R e v i s t a d a S o c i e d a d e B r a s i l e i r a d e M e d i c i n a T r o p i c a l 2 3 ( 4 ) : 2 3 3 , o u t - d e z , 1 9 9 0
COMUNICAÇAO
IN FEC Ç Ã O POR
A C R E M O N IU M S P
APÓ S TRANSPLANTE
D E CORAÇÃO
Tânia Mara Varejão Strabelli, David Everson Uip, Vicente Amato Neto, Edimar Alcides Bocchi, Maria de Lourdes Higuchi,
Noedir Antonio Groppo Stolf, Antonio Carlos Pereira Barretto, Caio Márcio F. Mendes, Giovanni Mauro Vittorio Bellotti, Adib Domingos Jatene, Fúlvio José Carlos Pileggi e Mário Shiroma
Paciente F.A.B., 48 anos de idade, sexo mas culino, branco, comerciante, procedente de Campinas (Estado de São Paulo, Brasil). Submetido a trans plante de coração, ortotópico, em 11 de julho de 1985. Recebendo ciclosporina, prednisona e azatioprina como fármacos imunossupressores. E m agosto de 1988, surgiram sinais flogísticos emjoelho direito, sem febre, mantendo-se bom estado geral. O hemograma era normal. O exame ultra-sonográfico mostrou cole ção liquida na pela e no tecido subcutâneo; a análise radiográfica do joelho não evidenciou comprometimen to articular. Foi efetuada punção com agulha, dessa coleção, com saída de pequena quantidade de fluido achocolatado. A s culturas concernentes a tal material resultaram negativas, mas o exame microscópico revelou a presença de fungos. Ocorreu, então, admi nistração de anfotericina B, pela via endovenosa, durante 21 dias, tendo havido regressão do processo.
E m dezembro de 1988, apareceu abscesso, com aproximadamente, um centímetro de diâmetro, sobre o joelho direito. Pesquisa micológica direta detectou filamentos micelianos e as culturas novamente redun daram negativas. Deu-se cicatrização após o uso de fluconazol ( 2 0 0 mg por dia; via oral), no decurso de 15 dias, mantendo-se 1 0 0 mg cotidianamente a seguir.
Em janeiro de 1989, sucederam novos sinais inflamatórios no mesmo joelho, com grande aumento de volume, às custas de múltiplos cistos com tamanhos de mais ou menos meio centímetro. O doente estava afebril e após punção, a partir da secreção purulenta retirada, obteve-se crescimento de A c r e m o n iu m sp. em cultura. Foi executado debridamento cirúrgico amplo do local e empregada anfotericina B (dose total de uma grama). Processou-se completa resolução, sem recrudiscência, decorridos 17 meses.
D ep artam en to de C árdío-pneum ologia e de D o e n ç a s In fe ccio sa s e Parasitárias, da F acu ld ad e de M ed icin a da U n iversid ad e de S ã o P aulo, S ã o P au lo, SP.
E n d ereço para correspondência: D ra. T ânia M aria Varejão Strabelli, D epartam en to de D o e n ç a s In feccio sa s e Parasi tárias, da F acu ld ad e de M ed icin a da U n iversidade de S ã o P aulo, A v. D r. A rnaldo 4 5 5 , 0 1 2 4 5 S ã o P aulo, SP,B rasil.
R eceb id o para pu blicação em 2 5 /1 0 /9 0 .
A c r e m o n iu m sp. é fungo da classe D e u te r o -m y c e to s e família D e m a tic ia e , considerado agente etiológico de micetoma em países de clima tropical5, onicomicose5, ceratite pós-traumática e pós-opera tória4, artrite5, pansinusitel, meningite^ e infecção do enxerto em transplante de rim4. J á pôde ser isolado de pele, unha, bile, sangue, suco gástrico e líquido pleural, sendo encontrado, em abundância, no solo e em dejectos5. Para diagnóstico definitivo e conotação com o comprometimento clínico, toma-se necessário evidenciar grânulos no tecido e recuperar sucessiva mente o microrganismo à apreciação do material derivado de punção aspirativa.
Os grânulos eumicóticos são compostos de hifas septadas, com dois a cinco micra de diâmetro, estando ainda presentes células bizarras que chegam a ter 15 micra, localizadas principalmente na periferia.
Em relação ao tratamento, temos referências de ação “ in vitro” , da anfotericina B, do miconazol, da fluocitosina e da rifampicina3 4; porém, aos doentes prescreveu-se habitualmente a anfotericina B pela via endovenosa e advieram resultados variáveis. N o even to descrito, a associação da providência cirúrgica ao antibiótico promoveu cura.
R E F E R Ê N C IA S B IB L IO G R Á F IC A S
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