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Aline de Lurdes Zuliani Lunkes

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Academic year: 2021

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(1)

CENTRO DE CIˆENCIAS NATURAIS E EXATAS

CURSO DE GRADUA ¸C ˜AO EM MATEM ´ATICA-LICENCIATURA

TRABALHO DE CONCLUS ˜

AO DE CURSO

ESPA ¸

COS M´

ETRICOS - UMA INTRODU ¸

C ˜

AO

Aline de Lurdes Zuliani Lunkes

Santa Maria, RS, Brasil

2015

(2)

Aline de Lurdes Zuliani Lunkes

Trabalho de Conclus˜ao de Curso de Matem´atica, da Universidade Federal de Santa Maria, como requisito parcial

para obten¸c˜ao do t´ıtulo de

Licenciada em Matem´

atica

´

Area de Concentra¸c˜ao: Matem´atica

Orientador: Prof. Dr. Juliano Dami˜

ao B. de Godoi

Santa Maria, RS, Brasil

2015

(3)

CENTRO DE CIˆENCIAS NATURAIS E EXATAS

DEPARTAMENTO DE MATEM ´ATICA

A Comiss˜

ao Examinadora, abaixo assinada,

aprova o Trabalho de Conclus˜

ao de Curso II

Espa¸

cos M´

etricos: Uma - Introdu¸

ao

elaborado por

Aline de Lurdes Zuliani Lunkes

como requisito parcial para obten¸c˜ao do grau de

Licenciada em Matem´

atica

COMISS ˜AO EXAMINADORA:

Juliano Dami˜ao B. de Godoi, Dr.

(Orientador)

Maur´ıcio F. da Silva, Dr.(UFSM)

Saradia S. Della Flora, Dr.a(UFSM)

Santa Maria, RS, Brasil

2015

(4)

Neste trabalho de conclus˜ao de curso em Matem´atica, apresentaremos uma in-trodu¸c˜ao aos espa¸cos m´etricos. No cap´ıtulo 1, alguns resultados importantes de espa¸cos m´etricos. No segundo cap´ıtulo abordaremos aplica¸c˜oes cont´ınuas, onde ser´a importante para o cap´ıtulo 3, sobre homeomorfismo, que ´e o cap´ıtulo final deste trabalho.

(5)

Introdu¸c˜ao 6

1 Espa¸cos M´etricos 7

1.1 Defini¸c˜ao e exemplos de Espa¸cos M´etricos . . . 7

1.2 Bolas e Esferas . . . 19

1.3 Espa¸co M´etrico Discreto . . . 22

1.4 Espa¸co M´etrico Limitado . . . 23

2 Aplica¸c˜oes Cont´ınuas 26 2.1 Defini¸c˜oes e exemplos . . . 26

2.2 Propriedades das Aplica¸c˜oes Cont´ınuas . . . 31

3 Homeomorfismos entre espa¸cos m´etricos 34 3.1 Defini¸c˜ao e exemplos . . . 34

3.2 Proje¸c˜ao Estereogr´afica . . . 37

Referˆencias Bibliogr´aficas 38

(6)

Introdu¸c˜

ao

O objetivo deste trabalho, ´e fornecer conhecimento em espa¸cos m´etricos para a aluna, pois, tal conte´udo n˜ao ´e contemplado no curr´ıculo obrigat´orio do curso de Licencia-tura em Matem´atica da UFSM.

Mas, o que ´e um espa¸co m´etrico? E como surgiu? Conforme [2] e [3], devido `

as necessidades da An´alise, muitos conceitos topol´ogicos necessitavam ser dados a outros objetos diferentes dos n´umeros reais. Havia a necessidade de falar de limite ou de con-juntos abertos para vetores, fun¸c˜oes, curvas, superf´ıcies, etc. Mauricie Frech´et, em 1906, descobriu uma estrutura simples e absolutamente geral, permitindo dar sentido `as no¸c˜oes topol´ogicas que se apresentam naturalmente na maior parte dos problemas de an´alise: ´e aquilo a que chamamos agora estrutura de espa¸cos m´etricos. A resposta para o que ´e um espa¸co m´etrico ser´a dada na primeira se¸c˜ao do cap´ıtulo 1.

Este trabalho se divide em trˆes cap´ıtulos: no cap´ıtulo 1, temos o conceito de es-pa¸cos m´etricos, al´em de suas principais propriedades; no cap´ıtulo 2 a defini¸c˜ao de aplica¸c˜ao cont´ınua, com suas propriedades; e finalmente, no ´ultimo cap´ıtulo a partir dos conceitos anteriores, definiremos homeomorfismo entre espa¸cos m´etricos, ou seja, saber quando dois espa¸cos m´etricos s˜ao equivalentes, dando ˆenfase `a proje¸c˜ao estereogr´afica.

Tal proje¸c˜ao era conhecida, inicialmente, como proje¸c˜ao planisf´erica, por Ptolomeu (100-170). Esta proje¸c˜ao foi de grande uso na representa¸c˜ao de cartas celestes (mapa do c´eu noturno). At´e onde se tem conhecimento, o mapa mais antigo do mundo, criado em 1507, foi constru´ıdo com o aux´ılio de tal proje¸c˜ao. Observa-se que ela transforma cada hemisf´erio em um disco circular. Fran¸cois d’Aiguillon deu o nome a tal proje¸c˜ao de pro-je¸c˜ao estereogr´afica em 1613. Esta destaca-se em diferentes ´areas da matem´atica, e possui aplica¸c˜oes em diversos campos, tais como: an´alise, equa¸c˜oes diferenciais, cartografia para mapeamento da terra, geologia e fotografia.

(7)

1

Espa¸cos M´

etricos

Neste cap´ıtulo, apresentamos a defini¸c˜ao de espa¸co m´etrico, bem como, uma s´erie de exemplos e propriedades de tais espa¸cos. Utilizamos a bibliografia [4] para a constru¸c˜ao deste cap´ıtulo.

1.1

Defini¸c˜

ao e exemplos de Espa¸cos M´etricos

Em determinadas ´areas da Matem´atica, tais como An´alise e Geometria, ´e necess´aria a compreens˜ao do que vem ser a distˆancia entre dois objetos de um determinado conjunto. No que segue, fornecemos o conceito de m´etrica, que generaliza o conceito usual de dis-tˆancia.

Defini¸c˜ao 1.1. Seja M um conjunto n˜ao vazio. Uma fun¸c˜ao d : M × M −→ R, ´e dita uma m´etrica em M se, para quaisquer x, y, z ∈ M, as seguintes condi¸c˜oes s˜ao satisfeitas: M1) d(x, x) = 0;

M2) Se x 6= y ent˜ao d(x, y) > 0;

M3) d(x, y) = d(y, x);

M4) d(x, z) ≤ d(x, y) + d(y, z).

O n´umero real d(x, y) ´e chamado de distˆancia de x a y e o par (M, d) ´e denominado espa¸co m´etrico.

Para um melhor entendimento da defini¸c˜ao acima, no que segue, ser˜ao dados v´arios exemplos de espa¸cos m´etricos.

(8)

Exemplo 1.1. Qualquer conjunto M n˜ao vazio pode se tornar um espa¸co m´etrico. Para isto, basta considerar d : M × M −→ R, definida por

d(x, y) =      1, se x 6= y, 0, se x = y.

Temos que d ´e uma m´etrica em M , pois d satisfaz as condi¸c˜oes M1), M2), M3) e M4).

De fato, as condi¸c˜oes M1), M2) e M3) s˜ao consequˆencias da defini¸c˜ao de d. Agora, caso

d(x, z) = 0, ent˜ao x = z. Logo, d(x, y) + d(y, z) ≥ 0 + 0 = d(x, z). Supondo d(x, z) = 1, ent˜ao x 6= z. Com isto, n˜ao podemos ter, ao mesmo tempo, d(x, y) = 0 e d(y, z) = 0, pois, neste caso, ter´ıamos x = y e y = z, implicando em x = z, contrariando nossa suposi¸c˜ao. Deste modo, d(x, y) = 1 ou d(y, z) = 1. Assim, 1 ≤ 1+d(x, y) ou 1 ≤ 1+d(y, z). Portanto, d(x, z) ≤ d(x, y) + d(y, z), para quaisquer x, y, z ∈ M, o que prova a validade de M4). A

m´etrica d, deste exemplo, ´e conhecida como m´etrica zero-um.

Exemplo 1.2. Sejam (M, d) um espa¸co m´etrico e N ⊂ M. Podemos munir N com uma m´etrica, dita m´etrica induzida pela de M , a qual ´e dada por d |N ×N. Esta restri¸c˜ao

satisfaz as condi¸c˜oes M1), M2), M3) e M4), pois d ´e uma m´etrica. Neste caso, N ´e dito

um subespa¸co m´etrico de M .

Exemplo 1.3. O conjunto R dos n´umeros reais ´e um exemplo de espa¸co m´etrico. Para vermos isto, basta-nos mostrar que d : R × R → R, dada por

d(x, y) = |x − y|,

para todo x, y ∈ R, ´e uma m´etrica em R. Para verificarmos isto, mostremos a validade das condi¸c˜oes M1), M2), M3) e M4), da Defini¸c˜ao 1.1.

M1) Considerando x = y, temos d(x, x) = |x − x| = 0;

M2) Se x 6= y, ent˜ao x − y 6= 0, e assim d(x, y) = |x − y| > 0;

M3) Sejam x, y ∈ R. Ent˜ao

(9)

M4) Se x, y, z ∈ R, ent˜ao, devido `a desigualdade triangular do valor absoluto,

d(x, z) = |x − z| = |x − y + y − z| ≤ |x − y| + |y − z|

= d(x, y) + d(y, z).

Visto que d satisfaz as condi¸c˜oes M1), M2), M3) e M4), segue que d ´e uma m´etrica

em R, que ´e denominada m´etrica usual da reta.

A pr´oxima defini¸c˜ao ´e importante, pois d´a origem a v´arios de exemplos de espa¸cos m´etricos.

Defini¸c˜ao 1.2. Seja E um espa¸co vetorial real. Dizemos que k · k : E → R, definida por

k · k(x) = kxk, para todo x ∈ E, ´e uma norma em E quando, para quaisquer x, y ∈ E e λ ∈ R,

N1) se x 6= 0, ent˜ao kxk 6= 0;

N2) kλ · xk = |λ| kxk;

N3) kx + yk ≤ kxk + kyk.

(10)

Se k · k ´e uma norma em E, ent˜ao, caso λ = 0, por N2) segue que, k0k = k0 · 0k =

|0| k0k = 0, ou seja, o vetor nulo tem norma zero. E mais, kxk > 0 se, e somente se, x 6= 0. Com efeito, se x ∈ E, ent˜ao, visto que E ´e um espa¸co vetorial, −x ∈ E. Por N2),

com λ = −1,

k − xk = k(−1)xk = | − 1| kxk = kxk.

Logo, por N3), 0 = kx + (−x)k ≤ kxk + k − xk = kxk + kxk, ou seja, 0 ≤ 2kxk, implicando

em kxk ≥ 0. Portanto, por N1) e pelo fato de k0k = 0, kxk > 0 se, e somente se, x 6= 0.

Exemplo 1.4. Se Rn = {(x 1, x2, . . . , xn); xi ∈ R}, ent˜ao os pares (Rn, k · k1) e (Rn, k · k2), onde kxk1 = n X i=1 |xi| e kxk2 = max 1≤i≤n|xi|,

para todo x = (x1, x2, . . . , xn) ∈ Rn, s˜ao exemplos de espa¸cos vetoriais normados. Para

verificarmos isto, devemos mostrar que k · k1 e k · k2 s˜ao normas em Rn. Vejamos

primeira-mente que k · k1 ´e norma em Rn.

N1) Se x = (x1, x2, . . . , xn) ∈ Rn\ {0}, ent˜ao existe k ∈ {1, 2, . . . , n} tal que xk 6= 0. Logo,

kxk1 = n X i=1 |xi| ≥ |xk| > 0. N2) Se λ ∈ R e x = (x1, x2, . . . , xn) ∈ Rn, ent˜ao kλ xk1 = kλ(x1, x2, . . . , xn)k1 = k(λ · x1, λ · x2, . . . , λ · xn)k1 = |λ · x1| + |λ · x2| + · · · + |λ · xn| = |λ| |x1| + |λ| |x2| + · · · + |λ| |xn| = |λ| (|x1| + |x2| + · · · + |xn|) = |λ| kxk1. N3) Se x = (x1, x2, . . . , xn), y = (y1, y2, . . . , yn) ∈ Rn, ent˜ao, kx + yk1 = k(x1+ y1, x2+ y2, . . . , xn+ yn)k1

(11)

= |x1+ y1| + |x2+ y2| · · · + |xn+ yn|

≤ (|x1| + |x2| + · · · + |xn|) + (|y1| + |y2| + · · · + |yn|)

= kxk1+ kyk1.

Portanto, como k · k1 satisfaz as condi¸c˜oes da Defini¸c˜ao 1.2, segue que N1), N2) e N3),

k · k1 ´e uma norma em Rn.

Agora, mostremos que k · k2 ´e uma norma em Rn.

N1) Se x = (x1, x2, . . . , xn) ∈ Rn\ {0}, ent˜ao existe k ∈ {1, 2, . . . , n}, tal que xk 6= 0.

Deste modo, kxk2 = max 1≤i≤n|xi| ≥ |xk| > 0. N2) Se λ ∈ R e x = (x1, x2, . . . , xn) ∈ Rn, ent˜ao kλ · xk2 = kλ(x1, . . . , xn)k2 = k(λ x1, . . . , λ xn)k2 = max 1≤i≤n|λ xi| = |λ| max 1≤i≤n|xi| = |λ| kxk2. N3) Se x = (x1, x2, . . . , xn), y = (y1, y2, . . . , yn) ∈ Rn, ent˜ao kx + yk2 = k(x1 + y1, . . . , xn+ yn)k2 = max 1≤i≤n|xi+ yi| ≤ max 1≤i≤n(|xi| + |yi|) = max

1≤i≤n|xi| + max1≤i≤n|yi|

= kxk2+ kyk2.

Assim, visto que k · k2 satisfaz as condi¸c˜oes N1), N2) e N3), k · k2 ´e uma norma em Rn.

(12)

quando existe uma constante kf > 0, tal que

|f (x)| ≤ kf,

para todo x ∈ X. Se B(X; R) = {f : X → R; f ´e limitada}, ent˜ao k · k : B(X; R) → R, dada por

kf k = sup

x∈X

|f (x)|, para todo f ∈ B(X; R), define uma norma em B(X; R).

Com efeito, no que segue mostraremos k · k satisfaz as condi¸c˜oes da Defini¸c˜ao 1.2, N1), N2)

e N3).

N1) Se f ∈ B(X; R) \ {0}, ent˜ao existe x ∈ X, tal que f (x) 6= 0. Logo,

kf k = sup x∈X |f (x)| ≥ |f (x)| > 0. N2) Se λ ∈ R e f ∈ B(X; R), ent˜ao kλ · f k = sup x∈X |λ · f (x)| = |λ| · sup x∈X |f (x)| = |λ|kf k. N3) Se f, g ∈ B(X; R), ent˜ao kf + gk = sup x∈X |(f + g)(x)| ≤ sup x∈X (|f (x)| + |g(x)|) = sup x∈X |f (x)| + sup x∈X |g(x)| = kf k + kgk.

O pr´oximo teorema relaciona espa¸cos vetoriais normados e espa¸cos m´etricos. O mesmo garante a existˆencia de v´arios exemplos de espa¸cos m´etricos.

(13)

ent˜ao (E, d) ´e um espa¸co m´etrico, sendo d : E × E → R definida por

d(x, y) = kx − yk, para todo x, y ∈ E. Neste caso, a m´etrica d ´e dita proveniente da norma k · k.

Demonstra¸c˜ao. Para provarmos este teorema, basta mostrar que d satisfaz as condi¸c˜oes M1), M2), M3) e M4) da Defini¸c˜ao 1.1,

M1) d(x, x) = kx − xk = k0k = 0, para todo x ∈ E;

M2) se x, y ∈ E, com x 6= y, ent˜ao x − y 6= 0. Consequentemente, d(x, y) = kx − yk > 0;

M3) d(x, y) = kx − yk = k − (y − x)k = ky − xk = d(y, x), para todo x, y ∈ E;

M4) como consequˆencia da condi¸c˜ao N3), da Defini¸c˜ao 1.2, temos

d(x, z) = kx − zk

= k(x − y) + (y − z)k ≤ kx − yk + ky − zk

= d(x, y) + d(y, z), ∀x, y, z ∈ E.

De acordo com o teorema anterior e os Exemplos 1.4 e 1.5, (Rn, d

1), (Rn, d2) e (B(X; R), d), sendo d1(x, y) = kx − yk1 = n X i=1 |xi− yi|, d2(x, y) = kx − yk2 = max 1≤i≤n|xi − yi| e d(f, g) = kf − gk = sup x∈X |f (x) − g(x)|,

(14)

Observa¸c˜ao 1.1. Uma pergunta natural surge neste momento: Se (M, d) ´e um espa¸co m´etrico, ent˜ao a m´etrica d ´e proveniente de alguma norma em M ? Primeiramente, obser-vamos que para isto ocorrer M deveria ser um espa¸co vetorial e isto nem sempre ocorre, basta-nos considerar, por exemplo, o conjunto M = {0, 1}, munido da m´etrica zero-um. Deste modo, a pergunta acima deve ser reescrita como: Se M ´e um espa¸co vetorial real e (M, d) ´e um espa¸co m´etrico, ent˜ao d ´e proveniente de alguma norma em M ? O pr´oximo teorema nos d´a uma resposta satisfat´oria, nos fornecendo condi¸c˜oes necess´arias e sufi-cientes para que uma m´etrica em um espa¸co vetorial seja proveniente de uma norma no mesmo.

Teorema 1.2. Sejam E um espa¸co vetorial real e d uma m´etrica em E. Ent˜ao d ´e proveniente de uma norma em E se, e somente se, para quaisquer x, y, a ∈ E e λ ∈ R arbitr´arios, se tenha d(x + a, y + a) = d(x, y) e d(λx, λy) = |λ|d(x, y),

Demonstra¸c˜ao. Suponhamos que exista uma norma em E, k · k : E → R, tal que

d(x, y) = kx − yk,

para todo x, y ∈ E. Se x, y, a ∈ E e λ ∈ R, ent˜ao

d(x + a, y + a) = k(x + a) − (y + a)k = kx − yk

(15)

e

d(λx, λy) = kλx − λyk = kλ(x − y)k = |λ|kx − yk = |λ|d(x, y).

Reciprocamente, suponhamos que, para x, y, a ∈ E e λ ∈ R arbitr´arios, tenhamos d(x + a, y + a) = d(x, y) e d(λx, λy) = |λ|d(x, y).

Consideremos f : E → R, definida por f (x) = d(x, 0), para todo x ∈ E. Mostremos que, f define uma norma em E.

De fato, a seguir s˜ao verificadas as condi¸c˜oes da Defini¸c˜ao 1.2, N1), N2) e N3) para f .

N1) Se x ∈ E\{0}, ent˜ao, por d ser uma m´etrica, a condi¸c˜ao M2) da Defini¸c˜ao 1.1, garante

que f (x) = d(x, 0) > 0. Em particular, f (x) 6= 0; N2) Se x ∈ E e λ ∈ R, ent˜ao

f (λx) = d(λx, 0) = d(λx, λ0) = |λ|d(x, 0) = |λ|f (x).

N3) Se x, y ∈ E, ent˜ao

f (x + y) = d(x + y, 0) ≤ d(x + y, y) + d(y, 0) = d(x, 0) + d(y, 0) = f (x) + f (y).

Portanto, f ´e uma norma em E, o que conclui a prova da afirma¸c˜ao. Finalmente,

d(x, y) = d(x − y, y − y) = d(x − y, 0) = f (x − y),

ou seja, a m´etrica d ´e proveniente da norma f .

A seguir damos a defini¸c˜ao de produto interno em um espa¸co vetorial. Veremos tamb´em que todo produto interno d´a origem a uma norma e, consequentemente, pelo que foi exposto acima, tamb´em d´a origem a uma m´etrica.

(16)

Defini¸c˜ao 1.3. Seja E um espa¸co vetorial sobre R. Dizemos que h·, ·i : E × E → R ´e um produto interno em E se, para quaisquer x, y, z ∈ E e α ∈ R, satisfaz:

P1) hx + y, zi = hx, zi + hy, zi;

P2) hαx, yi = αhx, yi;

P3) hx, yi = hy, xi;

P4) Se x 6= 0, ent˜ao hx, xi > 0.

Neste caso, o par (E, h·, ·i) ´e dito espa¸co com produto interno.

Observa¸c˜ao 1.2. Se h·, ·i ´e um produto interno em E, ent˜ao, das condi¸c˜oes da Defini¸c˜ao 1.3, P2) e P3), temos que, se x, y ∈ E e α ∈ R, hx, αyi = αhx, yi. Ainda, por P1) e

P2), hx, y + zi = hx, yi + hx, zi, para quaisquer x, y, z ∈ E. Vale ressaltar, tamb´em que

h0, yi = 0. Com efeito,

h0, yi = h0 · 0, yi = 0h0, yi = 0.

O pr´oximo teorema nos fornece uma desigualdade, denominada desigualdade de Cauchy-Schwarz, a qual ´e de suma importˆancia para garantir que um produto interno d´a origem a uma norma.

Teorema 1.3. Seja (E, h·, ·i) um espa¸co com produto interno e x, y ∈ E. Ent˜ao |hx, yi| ≤phx, xiphy, yi.

Demonstra¸c˜ao. Se y = 0, vemos que a desigualdade vale, pois 0 ≤ 0. Se y 6= 0, conside-remos x + ty ∈ E, para t ∈ R. Neste caso, pela observa¸c˜ao acima e por P4),

0 ≤ hx + ty, x + tyi = hx, xi + 2thx, yi + t2hy, yi.

Como a desigualdade acima vale para todo t ∈ R, ∆ = 4hx, yi2 − 4hx, xihy, yi ≤ 0.

Consequentemente,

|hx, yi| ≤phx, xiphy, yi, para todo x, y ∈ E.

(17)

Exemplo 1.6. A aplica¸c˜ao h·, ·i : Rn× Rn→ R, dada por hx, yi = n X i=1 xiyi,

para quaisquer x = (x1, x2, . . . , xn), y = (y1, y2, . . . , yn) ∈ Rn, define um produto interno

em Rn. De fato, abaixo provamos a validade das condi¸c˜oes da Defini¸c˜ao 1.3, P

1), P2), P3)

e P4). Para tal, sejam x = (x1, x2, . . . , xn), y = (y1, y2, . . . , yn), z = (z1, z2, . . . , zn), com

x, y, z ∈ Rn e α ∈ R. P1) hx + y, zi = n X i=1 (xi+ yi)zi = n X i=1 xizi+ n X i=1 yizi = hx, zi + hy, zi; P2) hαx, yi = n X i=1 αxiyi = α n X i=1 xiyi = αhx, yi; P3) hx, yi = n X i=1 xiyi = n X i=1 yixi = hy, xi;

P4) Se x 6= 0, ent˜ao xk 6= 0, para algum k ∈ {1, 2, . . . , n}. Logo,

hx, xi = n X i=1 x2i ≥ x2 k > 0.

Portanto, (Rn, h·, ·i) ´e um espa¸co com produto interno.

Teorema 1.4. Seja E um espa¸co vetorial real. Se h·, ·i ´e um produto interno em E, ent˜ao k · k : E → R, definida por

kxk =phx, xi,

para todo x ∈ E, ´e uma norma em E. Esta norma ´e dita norma proveniente do produto interno h·, ·i.

Demonstra¸c˜ao. Abaixo, mostramos a validade das condi¸c˜oes da Defini¸c˜ao 1.2 N1), N2) e

N3) para k · k, definida por kxk =phx, xi.

N1) Se x ∈ E \ {0}, ent˜ao, por P4), hx, xi > 0 e assim kxk =phx, xi > 0.

N2) Se λ ∈ R e x ∈ E, ent˜ao, por P2) e P3),

(18)

N3) Se x, y ∈ E, segue, por P1), P2) e P3) e pelo Teorema 1.3, que kx + yk2 = hx + y, x + yi = hx, xi + 2hx, yi + hy, yi = kxk2+ 2hx, yi + kyk2 ≤ kxk2+ 2|hx, yi| + kyk2 ≤ kxk2+ 2kxk · kyk + kyk2 = (kxk + kyk)2. Logo, kx + yk ≤ kxk + kyk.

Observa¸c˜ao 1.3. Como consequˆencia do Exemplo 1.6 e do Teorema 1.4, k · k : Rn→ R, dada por

kxk =phx, xi = q

x2

1 + x22+ · · · + x2n,

para todo x = (x1, x2, . . . , xn) ∈ Rn, ´e uma norma em Rn, conhecida como norma

eu-clideana. Assim, a mesma, pelo Teorema 1.1, d´a origem a uma m´etrica, tamb´em conhecida como m´etrica euclideana. Para x = (x1, x2, . . . , xn), y = (y1, y2, . . . , yn) ∈ Rn temos,

d(x, y) = kx − yk =p(x1− y1)2+ (x2− y2)2+ · · · + (xn− yn)2.

Observa¸c˜ao 1.4. Seja E um espa¸co vetorial real normado. Se k · k define uma norma em E, ent˜ao esta ´e proveniente de algum produto interno em E? Para respondermos esta pergunta, notamos que se kxk =phx, xi, onde h·, ·i ´e um produto interno em E, ent˜ao, para x, y ∈ E,

(19)

Consequentemente, vale a chamada identidade do paralelogramo

kx + yk2+ kx − yk2 = 2(kxk2+ kyk2).

Com isto, podemos ver que k · k1, k · k2, dadas no Exemplo 1.4, n˜ao s˜ao provenientes de

produto interno algum em Rn. Afirmamos que a rec´ıproca tamb´em vale, ou seja, se a

identidade do paralelogramo ´e satisfeita para uma norma k · k, ent˜ao esta ´e proveniente de algum produto interno em E. Entretanto, a prova desta rec´ıproca demanda de outros resultados, relacionados `a continuidade e ser´a omitida (sugerimos ao leitor [5]).

Na pr´oxima se¸c˜ao introduziremos o conceito de bolas em diferentes espa¸cos m´ etri-cos. Tamb´em veremos uma s´erie de exemplos. Tais conceitos s˜ao muito importantes, pois a partir deles, introduziremos conceitos gerais de aplica¸c˜oes cont´ınuas.

1.2

Bolas e Esferas

Defini¸c˜ao 1.4. Sejam (M, d) um espa¸co m´etrico, a ∈ M e r > 0. Ent˜ao, definimos 1) a bola aberta de centro a e raio r por B(a; r) = {x ∈ M ; d(x, a) < r} ;

2) a bola fechada de centro a e raio r por B[a; r] = {x ∈ M ; d(x, a) ≤ r} ; 3) a esfera de centro a e raio r por S(a; r) = {x ∈ M ; d(x, a) = r} .

As bolas e esferas podem adquirir aspectos inesperados. No que segue, veremos alguns exemplos.

Exemplo 1.7. Seja (M, d) um espa¸co m´etrico, onde d ´e a m´etrica zero-um. Ent˜ao, para quaisquer a ∈ M e r > 0, B(a; r) = {x ∈ M ; d(x, a) < r} =      M, se r > 1, {a}, se r ≤ 1.

Ainda, vˆe-se que B[a; r] = M, se r ≥ 1, B[a; r] = {a}, se r < 1. Agora, visto que B[a; r] = B(a; r) ∪ S(a; r), S(a; r) = B[a; r] − B(a; r) = ∅. Logo, se r 6= 1, S(a; 1) = M \ {a}.

(20)

Exemplo 1.8. Sejam (R; d), onde d ´e a m´etrica usual de R, a ∈ R e r > 0. Neste caso, B(a; r) = {x ∈ R; d(x, a) < r}

= {x ∈ R; |x − a| < r}

= {x ∈ R; a − r < x < a + r} = (a − r, a + r). Tamb´em, B[a; r] = [a − r, a + r] e S(a; r) = {a − r, a + r}.

Exemplo 1.9. Em (R2, d), (R2, d 1) e (R2, d2), temos que se a = (a1, a2) ∈ R2 e r > 0, Sd(a; r) =(x, y) ∈ R2; d((x, y), (a1, a2)) = r =n(x, y) ∈ R2; p(x − a1)2+ (y − a2)2 = r o . Sd1(a; r) =(x, y) ∈ R 2; d 1((x, y), (a1, a2)) = r =(x, y) ∈ R2; |x − a1| + |y − a2| = r . Sd2(a; r) =(x, y) ∈ R 2; d 2((x, y), (a1, a2)) = r =(x, y) ∈ R2; max {|x − a1|, |y − a2|} = r .

(21)

Exemplo 1.10. Se B([a, b], R) ´e o espa¸co m´etrico do Exemplo 1.3, f ∈ B([a, b], R) e r > 0,

B[f ; r] = {g ∈ B([a, b], R); d(g, f ) ≤ r} , = {g ∈ B([a, b], R); kg − f k ≤ r} .

Exemplo 1.11. Sejam (M, d) um espa¸co m´etrico e N ⊂ M um subespa¸co m´etrico de M. Ent˜ao, se para cada a ∈ N e cada r > 0, denotarmos por BN(a; r) a bola aberta de centro

a e raio r, relativamente `a m´etrica d, temos

BN(a; r) = B(a; r) ∩ N.

Com efeito,

BN(a; r) = {x ∈ N ; d(x, a) < r}

= {x ∈ M ; d(x, a) < r} ∩ N = B(a; r) ∩ N.

Al´em disso, podemos mostrar que BN[a; r] = B[a; r] ∩ N e SN(a; r) = S(a; r) ∩ N.

Por exemplo, ao considerarmos S1 = {(x, y) ∈ R2; x2+ y2 = 1} como um subespa¸co m´etrico de R2, munido da m´etrica euclideana, temos que B

S1(a; r) ´e um arco de c´ırculo,

(22)

Na pr´oxima se¸c˜ao, utilizando os conceitos de bola aberta, fornecemos o conceito de Espa¸co M´etrico Discreto.

1.3

Espa¸co M´etrico Discreto

Defini¸c˜ao 1.5. Seja M um espa¸co m´etrico. Dizemos que a ∈ M ´e ponto isolado de M quando existe r > 0 tal que B(a; r) = {a} .

Exemplo 1.12. Seja Z = {. . . , −2, −1, 0, 1, 2, . . .} um subespa¸co m´etrico de R, munido com a m´etrica euclideana. Todo ponto n ∈ Z ´e isolado, pois existe r = 1 > 0, tal que

B(n; 1) = {m ∈ Z; d(m, n) < 1}

(23)

J´a, se considerarmos, A =n1; n ∈ N , ent˜ao 0 n˜ao ´e ponto isolado de A, pois para todo r > 0, existe n ∈ N tal que d(n1, 0) =

1

n < r, isto ´e, B(0; r) 6= {a}, para todo r > 0.

Exemplo 1.13. Seja (M, d) um espa¸co m´etrico, sendo d a m´etrica zero-um. Todos os pontos de M s˜ao pontos isolados, pois dado a ∈ M , existe r = 12 > 0, tal que B(a;12) = {a}.

Exemplo 1.14. Se E 6= {0} ´e um espa¸co vetorial real, munido da norma k · k, ent˜ao todo ponto de E n˜ao ´e ponto isolado. De fato, como E 6= {0}, existe b ∈ E \ {0}. Assim, dados a ∈ E e r > 0, y = a +2kbkrb ∈ E ´e tal que ky − ak =

r

2 < r. Consequentemente, y ∈ B(a; r)

e y 6= a. Ou seja, B(a; r) 6= {a}. Portanto, a n˜ao ´e ponto isolado de E.

Defini¸c˜ao 1.6. Dizemos que o espa¸co m´etrico (M, d) ´e discreto quando todo ponto de M ´e isolado.

Exemplo 1.15. Pela defini¸c˜ao acima podemos concluir que, no Exemplo 1.12, Z ´e discreto e A n˜ao ´e discreto. Do Exemplo 1.13, todo espa¸co m´etrico (M, d), onde d ´e a m´etrica zero-um, ´e discreto e todo espa¸co vetorial normado n˜ao nulo, pelo Exemplo 1.14, n˜ao ´e discreto.

1.4

Espa¸co M´etrico Limitado

Defini¸c˜ao 1.7. Sejam (M, d) um espa¸co m´etrico e X ⊂ M . Dizemos que X ´e limitado quando existe um n´umero real r ≥ 0 tal que d(x, y) ≤ r, para quaisquer x, y ∈ X. Se X ´e limitado e n˜ao vazio, o conjunto {d(x, y); x, y ∈ X} ´e n˜ao vazio e limitado superiormente. O diˆametro de X ´e definido como sendo o n´umero

(24)

Exemplo 1.16. Qualquer bola B(a; r) em um espa¸co m´etrico ´e limitada, pois para quais-quer x, y ∈ B(a; r), temos

d(x, y) ≤ d(x, a) + d(a, y) < r + r = 2r.

Ou seja, diam(B(a; r)) ≤ 2r.

Observa¸c˜ao 1.5. Existem situa¸c˜oes em que o diˆametro de uma bola B(a; r) ´e menor do que 2r. Por exemplo, se considerarmos B(2;√2) em M = Z, munido da m´etrica induzida da de R, ent˜ao

B(2;√2) = {1, 2, 3} e diam(B(2;√2)) = 2 < 2√2.

Exemplo 1.17. Em um espa¸co vetorial real normado E 6= {0}, a bola aberta B(a; r) tem diˆametro 2r. De fato, devido ao Exemplo 1.16, basta mostrarmos que qualquer n´umero menor do que 2r n˜ao pode ser uma cota superior para o conjunto {d(x, y) = kx−yk; x, y ∈ B(a; r)}. Para tal, seja s ∈ R, com s < 2r. Ent˜ao existe t ∈ R tal que s < 2t < 2r. Ainda, visto que E 6= {0}, existe y 6= 0 em E. Considerando x = kykty , vemos que kxk = t < r. Consequentemente, a + x, a − x ∈ B(a; r). Al´em disso,

d(a + x, a − x) = k(a + x) − (a − x)k = 2kxk = 2t > s.

(25)

Exemplo 1.18. Todo espa¸co vetorial real normado E 6= {0} n˜ao ´e limitado. Com efeito, suponhamos E limitado. Ent˜ao existe r > 0 tal que d(x, y) ≤ r, para quaisquer x, y ∈ E. Agora, visto que E 6= {0}, existe v 6= 0 em E. Assim, 2rv

kvk ∈ E e d(v, 0) = kv − 0k = kvk = 2r > r,

o que contraria nossa suposi¸c˜ao. Portanto, E n˜ao ´e limitado.

O pr´oximo resultado nos d´a uma maneira alternativa de definirmos conjuntos limitados em um espa¸co m´etrico.

Teorema 1.5. Sejam (M, d) um espa¸co m´etrico e X ⊂ M . Ent˜ao X ´e limitado se, e somente se, existe alguma bola B de M contendo X.

Demonstra¸c˜ao. Se X = ∅, ent˜ao X ⊂ B, para qualquer bola de M . Se X 6= ∅, ent˜ao existe a ∈ X. Como X ´e limitado, existe r > 0 tal que d(x, a) ≤ r, para todo x ∈ X. Consequentemente, X ⊂ B[a; r] ⊂ B(a; 2r).

Reciprocamente, se X ⊂ B = B(a; r), para algum r > 0 e a ∈ M , ent˜ao d(x, a) < r, para todo x ∈ X. Agora, para quaisquer x, y ∈ X, temos d(x, y) ≤ d(x, a)+d(y, a) < r+r = 2r, ou seja, diam(X) < 2r. Portanto, X ´e limitado.

(26)

2

Aplica¸c˜

oes Cont´ınuas

At´e o presente momento, sabemos o que ´e um espa¸co m´etrico. Em estudos mais avan¸cados h´a a necessidade de buscar uma maneira de relacionar tais espa¸cos. Tal rela¸c˜ao ´e dada atrav´es de aplica¸c˜oes, mais especificamente aplica¸c˜oes cont´ınuas, que ser´a o tema de estudo neste cap´ıtulo. A bibliografia utilizada para a constru¸c˜ao deste cap´ıtulo ´e [4].

2.1

Defini¸c˜

oes e exemplos

Nesta se¸c˜ao, fornecemos a defini¸c˜ao de aplica¸c˜ao cont´ınua entre dois espa¸cos m´etricos, bem como uma s´erie de exemplos de tais aplica¸c˜oes. Vale ressaltar que tal defini¸c˜ao ´e uma generaliza¸c˜ao do conceito de continuidade visto em An´alise Real.

Defini¸c˜ao 2.1. Sejam (M, dM) e (N, dN) espa¸cos m´etricos. Dizemos que a aplica¸c˜ao

f : M → N ´e cont´ınua em a ∈ M quando, para todo ε > 0 dado, existe δ > 0 tal que dM(x, a) < δ implica dN(f (x), f (a)) < ε.

Diz-se tamb´em que f : M → N ´e cont´ınua quando ela ´e cont´ınua em todos os pontos a ∈ M .

(27)

Observa¸c˜ao 2.1. A aplica¸c˜ao f : M → N ´e cont´ınua em a se, somente se, dada qualquer bola B0 = B(f (a); ε), existe uma bola B = B(a; δ) tal que f (B) ⊂ B0.

A defini¸c˜ao acima generaliza o conceito de continuidade visto no curso de An´alise Real, pois se considerarmos d a m´etrica usual de R, ent˜ao f : M ⊂ R → R ´e cont´ınua em a se, e somente se, para todo ε > 0, existe δ > 0 tal que

x ∈ M, d(x, a) < δ implica d(f (x), f (a)) < ε

o que equivale a dizer que

∀ ε > 0, ∃ δ > 0; x ∈ M e |x − a| < δ ⇒ |f (x) − f (a)| < ε.

Exemplo 2.1. Sejam (M, dM) e (N, dN) espa¸cos m´etricos, sendo dM a m´etrica

zero-um. Ent˜ao f : M → N ´e sempre cont´ınua, pois dado ε > 0, existe δ = 12 tal que B(a; δ) = B(a;12) = {a} e assim, f (B(a; δ)) = {f (a)} ⊂ B(f (a); ε).

Exemplo 2.2. Sejam (M, dM), (N, dN) espa¸cos m´etricos e a um ponto isolado de M .

Ent˜ao qualquer aplica¸c˜ao f : M → N ´e cont´ınua em a. Com efeito, como a ´e ponto isolado de M , existe δ > 0 tal que B(a; δ) = {a}. Deste modo, dado ε > 0,

f (B(a; δ)) = f ({a}) = {f (a)} ⊂ B(f (a); ε).

Portanto f ´e cont´ınua em a.

Como consequˆencia do exemplo anterior temos que se M ´e um espa¸co m´etrico discreto, ent˜ao toda aplica¸c˜ao f : M → N ´e cont´ınua, sendo N espa¸co m´etrico.

Observa¸c˜ao 2.2. Se (M, dM), (N, dN) s˜ao espa¸cos m´etricos, ent˜ao, ao negarmos a Defini¸c˜ao

2.1, concluimos que f : M → N ´e descont´ınua em a ∈ M , quando

(28)

Por exemplo, a aplica¸c˜ao ξ : R → R, definida por ξ(x) =      1, se x 6= y, 0, se x = y,

´e descont´ınua em todo ponto a ∈ R, sendo R munido da m´etrica usual. Com efeito, con-siderando ε = 12 > 0, temos que dado δ > 0, existe, pela densidade de Q em R, xδ tal que

d(xδ, a) = |xδ−a| < δ, sendo xδracional se a for irracional e xδ irracional se a for racional.

Com isto, |ξ(xδ)−ξ(a)| = 1 ≥ 12. Portanto, ξ ´e descont´ınua em R, j´a que a ∈ R ´e arbitr´ario.

Observa¸c˜ao 2.3. Se f : M → N ´e tal que f |B ´e cont´ınua em a, para alguma bola

centrada em a, ent˜ao f ´e cont´ınua em a. Com efeito, sejam ε > 0 e B = B(a; r). Como f |B ´e cont´ınua em a, existe δ > 0 tal que se x ∈ B e dM(x, a) < δ, ent˜ao

dN(f (x), f (a)) < ε. Consequentemente, ao tomarmos δ1 = min{δ, r}, teremos que

x ∈ M e dM(x, a) < δ1 ⇒ dN(f (x), f (a)) < ε,

ou seja, f ´e cont´ınua em a. Deste modo, o conceito de continuidade em um ponto ´e local, isto ´e, depende apenas do comportamento de f nas proximidades de tal ponto.

Defini¸c˜ao 2.2. Sejam (M, dM) e (N, dN) dois espa¸cos m´etricos. Dizemos que uma

apli-ca¸c˜ao f : M → N ´e Lipschitziana quando existe uma constante c > 0, chamada constante de Lipschitz, tal que dN(f (x), f (y)) ≤ c · dM(x, y), para quaisquer x, y ∈ M .

Toda aplica¸c˜ao lipschitziana ´e cont´ınua, pois dados ε > 0 e a ∈ M , existe δ = ε c tal que dM(x, a) < δ ⇒ dN(f (x), f (a)) ≤ c · dM(x, a) < c · δ = ε.

Ainda, sobre as aplica¸c˜oes lipschitzianas, no que segue, vemos um modo de cons-truir aplica¸c˜oes lipschitzianas e, consequentemente, cont´ınuas quando N = R. Inicial-mente, notamos que se f, g : M → R s˜ao lipschitzianas, com constantes de Lipschitz cf e

(29)

cg, respectivamente, ent˜ao f + g ´e lipschitziana, com constante de Lipschitz cf + cg, pois

dR((f + g)(x), (f + g)(y)) = |(f (x) + g(x)) − (f (y) + g(y))| ≤ |f (x) − f (y)| + |g(x) − g(y)| ≤ (cf + cg) · dM(x, y).

Tamb´em, se f : M → R ´e lipschitziana, com constante de Lipschitz cf, a aplica¸c˜ao k · f,

para k ∈ R, ´e lipschitziana, com constante de Lipschitz |k|cf, pois

dR((k · f )(x), (k · f )(y)) = |k · f (x) − k · f (y)| = |k| · |f (x) − f (y)| ≤ |k|cf · dM(x, y).

Como consequˆencia das propriedades acima, podemos mostrar, por indu¸c˜ao, que toda combina¸c˜ao linear k1 · f1+ k2· f2+ · · · + kn· fn de aplica¸c˜oes fi : M → R lipschitzianas,

´e lipschitziana, sendo ki ∈ R, com i = 1, 2, . . . , n.

Exemplo 2.3. A fun¸c˜ao f : R → R, definida por f (x) = xn, para n ∈ N, ´e lipschitziana

em cada conjunto limitado de R, em particular, em toda bola B ⊂ R, e assim, pela Observa¸c˜ao 2.3 e por toda aplica¸c˜ao lipschitziana ser cont´ınua, f ´e cont´ınua. De fato, se |x| ≤ k e |y| ≤ k, ent˜ao

d(f (x), f (y)) = |xn− yn|

= |x − y| · |xn−1+ xn−2· y + · · · + yn−1| ≤ |x − y| · (|x|n−1+ |x|n−2|y| + · · · + |y|n−1) ≤ k · |x − y| = k · d(x, y), onde k = n · kn−1.

Como consequˆencia disto, toda fun¸c˜ao polinomial p : R → R, dada por p(x) = a0+ a1x +

· · · + anxn, com ai ∈ R, ´e cont´ınua.

Exemplo 2.4. Seja E um espa¸co vetorial real normado. A aplica¸c˜ao m : R × E → E, definida por m(λ, x) = λ · x, ´e lipschitziana em cada conjunto limitado de R × E. De fato,

(30)

se considerarmos em R × E a m´etrica d, dada por

d[(λ, x), (µ, y)] = |λ − µ| + kx − yk,

para quaisquer (λ, x), (µ, y) ∈ R × E, ent˜ao, caso |λ|, |µ|, |x| e |y| sejam menores do que, ou iguais a k,

d[m(λ, x), m(µ, y)] = kλ · x − µ · yk

≤ |λ − µ| · kxk + |µ| · kx − yk ≤ k(|λ − µ| + kx − yk)

= k · d[(λ, x), (µ, y)].

Logo, m ´e cont´ınua em cada parte limitada de R × E. Em particular, m ´e cont´ınua em cada bola B de R × E, e assim, m ´e cont´ınua.

Um tipo de aplica¸c˜ao lipschitziana muito comum ´e obtida quando a constante de Lipschitz vale 1.

Defini¸c˜ao 2.3. Sejam (M, dM) e (N, dN) dois espa¸cos m´etricos. Se f : M → N ´e tal que

dN(f (x), f (y)) ≤ dM(x, y), para quaisquer x, y ∈ M , ent˜ao f ´e dita uma contra¸c˜ao fraca.

Exemplo 2.5. As contra¸c˜oes fracas, sendo lipschitzianas, s˜ao cont´ınuas. Abaixo, seguem v´arios exemplos de contra¸c˜oes fracas.

1) A aplica¸c˜ao constante f : M → N, definida por f (x) = c ∈ N . Basta notar que dN(f (x), f (y)) = dN(k, k) = 0 ≤ dM(x, y), para quaisquer x, y ∈ M.

2) Uma imers˜ao isom´etrica ´e uma aplica¸c˜ao f : M → N tal que dN(f (x), f (y)) = dM(x, y),

para quaisquer x, y ∈ M . Em particular, toda imers˜ao isom´etrica ´e uma contra¸c˜ao fraca. Com isto, a inclus˜ao i : X ,→ M , definida por i(x) = x, onde X ´e um subespa¸co de M , ´e cont´ınua.

(31)

contra¸c˜ao fraca, pois se x, y ∈ E, temos

dR(k · k(x), k · k(y)) = |kxk − kyk| ≤ kx − yk = dE(x, y).

4) Sejam (M1, d1), . . . , (Mn, dn) espa¸cos m´etricos. Para cada i ∈ {1, 2, . . . , n} definimos

a aplica¸c˜ao proje¸c˜ao pi : M1 × M2 × · · · × Mn → Mi, pondo pi(x1, . . . , xn) = xi. Ao

considerarmos M1× M2× · · · × Mn munido com a m´etrica d, definida por

d(x, y) = d1(x1, y1) + d2(x2, y2) + · · · + dn(xn, yn),

para todo x = (x1, . . . , xn), y = (y1, . . . , yn) ∈ M1× M2× · · · × Mn, vemos que

di(pi(x), pi(y)) = di(xi, yi) ≤ d(x, y), ou seja, pi ´e uma contra¸c˜ao fraca.

5) Sejam (M, d), (M × M, δ) espa¸cos m´etricos, onde

δ[(x, y), (a, b)] = d(x, a) + d(y, b), ∀ (x, y), (a, b) ∈ M × M.

Ent˜ao a m´etrica d : M × M → R ´e contra¸c˜ao fraca, pois

dR(d(x, y), d(a, b)) = |d(x, y) − d(a, b)|

≤ |d(x, y) − d(a, y)| + |d(a, y) − d(a, b)|

≤ d(x, a) + d(y, b) = δ[(x, y), (a, b)], ∀ (x, y), (a, b) ∈ M × M.

6) Seja E um espa¸co vetorial real normado. Ent˜ao, a aplica¸c˜ao s : E × E → E, dada por s(x, y) = x + y ´e uma contra¸c˜ao fraca, quando consideramos em E × E a norma k(x, y)k = kxk + kyk. De fato, ks(x, y) − s(a, b)k ≤ kx − ak + ky − bk = k(x, y) − (a, b)k.

2.2

Propriedades das Aplica¸c˜

oes Cont´ınuas

Nesta se¸c˜ao, listamos e provamos algumas propriedades relacionadas `as aplica¸c˜oes cont´ınuas.

(32)

Teorema 2.1. Sejam (M, dM), (N, dN) e (P, dP) espa¸cos m´etricos. Se f : M → N ´e

cont´ınua em a ∈ M e g : N → P ´e cont´ınua em f (a) ∈ N , ent˜ao g ◦ f : M → P ´e cont´ınua em a.

Demonstra¸c˜ao. Dado ε > 0, pela continuidade de g em f (a), existe δ1 > 0 tal que se

f (x) ∈ N e d(f (x), f (a)) < δ1, ent˜ao d(g(f (x)), g(f (a)) < ε. Agora, visto que δ1 > 0,

da continuidade de f em a, obtemos um δ > 0 tal que se x ∈ M e d(x, a) < δ, ent˜ao d(f (x), f (a)) < δ1. Logo, d((g ◦ f )(x), (g ◦ f )(a)) < ε. O que prova a continuidade de g ◦ f

em a.

O pr´oximo corol´ario afirma que toda restri¸c˜ao de uma aplica¸c˜ao cont´ınua ´e tam-b´em cont´ınua.

Corol´ario 2.1. Sejam (M, dM) e (N, dN) espa¸cos m´etricos. Se f : M → N ´e cont´ınua

em a ∈ X ⊂ M , ent˜ao f |X: X → N tamb´em ´e cont´ınua em a.

Demonstra¸c˜ao. Ora, por hip´otese, que f : M → N ´e cont´ınua em a ∈ X ⊂ M . Ainda, pelo Exemplo 2.4, a inclus˜ao i : X → M , dada por i(x) = x, tamb´em ´e cont´ınua. Agora, como f |X = f ◦ i, segue, pelo teorema anterior, que a restri¸c˜ao f |X ´e cont´ınua a.

Para o pr´oximo resultado vamos precisar do seguinte conceito: Sejam M, N1 e

N2 espa¸cos m´etricos. A aplica¸c˜ao f : M → N1× N2 equivale a um par (f1, f2), sendo

f1 : M → N1 e f2 : M → N2 denominadas aplica¸c˜oes coordenadas de f . Neste caso,

tem-se f (x) = (f1, f2)(x) = (f1(x), f2(x)), para todo x ∈ M .

Teorema 2.2. Sejam (M, dM), (N1, d1) e (N2, d2) espa¸cos m´etricos. A aplica¸c˜ao f =

(f1, f2) : M → N1 × N2 ´e cont´ınua em a ∈ M se, e somente se, f1 : M → N1 e

(33)

Demonstra¸c˜ao. Seja f cont´ınua em a, ent˜ao, sendo pi : N1× N2 → Ni, para i = 1, 2, uma

proje¸c˜ao, e f1 = p1◦ f e f2 = p2◦ f , segue, do Teorema 2.1, que f1 e f2 s˜ao cont´ınuas em

a.

Para mostrarmos a rec´ıproca, consideramos em N1× N2 a m´etrica d, definida por

d[(x1, x2), (y1, y2)] = max{d1(x1, y1), d2(x2, y2)},

para quaisquer (x1, x2), (y1, y2) ∈ N1× N2.

Como as aplica¸c˜oes coordenadas s˜ao cont´ınuas em a ∈ M , dado um ε > 0, existem δ1 > 0 e δ2 > 0 tais que dM(x, a) < δ1 ent˜ao d1(f1(x), f1(a)) < ε e dM(x, a) < δ2 temos

que d2(f2(x), f2(a)) < ε. Tomando δ = min{δ1, δ2}, temos que dM(x, a) < δ implica em

d(f (x), f (a)) = max[{d1(f1(x), f1(a)), d2(f2(x), f2(a))}] < ε. Logo, f ´e cont´ınua em a.

Corol´ario 2.2. Sejam M1, M2, N1 e N2 espa¸cos m´etricos. Se f1 : M1 → N1 e f2 : M2 →

N2 s˜ao cont´ınuas, ent˜ao a aplica¸c˜ao ϕ = f1 × f2 : M1 × M2 → N1 × N2, definida por

ϕ(x1, x2) = (f1× f2)(x1, x2) = (f1(x1), f2(x2)), tamb´em ´e cont´ınua.

Demonstra¸c˜ao. Para verificar o corol´ario, basta notar que se considerarmos as proje¸c˜oes pi : M1 × M2 → M1, para i = 1, 2, ent˜ao as aplica¸c˜oes coordenadas de ϕ s˜ao f1 ◦ p1 :

M1× M2 → N1 e f2 ◦ p1 : M1× M2 → N2. Deste modo, segue, dos Teoremas 2.1 e 2.2,

que ϕ ´e cont´ınua.

Corol´ario 2.3. Sejam M um espa¸co espa¸co m´etrico, E um espa¸co vetorial real normado, f, g : M → E, α, β : M → R aplica¸c˜oes cont´ınuas, com β(x) 6= 0, para todo x ∈ M. Ent˜ao as aplica¸c˜oes f + g : M → E, α · f : M → E e αβ : M → R tamb´em s˜ao cont´ınuas. Demonstra¸c˜ao. Devemos lembrar que r : R \ {0} → R, definida por r(x) = x1, ´e cont´ınua. Com isto, notando que f + g = s ◦ (f, g), α · f = m ◦ (α, f ) e αβ = m ◦ (id × r) ◦ (α, β), sendo id : R → R dada por id(x) = x, segue, pelos resultados estabelecidos nesta se¸c˜ao, a validade do corol´ario em quest˜ao.

(34)

3

Homeomorfismos entre espa¸cos m´

etricos

Em ´Algebra Linear, vemos que a inversa de uma transforma¸c˜ao linear bijetiva ainda ´e linear. Na teoria de Grupos e An´eis tamb´em vemos que o inverso de um homo-morfismo bijetor ainda ´e um homomorfismo. Em espa¸cos m´etricos tal similaridade n˜ao ocorre, ou seja, existem aplica¸c˜oes cont´ınuas bijetivas, com inversa descont´ınua. Quando ocorrer da inversa ser cont´ınua, teremos o que chamamos de homeomorfismo. Tal con-ceito ´e de grande utilidade para classificar espa¸cos m´etricos e com uma vis˜ao mais ampla, espa¸cos topol´ogicos.

Na primeira se¸c˜ao deste cap´ıtulo, damos a defini¸c˜ao de homeomorfismo, alguns exemplos e propriedades relacionadas. J´a na segunda e ´ultima se¸c˜ao abordamos um tipo especial de homeomorfismo, a proje¸c˜ao estereogr´afica. A bibliografia utilizada para a constru¸c˜ao deste cap´ıtulo ´e [4].

3.1

Defini¸c˜

ao e exemplos

Defini¸c˜ao 3.1. Sejam M e N espa¸cos m´etricos. Um homeomorfismo de M sobre N ´e uma bije¸c˜ao cont´ınua f : M → N cuja inversa f−1 : N → M tamb´em ´e cont´ınua. Neste caso, diz-se que M e N s˜ao homeomorfos e denotamos por M ≈ N .

Observa¸c˜ao 3.1. Sejam (M, dM) e (N, dN) espa¸cos m´etricos. Ent˜ao, s˜ao v´alidas:

1) M ≈ N, para isto basta utilizar a aplica¸c˜ao identidade em M , que ´e um homeomorfismo; 2) M ≈ N ⇒ N ≈ M ent˜ao existe f : M → N que ´e um homeomorfismo. Portanto, existe h = f−1 : M → N que ´e cont´ınua, bijetora e sua inversa tamb´em ´e cont´ınua. Logo, h ´e homeomorfismo, ou seja, N ≈ M ;

(35)

3) Se M ≈ N e N ≈ P , mostremos que M ≈ P. Assim, M ≈ N ent˜ao existe g : N → P homeomorfismo. Assim, temos que h = g ◦ f : M → P ´e um homeomorfismo, pois ´e composi¸c˜ao de homeomorfismos. Logo, M ≈ P.

Portanto, ≈ ´e uma rela¸c˜ao de equivalˆencia em M, a classe de todos os espa¸cos m´etricos. Exemplo 3.1. Se M = R est´a munido da m´etrica zero-um, ent˜ao a aplica¸c˜ao identidade i : M → R n˜ao ´e um homeomorfismo. De fato, pelo Exemplo 2.1, temos que a fun¸c˜ao i ´e cont´ınua. Al´em disso, i ´e bije¸c˜ao, com i−1(y) = y, para todo y ∈ R. Agora, j = i−1 n˜ao ´e cont´ınua. Para vermos isto, seja a ∈ R qualquer e consideremos ε = 1

2. Deste modo, B(j(a); ε) = B  j(a);1 2  = {j(a)} = {a}.

Consequentemente, n˜ao existe δ > 0, tal que j(a − δ, a + δ) = (a − δ, a + δ) ⊂ B(j(a); ε), ou seja, j ´e descont´ınua em a.

Exemplo 3.2. Sejam [−1, 0] ∪ (1, ∞), [0, +∞) subespa¸cos m´etricos de R. Ent˜ao, a fun¸c˜ao f : [−1, 0] ∪ (1, ∞) → [0, +∞), definida por f (x) = x2, ´e cont´ınua, pois ´e a restri¸c˜ao de

uma fun¸c˜ao polinomial, que ´e cont´ınua, ao subconjunto [−1, 0] ∪ (1, ∞). Ainda, f ´e bijetiva, com inversa g = f−1 : [0, +∞) → [−1, 0] ∪ (1, ∞), dada por g(y) = √y, se y > 1 e g(y) = −√y, se 0 ≤ y ≤ 1. Mas g ´e descont´ınua em 1. Portanto, f n˜ao ´e um homeomorfismo.

´

E comum utilizarmos a express˜ao equivalˆencia topol´ogica ao inv´es de homeomor-fismo, pois do ponto de vista topol´ogico dois espa¸cos m´etricos homeomorfos s˜ao indistin-gu´ıveis. Uma propriedade P de que goza um espa¸co m´etrico M ´e dita topol´ogica quando qualquer espa¸co N homeomorfo a M , tamb´em goza de P . As propriedades topol´ogicas

(36)

diferem das propriedades m´etricas de M , que s˜ao aquelas preservadas atrav´es de isome-trias, isto ´e, se M goza de P e M e N s˜ao isom´etricos (existe uma aplica¸c˜ao f : M → N bijetiva que preserva distˆancia), ent˜ao N goza de P . Notemos que toda isometria ´e um homeomorfismo e assim toda propriedade topol´ogica ´e m´etrica, mas ser uma propriedade m´etrica n˜ao implica em ser uma propriedade topol´ogica, como veremos no pr´oximo ex-emplo.

Exemplo 3.3. Ser discreto ´e uma propriedade topol´ogica. De fato, sejam M e N espa¸cos m´etricos homeomorfos e suponhamos M discreto. Provemos que N tamb´em ´e discreto. Como N ≈ M , existe f : N → M , que ´e um homeomorfismo. Agora, dado a ∈ N , f (a) ∈ M . Visto que M ´e discreto, f (a) ´e ponto isolado de M . Por consequinte, existe ε > 0, tal que B(f (a); ε) = {f (a)}. Ainda, sendo f : N → M cont´ınua, existe δ > 0 tal que f (B(a; δ)) ⊂ B(f (a); ε) = {f (a)}. Deste modo, se existir x 6= a em B(a; δ), ent˜ao f (x) = f (a). Mas f ´e injetiva. Logo, x = a, o que contraria nossa suposi¸c˜ao. Portanto, B(a; δ) = {a}, isto ´e, a ´e um ponto isolado de N . Finalmente, por a ser um elemento arbitr´ario de N , segue que N tamb´em ´e discreto. Como consequˆencia, N e Q n˜ao podem ser homeomorfos.

Exemplo 3.4. Ser limitado ´e uma propriedade m´etrica, mas n˜ao ´e topol´ogica. Com efeito, se M = N e N = {n1; n ∈ N} s˜ao vistos como subespa¸cos de R, ent˜ao f : M → N ,

dada por f (n) = n1, para todo n ∈ N, ´e um homeomofismo, sendo M n˜ao limitado e N limitado, ou seja, ser limitado n˜ao ´e uma propriedade topol´ogica. Entretanto, se X ´e um espa¸co m´etrico limitado e isom´etrico a Y , ent˜ao, devido `a distˆancia ser preservada, Y deve ser limitado, isto ´e, ser limitado ´e uma propriedade m´etrica.

Exemplo 3.5. Seja E um espa¸co vetorial real normado. Para a ∈ E e para λ ∈ R \ {0}, a transla¸c˜ao Ta: E → E e a homotetia Hλ : E → E definidas por Ta(x) = x+a e Hλ(x) = λ·x

s˜ao exemplos de homeomorfismos De fato, Tae Hλ serem aplica¸c˜oes cont´ınuas ´e decorrente

do cap´ıtulo 2. Ainda, Ta−1 = T−a e Hλ−1 = Hλ−1, que tamb´em s˜ao cont´ınuas. Portanto, as

transla¸c˜oes e homotetias em um espa¸co vetorial s˜ao homeomorfismos.

Como consequˆencia do exemplo anterior podemos mostrar que duas bolas abertas B(a; r) e B(b; s) em um espa¸co vetorial real normado E s˜ao homeomorfas. De fato,

(37)

basta-nos considerar a composta ϕ = Tb◦ Hsr ◦ T−a: E → E. Temos que

ϕ |B(a;r): B(a; r) → B(b; r),

´e um homeomorfismo. Com isto, B(a; r) ≈ B(b; s).

Exemplo 3.6. Toda bola aberta de um espa¸co vetorial normado (E, k·k) ´e homeomorfa a E. Para vermos isto, basta-nos considerar a bola unit´aria B = B(0; 1) e mostrar que existe um homeomorfismo ψ : E → B. Seja ψ(x) = (1+kxk)x . Visto que kψ(x)k =

kxk

1 + kxk < 1, para todo x ∈ E, ψ est´a bem definida. Ainda, ψ ´e um aplica¸c˜ao cont´ınua de E em B. Agora, sendo Φ : B → E, dada por φ(y) = y

1 − kyk, com kyk < 1, para todo y ∈ B, vemos que φ ´e cont´ınua. Al´em do mais, vale (ψ ◦ φ)(y) = y e (φ ◦ ψ)(x) = x para quaisquer x ∈ E, y ∈ B. Logo, φ = ψ−1. Consequentemente, ψ ´e um homeomorfismo. Ou seja, B ≈ E. Utilizando o que foi dito acima, segue que toda bola aberta em E ´e homeomorfa a B. Por isto e por ≈ ser uma rela¸c˜ao de equivalˆencia em M, toda bola aberta em E ´e homeomorfa a E.

3.2

Proje¸c˜

ao Estereogr´

afica

A proje¸c˜ao estereogr´afica nada mais ´e do que uma aplica¸c˜ao que projeta uma esfera unit´aria n-dimensional em um hiperplano de dimens˜ao n − 1.

Seja Sn= {x ∈ Rn+1; kxk = 1} a esfera unit´aria n-dimensional e N = (0, 0, . . . , 1) ∈

Sn, o seu p´olo norte. A proje¸c˜ao estereogr´afica π : Sn− {N } → Rn, ´e definida da seguinte forma: dado um ponto x = (x1, . . . , xn+1) ∈ Sn− {N }, onde π(x) ´e o ponto em que a

(38)

semirreta N x ⊂ Rn+1 intercepta o hiperplano x

n+1 = 0. Note que os pontos da

semir-reta N x s˜ao da forma N + t(xN ), com t ≥ 0. Assim, um ponto dessa semirreta est´a no hiperplano xn+1= 0 se, e somente se, 1 + t(xn+1− 1) = 0, donde t = 1−x1n+1 e, portanto,

π(x) = 1

1 − xn+1

· (x1, . . . , xn).

A express˜ao acima mostra que π ´e cont´ınua. Tal proje¸c˜ao, na realidade, ´e um homeo-morfismo. De fato, considerando a aplica¸c˜ao cont´ınua φ : Rn → Sn − {N }, definida

por φ(y) =  2y1 kyk2+1, . . . , 2yn kyk2+1, kyk2−1 kyk2+1 

, para todo y = (y1, y2, . . . , yn) ∈ Rn, vemos que

φ◦π = idSn−{N } e π ◦ φ = id

Rn. Com isto, π ´e um homeomorfismo.

Vale ressaltar que a proje¸c˜ao estereogr´afica possui v´arias propriedades interes-santes, tais como:

1) Qualquer c´ırculo em Sn ´e levado pela proje¸c˜ao estereogr´afica a um c´ırculo ou uma

reta no plano Rn;

2) Sejam N o p´olo norte do Sn, x e x0 dois pontos distintos da esfera. Ent˜ao, os

triˆangulos N xx0 e N π(x)π(x0) s˜ao semelhantes; 3) A Proje¸c˜ao Estereogr´afica preserva ˆangulos. Para maiores detalhes, citamos [1].

(39)

[1] AHLFORS, Lars V., Complex Analysis, 3rd ed.. Nova Iorque: Editora Mc Graw-Hill, 1979.

[2] COURANT, Richard e ROBBINS, Herbet, O que ´e Matem´atica ? Uma abor-dagem elementar de m´etodos e conceitos. Rio de Janeiro: Editora Ciˆencia Moderna Ltda, 2000.

[3] DIEUDONN ´E, Jean, A Forma¸c˜ao da Matem´atica Contemporˆanea. Lisboa : Editora Publica¸c˜oes Dom Quixote Ltda, 1990.

[4] LIMA, Elon L., Espa¸cos M´etricos, 4o edi¸c˜ao, Projeto Euclides. Rio de Janeiro: Editora IMPA, 2011.

[5] YOSHIDA, K., Functional Analysis, 6th ed.. Nova Iorque: Editora Springer, 1980.

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