• Nenhum resultado encontrado

C APÍTULO 13: A CRIAÇÃO DE M USEUS R EGIONAIS

No documento Os museus em Portugal durante a 1ª República (páginas 115-119)

As diretrizes emanadas da Lei da Separação e o Decreto n.º 1 de 26 de maio de 1911 encorajaram um impulso museológico de caráter regionalista e a publicação de vários diplomas legais oficializando a criação de museus.

Algumas das instituições museológicas criadas assentaram em realidades já existentes, ou partiram de ideias formuladas durante o regime monárquico constitucional. A República, por seu turno, procurou pela primeira vez normalizar a fundação e funcionamento dos museus. O Estado procurava, acima de tudo, ter a última palavra a dizer como criador dos novos museus.

Estava também em questão uma remodelação disciplinar dos museus, com a Arte a tornar-se tão importante quanto a Arqueologia, resultado dos cânones anticlericais, acentuados com o novo regime. A apropriação pelo Estado, de igrejas, seminários, paços episcopais e conventos, e dos bens móveis neles contidos, obrigou a uma redefinição da rede museológica nacional. Como veremos, a grande maioria dos museus criados durante a 1.ª República foi instalada em edifícios ligados à Igreja Católica.

Na República foram publicados os seguintes diplomas criadores de museus: - Portaria de 7 de junho de 1912: criando em Aveiro, no extinto convento de Jesus, um museu constituído pelos bens históricos e artísticos de antigas congregações religiosas e instituições públicas204, e nomeando os membros da Comissão Instaladora.

- Decreto n.º 256 de 31 de dezembro de 1913205: criando em Viseu um Museu Regional de Arte, junto à Sé, sem encargos para o Estado, com as despesas de instalação e conservação suportadas pela Câmara Municipal, mas com Direção Técnica da responsabilidade do CAA2. O Decreto n.º 2284-C de 16 de março de 1916 alarga o âmbito do museu para «museu regional de obras de arte e peças arqueológicas com o nome de Museu de Grão Vasco», a instalar na sala do Cabido da Sé e anexos.

- Decreto n.º 1355 de 16 de janeiro de 1915: cria em Évora um Museu Regional de Arte e Arqueologia, com uma secção de arte sacra instalada na Sé; designa como Diretor

204

Cf. Portaria do Ministério do Interior, de 7 de junho de 1912, in DG, I Série, n.º 135, de 11 de junho de 1912, p. 2075, in http://dre.pt/pdfgratis/1912/06/13500.pdf (sítio de internet do Diário da República, consulta efetuada em 22 de abril de 2012).

205 Cf. Decreto n.º 256 de 31 de dezembro de 1913, in DG, I Série, n.º 305, de 31 de dezembro de 1913, in

provisório António Joaquim Lopes da Silva, como Conservador da secção sacra Joaquim José Freire Faria e Silva e como guarda Luís Maria da Silva Ferreira206.

- Decreto n.º 2042 de 6 de novembro de 1915: criando em Faro um Museu Regional de Arte e Arqueologia, constituído pelo espólio do museu de Monsenhor Pereira Boto, a instalar no Convento de Nossa Senhora da Assunção207.

- Decreto n.º 2119 de 13 de novembro de 1915: criando em Bragança um Museu Regional de Arte, Arqueologia e Numismática, definindo como suas coleções iniciais o recheio do Paço Episcopal e o do Museu Municipal208.

- Decreto n.º 3074 de 5 de abril de 1917: criando em Lamego um «Museu regional de obras de arte, arqueologia e numismática», a instalar provisoriamente no Paço Episcopal, de cujo acervo se constituíram as coleções iniciais, juntamente com as do Convento das Chagas e do novo hospital209.

- Decreto n.º 3553 de 15 de novembro de 1917210: criando em Leiria, um Museu Regional de Arte, Arqueologia e Numismática, a instalar no Paço Episcopal, sob responsabilidade da Câmara Municipal, a quem incumbiam também as despesas de conservação. Dava-se finalmente andamento ao malogro da Portaria de 19 de dezembro de 1912, que segundo proposta do CAA2 foi promulgada para constituir a comissão encarregue de organizar e instalar um Museu Regional, Artístico e Arqueológico211. - Decreto n.º 3782, de 26 de dezembro de 1917: criando em Beja um Museu Regional de Arte e Arqueologia, constituído pelos recheios da Mitra de Beja e do Museu Municipal, a instalar no Convento da Conceição, e entregue à gestão da Junta Geral do distrito212. 206 Cf. DG, I Série, n.º 35, de 24 de fevereiro de 1915, p. 194, in http://dre.pt/pdf1sdip/1915/02/03500/01940194.pdf. 207 Cf. DG, n.º 231, I Série, de 11 de novembro, pp. 1245 e 1246, in http://dre.pt/pdf1sdip/1915/11/23100/12451246.pdf. No original do decreto refere-se erroneamente o Convento de S. Bento.

208

Cf. Decreto n.º 2119 de 13 de novembro de 1915, in DG, I Série, n.º 248, de 4 de dezembro de 1915, in http://dre.pt/pdf1sdip/1915/12/24800/13271327.pdf (consulta efetuada em 14 de março de 2012).

209 Cf. DG, I Série, n.º 53, de 5 de abril de 1917, p. 224,

in http://dre.pt/pdf1sdip/1917/04/05300/02240224.pdf

210 Cf. DG, I Série, n.º 199, de 15 de novembro de 1917, p. 1126

http://dre.pt/pdf1sdip/1917/11/19900/11261126.pdf (consulta efetuada em 26 de novembro de 2012).

211 Cf. DG, I Série, n.º 300, de 23 de dezembro de 1912, p. 4550, consultada em novembro de 2013 in

http://dre.pt/pdfgratis/1912/12/30000.pdf.

212 Cf. Decreto n.º 3782 de 26 de dezembro de 1917, in DG, I Série, n.º 20 de 29 de janeiro de 1918, p. 61,

- Decreto n.º 4011 de 28 de março de 1918: criou em Braga um Museu de Arqueologia e Arte Geral213, designado Museu D. Diogo de Sousa, a instalar no antigo Paço Arquiepiscopal, ficando a cargo da Câmara Municipal, mas com um Diretor Conservador nomeado pelo Governo e um guarda.

- Lei n.º 1175 de 1 de junho de 1921: criando na cidade de Abrantes o Museu Regional D. Lopo de Almeida, instalado na Igreja de Santa Maria do Castelo, suportado pela Câmara Municipal no que respeita às despesas de instalação e conservação, e dirigido pelo CAA1214, por intermédio de Diogo da Silva Oleiro.

- Decreto n.º 8410 de 6 de outubro de 1922: criando um Museu Regional na então vila de Chaves, a instalar provisoriamente na Câmara Municipal215, a quem cabem as despesas de instalação e conservação, tarefas que deveriam ser supervisionadas pelas entidades designadas pela legislação em vigor (CAA3). José Leite de Vasconcelos é autor da compilação de uma pequena notícia, datada de 1916, em que é avançada a informação de se ter constituído em Chaves uma comissão organizadora local para levar a efeito a criação do museu e de em Lisboa o professor da Academia de Belas Artes, Dr. João Barreira, flaviense de nascimento, se encontrar a tomar providências nesse sentido216. No entanto, o assunto parece ter esmorecido até à publicação do Decreto, que só seria concretizado com o aparecimento do Museu da Região Flaviense, depois de constituída nova Comissão Organizadora em sessão da Câmara Municipal de 18 de maio de 1929217, depois de em março se ter efetivado a elevação de Chaves a cidade. - Decreto n.º 9527 de 22 de março de 1924: criando em Vila Real um Museu Regional de Arte, Arqueologia e Numismática, a instalar no edifício dos Paços do Concelho; as despesas de instalação, conservação, vencimentos e subvenções do pessoal da responsabilidade da Junta Geral do distrito de Vila Real, cumprindo às entidades previstas na legislação em vigor a supervisão da instalação, a direção e conservação

213 Cf. DG, I Série, n.º 65, pp. 318 e 319, in http://dre.pt/pdf1sdip/1918/04/06500/03180319.pdf. A

criação de um museu em Braga foi alvo de muitas propostas locais e nacionais, ainda durante o século XIX. José Leite de Vasconcelos apresenta-nos um artigo intitulado «Museu Municipal de Braga» (in O

Archeologo Português, Museu Ethnographico Português, Lisboa, Março-Abril de 1897, S. 1, vol. 3, n.º 3-

4, pp. 78-80), refletindo sobre a importância de um museu local em Braga, que contivesse os testemunhos da região, arqueológicos, mas também etnográficos, antropológicos e de História Natural.

214 Cf. DG, I Série, n.º 111, de 1 de junho de 1921, p. 276,

in http://dre.pt/pdf1sdip/1921/06/11100/07760776.pdf

215 Cf. DG, I Série, n.º 209, de 6 de outubro, pp. 1086 e 1087,

In http://dre.pt/pdf1sdip/1922/10/20900/10861087.pdf.

216 Cf. J.L.V., «Miscelânia arqueológica: 26. Museu de arte e arqueologia em Chaves», in O Archeologo

Português, Museu Ethnographico Português, Lisboa, Jan.-Dez. 1916, S. 1, vol. 21, n.º 1-12, p. 361.

217 Cf. SILVA, A. C. e CENTENO, M. S., Museu da Região Flaviense: Da Idade dos Metais à

artística218. A ideia de constituir um museu em Vila Real, de dimensão arqueológica, etnográfica, antropológica e histórico-natural, vem de finais do século XIX, proveniente das conversações entre José Leite de Vasconcelos e o Padre Manuel de Azevedo. O primeiro dos interlocutores, num artigo intitulado «Museu Municipal em Villa-Real (Tras-os-Montes)», datado de 6 de maio de 1894, sugere mesmo a instalação do museu no edifício da Câmara Municipal, mas como veremos a História reservou outros caminhos para o museu vila-realense219.

218 Cf. DG, I Série, n.º 64, de 22 de março de 1924, http://dre.pt/pdf1sdip/1924/03/06400/04250425.pdf. 219 Cf. O Arheologo Português, Museu Ethnographico Português, Lisboa, Janeiro de 1895, S. 1, vol. 1,

pp. 39 e 40. Em outro artigo, de 1895, J.L.V. alude à resolução, tomada em sessão da Junta Geral do Distrito, datada de 20 de novembro de 1888, de reservar uma das salas do edifício da Junta Geral, em construção, para se criar um museu arqueológico distrital. A iniciativa não teve, contudo, qualquer outro desenvolvimento. (Cf. J.L.V., «Museu em Villa Real», in O Archeologo Português, M.E.P., Lisboa, Out.- Nov. de 1896, S. 1, vol. 2, n.º 10-11, p. 272).

No documento Os museus em Portugal durante a 1ª República (páginas 115-119)