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Rev. Soc. Bras. Med. Trop. vol.13 número1

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Academic year: 2018

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PERSPECTIVAS DE CONTROLE DA ESQUISTOSSOMOSE MANSONI

COM ESPECIAL REFERÊNCIA AO TRATAMENTO EM MASSA*

J. Rodrigues Coura * * e Léa Cam illo Coura * *

Classicam ent e as t ent at ivas de co nt ro le da esquist ossom ose t êm se baseado na u t ilização de um ou m ais dos seguintes m ét odos, isola­ dos ou associadam ent e: a) Co nt ro le do hospe­ deiro int erm ediário at ravés do uso de m olusci- cidas, lut a b io lógica ou com pet ição de q u al­ quer nat ureza; b) San eam ent o básico e ou abast ecim ent o de água com dif erent es graus de aperfeiçoam ent o e co m p lexid ad e, de aco r­ do com os recursos d isp o n íveis, locais e gru­ pos de populações hum anas a serem at ingidas; c) Ed ucação San it ár ia, desde info rm açõ es m u i­ t o prim ár ias e sem alvos def in id o s até proces­ sos de corydicionam ent o e part icipação de co ­ m unidades em dif erent es graus de int egração no processo; d) Prot eção in divid ual de pessoas e de grupos pro fissio nais seja do co nt at o pes­ soal com águas infest adas pelos caram ujos hos­ pedeiros int erm ediário s, seja pelo uso de ves­ t uár io im perm eável à penetração de cercárias ou ainda o uso experim ent al de subst âncias pot encialm ent e im pedit ivas dessa penetração e finalm ent e e) Trat am en t o de populações in ­ fect adas, com inúm eras drogas desde os ant i- m oniais até os produt os m ais recent es de u t ili­ zação em dose única por via oral, co m o o o xam n iq uin e e o praziquan t el, este ainda na fase de experim ent ação clf n ica.

Nenhum dos m ét odos acim a m encionados pode ser co nsiderado em ext ensão co m o capaz de isoladam ent e prom over o co nt ro le da es­ quist ossom ose, a não ser em áreas e grupos po­ pulacionais m u it o rest rit os, co m o é o caso do uso de m o luscicidas quan do aplicados com um grande rigor de t écnica e regularidade, acom ­ panhado de um r ígid o program a de vigilância

durant e per íodos m uit o longos ou prat icam en­ te in f in it o s, o que t orna o program a m uit o d is­ pendioso e prat icam ent e inaplicável num país de ext ensão t err it o rial e de fauna planor bídica dissem inada com o a exist ent e no Brasil, além dos problem as de polu ição e do co m pro m et i­ m ent o da lavoura e de alguns elem ent os da fauna. Po r o u t ro lado os experim ent os sobre o co nt ro le b io ló gico não t êm t razid o argum en­ t os co nvincent es sobre a eficácia de sua u t ili­ zação em m aior escala.

O saneam ento básico e o abast ecim ent o de água t rat ada seriam naturalm ent e um a im por­ t ant e so lu ção para o problem a do co nt role não só da esquist ossom ose nas populações aglom eradas, mas de out ras doenças de t rans­ m issão h íd r ica; ent ret ant o, rest ariam as d if i­ culdades de co nt ro le nas populações rurais não aglom eradas e principalm ent e nos grupos p ro fissionais com co nt act o obrigat ório com a água, especialm ent e os lavradores, um a vez que seria im possível o saneam ent o global do universo habit ado.

A educação sanit ária com o m edida isolada cert am ent e não t eria cab im ent o num progra­ m a de cont role da esquist ossom ose; ent ret an­ t o, a p art icipação at iva da co m unidade nas d i­ versas et apas da com preensão e aplicação das m edidas de co nt ro le seria, nat uralm ent e, em nossa o p inião , a única form a de obt erm os re­ sult ados perm anent es e rent áveis em termos não só do co nt ro le da esquist ossom ose mas de diversas out ras doenças, e, m ais ainda, no pro­ cesso de desenvolvim ent o global. Em realida­ de as experiências realizadas até agora neste cam po no Brasil são ext rem am ent e

fragmentá-* Trabalho apresentado na Reunião prom ovida pelo Conseiho N acional do Desenvolvimento C ie n tific o e Tec­ nológico (C N P q) sobre Epidem iologia e C ontrole da Esquistossomose, Recife, 2 4 a 2 8 de ab ril de 1978.

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rias e frágeis, de um lado pela t im idez ou in ­ t erferências de conot ações p o lít icas e, de o u ­ t ro, pela lim it ação e fragilidade dos program as em si, seja do pont o de vist a do seu cont eúdo ou da falta de apoio e crédit o pelas ent idades pat rocinadoras.

A prot eção individual de pessoas e grupos profissionais do cont at o à penet ração de cer- cárias pela pele tem grandes lim it ações não só do pont o de vista num érico das pessoas que podem ser prot egidas, com o t am bém do pon ­ t o de vista t écnico e operacional. É quase que imprat icável o uso de bot as, luvas, e out ros vestuários imperm eáveis, nas condições cu lt u ­ rais e de t rabalho de nossa população rural, que é obrigada a um co nt at o permanent e com a água. Por out ro lado a prot eção para evit ar o cont at o da população com a água infect ada demanda uma série de m edidas básicas com o construção a t lavanderias, fecham ent o e lim ­ peza de valas e medidas de educação sanit ária, com as lim it ações e dificuld ades já conhecidas e cujos resultados não parecem ter sido d evi­

damente avaliados em nosso país. Cert am ent e

a única medida de prot eção individual e co le­ t iva segura seria o aum ent o da resist ência e imunidade às infecções se dispuséssem os de uma vacina eficaz, o que não parece viável a curt o e médio prazo.

0 conceit o de t rat am ent o em massa " st ric- t o sensu" é o de t rat am ent o sim ult âneo de t o ­ da a população de uma co m unidade, incluin do indiscrim inadam ent e doent es e não doent es, infect ados e não infect ados de t odas as idades e sexos. Est e co nceit o não poderia ser ap lica­ do do pont o de vist a ét ico, a não ser com d r o ­ gas afaso/ utamente at óxicas, o que não ocorre nem mesmo no caso de " vacinação em m assa" quando se selecionam alguns casos de cont ra- indicação absolut a. Do pont o de vist a prát ico, chama-se de t rat am ent o em massa o t rat am en­ t o sim ult âneo ou " quase sim u lt ân eo " de um " grande núm ero " de pessoas represent at ivo de uma com unidade, com o define M ar t in s10, se­ gundo Prat a13. M esmo este ú lt im o conceit o não pode ser aplicado ao caso da esquist osso- mose, prim eiro porque não dispom os ainda de uma droga absolut am ent e at óxica e segundo porque não se ju st ificaria o t rat am ent o de in ­ divíd uo s não infect ados a não ser co m o grupo cont role de t oxicidad e em det erm inados expe­ riment os.

No caso part icular da esquist ossom ose, pa- rece-nos mais adequada a aplicação do co n cei­ t o de t rat am ento selet ivo em larga escala, co n ­ sist indo os element os de seleção: a) In d ivíd u o s

com infecção at iva; b) In d ivíd u o s sem cont ra- indicação absolut a e c) In d ivíd u o s que per m i­ t am o t rat am ent o. Est as t rês co ndições, alia­ das a um a t axa de aproxim adam ent e 10% de exam es de fezes falso-negat ivos, lim it am acen- t uadam ent e o emprego do t rat am ent o esp ecí­ f ico com o m edida de co nt role da esquist osso­ mose. Poder-se-ia superar esta últ im a d if icu l­ dade (casos com exam e falso-negat ivos) ex­ clu in d o o prim eiro item da seleção e port ant o t rat ando t odos os in d ivíd u o s da co m unidade, independent e de estarem ou não infect ados, desde que não apresent assem co nt rain dicação absolut a ao t rat am ent o e que não se opuses­ sem a ele, o que nos colocaria mais p ró xim os do co nceit o de t rat am ent o em massa; ent re­ t ant o, este fat o encareceria t rem endam ente o cust o da operação pela quant idade de m edica­ m ent o a ser u t ilizad o desnecessariam ent e, t ant o m ais quant o m enor fosse a prevalência da infecção na co m unidade, em bora esse cu s­ t o fosse m in im izado pela dispensa do diagnós­ t ico laborat orial da infecção. De out ra part e, aum ent aríam os o risco dos efeit os t ó xico s e colat erais pela ext ensão do t rat am ent o.

Os t rabalhos pio neiros do t rat am ent o sele­ t ivo da esquist ossom ose em larga escala com o os de Heraldo M aciel9 , Get Jansen 6 , Hoel Set t e14 e Ro drigu es da Silv a15, realizados no Brasil, u t ilizan d o ainda os ant im on iais t riva- lent es, t rouxeram um a im port ant e co n t r ib u i­ ção para o conhecim ent o dos result ados e d i­ ficuldades da quim io t erapia com o m edida de cont role da esquist ossom ose. Desde ent ão, pode-se avaliar que o t rat am ent o esp ecíf ico da esquist ossom ose m ansoni é um a im p o r t an ­ te m edida para o cont role da doença em po­ pulações afast adas das áreas endêm icas e das d ificuld ades desse t rat am ent o devido aos efei­ t os t ó xico s, à im possibilid ad e do t rat am ent o de t oda a população infect ada, e às re-infec- ções nas áreas endêm icas, lim it ando acent ua- dam ent e o seu em prego com o m edida de co n ­ t role nessas áreas, em bora com a dem on st ra­ ção clara de que a sua u t ilização pode reduzir a evolução da doença para as form as graves, fat o que veio a ser co nfirm ad o por Klo et zel8 post eriorm ent e.

Co m a descobert a de drogas m enos t ó xicas e de aplicação em dose única, co m o é o caso do Hycant h one, pode-se em preender cam pa­

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t rem a im por t ância. Em est udos experim ent ais de cam po em m enor escala, Bina e Prat a1,2 e Bin a3 na Bahia, t êm dem onst rado a p o ssib ili­ dade de redução dos índ ices e da int ensidade da infecção nos in d ivíd u o s t rat ados e que per­ m anecem na área endêm ica e, ainda, a redução da evolução da doença para as form as graves, fat o que at ribuem ao aum ent o da resist ência às re-infecções dos in d ivíd u o s t rat ados. Kat z & co laboradores7 , ent ret ant o, não t êm obt ido em M inas Gerais result ados sem elhant es quan­ t o às re-infecções de pacient es previam ent e t rat ados, observando prat icam ent e os mesmos índ ices de infecção ao fim de 7 anos após o t rat am ent o.

M ais recent em ent e, com a u t ilização do Oxam n iq u in e por via oral em dose única, com elevados índices de cura parasit ológica e baixa t o xicid ad e, estim ulou-se o uso dessa droga em larga escala, inclusive em cam panha de t rat a­ m ent o em massa adot ado pelo M inist ério da Saú de, em 1976, com a qual não co ncordam os pelas seguintes razões: 19) Por falt a de um es­ t udo p ilo t o prévio bem co nd u zido , acom panha­ do de um grupo co nt ro le e de ou t ros requisit os de avaliação, que possam oferecer um suport e cie n t íf icç a um em preendim ent o desse vult o; 29) Pelo elevado cu st o do invest im ent o, não ju st if icad o sem as garant ias de sucesso e sem as salvaguardas de event uais p reju ízo s decor ­ rentes de efeit os t ó xico s, seleção de m utant es resist ent es e de resist ência cr uzada; 39) Pela exist ência de est udos prévios que dem onst ram que as falhas t erapêut icas prim árias de 10 a 20% e as re-infecções da ordem de 15% ao ano, além da im possibilid ad e do t rat am ent o sim ult âneo de t oda a população, anulam a possibilidade do co nt ro le da esquist ossom ose pelo t rat am ent o em larga escala, co nfo rm e de­ m onst ram os em t rabalhos ant eriores4 ,5 .

Diant e do exp ost o nesta revisão sum ária, co n clu ím o s:

19) Que os m ét odos at uais são insu ficient es e ext rem am ent e dispendiosos para o co n ­ t role dos hospedeiros int erm ediários da esquist ossom ose, num país da ext ensão t err it orial do Brasil e com a sua ext ensa d ist r ib u ição plam o r bíd ica.

29) Que o saneam ento básico e o abast eci­ m ent o de água, ao lado da educação, são os elem ent os fundam ent ais para qualquer program a de co nt ro le da esquist ossom ose e de out ras doenças de t ransm issão h íd r i­ ca.

39) Que a par t icip ação at iva da com unidad e é a única form a de obt erm os result ados per­

m anent es em qualquer program a de co n ­ t role da esquist ossom ose ou de qualquer out ra doença, dent ro do co nceit o da ne­ cessidade de desenvolvim ent o global. 49) Que o t rat am ent o quim ot er ápico deve ser

considerado apenas com o m ét odo auxiliar no co nt ro le da esquist ossom ose devendo ser aplicad o part icularm ent e em crianças e adult os jovens com elevadas cargas para­ sit árias, visando a reduzir a evolução da doença para form as graves.

59) Que nenhum m ét odo isoladam ent e pode ser considerado capaz de co nt ro lar a es­ quist ossom ose e que qualquer program a de co nt role deve considerar a necessidade da aplicação m u lt id iscip lin ar dos mét odos exist ent es.

69) Que há uma grande necessidade de avalia­ ção cr ít ica das experiências de cont role da esquist ossom ose já realizadas no Brasil e dos result ados ob t id o s, antes do plane­ jam ent o de novos program as que devem sem pre ser precedidos dessas avaliações e de novas pesquisas dir igidas para co m ple­ t á-las at ravés de projet os pilo t os e estudos de pont os esp ecíficos.

REFERÊNCIA S B IB LIO G RÁ FICA S

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