Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Instituto de Físia
Rigidez, dinâmia heterogênea,
estabilidade marginal e modos
maios em sólidos amorfos
†
Carolina Brito Carvalho dos Santos
TeserealizadasoborientaçãodoProf.Leonardo
Gregory Brunnet e apresentada ao Instituto
de Físia da UFRGS em preenhimento par-
ialdos requisitosparaaobtenção dotítulode
Doutor em Ciênias.
Porto Alegre, 11 de junho de 2007
†
Trabalho naniadopeloConselhoNaional deDesenvolvimentoCientío eTénológio(CNPq) e
Agradeimentos
Aho pouo modesto agradeer às pessoas que amo pelo fato delas ompreenderem
a minha ausênia em diversos momentos durante os quais eu estava trabalhando. No
entanto, meu desejo de agradeer às pessoas que amo é porque, de fato, elas aabaram
interferindo noandamentode um trabalhodeste porte.
PrimeiramentegostariadeagradeeraosmeusirmãosCíntia,DaneeDoda,àtiaLaila,
que onsidero minha segunda mãe e, em espeial, aos meus pais. Simplesmente porque
eles são exatamente no limite da perfeição. Sempre presentes, sempre apoiando, sempre
estimulando. Assim, minhaestruturaeu devo emgrandeparte aeles eprinipalmenteao
exemplo de pessoas exepionais que eles são.
À minha vó que, aos seus 90 anos, me paree uma das pessoas mais sóbrias que eu
onheço. E que, paramim, é um exemplo de sabedoria e de doçura.
À minha gigantesa e quase sempre fantástia família! Dado o elevado número de
integrantes, é realmente impossível itá-los em sua integridade. Me limito portanto a
simplesmentedizerqueéumgrandeprazerperteneraumaestruturafamiliartãorobusta
e maravilhosa.
AoPedro, queéum quase perfeitopareirodevida! Meus agradeimentosnãoapenas
por ele ser o que é, mas também pela sua ajuda efetiva ao longo do meu trabalho de
tese,onde eletraduziu textos,diminuiuaprolixidadedos meusresumosemeajudouom
sua paiênia baiana em momentos de desespero onde tudo pareiaque não daria erto.
Enm, peloseu papelessenialna minhavida!
Aos meus muitos magníos amigos que, durante as losofadas de botequim e em
meio a várias aipirinhas e vinhos, me zeram reser, ver o mundo de outra forma ou
simplesmenteestavampresentesparaouvirefalarbobagens. Inialmentepenseiqueseria
suiente agradeer aos meus muitos magníos amigos, mas aí me dou onta de que
estaserámuitoprovavelmenteaúniatesequeeufareinavidaequeportantoeupossome
estender eitarexpliitamentealgumasdaspessoasquesãode extremaimportâniapara
mim. Então queria agradeer à Cris, Carlitha, Pooops, Lequinha, Laurão, Camilitha,
Veri, Boing, Feris, Mana, Dane, Doda, Yuri, Riardão, Seb, Miguelito, Jaque, Cãozinho,
Carolzita, Fran. Há evidentemente outros,alguns que estão itadosmais abaixo e outros
que talvez sejam injustamenteesqueidos.
No plano prossional, omeu muito obrigadaaoLeonardo Brunnet. OLeo tem papel
obviamenteespeial desdeaminhagraduação,onde elepassouaser meu orientadoralém
as minhas (in)deisões. Ele aeitou que eu troasse ompletamente de tema quando eu
estavaquasenametadedodoutorado. Eprinipalmenteeleapostounaminhaesolhaese
dediouameajudar, adisutirostemas,aaprender outros,aouvirminhasignorâniase
paientementeresolvê-lasomigo. Ebom,realmenteahoquepouosorientadoresteriam
permitidoque eu seguissea opção daemoção frenteà razão...
Assim,agradeçoaosero-responsávelporestaesolha. Estetrabalhoomeçouquando
MatthieuWyartmepropsqueestudássemosadinâmiavitrosa emum modelodesólido
amorfo pouo onetado. Euaeitei omoum trabalhoemparalelo aomeu trabalhode
tese na époa. Mas então me apaixonei atal ponto pelo tema, queminha tese original
foiando parasegundo plano... Emum erto momentoeu preiseiesolher entre um ou
outrotema.. Evoilá,euopteipeloatualtrabalho! TrabalharomoMatthieuéumprazer!
Não apenas porque ele é um gênio, mas também porque, dada a sua intimidade om as
máquinas,eleé oúnio ser nomundo queme fazsentiruma espeialistaeminformátia!
Meus agradeimentos também aoHugues Chaté, quem sempre me apoiou muito, me
ensinou eé sem dúvidas uma parte essenialda minhahistória navida aadêmia.
E, é laro, háinúmeros professores e olegasque me aompanharam e quede alguma
forma são parte importante da minha formação. Em espeial, um agradeimento ao
Jeferson Arenzon pela sua detalhada orreção do meu exame de doutorado. E aos meus
olegas Hetor, Ártur e Mendeli porque eles formam a minha turma de fauldade! Ao
Marlitoquemuitomeajudouomasinúmerasdúvidasgeralmentebeirandoodesespero
sobre oLinux. AoAntnio, que,mesmoestando sempreinnitamentepreoupadoom
seu trabalho, esteve sempredisposto aajudaremqualquer situação. E aoMaros Paulo,
que é um novo integrante da sala
M 207
e que trouxe a malíia mineira para alegrar asalaheia de gaúhos sérios.
Finalmente, meus sineros agradeimentos à soiedade brasileiraquedesde a gradua-
ção naniou meus estudos. Embora vivamos num país de muitosontrastes, aeduação
superiornoBrasilmereeseu destaque. Auniversidade públiaegratuita,embora muito
longe de atender a todos, ainda é o maior vetor de mobilidade soial. E, ainda que te-
nhamosum longoaminhoaté hegarmos àprodutividadeaadêmiaque existe hoje nos
países de primeiromundo,areditoque osorganismos brasileirosinvestem nesta direção,
embora falte espaço para absorver osdoutores poreles naniados.
Muitas araterístias de sólidos amorfos, tais omo propriedades de transporte, de vi-
bração e reologia são pouo ompreendidas. Uma das prinipais razões é a falta de o-
nheimentosobreaestruturamirosópiados vidros. Esta questãonão podeser tratada
sem umamelhorompreensãode omoestes sólidossão formados: já quesólidosamorfos
são sistemas fora do equilíbrio, sua estrutura depende de sua história. Isto motiva um
melhor entendimento dos meanismos mirosópios responsáveis pela transição vitrosa.
Trabalhos reentes estabeleeram a presença de modos maios estendidos em ertos vi-
dros e relaionaram sua presença a araterístias geométrias do empaotamento das
partíulas. Nosso objetivo neste trabalhoé mostrarque estes modos estão envolvidos na
dinâmia dos vidros, e fazer algumas predições sobre a estrutura espaial da relaxação
estrutural e sobre a estrutura mirosópiadestes materiais. Utilizaremos empartiular
o vidrode esferas duras. Primeiramente estabeleemos uma equivalênia entre as esferas
duras e sistemaselástios, o quenos permite mostrarque os modos maios araterizam
a energia livre do sistema. Num segundo momento, estudamos teória e numeriamente
o papel destes modos para a dinâmia, tanto na transição vitrosa quanto durante a fase
vitrosa, onde o sistema envelhee. Nossos prinipais resultados são a derivação de algu-
mas leis de potênia sobre dinâmiae a estrutura, as quais são medidas numeriamente
e válidas durante tada a fase vitrosa. Entre outros resultados, enontramos: (i) o vidro
de esferas duras vive muito próximo da estabilidade marginal, o que leva a uma lei de
potênia entre oordenação e o empaotamento das partíulas, (ii) prevemos uma diver-
gênia rítiado tamanhodas regiõesde rearranjo quando o sistema seaproximado seu
empaotamento máximo aleatório,a qual foi reentemente veriada por outro trabalho
e(iii)mostramosque aestabilidademarginallevaàanomalia-
β
,que,empartiular,podeser observada peloaentuado desloamentoquadrátiomédio das partíulas emtorno de
um estado metaestável.
Abstrat
Many properties of amorphous solids, suh as transport, rheology or vibrationalpro-
perties, are poorlyunderstood. Oneof the mainreasonsfor thatis ourlak ofknowledge
of the mirosopi struture of glasses. This question annot be approahed without a
better understanding of how these solids are formed: sine amorphous solids are generi-
ally out o equilibrium, their struture depends on their past history. This motivates
a better understanding of the mirosopi mehanisms underlying the glass transition.
Reent works have established the presene of extended soft modes in the struture of
ertain glasses, and have related their presene to the geometrial feature of the partile
paking. Our present goal is to show that these modes are involved in the dynamis of
glasses,and tomakeseveralpreditions onthe spatialnatureofstruturalrelaxationand
on the mirosopi struture. We shall fous in partiular on hard sphere glasses. We
shallrst establishanequivalenebetween hardsphereglassesand elastisystems,whih
enables to show that soft modes haraterize the free-energy of hard spheres. Then we
study theoretially and numerially the role of these modes for the dynamis, both at
the glass transition and deep in the glass phase where aging ours. Our main results
are the derivationof several power laws onthe dynamisand the struture, thatwe on-
rm numerially and observe to be valid throughout the glass phase, among others: (i)
the hard sphere glass lies very lose to marginal stability, whih leads to an observed
power law relation between oordination and the paking fration; (ii) the predition of
a ritial divergene of the size of rearranging regions when the system approahes its
maximum paking, whih was reently veried ; and that (iii) marginal stability leads
to a
β
-anomaly,whih an be observed, in partiular, by the aentuated mean squareddisplaement of the partiles duringa metastablestate.
1. Introdução
. . . .
21.1 Líquidos super-resfriados e transição vitrosa: algunsaspetos importantes . 7 1.1.1 Relaxaçãonão-exponenial . . . 7
1.1.2 Dinâmia Heterogênea . . . 10
1.2 Algumasaraterístias de materiaisvitrosos . . . 11
1.2.1 Densidade de Estados: exesso de modos de baixafreqüênia . . . . 11
1.2.2 Envelheimento (aging) . . . 14
1.3 OModelo de Esferas Duras (Hard Spheres) e osColóides . . . 16
1.4 Dinâmiade sistemasvitrosos: propostas de desrição . . . 18
1.5 Organizaçãoda Tese . . . 20
2. Teoria de vibrações em sistemas pouo onetados
. . . .
232.1 Estabilidade de um sólido estudada a partirde seus modos vibraionais . . 24
2.2 Sólido amorfo próximo aolimite isostátio: omportamentorítio e algu- mas araterístias . . . 27
2.3 Vibrações de sistemas nolimite isostátio(
δz = 0
). . . . . . . . . . . . . . 302.3.1 Rigidez emodos maios . . . 30
2.3.2 Sólidoamorfo nolimite isostátio: ondição de estabilidade marginal 31 2.3.3 Exesso de modos de baixafreqüênia e modos anmalos . . . 33
2.4 Vibrações quando
δz = z − z c > 0
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 362.5 Efeitoda pressão: ritériode Maxwell estendido . . . 37
2.6 Propriedadeselástias de sistemas pouo onetados . . . 39
2.7 Resumodos prinipaispontosapresentados noapítulo . . . 41
3. O vidro de esferas duras se omporta omo um sólido elástio pouo onetado
. . . .
433.1 Número de oordenação e forçade ontato . . . 44
3.2 Potenialefetivo eenergia livrede Gibbs dovidrode esferas duras . . . 47
3.2.1 Correção daforça quando
δz > 0
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 513.2.2 Força de ontato média omo parâmetro de ontrole . . . 52
3.3 Cálulodos modos vibraionais . . . 53
3.4 Considerações sobremetaestabilidade, rigidez emodos vibraionais . . . . 56
4. Estabilidade do sistema de esferas duras
. . . .
594.1 Estabilidade doristal quadradoe doristal hexagonal . . . 60
4.2 Estabilidade dovidrode esferas duras: rigidezmarginal . . . 62
4.2.1 Rigidez marginalefreqüênia araterístia
ω ∗
dos modos anmalos 63 4.3 Propriedadeselástias dovidro de esferas duras . . . 635. Dinâmia das esferas duras e os modos anmalos
. . . .
655.1 As fasesda dinâmia . . . 66
5.1.1 Estados metaestáveis eterremotos . . . 68
5.2 Dinâmiamirosópia . . . 71
5.2.1 Osmodosvibraionais são fraamente aoplados . . . 71
5.2.2 Desloamento quadrátiomédio
h δR 2 i
. . . . . . . . . . . . . . . . 735.3 Modos anmalos erelaxação estrutural . . . 76
5.3.1 Fase vitrosa: dinâmiaintermitente . . . 77
5.3.2 Líquidosuper-resfriado: relaxação
α
. . . . . . . . . . . . . . . . . 805.4 Heterogeneidades dinâmias: onseqüênia natural da heterogeneidade dos modos anmalos . . . 83
5.4.1 Esala de omprimentodinâmiae modos anmalos . . . 85
5.4.2 Caraterização e propriedadesestatístias dos modos anmalos . . . 87
5.5 Disussão . . . 87
6. Conlusões e Perspetivas
. . . .
896.1 Resumoe disussão . . . 89
6.2 Perspetivas . . . 93
6.2.1 Desriçãodatransiçãovitrosa omoaestabilizaçãodos modosan- malos . . . 93
6.2.2 Transiçãodo tipo modos instáveis/estáveis: omodelodo quadrado om bordas reexivas . . . 97
A.Detalhes numérios
. . . .
104A.1 Robustez dos resultados frenteao parâmetro
t 1
. . . . . . . . . . . . . . . . 104A.2 Deniçãodas partíulas-hoalhos (rattlers) . . . 105
A.3 Medida daoordenação
z
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108A.4 Força de ontato média
h f i
e pressãop
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 110Apêndie 104
B. Cristal Hexagonal
. . . .
111C. Derivação da expressão usada no apítulo 2
. . . .
115Referênias
. . . .
117O desenvolvimento da meânia estatístia no último séulo nos permitiu ompreender
melhor diversas propriedades da matéria, expliar seus diferentes estados, transições de
fases assim omo suas propriedades de transporte. Desobriu-se que os fenmenos o-
letivos que dão origem às transições de fases surgem quando se modia um parâmetro
externoe,emboraasinteraçõesemníveismirosópiossejamdiferentes,asmanifestações
marosópiasdosdiferentesestadosdamatériapodemser tratadasdemaneirauniversal.
Na base destas desobertas, está o oneito de equilíbrio. No equilíbrio, todas as
ongurações om mesma energia são igualmente prováveis. Uma vez que se onheça o
potenial de interação entre um par de partíulas
U (r)
é possível onstruir a fun-ção de partição
Z = R dr 1 dr 2 ..dr N exp[ − U(r)/k B T ]
e, a partir dela, a energia livre deHelmholtz
F = − k B T ln Z
. O omportamento do sistema no seu estado de equilíbrio é aquele queminimizaF
. Embora sejabastanteompliadoobter analitiamenteaenergia livrepara muitos sistemas,existe um método bemestabeleido quenos permiteobter in-formaçõessobretaissistemasemequilíbrio. Mesmo quandooproblemasetornainsolúvel
analitiamente,muito progresso pode ser feito graçasà físiaomputaional.
No entanto, muitos sistemas não estão em equilíbrio. Entre os inúmeros exemplos,
podemositar os sistemas biológios,os quaisestão submetidos auxos de matéria e de
alor. Outro exemplo que é bastante omum são materiais granulares, para os quais a
temperaturanãoexerefunçãoalgumaeneessitaqueenergiasejaforneidaexternamente
para que ele perorra o espaço de fases. Neste aso, uma vez que o sistema atinja um
mínimo loal de potenial, permanee nele durante um tempo indeterminado. Há ainda
os sistemas vitrosos, tais omo vidros estruturais, os quais evoluem tão lentamente no
tempoquenão podem ser onsideradosequilibradosnas esalasde tempo experimentais.
Paraestessistemasforadoequilíbrionãoexiste umameâniaestatístiadesenvolvida
de formaatratá-lossistemátia e generiamenteomonoaso de sistemasemequilíbrio.
É talvez por esta razão que taissistemas têm atraído aatenção de muitos pesquisadores
nas últimasdéadas. Segundo Kadano(1),eles nos dão a possibilidade de reinventar a
meânia estatístia emum novo ontexto.
Materiais vitrosos ou sólidos amorfos são exemplos típios de sistemas fora do
mente (2; 3; 4). Na natureza, um elemento muito abundante é o silíio, o qualpode ser
enontradonaformaamorfaeristalina. Assim, muitosmateriaisquesãoomunsànós e
quesãobasiamenteonstituídosde silíio,taisomoareiaevidrode janela,sãoamorfos.
Materiaisamorfos são tambémamplamenteutilizadosnaindústriaeimportantes nate-
nologia. Alguns exemplossão osvidrosmetálios(5;6)queapresentam maiorresistênia
àorrosãoefáilmagnetizaçãoomrelaçãoàsligasmetáliasnormaisevidroserâmios,
os quaispossuem inúmeras apliaçõesnamediina (7; 8;9; 10).
Materiais vitrosos são normalmente obtidos a partir de uma fase uida variando-se
um parâmetro omo temperatura ou densidade. Conforme a temperatura diminui ou a
densidadeaumenta,seataxadevariaçãoforrápidaosuienteparaqueomaterialpasse
pela sua temperatura de fusão
T m
sem ristalizar, obtém-se o que hamamos de líquido super-resfriado (superooled liquid). Baixando ainda mais a temperatura ouaumentandoainda mais a densidade deste líquido super-resfriado, a visosidade aumenta muito de
formaque a estrutura do materiala ongelada para ns prátios. O sistema seom-
portaomoumsólidoemesalasdetempoexperimentais,resistindoàapliaçãode tensão
e isalhamento. Isto é o que hamamos de vidro (glass). Vidros são, portanto, materiais
desordenados ou sólidos amorfos que não têm a periodiidadede um ristal mas que
meaniamentese omportam omo sólidos. As fasesestão esquematizadas naFig.(1.1).
Quando a temperatura é abaixada em direção à
T g
, o tempoτ α
que arateriza arelaxaçãoestruturaldosistema
∗
aumentaemmuitasordensdegrandeza. Aeste aumento
nas esalas de tempo dos fenmenos assoia-se a idéia de uma dramátia redução na
dinâmia do sistema. Tal redução abrupta que oorre para um intervalo estreito de
temperatura(ou densidade) não é uma araterístia exlusiva datransição vitrosa; isto
oorrede maneiradrástianuma transiçãodefasesde primeiraordemde umlíquidopara
um ristal. No entanto, o aspeto fasinante da dinâmia de líquidos super-resfriados
é que esta redução da dinâmia oorre sem nenhuma aparente modiação estrutural
mirosópia do material (11). Esta araetrístia pode ser veriada por exemplo por
meio do fator de estrutura estátio
S(q)
de um sistema de Lennard-Jones(LJ)†
para
diferentes temperaturas, Fig.(1.2). Veria-se que sua estrutura espaial não se altera
signiativamente quandoa temperaturadesrese em direçãoà fasevitrosa.
Assim, a estrutura mirosópia de um vidro é pratiamente igual a de um líquido.
Umvidro,noentanto,éumsólidonoquedizrespeitoatodaequalquer deniçãomaros-
∗
Amedidaidealparadenirotempoderelaxaçãoestrututalpodeserarelaxaçãodielétria,visosi-
dade,utuaçõesdedensidade,et,dependendodotipodesistema.
†
ModelosondeaspartíulassãosubmetidasaumpotenialdeLJsãomuitoestudadosporquepossuem
uma fase vitrosa para um dado intervalo de parâmetros. Ao longo do trabalho, utilizaremos muitos
Fig. 1.1: Volume espeío
V sp
omo função da temperatura para um líquido típio.Conforme expliado no texto, se abaixarmos rapidamente a temperatura de
um material a partir de sua fase líquida de maneira que ele não ristalize à
T m
, obtém-se um líquido super-resfriado. Abaixando-se ainda mais a tempe- ratura, as moléulasdo material não onseguem mais se rearranjar, de formaque permaneem ongeladas para esalas de tempo experimentais. O mate-
rial resultante é um vidro, que também hamamos de sólido amorfo. Figura
modiadada referênia(2).
Fig. 1.2: Dependênia do fator de estrutura estátio om o vetor de onda
q
para umamisturabináriade partíulas submetidasaopotenialde LJ.A legendaapren-
senta,além das temperaturas, ostemposde relaxação estrutural
τ
dosistema.Esta medidaé apenasparaum dos tiposde partíulas, tipoA.Figuraextraída
ópia desta fase: eleé apaz de sustentaruma forçade isalhamento por exemplo. Não
havendoumamudançaestruturalnosistema,poranalogiaàstransiçõesdefaseontínuas,
busou-se um omprimento de orrelação estátio divergente próximo à transição, o que
não foi enontrado (12; 13). O omprimento de esala dinâmio é portanto o andidato
para expliar a redução abrupta da dinâmia quando o sistema atinge a fase vitrosa.
A idéia é que, quanto mais próximo o sistema estiver da transição vitrosa, maior o nú-
mero de partíulas que preisa ser movido simultaneamente para oorrer a relaxação, o
que laramente torna a dinâmia ada vez mais lenta. Esta esala dinâmia de ompri-
mento de orrelação foi mais tarde assoiada às heterogeneidades dinâmias(2; 14). No
entanto, mesmo que já tenham medido experimental e omputaionalmente esalas de
omprimento que resem próximo à transição vitrosa (15; 16; 17; 18; 19; 20; 21), este
resimentoé modesto próximo àtransição para quepossa ser denitivamente assoiado
à dramátia redução da dinâmia (22). Além disso, a origem deste omprimento de o-
operação permanee sem ompreensão. Portanto, após vários anos de estudo e muitos
trabalhos, uma das questões mais elementares arespeito dos materiais vitrosos ontinua
em aberto: que meanismos mirosópiossão responsáveis pelatransição vitrosa? Dito
de outra maneira, o que garante mirosopiamente a rigidez observada marosopia-
mente e que arateriza a fase vitrosa? Enontrar um meanismo que garanta que um
vidromantenhasua rigidezéum primeiropassopara entenderumaoutragrandequestão
sem resposta: omo um vidro perde sua rigidez e sofre a transição para o líquido? Ou
seja: qual éou quaissão osmeanismos datransição vitrosa vistoa partirde umateoria
mirosópia?
Alémdestasquestões, umoutroaspetodadinâmiavitrosaontinuaadesaarnossa
ompreensão: as propriedades dos materiais amorfos. Sólidos amorfos apresentam a-
raterístias de transporte, de vibração e reológias muito diferentes das observadas em
sólidosristalinos. Para estesúltimos,asuposiçãode queosfnonssão ondasplanasestá
de aordo om diversos experimentos e se manifesta, por exemplo, no omportamento
de Debye para a densidade de estados
D(ω) ∼ ω d−1
, onded
é a dimensão do sistema,no resimento linear om a temperaturadas osilaçõesdas partíulas em torno de suas
posições de equilíbrio,
h δR 2 i ∼ T
, assoiado ao fator de Debye-Waller, na dependêniaquadrátia da ondutividade térmia om a temperatura. Sólidos amorfos, no entanto,
apresentam anomaliasom relação aos omportamentosreém itados.
Reentes trabalhosnumérios, queestudam atransição dejamming
‡
emesferas ma-
ias, permitiram um signiativo avanço na ompreensão da relação entre rigidez e a
‡
Parasistemasatérmios,atransição dejamming pode servista omoanáloga àtransição vitrosa
estrutura mirosópia do sistema (23; 24; 25). Estudando a fase amorfa do sistema,
observou-se queele apresentaum exesso de modos de vibração de baixafreqüênia om
relação ao omportamento de Debye e que, tanto o espetro de vibrações quanto o nú-
mero de oordenação apresentam leis de esala próximo à transição de jamming, que
oorre para
φ = φ C
, ondeφ
é a fração de oupação das partíulas dosistema . Usando ofatode que,para queum sistema sejarígido, elenão deve apresentarmodos vibraionais
instáveis(26),aexistêniadesteexesso de modosfoi maistardejustiadateoriamente
para sólidos pouo onetados (27; 28; 29), os quais são materiais que possuem número
de oordenação
z
próximo ao limite isostátioz c = 2d
. A teoria será expliada no a-pítulo 2, mas aqui destaamos seus resultados prinipais: sólidos om baixo número de
oordenação devem apresentar um exesso de modos de baixa freqüênia, os quais são
omplemente diferentes de ondas planas e apareem a partir de um erto valor que de-
pende daoordenação
z
edapressãop
dosistema. Alémdisso, taismodos anmalostêmum omprimentoaraterístio
l ∗
que diverge emφ = φ C
.Neste trabalho, primeiramenteestudamos aausamirosópiadaestabilidade meâ-
nia de materiaisvitrososusandoo modelode esferas duras. Este sistemaapresentauma
fase vitrosa entre uma dada fração de volume
φ 0
onde o tempo de relaxação do sistemaexede o tempode simulação eum valor
φ C
, onde o sistema se enontraem sua máximaoupação aleatória
φ RCP
e tem número de oordenaçãoz = z c
. Mostramos que podemosdenirum potenialefetivoentre as partíulasuma vez que sejafeitauma médiatempo-
ral. A existêniadeste potenialnos permitealularosmodos vibraionaisdosistema e
apliar os resultados da teoria de vibrações de sólidos pouo onetados. Inspeionando
a razão mirosópia que leva à rigidez do sistema de esferas duras, mostramos que sua
estrutura mirosópiaétal queosistema éapenas marginalmenterígido, oque signia
que ele tem número de oordenação exato para sustentarsua própria pressão. O fato de
queosistemavivenolimitemarginaldeestabilidademeâniaimpliaaexistêniadeum
exesso de modos vibraionais de baixa frequênia, os quais são modos na iminênia de
serem instáveis. Estes modos emexesso são osfnons do sistemaamorfo e,ao ontrário
do observado em ristais, não são omo ondas planas, mas são heterogêneos e formam
regiõesonde as partíulas semovemmais e outras onde osistema a imóvel.
Num segundo momento, usamos estes fnons, denidos omo modos anmalos, para
estudar a dinâmia do sistema, tanto na fase vitrosa quanto na fase de líquido super-
resfriado. Mostramos que a dinâmia, em ambas as fases, é governada por estes modos
anmalos. Assim, usando o fato de que as vibrações de mais baixas frequênias dos ma-
teriaisamorfos sãomodosanmalos,onseguimosfazerprediçõeseompreender algumas
traspredições,obtemosque(i)duranteafasevitrosa,aestruturamirosópiadosistema
é muitopróxima damarginal,o queleva àrelação
δz ∼ (φ C − φ) 1/2
,(ii)asosilaçõesdaspartíulas em torno de estados de equilíbrio esalam omo
h δR 2 i ∼ (φ C − φ) 3/2
e (ii) otamanhodas regiões de rearranjo divergem omo
l ∗ ∼ (φ C − φ) 1/2
.Este apítulointrodutórioestá organizadoda seguinte maneira: primeiramenteapre-
sentaremos algunsaspetos importantes sobre as fasesde líquidosuper-resfriadoe a fase
de sólido amorfo. A proposta não é fazer uma revisão exaustivada literatura, mas apre-
sentar oestado daarte de materaisvitrosos. Serão destaados alguns aspetos da fase
vitrosaquedistingüe seu omportamentodaqueleobservado emsólidosristalinosealgu-
mas araterístiasda dinâmiade líquidos super-resfriados que a difere da dinâmiade
líquidos normais. Em seguida, introduziremos o modelo de esferas duras (hard spheres),
para o qual um rápido aumento da densidade resulta em uma fase vitrosa (30). Tam-
bém apresentaremos uma realização experimental deste modelo, os olóides. Por m,
disutiremos brevemente algumas das teorias existentes para ompreender a dinâmia
dos líquidos super-resfriados e as araterístias dos materiais amorfos. Ao nal deste
apítulo,disutiremos omo orestante da tese está organizada.
1.1 Líquidos super-resfriados e transição vitrosa:
alguns aspetos importantes
1.1.1 Relaxação não-exponenial
Umamedidamirosópiadequantoaspartíulassemovemomrelaçãoàssuas posições
iniiaiséafunçãoautoorrelaçãodedensidades,denidaparasistemasemequilíbrioomo
F (~q, τ ) = h e i~ q . ∆~ r(τ) i ,
(1.1)onde
∆~r(τ)
é o desloamento das partíulas durante o tempoτ
,hi
signia uma médiasobretodas aspartíulase
~q
éum vetor deonda. AFig.(1.3)éuma medidade autoorre-lação de densidades realizada a partir de um experimentode espalhamentoinelástio de
luzpara um sistema oloidal(31). No experimento, as partíulas têm raios da ordem de
200nm e uma dispersão emtorno deste valormédio de 0.02nm,a qual impede a ristali-
zaçãoeo vetor
~q = ~k i − ~k 0
éadiferençaentre ovetorde onda~k i
daluzinidenteedaluzespalhada
~k 0
para o detetor. A Fig.(1.3) mostra uma progressiva diminuição no deai- mentodeF (~q, τ)
quando afração de volumeφ
aumenta. Para as amostrasmais densas,não seobservaodeaimentoda autoorrelação dentrodotempoaessível nolaboratório.
Fig. 1.3: Funçãode autoorrelação de densidades
F s (q, τ )
vslog(τ )
,ondeτ
éum tempoadimensional e
q = 1.3R
. Cada linha representa diferentes frações de volumeφ
. Daesquerdaparadireita:φ ≈ 0
(linhaontínua),0.466
,0.502
,0.519
,0.534
,0.538
,0.543
,0.548
,0.553
,0.558
,0.566
,0.573
,0.577
,0.583
. Figura extraídadaref.(31).
Osdiferentes regimesapresentados nesta medidade autoorrelação de densidades po-
demsermelhorentendidosolhandoparaaFig.(1.4)(W.Kobem(11))aqualéumesquema
deomoumafunçãodeorrelaçãotípia
Φ(t)
evoluinotempo. Otipodefunçãodeorre-laçãodependerádotipodesistemafísioaserestudado. Noasodosolóides,afunçãode
orrelaçãoaqualtemosaessoexperimentaléadedensidades,denidamatematiamente
na Eq.(1.1). Esta gura, ujas urvas orrespondem a temperaturas diferentes, será o-
mentada em termos de temperatura, mas a análise ésemelhante quando o parâmetro de
ontroledosistemaéadensidade. Aaltas temperaturas
T
,quandoosistema seenontraemseu estadolíquido,arelaxaçãoérápida,enquantoque,parabaixas
T
,elerelaxamuitolentamente.
Para altas temperaturas arelaxação ésimples: emesalas de tempomuito pequenas,
aspartíulasnão interagemumasomasoutras. Este primeiroregimeéhamadode ba-
lístio. Namedida queo tempo aumenta,mudamospara um regime denido peloiníio
das interações entre as partíulas ao qual hamamos de regime mirosópio. Evoluindo
ainda mais o tempo,
Φ(t)
possui um omportamento que pode ser bemaproximado porFig. 1.4: Esquema da dependênia temporal de uma função de orrelação
Φ(t)
típia.As duas urvas orrespondemao omportamentode
Φ(t)
emfunção dotempoem regimes de temperaturas diferentes. Para altas temperaturas, a relaxação
é rápida. No regime de baixas temperaturas,
Φ(t)
exibe um omportamento omplexo, om apareimento de diferentes regimes de relaxação ao longo dotempo,osquaissão expliadosnotexto. Figuramodiadadareferênia(11).
Oomportamentode
Φ(t)
emfunçãodotempo,quandoatemperaturaébaixa, ébem mais omplexo. Osregimesbalístioemirosópiooorremdamesmamaneiraqueparaaltastemperaturas. Noentanto,aoinvésde airazeroomooorreaaltastemperaturas,
Φ(t)
apresenta um plat para tempos intermediários, o qual hamamos de relaxação-β
.Apenas para temposmuito longos é quea função de orrelação deaia zero. A janelade
tempo durante a qual o plat deai a zero é hamada de relaxação
α
. Notemos que háuma sobreposição entre as janelas de tempoque orrespondemà relaxação
α
e relaxaçãoβ
. Otempode relaxação estruturalτ α
do sistemaé denido de aordo om o tempo queleva para queo sistema atinjaaetapa de relaxação-
α
.A denição exata de
τ α
é arbitrária. Há autores que o denem omo sendo o tempo neessário para que aorrelação deaia a1/e
de seu valor iniial,mas é possível esolhervalores um pouo diferentes. O que importa é que a arbitrariedade na denição de
τ α
não modia sua dependênia om o parâmetro de ontrole,
T
ouφ
, e a onlusão omrelaçãoaestamedidaérobusta: um pequenoaumentode
φ
,quandoφ
está próximoaumertovalor
φ 0
,provoaum sensívelaumentoemτ α
,omopodemosobservar naFig.(1.3).Esteomportamentoindiaqueadinâmiadiminuiabruptamentedentrode umintervalo
pequenode variaçãodasdensidades. Umexemplode
τ α
omofunçãodafraçãode volumeφ
pode ser obervado naFig.(1.5) que orresponde asimulaçõesnumériasde um sistemade esferas duras,em 2e 3 dimensões(32).
Fig. 1.5: Tempo de relaxação
τ α
vsφ 0 − φ
para um sistema de esferas duras em 2d(
φ 0 = 0.803
) e 3d (φ 0 = 0.587
) .τ α
é denido omo o tempo neessário paraque a autoorrelação de densidades
F (~q, τ )
deaia a1/e
de seu valor iniial.Note que uma pequena variação de
φ
próximo deφ 0
provoa um aumento deτ α
de algumasordens de grandeza. Figuramodiadadaref.(32).1.1.2 Dinâmia Heterogênea
Normalmentepensamosem líquidos omo materiais homogêneos, mas também neste as-
peto a dinâmia dos líquidos super-resfriados é surpreendente: de fato, ela é ompleta-
mente não homogênea. Experimentos (19; 33) e simulações mostram que a dinâmia é
não homonogênea no tempo e noespaço (34; 15; 2;35).
Muitoesforço temsidofeitoparaaraterizarestaheterogeneidade. Jáforamdestaa-
dosalgunsaspetosdadinâmiaooperativadaspartíulasomoporexemploomovimeto
enadeado(stringlikemotion)ondeaspartíulas quedesenvolvemum movimentoorrela-
ionadosedesloamaolongode linhas (Fig.(1.6-a))e oaspetode aglomeradoompato
(ompat luster) (Fig.(1.6-b)).
Algumasperguntas básiasomo: (i)qualotamanhoespaialdestasheterogeneidades
,(ii)quantoadinâmiapodevariarentreasregiõesmaisrápidasemaislentasdaamostra?
e (iii) quais são as ausas destas heterogeneidades? permaneem sem resposta. No que
onerne a questão (iii), a resposta pode estar intimamente ligada à ompreensão da
transição vitrosa. Aredita-se que o aumento no tempo de relaxação estrututal
τ α
dosistema esteja assoiado ao fato de que, onforme a transição vitrosa se aproxima, é
neessário que muitas partíulas se movam simultaneamente para que o sistema relaxe.
Ou seja, a idéia é que haja uma esala de ooperação entre as partíulas de tal forma a
gerar um omprimento de orrelação dinâmio que aumenta muito próximo à transição
(36; 37;15; 16;17;18; 19; 20; 38;39).
Fig. 1.6: (a) Exemplo do movimento enadeado. Esta gura foi extraída da referênia (40 )
onde osautores estudam a fase de líquido super-resfriado de umasistema de partí-
ulas submetidasaopotenialdeLennard-Jones. Aimagem éumasuperposição das
posições das partíulas mais móveis de uma subregião do sistema em dois tempos
diferentes. As ores indiam os diferentes tempos e as setas indiam a direção do
movimento. (b) Experimento om olóides que mostra que as partíulas mais mó-
veis (representadas pelas esferas maiores) formam aglomerados ompatos. Figura
extraída dareferênia (19 ). ()Experimento feitoomesferas deaço onde a energia
é onstantemente oloada no sistema inserindo-se ar homogeneamente distribuído
naamostra. Asoresindiamdiferentesmobilidadeseas
10%
partíulas maismóveisformamlinhas. Figuraextraídade (22).
A existêniadeuma dinâmiaheterogêneaestá amplamentedoumentada,bemomo
muitas das araterístiasdos movimentosdesenvolvidos pelas partíulas do sistema. As
ausas destas heterogeneidades dinâmias permanee uma questão emaberto e pode ser
ahaveparaaompreensãodaabruptaredução dadinâmiapróximoàtransiçãovitrosa.
1.2 Algumas araterístias de materiais vitrosos
1.2.1 Densidade de Estados: exesso de modos de baixa
freqüênia
As informações a respeito das propriedades oletivas do sólido estão ontidas em seus
modos vibraionais. A densidade de estados
D(ω)
de um sólido é a medida do númerode modos vibraionais por unidade de freqüênia por unidade de volume. No apítulo
seguinte mostraremos matematiamenteque podemos estudar a rigidezde um sólido es-
tudando a estabilidade de seus modos vibraionais. Neste momento,é neessário apenas
saber que esta medida fornee informações sobre propriedades oletivas de rigidez: um
sistema é meaniamente estável rígido se não possuir modos vibraionais instáveis
(26; 41).
Em sólidos ristalinos, para estudar seus modos vibraionais, são feitas as seguintes
suposições: (i)osátomososilamemtornodeumpontodeequilíbrio,(ii)estãosubmetidos
a um potenial harmnio e (iii) impõem-se ondições periódias de fronteira. Estas
aproximações levam à onlusão de que os modos de vibração de baixa freqüênia são
muito bemdesritos porondas planas ujas energiassão distribuídas de talmaneira que
a densidade de estados, para um sistema de
d
dimensões, é expressa pela lei de Debye,D(ω) ∼ ω d−1
(26),que estáemótimo aordoomos experimentosrealizados omsólidos ristalinos.Uma araterístia interessante e universal dos materiais vitrosos é que eles apresen-
tam um exessode modos de baixafreqüênia om relaçãoaoomportamentode Debye.
Este exesso de modos, o qual é hamado na literatura de Pio de Bóson
§
, aparee em
experiênias de espalhamento, omo no exemplo da Fig.(1.7). Há duas grandes razões
paraqueeste exessode modos de baixafreqüêniaseja umaaraterístiaintrigantedos
materiaisamorfos.
A primeirarazão parte de uma observação experimental: na maioria dos vidros, este
exessode modos sedesloaemdireçãoàfreqüênia zeroquandoatemperaturaaumenta
(42), omonoexemplodagura (1.7). Atingiro valorde freqüêniazero impliaaperda
de rigidez deste sólido e portanto sua relaxação para o estado líquido. Esta observação
sugere queestes modos podem estar relaionados à transição vitrosa.
A segunda razão éque se sabe,por um lado, que osmodos vibraionaisde um sólido
estão diretamente ligados às propriedades de transporte destes materiais. Por outro, a
literaturarelataquemateraisamorfosapresentampropriedadesdetransportequediferem
daquelasenontradasemsólidosnormais. Exemplosbastanteestudadossãoapropagação
deforçaemmateriaisgranulares(43;44)eaondutividadetérmiaemvidrosestruturais,
que,emlugar dadependêniaúbiaomatemperaturaobservadaemristais,apresenta
uma dependênia quadrátia seguida de um plat (45). Estas observações sugerem que
exista uma relação entre os modos vibraionais de baixa freqüênia que apareem em
exesso nos materiaisamorfos aestas propriedades anmalasde transporte.
§
OtermoBoson Peak serefereàamplitudedopioespalhado, aqualvariade aordoomofator
Auniversalidadedoexessodemodosdebaixafreqüêniaemsólidosamorfosassoiado
aofatode queeles estãorelaionadosaimportantespropriedadesdomaterialfezom que
elefosse objetode umaextensa literaturanas últimasdéadas (46;47;48; 49; 50; 45;51;
52; 53).
Fig. 1.7: Densidade de estados reduzida (
g(E) ≈ D(ω)
segundo a nossa notação) dosmovimentos oletivospara um materialvitroso. A densidadeédividida por
ω 2
para quese ompare diretamenteo desvio de
D(ω)
omrelação àleide Debyeobserva em sólidos normais e representada na gura pela linha horizontal. O
írulo india a região om exesso de modos de baixa freqüênia. A legenda
dentrodagura indiaomo estes modos sedesloam emdireçãoàfreqüênia
nula onformea temperatura aumenta. Figuramodiadadareferênia (42).
Algumas abordagens foram utilizadaspara tentar entender aorigem deste exesso de
modos esuas impliaçõesnaspropriedadesdomaterial. Emuma delas,osvidros possam
são simuladospor uma rede desordenada de partíulas ligadas pormolas, ujas onstan-
tes de força são distribuídas aleatoriamente (54; 55). Uma outra maneira de abordar
o problema é usando a teoria Eulidiana de matrizes aleatórias (56; 51; 57; 58), onde
onsidera-se um onjunto de partíulas a temperaturainnita. Elasosilam emtorno de
posiçõesaleatoriamentedistribuídaseinteragemsegundoumpotenialgenério. Adensi-
dadedeestadosdomaterialorrespondeaoespetrodamatrizHessiana,queéonstruída
a partir das derivadas segundas da energiapoteniale é desordenada. Estas abordagens
apturam uma parte da fenomenologia da fase vitrosa que prevê uma instabilidade me-
ânia bem omo um omportamento anmalo da densidade de modos vibraionais
próximoa esta instabilidade. No entanto,em todas elas, a desordemé o elementoessen-
ialpara oapareimentodo exesso de modos. Oorre que,experimentalmente, mede-se
também este exesso no espetro de vibraçãode ristais,omo porexemplo nosilíioem
om materiais ristalinos onrmam a existênia deste exesso de modos num material
ordenado (29; 61). Portanto, a desordem do material não deve ser onsiderada omo a
araterístiaresponsávelpelaexistêniadesteexesso demodosdebaixafreqüênia,mas
algum outro elementodeve ter importâniafundamental nadesrição do fenmeno.
Outro ponto ruial a ser ompreendido, e para o qual não há onsenso, é a imagem
espaial destes modos. Sabe-se que os modos vibraionais de baixa freqüênia de um
sólido ontínuo são aproximadamente ondas planas, mas não se sabe a que os modos do
pio de Bóson orrespondem nos sistemas amorfos.
1.2.2 Envelheimento (aging)
Quando fazemos medidas dependentes do tempo em sistemas no equilíbrio, é neessário
apenas onheermos a diferençade tempo entre o momento que amedida omeçou a ser
feitae o tempo nal,denido omo
τ
na parte superior da Fig.(1.8). Isto é,não importase a medida omeçaem
t 1
out 2
quaisquer, mas depende apenas da diferençaentre estestempos. No entanto, emsistemas fora do equilíbrio,tais medidas dependem também do
tempo
t w
que esperamos para omeçá-las: quanto mais tempo esperamos, mais lento osistema se torna. Por isto diz-se que sistemas vitrosos envelheem (Bouhaud em (62),
Kob eCugliandolo em (11)).
Quando denimos a função de autoorrelação de densidades na seção 1.1.1,
F (~q, τ )
,não espeiamos otempo
t w
,poisnoaso de líquidos super-resfriados osistema está no equilíbrio eportanto:F (~q, τ ) = h e i~ q . (~ r(τ)−~ r(0)) i = h e i~ q . (~ r(t+τ)−~ r(t)) i .
(1.2)No entanto, esta segunda igualdade não é válida para sistemas fora do equilíbrio.
Desta forma,épreiso redenir a autoorrelação para estes asos de maneiraa manter a
informaçãosobre
t w
:C(~q, t w + τ, t w ) = h e i~ q . (~ r(t w +τ)−~ r(t w )) i
(1.3)A Fig(1.8) ilustra a dependênia em
t w
para sistema de partíulas submetidas aopotenial de Lennard-Jones. Este sistema foi onduzido à fase vitrosa ao se fazer um
rápido abaixamento da temperatura no tempo
t = 0
. A partir daí, foram realizadasmedidasda
C(~q, t w + τ, t w )
para diferentest w
. Cada urvada gurarepresenta um valordiferente de
t w
, deixando laro que o sistema a ada vez mais lento om o passar dotempo.
Fig. 1.8: Em ima: Denição dos tempos araterístios. O tempo de espera
t w
e otempo de medida
t m
são tempos denidos pelo experimento; não são tempos intrínseos ao sistema. Em medidas dependentes do tempo em sistemas noequilíbrio, a resposta do sistema depende apenas de
τ
, tempo durante o qualo experimento foirealizado. No aso de sistemasfora doequilíbrio, aresposta
depende também do tempo de espera
t w
até omeçar a medida. Embaixo:Dependênia temporal da função de autoorrelação de densidades
C(q, t w + τ, t w )
para uma mistura de partíulas submetidas ao potenial de Lennard-Jones nafase vitrosa. Cadaurva orresponde aum tempo
t w
de espera antesde omeçar amedida dosistema. Observamos que asesalas de tempo típias
para o deaimento das orrelações mudam de aordo om o tempo de espera
t w
. Figuramodiadadareferênia (11).equilíbrio, oenvelheimento ainda não é ompreendido em grandeparte deles. Materiais
vitrosos são exemplos onde não se ompreende em nível mirosópio a razão pela qual
os sistemasenvelheem.
1.3 O Modelo de Esferas Duras (Hard Spheres) e os
Colóides
Um exemplo de sistema onde oorre uma dramátia redução da dinâmia, a qual se
traduz em um abrupto aumento dos tempos de relaxação,são as esferas duras. A únia
força que age sobre uma partíula é a interação repulsiva quando oorre um hoque
om outra partíula. A interação é do tipo aroço-duro (hard-ore): as partíulas não
interagemenquantonãosetoameexperimentamum potenialrepulsivoinnitoquando
se enontram. Quando afração de volume
φ
,a qual é oparâmetro de ontrole para estesistema,aumentalentamenteapartirdeumafaselíquida,osistemaristaliza. Noentanto,
se
φ
aumenta rapidamente, o sistema não tem tempo de nulear numa fase ristalina, experimenta uma transição vitrosa e saido equilíbrio. O tempoτ α
, emgeral medidopormeio das utuações de densidade do sistema, rese rapidamente. A fase vitrosa oorre
entreumdado
φ 0
,aimadoqualotempoτ α
setornainaessívelomputaionalmenteeφ c
,onde apressão diverge. Neste ponto,osistema atingeo limitemáximo de oupação para
um sistema desordenado
¶
,
φ RCP
. A parte indiadapela letra B naFig.(1.9) esquematiza odigrama de fasesdas esferas durasquando afase vitrosa oorre. A partede ima destamesma gura, indiada pela letra A, esquematiza o diagrama das esferas duras quando
a densidade é aumentada a uma taxa para a qual a transição vitrosa não é observada e
a fase resultante é ristalina. Neste aso, o máximo de oupação espaial possível é um
ristal hexagonal,
φ HMP ≈ 0.74
em3d
.Umarealizaçãoexperimentaldomodelodeesferasdurassãoosolóides(67;31;66;62).
Colóidessãopartíulasemsuspensãoujoraio
R
édaordemdemilvezesmaiorqueoraiodeumátomo. Ainteraçãoentreestaspartíulasérepulsivatipoaroço-duroeháténias
experimentais apazes de fazer om que esta seja a únia interação relevante no sistema
(31). Salientamos que este sistema é atérmio, ou seja, a energia térmia é insuiente
para alterara onguração das partíulas.
A Fig.(1.9) aprensenta imagens de um sistema de olóides para diferentes valores de
oupação
φ
. Uma observação interessante é que a fotograa do sistema a uma fração¶
Épossívelaumentar aindamaisafraçãodeoupaçãodeste sitema,mas
φ RCP
éovalordeoupaçãomáximosem quehaja nenhumaordem ristalinaem todaaamostra. É hamadoem inglêsderandom
Fig. 1.9: Diagramado modelode esferas durasem
3d
quando oorre aristalização (A) e quandooaumentodeφ
érápido osuiente paraimpedi-la (B).As imagensorrespondem a experimentos feitos om olóides e representam o sistema em
quatro valores de
φ
distintos. Figuramodiadaa partir dareferênia(66).de volume para o qual ele é um líquido,
φ ≈ 0.48
, não apresenta diferença visual omrelação à fotograa de um vidro em sua máxima oupação,
φ RCP ≈ 0.63
. Vale lembrarque mostrou-se que diagrama de fases de olóides onde a únia interação relevante é do
tipo aroço-duro pode ser muito bem representado pelo digrama de fases do sistema de
esferas duras (67).
1.4 Dinâmia de sistemas vitrosos: propostas de
desrição
Uma maneira de desrever a dinâmia omplexa de materiais vitrosos é onsiderar a
inuênia da paisagem de energia potenial (PEP) do sistema na sua dinâmia (68).
A paisagem é denida por uma função
U
dasdN
oordenadas do sistema, onded
éa dimensão e
N
é o número de partíulas. Nesta formulação, o estado do sistema é representado porumpontoquesemovenestasuperfíiedN
-dimensional,aqualé rugosa devido àpresença de mínimosloais separados por barreirasom tamanhos variados. Aspropriedades do sistema à uma dada temperatura ou densidade são determinadas pela
possibilidade de aessar ou não estes mínimos loais. A altas temperaturas, a energia
inétia é grande o suiente para que o sistema possa se loomover sobre a superfíie
enquanto que, a baixas temperaturas, é neessário algum proesso de ativação para que
ele não que preso a um únio mínimo loal. Esta proposta foi feita há quase quatro
déadas porGoldstein(69),masapenas nosúltimosanoshouveumnúmeroexpressivode
trabalhos para tentar araterizaraspropriedades desta paisagemde energiaeassoiá-la
quantitativamenteà dinâmiadosistema.
OsestudosdaspropriedadesestatístiasdaPEPpodemesquematiamenteser separa-
dos em doisgrupos: um primeiroque estudaaspropriedadesde umonjuntode mínimos
hamados metabaias e uma segunda abordagem que foa no estudo da urvatura
desta superfíie. Noprimeiroaso, aredita-seque arelaxaçãodo sistemanão oorrepor
simples saltosentre os mínimosdaPEP, mas orrespondem auma seqüênia ompliada
demultimínimos,asmetabaias. Asbarreirasentreestesmínimossãopequenaseotempo
assoiadoaomovimentodentrodeumametabaiaorresponderiaàrelaxação-
β
,enquantoque o salto entre metabaias orresponderiaà relaxação-
α
(70; 71;32; 40; 72; 73). A se-gundamaneirade analisarasuperfíiede energiapotenialéuma abordagemgeométria
(46; 74; 75; 51; 76; 77; 78; 79; 58), onde os pontos estaionários são alulados e lassi-
ados de aordo om o número de direções instáveis que possui (ordem dos pontos de
Uma desrição inétia da dinâmia vitrosa é a teoria dos modos aoplados (mode
ouplingtheory-MCT)(80;81;82;83;84;11),quemodelaaevoluçãotemporaldafunção
de autoorrelaçãode densidades
F (~q, t)
. AmaiorprediçãodaMCTéaexistêniadeumatemperaturarítia
T c
abaixo da qual as orrelaçõesnão deaem a zero e aima da qualobservam-se dois regimesde relaxação: osestágios de relaxação
α
eβ
desritos naseção1.1.1. Embora esta predição esteja em ótimo aordo om os experimentos e simulações,
o graude suessoda teoriaé ainda uma questão debatida,poiselaprevê que adinâmia
essa ompletamente à uma temperatura rítia
T c
e que otempo de relaxaçãoτ
é dadopor uma lei de potênia
τ ∼ (T − T c ) γ
. Os dados experimentais onordam om esta lei em um pequeno intervalo de temperatura, mas a divergênia deτ
a uma temperaturaT c
bem denida nuna foi observada. Além disso, a temperaturaT c
prevista pela MCToorre aima de
T g
, temperatura experimental abaixo da qual o sistema se enontra em sua fase vitrosa. Para tentar reoniliar a teoria om osdados experimentais, diz-se que,próximoà
T c
,adinâmiaédominadaporproessosde ativação osquaispermitiriamao sistema relaxar mesmo muito próximodeT c
e portanto impediriam a transição abruptaà tal temperatura. O problema, no entanto, é que estes proessos não são desritos em
detalhee até hoje não háuma denição larado que eles seriam.
A MCT não faz uma onexão formal om a abordagem em termos da paisagem de
energiapotenial,noentanto,reentestrabalhoszeramprogressosnosentidodeoniliá-
las. Foipropostoporexemploqueareduçãodadinâmiaàtemperatura
T c
orresponderia auma transição topológia napaisagemde energiapotenial: abaixo destatemperatura,onúmerode direçõesinstáveisdeairiaa zero,mas o númerode mínimosloaisseria não
nulo. Este enário,assoiado àmedidade que asbarreirasde potenial entre osmínimos
são grandesom relaçãoàenergiainétiadisponívelaosistema, levouà sugestão de que
neessariamente o sistema preisaria saltar tais barreiras para relaxar, o que portanto
expliaria a abrupta redução da dinâmia à
T c
(79; 75; 85). Embora não haja onensosobre esta interpretação (86) e que o desapareimento de direções instáveis à
T = T c
não seja verdade para todos os sistemas estudados (87; 70), a análise das propriedades
estatístias da paisagem de energia potenial tem permitido um onsiderável avanço na
ompreensão dos meanismosda dinâmiade sistemas vitrosos.
A prinipalrítiaaestas desriçõeséque elasnão permitemaompreensãodadinâ-
mia em termos de espaço real. Qual seria a natureza dos eventos ativados que pareem
ter importâniaruial nadinâmiade sistemas vitroso? Oque explia adinâmiahete-
rogênea nestes materiais?
Uma alternativa a estas abordagens foi proposta por meio de modelos om vínulos
trosos, omo por exemplo a existênia dos efeitos de aprisionamento (age eet) (83)
e a idéia de que uma região mais móvel failitao movimento de regiõesvizinhas (88), se
propõem regras loais para a dinâmia. A partir de um onjunto de regras nas quais a
probabilidadede movimentode uma partíulaédenida a partirdaonguração instan-
tânea do sistema, surgem omportamentos dinâmios não triviais, tal omo a relaxação
não exponenial(89;90;37;86;36). Esta abordagemdesonsideraaneessidadede om-
preender a dinâmiaom base em sua paisagem de energia potenial argumentando que
as heterogeneidades dinâmiasexistentes são suientes para expliar o omportamento
dadinâmia vitrosa.
1.5 Organização da Tese
No apítulo 2, faremos uma revisão da literatura neessária para entender as bases nas
quais fundamentaremos esta tese. O nosso ponto de partida para entender a rigidez do
materialemnívelmirosópioébaseado emum argumentogeométrio: oritérioindivi-
dual de estabilidade de uma partíula é menosexigente do queo ritério de estabilidade
om relaçãoamovimentosoletivosdosistema. Se pensarmosemtermosloais,perebe-
remosque,em
d
dimensões,d + 1
ontatossão neessáriosparaprenderuma partíulaemsua posição. Noentanto,Maxwellmostrouque,em média,
z c = 2d
ontatosporpartíulasão neessáriosparagarantiraestabilidadedeum sólido(91). Abaixodestelimite,oma-
terialnãoserá rígidoeapresentará modosmaios,aolongodosquaisaspartíulas podem
eder sem usto energétio algum. Dado que o ritério de estabilidade de um sólido é
não-loal, os movimentos dosistema durante o proesso de relaxação devem ser tais que
respeitemum ritérioglobal. Portanto,para desreverarigidezde um sólido,preisamos
demedidasqueretorneminformaçõesdeestabilidadeomrelaçãoamovimentosoletivos
das partíulas, omo por exemplo os modos vibraionais do sistema disutidos na seção
(1.2.1). Na primeira parte do apítulo 2 mostramos que, para ser rígido, um sólido não
deve apresentarmodos vibraionaisinstáveis.
Esta onexão entre modos vibraionais e rigidez do sistema está na base da teoria
de vibrações de sólidos pouo onetados reentemente desenvolvida (27; 28; 29) e será
apresentada na segunda parte doapítulo2. Sólidospouo onetados são materiais que
possuemnúmerodeoordenação
z
próximoaolimiteisostátioz c
. Taismateriaisapresen-tam um exesso de modos de baixafreqüênia, oPio de Bósondisutido anteriormente.
Os autores relaionam a existênia destes modos de baixa freqüênia ao fato de que o
sistemavivepróximoaolimitede instabidade meânia. Impondo aestabilidadedos mo-
materiais emfunção do número de oordenação
z
e da pressãop
, o qual deve ser respei-tado em ada subsistema de tamanho
l ∗
. A teoria ainda interpreta a que orrespondem estesmodosqueompõemoPiode Bóson: mostra-se quesãomodos estendidospelosis-tema,bemomoasondas-planasnosmateriaisristalinos,massão modosompletamente
heterogêneos, diferentemente delas.
No apítulo 3, disutimos a apliação da teoria de vibrações de sólidos pouo on-
etados ao sistema de esferas duras. Gostaríamos de apliar os resultados desta teoria
para interpretar asaraterístiasdafasevitrosa, taisomo oexesso de modos de baixa
freqüênia e a rigidez do sistema. Por um lado, para densidades
φ
próximas àφ c
(on-siderando a notação utilizada na Fig.(1.9)), ada partíula possui em média
z ≈ z c
, deformaque o sitema respeita a ondição de ser pouo onetado. Por outro lado, ateoria
desenvolvida para expliar sistemas pouo onetados exige que o sistema seja elástio,
pois é neessário expandir a energia para obter seus modos normais. Como o potenial
de interação entre asesferas duras é ompletamentedesontínuo, seria impossívelapliar
taisresultadosnestesistema. Entretanto,mostramosqueasinteraçõesentre aspartíulas
podemser desritas porum potenialefetivo uma vez queseja feitauma média temporal
sobre suas posições. Derivamos a energia livre de Gibbs para o sistema, válida durante
intervalosde tempo para osquais eleé meaniamenteestável.
Aexistêniadeumpotenialefetivonospermitedenirosmodosvibraionaiseapliar
os resultados deduzidos para sistemas elástios pouo onetados às esferas duras. Com
base na teoria desrita no apítulo 2 e utilizando este potenial efetivo, derivamos no
apítulo 4 o ritério de rigidez para um vidro de esferas duras om frações de volume
φ
próximasà
φ c
emostramos que este sistemavive nolimite de estabilidademarginal. Isto signia que o sistema de esferas duras, durante a fase vitrosa, possui um valor mínimode oordenaçãopara sustentarasua própriapressão. Esta araterístiaimpliaqueeste
sistema apresenta um exesso de modos de baixa freqüênia, o que foi onrmado pelas
nossas medidasomputaionais.
Os modos vibraionaisde baixa freqüênia representam as direções de fragilidade do
sistema (60; 29; 92). Isto signia que, se uma perturbação for feita na direção des-
tes modos, a força de restauração é muito pequena e o sistema pode eder. Portanto,
espera-se que as utuações térmias do sistema desloquem as partíulas ao longo destes
modos. Uma onseqüênia desta idéia é que o proesso de relaxação do sistema deve
estar de alguma maneira relaionado a estes modos vibraionais. No apítulo 5, estuda-
mos a dinâmia das esferas duras omparando-a om os modos vibraionais do sistema.
Mostraremos que,tantona fasevitrosa quantona fasede líquidosuper-resfriado, adinâ-
sistema de maneira heterogênea. Mostraremos que o fato de o sistema relaxar ao longo
destes modos vibraionais de baixa freqüênia e queestes modos sejam modos anmalos
araterizadospelateoriadevibraçõesde sistemaspouoonetadosnospermiteompre-
ender algumas das araterístias mirosópias da dinâmiavitrosa, omo por exemplo
a relaxação mirosópiaanmala (82) e prever uma esala de omprimentodinâmio
l ∗
que diverge no limite isostátio. Veremos que, de maneira natural, a nossa abordagem
traz uma expliação para as ausas da heterogeneidade dinâmia existente na dinâmia
de vidros.
Noapítulo6,nalizamosa tesepropondoum enárioonde atransição vitrosaoorre
omoonseqüêniadaestabilizaçãodos modosanmalos,eespaialmenteéaompanhada
pelaformaçãode umaadeiadeforças rígida. Disutiremosomoaraterizaradinâmia
das esferas duras em termosda inuênia dapaisagemde energialivre.