• Nenhum resultado encontrado

Estudos sobre a Motivação na Prática Desportiva

CAPÍTULO V – MOTIVAÇÃO

5.4 Motivação para a Atividade Física e Desportiva

5.4.3 Estudos sobre a Motivação na Prática Desportiva

Antes de proceder-se à abordagem a diferentes estudos sobre a motivação na prática desportiva, deve referir-se que, apesar de uma maneira geral as conclusões dos estudos sobre os motivos para a prática desportiva revelarem algumas semelhanças nos resultados obtidos, Alves, Junger, Palma e Resende (2007) indicam que estes não se podem considerar

49 conclusivos e generalizáveis. Segundo os autores, isto deve-se ao facto de os aspetos metodológicos relativos às várias investigações existentes não serem os mesmos, como os instrumentos de recolha de dados e os processamentos estatísticos, assim como as especificidades próprias e características de cada representação populacional.

As motivações que a generalidade dos pré-adolescentes apresenta para a prática da atividade desportiva têm, segundo Barangé (2004) similaridades em alguns aspetos com a fase da infância, sendo considerada pelos indivíduos sobretudo uma forma de divertimento, no entanto, surge nesta fase a preocupação pela aprendizagem e o desenvolvimento de capacidades. Outro aspeto que motiva os jovens para estas atividades passa pelo reconhecimento dos colegas, o sentimento de integração e a própria valorização de grupos. O autor, tal como Drobnic e Galilea (2002), referem ainda que a ambição de vitórias desportivas toma mais importância nesta etapa da vida, permitindo ao jovem perceber um sentimento de superioridade sobre os rivais e ao mesmo tempo a valorização pessoal. Também Mariovet (1997) havia referido que o envolvimentos desportivos de devem em parte à ambição numa determinada ascensão e reconhecimento social, sobretudo pelos sucessos desportivos.

Foram vários os estudos, efetuados desde a década de 1970 até aos nossos dias, sobre as motivações dos praticantes de atividades físicas e desportivas. Bakker et al. (1993) afirmam ser possível apresentar conclusões gerais em relação às razões que motivam os jovens para a prática física e desportiva face às investigações disponíveis. Segundo a análise das características de diversos estudos precursores nesta área apresentados pelos autores, os motivos que levam à participação neste género de atividades são muito diversificados, existindo no entanto, um conjunto de motivos comuns à maioria dos estudos. Assim, segundo eles, as conclusões dos estudos de Atus (1971), Hahmann (1971) e Sabath (1971, revelam que os principais motivos para a prática desportiva de jovens são a “saúde”, “prazer intrínseco”, “rendimento” e “complemento ocupacional”.

A característica mais notória dos referidos estudos parece ser a de que a participação desportiva possui um importante valor intrínseco, ou seja, a motivação parte das necessidades do próprio atleta. O motivo da “afiliação”, o “desejo de integração e reconhecimento social” são também comuns aos diversos estudos. Por fim, o contributo para uma “melhoria da saúde” e a “necessidade de uma atividade complementar ao trabalho” são motivos referidos pelos intervenientes.

50 Cruz (1996) analisou diversos estudos internacionais realizados a partir do ano de 1977, como Meuris (1977), Sapp e Haubenstricker (1978), Gill, Gross e Huddleston (1983) e Buonomano, Cei e Mussino (1995). Face aos dados expostos, o autor destaca, tal como Bakker et al. (1993), que são vários os motivos para a adesão à prática desportiva, sendo referidos como mais selecionados, a “melhoria de competências”, “divertimento”, “estar com os amigos”, ”fazer novos amigos”, “desafios”, “sucesso” e “saúde”.

Mais recentemente, e a nível internacional, o estudo de Kilpatrick, Herbert e Bartholomew (2005) revelaram que os fatores de “competição”, “afiliação”, “divertimento” e “desafios” foram os mais valorizados pelos inquiridos. A perspetiva de “diversão” na prática desportiva surge como prioridade para os pré-adolescentes incluídos no estudo de Palou et al. (2005), que valorizam também a “forma física” e a “competição”. Em relação ao estudo de Alves et al. (2007), concluiu-se que os “gosto pela modalidade”, “saúde”, “condição física” e “divertimento” são os motivos mais pertinentes para os adolescentes inquiridos neste estudo. Estes dois últimos motivos destacam-se também como principais, no estudo de Pavón et al. (2007), associados também ao fator de “libertação de tensão” que a prática desportiva tem para os jovens. Já Quevedo-Blasco et al. (2009) concluem que a “forma física” e a “imagem corporal” são os motivos principais para os adolescentes. A “saúde” e a “competência desportiva” são motivos reconhecidos nos estudos de Interdonato, Miarka, Oliveira e Gorgatti (2008) e Gonçalves e Alchieri (2010), sendo que neste último estudo são reconhecidos também os motivos de “diversão” e “aparência física”. Resultados similares surgem no estudo de Soares, Lazzarotto, Waclawovsky e Lancho (2011), em que para além da “saúde”, “diversão” e “aparência física” surge também o motivo “gosto pela modalidade”. Já na investigação de Egli et al. (2011) mantêm-se os motivos relacionados com a “saúde”, surgindo também o “reconhecimento social”, “competição” e “afiliação”

No que se refere aos estudos realizados em Portugal, tomamos como exemplo as referências dadas por Cruz (1996), sobre os estudos de Cruz (1986) e Cruz e Cunha (1990), efetuados a praticantes de andebol entre os 14 e os 16 anos, verificando-se motivação fundamentalmente por três razões: “desenvolvimento de capacidades”; “manutenção da forma física” e “espírito de grupo”. Estas conclusões assemelham-se aos dados registados nos primeiros estudos efetuados em Portugal aplicando o QMAD, indicados por Rebelo (1999), em que os principais fatores assinalados foram a “afiliação”, “divertimento”, “condição física/saúde” e o “desenvolvimento de competências físicas”.

51 Um estudo referencial nesta área (Fonseca & Maia, 2000), realizado em nove distritos do norte e centro de Portugal a uma amostra de 1816 jovens dos 10 aos 18 anos de ambos os sexos, praticantes federados de diversas modalidades desportivas, concluiu em relação aos pré-adolescentes, as dimensões motivacionais mais valorizadas foram a “competência técnica”, seguida “forma física”, “afiliação geral” e “competição”. Os autores referem, ainda, que os motivos relacionados com o divertimento não foram referidos com elevada importância, contrariamente às conclusões apuradas em diversos estudos internacionais.

Em estudos realizados posteriormente, como Serrano et al. (2005), conclui-se que os motivos principais na prática desportiva são a “afiliação geral”, “condição física” e o “desenvolvimento técnico”. Motivos similares foram registados também pelo grupo de jovens inquiridos no estudo de Bento et al. (2008). Já Veigas et al. (2009) indicam que, sobre os fatores motivacionais para a prática desportiva, embora neste caso no âmbito do desporto- escolar, as dimensões mais valorizadas são a “condição física”, “nível desportivo” e a “forma física”. Numa perspetiva mais concreta em relação aos motivos referidos pelo escalão infantil, salientam-se os “objetivos desportivos” e a “afiliação geral”.

Embora não sejam em grande escala os estudos em Portugal sobre motivação para a prática desportiva na vertente extraescolar, incidindo na faixa dos 10-12 anos, pela análise dos mais recentes estudos acima citados, as principais motivações na prática desportiva, estão fundamentalmente relacionadas com as dimensões “afiliação geral”, “desenvolvimento de competências” e “forma física”.

Documentos relacionados