; Serviços Culturais; Educação; Criação e Regulamentação de Museus; Desenvolvimento Económico. Este intrincado sistema gerou a primeira rede museológica assente em museus de âmbito nacional e regional, arbitrada por instituições tutelares em que se movimentavam homens de grande influência na cultura portuguesa (exemplos de José de Figueiredo e António Augusto Gonçalves).
Em termos museográficos, os museus continuaram a privilegiar a exposição massiva de bens, especialmente dos domínios da Arqueologia e da Arte, embora comecem a surgir maiores preocupações com a conservação, exibição e divulgação. Neste contexto, o Museu Nacional de Arte Antiga assumiu uma posição de vanguarda.
A República intensificou o debate sobre o papel social, cultural, educativo e económico dos museus.
Palavras-chave: 1.ª República; Museus; Lei da Separação; Política Cultural; Conselhos
ABSTRACT
THE MUSEUMS IN PORTUGAL DURING THE 1ST REPUBLIC
This work aims to study the proposals of the Portuguese 1st Republic (started in October 5th of 1910) in what concerns museums, comparing them with those of the Monarchy. The 1st Republic Governments were highly prolific regarding museum legislation, in several domains, such as: anticlericalism and laicism; nationalization of the Royal House property; heritage defence; museum regulations; creation of new museums; cultural services; education policies; economic development. This system generated the first museum network constituted by national and regional museums, ruled by tutelary institutions. In this context, important figures of the Portuguese cultural panorama such as José de Figueiredo and António Augusto Gonçalves had a relevant role.
The massive exhibition of items, especially of Arts and Archaeology, was prominent, but an increase of conservation and divulgation can also be testified. The National Museum of Ancient Art has taken a lead in Museography.
The Republic intensified the debate about the social, cultural, educational and economic roles of the museums.
Keywords: 1st Republic; Museums; Separation Law; Cultural Policy; Art and Archaeology Councils.
ÍNDICE Pág. Dedicatória iv Agradecimentos v Resumo viii Abstract ix Índice x
Siglas e Abreviaturas xviii
Índice de Ilustrações – Fluxogramas – Plantas – Mapas xxii
Introdução 1
Parte 1 – Do Museu Privado ao Museu Público 7
Capítulo 1: Os pioneiros 7
Capítulo 2: A Museologia oitocentista e a defesa do Património 11
Capítulo 3: A necessidade de museus 19
Capítulo 4: O contributo dos Jesuítas para a Museologia Pedagógica
portuguesa 35
Parte 2 – A Primeira República: Nacionalização e Regionalização
Museológicas 39
Capítulo 5: Contextos ideológico, sociocultural e educativo 39
Capítulo 6: A legislação anticlerical 51
Capítulo 7: Contra a alienação do Património 63
Capítulo 8: O Decreto n.º 1 de 26 de maio de 1911: base da política cultural republicana 65
Capítulo 9: A apropriação dos bens da Monarquia e a sua musealização 71
Capítulo 10: O Ministério da Instrução Pública e outras tutelas 75
Capítulo 11: Os museus ao serviço da Educação 77
Capítulo 12: Em prol da Economia 85
Capítulo 13: A criação de Museus Regionais 89
Capítulo 14: Dissonâncias entre a legislação e a prática museológica 93
Capítulo 15: Coleções e formas de Exposição 95
Capítulo 16: Um museu evocativo do novo regime político: Museu da
Revolução 101
Capítulo 17: A dissolução dos Museus Jesuítas e o Museu das
Congregações 105
Parte 3 – Os Museus na 1.ª República: estudos de caso e notícias 113
Capítulo 18: Algumas considerações acerca do Público dos museus 115
Capítulo 19: Os museus da 1.ª Circunscrição Artística 121
1. Museu Nacional de Arte Antiga
Antecedentes: Museu Nacional de Belas Artes e Arqueologia ………... Na República: Museu Nacional de Arte Antiga ……….. a. As Coleções: ……… Aquisições onerosas ………. 121 121 122 130 131
Ofertas ……….. Legados ……… Transferências e depósitos ………... b. A Exposição ……….. c. Extensão Cultural ………. 135 138 138 144 151
2. Museu Etnológico Português
Antecedentes: um museu central de Arqueologia, Etnografia e Antropologia ………... Na República ……….. a. As Coleções: ………..
Expedições arqueológicas e etnográficas ………. b. A Exposição ………..
c. Documentação das coleções ……….
154 154 159 166 166 166 169
3. Museu Nacional de Arte Contemporânea
Historial ………... a. A formação de um museu ……… b. As Coleções ………... Fundo primitivo ……… Aquisições onerosas ………. Transferências e depósitos ………... Ofertas ……….. Legados ……… c. A Exposição ………... 172 172 172 182 182 183 188 191 192 193
4. Museu Nacional dos Coches
Antecedentes: Museu dos Coches Reais ………... Na República ……….. a. As Coleções ………... Fundo inicial ………. Depósitos e transferências ……… Aquisições onerosas ………. Permutas ………... Ofertas ……….. b. A Exposição ……….. 195 195 196 199 199 200 204 205 205 205
5. Museu Regional de Évora
Antecedentes ………... Na República ……….. a. As Coleções ………...………… Fundo inicial ……… Transferências e Depósitos ……….. b. A Exposição ……….. 208 208 209 217 217 218 220
6. Museu Regional de Beja
Antecedentes: Museu Arqueológico Municipal de Beja ………. Na República ……….. a. As Coleções e a Exposição ………... 221 221 222 226
7. Museu Regional de Faro
Antecedentes: o Museu Arqueológico e Lapidar Infante D. Henrique ……. Na República ……….. a. As Coleções ………... 230 230 231 241
8. Museu Regional D. Lopo de Alneida – Abrantes Historial
a. As Coleções e a Exposição
243 243 247
Capítulo 20: Os Museus da 2.ª Circunscrição Artística 1. Museu Machado de Castro
Antecedentes: Museu do Instituto de Coimbra ………... Na República: um museu geral de Arte Geral ……… a. As Coleções ………...
Transferências e depósitos ………... Incorporações ………...
b. A Exposição ……….. c. O Museu de Ourivesaria da Sé de Coimbra: da criação à “extinção”
255 255 255 257 262 262 266 267 273
2. Museu Regional de Aveiro
Antecedentes ………... Na República ……….. a. As Coleções ………... Transferências e depósitos ………... b. A Exposição ……….. 283 283 284 292 292 296
3. Museu Regional de Leiria
Historial ………... a. As Coleções e a Exposição ………...
299 299 305
4. Museu Regional de Grão Vasco – Viseu
Historial ………... a. As Coleções ………... Aquisições onerosas ………. Transferências e depósitos ………... Ofertas ……….. b. A Exposição ……….. 310 310 314 314 316 320 320
5. Museu Regional de Lamego
Historial ………... a. As Coleções e a Exposição ………...
323 323 327
Capítulo 21: Os Museus da 3.ª Circunscrição Artística 329
1. Museu Soares dos Reis
Antecedentes: o Museu Portuense, primeiro museu de Belas Artes em Portugal ………... Na República: Museu Soares dos Reis ………. a. Coleções ……….
329 329 331 334
2. Museu Regional de Bragança
Antecedentes: o Museu Municipal ……… O Museu Regional: Direção de Álvaro Carneiro ……… A Direção de Francisco Manuel Alves ……….
336 336 338 342
3. Museu Regional D. Diogo de Sousa
Antecedentes: dos projetos oitocentistas ao museu de Albano Belino …….. Na República ………..
347 347 350
4. Museu Regional de Arte, Arqueologia e Numismática de Vila Real 354
Capítulo 22: Museus de outras tutelas – Região sul 357
1. Museu de Marinha
Os antecedentes da Escola Naval ……….. Novos projetos para um Museu Nacional de Marinha ………...
357 357 358 2. Museu de Artilharia Antecedentes ………... Na República ……….. a. As Coleções e a Exposição ………... O Museu Militar do Buçaco ………..
362 362 363 364 368 3. Museu Geológico Antecedentes ………... Na República ……….. a. As Coleções e a Exposição ………... 370 370 371 374
4. O Museu Numismático e Filatélico da Casa da Moeda e Valores Selados Antecedentes ………... Na República ……….. a. As Coleções ………... 375 375 376 378
5. O Museu da Academia das Ciências de Lisboa
Antecedentes ………... Na República ………..
381 381 382
6. Museu Arqueológico do Carmo
Antecedentes ………... Na República ……….. a. Exposições e Coleções ……….. 385 385 388 388
7. A Sociedade de Geografia de Lisboa e a Museologia Colonial
Antecedentes ………... Na República ………..
393 393 395
8. Museu Municipal de Estremoz
Historial ………...
398 398
9. Museu Municipal de Redondo 401
10. Museu Municipal de Elvas
Antecedentes ………... Na República ……….. a. As Coleções e a Exposição ………... 403 403 403 407
11. Jardim Zoológico e de Aclimação de Lisboa
Historial ………... Na República ……….. a. A Exposição e as Coleções ………... 410 410 412 415
12. Museu Marítimo de Faro 420
13. Museu Municipal de Arqueologia e Etnografia de Alcácer do Sal 422
14. De Aquário a Estação de Biologia Marítima: o Aquário Vasco da Gama Os primeiros anos ……….. Na República ……….. 424 424 426
15. Museu de São Roque
Antecedentes ………... As origens do museu ………..
435 435 435
16. O Museu Instrumental do Conservatório e os congéneres particulares Antecedentes ………... Na República ……….. 439 439 441
17. Museu da Cidade de Lisboa
Historial ………...
447 447
18. Museu Rafael Bordalo Pinheiro
Historial ………... a. As Coleções e a Exposição ………...
452 452 455
19. Biblioteca-Museu Municipal de Moura
Historial ………...
459 459
20. Museu de São Nicolau 463
21. Museu João de Deus
Historial ………... a. As Coleções e a Exposição ………...
464 464 466
22. Museu Distrital de Portalegre
Historial ………... a. As Coleções e a Exposição ………...
470 470 477
Capítulo 23: Museus de outras tutelas – Região centro 479
1. Museu Municipal de Santarém
Antecedentes: Museu Distrital ……….. Na República ……….. a. As Coleções e a Exposição ………... b. Casa-Museu Anselmo Braancamp Freire ………..
479 479 480 482 484
2. Museu Municipal Dr. Santos Rocha – Figueira da Foz 486
3. Museu Municipal de Castelo Branco
Historial ………... Na República: uma nova vocação científica ………
489 489 490
4. Museu da União dos Amigos dos Monumentos da Ordem de Cristo Historial ………... a. As Coleções e a Exposição ………...
496 496 499
5. Museu Regional e Paroquial de Lorvão: exemplo de tenacidade
contra a centralização cultural 501
6. Museu Municipal de Alenquer 505
Capítulo 24: Museus de outras tutelas – Região norte 1. Museu Municipal do Porto
Do Museu Allen ao Novo Museu Portuense ………. A transição para a República ……… 2. Museus da Sociedade Martins Sarmento
As origens ……… Na República ……….. a. Os primeiros passos do Museu de Alberto Sampaio (MAS) …………
507 507 507 509 514 514 518 521
3. Museu Municipal Azuaga 530
4. Penafiel e o protelamento museológico 532
5. Museu Arqueológico de Barcelos 534
6. Museu Camilo 536
7. Um museu em Moncorvo: projeto não concretizado 540
8. Museu de Arte Regional de Viana do Castelo
Antecedentes ………... Na República ……….. a. As Coleções e a Exposição ………... 541 541 541 543
1. Museu Carlos Machado
Antecedentes: Museu Açoriano ……… Na República: vocações artística e etnográfica regional ………
547 547 548
2. Museu Regional da Madeira
Antecedentes ………... Na República ………..
552 552 552
Parte 4 – Museus de instituições de Ensino Superior 557
Capítulo 26: Museus universitários de Coimbra 1. Museu de História Natural
Historial ………... a. Museu e Laboratório Mineralógo e Geológico (MMG) ……… b. Museu, Laboratório e Jardim Botânico ………. c. Museu e Laboratório Zoológico ……….. d. Museu e Laboratório Antropológico ………..
561 561 561 562 566 571 576
Capítulo 27: Museus universitários de Lisboa 1. Museu Nacional de História Natural
Historial ………... a. Museu, Laboratório e Jardim botânico ………. b. Museu e Laboratório Zoológico e Antropológico: “Museu Bocage” .. c. Museu e Laboratório Mineralógico e Geológico ………...
583 583 583 585 590 595
Capítulo 28: Museus universitários do Porto
1. Da Academia Politécnica à Faculdade de Ciências
Historial ………... a. Museu e Laboratório de Botânica ……….. b. Museu e Laboratório Mineralógico e Geológico ………... c. Do Museu e Laboratório ao Instituto de Zoologia ……… c.1. Estação de Zoologia Marítima ………... d. Museu e Laboratório Antropológico ………..
599 599 599 601 604 606 609 612
Capítulo 29: Museus dependentes do Instituto Superior de Agronomia 1. Jardim Botânico da Ajuda
615 615
2. Jardim Colonial e Museu Agrícola Colonial
Os primeiros anos ………... Na República ……….. a. As Coleções e a Exposição ………... 618 618 619 630 Conclusão 637 Fontes e Bibliografia 653
Fontes manuscritas e impressas ... 653
Bibliografia ... 699
SIGLAS E ABREVIATURAS AAG – António Augusto Gonçalves
AAP – Associação dos Arqueólogos Portugueses
AC – Arquivo das Congregações ou Administração do Concelho, consoante o contexto e capítulo em que se inscreve
ACAA2 – Atas do Conselho de Arte e Arqueologia da 2.ª Circunscriçãog ACL – Academia das Ciências de Lisboa
ACMF – Arquivo Contemporâneo do Ministério das Finanças ADE – Arquivo Distrital de Évora
ADF – Arquivo Distrital de Faro ADLRA – Arquivo Distrital de Leiria
AHME – Arquivo Histórico Municipal de Estremoz
AHMJFM – Arquivo Histórico Municipal João Francisco da Mouca (Moura) AHMS – Arquivo Histórico Municipal de Santarém
AHSGMEC – Arquivo Histórico da Secretaria Geral do Ministério da Educação e da Ciência
AHU – Arquivo Histórico Ultramarino
AINCM – Arquivo da Imprensa Nacional Casa da Moeda AJF – Arquivo do Dr. José de Figueiredo (do MNAA) AM – Francisco António de Almeida Moreira
AMC – Arquivo do Museu de Ciência (Universidade de Lisboa) ARBAL – Academia Real de Belas Artes de Lisboa
ARC – Academia Real das Ciências de Lisboa AUC – Arquivo da Universidade de Coimbra
AVG-EBM – Aquário Vasco da Gama – Estação de Biologia Marítima BPADE – Biblioteca Pública e Arquivo Distrital de Évora
BPE – Biblioteca Pública de Évora
CAA (1, 2, 3) – Conselho(s) de Arte e Arqueologia (da 1.ª, 2.ª ou 3.ª Circunscrição Artística).
CABC – Comissão Administrativa dos Bens Cultuais CAN – Conselho de Arte Nacional
CB – Castelo Branco
CCABE – Comissão Concelhia de Administração dos Bens do Estado CCABI – Comissão Concelhia de Administração dos Bens da Igreja
CCBECR – Comissão Concelhia dos Bens das Extintas Congregações Religiosas CCELS – Comissão Central de Execução da Lei de Separação
CCP – Comissão Central de Pescarias CE – Comissão Executiva
CECMCB – Comissão Executiva da Câmara Municipal de Castelo Branco CECME – Comissão Executiva da Câmara Municipal do Concelho de Estremoz CJBC – Comissão Jurisdicional dos Bens Cultuais
CJBECR – Comissão Jurisdicional dos Bens das Extintas Congregações Religiosas CL – Círculo de Leitores
CM – Câmara Municipal ou Comissão de Monumentos (consoante o contexto). CMA – Câmara Municipal de Alenquer
CMACE – Comissão Municipal Administrativa do Concelho de Estremoz CMC – Câmara Municipal de Coimbra
CME – Câmara Municipal de Elvas CMF – Câmara Municipal de Faro
CMG – Câmara Municipal de Guimarães CML – Câmara Municipal de Lisboa
CMN – Comissão dos Monumentos Nacionais CMPTG – Câmara Municipal de Portalegre CMS – Câmara Municipal de Santarém CO – Comissão Organizadora
COLP – Collecção Official de Legislação Portugues(z)a CR – Carlos Reis
CSBA – Conselho Superior de Belas Artes
CSMN – Conselho Superior dos Monumentos Nacionais DFL – Decreto com Força de Lei
DL – Decreto-Lei
DG – Diário do Govêrno
DGBA – Diretor ou Direção Geral de Belas Artes
DGESBA – Direção Geral do Ensino Superior e das Belas Artes
DGISSE – Diretor ou Direção Geral da Instrução Secundária, Superior e Especial DGMG – Depósito Geral de Material de Guerra
DN – Diário de Notícias DO – Diogo Oleiro Doc. – Documento DR – Diário da República
DRE – Diário da República Eletrónico DRR – Distrito de Reserva e Recrutamento EBAL – Escola de Belas Artes de Lisboa FCG – Fundação Calouste Gulbenkian
FLUL / FLUC – Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa / Coimbra FMA – Francisco Manuel Alves (Abade de Baçal)
FMUC – Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra GAMNAA – Grupo de Amigos do Museu Nacional de Arte Antiga GEPB – Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira
GPE – Grupo Pró-Évora GS – Gonçalo Sampaio
HMEP – Historia do Museu Etnologico Português IAA – Instituto Arqueológico do Algarve
IHM – Instituto Histórico do Minho
IHRU / SIPA – Instituto da Habitação e Reabilitação Urbana / Sistema de Informação para o Património Arquitetónico.
IICL – Instituto Industrial e Comercial de Lisboa IICT – Instituto de Investigação Científica Tropical IN – Imprensa Nacional
INCM – Imprensa Nacional Casa da Moeda IPPC – Instituto Português do Património Cultural ISA – Instituto Superior de Agronomia
ISC – Instituto Superior de Comércio IST – Instituto Superior Técnico JBA – Jardim Botânico da Ajuda JC – Jardim Colonial
JF – José de Figueiredo
JLV – José Leite de Vasconcelos JV – Joaquim de Vasconcelos
(S)JZAL – (Sociedade do) Jardim Zoológico e de Aclimação de Lisboa JZ – Jardim Zoológico
LACFCUC – Livro de Atas do Conselho da Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra
LASCAA23C – Livro de Atas das Sessões dos Conselhos de Arte e Arqueologia da 2.ª e 3.ª Circunscrições.
LASCAN – Livro de Atas das Sessões do Conselho de Arte Nacional LASCMF – Livro de Atas das Sessões da Câmara Municipal de Faro LASCMS – Livro de Atas das Sessões da Câmara Municipal de Santarém LMF – Luciano Martins Freire
LV – Laurentino Veríssimo Lx. – Lisboa
MA – Museu de Artilharia
MAC – Museu Arqueológico do Carmo / Museu Agrícola Colonial MAS – Museu de Alberto Sampaio
MCBP – D. Manuel Correia de Bastos Pina MDDS – Museu D. Diogo de Sousa
MEP – Museu Etnológico Português MG – Museu Geológico
MGV – Museu Regional de Grão Vasco MIP – Ministério de Instrução Pública MJC – Ministério da Justiça e dos Cultos MLA – Museu e Laboratório Antropológico
MLMG – Museu e Laboratório Mineralógico e Geológico MLZ – Museu e Laboratório Zoológico
MM – Museu de Marinha
MMB – Museu Municipal de Bragança MMC – Museu Machado de Castro
MMCB – Museu Municipal de Castelo Branco
MMG – Museu e Laboratório Mineralógico e Geológico MMP – Museu Municipal do Porto
MNAA – Museu Nacional de Arte Antiga
MNAC – Museu Nacional de Arte Contemporânea MNBA – Museu Nacional de Belas Artes
MNC – Museu Nacional dos Coches MRA – Museu Regional de Aveiro
MRB – Museu Regional de Bragança, ou de Beja (consoante o capítulo em que se encontra a sigla)
MRBP – Museu Rafael Bordalo Pinheiro MRE – Museu Regional de Évora
MRL – Museu Regional de Lamego
MRLA – Museu Regional D. Lopo de Almeida
MSR – Museu de Soares dos Reis / Museu de São Roque (consoante o capítulo) MZ – Museu Zoológico
OIM – Office International des Musées Proc. – Processo
RA – Regimento de Artilharia
RAACAP – Real Associação dos Arquitectos Civis e Arqueólogos Portugueses RG – Revista de Guimarães
SCML – Santa Casa da Misericórdia de Lisboa Séc. / Sécs. – Século / Séculos
SGMF – Secretaria Geral do Ministério das Finanças SGL – Sociedade de Geografia de Lisboa
SMS – Sociedade Martins Sarmento s/n – sem número
SPCN – Sociedade Portuguesa de Ciências Naturais SPP – Sociedade Propaganda de Portugal
TL / TBLSL – Tito Larcher / Tito Benevenuto Lima de Sousa Larcher UAMOC – União dos Amigos dos Monumentos da Ordem de Cristo
ÍNDICE DE ILUSTRAÇÕES –FLUXOGRAMAS –PLANTAS –MAPAS
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Fig. 1 – O Museu Histórico do Congresso, em São Bento (1920) .……….. 46 Fig. 2 – Manuel de Arriaga em visita presidencial à Sociedade Protetora dos
Animais (1911) ……… 47
Fig. 3 – O Museu de Instrumentos de Tortura da Sociedade Protetora dos
Animais (1912) ……… 48
Fig. 4 – A Sala do Regicídio no Museu da Revolução (1911) …….……… 50 Fig. 5 – Afonso Costa, Ministro da Justiça do Governo Provisório (1910) ……. 51 Fig. 6 – Expulsão dos congregados religiosos, poucos dias depois da
implantação da República (1910) ……… 52
Fluxograma 1 – O percurso dos bens nacionalizados segundo a legislação
anticlerical ……… 58
Fig. 7 – António José de Almeida, Ministro do Interior do Governo Provisório
(1910) ………... 65
Fluxograma 2 – O Ministério de Instrução Pública em 1919 ……….. 76 Fig. 8 – O Museu Comercial do Instituto Superior de Comércio (1925) ………. 87 Fig. 9 – Sala da Marinha no Museu da Revolução (1911) ………... 101 Fig. 10 – Sala do Povo no Museu da Revolução (1911) ……….. 102 Fig. 11 – Sala do Exército no Museu da Revolução (pormenor, 1911) ………... 103 Fig. 12 – Sala João Chagas no Museu da Revolução (pormenor, 1911) ………. 103 Fig. 13 – Apreensão dos bens dos Jesuítas no Colégio do Quelhas (1910) ……. 106 Fig. 14 – O Museu das Congregações, instalado na antiga Igreja do Convento
do Quelhas (1921) ……… 109
Fig. 15 – O Dr. José de Figueiredo, Diretor do MNAA entre 1911 e 1937 ……. 124 Fig. 16 – Sala dos Primitivos Portugueses, MNAA (1912) ………. 125 Fig. 17 – O Legado de Guerra Junqueiro (1923) ………. 132 Fig. 18 – Sala de Nuno Gonçalves, MNAA (1912) ………. 145
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Fig. 19 – Sala de Arte Europeia, inaugurada em 1920 (MNAA) ...……….. 147 Fig. 20 – Foto de grupo na inauguração da Sala de Pintura Espanhola, MNAA
(1921) ………... 148
Plantas 1 e 2: O Museu Nacional de Arte Antiga em 1924 ………. 151 Fig. 21 – O Dr. José Leite de Vasconcelos ……….. 156 Fig. 22 – Entrada poente do Mosteiro dos Jerónimos, MEP (postal ilustrado) ... 158 Fig. 23 – Capa do Regulamento do MEP (1914) ………. 165 Fig. 24 – Sala do 1.º Pavimento do MEP ………. 168 Fig. 25 – Sala de Etnografia, MEP (3.º pavimento) ………. 168 Fig. 26 – Sala de Pintura no MNAC (1914) ……… 177 Fig. 27 – Uma sala do MNAC em 1922 ……….. 181 Fig. 28 – O picadeiro do Palácio de Belém em vésperas de acolher o Museu
dos Coches Reais (1903) ……….. 195
Fig. 29 – O Salão principal do Museu Nacional dos Coches (1914) …………... 200 Planta 3 – Espaços visitáveis do Museu Nacional dos Coches (1924) 207 Fig. 30 – Retrato de Frei Manuel do Cenáculo, da autoria de Giorgio Marini
(1881) ………... 208
Fig. 31 – Antigo Paço Arquiepiscopal de Évora ……….. 210 Fig. 32 – Palácio dos Condes de Soure ……… 214 Fig. 33 – Virgem da Glória, parte central do antigo Retábulo da Sé de Évora,
do Círculo de Gerard David ……….. 220
Fig. 34 – Antigo Convento de Nossa Senhora da Conceição de Beja ...…….. 225 Fig. 35 – Igreja do antigo Convento de Santo António dos Capuchos (Faro) …. 233 Fig. 36 – “O Menino entre os Doutores”, tela da autoria de Marcelo Leopardi,
1791 ……….. 242
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Fig. 38 – António Augusto Gonçalves no Museu do Instituto ………. 257 Fig. 39 – Pátio do Museu Machado de Castro em 1916 ……….. 259 Fig. 40 – Sala Renascença em 1916 (MMC) ………... 270 Fig. 41 – Sala de Cerâmica (MMC) ………. 271 Fig. 42 – Sala de Arqueologia Romana (MMC) ……….. 270 Fig. 43 – O Bispo-Conde de Coimbra, D. Manuel Correia de Bastos Pina ……. 274 Fig. 44 – Sala de Mobiliário, Museu Regional de Aveiro (1914) ……… 297 Fig. 45 – Sala das Talhas, Museu Regional de Aveiro (1914) ………. 297 Fig. 46 – Tito Larcher, Diretor-Conservador do Museu Regional de Leiria …... 299 Fig. 47 – Sé Catedral e Paço dos Três Escalões, sede do Museu Regional de
Grão Vasco (Viseu) ……….. 311
Fig. 48 – Retrato de Almeida Moreira, Diretor do Museu Regional de Grão
Vasco, Carvão da autoria de António Carneiro, 1927 ………. 313 Fig. 49 – Antigo Paço Episcopal, sede do Museu Regional de Lamego ………. 324 Fig. 50 – Autocaricatura de João Amaral, Diretor-Conservador do Museu
Regional de Lamego, 1941 ……….. 325
Fig. 51 – Galeria do Museu Soares dos Reis ………... 332 Fig. 52 – Antigo Paço Episcopal de Bragança, sede do Museu Regional …… 338 Fig. 53 – O Abade de Baçal, Francisco Manuel Alves, Diretor-Conservador do
Museu Regional de Bragança ……….. 342
Fig. 54 – Uma sala do Museu Regional de Bragança ……….. 346 Fig. 55 – Antigo Paço Arquiepiscopal, sede do Museu Regional D. Diogo de
Sousa ……… 352
Fig. 56 – A coleção oceanográfica de D. Carlos patente no Museu da Liga
Naval Portuguesa ………. 358
Fig. 57 – A Sala do Risco na Escola Naval, onde funcionou ou Museu de
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Fig. 58 – A Sala República, Museu de Artilharia (1913) ……… 367 Fig. 59 – Outro aspeto da Sala República ……… 368 Fig. 60 – Sala de Arqueologia Pré-Histórica, Museu Geológico ………. 372 Fig. 61 – Edifício da Casa da Moeda, na Rua de São Paulo ……… 376 Fig. 62 – Ruínas da Igreja do Convento do Carmo ……….. 386 Fig. 63 – Exposição de tapetes de Arraiolos no Museu do Carmo ……….. 389 Fig. 64 – Capa do catálogo da Exposição Olissiponense, de Alberto de Sousa
(1914) ………... 391
Fig. 65 – Aspeto da Secção de Cerâmica, da Exposição Olissiponense (1914) .. 392 Fig. 66 – Colégio de São Tiago, Elvas ………. 405 Fig. 67 – Uma visita escolar ao Jardim Zoológico (1910) ….……….. 414 Fig. 68 – O elefante Ipana com os seus tratadores (1920) ………... 417 Fig. 69 – Sessão de alimentação do hipopótamo (1916) ……….. 419 Fig. 70 – O Aquário Vasco da Gama nos primeiros anos ……… 424 Fig. 71 – Um grupo de visitantes contemplando alguns aquários (1914) ……… 426 Fig. 72 – Sala de aquários de espécies exóticas (AVG, 1917) ………. 430 Fig. 73 – O edifício do Museu Rafael Bordalo Pinheiro ………. 452 Fig. 74 – Fotografia de Cruz Magalhães, maio de 1916 ……….. 456 Fig. 75 – Igreja de São Nicolau, Lisboa ………...……… 463
Fig. 76 – O Museu João de Deus ………. 465
Fig. 77 – Salão do Museu João de Deus ……….. 467 Fig. 78 – Convento de São Bernardo, em Portalegre ………...………… 478 Fig. 79 – Museu Municipal de Santarém, em São João de Alporão ……… 482 Fig. 80 – Sala de Arqueologia Pré-Histórica, Museu Municipal Santos Rocha .. 488
Pág.
Fig. 81 – Paço dos Condes de Barcelos, fachada este, 2005 ……….……. 534 Fig. 82 – Casa dos Barbosa Maciel adquirida para instalar o Museu de Arte
Regional ………... 546
Fig. 83 – Vista parcial do Jardim Botânico da Universidade de Coimbra, 1917 . 568 Fig. 84 – Sala de Coleções Nacionais do Museu de Zoologia da Universidade
de Coimbra ………... 573
Fig. 85 – Colégio de São Boaventura, sede do Museu e Laboratório
Antropológico da Universidade de Coimbra até 1949 ………. 579 Fig. 86 – Aspeto do Jardim Botânico da Universidade de Lisboa, 1911 ………. 587 Fig. 87 – Panorâmica do Jardim Colonial ……… 620 Mapa 1 – Distribuição concelhia dos museus em 1910 (antes da República) …. 647 Mapa 2 – Distribuição concelhia dos museus até maio de 1926 ……….. 648
INTRODUÇÃO
A escolha do tema da presente Tese, cumprindo o caráter de ineditismo solicitado para a submissão de um trabalho à bitola académica, foi resultado de uma conversa informal com o orientador, o Professor Doutor João Carlos Pires Brigola, que nos informou de que a Primeira República ainda não se encontrava trabalhada de modo sistemático, do ponto de vista da História da Museologia nacional, o que se revestia de particular interesse pois na altura preparavam-se as comemorações do Centenário. Sendo nossa intenção investir na formação académica, aceitámos o desafio, e para melhor conseguir dar resposta às exigências de um Programa de Doutoramento resolvemos candidatar o projeto ao concurso anual da Fundação para a Ciência e Tecnologia para a atribuição de Bolsas Individuais de Doutoramento em 2009, de que resultou a bolsa com a referência SFRH/BD/66141/2009, e nos permitiu beneficiar de uma licença sem remuneração concedida pelo Município de Lagos, onde exercemos a nossa atividade profissional.
Existe até ao presente um trabalho abrangendo a evolução das estruturas nacionais de abordagem ao Património Artístico e Arquitetónico entre 1910 e 1932, nas vertentes da sua salvaguarda, classificação, conservação e restauro. Trata-se da Tese de Doutoramento de Jorge Custódio, intitulada “Renascença” Artística e Práticas de Conservação e Restauro Arquitectónico em Portugal, durante a 1.ª República, apresentada à Universidade de Évora em 2008. Aborda, de forma lata, as políticas patrimoniais levadas a cabo no país durante a República e a Ditadura Militar que lhe pôs fim. Ainda que pela íntima relação com o tema os museus sejam abordados, o enfoque principal aponta para a identificação dos princípios, linhas orientadoras, normas e critérios da conservação e restauro do património, em especial o arquitetónico. A Tese de Doutoramento de Joana Baião, intitulada José de Figueiredo, 1871-1937. Ação e Contributos no Panorama Historiográfico, Museológico e Patrimonialista em Portugal (2014), é de igual modo importante, não só porque a Personalidade tratada pela autora atuou de forma profícua no período que nos ocupou, como foi o agente que contribuiu para algumas das principais mudanças operadas nos museus nacionais, quer do ponto de vista das políticas que tutelaram aquelas instituições, quer do ponto de vista da Museografia adotada no Museu Nacional de Arte Antiga, que pode ser considerada a primeira experiência de rutura parcial com as práticas oitocentistas.
Jorge Custódio esteve também envolvido numa série de eventos comemorativos do Centenário da Implantação da República. Destaca-se a coordenação da Exposição 100 Anos de Património: memória e identidade – Portugal 1910-2010, de que resultou a edição de um catálogo com o mesmo título e onde encontramos uma série de contributos de reputados investigadores da área da Museologia, abordando assuntos intimamente ligados à temática que nos ocupa. Entre eles destacamos Henrique Coutinho Gouveia, autor de vários artigos sobre a história dos museus portugueses, quer mais focados sobre determinado museu ou período, quer mais generalistas, dando-nos um panorama geral sobre a evolução da Museologia portuguesa, como é o caso do seu artigo «Acerca do conceito e evolução dos museus regionais portugueses desde finais do século XIX ao regime do Estado Novo» (1985).
De um ponto de vista mais estrito, no decorrer da última década e meia têm sido elaboradas muitas teses de Mestrado adotando como tema central determinado museu ou determinada personalidade relacionada com o universo museal. Ao longo do nosso trabalho serão referidos alguns desses contributos, em especial na parte reservada aos estudos monográficos.
Enfim, existindo obra feita, admitimos que nenhum trabalho se focou exclusivamente sobre os museus durante o período em causa ou, tendo-o feito, jamais com a dimensão e abrangência que procurámos incutir ao nosso.
A dissertação apresentada neste volume tem como objetivo genérico avaliar de que forma as elites políticas, culturais e educativas encararam a questão museológica durante a Primeira República, regime vigente em Portugal entre 5 de outubro de 1910 e 28 de maio de 1926.
Particularizando as metas contidas na premissa designada no parágrafo anterior, é nosso intuito avaliar ruturas ou continuidades no panorama museológico nacional, tendo em conta o funcionamento e o devir histórico das instituições previamente existentes ou criadas durante a 1.ª República.
Importa também analisar as relações entre as entidades tutelares e o equilíbrio de influências por elas reclamado. Neste contexto, damos especial relevo aos museus de categoria nacional, regional e municipal, pois foi entre eles que a legislação oficial avançou com o maior número de propostas, configurando a primeira rede museológica nacional e regional, ou abrindo portas à multiplicação de museus de iniciativa autárquica.
Em suma: Que políticas nortearam os governantes no tocante aos museus? Que museus foram criados? Que diplomas legais procuraram regulamentar o seu funcionamento? Que museus transitaram do período anterior e que transformações sofreram? Que homens se destacaram na sua criação e gestão? Que discursos enformaram a sua constituição? Que coleções encerraram e como se constituíram? São todas questões a que procuramos responder.
A Primeira Parte desta Tese faz uma ligeiríssima retrospetiva sobre o século XVIII, coincidente com a tomada de consciência do Estado para a necessidade de classificar e proteger o Património Histórico e Artístico. Seguem-se as experiências museológicas pombalinas da Ajuda e da Universidade de Coimbra, estreitamente ligadas à crescente curiosidade pelos territórios ultramarinos, ou os museus de Cenáculo e José Mayne, abertos a cada vez maior número de pessoas, mas ainda com um caráter enciclopedista do ponto de vista dos acervos. O século XIX e as suas propostas económicas, políticas, sociais, religiosas, culturais e científicas desencadearam crescentes preocupações com a classificação e a proteção do património, um incremento da investigação arqueológica e o surgimento de alguns dos principais museus nacionais, especialmente vocacionados para a Arte e a Arqueologia. Neste contexto, prestamos particular atenção aos discursos de algumas personalidades, assumindo a necessidade de museus, desde os mais elitistas aos destinados à formação das classes laboriosas. Não esquecemos também a distância que separa a Museologia pedagógica de um Estado predominantemente laico, da veiculada pelo ensino jesuítico, extinto pelo regime republicano.
A Segunda Parte relança o olhar sobre as condições que permitiram o crescimento do ideal republicano em Portugal, a partir da segunda metade do século XIX, e desbrava os instrumentos ideológicos e jurídicos que direta ou indiretamente enformam a realidade museológica nacional. Prestamos especial atenção: ao Nacionalismo e Regionalismo culturais, em torno dos quais se geraram estratégias de proteção dos bens históricos e artísticos, especialmente pela colocação de entraves à sua alienação e através da criação de museus de âmbito nacional e regional; aos valores anticlericais e laicos do regime, que suportaram vários diplomas usurpadores dos bens eclesiásticos em favor do Estado; à apropriação dos bens da Casa Real que juntamente com os anteriores implicaram um incremento museológico apto a receber uma grande multiplicidade de objetos; à organização dos serviços culturais e do Património através de um Decreto basilar que configurou a primeira rede museológica nacional; às tutelas
que, apoiadas em leis habilitantes, chamaram a si a capacidade de criar museus sem o aval das Circunscrições Artísticas; aos valores económicos e educacionais inerentes às instituições museológicas, legitimando-as; à busca de sintomas de rutura ou continuidade na realidade museológica portuguesa com a transição para um novo sistema político; à auscultação das idiossincrasias museológicas no período estudado, sobretudo do ponto de vista das opções museográficas; à destrinça entre as realidades existentes e as anunciadas pelo vastíssimo corpo legislativo produzido.
As duas últimas partes procuram tratar monograficamente os museus do Estado, de várias corporações administrativas, de instituições privadas ou das principais instituições de Ensino Superior, do ponto de vista histórico e da configuração das exposições e das coleções. A primeira, subdividida em sete itens, faz uma retrospetiva dos museus tutelados pelas três circunscrições artísticas e outras instituições públicas e privadas. A segunda é reservada a museus tutelados por instituições de Ensino Superior, dado o seu peso do ponto de vista da Ciência e da Pedagogia, em detrimento da crescente dimensão pública.
Na medida do possível, as partes monográficas adoptam uma estrutura padronizada, olhando de relance para os antecedentes e principalmente para o período histórico que nos interessa, com as principais realizações, as coleções e a configuração das realidades museológicas em foco.
Também a nível pessoal e profissional, a elaboração da presente Dissertação afigurou-se uma mais-valia, pois como Técnico Superior Conservador de Museus numa Autarquia, a abordagem da problemática museológica nacional de um passado pouco longínquo amplificou-nos o sentido crítico necessário para questionar a realidade em que desempenhamos funções, no sentido de contribuir para o seu aperfeiçoamento.
A possibilidade de contribuir para melhor dar a conhecer a 1.ª República do ponto de vista do universo museológico e a transformação deste trabalho num instrumento de enriquecimento intelectual para quem se interessa pelas matérias explanadas assumem prioridade na lista de objetivos.
Facilmente se identificarão lacunas no trabalho, três delas assumidas por nós de antemão, no reconhecimento da necessidade de fazermos escolhas, de impormos limites ao nosso trabalho, de assumirmos fraquezas operativas e acusarmos obstáculos colocados por fatores externos:
- A primeira respeita ao pouco relevo dado aos públicos dos museus, assunto que não desenvolvemos como gostaríamos porque não encontrámos matéria significativa
sobre o assunto nos locais que visitámos ou na bibliografia consultada, o que talvez também se justifique pelo facto de muitos dos museus estudados estarem ainda em organização durante a 1.ª República, inviabilizando total ou parcialmente as visitas.
- A segunda é a da amplitude geográfica coberta pelas nossas pesquisas, deixando de lado as realidades museológicas dos territórios coloniais portugueses e centrando-nos nos museus da Metrópole e das Ilhas adjacentes.
- A terceira, por considerarmos que os museus de História Natural, os jardins botânicos e estações de Biologia das Universidades portuguesas de então eram os que assumiam verdadeira dimensão pública, justifica o facto de ignorarmos a existência de outros gabinetes, museus e laboratórios universitários.
Certamente haverá outras lacunas que não detetámos, mas anima-nos o sentimento de dever cumprido, que esperamos possa contribuir para enriquecer o repositório científico português.
PARTE 1 – DO MUSEU PRIVADO AO MUSEU PÚBLICO
CAPÍTULO 1:OS PIONEIROS
A necessidade de classificar e proteger o património histórico e artístico nacional encontrou os seus precursores na Academia Real de História (8 de dezembro de 1720) e no Alvará de 20 de agosto do ano seguinte, incumbindo a Academia e as Câmaras Municipais daquelas tarefas. Destas iniciativas terá resultado o primeiro museu de Arqueologia nacional, que não resistiu à viragem para a 2.ª metade do século.
As viagens de estrangeiros a Portugal, como James Murphy e William Beckford1, na segunda metade do séc. XVIII também tiveram o seu papel para despertar as consciências nacionais para a premência da preservação da memória histórica.
Coleções, havia-as entre os membros das ordens sociais privilegiadas, que cultivavam um colecionismo ostentatório e eclético de bens artísticos, arqueológicos, espécimes de História Natural e curiosidades, constituindo gabinetes privados em que Arte e Natureza conviviam, com a finalidade utópica de reconstruir o universo em espaços exíguos, e que só a partir do Pombalismo começaram a servir mais amplamente finalidades científicas e a abrir-se ao público2. A partir do seu património pessoal, D. Pedro José de Noronha (3.º Marquês de Angeja) promoveu um jardim botânico no Parque do Monteiro Mor em meados do século XVIII e projetou um museu de História Natural (1782-1785) para o complementar, iniciativas orientadas por Domingos Vandelli, responsável pelas experiências museológicas pombalinas3.
Outro importante cultor de antiguidades e naturalia foi Frei Manuel do Cenáculo Vilas Boas4, Bispo de Beja, que em 1791 inaugurou o Museu Sesinando Cenáculo Pacence, com coleções arqueológicas, de História Natural, Numismática e Medalhística.
1 Para pequenas biografias de James Murphy e William Beckford, consultar o sítio de internet do
Mosteiro da Batalha, respetivamente em http://www.mosteirobatalha.pt/pt/index.php?s=white&pid=255 e http://www.mosteirobatalha.pt/pt/index.php?s=white&pid=256 .
2
Cf. BRIGOLA, João Carlos Pires, Colecções, gabinetes e museus em Portugal no século XVIII [Texto Policopiado], Tese de Doutoramento em História, Universidade de Évora, 2000, 1.º vol, pp. 60-65.
3 João Brigola chega a sugerir a hipótese de Angeja ser o fundador do primeiro espaço museológico
português ainda existente, caso se comprovasse que a criação do Jardim Botânico do Parque do Monteiro Mor ao Lumiar datasse da década de 50 de setecentos. Idem, p. 411. Sobre o museu do Marquês instalado no seu palácio da Junqueira, Ibidem, p. 420.
4 Frei Manuel do Cenáculo começou a colecionar muito cedo. Em Lisboa reuniu as primeiras pinturas e
medalhas. Em Beja, cujo Bispado lhe foi entregue em 1777 (até 1802), alargou as suas coleções à História Natural, reunindo espécimes zoológicos, botânicos e minerais, e foi o grande responsável por coligir antiguidades artísticas e arqueológicas dispersas no Distrito, que deram forma ao Museu Sisenando
Cenaculano Pacense. Em março de 1802, Cenáculo foi nomeado Arcebispo de Évora, transferindo para
esta cidade os mais valiosos exemplares das suas coleções, reunidas quer no seu gabinete da Sé de Beja, quer no Museu Sesinando, suscetíveis de serem transportados. Ibidem, pp. 472-486.
A transferência de Frei Cenáculo para Évora em 1802 conduziu à dissolução do museu bejense e à inauguração, em março de 1805, do Novo Museu Cenáculo junto da Biblioteca Eclesiástica Pública, anexos ao Paço Arquiepiscopal, no Colégio dos Meninos do Coro da Sé. Ao longo do século XIX e primeiras décadas do XX, arqueólogos como José Leite de Vasconcelos, Emile Hübner, Filipe Simões e Abel Viana, procurariam o paradeiro dos objetos de lapidária e de maiores dimensões que não foram conduzidos para Évora por Cenáculo, sendo distribuídos pelos museus municipal de Beja (fundado em 1892) e de Évora.
Em termos estatais, os primeiros museus devem-se ao Marquês de Pombal, responsável pela criação do Real Museu da Ajuda em 17685. Seguiu-se-lhe em 1772 o Museu de História Natural da Universidade de Coimbra. Ambos os museus constituíram complexos multidisciplinares, tendo os métodos empírico e experimental adotados no ensino desempenhado especial papel no domínio da História Natural, da Química, da Física e da Botânica6. Alargavam-se os públicos, estabeleciam-se horários regulares de visitas, dotavam-se financeira, material e humanamente os novos espaços. Ambos os complexos museológicos mostravam futuros promissores, mercê das viagens filosóficas dos naturalistas (Alexandre Rodrigues Ferreira, João da Silva Feijó, etc.), das relações de permuta com os seus congéneres nacionais e internacionais e da colaboração dos Governadores das Colónias e dos Embaixadores portugueses. Ao principal ministro de D. José I se deveu também a publicação do Aviso de 25 de janeiro de 1777, mandando guardar na Casa da Moeda, uma coleção de todas as moedas e medalhas cunhadas ou a cunhar, portuguesas e estrangeiras, e que se tornou o embrião do Museu Numismático e Filatélico daquela instituição, que abordaremos em devido tempo7.
Facilmente se infere a grandeza do Museu da Ajuda se recordarmos o “saque” que o naturalista Geoffroy de Saint Hilaire lhe fez em junho e agosto de 18088. A
5
Cf. VANDELLI, Domingos, Relação da origem, e estado presente do Real Jardim Botanico,
Laboratório Chymico, Museo de Historia Natural e Caza do Rysco, ANTT, Maço 444, Caixa 555.
6 Cf. Estatutos da Universidade de Coimbra, vol. III – Cursos das Sciencias Naturaes e Filosóficas,
Coimbra, 1772, p. 229, disponível em http://bdigital.sib.uc.pt/bg1/UCBG-R-44-3_3/UCBG-R-44-3_3_master/UCBG-R-44-5/UCBG-R-44-5_item1/P288.html.
7 INCM, Matriz 19, Boletim Interno, INCM, S.A., março, 2013, p. 4: Apud Aviso de 25 de janeiro de
1777: «huma moeda de cada cunho, e qualidade de metal, que se puderem hir achando, não só deste
Reino, mas geralmente de todas as partes do Mundo: E semelhantemente tambem huma Medalha tambem de todas as qualidades de metaes, que for possivel alcançar se, assim antigas como modernas para com o decurso do tempo se poder formar huma collecção dellas, que hajão de servir à utilidade publica, e noticia geral».
8 Cf. Relação dos productos naturaes que por ordem do General Junot levou d‟este Real Museu M.r
mesma sorte teve o museu de Cenáculo em Évora. À usurpação francesa juntaram-se outros fatores potenciadores da destruição e dispersão de coleções: cataclismos naturais; especulação e comércio de bens móveis; situação política; extinção das Ordens Religiosas.
A criação da Academia Real das Ciências em 24 de dezembro de 17799 constituiu um novo fôlego para a Museologia portuguesa. À sua sombra nasceu um museu de História Natural e Etnografia e um Gabinete de Física, antepassados do que viria a ser o Museu Nacional10. Por sua vez, no Convento de Jesus, da Ordem Terceira de S. Francisco, o Padre José Mayne criava um museu de História Natural, com medalheiro e uma pinacoteca (1792)11.
de Diversos, doc. 16. Vários espécimes de mamíferos, aves, répteis, peixes, insetos, crustáceos, herbários, fósseis, rochas e minerais foram escolhidos para ir enriquecer o Museu de História Natural de Paris.
9 A Academia foi fundada por iniciativa do segundo Duque de Lafões e do Abade Correia da Serra,
apoiados por Domingos Vandelli e pelo Visconde de Barbacena. Dividiu-se em duas classes, a das Letras e a das Ciências.
10 Em 27 de agosto de 1836 o Museu da Ajuda foi transferido para a Academia, e seria progressivamente
enriquecido pelas coleções de História Natural de D. Pedro V e D. Luís I.
11 Em 1833, o Museu Maynense foi confiado à Academia Real de Ciências, o que foi confirmado pela
CAPÍTULO 2:AMUSEOLOGIA OITOCENTISTA E A DEFESA DO PATRIMÓNIO
No século XIX surgiram alguns dos principais museus portugueses, fruto de transformações políticas, sociais, religiosas e económicas e da renovação artística, literária e científica: a implantação do Liberalismo Político e consequente sociedade em vias de democratização apoiada na Ciência (laica e positivista), com vista a responder aos ideais de bem-estar e progresso da Humanidade12; a extinção das Ordens Religiosas e a ascensão social de novas classes; a riqueza e surto tecnológico provenientes da Revolução Industrial; o fomento económico, assente em bases científicas e tecnológicas; a renovação cultural no campo da Arte, influenciada pelo Romantismo Literário e Filosófico e pelo Nacionalismo dele derivado; o desenvolvimento das ciências arqueológicas e a consciencialização para a necessidade de inventariar e proteger o Património.
Depois de implantado o Liberalismo, o desenvolvimento científico e tecnológico verificado em Portugal foi decisivo para o desenvolvimento dos museus, ultrapassando os decadentes museus particulares, com insuficientes e obsoletas práticas de sistematização e exposição. Os Conservatórios de Artes e Ofícios de Lisboa e do Porto (1836-37) conduziram ao progresso tecnológico, industrial e artístico, às exposições agrícolas e industriais e aos efémeros museus industriais e comerciais (1883-1899)13.
12
Segundo Ana Cristina Martins, o Positivismo aplicado à Museologia manifestava-se na reconstrução contemporânea do contexto dos objetos, organizados numa lógica sequencial e comparativa, em que não se descurava a perspetiva histórica local, regional e nacional, mas tão pouco a ecuménica e universal. Cf. MARTINS, Ana C. N., «O Museu Archeologico do Carmo e a descentralização cultural no século XIX», in O Arqueólogo Português, Série IV, 17, 1999, pp. 570-572.
13 Os museus industriais e comerciais de Lisboa e do Porto foram o resultado de uma ideia que percorreu
todo o século XIX e decorreram da separação entre Belas-Artes e Artes Industriais concretizada em meados daquele século. A consciência de que era necessária a aplicação de inovações técnicas para desenvolver a Economia levou à criação de várias associações de iniciativa privada, entre elas a Sociedade Promotora da Indústria Nacional em 1822 – entendida como criadora de riqueza material, incluindo a Agricultura e Comércio –, preconizada por Cândido José Xavier, com o objetivo de fornecer conhecimentos aos agentes económicos sobre as inovações científico-tecnológicas aplicáveis à Economia. A permuta de informações era assim encorajada entre todos os agentes económicos. Ao nível estatal, em 18 de novembro de 1836 e 5 de janeiro de 1837 eram respetivamente criados os Conservatórios de Artes e Ofícios de Lisboa e do Porto, em que se previa desde o início a existência de museus industriais capazes de contribuir para a formação das classes operárias, em toda a sua cadeia hierárquica. Despertava, em simultâneo, a organização das primeiras exposições industriais. A Reforma do Ensino decretada em 20 de setembro de 1844 por Costa Cabral integrou os Conservatórios de Artes e Ofícios nas respetivas Politécnicas. Por Decreto de 30 de dezembro de 1852, de Fontes Pereira de Melo, foram extintos os Conservatórios e criados o Instituto Industrial de Lisboa e a Escola Industrial do Porto, com os respetivos Museus Industriais, sempre incipientes e pouco apoiados, sendo substituídos em 1864, por decreto de 20 de dezembro, do Ministro João Crisóstomo, pelos Museus Tecnológicos, concebidos como coleções de modelos, desenhos, instrumentos, produtos e materiais que ilustrassem o ensino. Foram igualmente sol de pouca dura, cerceados com a Reforma do Ensino de 1869. Depois dos trabalhos da Comissão de 1875, designada para sugerir uma Reforma do Ensino Artístico e dos Serviços de Belas Artes, Museus e
Por outro lado, nas Politécnicas de Lisboa e do Porto (criadas em 1837), começavam a surgir os gabinetes científicos de apoio às cadeiras ministradas, nomeadamente a Botânica, a Zoologia, a Mineralogia e Geologia e mais tarde a Antropologia, contribuindo para notáveis descobertas científicas.
Em Oitocentos desenvolveu-se uma mentalidade atreita à defesa patrimonial, inspirada nas visitas de alguns estrangeiros, como o diplomata brasileiro Francisco Adolfo de Varnhagen, o príncipe polaco Linchnovsky e o Conde da mesma nacionalidade, Athanasius Raczynski (1788-1874), testemunhas da negligência nacional face ao Património, nomeadamente o edificado. O primeiro utilizou pela primeira vez o termo Manuelino para designar toda a Arte do tempo de D. Manuel. O segundo manifestou-se contra a indiferença a que estavam votadas as obras-primas da Idade Média. O terceiro, diplomata em Portugal ao serviço da Prússia, não só deu a conhecer o nosso melhor património artístico, valorizando-o, como ajudou a estabelecer as bases da nossa História da Arte14.
Arqueologia, abriu-se um debate sobre a necessidade de museus, as tipologias de museus que mais conviria concretizar e a sua localização. É neste contexto que se inscreve a obra de Joaquim de Vasconcelos, intitulada A Reforma de Belas Artes – Análise do relatório e projectos da Comissão Oficial
nomeada em 10 de Novembro de 1875, de 1877, em que o autor sugere a criação no Porto, de um Museu
de Artes Industriais de caráter enciclopédico, manifestando-se igualmente um acérrimo defensor dos museus nas províncias, concorrendo para a formação cívica e artística e para a preparação profissional da população. Talvez sob sua inspiração se tenham criado os Museus Industriais e Comerciais de Lisboa e do Porto (tendo sido nomeado Conservador do segundo em maio de 1884), por Decreto de 24 de dezembro de 1883 e no ano seguinte, por Decreto de 3 de janeiro de 1884, as Escolas Industriais e de Desenho Industrial, todos regulamentados por Portaria de 6 de maio seguinte. O museu de Lisboa foi instalado na ala poente do Mosteiro dos Jerónimos em 14 de janeiro de 1884. O do Porto inaugurou em 21 de março de 1886, no Circo Olímpico a leste do Palácio de Cristal. Cf. LEANDRO, Sandra, Joaquim de
Vasconcelos: Historiador, crítico de arte e museólogo, Tese de Doutoramento em História da Arte
Contemporânea, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, junho de 2008, 1.º vol, pp. 339 e ss. Sobre as associações promotoras da economia, no século XIX, ver MATOS, Ana Maria Cardoso de, «Sociedades e associações industriais oitocentistas: projectos e acções de divulgação técnica e incentivos à actividade empresarial», in Análise Social, Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, 1996 (2.º-3.º), vol. XXXI (136-137), pp. 397-412. Além da Sociedade Promotora da Indústria Nacional, a autora refere a Associação Industrial Portuguesa (1837), a Sociedade Propagadora de Conhecimentos Úteis (1840), a Associação Industrial Portuense (1852) e a Associação Promotora da Indústria Fabril (1860). Coloca em destaque o papel que estas associações tiveram no combate ao analfabetismo da classe operária e como forma de colmatar a inexistência do Ensino Técnico-Profissional estatal defendido desde a escolaridade primária, desenvolvendo para isso estratégias de conceder créditos ou recompensar as iniciativas que demonstrassem a qualidade dos produtos ou a modernidade das práticas. Realça posteriormente a introdução do Ensino Industrial oficial, a partir de 1852, prevendo-se a abertura de museus como complemento da formação ministrada (e que eram uma ambição desde a Sociedade Promotora), além das exposições industriais que começavam a fazer-se por todo o mundo.
14 Para uma síntese sobre a obra de Rackzinski ver RODRIGUES, Paulo Simões, «O Conde Athanasius
Rackzinski e a historiografia da arte em Portugal», in Revista de História da Arte, Instituto de História da Arte, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa, 2011, n.º 8, pp. 264-275 (http://iha.fcsh.unl.pt/uploads/RHA_8_VA1.pdf).