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A crise do sistema penitenciário brasileiro e seu papel ressocializador

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Academic year: 2021

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JORDANA EMANUELI KALSING OTT

A CRISE DO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO E SEU PAPEL RESSOCIALIZADOR.

Três Passos (RS) 2020

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JORDANA EMANUELI KALSING OTT

A CRISE DO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO E SEU PAPEL RESSOCIALIZADOR.

Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Trabalho de Conclusão de Curso - TCC. UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. DCJS- Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais.

Orientador: MSc. Sergio Luiz Fernandes Pires

Três Passos (RS) 2020

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Dedico este trabalho à minha mãe Rejane, pois sem ela nada seria possível. Ela é o pilar da minha formação, Gratidão eterna por proporcionar este momento!

Ao meu namorado Michel, cuja presença foi essencial para a conclusão deste trabalho. Sou grata pelo seu auxilio e pela sua compreensão nas minhas horas de ausência!

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AGRADECIMENTOS

À minha mãe Rejane, agradeço por todo o apoio e pela ajuda, que muito contribuiu para a realização deste trabalho. Obrigada por sempre estar ao meu lado, e por nunca ter medido esforços para me proporcionar um ensino de qualidade durante todo o meu período escolar. Sou muita grata a você. Eu te amo.

Ao meu namorado, Michel, agradeço por sempre estar ao meu lado me ajudando e apoiando. Obrigada por me ouvir e auxiliar quando eu mais precisava. Eu lhe admiro muito e amo você.

Ao meu orientador, Professor Sergio Luiz Fernandes Pires, sou eternamente grata por me auxiliar durante a concretização desta monografia.

E por fim, agradeço a todos que de alguma forma contribuíram nesse processo de transformação acadêmica.

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“O sucesso nasce do querer, da determinação e persistência em se chegar a um objetivo. Mesmo não atingindo o alvo, quem busca e vence obstáculos, no mínimo fará coisas admiráveis.”

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RESUMO

O presente trabalho de conclusão de curso faz uma análise do atual sistema penitenciário brasileiro, quanto a crise do seu papel ressocializador. Logo, em um primeiro momento se fará uma análise histórica da pena privativa de liberdade, trazendo como a mesma surgiu, e como surgiram as penas e os sistemas penitenciários clássicos. Em um segundo momento será realizada uma explanação sobre a Lei de Execução Penal e o sistema progressivo, bem como analisando qual o real estado do sistema penitenciário brasileiro e quais os problemas que se encontram presentes nele, trazendo, inclusive a questão dos direitos humanos, que serão de suma importância no processo de ressocialização e reintegração do preso, abarcando, ainda a questão dos princípios, os quais são fundamentais para a aplicação da lei no caso concreto. Já em um terceiro momento se procurará demonstrar quais as possíveis medidas que podem ser adotadas a fim de que se possa solucionar a crise do sistema carcerário que o Brasil se encontra, apresentando para isso, uma explanação sobre a participação da sociedade no processo de ressocialização e reintegração do apenado, bem como da importância das assistências ao preso nesse processo tão delicado e árduo.

Palavras-Chave: Pena Privativa de Liberdade. Ressocialização. Lei de Execução Penal. Regime Progressivo. Direitos Humanos. Crise do Sistema Penitenciário.

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ABSTRACT

The present course conclusion paper analyzes the current Brazilian prison system, regarding the crisis of its resocializing role. Soon, at first, a historical analysis of the custodial sentence will be made, bringing how it emerged, and how the classic sentences and prison systems emerged. In a second moment will be made an explanation about the Law of Criminal Execution and the progressive system, as well as analyzing the real state of the Brazilian prison system and what problems are present in it, bringing, including the issue of human rights, which will be of paramount importance in the process of resocialization and reintegration of the prisoner, still covering the question of principles , which are fundamental to law enforcement in the present case. Already in a third moment it will be sought to demonstrate what possible measures can be adopted in order to solve the crisis of the prison system that Brazil is, presenting for this, an explanation about the participation of society in the process of resocialization and reintegration of the prisoner, as well as the importance of assistance to the prisoner in this process so delicate and arduous.

Keywords: Custodial Sentence. Resocialization. Criminal Enforcement Act. Progressive Regime. Human Rights. Prison System Crisis.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 10

1 A EVOLUÇÃO DA PENA DE PRISÃO NO TEMPO 12

1.1 Conceito da pena privativa de liberdade 12

1.2 A evolução histórica das penas privativas de liberdade 13

1.3 Evolução histórica das prisões 16

1.4 Evolução dos sistemas penitenciários clássicos 18

1.4.1 Sistema Pensilvânico ou Filadélfico 18

1.4.2 Sistema alburniano 20

1.4.3 Sistema progressivo inglês 21

1.4.4 Sistema progressivo irlandês 22

1.4.5 Sistema de Elmira 22

1.4.6 Sistema de Montesinos 23

1.4.7 Sistema borstal 24

2 A LEI DE EXECUÇÃO PENAL E O SISTEMA PROGRESSIVO FRENTE A CRISE DO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO E A QUESTÃO DOS DIREITOS

HUMANOS 25

2.1 Espécies e regimes de cumprimento da pena privativa de liberdade 28 2.2 Princípios norteadores da execução penal e do sistema progressivo 31

2.2.1 Princípio da Humanidade 32

2.2.2 Princípio da Legalidade 34

2.2.3 Princípio da Individualização da Pena 34

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2.4 Os direitos humanos e sua aplicação no sistema penitenciário brasileiro 40 3 POSSÍVEIS ALTERNATIVAS PARA EFETIVAR A RESSOCIALIZAÇÃO E

REINTEGRAÇÃO DO PRESO 47

3.1 A participação da sociedade no processo de reintegração do apenado 47 3.2 A importância das assistências no processo de ressocialização do preso 49

3.2.1 Da assistência material 50 3.2.2 Da assistência à saúde 50 3.2.3 Da assistência jurídica 52 3.2.4 Da assistência à educação 53 3.2.5 Da assistência social 55 3.2.6 Da assistência religiosa 55

3.3 Consequências da não observância das possíveis soluções para a crise do sistema

penitenciário brasileiro 56

CONCLUSÃO 60

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho de conclusão de curso tem como objetivo trazer uma análise sobre a crise do sistema penitenciário e de seu papel ressocializador. Se objetiva, assim, trazer os problemas enfrentados pelo sistema penitenciário no papel da ressocialização do preso e a participação dos direitos humanos nesse processo.

Nesse sentido, quando se fala em ressocialização, a legislação nos leva diretamente ao artigo 1º da Lei de Execução Penal, conhecida como LEP, que dispõe o seguinte: “Art. 1º A execução penal tem por objetivo efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado e do internado. ”. Aludido artigo demonstra que a execução penal tem por objetivo proporcionar a harmônica integração social do condenado e do internado. Mas será que essa integração social que o artigo se refere realmente ocorre?

Diante dessa pergunta, aparece a problemática que a presente monografia pretende trabalhar, mostrando que o sistema penitenciário, de fato nunca cumpriu com a Lei de Execuções Penais, não cumprindo com o papel ressocializador da pena, não trabalhando com o cumprimento da pena em conjunto dos os direitos humanos que são garantidos a todos seres, inclusive ao preso.

Assim, a problemática da ressocialização do preso no sistema penitenciário brasileiro será abordada através de um minucioso estudo dos meios disponíveis para a real efetivação da integração social e a aplicação dos direitos humanos nesse processo tão frágil e difícil.

Nessa ótica, o presente trabalho será divido em três capítulos. O primeiro irá trazer uma análise histórica sobre a pena privativa de liberdade, mostrando como ela surgiu e qual

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sua efetividade no processo de ressocialização do preso, abarcando, ainda, os sistemas penitenciários clássicos que serão objeto de estudo.

O segundo capítulo analisará a Lei de Execução Penal e o sistema progressivo, bem como seus princípios norteadores, demonstrando se estes vem cumprindo com seu papel frente ao sistema penitenciário brasileiro, e trazendo os principais problemas do aludido sistema, bem como demonstrando qual a importância dos direitos humanos no processo de ressocialização e reintegração do preso na sociedade.

Já o terceiro capítulo irá trazer possíveis soluções para a crise do sistema penitenciário brasileiro, demonstrando a importância que a participação da sociedade e a garantia das assistências possuem no processo efetivo da ressocialização. Apresentando, por fim, quais as consequências que advém de sua inobservância.

No mais, a técnica de pesquisa empregada ao presente trabalho é a bibliográfica, utilizando no seu delineamento a coleta de dados em fontes bibliográficas, disponíveis em meios físicos e na rede de computadores. Na sua realização será utilizado o método de abordagem monográfico e, quanto ao método de pesquisa, o hipotético-dedutivo.

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1 A EVOLUÇÃO DA PENA DE PRISÃO NO TEMPO

Em um primeiro momento se faz de suma importância realizar um estudo sobre a pena de prisão no tempo, trazendo um escopo histórico na pena privativa de liberdade. Logo, o presente capítulo terá por objeto o estudo na pena privativa de liberdade, abarcando seu conceito e como se deu seu surgimento dessa e dos sistemas penitenciários clássicos.

1.1 Conceito da pena privativa de liberdade

A pena privativa de liberdade está prevista no artigo 5º, inciso XLVI, alínea “a” da Constituição Federal de 1988 (CF/88), bem como no Código Penal, em seu artigo 33, e no artigo 105 da Lei De Execução Penal-Lei 7210/84.

Segundo Nucci (2005, p. 335) “pena é a sanção imposta pelo Estado por meio de ação penal ao criminoso, cuja finalidade é a retribuição ao delito praticado e a prevenção a novos crimes. ”

Logo, o presente trabalho terá como escopo analisar as penas privativas de liberdade, que tiveram origem com o surgimento das prisões. Para Mirabete, (2008, p. 21):

A pena de prisão teve sua origem nos mosteiros da Idade Média, “como punição imposta aos monges ou clérigos faltosos, fazendo com que se recolhessem às suas celas para se dedicarem, em silêncio, à meditação e se arrependerem da falta cometida, reconciliando-se assim, com Deus.

A pena de prisão veio em substituição às penas cruéis e desumanas, vindo como uma solução para todos os problemas de criminalidade existentes. Conforme explica Focault (1999, p. 195): “[...] A prisão, peça essencial no conjunto das punições, marca certamente um momento importante na história da justiça penal: seu acesso à “humanidade” [...]”

Nesse âmbito, mister se faz uma análise da evolução da pena privativa no mundo e no Brasil.

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1.2 A evolução histórica das penas privativas de liberdade

Segundo Greco (2015, p. 87), até o século XVIII, as penas mais utilizadas eram as corporais, como a pena de morte e as chamadas penas infamantes, e, em alguns casos menos graves, as penas de natureza pecuniária. Porém, no século XVIII, após a Revolução Francesa, em atenção ao princípio da dignidade humana, a pena privativa de liberdade começou a ser utilizada, servindo, assim, como destaque.

Neste aspecto, segundo Greco (2015), o período iluminista teve fundamental papel, tendo em vista que contribuiu no pensamento punitivo do condenado, que agora precisa de provas para ser realizado. Logo, o ser humano passou a ser tratado não mais como um mero objeto, mas sim um ser com direitos e principalmente garantista do princípio da dignidade humana.

Desse modo, através do raciocínio jusnaturalisa, se passou a reconhecer direitos ao ser humano, como o já citado, da dignidade da pessoa humana e da igualdade perante as leis. Assim, até mesmo a pena de morte passou a ser aperfeiçoada, com a criação da guilhotina, por Ignace Guillotin, sendo utilizada pela primeira vez em 25 de abril de 1972, consistindo em uma morte mais rápida. (GRECO, 2015, p. 87).

Assim, segundo Greco (2015, p. 87):

As penas, que eram extremamente desproporcionais aos fatos praticados, passaram a ser graduadas de acordo com a gravidade do comportamento, exigindo-se, ainda, que a lei, que importasse na proibição ou determinação de alguma conduta, além de clara e precisa, para que pudesse ser aplicada, deveria estar em vigor antes da sua prática. Era a adoção do exigível princípio da anterioridade da lei.

Logo, pode se dizer que o grande marco para a substituição das penas cruéis pela pena privativa de liberdade foi o século XVIII.

Outrossim, com a descoberta do Brasil no ano de 1.500, vigoravam em Portugal as Ordenações do Reino, que englobavam as Ordenações Afonsinas, que foram substituídas

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pelas Manuelinas e posteriormente substituídas pelas Filipinas e Código de Leis Civis e Criminais de Portugal, as quais, porém, não puderam ser colocadas em pratica no Brasil pela falta de organização judiciária. (MUAKAD, 1996, p. 15).

Para Irene Batista Muakad, (1996, p. 16):

Nas Ordenações, prevalecia a ideia da intimidação, não havendo proporção entre penas e delitos, destacando-se a pena de morte executada, quase sempre, com requintes de crueldade, além de outras não menos desumanas. Era, portanto, uma corroída legislação do reino que necessitava ser substituída.

Ainda segundo Muakad, após, com a independência do Brasil e com a Constituição de 1824, que previa em seu artigo 179 os princípios sobre os direitos e liberdades individuais, surgiu a ideia de um Código Penal que atendesse a realidade até então existente.

No referido Código Penal, eram previstas onze espécies de penas, e conforme ensina sendo que, “preocupou-se com a dignidade da pessoa presa e estabeleceu que o cárcere não deveria ser somente um instrumento de proteção de classes, de castigo e torturas, mas também haveria de ser fonte de emenda e reforma moral para o condenado. ” (MUAKAD, 1996, p. 16).

Ocorre que aludido Código não acabou tendo os resultados esperados, tendo sido, inclusive, considerado liberal. Como consequência, com a abolição da escravatura, em 1888, propôs-se uma revisão do referido Código, haja vista seu descompasso com a realidade existente. (MUAKAD, 1996, p. 17).

Considerando os referidos problemas, aprovou-se o Código de 1890, que também não deu certo, tendo sido, inclusive, considerado um vexame para cultura jurídica. (MUAKAD, 1996, p. 17).

Assim, segundo a mencionada autora, exigiu-se então, que fosse realizado um novo código, tendo este sido entregue pelo prof. Alcântara Machado em novembro de 1938. Referido código previa, em seu artigo 29, a pena de morte por fuzilamento dentro do

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estabelecimento penal onde se encontrasse o condenado. Os artigos 30 e 31 tratavam da reclusão e detenção, e o artigo 44 tratava da multa.

Aludido código foi submetido a uma Comissão Revisora, composta por Nelson Hungria, Vieira Brga, Marcelio de Queiroz e Roberto Lira, que trabalhou por dois anos no projeto da lei penal, tendo sido promulgado em 7 de dezembro de 1940, entrando em vigor em 1º de janeiro de 1942, a fim de que coincidisse com a vigência do Código de Processo Penal.

O código penal em questão classificou as penas privativas de liberdade em reclusão e detenção, havendo ainda a Lei de Contravenções Penais que trazia a pena de prisão simples, sem rigor penitenciário, sendo, porém alvo de diversas críticas, já que, apesar de promover o aprimoramento técnico, continuou trazendo o caráter iminentemente repressor da pena, prevendo a prisão como principal remédio contra o crime. (MUAKAD, 1996, p. 19-20).

Desse modo, havendo inconformidade com o então vigente código, se tentou de todas as formas modificá-lo. Foram apresentadas 61 emendas, a fim de que houvesse uma reforma da aludida legislação.

Assim, em 1981, foi realizado em Brasília o I Congresso Brasileiro de Política Criminal e Penitenciária para realizar a discussão de três anteprojetos, os quais tinham como objeto a prevenção do delito, visando de substituir a pena de prisão por outros meios, tendo em vista que a pena privativa de liberdade não estava surtindo os efeitos esperados, causando muita insegurança devido ao aumento do índice de criminalidade. (MUAKAD, 1996, p. 24-27).

Assim, a Lei nº 7.209, de 11 de julho de 1984 foi sancionada, alterando a parte geral do código penal então vigente. A lei foi composta por cinco artigos, sendo o 1º para alterar toda a parte geral do Código Penal de 1940, o 2º e o 4º sendo disposições gerais, o 3º e o parágrafo único dispondo sobre disposições transitórias e o 5º sobre disposições finais. (MUAKAD, 1996, p. 27).

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Segundo MUAKAD (1996, p. 34) após várias tentativas de uma codificação de Execução Penal, surgiu a nova Lei de Execução Penal, Lei nº 7.210 de 11 de julho de 1984, que, promulgada a partir da nova Parte Geral, se tratando de uma lei especifica para regular a execução das penas e das medidas de segurança, o que era altamente necessário já que o ramo da execução penal vivia sob domínio do Direito Penal e do Direito Processual Penal.

Mencionada lei encontra-se vigente até os dias atuais, e será tratada em momento oportuno, apresentando-se suas peculiaridades e dificuldades impostas para sua efetivação.

Logo, percebe-se, que se procurou, desde os dias mais remotos, substituir as penas cruéis pela pena privativa de liberdade, que se encontra em adoção no sistema penal brasileiro, sendo regulada pela Lei de Execuções Penais, conhecida por LEP.

Portanto, feita uma análise da evolução da pena privativa de liberdade, mister se faz uma análise histórica das prisões, trazendo seus aspectos e suas peculiaridades.

1.3 Evolução histórica das prisões

A evolução da prisão como pena privativa de liberdade segundo Greco (2015, p. 98), pode ser dividida em três fases, quais sejam, antiguidade, idade média e idade moderna.

Na antiguidade, a prisão era um lugar em que aconteciam torturas constantes, procurando-se obter a confissão do condenado a qualquer custo.

Em Roma, por exemplo, existia a prisão “Mamertina”, que era um lugar sem luz, úmido, povoado por insetos e animais peçonhentos, onde a comida era escassa, e os acusados ficavam presos pelos pés em toras de madeira. (GRECO, 2015, p. 98-99).

Na idade média prevaleceu o cristianismo, utilizando-se as mais terríveis penas, não se aplicando, em momento algum, o princípio da dignidade humana, sendo que a própria comunidade onde o condenado encontrava-se inserido suplicava pelo “show de horrores” com o condenado. (GRECO, 2015, p. 100).

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A propósito, o mesmo autor refere:

Se o destino do réu seria algum trágico sofrimento, como consequência lógica desse raciocínio, nunca houve preocupação com a sua custódia cautelar, ou seja, os acusados ficavam, normalmente, presos em lugares fétidos, em masmorras, sem alimentação adequada, privados, muitas vezes, do sol e do próprio ar; enfim, as condições dos cárceres provisórios existentes na Idade Média não se distanciavam muito daquilo que conhecemos nos dias de hoje, principalmente em países em fase de desenvolvimento ou emergentes, como ocorre em muitos países da América Latina, a exemplo do Brasil, da Colômbia, da Bolívia, do Paraguai, da Argentina etc. (GRECO, 2015, p. 100).

Já no início do século XVI, iniciou-se a idade moderna, surgindo novos problemas, e a aplicação das penas privativas de liberdade ganhando força. Surgiu também a pena de galera, que foi considerada uma das penas mais cruéis existentes. Assim, conforme Greco (2015, p. 102):

A pena de galera consistia na utilização de condenados que seriam, normalmente, executados, por já haverem sido sentenciados à morte, bem como daqueles condenados por crimes graves ou prisioneiros de guerra, para trabalhar nas galeras dos navios militares, remando incessante e concatenadamente, movidos pelas ameaças e agressões praticadas por aqueles que tinham per obrigação fazer com que os navios deslizassem pelo mar.

Transcorrido algum tempo, especificamente no século XVIII até o século XIX, principalmente por conta de ideais iluministas, apareceram novos sistemas penitenciários, que, por sua vez, procuraram utilizar o princípio da dignidade da pessoa humana.

Nesse ponto, Elías Neuman (1974, p. 9, apud GRECO, 2015, p. 105) divide a evolução da pena privativa de liberdade em quatro grandes períodos:

1) Período anterior à pena privativa de liberdade, no qual a prisão constitui um meio para assegurar a presença da pessoa do réu ao ato judicial; 2) Período de exploração. O Estado adverte que o condenado constitui um apreciável valor econômico em trabalhos penosos; a privação de liberdade é um meio de assegurar sua utilização em trabalhos penosos. 3) Período corredcnalistá e moralizador. Encarnado pelas instituições do século XVIII, e princípios do século XIX. 4) Período de readaptação social ou ressocialização. Sobre a base da individualização penal, o tratamento penitenciário e pós-penitenciário.

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Feita essa análise sobre a evolução da prisão no tempo, importante se faz uma análise dos sistemas penitenciários clássicos.

1.4 Evolução dos sistemas penitenciários clássicos

Como consequência da evolução do crime e da pena, por volta do século XVIII, começaram a surgir os primeiros sistemas penitenciários, conforme preleciona Cezar Roberto Bitencourt:

[...] além dos antecedentes inspirados em concepções mais ou menos religiosas, um antecedente importantíssimo nos estabelecimentos de Amsterdam, nos Bridwells ingleses, e em outras experiências similares realizadas na Alemanha e na Suíça. Estes estabelecimentos não são apenas um antecedente importante dos primeiros sistemas penitenciários, como também marcam o nascimento da pena privativa de liberdade, superando a utilização da prisão como simples meio de custódia. (BITENCOURT, 1993, p. 59).

Nessa senda, Greco (2015, p. 105), afirma que os sistemas penitenciários que mais se destacaram durante sua evolução são: o Sistema Pensilvânico, Sistema Auburniano, Sistema Progressivo Inglês, Sistema Progressivo Irlandês, Sistema de Elmira, Sistema de Montesinos e Sistema Borstal.

1.4.1 Sistema Pensilvânico ou Filadélfico

O Sistema Pensilvânico ou Filadélfico, também conhecido como belga ou celular segundo Pimentel (1983, p. 137, apud GRECO, 2015, p. 122):

Este regime iniciou-se em 1790, na Walnut Street Jail, uma velha prisão situada na rua Walnut, na qual reinava, até então, a mais completa aglomeração de criminosos. Posteriormente, esse regime passou para a

Eastern Penitenciary, construída pelo renomado arquiteto Edward

Haviland, e que significou um notável progresso pela sua arquitetura e pela maneira como foi executado o regime penitenciário em seu interior.

O sistema Celular tinha como características o isolamento. Essa instituição aplicou o solitary confinement (confinamento solitário), atualmente conhecido como “solitária”, aos

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presos. Aludido sistema impossibilitava a readaptação social do condenado, tendo em vista seu completo isolamento social. (GRECO, 2015, p. 122).

Bittencourt (2000, p. 94) afirma que o Sistema Filadélfico ou Pensilvânico “já não se trataria de um sistema penitenciário criado para melhorar as prisões e conseguir a recuperação do delinquente, mas de um eficiente instrumento de dominação servindo, por sua vez, como modelo para outro tipo de relações sociais. ”

Esse sistema era baseado no isolamento celular absoluto, isto é, o preso era recolhido à sua cela, ficando isolado dos demais. Não tinha direito a trabalhar e a receber visitas. A leitura da bíblia era estimulada, para que pudesse refletir sobre o ato que cometeu e, assim, pudesse se arrepender. (GRECO, 2015, p. 122).

Aludido regime conforme afirma Bittencourt (1993, p. 66) sofreu várias críticas, principalmente devido a utilização de tortura refinada que o isolamento total proporcionava.

Igualmente, Greco (2015, p. 122) afirma que “tal isolamento levava os condenados, frequentemente, a surtos psicóticos. Eram, na verdade, mortos-vivos, condenados a permanecer constantemente isolados em um determinado local”.

Conforme denota-se de tais considerações, o sistema celular não possibilitava a ressocialização do condenado, transformando-o em uma pessoa pior que antes do encarceramento, já que se tratava de um sistema desumano e violento.

Infere-se que Bittencourt (1993, p. 70), em sua obra Falência da Pena de Prisão, refere que apesar dos graves efeitos que o isolamento total produz, este, infelizmente, ainda é utilizado, como um instrumento de dominação e controle nas prisões modernas, como por exemplo a Alemanha Ocidental.

Nesse ponto, Bittencourt (1993, p. 69) diz:

Os regimes penitenciários contem sempre uma estranha união de funções antiéticas: por um lado devem servir como instrumento para impor ordem e segurança e, por outro, devem propiciar a reabilitação do delinquente.

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Mas quando em um regime penitenciário moderno se utiliza um sistema celular estrito, similar ao pensilvânico, é evidente que abandonou totalmente o interesse em conseguir a reabilitação do delinquente. Das boas intenções que impulsionaram os homens idealizadores do sistema celular restou somente um feito irrefutável: o confinamento solitário converteu-se em um excelente instrumento de dominação e controle e, por essa razão, ainda é utilizado nas prisões modernas. Dentro desse inevitável paradoxo desenvolvem-se muitos dos sistemas penitenciários modernos.

Assim, conforme se observa, o sistema penitenciário celular, apesar de todos os esforços para convertê-lo em um instrumento de ressocialização, não consegue cumprir com seu papel, já que se trata de um sistema totalmente desumano que não atende a reabilitação do apenado e nem mesmo sua reintegração na sociedade.

1.4.2 Sistema Alburniano

Diante das críticas ao Sistema Pensilvânico, surgiu outro sistema, o Sistema Alburniano, também de origem norte-americana, tendo seu nome derivado da penitenciária de Auburn, que se situa na cidade de Nova York. (GRECO, 2015, p. 122).

Segundo Greco (2015, p. 123) o Sistema Alburniano é:

Menos rigoroso do que o sistema anterior, permitia o trabalho dos presos, inicialmente, dentro de suas próprias celas e, posteriormente, em grupos. O isolamento noturno foi mantido, em celas individuais. Uma das características principais do sistema auburniano dizia respeito ao silêncio absoluto que era imposto aos presos, razão pela qual também ficou conhecido como silent system.

As refeições eram comuns, ou seja, eram servidas no refeitório, em uma mesa extensa, em que todos os presos se assentavam, formando uma fila somente. Para manter a regra do silêncio absoluto, os presos entravam naquele local com a cabeça baixa, comiam também com a cabeça baixa, além de usarem capuzes que lhes impediam a visão.

Os castigos corporais não foram abolidos na prisão de Auburn, sendo aplicados, muitas vezes, coletivamente, quando não se conseguia descobrir qual dos detentos havia infringido as normas carcerárias.

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[...] O modelo auburniano, da mesma forma que que o filadélfico, pretende, consciente ou inconscientemente, servir de modelo inicial à sociedade, um microcosmos de uma sociedade perfeita onde os indivíduos se encontrem isolados em sua existência moral, mas são reunidos sob um enquadramento hierárquico estrito, com o fim de resultarem produtivos ao sistema.

Nesse ponto apesar de ser menos rigoroso que o sistema anterior, também acabou por não dar certo, seja por seu caráter de isolamento, seja por não cumprir com seu papel ressocializador.

1.4.3 Sistema progressivo inglês

O Sistema Progressivo surgiu na Inglaterra, e após, foi adotado pela Irlanda. Ele surgiu no século XIX, em 1840, quando Alexander Maconochie decidiu modificar o sistema penal. (GRECO, 2015, p. 124).

Assim, conforme Oliveira (2002, p. 53, apud GRECO, 2015, p. 124):

Na qualidade de diretor de um presídio do condado de Narwich, na ilha de Norfolk, na Austrália, Maconochie pensou em um sistema progressivo de cumprimento das penas, a ser realizado em três estágios. Para tanto, criou o chamado Mark System, que, segundo as explicações de Edmundo Oliveira, era uma forma de indeterminação da pena, que era medida em razão do trabalho, da boa conduta do condenado, bem como levando em consideração, ainda, a gravidade do delito praticado. [...]

Assim, levando em consideração os fatores citados, o condenado recebia marcas ou vales, que eram diminuídos quando do cometimento de alguma falta. No momento em que o condenado conseguia um determinado número de marcas ou vales, este tinha o direito a progredir no seu regime de cumprimento de pena. (GRECO, 2015, p. 124).

Assim, o Sistema Progressivo Inglês era divido em três fases: 1) Isolamento celular diurno e noturno, 2) Trabalho em comum sob regra de silêncio e, 3) Liberdade condicional. (MORAES, 2013, apud BITENCOURT, 2000, p. 99-102).

A primeira fase, qual seja, a fase do isolamento celular diurno e noturno, se mostra muito semelhante ao sistema celular, no qual se privilegia o isolamento total. Já a segunda

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fase, parecida com o regime auburniano, preconizava o trabalho, porém o preso deveria ficar em silêncio. Sendo que na terceira fase, considerada a mais benéfica ao apenado havia a concessão de liberdade condicional.

Logo, o Sistema Progressivo Inglês preconizava a progressão de regimes do apenado, que era deferida considerando o comportamento do preso, o trabalho realizado por ele, bem como a gravidade do crime cometido. Assim, cumpridos referidos requisitos o preso poderia chegar a ser beneficiado com a liberdade condicional.

1.4.4 Sistema progressivo Irlandês

O Sistema Progressivo Inglês foi um sucesso, porém, acreditava-se que era preciso preparar melhor o condenado para retornar à sociedade.

Assim, Walter Crofton, diretor das prisões na Irlanda, baseando-se no sistema criado por Maconochie, introduziu uma nova fase, denominada de período intermediário, que ficava entre o segundo e quarto período. Nesse sentido, o sistema progressivo irlandês tinha quatro fases: inicialmente, havia a reclusão celular diurna e noturna; depois, havia a reclusão celular noturna e trabalho diurno em comum; posteriormente, havia um período intermediário; por fim, concedia-se a liberdade condicional. (LYRA, 1942, p. 91, apud, GRECO, 2015, p. 124-125).

Insta consignar, que o sistema progressivo é adotado pelo Brasil, possuindo algumas peculiaridades que serão tratadas em tópico próprio, que irá analisar a Lei de Execução em conjunto com o aludido sistema.

1.4.5 Sistema de Elmira

O Sistema de Elmira surgiu em Nova York, no ano de 1869, tendo por base o sistema progressivo irlandês. Tal sistema era destinado a delinquentes primários que possuíam entre 16 e 30 anos de idade. (GRECO, 2015, p. 125).

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Após ingressar no reformatório, as pessoas eram submetidos a um sistema de marcas, baseado no sistema de Maconochie e Crofton. Em razão de seu trabalho, obediência e orientação moral e religiosa recebiam essas marcas. Ao atingir a terceira fase do sistema, tinham direito ao livramento condicional, recebendo uma pequena quantia em dinheiro para que pudessem sobreviver nos primeiros dias livres. Ressalta-se que o exercício de um ofício era obrigatória, e a disciplina era do tipo militar.

Referido sistema, contudo, não conseguiu livrar-se da superlotação, tendo em vista que o reformatório, que possuía 500 celas, em 1892 contava com 1.296 sentenciados, sendo que, em 1899, esse número já tinha subido para 1.500, ficando impossibilitada a idealizada classificação dos prisioneiros, bem como não se conseguindo evitar a promiscuidade que reinava no reformatório. (GRECO, 2015, p. 126).

Conforme se percebe, aludido sistema acabou por não ter sucesso em razão da superlotação que tornou o Sistema de Elmira falho.

1.4.6 Sistema de Montesinos

Referido sistema recebeu tal nome por conta de seu mentor Coronel Manuel Montesino, que dirigiu o Presídio de San Agostin, em Valência, Espanha, durante 1835 e 1854. Manuel Montesinos era apaixonado pela causa carcerária. (GRECO, 2015, p. 126).

Segundo Greco (2015, p. 127):

Foram várias as alterações determinadas por Montesinos, destinadas à melhoria do sistema de cumprimento de pena, podendo-se destacar, dentre elas:

a) a eliminação dos castigos corporais e infamantes; b) a implementação do trabalho remunerado do preso;

c) a proibição do regime celular, o que impedia o preso de socializar-se com os demais, fazendo com que tivesse sérios problemas psicológicos, como decorrência do seu isolamento;

d) a possibilidade da concessão de saídas temporárias dos presos, fato este até então inusitado no sistema penitenciário;

e) a introdução no sistema [...]

f) a introjeção no preso da corresponsabilidade pela segurança do estabelecimento prisional, tendo em vista que, internamente, não se usavam cadeados.

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Enfim, foram muitas as ideias revolucionárias de Montesinos, tendo enorme sucesso. Contudo, apesar do seu sucesso, tal sistema acabou por receber críticas de pessoas que se sentiam ameaçadas com a produção carcerária. Desse modo, o governo cedeu à pressão, e acabou retirando o apoio a Montesinos, o que ocasionou um retrocesso na reintegração do condenado à sociedade. (GRECO, 2015, p. 127-128).

Portanto, conforme se denota de tais considerações, aludido sistema se tratou de mais um sistema que acabou por não dar certo, tendo em vista que acabou ocasionando o retrocesso na reintegração do condenado na sociedade, bem como, no fracasso no processo de ressocialização do apenado.

1.4.7 Sistema Borstal

O Sistema Borstal, foi criado na Inglaterra em 1902, com a finalidade de abrigar jovens delinquentes entre 16 e 21 anos de idade. Borstal foi pioneiro como modelo de regime penitenciário aberto, onde a vigilância era reduzida, propiciando um maior contato com os familiares e amigos. (GRECO, 2015, p. 128).

Aludido sistema, conforme se percebe tratou-se de um sistema no qual prevaleceu o regime aberto, com vigilância reduzida, diferente da maioria dos demais sistemas citados, nos quais se previa o isolamento como principal preceito.

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2 A LEI DE EXECUÇÃO PENAL E O SISTEMA PROGRESSIVO FRENTE A CRISE DO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO E A QUESTÃO DOS DIREITOS HUMANOS

Conforme já mencionado em capítulo anterior, o Brasil vem adotando o regime progressivo para o cumprimento da pena, que é previsto na Lei de Execução Penal, Lei nº 7.210/84.

Segundo Prates (2014) no sistema progressivo, tem-se a ideia de diminuição da intensidade da pena com relação ao regime imposto, tendo em vista que é com o regime imposto que se determina qual o tempo de encarceramento que o preso terá que se submeter, se levando em consideração, ainda o lapso de tempo passado em cada regime e o comportamento do apenado.

Assim, o artigo 112 da Lei de nº 7.210/84, que teve alteração significativa pela edição da Lei de nº 13.964/2019, que prevê atualmente que:

Art. 112. A pena privativa de liberdade será executada em forma progressiva com a transferência para regime menos rigoroso, a ser determinada pelo juiz, quando o preso tiver cumprido ao menos: I - 16% (dezesseis por cento) da pena, se o apenado for primário e o crime tiver sido cometido sem violência à pessoa ou grave ameaça; II - 20% (vinte por cento) da pena, se o apenado for reincidente em crime cometido sem violência à pessoa ou grave ameaça; III - 25% (vinte e cinco por cento) da pena, se o apenado for primário e o crime tiver sido cometido com violência à pessoa ou grave ameaça; IV - 30% (trinta por cento) da pena, se o apenado for reincidente em crime cometido com violência à pessoa ou grave ameaça; V - 40% (quarenta por cento) da pena, se o apenado for condenado pela prática de crime hediondo ou equiparado, se for primário; VI - 50% (cinquenta por cento) da pena, se o apenado for: a) condenado pela prática de crime hediondo ou equiparado, com resultado morte, se for primário, vedado o livramento condicional; b) condenado por exercer o comando, individual ou coletivo, de organização criminosa estruturada para a prática de crime hediondo ou equiparado; ou c) condenado pela prática do crime de constituição de milícia privada; VII - 60% (sessenta por cento) da pena, se o apenado for reincidente na prática de crime hediondo ou equiparado; VIII - 70% (setenta por cento) da pena, se o apenado for reincidente em crime hediondo ou equiparado com resultado morte, vedado o livramento condicional. § 1º Em todos os casos, o apenado só terá direito à progressão de regime se ostentar boa conduta carcerária, comprovada pelo diretor do estabelecimento, respeitadas as normas que vedam a progressão. § 2º A decisão do juiz que determinar a progressão de regime será sempre

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motivada e precedida de manifestação do Ministério Público e do defensor, procedimento que também será adotado na concessão de livramento condicional, indulto e comutação de penas, respeitados os prazos previstos nas normas vigentes. § 3º No caso de mulher gestante ou que for mãe ou responsável por crianças ou pessoas com deficiência, os requisitos para progressão de regime são, cumulativamente: I - não ter cometido crime com violência ou grave ameaça a pessoa; II - não ter cometido o crime contra seu filho ou dependente; III - ter cumprido ao menos 1/8 (um oitavo) da pena no regime anterior; IV - ser primária e ter bom comportamento carcerário, comprovado pelo diretor do estabelecimento; V - não ter integrado organização criminosa. § 4º O cometimento de novo crime doloso ou falta grave implicará a revogação do benefício previsto no § 3º deste artigo. § 5º Não se considera hediondo ou equiparado, para os fins deste artigo, o crime de tráfico de drogas previsto no § 4º do art. 33 da Lei nº 11.343, de 23 de agosto de 2006. § 6º O cometimento de falta grave durante a execução da pena privativa de liberdade interrompe o prazo para a obtenção da progressão no regime de cumprimento da pena, caso em que o reinício da contagem do requisito objetivo terá como base a pena remanescente. (BRASIL, 1984).

Diante da análise dos parágrafos do artigo 112, especificamente o parágrafo segundo, verifica-se que o apenado só poderá ser beneficiado pela progressão de regime se constatada a boa conduta carcerária, que tem como objetivo demonstrar que o preso realmente foi ressocializado e que está pronto para voltar ao convívio social.

A boa conduta carcerária será constatada através de exame criminológico, o qual está previsto no artigo 8º da LEP que diz:

“O condenado ao cumprimento de pena privativa de liberdade, em regime fechado, será submetido a exame criminológico para a obtenção dos elementos necessários a uma adequada classificação e com vistas à individualização da execução”. (BRASIL, 1984).

Assim, o magistrado quando tiver que decidir entre conceder ou não a progressão de regime ao preso poderá determinar a realização de exame criminológico, desde que sua decisão seja motivada, conforme dispõe a Súmula 439 do Superior Tribunal de Justiça: “Admite-se o exame criminológico pelas peculiaridades do caso, desde que em decisão motivada”.

Nesse contexto, pode se observar que o regime progressivo, adotado até então pelo Brasil, vem baseado em dois pilares, quais sejam, o lapso temporal e a educação do apenado,

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que são pilares que devem ser efetivados a fim de que o preso possa absorver o objetivo imposto pela lei de execução penal, que é a ressocialização.

No mais, para a concretização dos referidos objetivos, a pena terá que cumprir com seu caráter humanitário, não podendo servir como uma mera punição. Assim, o principal objetivo da progressão é a ressocialização do preso, que deverá se dar exclusivamente pela ótica dos direitos humanos, que serão tratados em capitulo próprio.

Ainda, cumpre mencionar que o regime progressivo adotado na lei de execução, é norteado pelo princípio da individualização da pena, conforme leciona Nucci (2014, p. 318):

A individualização executória da pena é consequência natural da adoção do princípio constitucional da individualização da pena. Esta se faz, como já mencionado, em três etapas: a individualização legislativa (fixação do mínimo e do máximo para a pena em abstrato no momento de criação da norma penal), a individualização judicial (momento de concretização da sanção penal na sentença) e a individualização executória (fase de aplicação efetiva da pena em estágios). Por isso, a progressão de regime, forma de incentivo à proposta estatal de reeducação e ressocialização do sentenciado, é decorrência natural da individualização executória.

Assim, se observa que a LEP busca efetivar a ressocilialização e a reeducação do apenado de modo a atender a sua individualização executória, bem como para que o preso possa voltar ao convívio social de modo recuperado, conforme afirma Nucci (2014, p. 319):

O objetivo da pena, fundamentalmente, é reeducar a pessoa humana que, cedo ou tarde, voltará ao convívio social, de modo que a progressão é indicada para essa recuperação, dando ao preso perspectiva e esperança. Deve o merecimento ser apurado no caso concreto, contando, em alguns casos, com a avaliação da Comissão Técnica de Classificação (composta pelo diretor do presídio, dois chefes de serviço, um psiquiatra, um psicólogo e um assistente social), conhecedora do processo de individualização da execução penal (arts. 5.º a 9.º, LEP)

É importante, contudo, lembrar que, como pode ocorrer a progressão, também poderá o ocorrer a regressão, que se encontra prevista no artigo 118 da LEP, que trata da transferência da execução da pena privativa de liberdade para qualquer regime mais rigoroso, quando o condenado praticar fato definido como crime doloso ou falta grave ou quando sofrer

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condenação, por crime anterior, cuja pena somada ao restante da pena que vem sendo executada, torne impossível a aplicação do regime. (BRASIL, 1984).

De tal modo, para uma melhor compreensão sobre o sistema progressivo é de suma importância fazer uma breve análise dos regimes de cumprimento das penas privativas de liberdade e das espécies dos regimes prisionais que se aplicam ao regime de cumprimento da pena privativa de liberdade, bem como dos princípios norteadores do referido sistema.

2.1 Espécies e regimes de cumprimento da pena privativa de liberdade

No Brasil, existem três espécies de penas privativas de liberdade, a reclusão, a detenção e a prisão simples. A reclusão e a detenção são aplicadas quando da ocorrência de crimes, já a pena de prisão simples é a destinada às contravenções penais. (NUCCI, 2014, p. 316).

A reclusão é prevista para infrações consideradas como mais graves, por exemplo, homicídio, previsto no artigo 121 e roubo, previsto no artigo 157, ambos do Código Penal, devendo o preso cumprir a pena em regime fechado, ficando privado do convívio social. Já a detenção costuma ser prevista nas infrações de menor gravidade, como, por exemplo, ameaça, prevista no artigo 129 e desobediência, prevista no artigo 330, ambos do Código Penal, crimes em que não se admite o regime fechado como regime inicial. (NUCCI, 2014, p. 317).

Quanto às diferenças entre as penas de reclusão e detenção, destinadas ao crime, Nucci (2014, p. 317) aponta cinco:

a) a reclusão é cumprida inicialmente nos regimes fechado, semiaberto ou aberto; a detenção somente pode ter início no regime semiaberto ou aberto (art. 33, caput, CP); b) a reclusão pode acarretar como efeito da condenação a incapacidade para o exercício do pátrio poder (atualmente, denominado, pelo Código Civil, poder familiar), tutela ou curatela, nos crimes dolosos, sujeitos a esse tipo de pena, cometidos contra filho, tutelado ou curatelado (art. 92, II, CP); c) a reclusão propicia a internação nos casos de medida de segurança; a detenção permite a aplicação do regime de tratamento ambulatorial (art. 97, CP); d) a reclusão é cumprida em primeiro lugar (art. 69, caput, CP); e) a reclusão é prevista para crimes mais graves; a detenção é reservada para os mais leves, motivo pelo qual, no instante de criação do

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tipo penal incriminador, o legislador sinaliza à sociedade a gravidade do delito.

Conforme Nucci (2014) no sistema carcerário brasileiro existem três regimes de cumprimento da pena, quais sejam, o aberto, semiaberto e o fechado, sendo que fica a cargo do juiz determinar qual o regime inicial para o condenado realizar o cumprimento da pena, devendo observar, contudo, os fatores objetivos para a aplicação da pena e de seu regime de cumprimento.

Nesse sentido, o art. 33 do Código Penal diz:

Art. 33 - A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semi-aberto ou semi-aberto. A de detenção, em regime semi-semi-aberto, ou semi-aberto, salvo necessidade de transferência a regime fechado. § 1º - Considera-se: a) regime fechado a execução da pena em estabelecimento de segurança máxima ou média; b) regime semi-aberto a execução da pena em colônia agrícola, industrial ou estabelecimento similar; c) regime aberto a execução da pena em casa de albergado ou estabelecimento adequado. § 2º - As penas privativas de liberdade deverão ser executadas em forma progressiva, segundo o mérito do condenado, observados os seguintes critérios e ressalvadas as hipóteses de transferência a regime mais rigoroso: a) o condenado a pena superior a 8 (oito) anos deverá começar a cumpri-la em regime fechado; b) o condenado não reincidente, cuja pena seja superior a 4 (quatro) anos e não exceda a 8 (oito), poderá, desde o princípio, cumpri-la em regime semi-aberto; [...]. (BRASIL, 1940).

Logo, o regime de cumprimento da pena direcionará para a maior ou menor intensidade da restrição de liberdade. Assim, segundo Ferracini [2016], o sistema progressivo de cumprimento da pena possibilita ao condenado, através sua conduta carcerária, direcionar a intensidade de cumprimento de sua sentença, podendo ser utilizado mais ou menos rigor. Cabendo, assim, ao condenado a conquista de sua liberdade, ainda durante o cumprimento da pena.

O artigo 34 do Código Penal traz as regras do regime fechado:

Art. 34 - O condenado será submetido, no início do cumprimento da pena, a exame criminológico de classificação para individualização da execução. § 1º - O condenado fica sujeito a trabalho no período diurno e a isolamento durante o repouso noturno. § 2º - O trabalho será em comum dentro do estabelecimento, na conformidade das aptidões ou ocupações

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anteriores do condenado, desde que compatíveis com a execução da pena. § 3º - O trabalho externo é admissível, no regime fechado, em serviços ou obras públicas. (BRASIL, 1940).

Observa-se que o regime fechado se trata de um regime a ser aplicado quando da ocorrência de crimes mais graves, com pena superior a oito anos, em que o preso fica isolado durante o período noturno e trabalha durante o período do dia.

Já no regime semiaberto não existe previsão de isolamento durante o período noturno, estando suas regras previstas no artigo 35 do Código Penal:

Art. 35 - Aplica-se a norma do art. 34 deste Código, caput, ao condenado que inicie o cumprimento da pena em regime semi-aberto. § 1º - O condenado fica sujeito a trabalho em comum durante o período diurno, em colônia agrícola, industrial ou estabelecimento similar. § 2º - O trabalho externo é admissível, bem como a freqüência a cursos supletivos profissionalizantes, de instrução de segundo grau ou superior. (BRASIL, 1940).

Ao contrário do regime fechado, no regime semiaberto, existe a admissibilidade de participação de cursos supletivos profissionalizantes.

Já no regime aberto existe o embasamento na autodisciplina e no senso de responsabilidade do preso, sendo que suas regras estão previstas no artigo 36 do Código Penal, que estabelece:

Art. 36 - O regime aberto baseia-se na autodisciplina e senso de responsabilidade do condenado. § 1º - O condenado deverá, fora do estabelecimento e sem vigilância, trabalhar, freqüentar curso ou exercer outra atividade autorizada, permanecendo recolhido durante o período noturno e nos dias de folga. § 2º - O condenado será transferido do regime aberto, se praticar fato definido como crime doloso, se frustrar os fins da execução ou se, podendo não pagar a multa cumulativamente aplicada. (BRASIL, 1940).

Aludido regime conforme se depreende da leitura do artigo supra trata-se um regime no qual o preso possui uma maior liberdade de locomoção. Contudo, isso não significa que

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ele poderá fazer o que bem entender, já que deverá trabalhar, frequentar curso ou exercer outra atividade autorizada de forma responsável para assim não regredir de regime.

Assim, Cezar Roberto Bittencourt (2012, p. 1.346) aponta que “o maior mérito do regime aberto é manter o condenado em contato com a sua família e com a sociedade, permitindo que o mesmo leve uma vida útil e prestante”.

Cumpre mencionar que existe ainda um regime para o cumprimento de prisão de mulheres, que se encontra previsto no artigo 37 do Código Penal: “As mulheres cumprem pena em estabelecimento próprio, observando-se os deveres e direitos inerentes à sua condição pessoal, bem como, no que couber, o disposto neste Capítulo”. (BRASIL, 1940).

Por fim, existe, ainda, o regime disciplinar diferenciado, previsto no artigo 52 da LEP que diz:

A prática de fato previsto como crime doloso constitui falta grave e, quando ocasionar subversão da ordem ou disciplina internas, sujeitará o preso provisório, ou condenado, nacional ou estrangeiro, sem prejuízo da sanção penal, ao regime disciplinar diferenciado [...]. (BRASIL, 1984).

Desse modo, o condenado na sentença por pena privativa de liberdade, terá estabelecido um dos regimes prisionais acima citados, porém, conforme já visto, este poderá progredir de regime, atendendo os requisitos do artigo 112 da LEP bem como possuindo boa conduta carcerária.

Assim, feita uma análise da Lei de Execução Penal e do sistema progressivo, é de suma importância conhecer quais princípios norteadores do sistema penitenciário brasileiro, demonstrando qual sua finalidade no processo de reintegração e ressocialização do preso, os quais serão tratados a seguir.

2.2 Princípios norteadores da execução penal e do sistema progressivo

Para a aplicação da Lei de Execução Penal, é de suma importância observar que não basta a aplicação da letra fria da lei para a efetivação da finalidade da referida lei, já que,

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conforme Roig (2018, p. 17), devem ser analisados os princípios que norteiam sua aplicação, os quais se tratam de um meio e limitação racional do poder executório estatal sobre as pessoas.

Assim, se faz necessária uma breve análise de alguns dos principais princípios que norteiam a aplicação da Lei de Execução Penal, momento em que será observada grande defesa dos direitos humanos em relação ao encarcerado no processo de sua ressocialização e reinserção na sociedade.

2.2.1 Princípio da Humanidade

Conforme Roig (2018), o princípio da humanidade vem como uma forma de conter os danos provocados pelo exercício do poder punitivo do estado, sendo um dos fundamentos do Estado Republicano e Democrático de Direito, sendo considerado como um norteador dos demais princípios, servindo por diversas vezes como uma contenção de abusos dos direitos humanos dos presos por parte do estado.

Ainda, segundo Roig (2018, p. 18):

O princípio também é encontrado na Convenção Americana de Direitos Humanos (ninguém deve ser submetido a torturas, nem a penas ou tratos cruéis, desumanos ou degradantes. Toda pessoa privada de liberdade deve ser tratada com o respeito devido à dignidade inerente ao ser humano – art. 5º), no Conjunto de Princípios para a Proteção de Todas as Pessoas Sujeitas a Qualquer Forma de Detenção ou Prisão da ONU (a pessoa sujeita a qualquer forma de detenção ou prisão deve ser tratada com humanidade e com respeito da dignidade inerente ao ser humano – Princípio 1º) e nos Princípios Básicos para o tratamento dos reclusos da ONU (todos os reclusos deverão ser tratados com o respeito devido à dignidade e ao valor inerentes ao ser humano – Princípio 1). O Princípio n. 1 dos “Princípios e boas práticas para a proteção das pessoas privadas de liberdade nas Américas” da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (aprovados pela Resolução n. 1/2008) 27 dispõe igualmente que “não poderão ser invocadas circunstâncias, como estados de guerra ou exceção, situações de emergência, instabilidade política interna ou outra emergência nacional ou internacional para evitar o cumprimento das obrigações de respeito e garantia de tratamento humano a todas as pessoas privadas de liberdade”. Não se pode olvidar, ainda, a Convenção contra a tortura e outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes da ONU e a Convenção Interamericana para prevenir e punir a tortura, da OEA, instrumentos igualmente importantes na tutela da humanidade.

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Já no Brasil, tal princípio decorre de fundamento constitucional da dignidade da pessoa humana, previsto no artigo 1º, III, da Constituição Federal, bem como do princípio da prevalência dos direitos humanos, que está previsto no artigo 4º, II, da Constituição Federal. (BRASIL, 1988).

Logo, quando se trata da aplicação de tal princípio na execução penal, tem-se que ele funciona como uma forma de conter o poder punitivo do estado, proibindo a tortura e tratamento cruel e degradante, que se encontram previstos constitucionalmente no artigo 5º, III, da Constituição Federal, bem como da individualização da pena, também prevista no artigo 5º, XLVI, da Constituição Federal e na proibição das penas de morte, cruéis ou perpétuas, igualmente previstas no artigo 5º, XLVII, da Constituição Federal. (BRASIL, 1988).

Nesse sentido:

Em uma visão redutora da execução penal, a humanidade também se identifica com o imperativo da tolerância (ou alteridade), exigindo do magistrado da execução uma diferente percepção jurídica, social e humana da pessoa presa, capaz de reconhecê-la como sujeito de direitos. Essa nova compreensão do princípio da humanização da pena – cotejada pelo reconhecimento do outro – busca então afastar da apreciação judicial juízos eminentemente morais, retributivos, exemplificantes ou correcionais, bem como considerações subjetivistas, passíveis de subversão discriminatória e retributiva. Busca ainda deslegitimar o manejo da execução como instrumento de recuperação, reeducação, reintegração, ressocialização ou reforma dos indivíduos, típicos da ideologia tratamental positivista. (ROIG, 2018, p. 18-19)

Diante de tais afirmações, se percebe novamente presente a figura ressocialização do preso, já que se verifica que o manejo da execução se dá tanto pela sociedade, como pelo magistrado estado, que deverão agir juntos para privilegiar um tratamento humano do preso.

Assim, Roig (2018, p. 19) afirma que a Lei de Execução Penal adota o princípio da humanidade, já que estabelece sanções disciplinares, que, contudo, não poderão colocar em perigo a integridade física e moral do preso, conforme prevê o artigo 45, §1º, da Lei, vedando, inclusive, o emprego de cela escura em seu parágrafo segundo.

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Nesse ponto, a Lei de Execução Penal deverá privilegiar a humanidade do preso enquanto este tiver encarcerado, devendo o estado fornecer meios para que o preso possa voltar a sociedade de modo reintegrado, fornecendo todos os direitos que uma pessoa digna merece, devendo, para tanto, a sociedade igualmente contribuir com tal premissa, adotando uma postura diferenciada perante o preso, quando ele é posto em liberdade, devendo tratá-lo com um ser dotado de garantias e direitos.

2.2.2 Princípio da Legalidade

O princípio da legalidade previsto no artigo 5º, XXXIX, da Constituição da República e no artigo 1º, do Código Penal, estabelece que não haverá crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal. (BRASIL, 1988).

Referido princípio encontra-se previsto, ainda, no artigo 45 da Lei de Execução Penal, segundo o qual “não haverá falta nem sanção disciplinar sem expressa e anterior previsão legal ou regulamentar”. Funcionando, desse modo, mais uma vez como uma forma de controle das decisões e atos praticados pelo Judiciário e pela Administração Penitenciária, respectivamente, evitando, com isso, que o preso seja privado de direitos e garantias fundamentais. (BRASIL. 1984).

Trata-se de princípio de suma importância para a aplicação da pena, igualmente ao princípio da humanidade, servindo como base para uma série de outros princípios, já que veda a aplicação de penas ao preso sem prévia cominação em lei, evitando, deste modo, que na aplicação da pena o preso sofra algum tipo de abuso por parte do Judiciário, ou quando do cumprimento da pena sofra algum abuso por parte da Administração Penitenciária.

2.2.3 Princípio da Individualização da Pena

O princípio da individualização da pena, da mesma forma, encontra-se previsto na Constituição Federal, em seu artigo 5º, inciso XLVI, que prevê:

XLVI - a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes:

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b) perda de bens; c) multa;

d) prestação social alternativa;

e) suspensão ou interdição de direitos; (BRASIL, 1988).

Conforme Batista (2001, p. 104-105, apud ROIG 2018, p. 31):

Na verdade, individualização deve significar, em primeiro lugar, que as autoridades responsáveis pela execução penal possuem a obrigação de enxergar o preso como verdadeiro indivíduo, na acepção humana do termo, considerando suas reais necessidades como sujeito de direitos. Daí decorre a exigência de que as autoridades administrativa e judicial dispensem um olhar humanamente tolerante, capaz de considerar a concreta experiência social e a assistência e oportunidades dispensadas à pessoa presa.

Nesse viés, o princípio da individualização da pena prevê que cada preso terá sua pena, de modo individual, porém, tanto a sociedade como os agentes do estado deverão tratá-los de modo igualitário, oferecendo lhes condições mínimas de dignidade humana, já que, só assim, a pena irá atender ao fim de que necessita, ou seja, o fim ressocializador.

2.2.4 Princípio da Isonomia

O princípio da isonomia está positivado no caput do artigo 5º da Constituição Federal, e no artigo 3º da Lei de Execução Penal, que dispõe:

Art. 3º - Ao condenado e ao internado serão assegurados todos os direitos não atingidos pela sentença ou pela lei.

Parágrafo único - Não haverá qualquer distinção de natureza racial, social, religiosa ou política. (BRASIL, 1984).

Esse princípio visa que todos os apenados sejam tratados sem diferenças, proibindo qualquer forma de discriminação, estando comumente ligado aos direitos humanos, bem como direitos essenciais ao preso, que se encontram previstos na lei de execução penal, em seu artigo 41:

Art. 41 - Constituem direitos do preso: I – alimentação suficiente e vestuário; II – atribuição de trabalho e sua remuneração; III – Previdência Social; IV – constituição de pecúlio; V – proporcionalidade na distribuição do tempo para o trabalho, o descanso e a recreação; VI – exercício das atividades profissionais, intelectuais, artísticas e desportivas anteriores, desde que compatíveis com a execução da pena; VII – assistência material,

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à saúde, jurídica, educacional, social e religiosa; VIII – proteção contra qualquer forma de sensacionalismo; IX – entrevista pessoal e reservada com o advogado; X – visita do cônjuge, da companheira, de parentes e amigos em dias determinados; XI – chamamento nominal; XII – igualdade de tratamento salvo quanto às exigências da individualização da pena; XIII – audiência especial com o diretor do estabelecimento; XIV – representação e petição a qualquer autoridade, em defesa de direito; XV – contato com o mundo exterior por meio de correspondência escrita, da leitura e de outros meios de informação que não comprometam a moral e os bons costumes; XVI – atestado de pena a cumprir, emitido anualmente, sob pena da responsabilidade da autoridade judiciária competente. (BRASIL, 1984).

Portanto, o princípio da isonomia deverá ser aplicado em conjunto com outros princípios que norteiam a execução da pena, como o princípio da humanidade, legalidade e individualização da pena.

Assim sendo, para que a execução da pena atue de modo a atender a ressocialização do preso deverá ela atender a todos princípios analisados, tendo em vista que são eles quem norteiam a atividade do estado quando dá aplicação da lei e da pena.

Portanto, realizada uma análise do sistema progressivo e a Lei de Execução Penal, se pode entrar em uma explanação da situação do sistema penitenciário brasileiro, demonstrando quais as dificuldades que ele encontra, bem como demonstrando qual a importância dos direitos humanos no processo de reintegração e ressocialização do preso, perante todas dificuldades apresentadas pelo então sistema penitenciário.

2.3 A situação do sistema carcerário brasileiro frente ao sistema progressivo e a lei de execução penal

Conforme já mencionado, no referido tópico, será realizada uma breve análise da situação do sistema carcerário, fazendo uma análise de quais os principais problemas que norteiam seu funcionamento, bem como trazendo a importância dos direitos humanos nesse processo árduo e complexo que é a ressocialização do preso.

Nesse viés, se verifica que a situação prisional é um problema que afeta toda a sociedade, já que a população carcerária só tem aumentado nos últimos anos, gerando grande insegurança e hostilidade por parte dela, já que trata-se de um problema crônico, de difícil

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solução, exigindo do poder público altos investimentos financeiros e vontade política para efetivar os direitos dos presos, exigindo, contudo, que a sociedade reconheça que os presos apesar de terem cometido algum crime, são seres humanos, sendo sujeitos de direitos, devendo serem tratados como tais.

Neste sentido, segundo Temer (2013, apud Araujo, 2016, p. 33):

Segundo dados divulgados pelo Ministério da Justiça (...) o número total de presos nas penitenciárias e cadeias brasileiras subiu de 514.582 em Dezembro de 2011 para 549.577 em Julho de 2012 e há pelos menos 350 mil mandados de prisão aguardando serem cumpridos. Esse aumento populacional de presos não aparece na mesma velocidade da construção de novos presídios e por conta disso surge a problema da superpopulação carcerária. Em Julho de 2012, segundo dados oficiais, o déficit do número de vagas era de 250.504 vagas. Abarrotados, os presídios tornaram-se depósitos subumanos de gente impossível se estabelecer um cumprimento digno da pena. Uma ambiência perfeita para a eclosão das rebeliões cada vez mais sangrentas uma situação, ressalte-se, com forte reflexos sociais.

Citadas estatísticas, mostram que a lei de execução penal não vem cumprindo com seu papel ressocializador. Muito pelo contrário, não existe harmonia entre a lei e a atual situação do sistema carcerário, pois o sistema não ressocializa, ele está acabando com o restante da humanidade que o preso possui quando posto na prisão, tendo em vista que o sistema não assegura o respeito à integridade física dos presos conforme disposto no artigo 5º, XLIX, que diz “é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral”.

Nesse sentido, Ana Lúcia Langner e Lindomar Wessler Boneti (2017, p. 190), afirmam que “constata-se que o objetivo da prisão não apresenta perspectiva real da reconstrução do sujeito social, atribuindo foco prioritário no castigo, no isolamento social e no distanciamento do mundo da vida das condições reais da existência humana”.

Assim, quando se fala na Lei de Execução Penal, que se trata de importante instrumento para a efetivação dos direitos dos presos, Araujo (2016, p. 34) menciona que:

Volta-se a falar na Lei de Execução Penal que pode ser considerada uma boa Lei embora essa possua dispositivos inaplicáveis ou difíceis de serem aplicados como por exemplo a cooperação da comunidade nas atividades de execução da pena e das medidas de segurança. O legislador pode ter tido uma boa intenção ao formular tal assertiva, o problema é encontrar a

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fórmula de como efetivar essa cooperação e estimular a participação da sociedade uma vez que embora sinta as consequências do modelo prisional vigente não manifesta, exceto alguns casos isolados, qualquer interesse de participar do processo. Conforme (...) pesquisa realizada pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, revela que para 43% da população brasileira, bandido bom é bandido morto.

Através do trecho citado, se percebe que o problema da efetivação da Lei de Execução Penal se encontra na dificuldade de se descobrir a fórmula de como efetivar uma cooperação e estimular a participação da sociedade no processo de ressocialização do preso, já que a pena de prisão passa por uma grande crise, conforme enfatiza Greco (2015, p. 135) ao dizer que “percebe-se, sem muito esforço, que o sistema prisional está em crise. Os mesmos comportamentos desumanos praticados pelo Estado no período anterior ao Iluminismo repetem-se agora [...]”.

Nesse viés, se não bastasse a violência apresentada nos presídios, a sociedade, que deveria ter um papel importante no processo de reintegração do preso, acaba por não colaborar em nada, já que acaba etiquetando o apenado como verdadeiro delinquente.

Coadunando com isso Greco (2015, p. 68) afirma:

[...] Indivíduos que foram condenados ao cumprimento de uma pena privativa de liberdade são afetados, diariamente, em sua dignidade, enfrentando problemas como superlotação carcerária, espancamentos, ausência de programas de reabilitação, falta de cuidados médicos etc. A ressocialização do egresso é uma tarefa quase que impossível, pois não existem programas governamentais para sua reinserção social, além do fato de a sociedade, hipocritamente, não perdoar aquele que já foi condenado por ter praticado uma infração penal.

Feitas tais considerações, pode-se dizer que o problema que se encontra mais visível no sistema carcerário brasileiro é o da superlotação dos presídios, que se trata de um verdadeiro atentado contra os direitos humanos do preso. Nesse sentido:

[...] Numa cela, por exemplo, programada para receber 6 presos, não é incomum que passe a abrigar 3 ou 4 vezes a sua capacidade. Os presos são jogados em celas escuras, sem ventilação, misturados com detentos portadores do vírus HIV, tuberculosos, que possuem doenças de pele de fácil contágio etc. Na verdade, aquele ambiente insalubre é um terreno fértil para disseminação dessas doenças, pois os presos não recebem o devido

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