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Atividades de Lazer e Atividades Desportivas

CAPÍTULO II – TEMPO DE LAZER

2.3 Atividades de Lazer e Atividades Desportivas

As modalidades de animação do tempo livre por parte da população infanto-juvenil têm sido sujeitas a adaptações face à transformação dos hábitos sociais. De acordo com Pereira e Neto (1997), as práticas de lazer em populações infantis estão condicionadas pelo seu contexto, a acessibilidade à oferta de lazer e a satisfação da criança. Também para Moreira (2006), as transformações dos valores dos indivíduos em relação à ocupação do tempo livre, associadas a alterações ocorridas nas estruturas sociais e económicas, condicionam as oportunidades lúdicas oferecidas às crianças. Para Pereira e Neto (1999), a problemática na ocupação do tempo livre para um referida população encontra-se na própria condição específica das características da correspondente faixa etária, mas também, em relação às respostas e organização que a família e a sociedade devem dar de forma a colmatar as suas necessidades específicas face à oferta existente.

As práticas de lazer em idade juvenil representam subculturas capazes de refletir a caraterização desses próprios grupos. A forma como os seus tempos são ocupados, devido a um maior período de tempo liberto e fruído por estas faixas etárias, desempenham um papel fundamental em contextos extrafamiliar e extraescolar (Pereira, 2007).

A oferta de atividades de ocupação do tempo livre é de uma maneira geral bastante diversificada. Existem instituições públicas, privadas, com ou sem fins lucrativos, mas não necessariamente acessíveis a todos. Conforme exposto por Pereira e Neto (1999), o modelo de gestão dos tempos livres centrada nas crianças é estruturado nas seguintes categorias: a) crianças ficam em casa ou na rua entregues a si mesmas; b) crianças ficam em casa com o apoio dos pais ou outros familiares; c) crianças ficam em instituições de Atividades de Tempos Livres (ATL); d) crianças frequentam várias atividades extracurriculares (desporto, escoteiros, explicações, cursos).

Os referidos contextos de ocupação dos tempos livres divergem bastante nos níveis de segurança proporcionados às crianças, de acordo com a liberdade e o controlo inerente ao tipo de atividade. Por conseguinte, as que ficam sós têm mais liberdade mas também estão mais inseguras. Por outro lado, as que são integradas em atividades extraescolares, podem ser

18 condicionadas de forma extrema na liberdade e no lazer, de forma ainda mais acentuada se essa atividade imposta.

Ainda segundo os mesmos autores, é na fase final da infância e da pré-adolescência que se nota uma maior adesão às práticas institucionalizadas como o desporto ou a música. Até esta faixa etária existe uma fase de experimentação de diversas atividades, sem que haja uma fidelização com o aspeto competitivo ou formal. As suas opções, motivações e escolhas surgem nesta fase.

Ventosa (2006) assinala que através do jogo e das atividades recreativas de grupo, é promovida a educação no tempo livre de crianças jovens e adultos. Acrescenta, que os clubes desportivos, enquadrados nos sistemas de educação não-formal, constituem um recurso fundamental para o desenvolvimento de atividades, a partir das quais evoluem os processos de aprendizagem pessoal mais conectados com a realidade da vida, no sentido da interação permanente com o outro. Também sobre as práticas desportivas inseridas em clubes, Marivoet (1997) concluíra que o seu envolvimento se encontra influenciado pelos valores socioculturais compreendidos pelos atletas face à atividade desportiva, assim como à valorização dada ao desporto pelo enquadramento social onde estão inseridos.

Por sua vez, Pereira e Neto (1997) referem que uma abordagem às práticas de tempos livres devem abranger necessariamente o desporto. Os clubes desportivos, como instituições mobilizadoras de um enorme número de jovens, têm um papel fundamental no aspeto formativo dos jovens. Também Costa, Serôdio-Fernandes e Maia (2009) afirmam que os clubes desportivos devem assumir uma cultura organizativa adequada ao contexto social onde estão inseridos, aos tempos atuais, respondendo eficazmente às necessidades dos praticantes desportivos. Conforme indicado por Homem (2006), o clube desportivo não deverá substituir ou compensar os défices da escola, mas proporcionar à criança uma prática desportiva integradora da vida social, fomentando a sua iniciação ou desenvolvimento desportivo e contribuindo para a sua educação social. O autor defende que o clube desportivo deve integrar um movimento de criatividade e dinamismo social e em articulação com as autarquias, gerar um modelo de ocupação dos tempos livres, do lazer e das atividades desportivas dos jovens em idade escolar, evitando a exclusividade para o desporto formal, para a alta competição e para o espetáculo desportivo.

Lança (2006) indica que as atividades e práticas desportivas se podem classificar como formais, informais e não formais, estando hoje em dia integradas em vários setores sociais,

19 desde o escolar ao militar, passando pelo federado ou pelo turístico. Mesmo no setor da prática formal, a animação poderá interagir com as matérias ligadas ao movimento, à educação, à condição física e contribuir para um maior sucesso dos eventos ou das atividades. Os fatores lúdicos e desportivos podem convergir para o desporto de recreação possuindo uma função social única.

Hoje em dia, praticar desporto é uma importante e destacada atividade de lazer dos jovens. O desporto praticado pelas camadas mais jovens adquire agora uma lógica diferente de uma cultura disciplinada. Ainda que no âmbito formal e até federado, eles fazem-no numa vertente de divertimento, encarando-o como como uma atividade de semilazer. Os novos tempos são caraterizados por novos valores relativamente à prática desportiva, em que modelo desportivo juvenil, tem vindo a substituir a prestação pela sensação (Pereira, 2007).

Recentemente, Ferraz e Pereira (2009) concluíram num estudo sobre práticas de lazer na ocupação dos tempos livres, aplicado a jovens de ambos os sexos, entre os 12 e os 16 anos, em diferentes contextos sociais, que “ver televisão” é a atividade de lazer que os jovens referem praticar com mais frequência. Outras atividades que são mencionadas como muito frequentes são o “ouvir música”, “conversar com os amigos”, ”realizar trabalhos de casa” e “praticar uma atividade físico-desportiva”.

Já o estudo realizado por Esculcas e Mota (2005) sobre práticas de lazer em adolescentes concluiu, que em relação em relação à faixa etária dos 12 aos 14 anos, “ouvir música”, “ver televisão” ou “realizar os trabalhos de casa” encontram-se no topo das prioridades de mais de 90% dos jovens. Por outro lado, as atividades relacionadas com “arte” e “expressão” e “trabalhos de solidariedade social” são as menos praticadas. No que refere ao Desporto Não Orientado e ao Desporto Orientado ou de Competição, as percentagens encontram-se nos 49,5% e 35,9% respetivamente. De acordo com os autores, as atividades praticadas pela proporção mais elevada dos jovens podem ser classificadas como lazeres não ativos. Os resultados revelam que os adolescentes têm uma grande componente de tempo livre não estruturado (cerca de 40%).

Segundo o estudo de Pedro (2005) sobre práticas de lazer de crianças do 1º ciclo, aplicado a 156 crianças entre os 7 e os 12 anos, “ver televisão” é também uma prática executada em grande escala pelas crianças após o período escolar. A atividade orientada mais praticada pelas crianças de ambos os géneros é a catequese (77,6%), seguida pelo futebol (27,6%), escutismo (17,9%) e a música (17,9%). As atividades desportivas, como futebol,

20 natação e karaté são mais frequentadas pelos rapazes, por sua vez as raparigas frequentam mais atividades como música, escutismo, ballet.

Segundo estes resultados, verifica-se que de facto, o tempo livre não estruturado ocupa um considerável período de tempo no quotidiano dos jovens. De entre as atividades orientadas, as práticas desportivas, a par das atividades expressivas, são as mais frequentadas.

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