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Rev. Soc. Bras. Med. Trop. vol.28 número1

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Academic year: 2018

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R e v is ta d a S o c ie d a d e B r a s ile ir a d e M e d ic in a T r o p ic a l 2 8 ( 1 ) : 2 5 - 3 1 , j a n - m a r , 1 9 9 5 .

PREVALÊNCIA E ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS DA

GIARDÍASE EM CRECHES NO MUNICÍPIO DE ARACAJU, SE,

BRASIL

Gileno de Sá Cardoso, Ana Denise Costa de Santana e Cleovansóstenes Pereira de Aguiar

F o i f e i t o u m le v a n ta m e n to d a p r e v a lê n c ia d e g ia r d ía s e e n tr e c r ia n ç a s n a f a i x a e tá r ia d e 2 a 5 a n o s q u e f r e q u e n t a m d u a s c r e c h e s ( “A ” e “B ’’) e s u a r e la ç ã o c o m a lg u n s a s p e c to s e p id e m ia ló g ic o s , a tr a v é s d a r e a liz a ç ã o d e e x a m e s p a r a s ito ló g ic o s d e f e z e s e d e in q u é r ito f a m i l i a r a p lic a d o à s m ã e s . N a c r e c h e “A ”, c o m p a d r ã o s ó c io -e c o n ô m ic o e le v a d o , 2 0 ( 6 6 ,6 % ) d a s 3 0 c r ia n ç a s p e s q u is a d a s a p r e s e n ta v a m -s e p a r a s ita d a s e n a c r e c h e “B ” to d a s p o s s u ía m a lg u m e n te r o p a r a s ita . Giardia lamblia f o i e n c o n tr a d a e m 1 5 (5 0 ,0 % ) d a s c r ia n ç a s d a c r e c h e c o m m e lh o r n ív e l s ó c io -e c o n ô m ic o e em 1 9 (6 3 ,3 % ) d a s c r ia n ç a s c o m n ív e lm a is b a ix o . O h á b ito d e i n g e r ir h o r ta liç a s f o i o ú n ic o f a t o r a lia d o a o a lto g r a u d e g ia r d ía s e n a c r e c h e “A A c r e c h e “B " s o fr e u in flu ê n c ia d e o u tr o s a s p e c to s : á g u a n ã o p o tá v e ln a s r e s id ê n c ia s , d e s tin o in a d e q u a d o d o lix o , h á b ito d e in g e r ir h o r ta liç a s e d o r m itó r io co le tiv o . O d e s tin o in a d e q u a d o d o s d e je to s e a e x is tê n c ia d e a n im a is d o m é s tic o s n ã o tiv e r a m r e la ç ã o c o m o p a r a s itis m o p o r Giardia lamblia.

P a la v r a s - c h a v e s : G ia r d ía se . A s p e c to s e p k te m io ló g ic o s .

As parasitoses intestinais humanas continuam representando um significativo problema médico- sanitário, tendo em vista o grande número de pessoas acometidas e as várias alterações orgânicas que podem ocasionar.

Segundo Florêncio8, a baixa prevalência de sintomatologia atribuída à G ia r d ia la m b lia tem

sido a causa pela qual muitos autores duvidam da suapatogenicidade. Noentanto, sua ação patogênica tem sido confirmada por vários pesquisadores que obtiveram o desaparecim ento de sintom as gastrointestinais após tratamento específico.

A prevalência de parasitoses instestinais em escolares de várias regiões do Brasil foi objetivo de estudo de vários autores. Segundo Priore e cols16 e Santos e cols17, a ocorrência de enfermidades parasitárias do trato gastrointestinal relacionadas com quadros diarréicos e desnutrição testemunham a realidade econômico-social de uma população.

Departamento de Morfologia da Universidade Federal de Sergipe, Aracaju, SE.

Apoio financeiro do CNPq.

E n d e r e ç o p a r a c o r r e s p o n d ê n c ia : Dr. Gileno de Sá Cardoso.

Depto. de Morfologia/UFSE. Cidade Universitária “Prof. José Aloísio de Campos” 49100-000 São Cristóvão, SE

Tel.: (079) 241-2848 r: 384 - Fax: (079) 241-3995 Recebido para publicação em 10/12/93.

Basicamente as populações que vivem em precárias condições de saneamento ambiental e que necessitam de adequada educação sanitária são as mais afetadas por estas patologias14 16.

Moretti e cols12 observam que, mesmo em ambientes coletivos que possuam condições de higiene satisfatórias, o grande número de usuários em dormitórios, banheiros e instalações sanitárias não permite, muitas vezes, obedecer às normas de higiene e, assim, contribuem para o alto grau de enteroparasitismo em tais instituições.

As infecções humanas com G. la m b lia são

comuns e acometem, principalmente, as crianças na faixa etária de 0-5 anos. Isso se deve aos precários hábitos higiênicos desta faixa etária ou à ausência de imunidade a reinfecções19.

Afirmam Bal e Porter1, Black e cols2, Brown3, Dancescu e Tintareanu6, Meyer e Redulescuu e Ormiston e cols15, que a giardíase é um problema comum em instituições, tais como creches e enfermarias infantis, onde o contato de pessoa a pessoa é frequente e as medidas higiênicas são difíceis de serem adotadas.

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C a r d o s o G S , S a n ta n a A D C , A g u i a r CP. P r e v a lê n c ia e a s p e c to s e p id e m io ló g ic o s d a g ia r d ía s e e m c r e c h e s n o m u n i c í p io d e A r a c a j u , S E , B r a s il. R e v is ta d a S o c ie d a d e B r a s ile ir a d e M e d ic in a T r o p ic a l 2 8 :2 5 -3 1 ,j a n - m a r , 1 9 9 5 .

e mãos contaminadas ou sob a forma epidêmica, através da ingestão de cistos na água de beber proveniente de reservatórios contaminados.

Segundo Marzochi e Carvalheiro9, àsemelhança de outras infecções gastrointestinais, a giardíase é adquirida através de via fecal-oral. Alimentos e água contaminados com cistos são os meios mais frequentes de veiculação dessa protozoose. A transmissão pessoa a pessoa é mais observada em regiões endêmicas e em instituições onde as precárias condições higiênicas facilitam a propagação do parasita, estando o peridomicílio e a consequente contaminação do próprio homem relacionados ao baixo nível sócio-econômico e, principalmente, cultural da população.

Coutinho5 refere que a disseminação da G. la m b lia deve estar condicionada, em linhas gerais,

aos seguintes fatores epidemiológicos: água de beber e de uso doméstico; alimentos servidos frios, tais como leite e refrescos; alimentos crus, tais como saladas e frutas; contato com manipuladores de alimentos; contato direto pessoa a pessoa; ou como consequência de fezes expostas e contato indireto por artrópodes domésticos, principalmente, baratas e moscas.

A tran sm issão através de alim entos contaminados é fato amplamente documentado, mesmo nos grandes centros urbanos, tomando assim todos os grupos populacionais expostos a esse tipo de infecção7 18.

N este estudo, procurou-se averiguar a prevalência de giardíase entre crianças que frequentam creches do município de Aracaju com d iferen tes nív eis sócio-econôm icos. Os estabelecimentos selecionados para a pesquisa foram: creche “A ”, localizada no Bairro Praia 13 de Julho, com 35 crianças de 1 a 6 anos, cujas famílias possuíam renda acima de 5 salários mínimos, e creche “B ” , localizada no Bairro Siqueira Campos, com matrículas de 250 crianças na faixa etária de 2 a 6 anos, cujas famílias possuíam renda de até 2 salários mínimos.

As instituições são servidas por água encanada e tratada, fornecida pela Companhia de Saneamento de Sergipe - DESO. O lixo é coletado pela Prefeitura Municipal de Aracaju (PMA). Além disso, as mães

recebem atenção na área de saúde e assistência social e as crianças em noções básicas de higiene.

Em virtude de serem utilizadas por famílias com diferentes níveis sócio-econômicos e culturais, procurou-se v erificar as prevalências - doá“ enteroparasitas, em especial a G . la m b lia , em

famílias dessas com unidades, estabelecendo correlações entre o parasitismo e dados relativos às condições sócio-econômicas e sanitária, por meio de um inquérito familiar.

MATERIAL E MÉTODOS

Pesquisa de campo

Para estudo programado da prevalência de

G ia rd ia la m b lia em creches, no período de outubro

de 1991 a setembro de 1992, foram selecionados duas creches com diferentes níveis sócio- econômicos. Considerou-se classe “A ” , com renda familiar média igual ou superior a 5 salários mínimos e classe “B” , renda familiar média de até 2 salários mínimos.

Os níveis sócio-econômicos das creches tiveram como referência o salário mínimo em fevereiro de 1992 -Cr$ 96.000,00 (noventa e seis mil cruzeiros), quando tiveram início os trabalhos de campo.

Foi elaborado um questionário padrão, aplicado a cada família pesquisada, com o objetivo de avaliar a renda familiar, abastecimento de água, destino do lixo e dejetos, hábito de ingerir hortaliças, local para dormir e presença de animais domésticos.

Os critérios usados para inclusão das crianças na pesquisa foram os seguintes: a) concordância da família em participar da investigação; b) responder ao questionário; c) prontificar-se a colher amostras de fezes.

Foram selecionadas 30 crianças, para cada creche, com idade compreendida entre 2 a 5 anos, de ambos os sexos.

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C a r d o s o G S , S a n ta n a A D C , A g u i a r C P . P r e v a lê n c ia e a s p e c to s e p id e m io ló g ic o s d a g ia r d ía s e e m c r e c h e s n o m u n ic íp io d e A r a c a ju , S E , B r a s il. R e v is ta d a S o c ie d q d e B r a s ile ir a d e M e d ic in a T r o p ic a l 2 8 :2 5 -3 1 , j a n - m a r , 1 9 9 5 .

Coleta de material

Foram coletadas 3 amostras de fezes de cada criança, uma a cada 7 dias. Esse procedimento diminuía a possibilidade de resultados falso- negativos.

O material ficava acondicionado em coletores universais, previamente identificados com o nome da criança, idade, residência e hora da coleta.

Análise laboratorial

O exame do material foi realizado no Laboratório de Parasitologia do Departamento de Morfologia da Universidade Federal de Sergipe, pelas técnicas de centrífugo-flutuação em solução de sulfato de zinco a 33% (método de Faust) e centrífugo- sedimentação em formol-éter (método de Ritchie), para pesquisa de protozoários e helmintos13.

As fezes liquefeitas não foram submetidas ao exame direto devido ao período médio de 4 horas entre a evacuação e o exame, impossibilitando um resultado confiável.

Análise estatística

Na análise estatística dos resultados, utilizou- se o método do qui-quadrado com nível dfe significância de P<0,05 para tabela de contingência 2x2.

RESULTADOS

Emcadacreche, “A” e “B” , foram selecionadas 30 crianças, na faixa etária de 2 a 5 anos.

As creches pesquisadas possuem níveis sócio- econômicos diferentes, sendo creche “A” aquela em que as famílias apresentavam renda igual ou superior a 5 salários mínimos e creche “B” , renda de até 2 salários mínimos.

A Tabela 1 apresenta os dados gerais sobre o parasitismo observado nas duas creches. Notou-se que das 30 crianças analisadas na creche “A”, 16 (53,3%) estavam parasitadas com apenas uma espécie e 4 (13,3 % ) apresentavam mais de uma espécie de

parasito. Das 30 crianças analisadas na creche “B” , 1 (3,3%) apresentava-se parasitada com apenas

uma espécie, e 29 (96,6 %) commais de uma espécie de parasito.

O número de crianças com resultado negativo foi: creche “A ”, 10 (46,6%) e creche “B” 0 (0,0%). Portanto, na creche “B” todas as crianças eram portadoras de pelo menos uma espécie de parasito.

A prevalência de G ia rd ia la m b lia em 30 crianças

da creche “A” e 30 da creche “B” foi de 50% e 63,3%, respectivamente. O tratamento estatístico não apresentou diferença significativa entre os resultados dos exames parasitológicos e os níveis sócio-econômicos das creches (Figura 1).

T a b e la 1 - D i s t r i b u i ç ã o d a p r e v a l ê n c i a d e e n t e r o p a r a s i t o s e s e m 6 0 c r i a n ç a s m a tr ic u la d a s em d u a s c r e c h e s c o m d ife r e n te s n ív e is s ó c io -e c o n ô m ic o s , n o m u n ic íp io d e A r a c a ju -S E , 1 9 9 2 .

Relações parasitárias • Creche A Creche B

% %

Nenhum parasitismo 10 33,3 0 0,0

Monoparasitismo 16 53,3 1 3,3

Biparasitismo 3 10,0 7 23,3

Poliparasitismo 1 3,3 22 73,3

Total dos positivos 20 66,6 30 99,9

Creche A Creche B

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C a r d o s o G S , S a n ta n a A D C , A g u i a r C P . P r e v a lê n c ia e a s p e c to s e p id e m io ló g ic o s d a g ia r d ía s e e m c r e c h e s n o m u n ic íp io d e A r a c a j u , S E , B r a s il. R e v is ta d a S o c ie d a d e B r a s ile ir a d e M e d ic in a T r o p ic a l 2 8 : 2 5 - 3 1 , j a n - m a r , 1 9 9 5 .

As prevalências dos enteroparasitas foram sempre maiores entre as crianças da creche “B”: 46,7 % na creche “B” e 0,0% na creche “A” , para

E n ta m o e b a c o li; 43,3% na creche “B” e 0,0% na

creche “A ”, paraE n d o lim a x n a n a ; 40,0% nacreche

“B” e 3,3% na creche “A” , para E n ta m o e b a h isto ly tic a ', 36,7 % na creche “B” e 0,0% na creche

“A ” , para H y m e n o le p is nana', 36,7% na creche

“B” e 13,3% na creche “A” , para T ric h o c e p h a lu s tr ic h iu r u s e 30,0% na creche “B” contra 3,3 % na

creche “A” , para A s c a r is lu m b ric o id es. As diferenças

foram estatisticamente significativas para os seguintes parasitos: E n ta m o e b a c o li, E n d o lim a x n a n a , H y m e n o le p is n a n a , E n ta m o e b a h is to ly tic a e A s c a r is lu m b r ic o id e s . A G ia rd ia la m b lia prevaleceu

sobre os demais parasitos em ambas as creches (Tabela 2). Nas 90 amostras examinadas na creche “A ” , 25 (27,7%) mostraram-se positivas para

G ia r d ia la m b lia e 65 (72,2%) negativas, contra 34

(37,8%) positivas e 56 (62,2%) negativas, na creche “ B ” . O teste do qui-quadrado demonstra que a diferença não é significativa entre as creches (Tabela 3).

A observação do parasitismo por G. la m b lia na

creche “A ” com relação a alguns aspectos epidemiológicos permite concluir que a prevalência de crianças com o parasito é maior quando: o abastecimento de água provém da rede pública (100% positivas); o hábito de ingerir hortaliças

T a b e la 3 - F r e q ü ê n c ia d e a m o s tr a s p o s itiv a s e n e g a tiv a s p a r a G ia r d ia la m b lia e n tr e c r ia n ç a s n a f a i x a e tá ria d e 2 a 5 a n o s , q u e f r e q ü e n t a m c r e c h e s c o m d ife r e n te s n ív e is s ó c io - e c o n ô m ic o s , no m u n ic íp io d e A r a c a ju - S E , f e v / s e t , 1 9 9 2 .

Amostras Creche A Creche B

Total

creches % %

A 25 27,7 65 72,2 90

B 34 37,8 56 62,2 90

Total 59 121 180

ex iste (100% p o sitiv as); não ex istem anim ais domésticos (86,7 % positivas e 13,3 % negativas); o destino dp lixo é adequado (93,3% positivas e 6,7 % negativas). O teste do qui-quadrado revelou ausência de significância entre os aspectos epidemiológicos abordados na pesquisa e o parasitismo pelo protozoário estudado (Tabela 4).

O parasitismo por G. la m b lia na creche “B”

permite concluir que a prevalência é maior quando o abastecimento de água não é potável (40,0% positivas e 23,3% negativas), o destino do lixo é

inadequado (40,0% positivas e 23,3% negativas), existe o habito de ingerir hortaliças (46,6 % positivas e 16,6 % negativas), o dormitório é coletivo (36,6 % positivas je 26,6 % negativas), o destino dos dejetos é adequado (40,0% positivas e 23,3 % negativas) e

T a b e la 2 - P r e v a lê n c ia d e e n te r o p a r a s ito s e n tr e 6 0 . c r ia n ç a s (3 0 c r e c h e "A " e 3 0 c r e c h e "B ") n a f a i x a e tá r ia d e 2 a 5 a n o s , q u e fr e q ü e n ta m c r e c h e s c o m d i f e r e n t e s n í v e i s s ó c i o -e c o n ô m ic o s , n o m u n ic íp io d -e A r a c a ju -S E , f e v / s e t , 1 9 9 2 .

Creche A Creche B

Enteroparasitos

% %

T r ic h o c e p h a lu s tr ic h iu r u s 4 13,3 11 36,7 A s c a r is lu m b r ic o id e s 1 3,3 9 30,0 H y m e n o le p is n a n a 0 0,0 11 36,7 E n d o lim a x n a n a 0 0,0 13 43,3 G ia r d ia la m b lia 15 50,0 19 63,3 E n ta m o e b a c o li 0 0,0 14 46,7 E n ta m o e b a h is to ly tic a 1 3,3 12 40,0

T a b e la 4 - D is tr ib u iç ã o d a s f r e q ü ê n c i a s d a s 1 5 c r ia n ç a s c o m g ia r d ía s e , d a c r e c h e "A " s e g u n d o a lg u n s a s p e c to s e p id e m io ló g ic o s , n o m u n ic íp io d e A r a c a ju - S E , f e v / s e t , 1 9 9 2 .

Aspectos Sim Não

epidemiológicos % %

1. Abastecimento de

água potável 15 100,0 0 0,0

2. Destino adequado

dos dejetos 15 100,0 0 0,0

3. Destino adequado

do lixo 14 93,3 1 6,7

4. Hábito de ingerir

hortaliças 15 100,0 0 0,0

5. Dormitório

individual 14 93,3 1 6,7

6. Ausência de

(5)

C a r d o s o G S , S a n ta n a A D C , A g u i a r C P . P r e v a lê n c ia e a s p e c to s e p id e m io ló g ic o s d a g ia r d ía s e e m c r e c h e s n o m u n ic íp io d e A r a c a j u , S E , B r a s il. R e v is ta d a S o c ie d a ç /e B r a s ile ir a d e M e d ic in a T r o p ic a l 2 8 :2 5 - 3 1 , j a n - m a r , 1 9 9 5 .

não existem animais domésticos (46,6 % positivas e 16,6% negativas). O teste do qui-quadrado não apresentou significância entre os aspectos epidemiológicos e o parasitismo por G. la m b lia

(Tabela 5).

T a b e la 5 - D is tr ib u iç ã o d a s fr e q ü ê n c ia s d a s 1 9 c r ia n ç a s c o m g ia r d ía s e , d a c r e c h e "B " s e g u n d o a lg u n s a s p e c to s e p id e m io ló g ic o s , n o m u n ic íp io d e A r a c a ju - S E , f e v / s e t , 19 9 2.

Aspectos Sim Não

epidemiológicos % %

1. Abastecimento de

água não potável 12 40,0 7 . 23,3

2. Destino adequado

dos dejetos 12 40,0 7 23,3

3. Destino inadequado

do lixo 12 40,0 7 23,3

4. Hábito de ingerir

hortaliças 14 46,6 5 16,6

5. Dormitório

coletivo 11 36,6 8 26,6

6. Ausência de animais

domésticos 14 46,6 5 16,6

DISCUSSÃO

Na Tabela 1 observa-se que a alta prevalência das enteroparasitoses observadas no presente estude» demonstra sua relação entre o nível sócio-ecônomico. e condições higiênicas deficientes das populações pesquisadas. Resultados semelhantes têm sido> constatados por vários autores, entre eles, Moretth e cols12, Oliveira e cols14 e Santos e cols17. Todos os autores realizaram trabalhos em ambientes coletivos com crianças e adolescentes de 8 a 18 anos, confirmando o consenso de que, sendo estes parasitos de origem fecal, sua alta prevalência traduz a realidade sócio-econômica e sanitária de uma população.

Analisando a Tabela 2, observa-se a distribuição frequencial dos helmintos e protozoários encontrados nas duas creches. As proporções obtidas de cada? parasito coincidem com as verificadas em trabalhos realizados por outros autores em diversos grupos; populacionais. Porexemplo, o encontro de giardíase f em quase um terço das crianças que frequentam

creches de Ribeirão Preto14 e a alta prevalência dessa parasitose encontrada por Florêncio7 em comunidade urbana e saneada onde estavam controladas as principais variáveis envolvidas na transmissão. Os resultados foram semelhantes aos observados na Figura 1.

O quadro elevado de amebíase encontrado na creche “B” e o insignificante resultado da creche “A” , sugerem que a manipulação e consumo de alimentos no domicílio sejam os fatores ligados à transmissão dessas parasitoses. Tais achados corroboram com os dados de M arzochi e Carvalheiro9, obtidos em dois grupos populacionais com diferentes níveis sócio-econômicos e Moretti e cols12 em trabalho realizado com crianças e adolescentes na faixa etária de 2 a 18 anos, que viviam em regime de creche e orfanato, no município de Londrina, no Paraná.

O nível elevado de H y m e n o le p is n a n a (36,7 %)

na creche “B” , de nível sócio-econômico baixo, está de acordo com Moretti e cols12 e Santos e cols17, que sugerem que fatores ligados à própria natureza do meio, como facilidade de contato inter- humano e tendência à promiscuidade, devem estar influindo para tal prevalência. A ausência do parasitismo por H y m e n o le p is n a n a na creche “A ” ,

deve-se provavelmente ao elevado nível sócio- econômico.

Entre as demais helmintoses, causou surpresa a baixa prevalóencia de T ric h o c e p h a lu s tr ic h iu r is e A s c a r is lu m b r ic o id e s , pois tais resultados vão de

encontro a diversos trabalhos onde há um razoável predomínio destes helmintos entre as crianças7 9 12 16.

A prevalência de G ia r d ia la m b lia , obtida por

amostras, foi de: 25 (27,7% ), positivas, na creche

“A” contra 34 (37,8 %) nacreche “B” e56 (62,2%),

negativas, na creche “B” contra 65 (72,25%) na creche “A” . Deve-se levar em consideração que os enteroparasitas possuem um período negativo na eliminação de cistos podendo, em várias ocasiões, os resultados terem sido falso-negativos, dificultando a análise dos dados (Tabela 3).

(6)

C a r d o s o G S , S a n ta n a A D C , A g u i a r CP . P r e v a lê n c ia e a s p e c to s e p id e m io ló g ic o s d a g ia r d ía s e em c r e c h e s n o m u n ic íp io d e A r a c a j u , S E , B r a s il. R e v is ta d a S o c ie d a d e B r a s ile ir a d e M e d ic in a T r o p ic a l 2 8 :2 5 -3 1 , j a n - m a r , 1 9 9 5 .

creches não foi estatisticamente significativa, pode- se deduzir que essa parasitose não sofreu influência do nível sócio-econômíco, no presente estudo. O elevado grau de parasitismo por G. la m b lia em

todos os níveis sócio-econômicos de uma população encontra apoio em diversos trabalhos que abordam tal aspecto4 7 14.

Entre as crianças da creche “A ” , com nível sócio-econômico elevado, nenhum dos fatores epidemiológicos estudados influenciou no aumento da prevalência da giardíase, inclusive o hábito de ingerir hortaliças que, no entanto, foi o único fator associado à parasitose, independentemente do nível sócio-econômico das creches (Tabela 2). Tal observação está de acordo com Marzochi e Carvalheiro9, que sugerem que a alta freqüência dos protozoários G. l a m b l i a , E n t a m o e b a c o l i e E n d o lim a x n a n a, em grupos com melhores condições

sanitárias, melhor padrão sócio-econômico e educacional, ocorre devido ao maior consumo de hortaliças.

Já em crianças de nível sócio-econômico baixo, creche “B”, alguns fatores, tais como abastecimento de água não potável, destino inadequado do lixo, hábito de ingerir hortaliças e dormitório coletivo estavam relacionados com o aumento da prevalência de giardíase. Outros fatores, como destino dos dejetos e animais domésticos não influenciaram no parasitismo (Tabela 5).

Com relação ao item “abastecimento de água potável” , tomamos como “potável” a água encanada do próprio domicílio, com o objetivo de eliminar variáveis indesej áveis como a transmissão do parasito durante o transporte do líquido em recipientes contaminados, como sugerem Camello e Carvalho4, segundo os quais a transmissão da G. la m b lia

ocorre pela Rede Pública após a passagem pela estação de tratamento.

Observando as variáveis “destino adequado dos dejetos e do lixo” , foram consideradas como formas adequadas de eliminação apenas a presença de fossa sanitária e coleta pela Prefeitura, respectivamente. Somente as crianças da creche “B” sofreram influência com a forma inadequada de eliminação do lixo, concordando com Camelho e Carvalho4, Florêncio7 e Priore e cois16, que sugerem o peridomicílio como fonte de transmissão.

Apesar da variável “dormitório individual” apresentar-se em 93,3 % das crianças parasitadas na creche “A ” (Tabela 4), a creche “B” (Tabela 5) demonstra o dormitório coletivo influenciando na freqüência de giardíase, confirmando os resultados de trabalhos anteriores que incluem tal item como fator muito im portante, principalm ente, na transmissão pessoa a pessoa1 2 10 12.

A presença de anim ais dom ésticos não influenciou na pesquisa, apesar de Florêncio7 encontrár alto grau de parasitismo, em uma população urbana e saneada, associado à presença do cão no domicílio e trabalhos anteriores relacionárem existência de outros animais com surtos dé giardíase através de reservatórios de água contaminada10.

Os dados obtidos não permitem afirmar qual o elemento responsável pela supremacia da giardíase em creches, dentre as demais parasitoses, apesar do aspecto mais favorável ser o hábito de ingerir hortaliças.

SUMMARY

A s u r v e y o f th e g ia r d ia s is p r e v a l e n c e w a s d o n e in c h ild r e n f r o m 2 t ill 5 y e a r s o ld w h o f r e q u e n t e d tw o d a y n u r s e r i e s ( “Aa n d “B ”). I t s r e l a t io n w ith s o m e e p id e m io lo g ic a l a s p e c ts th r o u g h th e r e a liz a tio n o f p a r a s ito lo g ic a l e x a m s o f s t o o l a n d a n in q u ir y a p p lie d to m o th e r s . I n d a y n u r s e r y "Aw ith a h ig th s ta n d a r d o f life, 2 0 (6 6 .6 % ) o f 3 0 in q u ir e d c h ild r e n w e r e p a r a s i t is e d a n d a l l t h e c h i l d r e n in d a y n u r s e r y “B ” h a d s o m e e n te r o p a r a s ite . Giardia lamblia w a s f o u n d in 1 5 (5 0 % ) o f th e c h ild r e n -in b e tte r s ta n d a r t o f life a n d in 1 9 (6 3 .3 % ) o f th e c h ild r e n w ith a lo w e r o n e. T h e in g e s tin g o f v e g e ta b le s w a s th e o n ly a llie d f a c t o r to th e h ig h d e g r e e o f g ia r d ia s is , in d a y n u r s e r y “A ". T h e d a y n u r s e r y “B " s u ffe r e d in flu e n c e s f r o m o th e r a s p e c ts : n o p o ta b le w a te r in th e r e s id e n c e s , th e in a p p ro p ria te d e s tin y o f th e g a r b a g e , th e in g e s tin g o f v e g e ta b le s h a b it a n d c o lle c tiv e b e d r o o m . T h e a d e q u a te s a n ita tio n a n d th e e x is te n c e o f d o m e s tic a n im a ls w e r e n o t r e la te d to p a r a s itis m b y Giardia lamblia. K e y -w o r d s : G ia r d ia sis. E p id e m io lo g ic a l a s p e c ts .

AGRADECIMENTOS

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C a r d o s o G S , S a n ta n a A D C , A g u i a r C P . P r e v a lê n c ia e a s p e c to s e p id e m io ló g ic o s d a g ia r d ta s e e m c r e c h e s n o m u n ic íp io d e A r a c a j u , S E , B r a s il. R e v is ta d a S o c ie d a d e B r a s ile ir a d e M e d ic in a T r o p ic a l 2 8 : 2 5 - 3 1 , j a n - m a r , 1 9 9 5 .

Universidade Federal de Sergipe, pelo auxílio nos exames parasitológicos. As acadêmicas Daisy Santana de Freitas e Simone Santana de Freitas, pela ajuda na coleta de material. A Paulo Sérgio Passos, pelo apoio. A secretária Ana Angélica Pereira Ramos pela digitação do texto. E a todos que direta ou indiretamente contribuíram para a realização deste trabalho.

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