• Nenhum resultado encontrado

Capacidades Simpléticas e o Teorema de Hofer-Zehnder

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Capacidades Simpléticas e o Teorema de Hofer-Zehnder"

Copied!
83
0
0

Texto

(1)

Capacidades Simpl´eticas e o Teorema de

Hofer-Zehnder

Lucia dos Santos Ribeiro

UFRJ

Rio de Janeiro

2006

(2)

Livros Grátis

http://www.livrosgratis.com.br

(3)

Capacidades Simpl´

eticas e o Teorema de

Hofer-Zehnder

Lucia dos Santos Ribeiro

Disserta¸c˜ao de Mestrado apresentada ao Programa de P´os-gradua¸c˜ao do Instituto de Matem´atica da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necess´arios `a obten¸c˜ao do t´ıtulo de Mestre em Matem´atica.

Orientador: Leonardo Macarini

Rio de Janeiro Novembro de 2006

(4)

Ribeiro, Lucia dos Santos

R484c Capacidades Simpl´eticas e o Teorema de

2006 Hofer-Zehnder/Lucia dos Santos

Ribeiro.-Rio de Janeiro: UFRJ/IM, 2006. iv,73p.; 30 cm

Orientador: Leonardo Macarini

Disserta¸c˜ao(Mestrado) - UFRJ/IM. Programa de P´os-Gradua¸c˜ao em Matem´atica, 2006.

Bibliogr´afia: p.70.

1. Geometria Diferencial - tese. 2. Variedades Simpl´eticas. I. Macarini, Leonardo. II.

Universidade Federal do Rio de Janeiro. Instituto de Matem´atica. III. T´ıtulo.

(5)

Agradecimentos

Agrade¸co primeiramente e acima de tudo a Deus pelos bons e maus momentos da minha vida e por sempre ter acreditado em mim e me dado for¸cas. A minha fam´ılia Ana Tereza, Eduardo e Guilherme por terem me ajudado a chegar at´e aqui. As minhas amigas Giselle e Gleice pelo apoio e confian¸ca. A meu namorado Alexander pela ajuda, paciˆencia e confian¸ca.

Agradecimentos especias ao meu orientador Leonardo Macarini e a coordenadora do curso Walcy Santos pela paciˆencia, perseveran¸ca e compreens˜ao. E, finalmente, aos meus colegas de mestrado que caminharam comigo durante essa longa jornada, em particular, a R´egis Castijos e Leandro Ara´ujo.

(6)

Resumo

Neste trabalho, ´e apresentado o conceito de capacidade simpl´etica e demonstrada a existˆencia de tal fun¸c˜ao em termos de ´orbitas peri´odicas de sistemas Hamiltonianos. Al´em disso, ´e mostrada sua aplica¸c˜ao para a existˆencia de ´orbitas peri´odicas em hiper-superf´ıcies cuja vizinhan¸ca tenha capacidade finita.

(7)

Abstract

In this work, the concept of sympletic capacity is presented and its existence is proved in terms of periodic orbits of Hamiltonian systems. Moreover, it is shown the existence of periodic orbits in hypersurfaces which has a neighborhood with finite sympletic capacity.

(8)

Sum´

ario

Introdu¸c˜ao 1

1 Defini¸c˜oes B´asicas 3

1.1 Geometria Simpl´etica . . . 3 1.2 Espa¸cos de Hilbert . . . 17

2 Capacidades Simpl´eticas 22

3 A Capacidade de Hofer-Zehnder 34

4 Aplica¸c˜ao do Teorema de Hofer-Zehnder 60

Apˆendice 68

(9)

Introdu¸c˜

ao

Este trabalho tem origem na procura de ´orbitas (solu¸c˜oes) peri´odicas na Mecˆanica Ce-leste. Tomemos a variedade simpl´etica padr˜ao (R2n, ω

0) e uma fun¸c˜ao Hamiltoniana

H : R2n → R. Definimos uma subvariedade de R2n suave de codimens˜ao 1 por

S = {x ∈ R2n | H(x) = constante}.

Exigiremos que S seja regular, isto ´e, dH(x) 6= 0 para todo x ∈ S, e compacta. Se considerarmos o campo vetorial Hamiltoniano XH, determinado por H e pela forma

simpl´etica ω0 = X i dpi∧ dqi, dado por iXHω0 =−dH,

vemos que este campo pode ser restringido a S, pois, pela n˜ao-degenerecˆencia da forma ω0, XH(x)∈ TxS = {v ∈ TxR2n | dH(x)v = 0}. Portanto, o fluxo ϕt do campo vetorial

XH em S possui fortes propriedades de recorrˆencia devido ao fato dos fluxos

Hamil-tonianos preservarem volume. Isto inspirou Poincar´e a formular seu famoso teorema de recorrˆencia: Quase todo ponto de uma superf´ıcie de energia regular compacta S do campo vetorial Hamiltoniano XH com fluxo ϕt ´e um ponto recorrente, ou seja, quase

todo ponto x ∈ S volta arbitrariamente perto de x quando o tempo tende a infinito. Quando falamos em quase todo ponto estamos nos referindo `a medida proveniente da forma volume em S constru´ıda com base na forma simpl´etica de R2n. Mas, ao inv´es de

pontos que voltem arbitrariamente pr´oximo deles mesmos, a pergunta natural que surge ´e se uma variedade regular compacta S, em (R2n, ω

0), possui uma solu¸c˜ao peri´odica do

campo vetorial Hamiltoniano XH.

Em 1950, Seifert [22] se indagou se todo campo vetorial que n˜ao se anula na 3-esfera S3

possui uma ´orbita fechada. Esta pergunta s´o foi respondida em 1974 quando Schweitzer [21] mostrou um exemplo de campo vetorial de classe C1 em S3 que n˜ao possui solu¸c˜oes

peri´odicas. Em 1993, Kuperberg [14] construiu um campo vetorial de classe C∞ com a

mesma propriedade. Antes disto, em 1966, esta pergunta foi respondida da mesma forma por Wilson [28] para dimens˜oes maiores que 3.

Podemos reformular o problema de uma maneira mais abstrata. Seja S uma hiper-superf´ıcie em R2n. O seu espa¸co tangente T

(10)

TxS ´e degenerada e de posto 2n− 2. Seu n´ucleo, portanto, tem dimens˜ao 1 e ´e definido

por

LS ={(x, ξ) ∈ T S | ω0(ξ, v) = 0 para todo v∈ TxS}.

Ele ´e chamado de fibrado caracter´ıstico. Assim, XH(x)∈ LS(x), x ∈ S,

pois ω0(XH(x), v) = −dH(x)v = 0 para todo v ∈ TxS, j´a que S ´e uma superf´ıcie de

energia para XH. Ent˜ao as solu¸c˜oes peri´odicas para XH em S podem ser vistas como

caracter´ısticas fechadas do fibrado LS, ou seja, subvariedades P ⊂ S de dimens˜ao 1

difeomorfas a c´ırculos cujos espa¸cos tangentes est˜ao em LS. Reformulado o problema,

refazemos a pergunta: Uma hipersuperf´ıcie suave e compacta S ⊂ (R2n, ω

0) admite uma

caracter´ıstica fechada?

Em 1978, Weinstein e Rabinowitz [27] responderam afirmativamente esta pergunta para o caso de hipersuperf´ıcies do tipo estrela e convexas, respectivamente. Al´em disso, Weinstein conjecturou que uma hipersuperf´ıcie S de contato com H1(S) = 0 possui uma

caracter´ıstica fechada. Influenciado nas id´eias nos trabalhos de Weinstein e Rabinowitz que se chegou ao invariante simpl´etico, conhecido como capacidade simpl´etica, a ser tra-tado neste trabalho. Ekeland e Hofer [6] e [7] o descobriram para subconjuntos de R2n

quando procuravam solu¸c˜oes peri´odicas em superf´ıcies de energia convexas, e, mais tarde, Hofer e Zehnder [13] a estenderam para variedades simpl´eticas. Este trabalho ´e baseado em [12] onde Hofer e Zehnder tratam da existˆencia de capacidades simpl´eticas dinamica-mente definidas e de suas conseq¨uˆencias dinˆamicas e topol´ogicas.

Ap´os introduzirmos, no cap´ıtulo 1, algumas defini¸c˜oes b´asicas da geometria simpl´etica e dos espa¸cos de Hilbert, exibiremos, no cap´ıtulo 2, o conceito axiom´atico de capaci-dade simpl´etica assim como alguns exemplos e uma conseq¨uˆencia muito importante da existˆencia de tal fun¸c˜ao: o Teorema Nonsqueezing de Gromov, que afirma que o mergu-lho simpl´etico ϕ : B(r) → Z(R) existe se, e somente se, r ≤ R. Tamb´em veremos o fenˆomeno de rigidez dos difeomorfismos simpl´eticos. Eliashberg [8] e Gromov [11] con-clu´ıram que o grupo de difeomorfismos simpl´eticos ´e C0-fechado no grupo de todos os

difeomorfismos de uma variedade simpl´etica. Isto nos permite definir os chamados ho-meomorfismos simpl´eticos.

No cap´ıtulo 3, definiremos a chamada capacidade de Hofer-Zehnder c0 de forma

dinˆamica. Tal fun¸c˜ao foi apresentada em [13]. Mostraremos que ela ´e uma capacidade simpl´etica e, com isso, provaremos a existˆencia de tal invariante simpl´etico.

Finalmente, no cap´ıtulo 4, mostraremos que a capacidade dinamicamente definida no cap´ıtulo 3 tem como conseq¨uˆencia a existˆencia de ´orbitas peri´odicas em hipersu-perf´ıcies pr´oximas de uma hipersuperf´ıcie que possui uma vizinhan¸ca com capacidade de Hofer-Zehnder finita. Reformularemos este teorema baseado no conceito de fibrado caracter´ıstico visto acima e observaremos que a conjectura de Weinstein em R2n pode ser

(11)

Cap´ıtulo 1

Defini¸c˜

oes B´

asicas

1.1

Geometria Simpl´

etica

Come¸caremos este trabalho dando algumas defini¸c˜oes b´asicas que ser˜ao usadas nos cap´ıtulos seguintes.

Defini¸c˜ao 1.1 Um espa¸co vetorial simpl´etico (V, ω) ´e um espa¸co vetorial real de di-mens˜ao finita V munido com uma forma bilinear ω

(i) anti-sim´etrica: ω(u, v) =−ω(v, u) para todos u, v ∈ V ; (ii) n˜ao-degenerada: ∀ u 6= 0 ∈ V, ∃ v ∈ V tal que ω(u, v) 6= 0.

Podemos substituir a condi¸c˜ao (ii) de n˜ao-degenerescˆencia pela seguinte: (ii’) a aplica¸c˜ao V → V∗

v 7→ ω(v, ·)

´e um isomorfismo linear de V no seu espa¸co vetorial dual V∗.

Com efeito, para mostrarmos a injetividade, sejam u, v ∈ V tais que u 6= v. Por (ii), existe x∈ V tal que ω(u − v, x) 6= 0. Mas ω(u − v, x) = ω(u, x) − ω(v, x) o que nos d´a ω(u,·) 6= ω(v, ·). Agora, como dim V = dim V∗ e a aplica¸c˜ao ´e injetiva, temos a

sobre-jetividade, pois V tem dimens˜ao finita. Reciprocamente, suponha que exista v 6= 0 ∈ V tal que ω(v, u) = 0 para todo u ∈ V . Logo, ω(v, ·) = 0 ∈ V∗ e, pela injetividade da

aplica¸c˜ao, v = 0. Portanto, ω ´e n˜ao-degenerada.

Exemplo. O espa¸co vetorial simpl´etico padr˜ao (R2n, ω

0) com ω0(u, v) = hJu, vi para

todos u, v ∈ R2n, onde h·, ·i denota o produto interno Euclidiano em R2n e a matriz

2n× 2n J ´e definida por

J =  0 Id −Id 0  , (1.1)

(12)

Sejam x, y ∈ Rn, u = (x, y)∈ R2n. J(x, y) =  0 Id −Id 0   x y  = (y,−x)

Note que J pode ser vista como uma rota¸c˜ao hor´aria de π/2, det J 6= 0 e J ´e um operador ortogonal (suas colunas formam um conjunto ortonormal em R2n, no caso). Portanto,

J∗ = JT =−J = J−1. Com isso, obtemos que ω

0 ´e n˜ao-degenerada e anti-sim´etrica. De

fato, para vermos a n˜ao-degenerescˆencia, consideremos u6= 0 ∈ R2n, e tomemos v = Ju.

Assim, ω0(u, v) = hJu, Jui = hu, JTJui = hu, ui = kuk2 6= 0. A anti-simetria segue de

ω0(u, v) =hJu, vi = hu, −Jvi = −hu, Jvi = −hJv, ui = −ω0(v, u). Al´em disso, J2 =−1

e ω0(u, Jv) = hJu, Jvi = hu, JTJvi = hu, vi, o que mostra que J ´e uma estrutura

com-plexa em R2n compat´ıvel com o produto interno Euclidiano. Podemos, assim, identificar

R2n com Cn levando z = (x, y)∈ Rn× Rn em x + iy ∈ Cn, onde J corresponde `a multi-plica¸c˜ao por −i em C.

Uma quest˜ao que pode nos ocorrer ´e se a restri¸c˜ao de uma forma simpl´etica ´e simpl´etica. Para responder a esta pergunta, vamos a algumas defini¸c˜oes.

Defini¸c˜ao 1.2 Dizemos que v ´e ortogonal a u se ω(v, u) = 0. Se E ´e um subespa¸co linear de V , definimos o seu ortogonal simpl´etico por

E⊥ ={u ∈ V | ω(v, u) = 0 ∀ v ∈ E}. Podemos ver que E⊥ ´e um subespa¸co linear, pois

(i) ω(v, 0) = 0∀ v ∈ E ⇒ 0 ∈ E;

(ii) dados u1, u2 ∈ E⊥ e α ∈ R, ω(v, u1+ αu2) = ω(v, u1) + αω(v, u2) = 0 + α· 0 = 0

para todo v∈ E. Logo, u1+ αu2 ∈ E⊥.

Observamos que dim E + dim E⊥ = dim V e (E)= E.

Uma diferen¸ca entre a geometria simpl´etica e a Euclidiana ´e que E e E⊥ n˜ao s˜ao

ne-cessariamente complementares. Por exemplo, todo vetor v ∈ V ´e ortogonal a si mesmo, pois ω(v, v) =−ω(v, v). Ent˜ao, se dim E = 1, E ⊂ E⊥.

´

E interessante notar que se restringirmos a forma bilinear ω a um subespa¸co linear E ⊂ V , ela continuar´a sendo anti-sim´etrica, mas, em geral, deixa de ser n˜ao-degenerada. Isto ocorre pois a aplica¸c˜ao V → V

v 7→ ω(v, ·)

deixa de ser injetiva quando E ⊂ E. A

forma ω continuar´a n˜ao-degenerada se, e somente se,

E∩ E⊥={0}. (1.2)

De fato, seja u ∈ E ∩ E⊥. Logo, ω(v, u) = 0 para todo v ∈ E, pois u ∈ E, o que,

(13)

ω degenerada, isto ´e, existe u 6= 0 ∈ E tal que, para todo v ∈ E, ω(u, v) = 0. Assim, u∈ E, o que n˜ao ´e poss´ıvel pois E∩ E={0}.

Mas E∩E⊥ ={0} se, e somente se, E e Es˜ao complementares, ou seja, V = E⊕E,

j´a que dim E + dim E⊥ = dim V implica que a soma direta ´e o espa¸co todo.

Vemos ent˜ao que (E, ω) ´e um espa¸co vetorial simpl´etico se 1.2 ´e satisfeito e dizemos que E ´e um subespa¸co simpl´etico. Da simetria de 1.2 em E e E⊥, obtemos que E ´e simpl´etico se, e somente se, E⊥ ´e simpl´etico.

Vamos mostrar agora que todo espa¸co simpl´etico ´e equivalente ao espa¸co padr˜ao (R2n, ω

0). Isto vem do fato da estrutura simpl´etica estar relacionada com a estrutura

complexa.

Proposi¸c˜ao 1.1 Seja (V, ω) um espa¸co vetorial simpl´etico. Ent˜ao existe n ∈ N e uma base e1, . . . , en, f1, . . . , fn de V satisfazendo, para i, j = 1, 2, . . . , n,

• ω(ei, ej) = 0;

• ω(fi, fj) = 0;

• ω(fi, ej) = 1, se i = j

0, se i6= j

Tal base ´e dita simpl´etica. Em particular, V possui dimens˜ao par.

Considerando o espa¸co vetorial padr˜ao (R2n, ω

0) e representando u, v ∈ R2n, nesta base, por u = n X i=1 (xiei+ xn+ifi) e v = n X j=1 (yjej + yn+jfj) , vemos que ω(u, v) = ω n X i=1 (xiei+ xn+ifi) , n X j=1 (yjej + yn+jfj) ! = X i,j xiyjω(ei, ej) + X i,j xiyn+jω(ei, fj) + X i,j xn+iyjω(fi, ej) + X i,j xn+iyn+jω(fi, fj) = n X i=1 (−xiyn+i+ xn+iyi) = hJx, yi,

onde J ´e a matriz definida em 1.1.

Os subespa¸cos Vj = span{ej, fj} s˜ao simpl´eticos e ortogonais entre si, o que nos d´a

(14)

bidimensionais. Em outras palavras, um espa¸co vetorial simpl´etico pode ser decomposto em planos simpl´eticos. Com respeito `a esta decomposi¸c˜ao, a forma bilinear ω ´e, em coordenadas simpl´eticas, representada pela matriz

            0 Id −Id 0   0 Id −Id 0  . ..  0 Id −Id 0             Prova da proposi¸c˜ao 1.1.

Escolhemos um vetor qualquer e1 6= 0 em V . Como ω ´e n˜ao-degenerada, existe u ∈ V

tal que ω(u, e1) = α 6= 0. Definimos f1 := u/α. Da´ı, ω(f1, e1) =

ω(u, e1)

α =

α α = 1. Usando a anti-simetria, vemos que f1 e e1 s˜ao linearmente independentes. De fato, seja

af1+ be1 = 0, com a, b∈ R, ent˜ao

0 = ω(f1, af1+ be1) = aω(f1, f1) + bω(f1, e1) = b, e

0 = ω(e1, af1+ be1) = aω(e1, f1) + bω(e1, e1) =−a.

Logo, a = b = 0, mostrando que o espa¸co V possui, no m´ınimo, duas dimens˜oes. E1 := span{e1, f1} ´e um subespa¸co vetorial bidimensional simpl´etico de V . Se

dim V = 2, terminamos a prova. Se dim V > 2, e como V = E1⊕ E1⊥, ent˜ao escolhemos

um vetor e2 6= 0 em E1⊥. Sendo ω n˜ao-degenerada, existe f2 ∈ E1⊥ tal que ω(f2, e2) = 1,

pois se f2 estivesse em E1, anularia ω. De maneira an´aloga ao passo anterior, mostramos

que e2 e f2 s˜ao linearmente independentes e definimos E2 := span{e2, f2}. Se dim V = 4,

acabou. Caso contr´ario, aplicamos o mesmo argumento ao complementar simpl´etico E⊥ 2

de E2 e achamos a base procurada com um n´umero finito de passos. 

Veremos agora aplica¸c˜oes lineares que deixam a forma simpl´etica invariante.

Defini¸c˜ao 1.3 Uma aplica¸c˜ao linear A : V → V de um espa¸co vetorial simpl´etico (V, ω) ´e dita simpl´etica se A∗ω = ω, onde A´e o pull-back de A, dado por Aω(u, v) = ω(Au, Av).

No caso do espa¸co padr˜ao (R2n, ω

0), uma matriz A ´e simpl´etica se, e somente se,

hJAu, Avi = hJu, vi, para todos u, v ∈ R2n. Com efeito, hJAu, Avi = ω

0(Au, Av) =

A∗ω

0(u, v) = ω0(u, v) =hJu, vi. Reciprocamente, A∗ω0(u, v) = ω0(Au, Av) =hJAu, Avi =

hJu, vi = ω0(u, v).

Ou ainda,

(15)

pois hJu, vi = hJAu, Avi = hATJAu, vi.

Em R2, isto ´e equivalente a det A = 1, pois ω

0 ´e uma forma volume. Em dimens˜ao

maior, 1.3 implica que det A = 1, o que mostra que matrizes simpl´eticas em R2n

preser-vam volume. Para isso, lembremos um pouco de formas diferenciais. Consideremos as coordenadas z = (z1, . . . , z2n)∈ R2n. Ent˜ao, a forma bilinear dzi∧ dzj em R2n ´e definida

por

(dzi∧ dzj)(u, v) = uivj− ujvi,

para todos u, v∈ R2n. Fazendo z = (x, y)∈ R2n, podemos representar ω

0 como ω0 = n X i=1 dyi∧ dxi

Ent˜ao a forma volume em R2n ´e

Ω = ω0∧ . . . ∧ ω0 = c dx1∧ . . . ∧ dxn∧ dy1∧ . . . ∧ dyn

com c6= 0 constante. Se A ´e uma matriz em R2n, ent˜ao

A∗Ω = (det A)Ω.

Como estamos supondo que a transforma¸c˜ao, cuja matriz ´e A, ´e simpl´etica, temos que A∗ω

0 = ω0, o que implica que

A∗Ω = A 0∧ . . . ∧ ω0) = A∗ω 0 ∧ . . . ∧ A∗ω0 = ω0∧ . . . ∧ ω0 = Ω Ent˜ao Ω = A∗Ω = (det A)Ω,

Logo, det A = 1. Mas nem toda matriz que preserva volume ´e simpl´etica, pois se uma matriz A preserva a forma volume Ω, ela nem sempre preserva uma forma menor. ´E neste fato que se nota a diferen¸ca entre transforma¸c˜oes que preservam volume e as que preservam a forma simpl´etica. Veremos isso melhor no pr´oximo cap´ıtulo.

Defini¸c˜ao 1.4 Sejam (V1, ω1) e (V2, ω2) dois espa¸cos vetoriais simpl´eticos. Dizemos que

uma aplica¸c˜ao linear A : V1 → V2 ´e simpl´etica se A∗ω2 = ω1, onde (A∗ω2)(u, v) =

ω2(Au, Av),∀ u, v ∈ V1.

Proposi¸c˜ao 1.2 Se (V1, ω1) e (V2, ω2) s˜ao dois espa¸cos simpl´eticos de mesma dimens˜ao,

ent˜ao existe um isomorfismo linear A : V1 → V2 tal que A∗ω2 = ω1. Isto quer dizer que

todo espa¸co vetorial simpl´etico de mesma dimens˜ao ´e equivalente, ou seja, a dimens˜ao ´e o ´unico invariante simpl´etico da estrutura linear simpl´etica.

(16)

Prova.

Se dim V1 = dim V2, ent˜ao, pela observa¸c˜ao acima, A ´e injetiva, e V1 e V2 tendo a mesma

dimens˜ao, faz A sobrejetiva. Pela Proposi¸c˜ao 1.1, escolhemos as bases simpl´eticas (ei, fi),

em (V1, ω1), e (ˆei, ˆfi), em (V2, ω2). Definimos ent˜ao a aplica¸c˜ao linear A : V1 → V2 por

Aei = ˆei e Afi = ˆfi, para 1≤ i ≤ n. Para vermos que esta aplica¸c˜ao ´e simpl´etica, basta

verificarmos para os elementos da base. Assim, A∗ω 2(ei, ej) = ω2(Aei, Aej) = ω2(ˆei, ˆej) = 0 = ω1(ei, ej); A∗ω2(fi, fj) = ω2(Afi, Afj) = ω2( ˆfi, ˆfj) = 0 = ω1(fi, fj) e A∗ω2(ei, fj) = ω2(Aei, Afj) = ω2(ˆei, ˆfj) =  1 , se i = j 0 , se i6= j = ω1(ei, fj). Portanto, A∗ω 2 = ω1. 

Conclu´ımos, com base nesta proposi¸c˜ao, que todos os espa¸cos vetoriais simpl´eticos de dimens˜ao 2n fixada s˜ao isomorfos `a (R2n, ω

0), pois sempre podemos escolher e1 e ˆe1 na

constru¸c˜ao da base simpl´etica. O mesmo ocorre no conjunto de subespa¸cos simpl´eticos de R2n de mesma dimens˜ao. Basta apenas completar a base simpl´etica adicionando uma base simpl´etica do seu complementar como na demonstra¸c˜ao da Proposi¸c˜ao 1.1.

At´e aqui tratamos de aplica¸c˜oes lineares simpl´eticas. Agora, estenderemos essa no¸c˜ao para aplica¸c˜oes n˜ao-lineares no espa¸co simpl´etico (R2n, ω

0) e introduziremos os chamados

campos vetoriais Hamiltonianos.

Defini¸c˜ao 1.5 Um difeomorfismo ϕ : R2n → R2n ´e dito simpl´etico (ou um

simplecto-morfismo) se

ϕ∗ω0 = ω0,

onde o pull-back de uma 2-forma ω ´e dado por (ϕ∗ω)

x(a, b) = ωϕ(x)(ϕ′(x)a, ϕ′(x)b), para

x ∈ R2n e para todos a, b ∈ T

xR2n = R2n, onde ϕ′(x) ´e a derivada de ϕ no ponto x

representada pela matriz Jacobiana.

Pela defini¸c˜ao de ω0 e por 1.3, um difeomorfismo simpl´etico em (R2n, ω0) ´e

caracteri-zado pela identidade

ϕ′(x)TJϕ′(x) = J, x∈ R2n.

Portanto, ϕ′(x) ´e uma matriz simpl´etica e

det ϕ′(x) = 1,

donde conclu´ımos que difeomorfismos simpl´eticos preservam volume.

Como vimos anteriormente, se n = 1, os difeomorfismos simpl´eticos s˜ao aqueles que preservam volume. Mas para n > 1, a classe de difeomorfismos simpl´eticos ´e mais restrita

(17)

que a daqueles que preservam volume. Al´em do volume, existem outros invariantes simpl´eticos como a capacidade simpl´etica que ´e o assunto do pr´oximo cap´ıtulo.

Para exemplos de difeomorfismos simpl´eticos, ´e necess´ario introduzirmos o conceito de campos vetoriais Hamiltonianos.

Dada a forma simpl´etica ω0 e uma fun¸c˜ao suave H : R2n → R, associamos o campo

vetorial XH em R2n tal que

ω0(XH(x), a) =−dH(x) · a, ∀ a ∈ R2n e x∈ R2n (1.4)

Como ω0 ´e n˜ao-degenerada, XH ´e unicamente determinado. De fato, suponha que

existam dois campos XH e YH tais que ω0(XH(x), a) = −dH(x) · a = ω0(YH(x), a), logo

ω0(XH(x)− YH(x), a) = 0, para todo a ∈ R2n. Assim, XH(x)− YH(x) = 0.

Defini¸c˜ao 1.6 O campo XH em 1.4 ´e dito campo vetorial Hamiltoniano com fun¸c˜ao

Hamiltoniana H.

Pela defini¸c˜ao de ω0, temoshJXH(x), ai = ω0(XH(x), a) =−dH(x)·a = −h∇H(x), ai,

onde o gradiente de H ´e definido com respeito ao produto interno Euclidiano. Logo, JXH(x) =−∇H(x) e como J2 =−1,

XH(x) = J∇H(x), x ∈ R2n. (1.5)

O campo Hamiltoniano ´e formado de modo an´alogo ao gradiente de uma fun¸c˜ao na geometria Riemanniana, mas a anti-simetria da forma simpl´etica traz propriedades con-servativas do campo Hamiltoniano, enquanto a simetria da m´etrica Riemanniana fornece propriedades dissipativas para o gradiente. Por esse motivo, o campo Hamiltoniano ´e conhecido tamb´em como gradiente simpl´etico.

Defini¸c˜ao 1.7 Chamamos de fluxo de um campo vetorial X uma fam´ılia ϕt: R2n→ R2n

a um parˆametro gerado por X que satisfaz o problema de valor inicial de Cauchy    d dtϕ t(x) = X(ϕt(x)) ϕ0(x) = x, x ∈ R2n

Se considerarmos o campo vetorial X como sendo o campo Hamiltoniano XH visto

em 1.4, determinado por ω0 e H, temos que o fluxo preserva a forma simpl´etica ω0, isto

´e,

ϕt∗

ω0 = ω0,

ou seja, ´e uma aplica¸c˜ao simpl´etica.

Veremos a demonstra¸c˜ao deste fato um pouco mais a frente de forma mais geral du-rante a demonstra¸c˜ao do Teorema de Darboux.

O fluxo ϕt do campo vetorial Hamiltoniano X

H deixa a fun¸c˜ao H invariante, ou seja,

(18)

para todo t para o qual o fluxo est´a definido. Com efeito, derivando 1.6 e usando a defini¸c˜ao de fluxo, temos que

d dtH(ϕ

t) = dH(ϕt)

· dtdϕt = dH(ϕt)· XH(ϕt) =−ω0(XH, XH)◦ (ϕt)

que se anula, pois ω0 ´e anti-sim´etrica. Agora, veremos a f´ormula de transla¸c˜ao para

campos vetoriais X em R2n, e, com isso, mostraremos que uma transforma¸c˜ao simpl´etica

preserva a classe de campos Hamiltonianos, ou seja, um campo Hamiltoniano continua a ser Hamiltoniano por uma transforma¸c˜ao simpl´etica.

Sejam x(t) uma solu¸c˜ao da equa¸c˜ao diferencial x′ = X(x), x∈ Rm,

e u : Rm → Rm um difeomorfismo. Definimos a curva y(t) por

x(t) = u (y(t)) . Diferenciando esta equa¸c˜ao, obtemos

X (u (y(t))) = X(x) = x′(t) = du (y(t))· y′(t),

logo

y′ = du (y)−1· X ◦ u(y), y ∈ Rm. Definiremos esse campo transformado por u∗X, isto ´e,

u∗X := (du)−1· X ◦ u.

Conclu´ımos que os fluxos ϕt de X e ψt de uX s˜ao conjugados pelo difeomorfismo u,

isto ´e,

ϕt◦ u = u ◦ ψt.

Com efeito, vamos mostrar que o fluxo u◦ ψt◦ u−1(q) satisfaz

d dtϕ t(x) = X(ϕt(x)). Derivando u◦ ψt◦ u−1(q), obtemos d dtu◦ ψ t(u−1(q)) = du◦ ψt(u−1(q))·dψt dt (u −1(q)) = du◦ ψt(u−1(q))· uX(ψt(u−1(q))) = X◦ u(ψt(u−1(q))),

onde, na segunda igualdade, usamos a defini¸c˜ao do fluxo ψt e, na terceira, a defini¸c˜ao de

campo tranformado. Agora que j´a temos a f´ormula de transla¸c˜ao para campos vetoriais, queremos ver como ela funciona com campos Hamiltonianos. Se um campo Hamiltoniano

(19)

XH em R2n estiver sujeito a uma transforma¸c˜ao arbitr´aria, ele n˜ao ter´a a forma vista em

1.5. Mas, se u for uma transforma¸c˜ao simpl´etica, teremos, u∗XH = XK e K = H◦ u.

De fato, definimos K = H ◦ u. Pela regra da cadeia,

dK = dH(u)· du = h∇H(u), dui = h(du)T∇H(u), ·i. Ent˜ao, ∇K = (du)T∇H(u), pois dK = h∇K, ·i.

Como u ´e uma transforma¸c˜ao simpl´etica, du ´e uma aplica¸c˜ao simpl´etica em todo ponto e, portanto, (du)T tamb´em ´e. Ent˜ao du· J · (du)T = J e, usando 1.5, temos

XK = J∇K = J(du)T∇H(u) = (du)−1J∇H(u) = (du)−1XH(u) = u∗XH.

Acabamos de mostrar que tranforma¸c˜oes simpl´eticas preservam a base de campos Hamiltonianos, ou seja, os campos Hamiltonianos s˜ao invariantes simpl´eticos. Veremos agora como isto funciona numa variedade simpl´etica. Come¸caremos estendendo a forma simpl´etica ω0, de R2n, para variedades.

Seja ω uma 2-forma numa variedade M, ou seja, para cada x ∈ M, a aplica¸c˜ao ωx : TxM × TxM → R ´e bilinear e anti-sim´etrica no espa¸co tangente a M em x, e ωx

varia suavemente em x.

Defini¸c˜ao 1.8 A 2-forma ω ´e simpl´etica se (i) ω ´e fechada: dω = 0;

(ii) ω ´e n˜ao-degenerada: Em todo espa¸co tangente TxM, se ωx(u, v) = 0∀ v ∈ TxM,

ent˜ao u = 0.

A forma ω tamb´em ´e chamada de estrutura simpl´etica.

Pela defini¸c˜ao, vemos que se ω ´e simpl´etica em M, ωx´e simpl´etica em TxM para todo

x ∈ M. Al´em disso, todo espa¸co tangente TxM ´e um espa¸co vetorial simpl´etico com

respeito `a forma bilinear anti-sim´etrica e n˜ao-degenerada ωx, em x. Ent˜ao, todo espa¸co

tangente de M tem dimens˜ao par, e portanto, M tamb´em, pois dimM = dim TxM.

Defini¸c˜ao 1.9 Uma variedade simpl´etica ´e um par (M, ω), onde M ´e uma variedade e ω ´e uma forma simpl´etica.

Voltando ao exemplo do espa¸co simpl´etico padr˜ao (R2n, ω

0), temos, por constru¸c˜ao,

que ω0 ´e n˜ao-degenerada e, sendo constante, ´e fechada. Logo (R2n, ω0) ´e uma variedade

simpl´etica.

Veremos agora que o fato de ω ser fechada implica que toda variedade simpl´etica se parece, localmente, com (R2n, ω

0), ou seja, sempre existem coordenadas locais onde a

(20)

Teorema 1.1 (Darboux) Seja ω uma forma n˜ao-degenerada numa variedade de di-mens˜ao 2n. Ent˜ao dω = 0 se, e somente se, em cada ponto p∈ M, existem coordenadas locais (U, ϕ) onde ϕ : (x1, . . . , xn, y1, . . . , yn)→ q ∈ U ⊂ M satisfaz ϕ(0) = p e

ϕ∗ω = ω0 = n

X

i=1

dyi∧ dxi

Tais coordenadas s˜ao chamadas coordenadas simpl´eticas ou coordenadas de Darboux. Este teorema nos fornece uma outra defini¸c˜ao de variedade simpl´etica: Uma varie-dade de dimens˜ao 2n para a qual existem coordenadas locais ϕi levando conjuntos abertos

Ui ⊂ M, sobrejetivamente, em abertos do espa¸co simpl´etico fixado (R2n, ω0), tais que a

mudan¸ca de coordenadas ϕj◦ ϕ−1i definida em ϕi(Ui∩ Uj) s˜ao simplectomorfismos locais

em (R2n, ω 0).

Prova do Teorema de Darboux. (⇐) Como ϕ∗ω = ω

0, temos que

0 = dω0 = d(ϕ∗ω) = ϕ∗(dω),

donde conclu´ımos que ω ´e fechada.

(⇒) Escolhendo um sistema de coordenadas locais arbitr´ario, podemos supor que ω ´e uma 2-forma em R2n dependente de z ∈ R2n e que p corresponde a z = 0. Al´em disso,

fazendo uma mudan¸ca de coordenadas linear, podemos escrever ω na forma normal na origem, isto ´e,

ω(0) =

n

X

i=1

dyi∧ dxi, em z = 0.

Isto ´e o mesmo que a proposi¸c˜ao 1.1. Denotamos por ω0a forma constante n

X

i=1

dyi∧ dxi

em R2n. Queremos mostrar que existe um difeomorfismo ϕ numa vizinhan¸ca de 0 que

deixa a origem fixa e satisfaz ϕ∗ω = ω

0. Para isso, usamos um m´etodo desenvolvido por

Moser chamado m´etodo de deforma¸c˜ao. Come¸camos definindo uma fam´ılia de formas ωt= ω0+ t(ω− ω0), 0≤ t ≤ 1,

tal que ωt = ω0 para t = 0 e ω1 = ω. Se acharmos uma fam´ılia ϕt de difeomorfismos

satisfazendo ϕ0 = id e

(ϕt)∗ωt= ω0, 0≤ t ≤ 1, (1.7)

temos que ϕt para t = 1 ´e o difeomorfismo ϕ que estamos procurando. Construiremos

um campo vetorial Xt, que depende de t, gerando ϕt como seu fluxo. Diferenciando 1.7,

tal campo Xt deve satisfazer a identidade

0 = d dt ϕ t∗ ωt= ϕt ∗  LXtωt+ d dtωt  = ϕt∗ (LXtωt+ ω− ω0) ,

(21)

onde LY ´e a derivada de Lie do campo Y . Pela f´ormula de Cartan,

LX = iX ◦ d + d ◦ iX,

onde i ´e uma contra¸c˜ao, temos que

0 = (ϕt)∗{d(iXtωt) + ω− ω0},

pois dωt= 0.

Ent˜ao Xt satisfaz a equa¸c˜ao linear

d(iXtωt) + ω− ω0 = 0. (1.8)

Como ω− ω0´e fechada, pelo Lema de Poincar´e [4], ´e localmente exata, ou seja, existe

uma 1-forma λ tal que

ω− ω0 = dλ e λ(0) = 0.

Logo, d(iXtωt)+ω−ω0 = d(iXtωt+λ) = 0. Visto que ωt(0) = ω0(0)+t(ω(0)−ω0(0)) =

ω0, pois ω = ω0 em z = 0, e ω0´e constante, temos que as 2-formas ωts˜ao n˜ao-degeneradas

para 0 ≤ t ≤ 1 numa vizinhan¸ca da origem. Portanto, existe um ´unico campo vetorial Xt determinado por

iXtωt= ωt(Xt,·) = −λ,

para 0 ≤ t ≤ 1 e este satisfaz 1.8. Fazendo λ(0) = 0 e dado que ωt(0) = ω0 s˜ao

n˜ao-degeneradas, temos que Xt(0) = 0 e existe uma vizinhan¸ca aberta da origem na qual o

fluxo ϕt de X

t existe para todo 0≤ t ≤ 1. Como o campo Xt se anula na origem, o fluxo

tem um ponto fixo em z = 0, pois este fluxo satisfaz ϕ0 = id e

dϕt dt (z) = Xt(ϕ t(z)). Assim, dϕ t dt (z) = Xt(ϕ

t(z)) = 0 e ϕt(z) = 0. Isso nos d´a que o fluxo ϕt n˜ao depende

de t, logo, 0 = ϕt(z) = ϕ0(z) = z. Ent˜ao ϕt(0) = 0. Por constru¸c˜ao, esta fam´ılia ϕt de

difeomorfismos satisfaz d dt(ϕ t)ω t(0) = 0, 0≤ t ≤ 1, Portanto, (ϕt)= (ϕ0)ω 0 = ω0 para todo 0≤ t ≤ 1. 

Com base nesse resultado, conclu´ımos que variedades simpl´eticas de mesma dimens˜ao s˜ao localmente equivalentes, isto ´e, a dimens˜ao ´e o ´unico invariante simpl´etico local. Isso ´e bem diferente da geometria Riemanniana onde existem v´arios invariantes locais, por exemplo, a curvatura Gaussiana. Isto ocorre pois, em geral, duas m´etricas n˜ao s˜ao lo-calmente isom´etricas. Outra diferen¸ca entre essas duas geometrias ´e que toda variedade M possui uma estrutura Riemanniana, mas nem toda variedade de dimens˜ao par admite uma estrutura simpl´etica, como no caso da esfera S2n, se n ≥ 2. Isto vem do fato do

grupo de cohomologia de de Rham H2(S2n) se anular para n > 1.

Veremos agora o an´alogo de aplica¸c˜oes simpl´eticas em (R2n, ω

(22)

Defini¸c˜ao 1.10 Sejam (M1, ω1) e (M2, ω2) duas variedades simpl´eticas. Dizemos que

uma aplica¸c˜ao diferenci´avel f : M1 → M2 ´e simpl´etica se

f∗ω2 = ω1,

onde o pull-back de uma 2-forma ´e dado por

f∗ωx(u, v) = ωf (x)(df (x)u, df (x)v)

para todo u, v∈ TxM.

Como ω1 ´e n˜ao-degenerada, a aplica¸c˜ao tangente df (x) deve ser injetiva em todo

ponto, pois dado u ∈ TxM tal que df (x)u = 0, temos que (ω1)x(u,·) = (f∗ω2)x(u,·) =

(ω2)f (x)(df (x)u, df (x)·) = 0. Logo, u = 0. Ent˜ao, dim M1 ≤ dim M2. Se dim M1 =

dim M2, f ´e um difeomorfismo local. No caso de f levar uma variedade simpl´etica (M, ω)

em si mesma, a condi¸c˜ao para f ser simpl´etica se torna f∗ω = ω,

ou seja, f preserva a estrutura simpl´etica. Expressa nas coordenadas simpl´eticas lo-cais, definidas pelo Teorema de Darboux, esta condi¸c˜ao corresponde `a condi¸c˜ao para aplica¸c˜oes simpl´eticas em (R2n, ω

0), isto ´e, df (x)TJdf (x) = J. Como vimos antes, a

n˜ao-degenerescˆencia da estrutura simpl´etica define um isomorfismo X 7→ ω(X, ·) entre campos vetoriais X e 1-formas em M. Ent˜ao, dada uma fun¸c˜ao diferenci´avel

H : M → R,

temos a 1-forma dH que, junto com ω, determina o campo vetorial XH por

(iXHω)(x) = ω(XH,·) = −dH(x), x ∈ M. (1.9)

Defini¸c˜ao 1.11 O campo vetorial XH ´e chamado campo vetorial Hamiltoniano referente

`a fun¸c˜ao Hamiltoniana H.

Pela f´ormula de Cartan, LX = diX+ iXd, e sabendo que dω = 0 e d2H = 0, obtemos

LXHω = 0,

donde conclu´ımos que as aplica¸c˜oes ϕt do fluxo de um campo Hamiltoniano X

H deixam

a forma simpl´etica invariante, pois d dt(ϕ

t)ω = (ϕt)L

XHω = 0.

E, como (ϕ0)ω = ω, temos que

(ϕt)∗ω = ω,

ou seja, ϕt ´e simpl´etico. Agora veremos que o conjunto dos campos Hamiltonianos s˜ao

(23)

Proposi¸c˜ao 1.3 Se u : M → M ´e simpl´etica, ent˜ao para toda fun¸c˜ao H : M → R u∗XH = XK e K = H◦ u.

Prova.

Pela defini¸c˜ao de campo Hamiltoniano,

iXKω = iXH ◦uω = −d(H ◦ u) = −u(dH) = u∗(i XHω) = iu∗XH(u∗ω) = iu∗X

e, como ω ´e n˜ao-degenerada, XH◦u = u∗XH. 

A estrutura simpl´etica nos fornece uma estrutura quase complexa como vemos a seguir.

Proposi¸c˜ao 1.4 Se (M, ω) ´e uma variedade simpl´etica, ent˜ao existe uma estrutura quase complexa J, em M, e uma m´etrica Riemanianna h·, ·i, em M, tal que

ωx(v, Ju) =hv, uix

para v, u∈ TxM.

Da simetria da forma bilinear h·, ·i temos

ωx(Jv, Ju) = ωx(v, u),

isto ´e, J ´e uma aplica¸c˜ao simpl´etica do espa¸co simpl´etico (TxM, ωx). Al´em disso, J∗ =

J−1 =−J, onde J´e a adjunta de J.

Prova da proposi¸c˜ao 1.4.

Seja g uma m´etrica Riemanianna qualquer de M. Fixado x∈ M, vamos construir J = Jx

em TxM a partir desta m´etrica g. Todas estas constru¸c˜oes depender˜ao suavemente de x,

pois g depende suavemente de x. Para facilitar a nota¸c˜ao, n˜ao indicaremos a dependˆencia de x. Como ω ´e n˜ao-degenerada, existe um ´unico isomorfismo linear A : TxM → TxM

tal que

ω(u, v) = g(Au, v); u, v∈ TxM.

Com efeito, suponha que existe outro isomorfismo linear B tal que ω(u, v) = g(Bu, v).

Ent˜ao 0 = g(Au− Bu, v) = g(A(u − A−1Bu), v) = ω(u− A−1Bu, v). Sendo v e u

arbitr´arios, temos Id− A−1B = 0. Logo A = B. Da anti-simetria de ω, obtemos

(24)

onde A∗ ´e a aplica¸c˜ao g-adjunta de A. Assim, A= −A e AA = AA= −A2 ´e uma

aplica¸c˜ao positivamente definida g-auto-adjunta. Chamamos Q =√−A2 a raiz quadrada

positiva de −A2 e definimos

J = AQ−1.

Como A e A∗ comutam, A ´e um operador normal e, portanto, A e Q−1 comutam.

Segue que

J2 = AQ−1AQ−1 = A2(Q−1)2 = A2(Q2)−1 = A2(−A2)−1 =−Id.

Acabamos de mostrar que J ´e uma estrutura complexa no espa¸co tangente de M to-mando um isomorfismo A, que relaciona a forma simpl´etica e uma m´etrica Riemanianna. Para construir a m´etrica desejada, usaremos este isomorfismo e a m´etrica g.

ω(u, Jv) = g(Au, Jv) = g(u, A∗Jv) = g(u,−A · AQ−1v) = g(u,−A2Q−1v) = g(u, Q2Q−1v) = g(u, Qv) = g(Q∗u, v) = g(Qu, v),

pois Q ´e g-auto-adjunto. Sendo Q sim´etrica e positivamente definida, conclu´ımos que hu, vi := g(Qu, v)

define a m´etrica desejada, faltando apenas mostrar a sua simetria. hu, vi = ω(u, Jv) = −ω(Jv, u) = −ω(v, J∗u) = −ω(v, (AQ−1)u) = −ω(v, (Q−1)Au) = −ω(v, −Q−1Au) = ω(v, AQ−1u) = ω(v, Ju) = hv, ui  Vimos, no caso do espa¸co simpl´etico padr˜ao, que a forma simpl´etica foi constru´ıda a partir da estrutura complexa. Aqui t´ınhamos a variedade simpl´etica e mostramos que ela admite estrutura quase-complexa compat´ıvel com a forma simpl´etica ω. Tal estrutura quase-complexa generaliza a estrutura complexa de (R2n, ω

0). Se ∇H ´e o gradiente

de uma fun¸c˜ao H, com respeito a m´etrica Riemanianna h·, ·i desta proposi¸c˜ao, isto ´e, h∇H(x), vi = dH(x)v para todo v ∈ TxM, achamos uma representa¸c˜ao para o campo

Hamiltoniano XH dada por

(25)

usando que J2 =−1, o que ´e equivalente a representa¸c˜ao de X

H em (R2n, ω0).

1.2

Espa¸cos de Hilbert

Veremos aqui os espa¸cos de Hilbert Hs, s ≥ 0 e algumas de suas propriedades b´asicas

que ser˜ao utilizadas na demonstra¸c˜ao da existˆencia de uma capacidade simpl´etica. Defini¸c˜ao 1.12 Quando um espa¸co normado ´e completo com a m´etrica induzida pela norma, dizemos que ´e um espa¸co de Banach.

Defini¸c˜ao 1.13 Um espa¸co de Hilbert ´e um espa¸co de Banach cuja norma vem de um produto interno.

Um exemplo de espa¸co de Hilbert ´e o espa¸co L2(S1, R2n) das fun¸c˜oes x : S1 → R2n

quadrado integr´aveis.

Consideremos agora os subespa¸cos Hs, s≥ 0 de L2. Seja

Hs = Hs(S1) = ( x∈ L2(S1)|X i∈Z |i|2s|x i|2 <∞ ) , (1.10)

onde s≥ 0 e x ´e dado por sua s´erie de Fourier

x(t) =X i∈Z ei2πJtx i = X i∈Z xicos 2πt + Jxisen 2πt, xi ∈ R2n,

onde J ´e dado em 1.1 que converge em L2.

Os espa¸cos Hs s˜ao espa¸cos de Hilbert com produto interno e norma associados

defi-nidos por hx, yis = hx0, y0i + 2π X i∈Z |i|2shx i, yii kxk2 s = hx, xis

para x, y ∈ Hs. Observemos que a norma kxk

0 ´e equivalente a norma L2.

Vejamos agora algumas propriedades desses espa¸cos. Para t ≥ s ≥ 0, os espa¸cos decrescem,

Ht⊂ Hs⊂ H0, enquanto as normas crescem

kxkt≥ kxks ≥ kxk0 para x∈ Ht.

Com efeito, seja x ∈ Ht. Isto quer dizer que X

i∈Z

|i|2t|xi|2 <∞. Mas como t ≥ s ≥ 0,

temos que X i∈Z |i|2s|xi|2 ≤ X i∈Z |i|2t|xi|2 <∞,

(26)

logo x ∈ Hs. Para vermos que as normas s˜ao decrescentes, basta observarmos que

|i|2s ≤ |i|2t. Isto nos mostra, em particular, que a inclus˜ao I : Ht → Hs para t ≤ s ´e

cont´ınua.

Proposi¸c˜ao 1.5 Se t > s ≥ 0, ent˜ao a inclus˜ao I : Ht → Hs ´e compacta, isto ´e, leva

conjuntos limitados de Ht em subconjuntos relativamente compactos de Hs.

Lembrando que conjuntos relativamente compactos s˜ao conjuntos cujo o fecho ´e com-pacto. Se um conjunto ´e relativamente compacto, ele ´e pr´e-compacto, isto ´e, possui uma subcobertura finita por bolas de raio ε > 0. Num espa¸co completo, como ´e o caso, con-juntos pr´e-compactos s˜ao relativamente compactos.

Prova.

Consideremos o operador linear PN : Ht→ Hs definido por

PNx =

X

|i|≤N

ei2πJtxi

que corresponde ao truncamento da s´erie, tendo assim, imagem de dimens˜ao finita. Logo, PN ´e compacto e a estimativa

k(PN − I)xk2s = k X |i|>N ei2πJtx ik2s = 2π X |i|>N |i|2s|xi|2 = 2π X |i|>N |i|2(s−t)|i|2t|xi|2 ≤ N2(s−t)2π X |i|>N |i|2t|xi|2 ≤ N2(s−t)kxk2t

mostra que PN → I na norma do operador, isto ´e, a norma de L(Hs, Ht). Usaremos

isto para mostrar que I tamb´em ´e compacto. De fato, seja ε > 0 e escolhemos N t˜ao grande que kPN − Ik < ε/2 na norma do operador. Se B ´e a bola unit´aria em Ht,

ent˜ao PN(B) ⊂ Hs ´e coberto por um n´umero finito de bolas de raio ε/2 que est˜ao

centradas nos pontos y1, y2, ..., ym ∈ Hs. Portanto, se x ∈ B, achamos um yj tal que

kPN(x)− yjks< ε/2 e, junto comkPN(x)− I(x)ks< ε/2, implica que kI(x) − yjks< ε.

Logo, I(B) ´e coberto por um n´umero finito de bolas de raio ε > 0. Isto vale para todo

ε > 0 e conclu´ımos que I(B) ´e relativamente compacto em Hs. 

Proposi¸c˜ao 1.6 Seja s > 1/2. Se x ∈ Hs, ent˜ao x ∈ C(S1). Al´em disso, existe uma

constante c = cs tal que

sup

0≤t≤1|x(t)| ≤ ckxks, x∈ H s(S1)

Prova.

Vamos mostrar que a s´erie de Fourier

x =X

i

(27)

que converge em L2, tamb´em converge na norma do supremo. Basta considerarmos a estimativa X i6=0 |e2πJtxi| = X i6=0 |xi| = X i6=0 |i|−s|i|s|xi| ≤ X i6=0 1 |i|2s ! 1 2 · X i6=0 |i|2s|xi|2 ! 1 2 ≤ ckxks,

onde usamos que 2s > 1 e a desigualdade de Cauchy-Schwarz. 

Consideremos agora a inclus˜ao

j : H1/2→ L2(= H0). (1.11)

Pela proposi¸c˜ao 1.5, j ´e compacta. Definimos seu operador adjunto j∗ : L2 → H1/2

por

(j(x), y)L2 =hx, j∗(y)i1/2 (1.12)

para todos x∈ H1/2 e y ∈ L2. Veremos agora uma propriedade de j.

Proposi¸c˜ao 1.7

j∗(L2)⊂ H1 e kj∗(y)k1 ≤ kykL2.

Por esta proposi¸c˜ao, a aplica¸c˜ao j∗ fatora L2 → H1 → H1/2, logo, pela proposi¸c˜ao

1.5, j∗ ´e um operador compacto.

Prova.

Pela defini¸c˜ao do adjunto X i hxi, yii = hx0, j∗(y)0i + 2π X i |i|hxi, j∗(y)ii

para x∈ H1/2 ⊂ L2 e y ∈ L2. Temos ent˜ao que

j∗(y) = y 0+ X i6=0 1 2π|i|e i2πJty i, se y ∈ L2. Logo,kj(y)k 1 ≤ kykL2. 

Teorema 1.2 (Teorema da Proje¸c˜ao Ortogonal) Se M ´e um subespa¸co linear fe-chado de L2, ent˜ao qualquer elemento x de L2 pode ser expresso de maneira ´unica na

(28)

Para uma demonstra¸c˜ao deste teorema sugerimos [19]. Este teorema pode ser apli-cado tamb´em em subespa¸cos fechados de L2 como ´e o caso dos espa¸cos Hs.

Veremos agora o Lema Minimax que trata da existˆencia de pontos cr´ıticos de um fun-cional definido num espa¸co de Hilbert. Consideremos a fun¸c˜ao diferenci´avel f : E → R, f ∈ C1(E, R) definida num espa¸co de Hilbert E cujo produto interno ´e denotado por

h·, ·i e a norma por kxk2 =hx, xi para x ∈ E.

Podemos interpretar os pontos cr´ıticos de f como os pontos de equil´ıbrio da equa¸c˜ao gradiente

x′ =−∇f(x), x ∈ E.

Podemos supor que esta equa¸c˜ao diferencial em E possui um fluxo global ϕt, isto ´e,

podemos resolver o problema de valor inicial de Cauchy unicamente e para todo tempo t∈ R:

d dtϕ

t(x) = −∇f(ϕt(x)),

ϕ0(x) = x

para toda condi¸c˜ao inicial x ∈ E. Tal fluxo global existe, por exemplo, se existe uma constante M ≤ 0 tal que k∇f(x)−∇f(y)k ≤ Mkx−yk para todo x, y ∈ E, pelo teorema de existˆencia e unicidade de solu¸c˜oes de equa¸c˜oes diferenciais. Al´em disso, temos que f (ϕt(x)) decresce ao longo de solu¸c˜oes n˜ao-constantes ϕt(x). Com efeito,

d dsf (ϕ s(x)) = df (ϕs(x))dϕs(x) ds = df (ϕs(x))(−∇f(ϕs(x))) = −h∇f(ϕs(x)),∇f(ϕs(x))i. Em particular, f (ϕt(x))− f(x) = Z 1 0 d dsf (ϕ s(x))ds = − Z 1 0 k∇f(ϕ s(x)) k2ds ≤ 0. (1.13)

Defini¸c˜ao 1.14 Dizemos que f satisfaz a condi¸c˜ao de Palais-Smale (P.S.) se toda seq¨uˆencia xi ∈ E, satisfazendo

∇f(xi)→ 0, em E, e |f(xi)| ≤ c < ∞

para algum c≥ 0, possui uma subseq¨uˆencia convergente.

Uma vez que supomos f ∈ C1, o limite desta subseq¨uˆencia ´e um ponto cr´ıtico de f .

Defini¸c˜ao 1.15 Se F ´e uma fam´ılia de subconjuntos F ⊂ E, definimos o minimax c(f,F) referente a f e F por

c(f,F) = inf

(29)

Com isso podemos enunciar o lema.

Lema 1.1 (Minimax) Sejam f ∈ C1(E, R) e F uma fam´ılia de subconjuntos de E tais

que

(i) f satisfaz Palais-Smale;

(ii) x′ =−∇f(x) define um fluxo global ϕt(x);

(iii) A fam´ıliaF ´e positivamente invariante pelo fluxo, isto ´e, se F ∈ F, ent˜ao ϕt(F )

F para todo t ≥ 0; (iv) −∞ < c(f, F) < ∞.

Ent˜ao o n´umero real c(f,F) ´e um valor cr´ıtico de f, ou seja, existe ¯x ∈ E tal que ∇f(¯x) = 0 e f(¯x) = c(f, F).

Prova.

Abreviando c = c(f,F) que, por hip´otese, ´e um n´umero real, devemos mostrar que para todo ε > 0, existe x∈ E tal que

k∇f(x)k ≤ ε e c − ε ≤ f(x) ≤ c + ε.

O que faremos ´e, escolhendo εi = 1/i, encontrar uma seq¨uˆencia xi que, por

Palais-Smale, possui uma subseq¨uˆencia convergente cujo limite satisfaz ∇f(¯x) = 0 e f(¯x) = c, o que prova o lema. Supomos, por absurdo, que existe ε > 0 tal que

k∇f(x)k > ε (1.14)

para todo x satisfazendo c− ε < f(x) < c + ε. Pela defini¸c˜ao de c, existe F ∈ F tal que sup

x∈F

f (x) ≤ c + ε

Seja x∈ F . Ent˜ao f(x) ≤ c + ε. Afirmamos que a solu¸c˜ao ϕt(x) satisfaz f (ϕt∗

(x)) c− ε se t∗ = 2/ε. Com efeito, como ϕt(x) ´e decrescente, n˜ao precisamos provar nada se

f (ϕt(x)) ≤ c−ε para algum 0 ≤ t ≤ t. Assim, supomos por absurdo, que f (ϕt(x)) > c−ε

para todo 0≤ t ≤ t. Logo, por 1.14,k∇f(ϕt(x))k ≥ ε para 0 ≤ t ≤ t. Ent˜ao, por 1.13,

f (ϕt(x)) ≤ f(x) − ε2t nos dando f (ϕt∗

(x))≤ c + ε − ε2t= c− ε, o que n˜ao ´e poss´ıvel.

Fazendo F∗ = ϕt∗

(F ), acabamos de mostrar que sup

x∈F∗

f (x)≤ c − ε,

mas, pela hip´otese de F∗ ∈ F, isto contradiz a defini¸c˜ao de c. 

Agora que j´a temos os conceitos b´asicos necess´arios, iniciaremos, no cap´ıtulo que se segue, o estudo do tema central deste trabalho que s˜ao as capacidades simpl´eticas.

(30)

Cap´ıtulo 2

Capacidades Simpl´

eticas

Neste cap´ıtulo, introduziremos o conceito de um invariante simpl´etico chamado capaci-dade simpl´etica. Veremos que a existˆencia de uma capacicapaci-dade simpl´etica ´e equivalente ao Teorema Nonsqueezing de Gromov. Veremos tamb´em a rigidez de difeomorfismos simpl´eticos e a defini¸c˜ao de homeomorfismos simpl´eticos inspirados nos homeomorfismos que preservam medida.

Defini¸c˜ao 2.1 Consideremos a classe de todas as variedades simpl´eticas (M, ω) de di-mens˜ao fixada 2n. Uma capacidade simpl´etica ´e uma aplica¸c˜ao

(M, ω)7→ c(M, ω) ∈ R+∪ {∞}

que associa a cada variedade simpl´etica um n´umero real n˜ao-negativo ou +∞ satisfazendo as seguintes propriedades:

(A1) monotonicidade: c(M, ω)≤ c(N, τ) se existe um mergulho simpl´etico ϕ : (M, ω) → (N, τ );

(A2) conformalidade: c(M, αω) =|α|c(M, ω) para todo α ∈ R, α 6= 0; (A3) n˜ao-trivialidade: c(B(1), ω0) = π = c(Z(1), ω0).

Onde B(1) = {(x, y) ∈ R2n | |x|2 +|y|2 < 1} ´e a bola aberta unit´aria e Z(1) =

{(x, y) ∈ R2n | x2

1 + y12 < 1} ´e o cilindro aberto simpl´etico unit´ario no espa¸co padr˜ao

(R2n, ω 0).

Podemos substituir a condi¸c˜ao (A3) por uma mais fraca: (A3′) n˜ao-trivialidade fraca: 0 < c(B(1), ω

0) e c(Z(1), ω0) <∞.

Para entendermos melhor este conceito, vamos compar´a-lo com o volume, pois neste ponto reside a chave para sua compreens˜ao. Tomemos o m´odulo da ´area total

c(M, ω) = Z M ω ,

(31)

no caso das variedades simpl´eticas bidimensionais. Esta fun¸c˜ao ´e uma capacidade simpl´e-tica e, em (R2, ω

0), corresponde `a medida de Lebesgue. Contudo, para n > 1, o invariante

simpl´etico ( vol )1/n n˜ao ´e uma capacidade pelo axioma (A3), pois o volume do cilindro

simpl´etico ´e infinito. Isto ocorre, pois, para n = 1, a forma simpl´etica ´e a pr´opria forma ´area, o que n˜ao acontece para n > 1. De fato, a exigˆencia de que c(Z(1), ω0) seja finito

significa que a capacidade ´e um invariante bidimensional. Esta observa¸c˜ao ´e essencial para entendermos a capacidade simpl´etica.

Note que capacidades simpl´eticas s˜ao invariantes simpl´eticos. De fato, dado um sim-plectomorfismo ϕ : (M, ω)→ (N, τ) basta aplicarmos o axioma de monotonicidade a ϕ e ϕ−1. Outra conseq¨uˆencia do axioma (A1) ´e que, tomando a inclus˜ao,

U ⊂ V ⇒ c(U) ≤ c(V ), (2.1)

onde U e V s˜ao abertos de (M, ω). O lema seguinte nos fornece mais alguns exemplos. Lema 2.1 Se U ⊂ (R2n, ω

0) ´e aberto e λ6= 0, ent˜ao

c(λU) = λ2c(U). Prova.

Tomemos o difeomorfismo ϕ : λU → U, ϕ(x) = x/λ. Temos que ϕ2ω

0) = λ2ϕ∗ω0 =

ω0. Ent˜ao ϕ : (λU, ω0)→ (U, λ2ω0) ´e simpl´etico. Logo, pela conformalidade,

c(λU, ω0) = c(U, λ2ω0) = λ2c(U, ω0).

 Como conseq¨uˆencia, temos, para a bola aberta de raio r > 0, que

c(B(r)) = r2c(B(1)) = πr2. (2.2)

O mesmo vale para a bola fechada, usando 2.1, pois B(r) ⊂ B(r) ⊂ B(r + ε) para todo ε > 0. No caso de (R2, ω

0),

c(B(r)) = c(B(r)) = ´area (B(r)), (2.3)

o que corresponde `a medida de Lebesgue do disco. Utilizando este fato, vemos que a correspondˆencia entre a medida de Lebesgue e a capacidade simpl´etica ocorre numa classe mais abrangente de conjuntos de R2 como mostra a seguinte proposi¸c˜ao.

Proposi¸c˜ao 2.1 Se D ⊂ R2 ´e um dom´ınio compacto e conexo com fronteira suave,

ent˜ao

(32)

Prova.

Come¸camos removendo um n´umero finito de curvas compactas de D para obtermos um dom´ınio simplesmente conexo D0 ⊂ D tal que m(D0) = m(D). Tal dom´ınio ´e difeomorfo

ao disco unit´ario B(1)⊂ R2, pelo teorema da uniformiza¸c˜ao [9]. Assim, existem ρ > 0 e

um difeomorfismo ϕ : B(ρ)→ D0 tal que m(B(ρ)) = m(D0). Dado ε > 0, encontramos

r < ρ tal que D1 := ϕ(B(r)) ⊂ D0 satisfaz m(D1) ≥ m(D) − ε. Pelo Teorema de

Dacorogna-Moser [12], existe um difeomorfismo simpl´etico ψ : B(r) → D1. Como ψ ´e

simpl´etico, usando a monotonicidade, a invariˆancia por simplectomorfismos e 2.3, temos que

m(D)− ε ≤ m(D1) = m(B(r)) = c(B(r)) = c(D1)≤ c(D).

Por outro lado, existe um difeomorfismo ϕ : D → B(R) \ {n´umero finito de discos

abertos de medida total ≤ ε}. Escolhemos um R apropriado de maneira que ϕ seja

simpl´etico, pelo Teorema de Dacorogna-Moser [12]. Ent˜ao c(D) ≤ c(B(R)) = πR2 ≤ m(D) + ε.

Assim, obtemos que m(D)− ε ≤ c(D) ≤ m(D) + ε para todo ε > 0. 

Veremos mais alguns exemplos simples: Se U ⊂ (R2n, ω

0) ´e aberto e limitado, ent˜ao

0 < c(U) <∞,

pois U cont´em uma bola pequena e est´a contido numa bola grande. Pelo Lema 2.1 e pelo axioma da n˜ao-trivialidade, obtemos que

c(Z(r)) = πr2. (2.4)

Tomando U aberto tal que

B(r)⊂ U ⊂ Z(r)

para algum r > 0 e usando 2.4, temos que c(U) = πr2, se n > 1, pois, por 2.1,

πr2 = c(B(r))≤ c(U) ≤ c(Z(r)) = πr2.

Isto mostra que conjuntos abertos completamente distintos podem ter a mesma ca-pacidade. Agora que j´a vimos a capacidade dos conjuntos mais simples, como as bolas abertas e fechadas, veremos a capacidade dos elips´oides que ser´a muito importante para a rigidez do grupo de difeomorfismos simpl´eticos.

Os elips´oides podem ser escritos por

Y (q) ={x | q(x) < 1} ⊂ R2n, onde q ´e uma forma quadr´atica positivamente definida dada por

q(x) = n X i=1 1 r2 i (x2i + x2n+i), com 0≤ r1(q)≤ r2(q)≤ . . . ≤ rn(q).

(33)

Proposi¸c˜ao 2.2 A capacidade de um elips´oide Y ⊂ (R2n, ω

0) com invariantes simpl´eticos

lineares r1(Y )≤ r2(Y )≤ . . . ≤ rn(Y ) ´e

c(Y ) = πr1(Y )2.

Prova.

Tomando uma aplica¸c˜ao linear simpl´etica ϕ, temos que B(r1)⊂ Y ⊂ Z(r1),

pois dados dois elips´oides Y1 e Y2, ϕ(Y1)⊂ Y2 se, e somente se ri(Y1)≤ ri(Y2) para todo

1≤ i ≤ n. Logo, por 2.1,

c(Y ) = πr2 1.

 Corol´ario 2.1 Se Y1 e Y2 s˜ao dois elips´oides em (R2n, ω0) e ϕ : Y1 → Y2 ´e um mergulho

simpl´etico, ent˜ao

r1(Y1)≤ r1(Y2).

Vimos v´arios casos de conjuntos com capacidade finita, veremos agora o caso do cilindro

Z1(r) ={(x, y) ∈ R2n | x21+ x22 < r2}

cuja capacidade ´e infinita apesar de ter a mesma forma do cilindro simpl´etico Z(r). Esta diferen¸ca vem do fato da forma simpl´etica ω0 n˜ao ser n˜ao-degenerada no plano{x1, x2}.

Com efeito, tomemos o mergulho simpl´etico ϕ : B(N) Z1(r),

ϕ(x, y) = (εx1, εx2, x3, ..., xn,

y1

ε , y2

ε , y3, ..., yn) onde B(N) ´e a bola aberta de raio N ∈ N e ε > 0. Se ε ´e suficientemente pequeno, ϕ(B(N))⊂ Z1(r). Logo, para todo N,

πN2 = c(B(N))≤ c(Z1(r)).

Segue que

c(Z1(r)) = +∞ para todo r > 0.

Este cilindro ´e baseado em 2-planos isotr´opicos.

Defini¸c˜ao 2.2 Seja V ⊂ R2n um subespa¸co linear. V ´e dito isotr´opico se V ⊂ V.

Com este conceito, generalizaremos o exemplo acima.

Proposi¸c˜ao 2.3 Sejam Ω ⊂ R2n um conjunto n˜ao-vazio aberto e limitado e W ⊂ R2n

um subespa¸co linear com codim W = 2. Ent˜ao o cilindro Ω + W satisfaz c(Ω + W ) = +∞ , se W´e isotr´opico

(34)

Prova.

Podemos supor que Ω cont´em a origem. Como codim W = 2, observamos que dim W⊥=

2. Logo, se W⊥ n˜ao ´e isotr´opico, W´e um subespa¸co simpl´etico e R2n = W⊕ W .

Escolhemos a base (e1, f1) em W⊥ e supomos que

W ={(x, y) | x1 = y1 = 0}.

Como Ω ´e limitado, temos que, para z ∈ Ω+W , x2

1+y12 < N2para algum N. Portanto,

Ω + W ⊂ B2(N)× R2n−2 e, assim, c(Ω + W )≤ c(B2(N)× R2n−2) = πN2 <∞, por 2.4.

Provamos desta forma a segunda afirma¸c˜ao. Para provarmos a primeira, podemos supor que

W ={(x, y) | x1 = x2 = 0}.

Existe α > 0 tal que o ponto (x, y)∈ Ω + W , se x2

1 + x22 < α2. Considerando a bola

aberta B(R), definimos a aplica¸c˜ao simpl´etica ϕ : B(R) → Ω + W , ϕ(x, y) = (εx, y/ε) para ε > 0. Se ε ´e suficientemente pequeno, toda bola B(R) pode ser simpleticamente mergulhada em Ω + W . Logo, pela monotonicidade,

πR2 = c(B(R)) ≤ c(Ω + W ),

para todo R > 0. Ent˜ao c(Ω + W ) = +∞. 

Agora veremos uma das principais conseq¨uˆencias da existˆencia de uma capacidade simpl´etica

Teorema 2.1 (Nonsqueezing de Gromov) Existe um mergulho simpl´etico ϕ : B(r)→

Z(R) se, e somente se, r ≤ R. Prova.

Supondo a existˆencia de uma capacidade simpl´etica, o teorema ´e uma conseq¨uˆencia direta da monotonicidade. Se ϕ ´e um mergulho simpl´etico,

πr2 = c(B(r))≤ c(Z(R)) = πR2,

por 2.2 e 2.4. 

A existˆencia de uma capacidade proporciona a constru¸c˜ao de v´arias outras capaci-dades. Introduziremos agora a espessura de Gromov que foi mencionada no in´ıcio deste cap´ıtulo. Pelo Teorema de Darboux, existe um mergulho simpl´etico de uma bola pequena B(r)⊂ R2n numa variedade simpl´etica M de dimens˜ao 2n,

ϕ : (B(r), ω0)→ (M, ω).

Procuramos a maior bola B(r) que pode ser simpleticamente mergulhada em (M, ω). Defini¸c˜ao 2.3 O n´umero

D(M, ω) = sup{πr2 | existe um mergulho simpl´etico ϕ : (B(r), ω0)→ (M, ω)}

(35)

r

R (x ,y )-plano1 1

Z(R)

B(r)

Figura 2.1: O Teorema Nonsqueezing de Gromov Observemos que a espessura de Gromov ´e positiva ou +∞.

Teorema 2.2 A espessura de Gromov D(M, ω) ser uma capacidade simpl´etica ´e equiva-lente ao Teorema Nonsqueezing de Gromov. Al´em disso,

D(M, ω)≤ c(M, ω) para toda capacidade c.

Prova.

Primeiro verificaremos a monotonicidade. Seja ψ : (M, ω) → (N, τ) um mergulho

simpl´etico. Se ϕ : B(r) → M ´e um mergulho simpl´etico, ψ ◦ ϕ : B(r) → N tamb´em ´e. Tomando o supremo na defini¸c˜ao de D(N, τ ), obtemos

D(M, ω)≤ D(N, τ), pois este ´ultimo ´e tomado num conjunto maior.

Para a conformalidade, devemos mostrar que para todo mergulho simpl´etico ϕ : (B(r), ω0)→ (M, αω) corresponde um mergulho simpl´etico ˆϕ : B

r p|α| ! , ω0 ! → (M, ω). Assim, ter´ıamos D(M, αω) ≤ |α|D(M, ω), pela defini¸c˜ao da espessura de Gro-mov. Mostrando a rec´ıproca tamb´em, obter´ıamos

D(M, αω) =|α|D(M, ω).

Seja ϕ : (B(r), ω0) → (M, αω) um mergulho simpl´etico. Ent˜ao ϕ∗(αω) = ω0 e

ϕ∗ω = ω0 α. Fazendo ρ = r p|α|, definimos o difeomorfismo ψ : B(ρ) → B(r) x 7→ p|α|x e temos ψ∗(ω0 α) = |α| α ω0.

(36)

Logo, se α > 0, a aplica¸c˜ao ˆϕ = ϕ◦ ψ : (B(ρ), ω0)→ (M, ω) ´e o mergulho simpl´etico

que quer´ıamos. Se α < 0, introduzimos o difeomorfismo ψ0 : (B(ρ), ω0) → (B(ρ), −ω0),

ψ0(u, v) = (−u, v) e fazemos ˆϕ = ϕ◦ ψ ◦ ψ0. Reciprocamente, procedemos da mesma

maneira.

Para vermos que a espessura de Gromov ´e uma capacidade, resta apenas a n˜ao-trivialidade, que mostraremos agora. Se ϕ : B(R) → B(1) ´e um mergulho simpl´etico, ent˜ao R ≤ 1, pois ϕ preserva volume. Por outro lado, a identidade induz um mergulho simpl´etico B(1) → B(1). Logo D(B(1), ω0) = π. Para vermos que D(Z(1), ω0) = π,

usamos o Teorema nonsqueezing de Gromov.

Para mostrar que D(M, ω) ´e a menor capacidade, seja c(M, ω) uma capacidade qual-quer. Se ϕ : B(r)→ M ´e um mergulho simpl´etico, ent˜ao, pela monotonicidade e pela n˜ao-trivialidade, πr2 = c(B(r), ω

0)≤ c(M, ω). Tomando o supremo, verificamos a afirma¸c˜ao

e, consequentemente, o teorema. 

Defini¸c˜ao 2.4 Dada uma capacidade c, definimos a sua capacidade interna ˇc por ˇ

c(M, ω) = sup{c(U, ω) | U ⊂ M aberto e U ⊂ M \ ∂M}.

Defini¸c˜ao 2.5 Dizemos que a capacidade c tem regularidade interna em M se ˇ

c(M, ω) = c(M, ω).

Proposi¸c˜ao 2.4 A fun¸c˜ao ˇc ´e uma capacidade com regularidade interna tal que ˇc≤ c. Al´em disso, se d ´e uma capacidade qualquer com regularidade interna tal que d≤ c, ent˜ao

ˇ d≤ ˇc. Prova.

Para a monotonicidade, seja ϕ : (M, ω) → (N, τ) um mergulho simpl´etico entre as variedades simpl´eticas (M, ω) e (N, τ ). Se considerarmos os abertos U ⊂ M tal que

U ⊂ M\∂M e aplicarmos ϕ, obteremos um conjunto, formado pelos abertos ϕ(U) ⊂ N

tal que ϕ(U) ⊂ N\∂N, menor do que o conjunto de todos os abertos V ⊂ N tal que

V ⊂ N\∂N. Logo, tomando o supremo da capacidade destes conjuntos, temos que ˇ

c(M, ω) = sup{c(U, ω) | U ⊂ M aberto e U ⊂ M\∂M}

≤ sup{c(V, τ) | V ⊂ N aberto e V ⊂ N\∂N} = ˇc(N, τ ).

A conformalidade segue direto da defini¸c˜ao de capacidade. Seja α > 0, ent˜ao ˇ

c(M, αω) = sup{c(U, αω) | U ⊂ M aberto e U ⊂ M\∂M}

= sup{|α|c(U, ω) | U ⊂ M aberto e U ⊂ M\∂M}

= |α| sup{c(U, ω) | U ⊂ M aberto e U ⊂ M\∂M}

= |α|ˇc(M, ω),

onde, na primeira e na ´ultima igualdade, usamos a defini¸c˜ao de capacidade interna, na segunda, a defini¸c˜ao de capacidade simpl´etica (mais precisamente, a conformalidade), e na terceira, propriedades do supremo.

(37)

Como, na defini¸c˜ao de capacidade interna, tomamos abertos contidos na variedade, temos que, no caso da bola aberta unit´aria B(1), π ´e uma cota superior para ˇc(B(1), ω0).

Para provarmos a n˜ao-trivialidade, resta-nos, ent˜ao, mostrar que dado ε > 0, existe um aberto U ⊂ B(1) tal que π − ε < c(U, ω0). Se tomarmos a bola aberta B(r) ⊂ B(1),

onde r = r 1− ε 2π, ent˜ao, por 2.1, π− ε < π − ε 2 = πr 2 = c(B(r), ω 0)≤ π.

Para a n˜ao-trivialidade do cilindro simpl´etico, usamos o mesmo argumento e o Teo-rema Nonsqueezing de Gromov. Novamente, por 2.1, temos que ˇc≤ c.

Supomos agora que d ´e uma capacidade com regularidade interna tal que d ≤ c. Ent˜ao ˇ d(M) = sup{d(U) | U ⊂ M e U ⊂ M \ ∂M} ≤ sup{c(U) | U ⊂ M e U ⊂ M \ ∂M} = ˇc(M).  Como exemplos de capacidades com regularidade interna, temos a espessura de Gro-mov, pois ´e a menor das capacidades, e a capacidade de Hofer-Zehnder como veremos no pr´oximo cap´ıtulo.

Veremos agora o importante conceito de rigidez de simplectomorfismos. O que fare-mos ´e provar que o grupo de simplectomorfisfare-mos ´e fechado no grupo de todos os difeo-morfismos com respeito `a topologia C0 e, com isso, introduziremos o conceito de

home-omorfismos simpl´eticos. Isto ´e um an´alogo aos difehome-omorfismos que preservam volume e os homeomorfismos que preservam medida.

Teorema 2.3 (Eliasberg, Gromov) O grupo de simplectomorfismos de uma variedade simpl´etica compacta (M, ω) ´e C0-fechado no grupo de todos os difeomorfismos de M.

Este teorema ´e conseq¨uˆencia do seguinte resultado.

Teorema 2.4 Sejam c uma capacidade e ψi : B(1)→ R2n uma seq¨uˆencia de aplica¸c˜oes

cont´ınuas tal que

c(ψi(E)) = c(E),

para todo elips´oide (pequeno) E ⊂ B(1), que converge localmente uniformemente para ψ(x) = lim ψi(x).

Se ψ ´e diferenci´avel em 0, ent˜ao ψ′(0) = A ´e simpl´etica ou anti-simpl´etica, ou seja,

(38)

Para provarmos o Teorema 2.4, precisamos de alguns lemas.

Lema 2.2 Sejam c uma capacidade e ψi uma seq¨uˆencia de aplica¸c˜oes cont´ınuas em R2n

que converge localmente uniformente para a aplica¸c˜ao ψ. Suponha que ψi preserva a

capacidade dos elips´oides, isto ´e, c(ψi(E)) = c(E) para os elips´oides abertos e para todo

i. Se ψ′

i(0) = A existe, ent˜ao ´e um isomorfismo.

Prova.

Suponha que A n˜ao ´e sobrejetiva. Ent˜ao A(R2n) est´a contido num hiperplano H.

Com-pondo, se necess´ario, com uma aplica¸c˜ao simpl´etica linear, podemos supor que A(R2n)⊂ H = {(x, y) | x1 = 0}.

Definimos a aplica¸c˜ao simpl´etica linear ϕ por ϕ(x, y) = (x1

α, x2, ..., xn, αy1, y2, ..., yn) e escolhemos α > 0 pequeno de modo que

ϕ◦ A(B(1)) ⊂ B2(1/16)× R2n−2 = Z(1/16),

onde o 2-disco aberto B2 est´a contido no plano simpl´etico com coordenadas {x 1, y1}.

Pela defini¸c˜ao de derivada, temos que |ϕ ◦ ψ(x) − ϕ ◦ A(x)| ≤ a(|x|)|x|, onde a(s) → 0

quando s→ 0. Logo

ϕ◦ ψ(B(ε)) ⊂ Z(ε/4),

se ε ´e suficientemente pequeno. Como ϕ◦ ψi converge localmente uniformemente para

ϕ◦ ψ,

ϕ◦ ψi(B(ε))⊂ Z(ε/2),

se i ´e sufientemente grande. Pela monotonicidade,

c(B(ε)) = c(ϕ◦ ψi(B(ε)))≤ c(Z(ε/2)) =

c(B(ε))

4 ,

pois, por hip´otese, ϕ◦ ψi preserva a capacidade dos elips´oides. Obtemos com isso uma

contradi¸c˜ao, logo A ´e sobrejetiva. 

Lema 2.3 Seja A um isomorfismo linear tal que A∗ω

0 6= λω0. Ent˜ao, para todo a > 0

existem matrizes simpl´eticas U e V tais que U−1AV tem a forma

U−1AV =   a 0 0 a 0 ∗ ∗  

(39)

Prova.

Seja B o adjunto simpl´etico de A satisfazendo

ω0(Ax, y) = ω0(x, By)

para todos x, y e seja ω = B∗ω

0. Como A ´e isomorfismo, ω 6= λω0.

Afirmamos que existe x tal que ωx 6= (λω0)x para todo λ. Com efeito, suponhamos

que para todo x, existe λ(x) ∈ R tal que ω(x, ·) = λ(x)ω0(x,·). Se x 6= 0, existe ξ tal

que ω0(ξ, x)6= 0, pela n˜ao-degenerescˆencia de ω0. Isto vale para todo y numa vizinhan¸ca

U(x) de x. Logo

λ(ξ)ω0(ξ, y) = ω(ξ, y) = −ω(y, ξ) = −λ(y)ω0(y, ξ) = λ(y)ω0(ξ, y),

e λ(ξ) = λ(y) para y numa vizinhan¸ca de x. Como R2n\ {0} ´e conexo e a fun¸c˜ao λ(x)

em R2n\ {0} ´e localmente constante, ela ´e constante. Portanto ω(x, ·) = λω

0(x,·) para

x6= 0 e logo para todo x, o que contradiz a hip´otese de que ω 6= λω0.

Pela afirma¸c˜ao, existe x tal que a aplica¸c˜ao linear (ω0(x,·), ω(x, ·)) : R2n → R2 ´e

sobrejetiva. Para um a > 0 dado, achamos y tal que ω0(x, y) = 1 e ω(x, y) = a2.

Como ω(x, y) = ω0(Bx, By), podemos escolher duas bases simpl´eticas (e1, f1, ...) e

(e′ 1, f1′, ...) tais que e1 = x, f1 = y, e′1 = Bx a , f ′ 1 = By a . Nestas bases, Be1 = ae′1 e Bf1 = af1′.

Como hJAx, yi = hJx, Byi = hBTJx, yi, temos que A = −JBTJ. Representando A

na nova base como uma aplica¸c˜ao de R2n com base (e

1, f1, ...) em R2ncom base (e′1, f1′, ...),

achamos a representa¸c˜ao U−1AV da forma que quer´ıamos. As matrizes simpl´eticas s˜ao

definidas pelos seus vetores colunas como U = [e1, f1, ...] e V = [e′1, f1′, ...]. 

Prova do Teorema 2.4.

Suponhamos que ψ(0) = 0. Pelo Lema 2.2, A = ψ′(0) ´e um isomorfismo.

Quere-mos Quere-mostrar primeiro que A∗ω

0 = λω0 para algum λ 6= 0. Suponhamos, por absurdo,

que A∗ω

0 6= λω0 para todo λ. Pelo Lema 2.3, encontramos aplica¸c˜oes simpl´eticas U

e V tais que U−1AV (B(1)) ⊂ Z(1/8). Definimos a seq¨uˆencia ϕ

i := U−1ψiV . Ent˜ao

ϕi → ϕ := U−1ψV localmente uniformemente. Al´em disso, ϕ′(0) = U−1AV . Logo,

ϕ(B(ε))⊂ Z(ε/4) e, consequentemente, ϕi(B(ε))⊂ Z(ε/2) para i suficientemente grande

e ε > 0 suficientemente pequeno. Pela hip´otese sobre ψi, temos que c(ϕi(B(ε))) =

c(B(ε)). Ent˜ao, pela monotonicidade, c(B(ε)) ≤ c(Z(ε/2)), o que contradiz a n˜ao-trivialidade da capacidade. Logo A∗ω

0 = λω0 para algum λ6= 0.

Pela conformalidade, uma aplica¸c˜ao linear anti-simpl´etica preserva a capacidade. Compondo as aplica¸c˜oes ψi e ψ com a aplica¸c˜ao simpl´etica B =

 A √

λ −1

Referências

Documentos relacionados

Acreditamos que 2021 seja mais favorável para a economia brasileira, bem como globalmente, e nossas projeções indicam crescimento de 15% nas re- ceitas e acima de 60% nos

O manejo sem cortes em trigo duplo propósito, revelam associações estabelecidas através do 1º par canônico com coeficiente de correlação de r=1,00 entre grupos Tabela 1

Nesse sentido, algumas con- tribuições são fundamentais para pensar o tema da prostituição, como as estruturas de dominação de gênero, classe e raça, a noção de corpo

O Programa de Apoio à Tradução e Publicação de Autores Brasileiros no Exterior, aliado à revista Granta (2012) intitulada The best of young Brazilian novelists, surge como resposta

A associação simbiótica de espécies florestais nativas do Estado do Rio Grande do Sul com fungos ectomicorrízicos poderá ser uma alternativa para o estabelecimento de mudas, e para

Como nas atividades praticadas em academia o tempo médio de permanência é em torno de uma hora, este tempo e a intensidade de algumas atividades não indicam

Quanto às redes temáticas observamos: a Rede Cegonha foi a primeira a iniciar o processo de pactuação e a rede temática com maior número de RRAS com planejamento regional