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C APÍTULO 12: E M PROL DA E CONOMIA

No documento Os museus em Portugal durante a 1ª República (páginas 111-115)

Outra dimensão que importa apreciar para enquadrar os museus a partir da 1.ª República é a do Turismo, na medida em que aqueles foram assumidos como objetos turísticos. Embora tivessem exercido uma influência indireta sobre as realidades museológicas e não condicionassem a sua existência, ainda que permitam justificá-la, merecem destaque os seguintes instrumentos legais: o DFL de 16 de maio de 1911; o Decreto n.º 7037 de 17 de outubro de 1920; a Lei n.º 1152 de 23 de abril de 1921.

O DFL de 16 de maio de 1911193 criou uma Repartição de Turismo no seio do Ministério do Fomento, orientada superiormente por um Conselho de Turismo de sete membros nomeados por três anos, permitindo a agregação de 24 membros entre artistas, engenheiros, escritores, arquitetos, etc. À repartição competia definir os potenciais alvos de interesse turístico, ajudando à propaganda nacional, no país e no estrangeiro. A promulgação do diploma está intimamente relacionada com a realização, em Lisboa, do IV Congresso Internacional de Turismo, entre 12 e 20 de maio de 1911, organizado pela Sociedade Propaganda de Portugal (organismo fundado em 28 de fevereiro de 1906)194. A preservação do património e a criação de museus são, mais do que nunca, entendidas

193 Cf. DFL de 16 de maio de 1911 publicado no Diário do Governo n.º 115, I Série, de 18 de maio, in

http://dre.pt/pdf1sdip/1911/05/11500/20152015.pdf - consulta efetuada no dia 22 de outubro de 2012.

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À medida que o século XIX se aproximava do seu último quartel, verificou-se na Europa e no mundo ocidental uma tendência para o desenvolvimento do Excursionismo e do Turismo. Com a finalidade de apoiar os adeptos daquelas práticas e promovê-las, e na sequência do surgimento de associações congéneres em outros países europeus, surgiu a Sociedade Propaganda de Portugal (SPP), por iniciativa de Leonildo de Mendonça e Costa, fundador e Diretor da Gazeta dos Caminhos de Ferro. Declaradamente independente das forças políticas, nas hostes da SPP enveredaram monárquicos e republicanos, apostados a elevar Portugal a um lugar de destaque no domínio do Turismo, mediante a publicação de guias de viagem, a promoção de bons hotéis, da rede viária e de meios de transporte com condições acessíveis para os amantes da prática do turismo e excursionismo. Cf. MATOS, Ana Cardoso de, BERNARDO, Maria Ana e SANTOS, Ana Luísa, «A Sociedade Propaganda de Portugal e o Congresso de Turismo de 1911», in Actas do Congresso Internacional I República e Republicanismo, Assembleia da República, Lisboa, 2010, pp. 393-403.

(http://dspace.uevora.pt/rdpc/bitstream/10174/4456/1/ACM%20MAB%20Provas%20para%20rever.%20 2012.12.07.pdf – consulta efetuada em 22 de outubro de 2012).

A SPP tinha como objetivos «organizar e divulgar o inventário de todos os monumentos, riquezas

artísticas, curiosidades e lugares pitorescos do país; publicar itinerários, guias e cartas roteiras de Portugal; organizar ou auxiliar excursões; promover a concorrência de estrangeiros, e uma maior circulação de nacionais dentro do território; dar as informações que lhe sejam solicitadas; fornecer a hotéis, casinos, estabelecimentos hidroterápicos, empresas de transporte, etc, plantas de instalações, tabelas de preços e lista de objectos de uso corrente nos grandes centros de excursionismo; promover reformas e melhoramentos na instalação e regime de hotéis, transportes e serviços locais; e de uma maneira geral estudar todas as questões de interesse geral conexas com o fim da sociedade». Cf.

[transcrição parcial do relatório da SPP, de 19 de dezembro de 1906] Apud. MATOS, Ana Cardoso de e SANTOS, Maria Luísa F. N. dos, «Os Guias de Turismo da cidade de Évora no contexto do turismo contemporâneo (dos finais do século XIX às primeiras décadas do século XX)», in A Cidade de Évora:

como uma forte possibilidade de desenvolvimento económico e financeiro do país, tão depauperado de capital, carente de atrativos que motivassem a procura dos turistas estrangeiros e nacionais. Como parte integrante do Congresso, deu-se a inauguração do Museu do Palácio Convento de Mafra195, no dia 15 de Maio, para o que concorreu o Ministro das Finanças José Relvas, determinando que nenhum objeto saísse dos antigos paços reais. Se o grande promotor do museu foi o Ministro, o seu organizador foi José Queirós, que entre outras funções desempenhava o cargo de Conservador do Museu Nacional de Arte Antiga. Organizado em quarenta dias, com trabalhos prévios de reparação de algumas peças a exibir, resultou na musealização das próprias dependências palacianas aproveitando, para as enriquecer, os objetos aí deixados pelos anteriores habitantes laicos e religiosos. Instalado em onze salas do andar nobre, distribuídas entre os dois torreões da fachada principal, correspondentes a grande parte da área anteriormente reservada aos Paços Reais, nele podiam observar-se peças de mobiliário e exemplares de outras artes decorativas, como cerâmicas e faianças, mas também pinturas, esculturas, paramentos, tapeçarias, etc. A juntar-se a estas salas do museu, estavam também disponíveis ao público algumas salas correspondentes aos quartos de dormir dos reais inquilinos. Do trabalho resultou uma pequena brochura, enumerando de forma muito sintética as salas e os respetivos conteúdos196.

O Decreto n.º 7037 de 17 de outubro de 1920 aprovou a criação e organização da Administração Geral das Estradas e Turismo (AGET), encarregada sobretudo de promover a construção e manutenção de uma rede viária suscetível de promover o desenvolvimento económico e o turismo nacionais. Dentro da estrutura funcional da AGET tem particular relevância a Repartição de Turismo pois, para além de colaborar com a Repartição de Estradas, de supervisionar e classificar as estâncias turísticas portuguesas, tinha o encargo de «fazer a propaganda de Portugal como país de turismo»197, e neste domínio incluem-se, inevitavelmente, os museus, como pólos de atração.

A Lei n.º 1152 de 23 de abril de 1921 estabelece «em todas as estâncias hidrológicas e outras, praias, estâncias climatéricas, de altitude, de repouso, de recreio

195 Para uma descrição sucinta e esclarecedora do Museu de Mafra, ver: CHAVES, Luís, «Visitas de

estudo: I – O Museu de Mafra», in O Archeologo Português, Museu Ethnographico Portuguez, 1916, Série 1, vol. 21, pp. 231-234 (Apêndice Documental, Doc. 3). Ver também JLV, «Miscelânea: 16. O Museu de Mafra», in O Archeologo Português, Museu Ethnographico Português, Lisboa, Jan.-Set. de 1912, S. 1, vol. 17, n.º 1-9, pp. 185-187 [Citando o jornal Diário de Notícias, de 15 de Maio de 1912].

196 Cf. QUEIRÓS, José, Museu de Mafra, Imp. Libanio da Silva, Lisboa, 1911.

197 Cf. Decreto n.º 7037 publicado no DG n.º 209, I Série, de 17 de outubro de 1920, p. 1387, in

e turismo»198, Comissões de Iniciativa, marcadamente circunscritas às localidades classificadas como turísticas, tendentes a promover o desenvolvimento das estâncias por intermédio da realização de obras de interesse geral e pela tomada de iniciativas apostadas a aumentar a sua frequência.

Destacamos também alguns diplomas que atestam a importância dada aos museus, não só como locais de aprendizagem e experimentação, mas também como motores de desenvolvimento profissional e económico:

- a Lei n.º 304 de 4 de fevereiro de 1915, autorizando os Sindicatos Agrícolas a adquirir bens imobiliários numa dimensão máxima de 10 hectares, para cultivo e instalação de serviços de interesse público, como museus, bibliotecas, laboratórios, postos agrários, pecuários, etc.199, enfim, uma série de infraestruturas ao serviço da «aprendizagem» e «compreensão» das técnicas e dos problemas rurais200.

198 Cf. Lei n.º 1152, in DG, n.º 84, I Série, de de 23 de abril de 1921, p. 635, in

http://dre.pt/pdf1sdip/1921/04/08400/06350636.pdf (consulta efetuada em 22 de Outubro de 2012).

199 Cf. http://dre.pt/pdf1sdip/1915/02/02300/01440144.pdf (consulta efetuada em 29 de maio de 2013). 200 Cf. SERRÃO, Joaquim Veríssimo, História de Portugal volume XII: A Primeira República (1910-

1926): História Diplomática, Social, Económica e Cultural, Editorial Verbo, Novembro de 2001, 2.ª

edição, p. 241.

Fig. 8 – O Museu Comercial do Instituto Superior de Comércio, 1925. O seu primeiro Conservador foi o Dr. Joaquim José de Barros.

- o Decreto n.º 4845 de 23 de setembro de 1918, criando um Museu Comercial no Instituto Superior de Comércio, com dotação, receitas e despesas próprias, disponível ao público em geral, apesar de privilegiar os alunos da instituição. Como finalidades, destacavam-se a publicidade dos produtos portugueses nos circuitos comerciais nacionais e internacionais e a aprendizagem das técnicas de vanguarda usadas no estrangeiro para conquista de novos mercados, em suma, aumentar as exportações201, tidas como a base da verdadeira prosperidade económica do país. O diploma determinou também a instalação provisória do museu no Convento do Quelhas, onde funcionava o ISC aí inaugurado em 29 de novembro de 1913202 (e atualmente o Instituto Superior de Economia e Gestão, até ser projetado um edifício próprio para o acolher). Quanto às suas secções, distinguiam-se as: de Tecnologia Industrial e Comercial (matérias-primas, produtos transformados e mercadorias nacionais e estrangeiras); de Acondicionamento (embalagem de mercadorias); de Economia e Estatística de produção, Exportações e Mercados Nacionais e Estrangeiros; Publicidade Nacional e Estrangeira203.

201 Cf. DG, I Série, n.º 211, de 27 de setembro de 1918, pp. 1733 e 1734. Disponível em

http://dre.pt/pdf1sdip/1918/09/21100/17331734.pdf.

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Um artigo da revista Ilustração Portugueza, II Série, n.º 478, de 19 de abril de 1915, p. 508, refere que por essa altura já o seu Conselho Escolar estudava a «instalação d‟um grande muzeu comercial, que

deixará de ser uma aspiração generosa para se converter n‟uma realidade, logo que os recursos orçamentaes lh‟o permitam. É de crêr, porém, que a sua inauguração possa ser levada a efeito em 1916».

203 O Decreto de 7 de maio de 1912, que organizou o ISC, fala de forma muito sumária sobre o museu de

matérias-primas e mercadorias (art. 42.º, 2.º), como estabelecimento anexo auxiliar de ensino, e do Conservador nomeado pelo Governo sob proposta do Conselho Escolar, e escolhido entre pessoas com larga experiência sobre o assunto (arts. 64.º, 66.º, 114.º e 115.º). Disponível em formato digital em http://dre.pt/pdf1sdip/1912/05/11100/17341739.pdf, Cit. A Lei de 5 de junho de 1913 estabeleceu as bases do ISC e curiosamente, embora não seja feita referência a um museu entre as valências ao serviço do ensino prático, a figura do Conservador de museu é apontada como pessoal auxiliar na base 10.ª (in

DG, I Série, n.º 133, de 9 de junho de 1913, http://dre.pt/pdf1sdip/1913/06/13300/21232126.pdf. O

primeiro Regulamento do Instituto Superior de Comércio foi aprovado com o Decreto n.º 22 de 5 de julho de 1913, publicado no DG, I Série, n.º 155, da mesma data, pp. 2493 a 2498, http://dre.pt/pdfgratis/1913/07/15500.pdf. Refere no art. 43.º, 2.º, como estabelecimento anexo, o Museu de Matérias-primas e de Mercadorias, com um Conservador. O segundo regulamento foi publicado com o Decreto n.º 5102 de 11 de janeiro, publicado em DG, I Série, n.º 11, de 17 de janeiro de 1919, pp. 106- 118. O Museu Comercial surge associado ao ensino prático (art. 5.º, § 2.º, c) como estabelecimento anexo (art. 47.º, 2.º). Além de servir o ensino no estabelecimento, o Museu Comercial estava também aberto a solicitações de entidades externas, públicas e particulares, de forma gratuita, desde que não houvesse necessidade de proceder a análises laboratoriais (arts. 49.º e 50.º). O capítulo VI do decreto dedica-se na íntegra ao museu, definindo os seus fins e secções, serviços anexos, pessoal e respetivas competências, receitas, despesas e relações institucionais (art. 135.º a 154.º). Disponível em formato digital em http://dre.pt/pdf1sdip/1919/01/01100/01050118.pdf, consulta efetuada no dia 13 de dezembro de 2013.

No documento Os museus em Portugal durante a 1ª República (páginas 111-115)