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CAPÍTULO IV – PRÉ-ADOLESCÊNCIA

4.4 O Pré-adolescente

“Na pré-adolescência inicia-se o momento fundamental de desenvolvimento psíquico que vai exercer uma censura, separação e continuidade, entre a infância e adultícia, entre bios e psique.”

Matos (2005:66)

A fase da pré-adolescência é um momento em que ocorrem fortes mudanças ao nível físico e psicológico, um período de transformação, confusão, perceção de consciência, assim é indicado por Passos (2008). De acordo com Breinbauer e Maddeleno (2005), ocorrem nesta fase acentuadas alterações físicas, cognitivas, sexuais e socio-afetivas, e ao mesmo tempo uma grande interação entre esses fatores. Também Guerra (2004) reconhece que surgem rápidas transformações a nível biológico-hormonal, da imagem corporal e a nível psicológico. De uma maneira geral, e ressalvado por Cordeiro (2009), pode dizer-se que a puberdade e a pré-adolescência surgem quando tem início o processo que resulta no desenvolvimento dos órgãos sexuais e a capacidade de reprodução.

De acordo com Bennett e Pitman (2000), Vila-Real (2004), Cordeiro (2009), Henriques (2009) e Ré (2011), nas raparigas a puberdade manifesta-se entre os 8/9 e os 13 anos pelo aparecimento da acne, sobretudo na face, ombros e peito, dos pelos púbicos e até um ligeiro aumento dos seios. Nota-se um significativo aumento de peso, assim como um acentuado aumento da estatura e alargamento da bacia. O peito aumenta de forma consistente, uma vez que pode já ter sofrido variações antes dos 10 anos de idades. Depois do desenvolvimento do útero e da vagina, e dependendo de etnia ou da zona geográfica, a primeira menstruação pode surgir entre os 10 e os 15 anos, sendo que no geral se apresenta pelos 12 anos de idade. Este é um momento sempre de muitas sensações e de certa forma inesquecível. Um momento, que segundo Cordeiro (2009) pode ser entusiasmante, mas também assustador e fonte de algumas preocupações.

Segundo os mesmos autores, nos rapazes esta etapa ocorre geralmente entre os 10/11 e os 16 anos, as manifestações são ao nível do aumento dos testículos juntamente com o aparecimento dos primeiros pelos púbicos. Há um aumento súbito da hormona masculina, a testosterona, que tem como consequência alterações físicas, psicológicas e emocionais. Uma

35 alteração muito notada, também, é o aparecimento da acne, sobretudo na face ombros e peito, e a mudança do tom de voz, tornando-se mais grave progressivamente até à aquisição da voz definitiva.

Assim, as raparigas geralmente chegam mais cedo à puberdade, entre 1 ano e meio a 2 anos e meio, não sendo um fenómeno regular e linear. De repente, as raparigas passam a ter uma estrutura física mais robusta e desenvolvida que os rapazes da mesma idade, que as poderá a levar a pensar que existe alguma desregulação, ao mesmo tempo que vão reconhecendo o interesse que despertam nos outros ao nível da atração física.

Bennett e Pitman (2000) referem-nos que os pré-adolescentes crescem literalmente em todas as direções, e que as proporções podem parecer desajustadas, fazendo os indivíduos sentirem-se inseguros e ansiosos quanto ao aspeto que irão tomar.

Em relação ao desenvolvimento cognitivo, ao nível dos estádios de desenvolvimento, o pré-adolescente encontra-se entre a fase das Operações Concretas (7-11 anos) e a fase das Operações Formais (11-15 anos) (Daunis, 2000; Piccoli, 2006). Segundo a abordagem dos referidos autores, assinalado também por Breinbauer e Maddeleno (2005) e White (2004), nesta fase são notórias características como a diminuição do egocentrismo do indivíduo, que percebe que já não é o centro do universo. Tem agora capacidade de perceber o ponto de vista das pessoas com quem convive, podendo questionar-se sobre o que está certo ou errado, e surgindo a reflexão como forma de construção do próprio conhecimento. É capaz de perceber o sentido das regras, consegue usar o pensamento para resolver problemas concretos, percebe já, o conceito de conservação da quantidade, a diferença entre aparência e realidade e a fantasia da realidade. Adquire nesta altura a competência de reversibilidade e o pensamento lógico de causa-efeito.

Em relação ao relacionamento social, a passagem da infância para a adolescência é também marcante no que diz respeito ao relacionamento familiar e social dos indivíduos. “À medida que a adolescência se aproxima, começa uma espécie de baralhar das cartas sociais”, salientam Bennett e Pitman (2000: 66).

Henriques (2009) explica o aparecimento dos primeiros conflitos como consequência da negação da infância, e uma necessidade de autoafirmação com pessoas mais velhas, no intuito de estabelecer uma posição e alargar as suas experiências, identificando aquilo que considera ser a grande característica desta fase que classifica como “busca pela identidade”. Defende também, que é num curto espaço de tempo que a criança sofre uma série de

36 mutações que a vão preparar para a autonomia e que é nesta fase que é moldada a sua personalidade, a sua morfologia e o seu caráter que se manifestarão ao longo da sua vida.

A fase final da infância é marcada pelo decrescer da influência da família nas ações e motivações dos indivíduos desta faixa etária, que tende a ser partilhada com o seu grupo próximo de amigos (Seabra et al., 2008). Bennett e Pitman (2000) assinalam que este é o momento em que se desenvolve uma nova relação entre pais e filhos, à medida que a família acompanha as alterações físicas e emocionais. Segundo Oliveira (2010), por volta dos 10 anos, a rede social é alterada no sentido da transferência do peso relativo das bases sociais, deixando de pertencer aos familiares e passando para os amigos e pares.

O grupo a que pertencem ou o amigo(a) mais próximo tem uma grande influência nas preferências e comportamentos. Segundo Bennett e Pitman (2000) existe uma valorização progressiva e acentuada das amizades nesta fase, na medida que vai aumentado a sua autonomia. As maiorias das amizades desenvolvem-se dentro do mesmo género e da mesma idade, chegando muitas vezes a ter normas muito rígidas. Assinalam que, os pré-adolescentes começam a compreender as razões por trás das regras; a entender que estas não são apenas ordens arbitrárias, mas normas sociais para a melhoria da convivência. Os autores indicam também, que existem diferenças nítidas entre os comportamentos sociais de rapazes e raparigas pré-adolescentes. Os rapazes tendem mais a agir em grupo, e em atividades mais ativas, enquanto as raparigas socializam em grupos mais restritos, muitas vezes de um só elemento, e geralmente em atividades de diálogo.

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