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A prática desportiva como animação do tempo de lazer em pré-adolescentes

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UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO

A PRÁTICA DESPORTIVA COMO ANIMAÇÃO DO

TEMPO DE LAZER EM PRÉ-ADOLESCENTES

TESE DE MESTRADO EM CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO ÁREA DE ESPECIALIZAÇÃO EM ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL

Rui Jorge Estevinho Duque

Orientador

Professor Doutor Francisco José Miranda Gonçalves

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UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO

A PRÁTICA DESPORTIVA COMO ANIMAÇÃO DO

TEMPO DE LAZER EM PRÉ-ADOLESCENTES

TESE DE MESTRADO EM CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO ÁREA DE ESPECIALIZAÇÃO EM ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL

Rui Jorge Estevinho Duque

Orientador

Professor Doutor Francisco José Miranda Gonçalves

Composição do Júri:

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Este trabalho foi expressamente elaborado como dissertação original para o efeito da obtenção do grau de Mestre em Ciências da

Educação, Área de Especialização em

Animação Sociocultural, sendo apresentada na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.

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i

"Não basta dar os passos que nos devem levar um dia ao objetivo, cada passo deve ser ele próprio um objetivo em si mesmo, que simultaneamente nos leva para diante."

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ii Agradecimentos

"Porque a tarefa é muito pesada para ti, não poderás realizá-la sozinho."

Livro do Êxodo 18,18

A elaboração de um trabalho com estas características, para além do interesse e dedicação do autor, requer a valiosa colaboração de um conjunto de pessoas. Assim, dirijo os meus agradecimentos aos seguintes intervenientes:

Ao meu Orientador, Professor Doutor Francisco José Miranda Gonçalves, pela sua preciosa orientação, perseverança, disponibilidade e profissionalismo;

À minha Esposa e Filha, pela sua compreensão, colaboração, paciência e apoio demonstrados;

Aos meus Pais e Irmão, pelo apoio e por todas as solicitações prestadas;

Ao Professor Doutor Agostinho Gomes, à Professora Doutora Maria Isabel Costa e ao Professor Doutor Marcelino Lopes, pelo apoio e colaboração;

Ao IDRAM, na pessoa do Sr. Elder Cardoso, pela cooperação e toda a informação solicitada;

Um agradecimento especial os Atletas, Treinadores e Dirigentes das instituições desportivas Ludens Clube de Machico e Associação Desportiva de Machico, Clube de Ténis do Funchal, Clube Desportivo 1º de Maio, Club Sports da Madeira, Clube Naval do Funchal, Club Sport Marítimo da Madeira, Clube Desportivo São Roque, Madeira Andebol SAD, Académico Clube Desportivo do Funchal e Clube Desportivo Nacional e Clube Amigos do Basquete – CAB;

Ao Professor Doutor Alfredo Faustino pelos seus conselhos;

Aos colegas e amigos Ana Rosa, Cristina Cruz, Luís Nogueira, Luís Pinto, Pedro Barreira, Pedro Alves, Rui Barreira e Sandra Conceição, pela sua colaboração;

Aos colegas e amigos Filipe Costa e Sónia Pereira pela sua disponibilidade;

Agradeço à Fátima Estevinho, Cristina Silva, Jennifer Duque e Raquel Queirós a sua particular colaboração;

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iii À Catarina Matos, Ricardo Pereira, Cristina Ramos, Luís Ramos, Fábio Teixeira e Robina Correia pelos recursos disponibilizados;

Aos diretores Luís Lopes e Cláudia Henriques pela sua compreensão; À Sara Pereira pela sua particular colaboração;

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iv Resumo

A prática de atividades físicas e desportivas no tempo de lazer encontram-se entre as ocupações orientadas mais frequentadas pelos jovens no período extraescolar. A integração neste género de ocupações é potenciadora do desenvolvimento do indivíduo, proporcionando um elevado conjunto de benefícios, como fatores de prevenção de doenças, a preservação do bem-estar físico, mental e social.

Com o presente estudo pretende-se identificar as dimensões motivacionais mais valorizadas pela faixa etária pré-adolescente em relação à prática desportiva, assim como, proceder à análise de diversos fatores associados, como a identificação dos fatores de influência na iniciação desportiva, o nível de valorização atribuída à prática desportiva, e ainda, a comparação de motivações entre géneros e entre praticantes com vinculação única e múltipla de atividades extraescolares.

A amostra do estudo foi composta por 400 atletas, 254 rapazes e 146 raparigas, de 10 instituições desportivas do concelho do Funchal, com idades compreendidas entre os 10 e os 12 anos (escalão de infantis) de ambos os sexos, abrangendo 18 modalidades coletivas e individuais. O instrumento de avaliação utilizado foi o inquérito por questionário, aplicado nos meses de setembro e outubro de 2011, o qual incluiu uma secção do tipo QMAD, composto por 26 motivações/razões agrupadas em oito dimensões valorizadas segundo uma escala de Likert de 5 pontos. O tratamento de dados foi processado com o apoio do programa SPSS.

Os resultados permitiram apurar que os pré-adolescentes são motivados prioritariamente por aspetos relacionados com a condição física e a saúde, mas também por motivos relacionados com a modalidade desportiva, o clube e o desenvolvimento das capacidades técnicas.

Constatou-se que estas mesmas motivações são as mais valorizadas por ambos os géneros, embora os rapazes atribuam mais importância à competição, à afiliação específica, à afiliação geral e ao estatuto. Já em relação aos atletas praticantes de desporto em exclusividade, verifica-se que estes valorizam mais a competição e o estatuto. Comprova-se ainda, que os principais fatores motivadores na iniciação à prática desportiva são o próprio atleta e a família.

O presente estudo permite assim concluir, que a prática desportiva dos pré-adolescentes no tempo de lazer, é influenciada fundamentalmente por motivos relacionados com a condição física, o clube, a modalidade e a própria evolução como atleta, revelando menor valorização em fatores como o reconhecimento social, as emoções e o divertimento.

PALAVRAS-CHAVE: Atividade Desportiva; Lazer; Motivação; Pré-adolescente; QMAD; Tempo Livre.

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v Abstract

The practice of physical and sports activities in leisure time are among the most frequented targeted occupations by young people during times of leisure. The integration in these kinds of occupations promotes the development of the individual, providing a large range of benefits, such as disease prevention, preservation of physical, mental and social well-being.

The present study aims to identify the motivational dimensions most valued in sports by the preadolescent group, as well as, analyze several related factors, such as the identification of factors of influence on sport initiation, the level of valorization assigned to sport, and more, the comparison of motivations between genders and between practitioners of one or multiple leisure time activities.

The study sample consisted of 400 athletes, 254 boys and 146 girls between the ages of 10-12 years old covering 18 collective and individual sports from 10 sports institutions in the city of Funchal, Portugal. The study was conducted by a questionnaire survey which was applied from September 2011 through October 2011. The survey included a section type QMAD composed of 26 motivations / reasons grouped into eight motivational dimensions which were valued according to a Likert scale of 5 points. The data was processed with the support of the SPSS program.

The results indicate that preadolescents are motivated primarily by the aspects related to fitness and health, but also for reasons related to the sport such as being part of a club and the development of the technical skill.

It was verified that these same motivations are the most valued by both genders, although boys attach more importance to the competition, the specific affiliation, general affiliation and the status. About the athletes practicing sports in exclusivity, it is clear that they value more the competition and status. It was also proved that the main motivating factors in the sport initiation are the athlete himself and the family.

This study thus allows us to conclude that the practice of sport in the preadolescents group in leisure time is influenced primarily by reasons related to the physical condition and heath, sport institution, sport and evolution as an athlete, revealing lower valuation on factors like social recognition, emotions and fun.

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vi Résumé

La pratique des activités physiques et sportifs, pendant les loisirs, est la plus fréquentée par les jeunes pendant les temps extrascolaires.

L’intégration dans ce genre d’occupations est bénéfique pour l’épanouissement de l’individu, en lui apportant un nombre important de bénéfices tels que la prévention de certaines maladies, ainsi que la préservation du bien-être physique, mental et social.

Le présente étude vise à identifier les motivations premières qui poussent les préadolescents à pratiquer le sport, ainsi qu’à examiner plusieurs facteurs qui y sont associés, tels que l'identification des facteurs qui influencent le sport d'initiation, le niveau de valorisation affectée à la pratique du sport, mais aussi, la comparaison des motivations entre les deux sexes et établir les liens simples ou multiples entre praticiens d’activités extrascolaires.

L’ échantillon de cet étude à été composé de 400 athlètes, 254 garçons et 146 filles, de 10 clubs sportifs au Funchal, Portugal, avec des âges compris entre 10 et 12 ans) des deux sexes, couvrant 18 des modalités collectives et individuelles. L’instrument d’évaluation utilisé à été, l’enquête par questionnaire, soumis pendant les mois de septembre et octobre 2011, lequel à inclus une section du type «QMAD», composé de 26 motivations/raisons regroupées en 8 dimensions évaluées selon une échelle de Likert de 5 points. Le traitement des données à été traité avec le soutien de SPSS

Les résultats on permis d’établir que les préadolescents sont motivés, principalement, par les aspects liés à la condition physique et à la santé, mais aussi pour des raisons sportifs, le club et le développement des compétences techniques.

Il a été constaté que les deus sexes ont les mêmes motivations. Cependant les garçons accordent plus d'importance à la compétition, l'appartenance spécifique, l’appartenance générale et le statut. Par ailleurs en ce qui concerne les athlètes pratiquant un sport exclusif, il est clair qu'ils privilégient la compétition et le statut. Il a été prouvé également que les principaux moteurs à l'initiation de ce sport sont l'athlète et sa famille.

Cette étude permet donc de conclure que la pratique d’un sport, par préadolescents, pendant les loisirs, est influencée principalement par des raisons liées à la condition physique, le club, le mode d'évolution en tant qu'athlète, révélant ainsi une valorisation moins importante des facteurs tels que la reconnaissance sociale, les émotions et le plaisir.

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vii ÍNDICE GERAL

INTRODUÇÃO ... 1

CAPÍTULO I – PARÂMETROS DO ESTUDO ... 5

1.1 Contexto e Justificação do Estudo ... 6

1.2 Caraterização do Meio/População ... 7

1.3 Objetivos do Estudo ... 7

1.4 Hipóteses da investigação ... 8

1.5 Amostra ... 8

1.6 Variáveis ... 9

1.7 Estudo / Instrumentos de Investigação ... 9

1.8 Recolha de dados ... 10

CAPÍTULO II – TEMPO DE LAZER ... 12

2.1 Tempo Livre e Tempo de Lazer ... 13

2.2 Animação Sociocultural ... 15

2.3 Atividades de Lazer e Atividades Desportivas ... 17

CAPÍTULO III – ATIVIDADE DESPORTIVA ... 21

3.1 Atividade Física ... 22

3.2 O Jogo ... 23

3.3 Desporto ... 25

3.4 Benefícios da Atividade Física e Desportiva... 28

CAPÍTULO IV – PRÉ-ADOLESCÊNCIA ... 30

4.1 Contextualização da Pré-adolescência ... 31

4.2 Puberdade ... 31

4.3 Entre a Infância e a Adolescência ... 32

4.4 O Pré-adolescente ... 34

4.5 O Pré-adolescente e as Atividades Lúdicas e Desportivas ... 36

CAPÍTULO V – MOTIVAÇÃO ... 39

5.1 Contextualização de Motivação ... 40

5.2 Definição de Motivação ... 41

5.3 Teorias da Motivação ... 41

5.4 Motivação para a Atividade Física e Desportiva ... 46

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viii

5.4.2 Questionário de Motivação para a Prática Desportiva – QMAD ... 47

5.4.3 Estudos sobre a Motivação na Prática Desportiva ... 48

5.4.4 Diferenças motivacionais entre géneros. ... 51

CAPÍTULO VI – APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS ... 53

6.1 Caraterização Global da Amostra ... 54

6.1.1 Idade e Género ... 54

6.1.2 Local de Residência/Estabelecimento de Ensino ... 54

6.1.3 Modalidades desportivas praticadas ... 54

6.1.4 Influência na iniciação à prática desportiva ... 55

6.1.5 Frequência de atividades extraescolares adicionais ... 56

6.1.6 Perspetivas de frequência em atividades extraescolares ... 56

6.1.7 Importância atribuída à prática de uma modalidade desportiva ... 57

6.2 Valorização das Dimensões Motivacionais ... 58

6.3 Motivação segundo a variável Género ... 58

6.3.1 Motivação do Género Masculino ... 58

6.3.2 Motivação do Género Feminino ... 59

6.4.3 Comparação das Motivações entre Géneros ... 59

6.4 Motivação segundo a variável Vinculação ... 61

6.4.1 Motivação dos inquiridos com Vinculação Múltipla ... 61

6.4.2 Motivação dos inquiridos com Vinculação Única ... 61

6.4.3 Comparação de Motivações em função do tipo de Vinculação ... 62

CAPÍTULO VII – DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ... 64

CONCLUSÕES ... 68

BIBLIOGRAFIA ... 72

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ix ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1 – Distribuição da Idade ... 54

Tabela 2 - Distribuição do Género ... 54

Tabela 3 – Local de Residência ... 54

Tabela 4 – Local do Estabelecimento de Ensino ... 54

Tabela 5 - Modalidade Desportiva praticada ... 55

Tabela 6 – Influência na iniciação à prática desportiva ... 55

Tabela 7 – Frequência em outra Atividade Extraescolar ... 56

Tabela 8 - Outras Atividades Frequentadas ... 56

Tabela 9 – Perspetivas de frequência em outras atividades extraescolares ... 56

Tabela 10 – Importância da prática de uma modalidade desportiva ... 57

Tabela 11 – Importância da Prática de uma modalidade desportiva - Média ... 57

Tabela 12 - Estatística descritiva das Dimensões Motivacionais ... 58

Tabela 13 - Motivação do Género Masculino ... 58

Tabela 14 - Motivação no Sexo Feminino ... 59

Tabela 15 - Motivação comparada entre Géneros ... 59

Tabela 16 - Teste t para grupos independentes - Variável Género ... 60

Tabela 17 - Motivação nos inquiridos com Vinculação Múltipla ... 61

Tabela 18 - Motivação nos inquiridos com Vinculação Única ... 61

Tabela 19 - Motivação comparada entre Vinculação Única ou Múltipla ... 62

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x ÍNDICE DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Valores registados nas 26 questões do QMAD ... 85

Gráfico 2 – Médias das respostas da Dimensão Forma Física ... 85

Gráfico 3 – Médias das respostas da Dimensão Competição ... 86

Gráfico 4 – Médias das respostas da Dimensão Estatuto ... 86

Gráfico 5 – Médias das respostas da Dimensão Emoções... 87

Gráfico 6 – Médias das respostas da Dimensão Prazer ... 87

Gráfico 7 – Médias das respostas da Dimensão Desenvolvimento Técnico ... 87

Gráfico 8 – Médias das respostas da Dimensão Afiliação Geral ... 88

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xi ÍNDICE DE ANEXOS

Anexo 1 – Gráfico dos valores atribuídos a cada opção do QMAD ... 84 Anexo 2 - Inquérito aos Atletas ... 89 Anexo 3 - Declarações de colaboração ... 92

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xii ÍNDICE DE SIGLAS E ABREVIATURAS

IDP - Instituto do Desporto de Portugal

IDRAM - Instituto do Desporto da Região Autónoma da Madeira INE – Instituto Nacional de Estatística

IPDJ - Instituto Português do Desporto e Juventude MSP - Ministério da Saúde de Portugal

PMQ - Participation Motivations Questionnaire PORDATA – Base de Dados Portugal Contemporâneo

QMAD - Questionário de Motivação para as Atividades Desportivas RAM – Região Autónoma da Madeira

SPSS - Statistical Package of the Social Sciences

UNESCO - United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization UTAD – Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

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2 INTRODUÇÃO

A fase de transição entre a infância e a adolescência tem como característica a assimilação de novas perspetivas perante as atividades de animação dos tempos livres para os jovens. A preferência pelo desenvolvimento de atividades de lazer em contextos juvenis torna-se um espaço de expressão e autorrealização e identificação pessoal (Amaral, 2007).

A seleção do tipo de atividades de animação dos tempos lazer pode ser orientada pelos encarregados de educação ou proporcionada ocasional, ou circunstancialmente pelos contextos sociais. No entanto, como defendido por Freire (2006), no período extraescolar, o envolvimento em atividades lúdicas é um dos pontos-chave para que a realização de atividades se possa reverter em mais crescimento e desenvolvimento. Este facto é também apoiado por Marcellino (2006), indicando a necessidade de proporcionar à criança o tempo e o espaço, para que o caráter lúdico do lazer seja vivenciado com intensidade, capaz de formar uma base sólida para a criatividade e a participação cultural.

De entre um rol de atividades ocupacionais extraescolares disponibilizadas a crianças e jovens, o desporto, a expressão corporal e artística, os jogos e os espetáculos, preenchem uma posição de destaque no que refere às possibilidades de desenvolvimento da criança (Ifergan & Etienne, 2002).

Como indicado por Cruz (1996), tem-se verificado ao longo dos anos um claro envolvimento da população na prática desportiva em diversas faixas etárias, assim como um aumento do interesse pelo desporto. Também segundo o Instituto do Desporto de Portugal - IDP (2011), os dados analisados desde meados da década de 90 revelam que a prática federada cresceu 93% entre 1996 e 2009, sendo nos escalões mais jovens onde se regista maior número de praticantes com valores superiores a 250 mil praticantes a partir de 2007. Esta significativa adesão vai ao encontro do defendido por Lança (2009), que considera que a atividade física e o desporto devem fazer parte da rotina diária e, para além disso, ser iniciadas os mais precocemente possível como fator de benefício para o indivíduo e para a sociedade.

Tal como na adesão a qualquer tipo de atividade, o envolvimento na prática desportiva pressupõe a existência de motivação. Espada (2002) considera a motivação um fator emocional básico para o ser humano, um ativador que levamos no nosso mundo emotivo e que nos impulsiona para conseguir os nossos anseios. A motivação para a prática desportiva é

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3 um processo dependente de um considerável número de variáveis. De acordo com Mota e Sallis (2002), este processo tem características complexas envolvendo fatores reguladores como as variáveis interpessoais, variáveis ambientais e a atividade física. Segundo os estudos analisados por Bakker, Whiting e Van der Brug (1993) sobre a motivação para a prática desportiva, a característica mais notória era a de que a participação desportiva possui um importante valor intrínseco, ou seja, ela é parte das necessidades do próprio atleta. No entanto, como indicado por Gomes (2010), são os encarregados de educação que encorajam o início da prática desportiva, proporcionando as condições necessárias ao seu desenvolvimento.

Conforme exposto por Pereira (2007), o desporto praticado pelos jovens adquire agora uma lógica diferente de uma cultura disciplinada. Os jovens que praticam desporto, ainda que no âmbito formal e até federado, fazem-no numa vertente de divertimento. De acordo com Barangé (2004), o pré-adolescente pratica desporto para se divertir e como forma de lazer. Além disso, os jovens têm interesse em obter reconhecimento pelos seus companheiros, sentir-se integrados e valorizados no grupo.

No entanto, para Fonseca e Maia (2000) ou Bento, Silva e Pontes (2008), esta vertente mais lúdica na prática desportiva, apesar de se verificar, não parece ser a razão principal apresentada pelos jovens, onde segundo os mesmos autores, os principais motivos passam principalmente pela melhoria e demonstração da sua competência na prática de uma modalidade, a afiliação geral e a condição física. Por sua vez, Cruz (1996) indicara na sua análise sobre a investigação dos motivos para a prática e competição desportiva em diversas faixas etárias, que os motivos referidos de forma sistemática como mais importantes são a melhoria de competências, divertimento, relacionamento com amigos, desafios, sucesso e manutenção da forma física. Também Quevedo-Blasco, Quevedo-Blasco e Páz (2009) ou Egli, Bland, Melton e Czech (2011), se encontram entre os estudos que se afastam do conceito de que, a diversão se encontra entre os principais motivos na prática desportiva.

Face a alguma desigualdade de tendências, referidas por diferentes autores em relação aos principais motivos para a prática desportiva, emerge a questão, sobre quais serão os fatores motivacionais de adesão à prática desportiva extraescolar relativa à faixa etária pré-adolescente. Procura-se assim com este estudo, averiguar quais as dimensões motivacionais mais valorizadas pelos pré-adolescentes na prática desportiva e conhecer o nível de valorização atribuída pelos pré‑adolescentes à prática de uma modalidade desportiva. Pretende-se também identificar os fatores de influência na escolha da atividade desportiva no

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4 Funchal, um concelho que totaliza 82 clubes desportivos envolvendo 49 modalidades, integrado numa região que frequentemente regista a conquista de títulos nacionais desportivos, como são exemplo os 240 campeonatos nacionais alcançados na época 2010/2011 em várias modalidades e escalões, 12 dos quais referentes ao escalão de infantis (pré-adolescentes), referenciados pelos Instituto do Desporto da Região Autónoma da Madeira -IDRAM (2012).

De forma a alcançar os objetivos propostos neste estudo procedeu-se à estruturação do trabalho da seguinte forma:

O Capítulo I é constituído pelos Parâmetros do Estudo, onde se expõe o Contexto e Justificação, a Caraterização do Meio/População, os Objetivos e as Hipóteses para a investigação. Incluem-se também a Amostra, as Variáveis, os Instrumentos e o procedimento da Recolha de dados. No capítulo II, intitulado Tempo de Lazer, estão abordados os temas Tempo Livre e Tempo de Lazer e expostas as suas definições e relações. Segue-se uma abordagem à caraterização da Animação Sociocultural, concluindo com a referência às Atividades de Lazer no contexto juvenil e a sua relação com as Atividades Desportivas.

O capítulo III aborda os Benefícios da Atividade Física e Desportiva, definindo primeiramente o conceito de Atividade Física e estabelecendo uma interligação evolutiva dos conceitos de Jogo e Desporto. Com o capítulo IV expõem-se as características da Pré-adolescência, através do estabelecimento da sua delimitação cronológica e a caraterização da perspetiva dos jovens desta faixa etária em relação às atividades lúdicas e desportivas.

O capítulo V sobre a Motivação aborda o seu conceito, resumindo as Teorias da Motivação suscetíveis de serem enquadradas na Motivação para a Prática Desportiva. É realizada uma análise ao Fatores de Iniciação Desportiva, apresentando-se posteriormente uma síntese do Questionário de Motivação para a Prática Desportiva, assim como uma abordagem ao Questionário QMAD e aos estudos existentes nesta área sobre as Diferenças Motivacionais entre Géneros.

O capítulo VI consiste na Apresentação do Resultados com uma abordagem dos dados estatísticos da Caraterização Geral da Amostra, a Valorização da Dimensões Motivacionais, Motivação segundo a variável Género e segundo a variável Vinculação.

Segue-se o capítulo VII com a Discussão dos Resultados, finalizando com as Conclusões.

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6 1.1 Contexto e Justificação do Estudo

Como exposto por Gonçalves (2007), a integração de uma população juvenil em estudos permite refletir as tendências contemporâneas dos processos de participação e decisão da sociedade, surgindo nesta perspetiva, a integração da população infanto-juvenil no presente estudo.

Com o final da infância a criança adota novas perspetivas perante as atividades de animação dos tempos livres, assumindo Amaral (2007), que o lazer em contextos juvenis torna-se um espaço de expressão e autorrealização e identificação pessoal. Moriana, Alós, Cabrera, Pino, Alcalá, e Ruiz (2006) concluem que “realizar atividades fora do horário escolar beneficia os alunos no seu rendimento, sobretudo se são alternadas atividades do tipo académico e desportivo” (2006: 36).

A integração em atividades extraescolares orientadas por instituições fora do contexto escolar e familiar faz hoje parte do dia-dia de uma grande percentagem de jovens, como referenciado por Pereira (2007). A prática federada cresceu 93% entre 1996 a 2009, nos escalões mais jovens (até Juniores) registou-se o maior número de praticantes, com valores superiores a 250 mil a partir de 2007 (IDP, 2011). Com base na PORDATA (2011) foram em 2010 contabilizados 290.169 praticantes até aos 16 anos. Conforme exposto por Proença (2008), baseado nos estudos elaborados por Katzmarzyk e Malina (1998), a nível mundial, aproximadamente 25 milhões de jovens dos 5 aos 17 anos praticam desporto num clube e 14 milhões estão envolvidos em programas recreativos de desporto. Estes dados são reveladores da enorme adesão dos jovens a atividades extraescolares, nomeadamente desportivas.

Reconhecida a enorme adesão dos jovens às atividades desportivas extraescolares, importa saber os critérios para a escolha e frequência da população infanto-juvenil neste tipo de ocupações, uma vez que segundo a análise comparativa de estudos como Fonseca e Maia (2000), Pereira (2007), Palou, Borras, Vidal, Gili e Ponseti, (2005), Bento et al. (2008), Quevedo-Blasco et al. (2009) ou Egli et al. (2011), não permite apurar uma conclusão definitiva sobre as motivações manifestadas pelos pré-adolescentes.

Com a realização deste trabalho procura-se saber qual o papel da prática desportiva nas ocupações lúdicas extraescolares dos pré-adolescentes do concelho do Funchal, bem como averiguar qual o tipo de adesão a outras ocupações lúdicas por parte dos jovens desportistas e identificar os fatores de influência na escolha da atividade desportiva.

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7 1.2 Caraterização do Meio/População

O Município do Funchal ocupa uma área de 76,15 Km2, distribuída por dez freguesias, onde residem 111892 habitantes (cerca de 41,8% da população da RAM) com base nos resultados dos Censos 2011 (INE, 2012).

Segundo o IDRAM (2012) no Funchal estão enquadradas 20 associações de modalidade e 82 clubes desportivos envolvendo 8200 atletas. O desporto federado movimentou 49 modalidades desportivas, integradas maioritariamente nas diversas associações de modalidade, que asseguram o planeamento, promoção e realização das atividades, da formação à competição desportiva nacional.

O concelho regista a prática desportiva mais acentuada da Região com 55% da totalidade dos praticantes, 59% da totalidade dos clubes e o desenvolvimento de 49 das 51 modalidades existentes na RAM.

1.3 Objetivos do Estudo

Objetivos específicos delineados para o estudo:

1 - Identificar os fatores de influência na iniciação à prática desportiva.

2 - Conhecer o nível de valorização atribuída pelos pré‑adolescentes à prática de uma modalidade desportiva.

3 - Identificar as principais dimensões motivacionais para os pré-adolescentes na prática desportiva extraescolar.

4 - Distinguir a valorização das dimensões motivacionais na prática desportiva entre géneros.

5 - Distinguir a valorização das dimensões motivacionais na prática desportiva entre atletas com vinculação única e múltipla de atividades orientadas extraescolares.

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8 1.4 Hipóteses da investigação

H1 – As principais dimensões motivacionais para os pré-adolescentes na prática desportiva extraescolar são a competição, afiliação geral, desenvolvimento técnico e forma física.

H2 – Os fatores de influência na iniciação à prática desportiva são sobretudo o próprio atleta e a família.

H3 – Os rapazes, comparativamente com as raparigas atribuem maior valorização ao desenvolvimento técnico e à competição.

H4 – As raparigas, comparativamente com os rapazes atribuem maior valorização à forma física e à afiliação geral.

1.5 Amostra

A amostra do estudo foram 400 atletas, 254 rapazes e 146 raparigas de 10 instituições desportivas do concelho do Funchal, com idades compreendidas ente os 10 e os 12 anos (escalão de infantis), de ambos os sexos, abrangendo as seguintes 18 modalidades coletivas e individuais: Voleibol; Futebol; Ginástica Rítmica; Badmínton; Ténis; Andebol; Natação; Karaté; Judo; Atletismo; Vela; Canoagem; Hóquei em Patins; Ténis de Mesa; Esgrima; Triatlo; Ginástica Artística Masculina e Basquetebol.

Para o apuramento da nossa amostra foram tomados em consideração 31 clubes desportivos do concelho do Funchal não associados a escolas que, segundo o último documento estatístico publicado pelo IDRAM integram atletas entre os 10 e 12 anos (IDRAM, 2012). Destes 31 clubes selecionamos nove, que segundo o mesmo documento compreendiam 73,5% da população desportiva pré-adolescente do Funchal; Clube de Ténis do Funchal, Clube Desportivo 1º de Maio, Club Sports da Madeira, Clube Naval do Funchal, Club Sport Marítimo da Madeira, Clube Desportivo São Roque, Madeira Andebol SAD, Académico Clube Desportivo do Funchal e Clube Desportivo Nacional. Posteriormente foi incluído o Clube Amigos do Basquete – CAB, o qual não apresentava atletas do referido escalão no documento estatístico oficial, mas conforme apurado na data da realização do estudo, incluía 18 atletas pré-adolescentes. Assim, a amostra encontra-se nos 75,5% da população de atletas pré-adolescentes praticantes de modalidades desportivas no concelho do Funchal.

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9 1.6 Variáveis

Variáveis Independentes:

- Género;

- Praticantes com vinculação única ou múltipla (praticantes de uma só atividade ou mais que uma atividade extraescolar orientada).

Variáveis Dependentes:

- Dimensões motivacionais:

(Estatuto; emoções; prazer; competição; forma física; desenvolvimento técnico; afiliação geral e afiliação específica).

1.7 Estudo / Instrumentos de Investigação

A investigação assenta sobre a perspetiva quantitativa, em que o objetivo é descriminar fatores associados ao fenómeno em análise. O modelo de estudo foi do tipo descritivo simples, que segundo Fortin (2009) consiste na descrição simples de um fenómeno relativo a uma população, por forma a estabelecer as suas características.

A técnica de recolha de informação é o inquérito por questionário, “a técnica de construção de dados que mais se compatibiliza com a racionalidade instrumental e técnica que tem predomínio nas ciências e na sociedade em geral.” (Ferreira, 2001: 67). Este encontra-se dividido em duas partes. Na primeira, foram elaboradas questões fechadas com o objetivo de averiguar informações estatísticas caraterizadoras da população, atendendo à idade, ao género, o concelho de residência, o concelho da localização da escola, a modalidade praticada, a eventual vinculação a outras atividades extraescolares, perspetivas de adesão a atividades extraescolares e a valorização atribuída à atividade desportiva extraescolar. A segunda parte é composta por um questionário denominado Questionário de Motivação para as Atividades Desportivas (QMAD), que segundo Barroso (2007) foi criado a partir do Participation Motivations Questionnaire (PMQ) desenvolvido por Diane J. Gill, John B. Gross e Sharon Huddleston em 1983 De acordo com Rebelo (1999), Fonseca e Maia (2000), Barroso (2007), Morouço (2007) e Veigas, Catalão, Ferreira e Boto (2009), este é o instrumento a partir do qual é possível determinar motivos para a prática da atividade desportiva.

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10 As questões integradas no modelo QMAD são avaliadas por uma escala de Likert de 5 pontos com a seguinte correspondência: 1, nada importante; 2, pouco importante; 3, não sei/não respondo; 4, muito importante e 5, totalmente importante.

As referidas perguntas incorporam 26 motivações/razões que se encontram agrupados em oito dimensões:

- Estatuto: motivos que se relacionam com a tentativa de aquisição ou manutenção de uma posição perante os outros (Itens: 4, 6, 12, 17, 24 e 26);

- Emoções: motivos que envolvem a vivência de sensações de libertação ou superação. Itens: 5 e 7;

- Prazer: motivos que se relacionam com a satisfação (Itens: 1, 15 e 23);

- Competição: constituído pelos motivos que envolvem competição (Itens: 18 e 20);

- Forma física: motivos relacionados com a tentativa de aquisição ou manutenção de uma boa condição ou forma física (Itens: 9, 14 e 21);

- Desenvolvimento técnico: motivos que se relacionam com a tentativa de melhoria do nível técnico atual (Itens: 2 e 11);

- Afiliação geral: constituído pelos motivos que envolvem relações de amizade ou integração em grupos (Itens: 3, 19 e 22);

- Afiliação específica: motivos relacionados com as relações geradas no âmbito da equipa (Itens: 8, 10, 13, 16 e 25);

O referido inquérito foi previamente aplicado, com o objetivo de verificar a sua fiabilidade e aplicabilidade, a uma amostra piloto de 26 indivíduos da mesma faixa etária de ambos os géneros, praticantes das modalidades de Triatlo, Ciclismo, BTT, Karaté, Voleibol e Futebol, das instituições Ludens Clube de Machico e Associação Desportiva de Machico.

1.8 Recolha de dados

Numa primeira fase foram contactados os dirigentes das instituições selecionadas, aos quais foram transmitidos os parâmetros do estudo, a forma de aplicação dos inquéritos e apresentada a respetiva solicitação para colaboração.

Com o objetivo abranger o maior número possível de atletas de cada instituição, procedeu-se à entrega dos documentos em mão aos atletas antes da respetiva sessão de treino e consequente recolha dos mesmos.

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11 O processo de aplicação de questionário obedeceu ao seguinte protocolo:

1º Reunião dos atletas antes do treino e transmissão dos objetivos dos inquéritos; 2º Apelo ao preenchimento individual e sincero do questionário;

3º Entrega dos questionários e das esferográficas;

4º Recolha e arquivamento dos questionários de forma confidencial; 5º Agradecimento pela colaboração.

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13 2.1 Tempo Livre e Tempo de Lazer

Todos os períodos de tempo do quotidiano são elementares e necessários para o desenvolvimento equilibrado do indivíduo, embora possam ser diversificados, complementares ou antagónicos. Barbosa (2006: 123) clarifica que “quer o tempo de trabalho, quer o tempo livre, embora sejam realidades diferentes, fazem parte de uma única realidade, o Tempo de Vida”. Assim, partindo de Dumazedier (1979), Homem (2006) e Lopes (2008), proceder-se-á à abordagem dos conceitos de tempo livre e tempo de lazer.

Para Lopes (2008), deve ser estabelecida a diferenciação entre o tempo de trabalho, aquele destinado à principal ocupação laboral, e o tempo de não trabalho ou tempo desocupado. Este tempo desocupado, livre das obrigações profissionais, não pode ser completamente considerado tempo livre no seu âmbito mais lúdico e libertador. Existe um conjunto de obrigações cívicas e tarefas do quotidiano que devem ser agendadas para este período de tempo, como as deslocações, deveres institucionais, alimentação, atividades fisiológicas e de higiene. Assim, segundo o mesmo, para além do tempo dos encargos pessoais e sociais que usualmente se classifica como tempo livre, existe um tempo designado por tempo liberto, atribuído às atividades de lazer. Por sua vez, Homem (2006: 38) refere-nos que “atividades de lazer são também atividades de tempo livre mas o inverso já não é verdade”, justificando que o lazer está relacionado com o prazer e com as satisfações pessoais, enquanto o tempo livre poderá estar relacionado com algumas atividades fora do âmbito do prazer.

Nas sociedades pré-industriais não existia o conceito de tempo de lazer. Esta ausência deve-se ao facto de que a maioria das classes sociais referentes a tais períodos históricos, não terem definida uma libertação do tempo de trabalho em praticamente nenhum período do quotidiano, justificando Dumazedier (1979: 28), que o lazer “é uma libertação periódica do trabalho […] e de um certo género de obrigações”, um tipo de atividade que é sempre dependente da livre escolha do indivíduo. O mesmo autor indica assim, que o lazer é característico das sociedades pós-industriais. A partir deste período histórico, o trabalho destaca-se das demais atividades quotidianas, que pela sua intensidade, faz com que o tempo de lazer ganhe algum protagonismo e legitimidade, uma vez que muitas das atividades sociais atingem uma dinâmica comunitária global, em que os ritos são parcialmente impostos por essa mesma sociedade.

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14 Segundo Cuenca (2006), o ócio está vinculado ao florescimento da cultura ocidental, mais concretamente na cultura grega, enquanto o tempo livre se refere a um conceito mais recente, integrado na expansão da sociedade industrial. Acrescenta, ainda, que “ócio entende-se como uma resposta pessoal às atividades que se podem realizar durante o tempo livre proporcionando satisfação pessoal, renovação e prazer” (Cuenca, 2007: 79). Lopes (2008), por sua vez afirma que, embora os dois termos possam ser considerados sinónimos, não têm o mesmo significado, no entanto, em termos do contexto de aplicação geral das suas terminologias na atualidade, podem ser recorridos de forma indiferenciada, devido ao facto de ambos terem como caraterísticas, a liberdade no tempo, o repouso e o serem lícitos.

O tempo disponível não foi, e não é, resultado de uma decisão do indivíduo, mas o resultado de uma evolução da economia e da sociedade, que o transformaram num novo direito social, que permite a disponibilidade de um tempo cuja finalidade é a autossatisfação, conforme exposto por Dumazedier (1979), explicando, ainda, que o lazer carateriza-se por um conjunto de atividades relativas às necessidades físicas e espirituais do indivíduo enquadradas numa determinada sociedade, condicionado pelo tempo de trabalho, e pelo tempo passado em obrigações pessoais e institucionais.

Assim, Dumazedier apresenta uma das definições mais invocadas por diversos autores acerca do lazer:

“Lazer é um conjunto de ocupações nas quais o indivíduo pode se envolver voluntariamente, seja para repouso, para divertimento, ou para desenvolver sua informação ou formação desinteressada, a sua participação social voluntária ou sua livre capacidade criadora depois de liberto das suas obrigações profissionais, familiares e sociais.”

Dumazedier (1962: 29)

Lopes (2008) assinala que esta definição nos remete para três componentes, que classifica como três D (s) – Diversão, Descanso e Desenvolvimento. Na análise de Homem (2006), o Descanso tem um papel recuperador das tensões físicas e mentais, provocados por uma vida intensa. O Divertimento será um aspeto regulador, um meio de suportar as contrariedades e constrangimentos da vida social. O Desenvolvimento da personalidade passa por uma participação social ativa e livre e refletindo novas possibilidades de integração voluntária na vida dos grupos recreativos, culturais e sociais.

Num outro âmbito de estruturação da definição de lazer, Dumazedier (1979) toma-a como toda a atividade que apresenta como atributos: o caráter liberatório, em que tais atividades resultam de uma escolha livre; caráter desinteressado, pelo não relacionamento

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15 com nenhum fim lucrativo ou utilitário; caráter hedonístico e a busca de uma satisfação instantânea; e o caráter pessoal em que o lazer responde a necessidades do individuo face às obrigações impostas pela sociedade. O lazer permite, assim, a libertação de fadigas físicas e/ou psicológicas, o desvio para o divertimento e a fuga ao tédio. Possibilita a superação do ser e a libertação do poder criador pelo quebrar de rotinas.

Existem ainda, iniciativas de lazer em que a liberdade na escolha e desenvolvimento das atividades não é total. Não tendo um caráter totalmente obrigatório, também não contemplam completamente o conceito de lazer, dado que existe uma componente parcial de prazer, classificando-as Dumazedier (1979) de semilazer. Segundo o mesmo autor “O semilazer é uma atividade mista em que o lazer é misturado a uma obrigação institucional” (Dumazedier, 1979: 95). Muitos dos contextos atuais de lazer enquadram-se neste argumento, são atividades, onde apesar da manutenção da motivação e satisfação manifestadas pelo indivíduo, surge a imposição de regras que passam a ser aceites pelos intervenientes de forma mais ou menos natural.

Assim, depois da necessária demarcação na distinção entre tempo de trabalho e tempo de não trabalho, considera-se que neste último se encontram dois conceitos distintos. O tempo livre, aquele que surge para além do tempo de trabalho institucional no qual podemos enquadrar o tempo para as necessidades e obrigações do nosso quotidiano. Podemos também, transformá-lo em tempo liberto, tempo rentabilizado segundo a escolha livre, em atividades de lazer ou ócio – tempo de lazer.

2.2 Animação Sociocultural

O aumento da intensidade de trabalho por altura da Revolução Industrial, e a deslocação em massa das populações do campo para as zonas industrializadas tornou urgente a criação e integração de atividades pós-laborais de enriquecimento e desenvolvimento pessoal e social. Surgiu a necessidade de os tempos de recreação e lazer se integraram nas sociedades, fazendo emergir atividades de ocupação lúdica direcionadas para diversas áreas (Lopes 2008; Lança 2009).

Uma vez que tais atividades passaram a ter um cariz de intervenção social, dinamizando grupos de pessoas com interesses comuns, passaram a ser designadas de práticas de animação sociocultural (Lança, 2009). Acrescenta, referindo que a necessidade de

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16 rentabilizar o tempo livre em atividades de lazer e prazer, fez evoluir o tempo livre para momentos de desenvolvimento pessoal no âmbito do bem-estar e da diversão, proporcionando o aparecimento da animação.

Lopes (2008: 135) apoia a ideia que a origem da animação é temporalmente indeterminada se for considerada uma “manifestação difusa de criatividade e integração social”, indicando que a animação surgiu como consequência da necessidade que a sociedade teve em transformar as vivências em convivências, onde as práticas sociais se organizaram promovendo o envolvimento e desenvolvimento pessoal no sentido da sua autonomia e valorização.

Vários autores, entre eles Trilla (1997) e Lopes (2008), rejeitam definir de forma circunscrita o conceito animação sociocultural. O primeiro, refere que não há praticamente nenhum autor que, ao preocupar-se com o conceito de animação sociocultural e a construção de uma definição, posteriormente, não reconheça a sua imprecisão e ambiguidade. Acrescenta ainda, que as definições são tantas e díspares, que cada nova tentativa de criação de uma definição faz aumentar a confusão. Defende, por sua vez, que o objetivo central da animação sociocultural é criar o envolvimento de indivíduos e comunidades na dinâmica e processos sociais e culturais. O segundo, numa linha similar de caraterização, apoia as abordagens já debatidas por vários autores sobre animação sociocultural, que incluam características como os afetos e as ligações geradas pela interação social. O mesmo afirma concordar com o entendimento que a UNESCO faz da animação sociocultural, como o “conjunto de práticas sociais que visam estimular a iniciativa e a participação das populações no processo do seu próprio desenvolvimento e na dinâmica global da vida sociopolítica em que estão integradas” (Ibidem: 95).

A existência de um tempo de lazer constitui, segundo Lopes (2008), um âmbito potenciador para levar à prática um conjunto de ações reguladas por princípios norteadores da animação sociocultural. Por seu lado, Ventosa (2006) indica que a animação sociocultural não constitui uma ciência autónoma em si mesma, porque tem como bases outras ciências ao nível da sua fundamentação teórica e no conjunto das práticas às quais recorre. A maioria dessas práticas são adaptadas aos seus propósitos e nelas se incluem, entre outras, as atividades desportivas. O envolvimento neste tipo de atividades é orientado pela estruturação de um conjunto de valores socioculturais, resultantes das relações e valores inerentes, estabelecidos

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17 nos espaços sociais onde se inserem os atletas, como a família, a escola, os amigos e o clube (Marivoet, 1997).

2.3 Atividades de Lazer e Atividades Desportivas

As modalidades de animação do tempo livre por parte da população infanto-juvenil têm sido sujeitas a adaptações face à transformação dos hábitos sociais. De acordo com Pereira e Neto (1997), as práticas de lazer em populações infantis estão condicionadas pelo seu contexto, a acessibilidade à oferta de lazer e a satisfação da criança. Também para Moreira (2006), as transformações dos valores dos indivíduos em relação à ocupação do tempo livre, associadas a alterações ocorridas nas estruturas sociais e económicas, condicionam as oportunidades lúdicas oferecidas às crianças. Para Pereira e Neto (1999), a problemática na ocupação do tempo livre para um referida população encontra-se na própria condição específica das características da correspondente faixa etária, mas também, em relação às respostas e organização que a família e a sociedade devem dar de forma a colmatar as suas necessidades específicas face à oferta existente.

As práticas de lazer em idade juvenil representam subculturas capazes de refletir a caraterização desses próprios grupos. A forma como os seus tempos são ocupados, devido a um maior período de tempo liberto e fruído por estas faixas etárias, desempenham um papel fundamental em contextos extrafamiliar e extraescolar (Pereira, 2007).

A oferta de atividades de ocupação do tempo livre é de uma maneira geral bastante diversificada. Existem instituições públicas, privadas, com ou sem fins lucrativos, mas não necessariamente acessíveis a todos. Conforme exposto por Pereira e Neto (1999), o modelo de gestão dos tempos livres centrada nas crianças é estruturado nas seguintes categorias: a) crianças ficam em casa ou na rua entregues a si mesmas; b) crianças ficam em casa com o apoio dos pais ou outros familiares; c) crianças ficam em instituições de Atividades de Tempos Livres (ATL); d) crianças frequentam várias atividades extracurriculares (desporto, escoteiros, explicações, cursos).

Os referidos contextos de ocupação dos tempos livres divergem bastante nos níveis de segurança proporcionados às crianças, de acordo com a liberdade e o controlo inerente ao tipo de atividade. Por conseguinte, as que ficam sós têm mais liberdade mas também estão mais inseguras. Por outro lado, as que são integradas em atividades extraescolares, podem ser

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18 condicionadas de forma extrema na liberdade e no lazer, de forma ainda mais acentuada se essa atividade imposta.

Ainda segundo os mesmos autores, é na fase final da infância e da pré-adolescência que se nota uma maior adesão às práticas institucionalizadas como o desporto ou a música. Até esta faixa etária existe uma fase de experimentação de diversas atividades, sem que haja uma fidelização com o aspeto competitivo ou formal. As suas opções, motivações e escolhas surgem nesta fase.

Ventosa (2006) assinala que através do jogo e das atividades recreativas de grupo, é promovida a educação no tempo livre de crianças jovens e adultos. Acrescenta, que os clubes desportivos, enquadrados nos sistemas de educação não-formal, constituem um recurso fundamental para o desenvolvimento de atividades, a partir das quais evoluem os processos de aprendizagem pessoal mais conectados com a realidade da vida, no sentido da interação permanente com o outro. Também sobre as práticas desportivas inseridas em clubes, Marivoet (1997) concluíra que o seu envolvimento se encontra influenciado pelos valores socioculturais compreendidos pelos atletas face à atividade desportiva, assim como à valorização dada ao desporto pelo enquadramento social onde estão inseridos.

Por sua vez, Pereira e Neto (1997) referem que uma abordagem às práticas de tempos livres devem abranger necessariamente o desporto. Os clubes desportivos, como instituições mobilizadoras de um enorme número de jovens, têm um papel fundamental no aspeto formativo dos jovens. Também Costa, Serôdio-Fernandes e Maia (2009) afirmam que os clubes desportivos devem assumir uma cultura organizativa adequada ao contexto social onde estão inseridos, aos tempos atuais, respondendo eficazmente às necessidades dos praticantes desportivos. Conforme indicado por Homem (2006), o clube desportivo não deverá substituir ou compensar os défices da escola, mas proporcionar à criança uma prática desportiva integradora da vida social, fomentando a sua iniciação ou desenvolvimento desportivo e contribuindo para a sua educação social. O autor defende que o clube desportivo deve integrar um movimento de criatividade e dinamismo social e em articulação com as autarquias, gerar um modelo de ocupação dos tempos livres, do lazer e das atividades desportivas dos jovens em idade escolar, evitando a exclusividade para o desporto formal, para a alta competição e para o espetáculo desportivo.

Lança (2006) indica que as atividades e práticas desportivas se podem classificar como formais, informais e não formais, estando hoje em dia integradas em vários setores sociais,

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19 desde o escolar ao militar, passando pelo federado ou pelo turístico. Mesmo no setor da prática formal, a animação poderá interagir com as matérias ligadas ao movimento, à educação, à condição física e contribuir para um maior sucesso dos eventos ou das atividades. Os fatores lúdicos e desportivos podem convergir para o desporto de recreação possuindo uma função social única.

Hoje em dia, praticar desporto é uma importante e destacada atividade de lazer dos jovens. O desporto praticado pelas camadas mais jovens adquire agora uma lógica diferente de uma cultura disciplinada. Ainda que no âmbito formal e até federado, eles fazem-no numa vertente de divertimento, encarando-o como como uma atividade de semilazer. Os novos tempos são caraterizados por novos valores relativamente à prática desportiva, em que modelo desportivo juvenil, tem vindo a substituir a prestação pela sensação (Pereira, 2007).

Recentemente, Ferraz e Pereira (2009) concluíram num estudo sobre práticas de lazer na ocupação dos tempos livres, aplicado a jovens de ambos os sexos, entre os 12 e os 16 anos, em diferentes contextos sociais, que “ver televisão” é a atividade de lazer que os jovens referem praticar com mais frequência. Outras atividades que são mencionadas como muito frequentes são o “ouvir música”, “conversar com os amigos”, ”realizar trabalhos de casa” e “praticar uma atividade físico-desportiva”.

Já o estudo realizado por Esculcas e Mota (2005) sobre práticas de lazer em adolescentes concluiu, que em relação em relação à faixa etária dos 12 aos 14 anos, “ouvir música”, “ver televisão” ou “realizar os trabalhos de casa” encontram-se no topo das prioridades de mais de 90% dos jovens. Por outro lado, as atividades relacionadas com “arte” e “expressão” e “trabalhos de solidariedade social” são as menos praticadas. No que refere ao Desporto Não Orientado e ao Desporto Orientado ou de Competição, as percentagens encontram-se nos 49,5% e 35,9% respetivamente. De acordo com os autores, as atividades praticadas pela proporção mais elevada dos jovens podem ser classificadas como lazeres não ativos. Os resultados revelam que os adolescentes têm uma grande componente de tempo livre não estruturado (cerca de 40%).

Segundo o estudo de Pedro (2005) sobre práticas de lazer de crianças do 1º ciclo, aplicado a 156 crianças entre os 7 e os 12 anos, “ver televisão” é também uma prática executada em grande escala pelas crianças após o período escolar. A atividade orientada mais praticada pelas crianças de ambos os géneros é a catequese (77,6%), seguida pelo futebol (27,6%), escutismo (17,9%) e a música (17,9%). As atividades desportivas, como futebol,

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20 natação e karaté são mais frequentadas pelos rapazes, por sua vez as raparigas frequentam mais atividades como música, escutismo, ballet.

Segundo estes resultados, verifica-se que de facto, o tempo livre não estruturado ocupa um considerável período de tempo no quotidiano dos jovens. De entre as atividades orientadas, as práticas desportivas, a par das atividades expressivas, são as mais frequentadas.

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22 3.1 Atividade Física

A atividade física surge como consequência da capacidade de criação de movimento por parte dos seres vivos. Lopes da Silva (2006) indica que desde os primórdios da Humanidade, que o Homem se exercita fisicamente como mecanismo de sobrevivência. No período contemporâneo, apesar do aumento do tempo livre, o ser humano ocupa-se preferencialmente com tarefas sedentárias. Aditando a referência de Lopes, Vasques, Ferreira e Maia (2006), a inatividade física é fisiologicamente uma anormalidade, em que o corpo humano deixa de funcionar dentro dos parâmetros normais, afetando o estado de saúde, nos casos de ausência da atividade física ou da sua diminuição para níveis muito baixos.

Segundo a World Health Organization - WHO (2002), a atividade física são "todos os movimentos na vida quotidiana, incluindo o trabalho, recreação, exercícios e atividades desportivas". Esta organização refere que este é um termo amplo, abrangendo diversas atividades que variam em termos de intensidade, acrescentando ainda, num âmbito mais técnico que, a atividade física é “qualquer movimento corporal produzido pelos músculos esqueléticos com dispêndio de energia” (WHO, 2010).

Já anteriormente Caspersen, Powell e Christenson (1985) haviam definido a atividade física como um movimento corporal produzido pelos músculos esqueléticos, resultando num gasto de energia. Na mesma asserção do conceito surgem Matos (2002), Drobnic e Galilea (2006), Ward, Sounders e Pate (2007), Seabra, Mendonça, Thomis, Anjos & Maia (2008) ou Bouchard, Blair e Haskell (2012), referindo que a atividade física compreende o tipo de movimento corporal produzido pelos músculos esqueléticos, que resulta no incremento do nível metabólico para além do dispêndio da energia mínima necessária para manter as funções vitais.

Para além da consideração da definição de atividade física, Caspersen et al. (1985), Ward et al. (2007) e Serra, Román Aranceta Ribas e Ventosa (2006), entre outros, consideram este conceito de difícil definição e inserido em alguma complexidade, pelo facto de a atividade no seu todo, fazer parte do nosso dia-a-dia assumindo várias formas específicas. A atividade física pode ser categorizada de várias formas, tendo em conta diversos parâmetros. Caspersen et al. (2005) indicam que uma das formas mais comuns de a categorizar refere-se aos tipos de atividade física desenvolvida nas várias fases do dia na qual ela ocorre, isto é, durante o tempo de repouso, no tempo de trabalho e no tempo de lazer. Matos (2002)

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23 categoriza também a atividade física em função do tipo de indivíduo, como sedentário, moderadamente ativo e vigorosamente ativo.

A atividade física, sendo considerada um constructo multidimensional, não está enquadrada numa mensuração normativa, alcançando diversas características de acordo com determinadas variáveis, nomeadamente o tipo de atividade, a duração, a intensidade, e a frequência, como nos assinalam Veloso (2005) e Serra et al. (2006).

Definido o conceito de atividade física, torna-se necessário abordar algumas noções associadas, e que em diversas situações são tomadas como atividade física, como notado por Seabra et al. (2008). São o exercício físico e a forma/aptidão física. De acordo com os mesmos autores, e já assinalado anteriormente por Caspersen et al. (1985), o exercício físico é uma forma de atividade física planeada, estruturada e sistemática, efetuada com movimentos corporais repetitivos, com o intuito de desenvolver a forma física. Também Drobnic e Galilea (2006) seguem esta linha de definição, acrescentando que o objetivo do exercício físico é a melhoria ou a manutenção de uma ou mais componentes da forma física. Em relação ao conceito de forma física, Caspersen et al. (1985) indicam que é o conjunto de caraterísticas possuídas ou adquiridas por um individuo, que estão relacionadas com a capacidade de realizar atividades físicas. Já Matos (2002) indica, que a aptidão física é o conjunto de características que os indivíduos possuem ou alcançam em relação à capacidade de realizar atividade física, tornando-se assim sinónimo de condição física: capacidade de realizar tarefas diárias com vigor e vivacidade, sem fadiga excessiva, com suficiente energia para desfrutar do tempo livre ou ócio, e para enfrentar as emergências inesperadas.

Desta forma, o exercício físico pode-se considerar uma subcategoria da atividade física, proporcionando aos indivíduos o desenvolvimento da forma física.

3.2 O Jogo

O Homem, desde os tempos primitivos, viu-se obrigado a recorrer às suas capacidades físicas para lutar pela sobrevivência e usufruir de uma forma sustentável dos recursos da natureza. Em cada momento de atividade física o ser humano desenvolveu as suas aptidões e aperfeiçoou aquela que, em complemento com a sua inteligência, seria um recurso-chave na sua evolução – o seu corpo. A necessidade de procura de alimento, a defesa pessoal e do território teve como consequência o surgimento de atividades como a caça, a pesca, a luta, a

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24 corrida e a natação que se revelavam exigentes a nível físico e mental, proporcionando o desenvolvimento da força, agilidade, resistência e velocidade, promovendo a evolução física a nível global (Blanchard & Cheska, 1986).

Uma forma complementar de aperfeiçoamento de gestos e movimentos e desenvolvimento de capacidades físicas surgiu através do conceito de jogo. No entender de Alcoba (2001) o jogo é a forma mais natural de expressão. A partir dele regulam-se os sentidos e começam a manifestar-se os sentimentos da pessoa. Acrescenta ainda, que a manifestação do jogo é a primeira revelação da inteligência de um ser pela qual se demonstra diversas características psicológicas.

Tendo como base a definição de Huizinga (1998), Lança (2006: 35) carateriza o jogo como “uma ação ou ocupação livre, que se desenvolve dentro de uns limites espaciais e temporais determinados, segundo regras absolutamente obrigatórias, assim como livremente aceites”. Já para Marulanda (2001) o jogo define-se como um conjunto de atividades voluntárias que divertem e realizando sem um objetivo específico.

Segundo Blanchard e Cheska (1986: 41), “jogos são atividades competitivas em que

intervêm a destreza física, a estratégia, e a sorte ou qualquer combinação desses elementos, e que, assim como ocorre no desporto, podem ocorrer nas mesmas condições ambientais do ócio”. Conforme os mesmos autores, o jogo está relacionado com a componente lúdica de uma determinada atividade, mas também com a vertente competitiva.

Embora em tempos, o jogo fosse considerado como algo supérfluo e desnecessário, Lança (2009) considera que o jogo está presente no desenvolvimento do indivíduo intervindo diretamente na sua socialização, promovendo os estímulos de todas as dimensões da personalidade. A sua importância vai para além do fator de mero entretenimento, uma vez que através dele surgem processos de expressão e comunicação, desenvolvimento de aspetos de criatividade e exploração corporal, identificação do sentido de liberdade e criação de opinião crítica.

Pode assim referir-se, que o jogo é um contributo basilar nas várias fases do desenvolvimento humano, tornando-se um mecanismo de adaptação e perceção da realidade. O caráter lúdico e descomprometido inerente às características do jogo permite que as aprendizagens se processem em diversas dimensões numa perspetiva de liberdade e prazer, permitindo a construção da personalidade através de multifuncionalidades como a descoberta, a cooperação, a competição ou a comunicação.

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25 3.3 Desporto

O desenvolvimento de atividades físicas isoladas, por si só não nos remete para o conceito de desporto. Alcoba (2001) afirma que se o jogo for considerado como um aspeto formativo, ao entrarmos no campo da competição passa a ser considerado desporto. Blanchard e Cheska (1986) consideram que o desporto possui uma importante componente lúdica, que é o jogo. Nestas perspetivas, jogo e desporto são dois conceitos distintos mas fortemente interligados. Os mesmos referem que é através do jogo competitivo que o desporto revela tradições e valores partilhados por uma sociedade. Acrescentam ainda, que o desporto é composto por proporções variáveis de jogo, trabalho e ócio. Alcoba (2001) declara que a dualidade que o desporto impõe ao jogo é uma maior e mais consciente entrega, chegando a afirmar, que o desporto pode ser considerado como a magnificência do jogo

Face a estes pressupostos distingue-se desporto de jogo, mas considerando que o desporto não pôde surgir sem a componente do jogo, quer através do sentido lúdico quer competitivo.

Na abordagem de Blanchard e Cheska (1986) sobre o desporto, é referido que no início dos tempos, as atividades ditas desportivas, estavam mais diretamente relacionadas com a tentativa humana de resolver os problemas surgidos da adaptação, sobrevivência e defesa. Ao longo das etapas de desenvolvimento da evolução humana, às várias componentes da atividade física mais comuns, foram-se associando atividades relacionadas com o jogo e o lazer. A necessidade básica que o indivíduo tem tido em ultrapassar os seus limites, fez organizar e desenvolver um conjunto de atividades que têm servido de desenvolvimento das capacidades, de distração e competição. Tendo como base estas vertentes, a atividade física evoluiu no sentido de se transformar num conceito mais complexo – o desporto.

Sobral (1980) indicara anteriormente, que a necessidade de prazer inserida num âmbito lúdico de atividades, não se pode considerar desporto em toda a sua abrangência. Para o autor, o desporto requer a existência de uma atividade física, a busca de satisfação associada a um impulso lúdico, a procura de superação pessoal e social, enquadrada num contexto definido por regras. Já Rodríguez (1998), refere que o desporto contém três constructos, sendo eles, o jogo, exercício físico e competição. Menciona também o desporto como sendo uma necessidade antropológica para a canalização humanística da rivalidade, do confronto e do desejo de vitória do homem de hoje.

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26 Tal como referido em capítulos anteriores, a atividade física direcionada para o lazer e como forma de desenvolvimento de habilidades, remonta aos primórdios da humanidade. De acordo com Blanchard e Cheska (1986), considerando estas práticas como percursoras do desporto, a sua manifestação comprova-se em todos os períodos do tempo arqueológico desde o período do Paleolítico Inferior. Porém, como referido por Marivoet (1997), durante período da grande industrialização, e por influência das sociedades inglesa e francesa, o desporto como hábito cultural deixou de ser praticado pela aristocracia burguesa, passando também a ser praticado pelas classes trabalhadoras operárias. Consequentemente são introduzidos novos valores nas práticas desportivas, tornando-se estas num hábito cultural e social.

O desporto é nos dias de hoje, uma das manifestações sociais com mais impacto, pela sua capacidade de mobilização da sociedade, pelos seus benefícios diretos aos praticantes ou seu pelo caráter educativo. Homem (2006) sugere que como manifestação social, o desporto assenta a sua realidade em bases materiais, económicas e políticas, refletindo em maior ou menor grau os aspetos positivos e negativos dos sistemas sociais.

Ainda assim, emerge a necessidade de definição de desporto, de forma a complementar a caraterização deste fenómeno. De acordo com vários autores, a definição de desporto tem suscitado uma grande discussão. Para Homem (2006), o conceito de desporto não se pode considerar uma noção definitiva. Perante as alterações culturais da sociedade esta conceção é mutável em vários ritmos, face aos recentes fluxos de pensamento, assim como às novas perspetivas do universo desportivo cada vez mais aberto à sociedade. O mesmo autor, baseando-se no trabalho de Magnane (1961), refere-se ao desporto como uma “atividade de lazer cuja dominante é o esforço físico, participante no jogo e no trabalho, praticada de forma competitiva, com regras e instituições específicas, suscetível de se transformar em atividade profissional” (Homem, 2006:150). Note-se nesta definição os componentes de lazer, exercício físico, jogo, regras e competição, refletindo assim uma abordagem bastante geral e complexa deste fenómeno.

Para Blanchard e Cheska (1986), o desporto é uma atividade física intensa, competitiva e combativa, submetida a definições e regulamentos definidos, contendo uma componente cultural, composto por proporções variáveis de jogo, de trabalho e de ócio. Já Alcoba (2001), seguindo determinadas linhas orientadoras dos criadores do Jogos Olímpicos, indica que o desporto é a atividade física individual e coletiva, praticada e forma competitiva,

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Tabela 3 – Local de Residência  Tabela 4 – Local do Estabelecimento de Ensino
Tabela 6 – Influência na iniciação à prática desportiva
Tabela 9 – Perspetivas de frequência em outras atividades extraescolares
Tabela 10 – Importância da prática de uma modalidade desportiva
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Referências

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