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CAPÍTULO V – MOTIVAÇÃO

5.3 Teorias da Motivação

De acordo com Pinto (2001) as teorias da motivação são tentativas de explicação das razões que levam à tomada de um determinado comportamento. Segundo este não existe uma teoria geral da motivação humana, abrangente e satisfatória, capaz de explicar todo o processo motivacional, uma vez que o comportamento e a motivação são demasiado complexos. Feldman (2001) e Jara, Vives, e Garcés de los Fayos (2009) afirmam que, devido a essa complexidade se têm gerado e desenvolvido várias conceções no propósito da sua

42 compreensão segundo diversas abordagens que tentam indicar o tipo de motivações e quais as suas características.

Não se pretende neste estudo expor todas as teorias da motivação, nem tão pouco abarcar exemplos dos vários ramos existentes, mas antes, apresentar as mais significativas teorias da motivação possíveis de integrar de alguma forma a motivação na prática desportiva. Motivação Intrínseca e Extrínseca - Jara et al. (2009) abordam a teoria da motivação intrínseca e extrínseca, partindo do conceito de que, apesar de existirem uma série de impulsos instintivos no Homem, estes adquirem novas necessidades motivadoras da sua conduta mediante certos processos de aprendizagem. A forma de clarificar este conceito é através da dicotomia entre motivação intrínseca e motivação extrínseca. O mesmo autor refere que qualquer conduta abrange em grande escala uma força motivacional do tipo intrínseca e extrínseca. Pinto (2001) acrescenta ainda, que os percursores da teoria consideram um outro conceito designado de amotivação ou desmotivação, o qual se integra num processo contínuo motivacional. Esse processo parte da amotivação, caraterizado como um estado de falta de motivação exprimindo o nível zero da motivação, a resignação total como resultado de atividades mal sucedidas. Surge a motivação extrínseca com estados irregulares e/ou inconstantes, na perspetiva da obtenção de uma recompensa ou de uma situação desagradável. Sobrevém por fim a motivação intrínseca, quando existe prazer e satisfação na realização de uma atividade, representando o nível mais elevado de autodeterminação e melhores níveis de desempenho com elevados valores de iniciativa.

Esta teoria sugere que qualquer que seja a conduta exercida existe uma combinação de forças motivacionais do tipo intrínseca e extrínseca. Jara et al. (2009) indicam que as forças motivacionais intrínsecas têm um maior poder na relação com a prática desportiva do que as extrínsecas. No entanto, uma adequada gestão dos aspetos relacionados com ambas as forças motivacionais no contexto desportivo é um fator importante na iniciação a esta ocupação. Carrascosa (2011) refere inclusive, que a motivação extrínseca, quando estruturada por responsáveis pela motivação de grupos, pode avançar ao longo de um processo proactivo que vai ter como consequência a transformação em regulações mais autodeterminadas e consequente integração nos indivíduos.

Teoria da Autoeficácia - De acordo com Cox (2008), a autoeficácia é a crença de

alguém, no seu próprio poder de agir de modo efetivo alcançando o êxito ou influenciar eventos. A teoria argumenta que uma forte crença na autoeficácia contribui diretamente para

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um senso positivo na postura de lidar com o mundo, estando intimamente ligada com a noção

de locus interno de controlo. Woolfolk (2006) revela que a autoeficácia afeta a motivação

através do estabelecimento de metas. Se possuirmos um alto sentido de eficácia numa determinada área, estabelecemos metas elevadas e enfrentaremos um menor temor ao fracasso encontrando novas estratégias quando as anteriores falharem.

Teoria da Autodeterminação - Cox (2008) indica que a autodeterminação é um conceito unificador com a motivação. Refere-se à ideia de que, uma pessoa que tem autonomia e capacidade para atuar por si mesmo toma as suas próprias decisões. Como nos indica Woolfolk (2006), a autodeterminação é a necessidade de experimentar decisão e controlo no que fazemos e pelo que o fazemos. Frequentemente o indivíduo luta para controlar o seu comportamento, evitando os controlos e as pressões externas, como as regras e os horários. A autora acrescenta que a autodeterminação é o anseio dos nossos próprios desejos e não as recompensas ou pressões externas que determinam os nossos atos. Carrascosa (2011) alerta para a existência do risco de que um desportista dependa exclusivamente de condicionantes externas para estar motivado, pela razão de que pode ficar sem motivos para competir num nível mais exigente quando saciadas as suas expetativas.

Teoria da Perceção da Competência Pessoal - Partindo do conceito de que a perceção da competência e a capacidade pessoal têm um papel regulador na motivação, Cruz (1996) aborda a teoria da perceção da competência, referindo que as pessoas são motivadas no sentido de demonstrarem competência em domínios de realização como o desempenho escolar ou desportivo. Os indivíduos que têm a perceção da sua maior competência são mais motivados intrinsecamente. O autor refere que os rendimentos bem-sucedidos e a respetiva perceção pelos intervenientes têm um papel fundamental na adesão às práticas desportivas.

Figueiredo (2010), apoiado em Harter (1978), refere que a motivação para a competência tem como base fatores reguladores dos níveis de perceção de competência das crianças: o fator das “experiências passadas”, relacionado com a perceção de competência negativa ou positiva; os “desafios associados com o resultado das tarefas”, em que altos níveis de perceção de competência apresentam maior interesse em tarefas mais desafiadoras; o “suporte e a interação social”, associados com ambientes que promovam a valorização do controlo e o reconhecimento externo; a “motivação intrínseca” tem a sua influência na medida em que as crianças que demonstram elevados níveis neste fator, tendem a superar seus

44 próprios limites e a envolver-se de forma comprometida e com maior autonomia nas atividades.

Como nos indica Cruz (1996), os jovens com elevadas perceções de competência e controlo pessoal têm a capacidade de realizarem atribuições causais adaptadas ao seu rendimento, assim como apresentam maior prazer no desenvolvimento de atividades desportivas com elevados níveis de motivação.

Teoria da Necessidades de Realização - Fontaine (1990) indica que nesta teoria, os afetos constituem o fator instigador do comportamento. A motivação surge nos indivíduos com o objetivo de proporcionar satisfação e orgulho em relação ao sucesso ou evitar a vergonha face ao fracasso. Assim, Weinberg & Gould (2010), Barroso (2007) e Rocha (2009) referem que é a conjugação de fatores pessoais e situacionais que promovem o comportamento. Os aspetos situacionais condicionam a probabilidade de sucesso face à dificuldade da tarefa e o valor do incentivo. Perante determinada situação o indivíduo tem reações emocionais de acordo com as suas capacidades, orgulho do sucesso se se sentir habilitado e temor ao fracasso de sentir incapacidade de desempenho.

De acordo com Weinberg & Gould (2010) os componentes da personalidade, os fatores circunstanciais, a tendência resultante e as reações emocionais têm influência no comportamento. Acrescentam, que pessoas com bons desempenhos selecionam tarefas mais desafiadoras e em contextos de avaliação. Por outro lado, os indivíduos com desempenhos medíocres evitam o risco, têm menor rendimento em contexto de avaliação selecionando por isso tarefas mais fáceis onde terão êxito.

Teoria do Modelo Integrado da Motivação no Desporto - Como referido por Cruz (1996), surgiu um modelo integrado da motivação no desporto segundo os estudos de Weiss e Chaumeton (1992) e Weiss (1995). Este modelo alternativo, segundo Lima (2010), tenta integrar as várias perspetivas teóricas da motivação, uniformizando o uso de diferentes terminologias. O presente modelo explica que a orientação motivacional como fator de diferenciação individual é o ponto de partida, e o comportamento motivado como variável de resultado constitui o ponto de chegada.

Assim, o modelo assenta no pressuposto que, a orientação motivacional assume duas significações distintas: a orientação intrínseca ou de mestria, relacionada com o processo da participação desportiva como o desenvolvimento de competências, a afiliação, a aptidão física

45 ou o divertimento; a orientação extrínseca orientada para o resultado e rendimento, tendo em vista a aprovação social, a recompensa, o estatuto social ou as vitórias.

Face a estas duas significações, surge uma fase de tentativa de mestria, condicionada com a dificuldade da tarefa. Os sujeitos que partem de uma orientação motivacional intrínseca ou de mestria, selecionam atividades desafiadoras e difíceis, desempenhando as atividades esforçadamente para alcançarem os objetivos pretendidos. Os sujeitos que partem de uma orientação motivacional extrínseca ou de resultado, selecionam atividades de fácil superação no sentido de exibir superiores níveis de habilidade ou evitar a demonstração de baixos níveis da mesma.

Lima (2010) refere que o mesmo resultado comportamental pode ser percecionado de diferentes formas por indivíduos diferentes, segundo a sua orientação motivacional. O aspeto do feedback revela-se também um fator fundamental, principalmente se for fornecido por personagens pertinentes no quotidiano do interveniente como familiares, treinadores ou colegas, na medida em que condiciona a motivação, o empenhamento e a tenacidade. De acordo com a orientação motivacional escolhida, os sujeitos direcionam-se para um sistema de recompensas e de objetivos. Aqueles que assumiram uma orientação para a mestria desenvolvem um sistema de recompensas e de objetivos, apoiado em critérios internos. Já os sujeitos orientados para o resultado consideram o sucesso comparando-se com o rendimento dos outros e no sucesso, assumido o sistema de recompensas e de objetivos em função de critérios externos. Como consequência, surge a perceção de competência e de controlo. De acordo com a abordagem de Lourenço (2002), esta tende a ser mais elevada nos indivíduos que apresentaram a motivação em função da mestria e menor nos atletas cuja orientação são os resultados.

O afeto é conjuntamente com as reações emocionais um fator relevante na manutenção e desenvolvimento da motivação, inclusivamente na sua atenuação. O estado emocional associado ao prazer, felicidade, ou a excitação fomentam o aumento ou a motivação, enquanto os estados emocionais como a ansiedade, o embaraço ou a vergonha refletem-se de forma a enfraquecer a motivação e a perspetiva de continuação numa atividade.

Como conclusão deste processo motivacional surge o comportamento motivado. Para Cruz (1996) o comportamento motivado representa a finalidade do desenvolvimento psicológico positivo como consequência da manutenção dos estados de motivação.

46 Todo este processo motivacional está também, e em simultâneo, sujeito à influência de dois tipos de fatores. Fatores de diferenciação individual que são a maturidade cognitiva, maturidade física e a importância dada ao sucesso desportivo. Num outro âmbito encontram- se os fatores contextuais que são a estrutura de recompensas, estilo de treino e liderança, o tipo de desporto e os fatores socioculturais.

5.4 Motivação para a Atividade Física e Desportiva

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