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A JUSTIÇA DO TRABALHO NO CONTEXTO DA DEMOCRACIA

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Academic year: 2021

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N O C O N T E X T O D A D E M O C R A C I A

ULISSES NUTTI M O R E I R A 1'»

Denlre o s princípios fundamentais q u e alicerçam a ideologia d e m o ­ crática, fulgura aquele q u e cuida d a s e p a r a ç ã o d o s poderes, q u e d e v e m atuar d e m a ne i r a harmônica, equilibrada e c o m a u t o n o m i a n o q u e concer­

n e a o s s e u s interesses específicos e peculiares.

P r es suposto essencial d a s garantias individuais e coletivas, d o a c e s ­ s o à propriedade e à prosperidade, d a liberdade d e e x pr e s s ã o e d e loco­

m o ç ã o é a a t ua ç ã o independente, altiva, sóbria e intimorata d o P o d e r Judi­

ciário, distribuindo a justiça d e m a ne i r a isonômica, rápida e eficiente.

Exige-se d o legislativo a elaboração d e n o r m a s a d e q u a d a s a o t e m p o atual, regrando d e f o rm a efetiva o s p r ob l e m a s sociais concretos, respeita­

d o o d i n a m i s m o d a modificação d a sociedade, tendo e m vista o desenvolvi­

m e n t o técnico-científico, q u e s e alastra d e m a ne i r a inexorável.

D o executivo, almeja-se a prática d o s atos necessários a o atendi­

m e n t o d a s n e ce ssidades primárias d a população, a garantia d a s e g u r a n ç a e d a s a ú d e pública, a prestação d o ensino básico e fundamental, a otimiza­

ç ã o d a utilização d o s m e i o s e c o n ô m i c o s c o m objetivo d e propiciar o b e m - estar social, a correta distribuição d a riqueza e a m a n u t e n ç ã o d o poder aquisitivo d a m o e d a .

O m e r c a d o d e trabalho a q u e c e r á n a m e d i d a e m q u e o investidor pri­

v a d o tiver a certeza d e q u e a utilização d e s e u capitai e m prol d e atividades produtivas (e n ã o especulativas) n o s setores industrial, comercial e d e pres­

tação d e serviços, estará a s s e g u r a d a pela estabilização político-econômi­

c a d o Estado, favorecendo, inclusive, o a c e s s o d o capital estrangeiro, o q u e representa o progresso.

N ã o s e d e v e deslembrar a afirmação d e Galbraith n o sentido d e q u e o p o d e r e c o n ô m i c o p a s s o u d o proprietário empresário para a g r an d e s o ­ ciedade por ações, q u e s e a g i g a n t a m n o s países avançados.

<•) Advo g a d o .

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E S T U D O MULTIDISCtPLINAR 81

Tal despersonalização, d e c u n h o e m i n e n t e m e n t e e c onômico, p o d e pôr e m risco a proteção m í n i m a essencial d o s direitos d o laborista, q u e p a s s a a ser m e r o c o m p o n e n t e d o acervo material d a e m pr e s a , s e m identi­

d a d e ontológica.

indubitável q u e o desenvolvimento e c o n ô m i c o e social d e u m a n a ç ã o d e p e n d e d a s u a c a p a c i d a d e produtiva, d a g r a n d e z a d e s u a indústria, d a pujança d e s u a agricultura e pecuária e d a solidez d a s u a m o e d a .

O lastro q u e m e d e o nível d o p o de r e g r a n d e z a d o E s ta d o m o de r n o , nesta era d e globalização, p a s s o u a ser o p e s o d a s u a c a pa c i d a de p r o d u ­ tiva, q u e é dinâmica, t o m a n d o o lugar d a s divisas e m ouro o u dólar, q u e é estética.

C o n s e q u ê n c i a d e s s a alteração é o reflexo d o a u m e n t o d a necessidade d e contratação d e m ã o - d e - o b r a para dar conta d o trabalho, m e s m o diante d o desenvolvimento tecnológico, d a robotização e d a informatização.

O h o m e m é indispensável, tornando-se imperiosa a atuação d a s for­

ç a s sociais organizadas n o sentido d e p u g n a r pela preservação e melhoria d a s c ondições h u m a n a s d o laborista e d e s u a família.

H o d i e r n a m e n t e n o Brasil, o P o de r Legislativo está f r ag m e n t ad o e fra­

gilizado, deixando d e exercer a s s u as atribuições específicas, envolvido pela m á política d o interesse egoístico, bairrístico e personalista d e s e us integrantes.

D e ix o u d e criar leis, e q u a n d o o faz, atua n a c o n t r a m ã o d a s necessi­

d a d e s prementes, p r o v o c a n d o por ação, conflito d e interpretação e aplica­

ç ã o d e n o rm a s , c o m o , por exemplo, n o c a s o d o decreto legislativo q u e a c o ­ lheu a C o n v e n ç ã o n. 1 3 2 d a OIT, q u e cuida d a s férias, e por omissão, o retrocesso, a o agasalhar a n o r m a q u e a u m e n t o u para trinta dias o prazo para interposição d e e m b a r g o s , n a e x e c u ç ã o d a sentença trabalhista, para dizer o m e n o s .

O P o d e r Executivo extrapolou limites a o utilizar d e f o rm a d e s t e m p e r a ­ d a e d e s o r d e n a d a a s m e d i d a s provisórias, instituídas constitucionalmente c o m a finalidade exclusiva d e regulamentar situações específicas e d e urgência, d e m o d o restrito e coerente.

Diante d e tais p r ob l e m a s sociais e políticos gravíssimos e sérios, o P o d e r Judiciário Brasileiro precisa assumir u m a postura contundente e edi­

ficante, c o m agilidade, altivez e nobreza, c o m a severidade deferida pela legislação, evitando o d e s m a n d o e punindo o despautério.

A postura ativa e desejável extravasou m e s m o antes d a atuação c o n ­ creta, n o episódio d a m u d a n ç a d o texto d a m e d i d a provisória q u e cuidava d o racionamento d a energia e d a instituição d o teratológico “Ministério d o A p a g ã o ”, pois o primitivo atropelava a Constituição e d e s m o r o n a v a o arri- m o q u e garante o direito d o s consumidores, o d o g m a legal m a i s m o d e r n o d o n o s s o direito positivo.

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O r e m e n d o n ã o retrata o admissível legalmente, m a s tornou-se pa- latável, c o m o foi dito, a o m e n o s m o m e n t a n e a m e n t e , pois a s o c i e d a d e d e s c o n h e c e o inteiro teor d a crise, e m razão d a falta d e transparência d a s coisas públicas.

N o v a a m e a ç a paira aterradora, q u a n d o s e s a b e q u e d e v e estar e m ­ butido n o “pacote tributário” o i m p e d i m e n t o d o s juízos básicos apreciarem s u a s regras, reservando-se tai c o m p e t ê n c i a a p e n a s a o S u p r e m o Tribunal Federal, p r o v o c a n d o verdadeira capitis diminutio.

C o m muito m a is razão, a Justiça d o Trabalho, e m especial, deverá d e s e m p e n h a r papel d e s u m a relevância nesta quadra, para sustentar o equilíbrio democrático, m a n t e n d o vivas a s forças produtivas, r e sg u a r d an d o o s direitos d o s laboristas, s e m , n o entanto, inviabilizar a atividade e c o n ô ­ mica, evitando a deterioração d o capital utilizado n a g e ra ç ã o d e e m p r e g o s .

Torna-se imperioso salvaguardar o capitai para permitir q u e seja u s a ­ d o e m prol d a produtividade e d o m e r c a d o d e trabalho, providência q u e exige e n o r m e perspicácia e ponderação, ensejando, inclusive, a a d o ç ã o d a flexibilização parcimoniosa.

Está enfrentando duro e m b a t e a Justiça Especializada, facilmente detectável q u a n d o s e d e p a r a c o m o tratamento discriminatório e inaceitá­

vel e m p r e g a d o pelo Executivo e pelo Legislativo, q u e enfatizam n a mídia a s mazelas, q u e existem, m a s s ã o insignificantes diante d o relevante servi­

ç o social q u e presta à coletividade, especialmente c o m o instrumento d e distribuição d a riqueza a o impor a transferência d e parcela d o capital, d a s m ã o s d o e m pr e g a d or , para a s d o s laboristas, por força d a e x e c u ç ã o d e s u a s decisões condenatórias.

O Executivo reduziu o m o n t a n t e d a v e rb a solicitada pelo Judiciário, c o m o s e n ã o estivesse lidando c o m u m d o s P o de r e s d a N a ç ã o . C o m o s e s e tratasse d e entidade subalterna, s e m s e importar c o m o fato d a Justiça Laborai estar recolhendo para o s cofres federais elevadíssimo montante, c o n s e q ü e n t e d a verba previdenciária e tributária e m e r g e n t e d a s c o n d e n a ­ ç õ e s i m po s t a s e executadas.

É d e c o n h e c i m e n t o público q u e n a atualidade a Justiça d o Trabalho arrecada para o s cofres públicos, quantia m a is q u e suficiente para s e auto- sustentar.

M a i s q u e nunca, é preciso exorcismar o “estigma d o juiz Nicoiau", expiando a indigitada e m a l f a d a d a transgressão.

A a t ua ç ã o d o magistrado trabalhista d e v e suprir a lacuna e a balbúr- dia legislativa e reprimir a nefasta intromissão daquele q u e t e m o dever a p e n a s d e administrar, m a s s e arvora legislador, proferindo s entenças equã- nimes, solucionando o s conflitos, r e c o m p o n d o a o r de m , restabelecendo o equilíbrio absoluto entre a s forças opostas.

A b e m d a verdade, oposição a p e n a s aparente e ideológica historica­

mente, pois o q u e s e almeja é a interação d o e m p r e e n d e d o r , q u e arrisca s e u capital, c o m o obreiro, instrumento d e m a n u t e n ç ã o d a s u a p o up a n ç a , q u e d e v e ser partilhada, a o m e n o s , por e s s e singelo detalhe.

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E S T U D O MULTIDISC1PLINAR 83

M a r c a n t e e a b rangente a fala d o I. Juiz Carlos Alberto Moreira Xavier, presidente d o Tribunal Regional d o Trabalho d a D é c i m a Quinta Região, q u a n d o ressalta q u e “o b o m juiz torna b o a iei m á e o m a u juiz, torna m á lei boa".

B o m Juiz é aquele q u e realiza a s audiências n a hora aprazada, trata c o m u r b a n i d a d e a s partes e o s a d v o g a d o s , propicia a p r o d u ç ã o d a pro­

v a c o m liberdade, m a s s e m e x ce s s o e extravagância, rejeitando o q u e é d e s ­ necessário, prolatando a sentença c o m técnica, rapidez, precisão e isenção.

O juiz d e hoje n ã o p o d e estar envolvido por u m a r e d o m a , c o io c a d o e m pedestal, p o r q u e ele é parte integrante d a sociedade, a n se i a pelo d e se n v o l v i m e n t o d o país, pela diminuição d a s diferenças sociais, e c o ­ n ô m i c a s e culturais q u e c o l o c a m d e u m lado o s bafejados, e d e outro, o s desvalidos.

Ele luta pela melhoria d a s condições d e trabalho, d o s e u trabalho inclusive.

Deve, portanto, ser parte integrante d a s ociedade e m q u e vive, até p a ra conhecê-la c o m m a i s profundidade, para p o d e r julgar c o m precisão a s contendas, especialmente a s trabalhistas, q u e p o s s u e m e n o r m e c o n o ­ tação e repercussão social.

Precisa agir c o m rigor, serenidade e transparência, para rechaçar o maldizer d o tecnocrata burocratizado e insensível, q u e alfineta e provoca, a s se v e r a nd o q u e o s operadores d o direito v i ve m e m Marte, m e s m o e m s e n d o eie, u m ser integrante d a “Ilha d a Fantasia".

O m a io r desafio atualmente, encontra-se n a e x e c u ç ã o d a s senten­

ças, a tal ponto q u e o Min. Almir Pazzianotto, Presidente d o Tribunal S u p e ­ rior d o Trabalho, t e m afirmado q u e “n a Justiça d o Trabalho, g a n h a r é fácil, receber é q u e é difícil", s e n d o certo que, ser autor, hoje, consiste e m terrí­

vel agonia, diante d a insuficiência d e m e i o s hábeis para obter a reparação perseguida tenazmente.

A novel legislação criou condições para q u e a fase d e cognição seja concretizada d e f o r m a singela e ágil, c o m o exemplo, a introdução d o d e n o ­ m i n a d o rito sumaríssimo, m a s n a d a estabeleceu n o sentido d e tornar efi­

c a z e fulminante a execução, especialmente q u a n d o s e trata d e a ç ã o pro­

m o v i d a contra a s entidades d e direito público.

O Ministro Marco Aurélio, a o t o m a r p o s s e n a Presidência d o Pretório Excelso, fez m e n ç ã o à quantidade excessiva e a b su r d a d e precatórios des- c u m p r i d o s pelos órgãos governamentais, s e m pejo e c o m respaldo e m nor­

m a s d e privilégio, criadas pelo C o n g r e s s o Nacional.

E x e m p l a r a postura d o magistrado q u e atua n o âmbito d o D é c i m o Quinto Regional insurgindo-se, respeitada a s u a competência, contra o “c a ­ lote público”, pontificando a importância d o a p ar e l h a me n t o jurídico-político q u e t e m a i n cu m b ê n ci a d e apreciar a s c o nt e n d a s d e natureza jus-laborais.

Trata-se d a Corte Trabalhista m a i s célere e democrática, o n d e o s jui­

z e s d e b a t e m entre si e c o m o s a d v o g a d o s d a Tribuna, a s questões postas

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e m e x a m e , s e m prepotência, s e m soberba, p o rq u e naquele sodalício todos estão imbuídos, tão-somente, d a v o nt a d e exclusiva d e distribuir correta e eficazmente a Justiça.

D e s s e exercício cívico e patriótico, e m a n a m prolações históricas, q u e alicerçam, c o m o pilastras indestrutíveis, o desenvolvimento d o interior p a u ­ lista, q u e alimenta o e n g r a n d e ci m e n to d a nação, criando riquezas q u e e x ­ trapolam o s lindes regionais.

E s s e p a r a d i g m a d e v e ser propalado, d e m o d o a repercutir n a s d e ­ m a is cortes, para q u e a Justiça d o Trabalho s e faça respeitada.

P a ra tanto, d e v e m unir esforços, c o m p o n d o - s e , o s magistrados n ã o infectados e dotados d e talentos; os a d v o g a d o s probos, cultos, c o m p e t e n ­ tes, intrépidos e leais; o s representantes d o Ministério Público destemidos, prudentes e c o me d i d o s; o s funcionários laboriosos, honestos, d e d i c a d o s e desprendidos; o s empresários arrojados, reaiistas, h u m a n o s e despojados;

o s sindicalistas m o d e r n o s , coerentes, sensíveis e desambiciosos; e, o s tra­

balhadores incansáveis, produtivos e fiéis, para resgatar a dignidade d a Justiça d o Trabalho, repondo-a e m s e u devido lugar, c o m o m e re c i d o d e s ­ taque e respeito, baluarte d a d e m o c r a c i a e d a liberdade, r e cu p e r a nd o a credibilidade d o s jurisdicionados, eliminando o s m o n s t r e n g o s q u e q u e r e m devorá-la.

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