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(1)

A indústria

farmacêutica

brasileira e

as exportações para

a América Latina:

impactos dos acordos comerciais

e das variáveis macroeconômicas

estudos

FEBRAFARMA

Alexandre de Freitas Barbosa

Ricardo Camargo Mendes

Ricardo Sennes

estudos

FEBRAFARMA

As exportações brasileiras de medicamentos saltaram de US$ 71 milhões em 1996 para US$ 234 milhões em 2004. Desse total, a maioria (80%) foi para países da América Latina com os quais o Brasil vem assinando acordos comerciais nos últimos anos. O objetivo desse relatório é analisar a relevância desses acordos para o aumento das exportações de medicamentos do Brasil para os principais mercados na região. Além dos acordos comerciais, foram avaliadas também outras variáveis quantitativas (crescimento econômico dos países e taxa de câmbio real) e qualitativas (risco político, marco regulatório e decisões empresariais). De uma forma geral, os resultados indicam que os acordos têm impactos relevantes no crescimento das exportações, ainda que não de forma isolada, mas combinada com outras variáveis. Dentre os casos analisados, destacam-se positivamente em termos de ampliação de exportações os acordos com a Argentina e com o Chile. O acordo com o México é também emblemático por não prever margens de preferências tarifárias adicionais ao Acordo Quadro da ALADI, o que coloca o Brasil em uma posição desfavorável em relação a outros países com acordos de livre comércio com os mexicanos. Assim como os acordos com a Argentina e com o Chile, espera-se um impacto positivo do acordo recém-assinado Mercosul-CAN, em especial com a Colômbia, uma vez que o timing desse acordo favorece a entrada dos medicamentos brasileiros no mercado andino.

Alexandre Barbosa

Economista, mestre em Histórica Econômica (USP) e doutor em Economia Aplicada (UNICAMP). Foi pesquisador visitante em Texas University, Austin, e coordenador de Assuntos Multilaterais da Secretaria Municipal de Relações Internacionais da Prefeitura de São Paulo, de 2001 a 2003. Participou de seminários internacionais organizados por instituições como BID, CEPAL, OIT, OCDE e OMC. É professor de Economia na Universidade Mackenzie e analista econômico da Prospectiva Consultoria. Publicou O Mundo Globalizado: Economia, Sociedade e Política, Editora Contexto, 2001; e foi um dos organizadores do Atlas da Exclusão Social: A Exclusão no Mundo, Editora Cortez, 2004.

Ricardo Camargo Mendes

Bacharel em Relações Internacionais (PUC-SP) e mestre em Relações Internacionais (MPhil -Universidade de Cambridge). Trabalhou com o tema “Lobby empresarial e política de comércio internacional no Brasil”. Foi bolsista do governo britânico. Foi analista de relações internacionais na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) e atualmente é professor de Ciência Política na Faculdade Trevisan.

Ricardo Sennes

Economista (PUC-SP), mestre e doutor em Relações Internacionais (USP). Membro do Grupo de Acompanhamento da Conjuntura Internacional da USP (GACINT), do Conselho Editorial da Revista Foreign Affairs en español. Foi Coordenador do Escritório do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI) em São Paulo e pesquisador visitante do Woodrow Wilson Center (Washington), da Georgetown University (Washington) e da University of Califórnia, San Diego. É sócio da Prospectiva.

A indústria

farmacêutica brasileira

e as exportações para

a América Latina:

impactos dos acordos comerciais

e das variáveis macroeconômicas

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A coleção "Estudos Febrafarma" é composta por uma série de publicações que abordam temas da indústria farmacêutica, de interesse do setor, da sociedade e do governo. A série editada pela Federação Brasileira da Indústria Farmacêutica – entidade que representa 267 fabricantes farmacêuticos – apresenta pesquisas, estudos e teses, que tratam as questões mais atuais do segmento com responsabilidade, desenvolvidas por economistas, advogados e outros profissionais. Esse é mais um passo para a Febrafarma estabelecer um diálogo construtivo e permanente com a sociedade e autoridades governamentais responsáveis pela área de saúde, objetivando encontrar soluções para temas de interesse da indústria farmacêutica.

www.febrafarma.org.br febrafarma@febrafarma.org.br

SEDE BRASÍLIA

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ESCRITÓRIO REGIONAL SÃO PAULO

Rua Alvorada 1280 Vila Olímpia Cep 04550 004 São Paulo SP Brasil Fone 55 11 3046 9292

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A indústria

farmacêutica

brasileira e

as exportações para

a América Latina:

impactos dos acordos comerciais

e das variáveis macroeconômicas

Ricardo Sennes

Equipe de colaboradores:

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Barbosa, Alexandre de Freitas

A indústria farmacêutica brasileira e as exportações para a América Latina: impactos dos acordos comerciais e das variáveis macroeconômicas / Alexandre de Freitas Barbosa, Ricardo Camargo Mendes, Ricardo Sennes.--São Paulo: Febrafarma – Federação Brasileira da Indústria Farmacêutica, 2006. -- (Estudos Febrafarma)

Bibliografia.

1. Brasil - Comércia Exterior - América Latina 2. Exportações - Brasil

3. Indústria farmacêutica - Brasil 4. Medicamentos - Comércio - Brasil

I - Mendes, Ricardo Camargo II - Sennes, Ricardo

III - Título IV - Série

05-9930 CDD-382.4561510981

Índices para catálogo sistemático:

1. Medicamentos: Exportações: Brasil-América Latina: Comércio Internacional 382.4561510981

Fundação Biblioteca Nacional

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

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Agradecemos a colaboração técnica de Laura Gomes, gerente de comércio exterior e de sua assistente, Andréia Dardin, pelo levantamento de informações sobre os acordos internacionais em vigor, elaboração de banco de dados e esclarecimentos fornecidos e dos integrantes da Comissão de Comércio Exterior da Febrafarma, pelo importante apoio no atendimento às informações solicitadas durante o desenvolvimento do trabalho.

Alexandre de Freitas Barbosa Ricardo Camargo Mendes Ricardo Sennes

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Resumo Executivo I. Introdução II. Panorama Geral do Comércio do Setor de Produtos Farmacêuticos para a América Latina III. Síntese Geral dos Acordos de Complementação Econômica do Brasil com os Países da América Latina

IV. As Exportações Brasileiras de Medicamentos para o Chile: Estudo de caso V. As Exportações Brasileiras de Medicamentos

para o México: Estudo de caso VI. As Exportações Brasileiras de Medicamentos para a Colômbia e para a Venezuela: Estudo de caso

VII. As Exportações Brasileiras de Medicamentos para a Argentina: Estudo de caso VIII. Quadro Geral com a Correlação por País entre as Variáveis Analisadas e o Desempenho das

Exportações Brasileiras de Medicamentos IX. Conclusões Anexos Anexo 1 – Pesquisa Anexo 2 – Questionário Aplicado Anexo 3 – Tabela Comparativa das Regras de Origem por Acordo Anexo 4 – Correspondentes NCM x NALADI/DH 2002 Bibliografia

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Resumo Executivo

Quadro geral do mercado

ESTE ESTUDO OBJETIVOU avaliar a relevância dos acordos comerciais para o aumento das exportações brasileiras de medicamentos para a América Latina. Além dos acordos comerciais, foram avaliados também: a) crescimento econômico; b) taxa de câmbio real; c) risco político; d) marco regulatório; e) decisões empresariais.

Nos anos 90-2000, o crescimento do comércio internacional no setor farmacêutico foi extraordinário, com uma média de crescimento anual de 12%. Entre 2000-2003, esse crescimento foi ainda mais rápido: 23% a.a. Ou seja, duas vezes superior ao dos produtos químicos e quatro vezes maior que o total do comércio de manufaturados.

Em 2003, as exportações mundiais do setor farmacêutico atingiram a cifra de US$ 200 bilhões (3% das exportações totais de mercadorias). Os países desenvolvidos respondem por cerca de 90% das exportações e mais de 80% das importações mundiais de produtos farmacêuticos. As principais razões para isso são: a) relevância do comércio intrafirma; b) recursos disponíveis para P&D; c) gastos elevados com saúde por parte da população desses países.

Brasil e América Latina

A América Latina responde por 1,1% das exportações mundiais (US$ 2,2 bilhões em 2003). Os principais exportadores são México, Brasil, Argentina e Colômbia (91% do total da região). A região responde por 3,2% das importações mundiais (US$ 6,6 bilhões).

Entre 1996 e 2004, o Brasil passou de um déficit comercial com a região de US$ 31 milhões para um superávit de US$ 74 milhões.

O Brasil é o 21º maior importador mundial (0,9% do total) e 31º exportador (0,2% do total ou US$ 313 milhões) de medicamentos1. As exportações referentes à

posição 3004 do Sistema Harmonizado cresceram três vezes entre 1996 e 2004, passando de US$ 71 milhões para US$ 234 milhões, sendo 80% delas para a América Latina, principalmente Argentina, México e Venezuela. Aquelas são correspondentes a 67% do capítulo 30 do Sistema Harmonizado exportado pelo país. Os preços

1Divisão 54 do sistema de classificação SITC REV. 3 – a qual engloba parte do capítulo 29 do Sistema

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médios dos medicamentos exportados pelo Brasil indicaram uma variação positiva de 5% no período.

Do total das importações brasileiras de produtos da cadeia produtiva farmacêutica2, 44% são de farmoquímicos3, usados como insumos para a elaboração

de medicamentos, sendo o país o 13º importador mundial desses produtos, só superado pelos países desenvolvidos.

O país pode ser classificado como fabricante de porte médio de medicamentos com pequena agregação local de valor e voltado ao mercado interno.

Nesse período, essa indústria no Brasil combinou dois movimentos: a) elevação da posição das filiais brasileiras no fluxo de exportações regionais (impulsionada pela Lei de Patentes) e b) maior dinamismo exportador das empresas nacionais de medicamentos.

Esse contexto, no entanto, pode ser alterado em função do movimento recente de valorização do real frente às moedas internacionais.

Acordos comerciais da ALADI

A Associação Latino-Americana de Integração (ALADI) atua como um guarda-chuva para diversos acordos de escopo regional e/ou setorial entre os países da região em duas formas: a) acordo geral que estabelece margens de preferências tarifárias conforme o grau de desenvolvimento do país (Acordo de Preferência Tarifária Regional nº 4)4e b) acordos bilaterais e/ou regionais.

O Brasil tem ACEs (Acordos de Complementação Econômica) com todos os países da região e, destes, os com objetivo de constituir áreas de livre-comércio são estabelecidos com a Argentina, o Uruguai, o Paraguai, o Chile e a Comunidade Andina de Nações (CAN). Todos eles possuem definições específicas sobre Regras de Origem.

2Classificação SITC REV. 3. Os dados obtidos pela classificação SITC REV. 3 são provenientes do Relatório

Mundial de Comércio da OMC do ano de 2005.

3Produtos pertencentes às posições 2936 a 2942 do Sistema Harmonizado.

4Esse Acordo, assinado por todos os países-membros da ALADI, estabelece a Preferência Tarifária Regional

(PTR), conforme previsto no Art. 5 do Tratado de Montevidéu – TM 80. Nele, os países – membros outorgam preferências tarifárias de acordo com as seguintes categorias: Países de Menor Desenvolvimento Econômico Relativo (PMDER) Mediterrâneos – Bolívia e Paraguai; Países de Menor Desenvolvimento Econômico Relativo (PMDER) – Equador; Países de Desenvolvimento Intermediário (PDI) – Colômbia, Chile, Cuba, Peru (considerado país de desenvolvimento intermediário, mas não internalizou o Segundo Protocolo Adicional à PTR4), Uruguai e Venezuela; Demais – Argentina, Brasil e México.

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Principais estudos de casos

O caso chileno indica que as vantagens do acordo comercial, de 1996, foram importantes em termos de ampliação das exportações, inclusive com ganhos de mercado, por duas razões principais: a) permitiu posicionamento antecipado de empresas instaladas no Brasil nesse mercado; b) blindou parcialmente o Brasil da rápida abertura do mercado chileno aos competidores. Entretanto, e mesmo com a desvalorização brasileira, este ganho não se tornou sustentável no médio prazo, já que as vantagens comerciais foram erodidas, pelo fato de as decisões das empresas de capital estrangeiro não favorecerem as exportações da filial brasileira. Ainda assim, o

market share brasileiro, neste país, entre 2003 e 2004, foi elevado num quadro de

expansão da demanda chilena, com manutenção de um câmbio razoavelmente competitivo. As exportações brasileiras para o Chile, referentes à posição 3004, passaram de US$ 7,4 milhões em 1996 para US$ 15,17 milhões em 2004.

No caso mexicano, percebe-se que, mesmo não tendo conseguido o Brasil conter, via acordo comercial, a erosão das suas margens tarifárias, as exportações se elevaram de maneira expressiva no período recente, motivadas por dois fatores básicos: a) vantagem cambial considerável; b) decisões das empresas de capital estrangeiro de exportar a partir do Brasil algumas linhas de produtos.

O contexto negativo em termos de acordos comerciais coincidiu com o aumento das exportações pelos fatores citados acima, mas existe um forte risco de maior deslocamento do Brasil nesse mercado, dependendo, a médio prazo, das decisões das empresas de capital estrangeiro. As exportações brasileiras para o México, concernentes à posição 3004, passaram de US$ 3,82 milhões em 1996 para US$ 39,82 milhões em 2004.

Nos casos colombiano e venezuelano, não se observam mudanças tarifárias durante o período de 1999 a 2004. Mas estas passam a ser relevantes a partir de 2005 – com a assinatura do ACE-59 –, especialmente para o caso colombiano.

As exportações brasileiras de medicamentos cresceram de forma expressiva para os dois países, ampliando o market share em ambos os casos. Enquanto, na Colômbia, as decisões das empresas de capital estrangeiro compensaram a valorização cambial pós-2003, na Venezuela, a manutenção do câmbio competitivo permitiu a continuidade da expansão das exportações mesmo num contexto de baixa importância relativa desse mercado para as empresas de capital estrangeiro. As exportações brasileiras para a Colômbia referentes à posição 3004 passaram de US$ 3,5 milhões em 1996 para US$ 18,77 milhões em 2004; e para a Venezuela passaram de US$ 3,06 milhões em 1996 para US$ 36,26 milhões em 2004.

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O caso argentino revela, ao menos até 1998, o impacto fortemente positivo sobre as exportações brasileiras de medicamentos graças a uma conjunção de fatores: vantagens tarifárias obtidas no âmbito do Mercosul, importância desse país nas decisões das empresas de capital estrangeiro, câmbio suavemente desvalorizado em favor do Brasil, e forte expansão da demanda argentina, além da padronização do marco regulatório entre os dois países.

A queda das exportações brasileiras pós-1999, em especial em 2002, deveu-se à forte retração da demanda neste país. A recuperação econômica pós-2003 trouxe um novo incremento das exportações mesmo num contexto de valorização da moeda brasileira e perfurações à TEC para diversas linhas tarifárias pela Argentina, o que se explica pela importância adquirida pelo comércio intrafirma no contexto pós-Mercosul. No período recente, o market share brasileiro elevou-se para 16% das importações argentinas. Tal qual no caso do Chile, os acordos comerciais foram vitais para essa performance. As exportações brasileiras para a Argentina, concernentes à posição 3004, passaram de US$ 28,97 milhões em 1996 para US$ 59,24 milhões em 2004.

Principais conclusões

• O caso emblemático negativo – México: os acordos assinados Brasil-México não prevêem margens de preferências tarifárias adicionais às básicas da ALADI, o que coloca o Brasil em uma posição desfavorável em relação a outros países com acordos de livre-comércio com os mexicanos.

• Casos emblemáticos positivos – Argentina e Chile: acordos de livre-comércio assinados com o Brasil foram avaliados como tendo impactos relevantes – mais no caso argentino do que no chileno – tanto sobre o crescimento das exportações, quanto sobre o posicionamento dos produtos brasileiros naqueles mercados. • No caso argentino, não foram assinados acordos comerciais com terceiros países,

no entanto, a margem de preferência do Brasil para diversos produtos foi corroída por perfurações à TEC. No caso chileno, o acordo assinado antecipou os vários acordos de livre-comércio que o Chile vem assinando com outros países.

• Espera-se um impacto positivo do acordo recém-assinado Mercosul-CAN, em especial com a Colômbia. O timming desse acordo favorece a penetração dos medicamentos no mercado andino.

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• Fatores tais como câmbio e decisões empresariais também se mostraram cruciais e podem comprometer ou potencializar as vantagens adquiridas na negociação. • Empresas nacionais – mesmo possuindo um menor volume de exportações e atuando de forma concentrada em algumas posições tarifárias – conseguiram aumentar a sua posição nos mercados latino-americanos, especialmente quando se verificou uma coincidência de estímulos variados, tais como vantagem tarifária, câmbio e expansão da demanda.

• Em suma: os acordos têm impactos relevantes no crescimento das exportações de medicamentos para países da região, ainda que não de forma isolada, mas combinada com outras variáveis. Seus principais atributos estão evidenciados abaixo:

• Evitar corrosão de preferências já existentes; • Evitar deslocamento do comércio intrafirma;

• Permitr inserção nos mercados antes que outros países;

• Criar regras de origem que favoreçam a exportação de produtos farmacêuticos;

• Permitir o aumento da escala de produção e a especialização produtiva; • Assegurar ganhos adicionais de competitividade, especialmente quando se

conta com a vantagem cambial.

• Perspectiva em acordos comerciais – à medida que as margens de preferências tarifárias na região estão sendo erodidas por acordos de livre-comércio, novos acordos devem ser negociados no sentido de estabelecer, entre outros itens, marcos regulatórios comuns.

• É possível assegurar uma inserção ainda melhor dos produtos brasileiros nos mercados regionais. Para tanto, os seguintes pontos devem ser observados: • Acordos comerciais devem garantir margens de preferência iguais ou

maiores do que as dos concorrentes;

• Além de acesso a mercados, outros pontos – tais como a questão regulatória – devem integrar a pauta das negociações.

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I. Introdução

ESTE ESTUDO FOI ENCOMENDADO à Prospectiva Consultoria pela Federação Brasileira da Indústria Farmacêutica (Febrafarma), com o objetivo de avaliar a relevância dos acordos comerciais como variável-chave para se explicar a evolução das exportações brasileiras de medicamentos para a América Latina.

Paralelamente, além dos acordos comerciais – que nos permitem avaliar as margens de preferências tarifárias – foram avaliadas também outras variáveis que influenciam o fluxo de comércio internacional, tais quais: crescimento econômico, taxa de câmbio real, risco político, marco regulatório e decisões empresariais. Essas variáveis foram divididas em quantitativas (crescimento econômico e taxa de câmbio real) e qualitativas (risco político, marco regulatório e decisões empresariais).

Na primeira parte do relatório, é apresentado um panorama geral dos fluxos globais de comércio de produtos farmacêuticos que, entre 2000 e 2003, tiveram um crescimento médio de 23% ao ano. Ainda que o market share desse mercado mundial ocupado pelo Brasil e demais países latino-americanos seja quase irrelevante, o relatório mostra que as exportações brasileiras de produtos, com classificação 3004, triplicaram entre 1996 e 2004.

Como fica evidenciada nessa primeira parte do relatório, a posição classificatória 3004 (medicamentos) representa pouco mais de 2/3 das exportações brasileiras de medicamentos.

Daí a concentração do estudo nas linhas tarifárias derivadas dessa posição. Desse total exportado (US$ 234,5 milhões) em 2004, 80% teve como destino os países da ALADI. Adicionalmente, 90% do valor exportado de medicamentos para a ALADI foi direcionado para um grupo de cinco países, os quais mereceram estudos de casos específicos (Partes IV a VII do presente trabalho).

O relatório apresenta na seqüência uma síntese dos acordos de complementação econômica assinados pelo Brasil/Mercosul com os países da região. Nessa seção, são apresentadas as margens de preferências tarifárias outorgadas para produtos com a posição classificatória 3004 pelos acordos de complementação econômica, levando-se em conta o patrimônio histórico5e o cronograma de desgravação6.

É realizada, também, na parte II, uma análise das regras de origem de cada um desses acordos, com o intuito de classificá-las como mais ou menos restritivas que as Regras Gerais de Origem da ALADI. Tendo-se em conta que parte expressiva do

5Itens que desfrutam de preferências tarifárias acordadas em acordos prévios à negociação em curso.

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déficit brasileiro na cadeia produtiva farmacêutica é de produtos pertencentes às posições classificatórias 2936 e 2942, ou seja, farmoquímicos para a elaboração de medicamentos, o grau de flexibilidade das regras de origem pode ser uma importante condicionante para operações de exportação. Foram avaliados os seguintes acordos:

• Acordo de Complementação Econômica 35 – Mercosul-Chile • Acordo de Complementação Econômica 53 – Brasil-México • Acordo de Complementação Econômica 54 – Mercosul-México • Acordo de Complementação Econômica 39 – Brasil-CAN • Acordo de Complementação Econômica 59 – Mercosul-CAN • Acordo de Complementação Econômica 14 – Brasil-Argentina • Acordo de Complementação Econômica 43 – Brasil-Cuba • Acordo de Complementação Econômica 36 – Mercosul-Bolívia

Em seguida, o relatório apresenta cinco estudos de caso avaliando o impacto dos acordos comerciais, assim como das outras variáveis macroeconômicas e institucionais, para os seguintes países: Chile, México, Venezuela, Colômbia e Argentina.

Dentre os países com os quais o Brasil/Mercosul têm acordos de complementação econômica, ficaram de fora dos estudos de caso Cuba e Bolívia, dada a irrelevância das exportações de medicamentos para esses países, apesar das margens de preferências concedidas pelos ACE 43 e ACE 36.

As exportações para os cinco mercados selecionados totalizaram 72% do total exportado de medicamentos em 2004 pelo Brasil. Desse total, não foram registradas operações de exportação para Cuba e a Bolívia totalizou 0,58%, ou seja, cerca de US$ 1,3 milhão.

Outro importante recorte metodológico feito nessa terceira parte do estudo foi a concentração das oito NCMs (Nomenclatura Comum do Mercosul) mais exportadas pelo Brasil que podem variar para cada um dos mercados avaliados. Em todos os estudos de caso, as oito NCMs representaram mais de 70% das exportações do Brasil, sendo que esse percentual é maior que 80% para os casos chileno e mexicano.

Delineadas as mercadorias em que cada estudo de caso se concentraria, as variáveis analisadas foram divididas em quantitativas e qualitativas. As variáveis quantitativas (dinamismo das exportações brasileiras, margens de preferências tarifárias, taxa de câmbio e expansão da demanda) foram obtidas por meio de cálculos com um conjunto de dados recolhidos junto ao Comtrade/ONU, Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio Exterior, governos estrangeiros, institutos

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de pesquisas, organizações internacionais e a Febrafarma. Já as variáveis qualitativas (risco político, marco regulatório e decisões empresariais) foram avaliadas seguindo metodologia desenvolvida pela Prospectiva Consultoria, assim como através de pesquisa e entrevista com empresas exportadoras.

No caso das variáveis quantitativas, a expansão da demanda do país foi calculada a partir do índice de evolução das importações em valor, de acordo com os dados do Comtrade/ONU.

Já o câmbio real foi calculado, para cada um dos principais parceiros comerciais do país, a partir de uma variação da taxa de câmbio nominal multiplicada pela inflação do parceiro comercial analisado e dividida pela inflação do Brasil num determinado período. Partindo de 1996 como base 100, os anos em que o índice for superior a 100 indicam um baixo poder de compra da moeda nacional. Nesses anos, existe margem para os exportadores reduzirem preços em dólares para ganharem mercado. O oposto acontece quando o índice desce abaixo de 100, propiciando uma valorização em termos reais da moeda brasileira.

Além disso, foi calculada a evolução do market share (em valor e volume) para os principais mercados de destino do país. Dependendo da evolução da presença brasileira nestes mercados, pôde-se avaliar a importância relativa dos acordos comerciais (margem de desgravação tarifária) e das variáveis econômicas quantitativas (câmbio real e expansão da demanda) para explicar tanto a queda quanto a elevação do market share.

No caso das variáveis qualitativas, elas não são passíveis de mensuração rigorosa. Nesse sentido, optamos por avaliar em que medida o seu comportamento interfere ou não numa determinada tendência de evolução das exportações, juntando-se como variável explicativa às quantitativas.

Na variável “risco político” foram levados em consideração quatro elementos: a) satisfação com a democracia; b) existência de tensões militares, deposições, renúncias ou golpes de Estado; c) eleições livres; d) eleições limpas. Paralelamente, empreendeu-se um relato sucinto da situação política dos cinco países analisados nos estudos de casos.

No item marco regulatório, o objetivo da análise foi avaliar se as mudanças nas normas dos países favoreceram ou prejudicaram as exportações de medicamentos do Brasil, considerando que qualquer movimento, no sentido de convergir às normas aplicadas nos países da região com as normas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), pode se traduzir em vantagens competitivas para empresas brasileiras.

A avaliação da variável “decisões empresariais” é resultado de uma pesquisa aplicada em empresas do setor. Foram consultadas, por e-mail, 221 empresas

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cadastradas junto às entidades que compõem a Febrafarma. Desse total, 50 empresas (taxa de resposta de 22,6%) responderam ao questionário que visava a identificar quais são mercados prioritários para empresas de capital nacional e estrangeiro para cada linha de produto exportado. O resultado da pesquisa foi compilado aos estudos de caso e anexado a esse relatório (Anexo 1).

A partir dessa pesquisa, foi possível dizer qual a importância das empresas nacionais e empresas de capital estrangeiro na exportação das NCMs líderes da pauta de cada país, como também apresentar uma ordenação da relevância de cada país de destino nas vendas dos grupos para empresas de capital estrangeiro. Obviamente que as informações coletadas preservam o sigilo do informante, sendo que apenas se considera a presença de um dado país X nas exportações das empresas nacionais e empresas de capital estrangeiro como um todo. Dessa forma, pode-se apresentar, por exemplo, quais são os países em que as decisões das empresas de capital estrangeiro explicam parte expressiva dos fluxos comerciais.

O horizonte temporal escolhido para análise foi o período 1996-2004, que engloba os acordos comerciais assinados com os países da ALADI, sendo também aquele em que se presencia uma vigorosa expansão das exportações brasileiras de medicamentos. No caso da Argentina, a análise dos fluxos comerciais regrediu até 1994, de forma a captar o impacto do Mercosul sobre as exportações para este país.

Seguindo os estudos de caso, é apresentado um quadro geral resumindo as variáveis estudadas e conclusões. Ao final, são apresentadas as conclusões sobre o impacto dos acordos comerciais nas exportações brasileiras de medicamentos. Além da avaliação individual de cada um dos acordos, é apresentado também um balanço sobre as implicações setoriais resultantes da concessão de margens de preferências tarifárias e padronização de regulação.

Tem-se, aqui, portanto, uma importante ferramenta para balizar as negociações comerciais do setor farmacêutico, mas, também, para definir estratégias empresariais e planos de exportação para o setor. Acredita-se, finalmente, que essa ferramenta metodológica possa ser de grande valia se utilizada em outros setores da indústria brasileira.

(16)

II. Panorama Geral do Comércio do Setor de

Produtos Farmacêuticos para a América Latina

O OBJETIVO DESTE TÓPICO é fornecer um quadro geral da evolução das exportações do setor farmacêutico em escala mundial, apontando para a dimensão do mercado latino-americano e para o desempenho dos principais países exportadores desta região. Ao final do texto, são também apresentadas as principais características das exportações brasileiras de medicamentos para a América Latina.

O setor farmacêutico foi um dos setores da economia mundial que mais se destacaram em termos de aumento do comércio internacional ao longo da década de 90, com uma média de crescimento anual das exportações de 12%7, duas vezes

superior à taxa percentual dos produtos químicos, divisão em que os produtos farmacêuticos estão inseridos8.

No período 2000-2003, este crescimento das exportações de produtos farmacêuticos mostrou-se ainda mais rápido, atingindo a casa de 23% – percentual duas vezes superior ao verificado para os produtos químicos e quatro vezes maior que o comércio global de produtos manufaturados (tabela 1). Em 2003, as exportações mundiais do setor farmacêutico atingiram a cifra de US$ 200 bilhões9, o

que responde a 3% das exportações totais de mercadorias.

Tabela 1

Exportações mundiais de produtos químicos e industrializados, 2000-2003 (US$ bilhões e variação percentual)

Valor Variação percentual anual

2003 2000-2003 2001 2002 2003

Produtos industrializados 5,437 5,00 -3,80 5,20 14,50

Produtos químicos 794 10,70 2,60 11,00 19,00

Produtos farmacêuticos 200 23,00 23,00 22,40 20,30

Outros produtos químicos 594 7,50 7,50 -1,80 6,70

Fonte: UNSD Comtrade Database; WTO.

7World Trade Report 2005, WTO

8Segundo a classificação SITC REV. 3: a divisão 54 é equivalente aos capítulos 30 e parte do capítulo 29 do

Sistema Harmonizado.

9UNSD Comtrade Database; WTO. Os produtos farmacêuticos correspondem à divisão 54 do sistema de

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Percebe-se, ainda, que o mercado mundial de produtos farmacêuticos está concentrado nos países desenvolvidos, sendo que a América do Norte, os países da Europa Ocidental e o Japão correspondem a aproximadamente 90% das exportações e a mais de 80% das importações mundiais. A explicação por essa concentração dos fluxos de comércio de produtos farmacêuticos nos países desenvolvidos pode ser encontrada nos recursos disponíveis para pesquisa e desenvolvimento, na relevância do comércio intrafirma e nos gastos elevados com saúde por parte da população desses países.

Tabela 2

Ranking com os maiores exportadores e importadores mundiais de medicamentos em 2003 (divisão 54 do sistema de classificação SITC REV. 3)10

Exportadores Importadores

Ranking País US$ bilhões % Ranking País US$ bilhões %

1 Bélgica 25,5 12.71% 1 Estados Unidos 31,7 15.20%

2 Alemanha 23,6 11.77% 2 Bélgica 25,5 12.21%

3 Reino Unido 19,4 9.66% 3 Alemanha 20,7 9.91%

4 Estados Unidos 19,2 9.58% 4 Reino Unido 13,7 6.56%

5 Suíça 18,7 9.35% 5 França 13,1 6.28%

6 França 18,0 9.00% 6 Itália 10,8 5.18%

7 Irlanda 15,1 7.53% 7 Suíça 9,7 4.65%

8 Itália 10,2 5.12% 8 Espanha 7,3 3.49%

9 Países Baixos 7,8 3.91% 9 Países Baixos 7,0 3.34%

10 Suécia 6,6 3.28% 10 Japão 6,2 2.97% 11 Dinamarca 4,9 2.42% 11 Canadá 6,1 2.95% 12 Espanha 4,5 2.26% 12 Austrália 3,6 1.72% 13 Japão 3,2 1.59% 13 Áustria 3,0 1.43% 14 Áustria 2,9 1.44% 14 Irlanda 2,4 1.16% 15 China 2,9 1.43% 15 Polônia 2,4 1.16% 16 Canadá 2,3 1.17% 16 Rússia 2,4 1.13% 17 Índia 2,0 1.01% 17 Turquia 2,3 1.10% 31 Brasil 0,3 0.16% 21 Brasil 1,9 0.90%

Fonte: UNSD Comtrade Database.

10Segundo a classificação SITC REV. 3: a divisão 54 é equivalente ao capítulo 30 e parte do capítulo 29 (que

(18)

De acordo com o ranking dos mercados mais expressivos do setor farmacêutico (tabela 2), nota-se uma participação marginal dos países latino-americanos, tanto nas exportações quanto nas importações, sendo que a participação dos 12 países membros da ALADI11nas exportações corresponde a 1,14% do total em 2003, o que

em valores equivale a US$ 2,2 bilhões. Ressalte-se, ainda, que o Brasil possui uma melhor posição como importador (21ª posição, 0,9% do total importado) do que como exportador (31ª posição, 0,2% do total exportado).

Partindo da esfera mundial para a regional, entre os países da ALADI, em 2003, as exportações brasileiras (classificação SITC REV. 3) ocupavam o 2º lugar com US$ 313 milhões. Em primeiro lugar, encontrava-se o México com US$ 1,2 bilhão – ou seja, um valor exportado quatro vezes superior ao brasileiro. Em terceiro lugar estão as exportações da Argentina, com US$ 300 milhões, seguida da Colômbia (US$ 220 milhões), Venezuela (US$ 53 milhões), Chile (US$ 50 milhões) e Equador, Uruguai, Peru, Paraguai e Bolívia, que juntos totalizaram US$ 95 milhões. Percebe-se, portanto, que os quatro maiores exportadores da região respondem por 91% das exportações latino-americanas.

Com relação às importações de produtos farmacêuticos (classificação SITC REV. 3), em 2003, os 12 países membros da ALADI tiveram uma participação um pouco maior, totalizando US$ 6,6 bilhões, ou o equivalente a 3,17% das importações mundiais. Observa-se, portanto, que o mercado latino-americano de produtos farmacêuticos, onde o Brasil está melhor posicionado, é em grande medida marginal. É importante ressaltar também que, no caso brasileiro, do total das importações de US$ 1,88 bilhão da cadeia produtiva farmacêutica (classificação SITC REV. 3), 44% são de produtos pertencentes às posições 2936 a 2942 do Sistema Harmonizado, que são produtos farmoquímicos e servem de matéria-prima para a elaboração de medicamentos. Como importador desses produtos, o Brasil aparece em 13º lugar, atrás apenas de países desenvolvidos da América do Norte e Europa, o que indica a posição de fabricante de medicamentos com pequena agregação de valor no mercado interno. Dentro do setor farmacêutico, em um escopo mais específico, os produtos mais expressivos que compõem a pauta de exportações brasileiras correspondem à posição 3004, que engloba os medicamentos preparados para fins terapêuticos ou profiláticos, apresentados na forma de doses (código do sistema harmonizado que no sistema SITC REV. 3 corresponde à parte da divisão 542). No ano de 2004, os medicamentos responderam por 67% do total exportado pelo país quando se considera o capítulo 30 (US$ 234 milhões para a posição classificatória 3004 e US$ 351 milhões para o conjunto dos produtos farmacêuticos).

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Gráfico 1

Evolução das exportações totais brasileiras da posição 3004 (1996-2004)

Fonte: Aliceweb, Mdic. Elaboração: Prospectiva Consultoria

Analisando o fluxo de exportações brasileiras dos produtos contidos na posição 3004 (sistema harmonizado), percebe-se que houve um crescimento em valor de três vezes durante o período de 1996 a 2004, passando de US$ 71 milhões em 1996 para US$ 234 milhões em 2004. A evolução das exportações em volume por quilograma também foi positiva, ainda que durante o período de 1996 a 2004 tenha apresentado variações nos preços, tendo seu maior valor por quilograma em 1997 (US$ 19,39/kg) e menor valor em 1999 (US$ 8,8/kg). No entanto, a avaliação dos preços para os anos de 1996 e 2004 se manteve próxima, apresentando um aumento de apenas 5% entre as exportações destes dois anos (gráfico 1).

Mesmo com essa expansão das exportações brasileiras no setor, é importante ressaltar que o destino dessas exportações não atinge os principais mercados mundiais do setor farmacêutico, ficando em grande medida restritas ao escopo regional da ALADI, que corresponde a cerca de 80% do total das exportações brasileiras de medicamentos.

Em 2004, os três principais destinos das exportações brasileiras de medicamentos foram, em ordem decrescente: a Argentina, respondendo por 25,26% das exportações, seguido do México e da Venezuela, com 16,98% e 15,46% respectivamente (tabela 3). Os cinco principais mercados responderam por quase 90% das exportações para a ALADI e por 72% das exportações brasileiras de medicamentos. 0 50 100 150 200 250 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 M ilh õ e s M ilh õ e s 0 5 10 15 20 US$ kg

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Tabela 3

Principais destinos das exportações brasileiras em 2004, posição 3004

País US$ kg % Argentina 59.247.822 7.392.114 25,26% México 39.829.414 1.017.110 16,98% Venezuela 36.263.968 1.173.484 15,46% Colômbia 18.770.334 823.420 8,00% Chile 15.173.893 2.741.469 6,47% Equador 7.294.870 439.334 3,11% Peru 5.905.303 274.267 2,52% Uruguai 5.492.899 942.077 2,34% Paraguai 1.887.084 1.660.659 0,80% Bolívia 1.355.945 82.717 0,58% Total ALADI 191.221.532 16.546.651 82% Total Mundial 234.521.852 17.944.220 100%

Fonte: Aliceweb, Mdic

Gráfico 2

Principais destinos das exportações brasileiras em 2004, posição 3004

Fonte: Aliceweb, Mdic. Elaboração: Prospectiva Consultoria

Com relação aos produtos pertencentes à posição 3004, vale ressaltar que o Brasil não lidera as exportações desses produtos na América Latina, ocupando o 3º lugar entre os países da ALADI, atrás do México e Argentina (tabela 4). Tal acontecimento explica-se pelo fato de que o comércio no seio desse setor é geralmente realizado entre as filiais das empresas de capital estrangeiro, estando as suas plantas latino-americanas concentradas justamente nos três países acima citados. Ressalte-se, ainda, que a Colômbia vem logo após o Brasil e que El Salvador destaca-se por um valor exportado superior ao Chile.

Argentina 26% México 17% Venezuela 15% Colômbia 8% Chile 6% Restante ALADI 9% Resto do mundo 19%

(21)

Tabela 4

Exportações totais dos países da ALADI em 2003 para a posição 3004

Países US$ (milhões)

México 882,5 Argentina 225,1 Brasil 197,6 Colômbia 191,3 El Salvador 58,2 Chile 47,3 Uruguai 16,4 Peru 7,7 Bolívia 1,4 Venezuela n/d

Fonte: UNSD Comtrade Database.

Analisando o bloco ALADI em separado, percebe-se que, na maioria dos países, vem existindo uma elevação contínua das vendas externas brasileiras de medicamentos, com algumas particularidades.

As exportações para a Argentina – ainda que este país jamais tenha perdido a dianteira em termos de maior mercado importador do Brasil – sofreram uma queda expressiva entre 1999 e 2002, momento em que se elevam as exportações especialmente para o México, a Venezuela e a Colômbia. Esses três países também se destacam por apresentar o maior ritmo de elevação do valor exportado pelo Brasil entre 1996 e 2004. Além disso, o período pós-2002 revela um acentuado dinamismo das exportações brasileiras para os cinco principais mercados de destino, inclusive com recuperação parcial das vendas para a Argentina. Tal fato está associado a um conjunto de fatores – os quais têm pesos diferenciados conforme o país em questão, como se verá nos estudos de caso adiante – tais como desvalorização da moeda, recuperação do crescimento econômico, decisões das empresas de capital estrangeiro, cumprindo, nesse período, os acordos comerciais um papel pouco relevante.

Finalmente, vale indicar o baixo dinamismo das exportações brasileiras de medicamentos para alguns países, tais como Peru, Bolívia, Paraguai e Cuba. Nesses casos, os acordos comerciais não cumpriram papel importante para se elevar as exportações, além de terem contribuído, de forma negativa, para as decisões empresariais – optando as empresas por fornecer a partir de outros países onde as empresas de capital estrangeiro tenham estabelecido as suas plantas – ou então porque a estagnação destas economias não permitiu elevar o nível das suas importações (gráfico 3).

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Gráfico 3

Exportações brasileiras para os países da ALADI, para a posição 3004 (1996-2004)*

Fonte: Aliceweb, Mdic. Elaboração: Prospectiva Consultoria

* “0” significa que não houve exportação brasileira no período em questão. 0 10 20 30 40 50 60 70 80 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 Argentina Bolívia Chile Colômbia Cuba Equador México Paraguai Peru Uruguai Venezuela U S $ M ilh õ e s

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Tabela 5

Exportações brasileiras para os países da ALADI, para a posição 3004 (1996-2004) (em milhões de dólares)

Países 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 Argentina 28,97 43,64 63,53 74,80 64,72 69,71 47,57 54,11 59,24 México 3,82 8,38 8,50 15,20 15,68 15,68 24,17 29,98 39,82 Venezuela 3,06 2,78 6,43 11,95 14,22 18,17 22,13 22,04 36,26 Colômbia 3,50 6,03 7,07 10,61 11,88 12,69 20,38 18,21 18,77 Chile 7,40 6,97 9,46 9,99 9,66 9,63 8,67 12,86 15,17 Equador 1,06 1,21 1,84 1,34 1,78 3,32 3,76 5,39 7,29 Peru 3,33 4,93 5,90 6,53 4,79 6,34 6,91 7,31 5,90 Uruguai 2,19 3,06 4,38 4,85 5,23 5,57 4,91 5,10 5,49 Paraguai 1,17 1,53 2,17 2,30 3,01 2,36 1,63 1,66 1,88 Bolívia 2,18 2,16 2,84 1,74 1,78 1,49 1,52 1,53 1,35 Cuba 0,01 0,15 0,01 0,01 0,009 0* 0* 0* 0*

Fonte: Aliceweb, Mdic. Elaboração: Prospectiva Consultoria

* Não houve exportações do Brasil para Cuba em 2001, 2002, 2003 e 2004

Tabela 6

Evolução das exportações brasileiras para os países da ALADI,para a posição 3004 (Base 100 = 1996),com base nos dados da tabela 5 (milhões de dólares)

Países 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 Argentina 100 151 219 258 223 241 164 187 204 México 100 219 222 397 410 409 631 783 1040 Venezuela 100 91 210 390 464 592 721 718 1182 Colômbia 100 172 202 303 339 362 581 519 535 Chile 100 94 128 135 131 130 117 174 205 Equador 100 114 173 126 167 311 352 504 682 Peru 100 148 177 196 144 190 208 220 177 Uruguai 100 140 200 221 238 254 224 232 250 Paraguai 100 130 185 196 256 201 139 141 160 Bolívia 100 99 130 80 82 68 70 70 62 Cuba 100 1482 98 94 88 0* 0* 0* 0*

Fonte: Aliceweb, Mdic. Elaboração: Prospectiva Consultoria

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Além da expansão das exportações brasileiras para os países da ALADI, entre 1996 e 2004, houve também uma mudança no saldo comercial, que era negativo em 1996, e passou a ser crescentemente positivo de 2000 em diante, em relação a esses países. Em 1996, o Brasil tinha um déficit comercial de US$ 31 milhões com a região, enquanto em 2004 o superávit totalizou US$ 74 milhões (gráfico 4).

Adicionalmente, quando se analisam as exportações e importações dos principais parceiros comerciais do Brasil, percebe-se que a Argentina e o México, juntos, respondiam por 51% das exportações para esta região e por 80% das importações brasileiras provenientes da ALADI em 2004. Ao longo do período analisado, juntamente com a elevação do superávit com os demais países, o Brasil logrou inverter o sinal do déficit que possuía com a Argentina e reduzir em cerca de 75% o déficit comercial com o México (tabela 7).

Trata-se de um sinal claro de elevação da posição das filiais brasileiras na hierarquia regional das principais empresas de capital estrangeiro. Por outro lado, comprova-se o maior dinamismo das exportações de medicamentos por parte das empresas nacionais.

Contudo, tal superávit comercial ainda se mostra bastante limitado, quando se compara o saldo comercial negativo que o Brasil possui com o resto do mundo, bastante concentrado nos países desenvolvidos. Se considerarmos apenas o segmento de medicamentos , o déficit comercial brasileiro fora da América Latina saltou de cerca de US$ 415 milhões para mais de US$ 900 milhões entre 1996 e 2004 (tabela 7).

Gráfico 4

Comércio entre Brasil e países da ALADI, para a posição 3004 em milhões de US$ (1996-2004)

Fonte: Aliceweb, Mdic. Elaboração: Prospectiva Consultoria

0 50 100 150 200 250 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 M ilh õ e s M ilh õ e s -60 -40 -20 0 20 40 60 80 100

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Tabela 7

Principais parceiros comerciais do Brasil na América Latina

Exportação Importação Saldo 1996 2004 1996 2004 1996 2004 Países US$ US$ US$ US$ US$ US$

Argentina 28.973.054 59.247.827 44.060.690 45.569.257 -15.087.636 13.678.570 México 3.829.751 39.829.414 34.107.861 47.608.541 -30.278.110 -7.779.127 Total ALADI* 23.950.788 92.144.478 9.881.321 23.408.537 14.069.467 68.735.941 Total ALADI 56.753.593 191.221.719 88.049.872 116.586.335 -31.296.279 74.635.384 Total Resto do mundo 14.711.644 43.300.246 429.729.992 947.732.687 -415.018.348 -904.432.441

Fonte: Aliceweb, Mdic.

Elaboração: Prospectiva Consultoria *Exceto Argentina e México

Tabela 8

Balança comercial do Brasil com países da ALADI (1996-2004, em US$)

1996 2004 1996 2004

Países Exportações Importações Exportações Importações Saldo Saldo

Chile 7.400.505 301.607 15.173.898 0* 7.098.898 15.173.898 Colômbia 3.507.619 3.558.998 18.770.337 5.576.827 -51.379 13.193.510 Peru 3.331.098 430.147 5.905.305 0* 2.900.951 5.905.305 Venezuela 3.068.440 801.836 36.263.973 2.928.196 2.266.604 33.335.777 Uruguai 2.197.771 4.698.040 5.492.901 3.799.876 -2.500.269 1.693.025 Bolívia 2.187.242 0* 1.355.999 0* 2.187.242 1.355.999 Paraguai 1.177.681 90.693 1.887.088 0* 1.086.988 1.887.088 Equador 1.069.711 0* 7.294.875 11.049.811 1.069.711 -3.754.936 Cuba 10.171 0* 0* 53.827 10.171 -53.827

Fonte: Aliceweb, Mdic. Elaboração: Prospectiva Consultoria

* “0” significa que não houve importação/exportação no período em questão.

Os estudos de casos relatados nas partes seguintes deste relatório têm como objetivo comprovar como e por que as exportações brasileiras de medicamentos se fizeram mais dinâmicas para a região latino-americana. Câmbio, dinamismo das economias importadoras, decisões empresariais das empresas de capital estrangeiro – e em alguns casos os acordos comerciais, ainda que tal elemento seja decisivo apenas para o caso argentino – surgem como importantes variáveis a serem consideradas na análise dos fluxos de comércio brasileiro no âmbito do setor farmacêutico.

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Pode-se também sugerir que tais variáveis tendem a exercer um impacto ainda mais duradouro e consistente em termos de maior valor exportado na medida em que o país for capaz de estabelecer uma política industrial que estimule a agregação de valor no espaço nacional e a conquista de novos mercados internacionais.

Simultaneamente, vale ressaltar que a expansão do mercado interno por meio de uma política de crescimento econômico com distribuição de renda, ao elevar a escala de produção das empresas nacionais e empresas de capital estrangeiro, tende a exercer um efeito positivo em termos de elevação da produtividade, ocupação da capacidade ociosa e aumento dos gastos em P&D, passando assim o país a ocupar um papel mais relevante enquanto exportador de um segmento altamente dinâmico no comércio internacional.

(27)

III. Síntese Geral dos Acordos de Complementação

Econômica do Brasil com os Países da América Latina

A ASSOCIAÇÃO LATINO-AMERICANA DE INTEGRAÇÃO (ALADI) atua como um guarda-chuva para diversos acordos de escopo regional e/ou setorial entre os seguintes países da região: México, Cuba, Venezuela, Colômbia, Equador, Peru, Bolívia, Chile, Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. Além do Acordo Geral que estabelece margens de preferências tarifárias conforme o grau de desenvolvimento do país (Acordo de Preferência Tarifária Regional nº 4 – APTR Nº 4), existem, também, uma série de acordos bilaterais e/ou regionais entre os países latino-americanos no âmbito da ALADI. Estes acordos têm alcances e densidades diferentes, podendo ter como objetivo desde a formulação de áreas de livre-comércio até a concessão de margens de preferências tarifárias para setores ou produtos específicos. Há que se ressaltar que todos os acordos aqui analisados são classificados como Acordos de Complementação Econômica (ACEs) que se distinguem pela maior amplitude que as demais categorias da ALADI. Ainda assim, o alcance e os objetivos de cada um deles são diferentes, sobretudo quando analisados sob a ótica setorial. Entre os ACEs que têm como objetivo a constituição de áreas de livre-comércio assinados pelo Brasil, destacam-se os de número 14 (Brasil-Argentina), 35 (Mercosul-Chile), 36 (Mercosul-Bolívia) e 59 (Mercosul-CAN). Os acordos firmados com Cuba (ACE 43) e com o México (ACE 54) não abrangem várias linhas tarifárias, o que não os definem como acordos de livre-comércio. Ao se criar margens de preferências tarifárias específicas que chegam (ou têm como fim chegar) a 100% são previstas regras de origem específicas. Tais regras podem ser mais rígidas ou mais liberais que o Regime Geral de Origem da ALADI. A maior parte dos produtos com a posição classificatória 3004 da NALADI/SH12 foram incluídos nas margens de

preferências tarifárias concedidas pelos países (por meio dos ACEs) ao Brasil. No caso do Chile, o acordo assinado em junho de 1996 (ACE 35) estabeleceu um cronograma de desgravação para os produtos com classificação tarifária 30041020, 30041090, 30042000, 30043200, 30043900, 30045000 e 3004900 que partia de uma preferência de 50% em cima da tarifa sobre a tarifa aplicada aos produtos brasileiros (conforme o APTR Nº 4) a partir da entrada em vigor do acordo naquele mesmo ano. Os demais produtos com classificação 3004 receberam uma margem de preferência de 40% no primeiro ano de vigência do acordo (nenhum desses produtos

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consta entre as principais exportações do Brasil para o Chile no período analisado). Tanto para os produtos cuja desgravação inicial foi de 50% como para os que foi de 40%, o cronograma de desgravação previa margem de preferência de 100% a partir de 1º de janeiro de 2004.

O Acordo de Complementação Econômica entre o Mercosul e o Chile (ACE 35) cria um regime próprio de origem. As mercadorias elaboradas com materiais não originários são consideradas originárias desde que no processo de transformação lhe seja conferida uma nova individualidade (mercadoria deve ser classificada em uma posição diferente dos materiais, segundo a nomenclatura NALADI/SH). Em alguns casos, é necessário um salto de posição e conteúdo regional. Não são consideradas originárias mercadorias cujos processos de transformação sejam meras operações de maquilagem. Caso não seja possível conferir uma nova individualidade nas operações de transformação, basta que o valor CIF porto de destino ou CIF porto marítimo dos materiais não originários não exceda 40% do valor FOB da mercadoria final. Algumas mercadorias devem cumprir com requisitos específicos. No entanto, nenhum produto de posição classificatória 3004 foi incluído na lista de mercadorias com requisitos específicos13.

O acordo assinado com o México (ACE 54) não prevê a concessão de margens de preferências tarifárias para produtos com a posição classificatória 3004. Visto que nenhum produto da posição 3004 faz parte do acordo, nem dos acordos bilaterais do México como Brasil/Mercosul (ACE 53 e ACE 54), as regras de origem previstas nesses acordos não têm implicação para o fluxo de comércio entre o Brasil e o México.

Todavia, esses países seguem o Regime Geral de Origem da ALADI, previsto na Resolução 78 e nas disposições complementares (modificadas pelo Comitê de Representantes dessa Associação). O Regime Geral de Origem da ALADI estipula que, para serem originárias, as mercadorias têm de ser elaboradas em território de um país membro. Caso sejam usados insumos provenientes de países não-participantes no acordo em questão, as mercadorias devem configurar numa nova posição classificatória para serem consideradas originárias. Esses processos de transformação não podem ser restritos a processos de maquilagem. As mercadorias fabricadas com insumos provenientes de países membros e não-membros da ALADI são consideradas originárias quando o valor CIF porto de destino ou CIF porto marítimo dos materiais não originários de terceiros países não exceda 50% do valor FOB da exportação de tais mercadorias. O Regime estipula ainda regras específicas para uma série de mercadorias, dentre as quais não estão incluídos os produtos de classificação 3004.

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No caso do acordo com os países andinos (ACE 59), foram estabelecidos cronogramas distintos para desgravação tarifária dos produtos 3004 de acordo com o país. A Colômbia desgravou 100% de sua tarifa já no primeiro ano de vigência do acordo para os produtos classificados com as posições classificatórias 30041020, 30041090, 30042000, 30043110, 30043200, 30043900, 30044000, 30045000 e 30049000. Com exceção da linha tarifária 300443100, cuja desgravação pela Venezuela também foi da ordem de 100% no primeiro ano, as demais posições classificatórias 3004 incluídas no ACE 59 serão desgravadas paulatinamente até 2015, a partir de uma desgravação inicial de 15% sobre a tarifa em vigor. A posição classificatória 30049030, que na nomenclatura NALADI corresponde à linha 30049000, fazia parte do ACE 39, acordo que estabelecia margens de preferências fixas entre o Brasil e os países andinos antes da assinatura do ACE 59. Para esse produto (substitutos sintéticos do plasma humano), o ACE 59 estabelece uma desgravação inicial de 30% sobre o patrimônio histórico que correspondia a 30%. A desgravação total deve acontecer até 2015.

O Acordo de Complementação Econômica entre o Brasil e os países da Comunidade Andina de Nações (ACE 39) segue o Regime Geral de Origem da ALADI, previsto na Resolução 78 e nas disposições complementares e modificadas do Comitê de Representantes dessa Associação. O Regime Geral de Origem da ALADI estipula que, para serem originárias, as mercadorias têm que ser elaboradas em território de um país membro. Caso sejam usados insumos provenientes de países não-participantes no acordo em questão, as mercadorias deverão configurar nova posição classificatória para ser considerada originária. Esses processos de transformação não podem ser restritos a processos de maquilagem. As mercadorias fabricadas com insumos provenientes de países membros e não-membros da ALADI são consideradas originárias quando o valor CIF porto de destino ou CIF porto marítimo dos materiais não originários de terceiros países não exceda 50% do valor FOB da exportação de tais mercadorias. O Regime estipula ainda regras específicas para uma série de mercadorias, dentre as quais não estão incluídos os produtos de classificação 3004.

Foi criado um regime de origem próprio no âmbito do Acordo de Complementação Econômica entre o Mercosul e os países da CAN (ACE 59). Na medida em que as desgravações tarifárias previstas no ACE 59 alcançarem as margens tarifárias estabelecidas no ACE 39, as regras de origem próprias passam a ser seguidas. O regime estabelece que as mercadorias elaboradas que incorporem materiais não originários das partes são consideradas originárias desde que “resultem de um processo de transformação distinto da embalagem ou montagem, realizado no território de qualquer uma das partes signatárias, que lhes configura uma nova

(30)

individualidade. Essa nova individualidade implica, no Sistema Harmonizado, classificação em uma posição diferente daquelas em que se classifiquem cada um dos materiais não originários” (ACE 59). Caso não haja uma mudança de posição tarifária, a mercadoria é considerada originária quando o valor CIF dos materiais não originários não exceder 40% no caso do Brasil do valor FOB de exportação. Sempre que as mercadorias resultarem de um processo de embalagem ou montagem realizado no território de qualquer uma das partes signatárias utilizando materiais originários e não originários, o valor CIF do produto não pode exceder 40% do valor FOB de exportação para produtos provenientes do Brasil.

Existem regras específicas de origem para algumas mercadorias no ACE 59. No entanto, nenhum produto com a posição 3004 foi incluído na lista de regras específicas. Antes da assinatura do Tratado de Assunção que estabeleceu o Mercado Comum entre Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, os dois principais países do Mercosul assinaram, no âmbito da ALADI, o ACE 14, que previa a desgravação total de suas tarifas até o final de 1994. Desde então, os produtos fabricados no Brasil da posição classificatória 3004 entram na Argentina com margem de preferências tarifárias de 100%.

O Regime de Origem do Mercosul é aplicado no comércio bilateral Brasil-Argentina para que as mercadorias sejam sujeitas à TEC e desfrutem das medidas de política comerciais diferentes aplicadas por um ou mais Estados-parte. Diversas mudanças foram incorporadas ao Regime de Origem do Mercosul desde 1992 por meio de protocolos adicionais. O Comitê Técnico da ALADI consolidou todas essas em um único documento incorporado ao Regime de Origem do Mercosul como o 44º Protocolo Adicional.

Para serem originários dos países do Mercosul, os produtos, cuja elaboração utiliza materiais de terceiros países, deverão necessariamente ser caracterizados pelo fato de estarem classificados em uma posição tarifária (primeiros quatro dígitos) diferente à da NCM dos mencionados materiais. Caso esse requisito não possa ser cumprido, é suficiente que o valor CIF porto de destino ou CIF porto marítimo dos insumos de terceiros países não exceda 40% do valor FOB das mercadorias que se trate. Caso o processo de transformação se resuma a operações de maquilagem, os produtos resultantes não serão considerados originários.

Ao contrário dos demais acordos aqui analisados, o Acordo de Complementação Econômica com Cuba (ACE 43) tem como parte signatária o Brasil, e não o Mercosul. O acordo foi assinado em dezembro de 1999 e internalizado no Brasil em março de 2000. Em novembro de 2000, foi assinado o Primeiro Protocolo, estabelecendo margens de preferências tarifárias de 80% para as NCMs 30042000, 30043100, 30043200, 30043900 e 30049000 em Cuba. Como a contrapartida

(31)

brasileira oferece margens de preferência de 100% para quase todas as linhas tarifárias que integram o acordo, foi oferecido 100% de margem tarifária para alguns produtos classificados no código 30044900 por Cuba.

O acordo assinado entre o Mercosul e a Bolívia (ACE 36) previa a desgravação completa (100%) das tarifas cobradas no mercado boliviano para os códigos 30041010, 30042000, 30043900, 30045010, 30045090, 30049020 e 30049090 no dia 1º de janeiro de 2006. A desgravação inicial (28 de fevereiro de 1997) foi da ordem de 30% para todas essas posições classificatórias. Os produtos para uso veterinário classificados com essas mesmas posições ficaram isentos de tarifa logo no primeiro ano de entrada em vigor deste acordo.

Foi criado um regime próprio de origem no Acordo de Complementação Econômica entre os países do Mercosul e a Bolívia (ACE 36). O regime estabelecido pelo ACE 36 prevê que produtos (incluindo medicamentos) são considerados originários quando é gerada uma nova posição classificatória (NCM) a partir da transformação de componentes importados de terceiros países, desde que as operações de transformação não sejam apenas processos maquiladores. Na impossibilidade de ser gerada uma nova posição, basta que o valor CIF porto de destino ou CIF porto marítimo dos materiais não originários não exceda 40% do valor FOB de exportação da mercadoria final.

Para alguns produtos de classificação 3004, o ACE 36 estipula regras de origem específicas. No caso das classificações 3004 1010, 3004 3100, 3004 3200, 3004 3900, 3004 5010 e 3004 9020, as regras específicas exigem que os materiais não originários usados na fabricação desses produtos não excedam 50% do seu valor. Para as classificações 3004 2000, 3004 4000, 3004 5090 e 3004 9090, a regra específica previa tratamento especial até 1/1/2000, estabelecendo que os materiais não originários das partes signatárias não deveriam exceder 60% do valor. O Décimo Protocolo Adicional do Acordo estendeu esse prazo até 30 junho de 2001. Outras mudanças nas regras de origens específicas previstas no ACE 36 foram incorporadas com o Décimo Quarto Protocolo Adicional que entrou em vigor em 16 de abril de 2002. Não houve, no entanto, mudanças para os produtos de classificação 3004.

A tabela a seguir sintetiza as principais características dos acordos para a posição classificatória 3004.

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Acordo Chile (ACE 35) México (ACE 54) Colômbia (ACE 59) Venezuela (ACE 59) Argentina (ACE 14) Cuba (ACE 43) Bolívia (ACE 36) Data de assinatura 25 de junho de 1996 5 de junho de 2002 16 de dezembro de 2003 16 de dezembro de 2003 Dezembro de 1990 22 de dezembro de 1999 dezembro de 1997 Data de internalização no Brasil 19 de novembro de 1996 18 de fevereiro de 2003 1 de fevereiro de 2005 1 de fevereiro de 2005 15 de março de 1991 22 de março de 2000 - Primeiro Protocolo Adicional – nov/2000 28 de maio de 1997 Cronograma de desgravação para 3004

Começa com 50% em 1996 e alcança 100% em 2004 para as linhas tarifárias 30041020, 30041090, 30042000, 30043200, 30043900, 30045000 e 30049000 (os demais produtos da posição 3004 partem de uma margem de 40% e alcançam 100% também em 2004). Não há produtos no cronograma. 100% imediatamente após a entrada em vigor para as linhas tarifárias 30041020, 30041090, 30042000, 30043100, 30043200, 30043900, 30044000, 30045000 e 30049000. 30041020, 30041090, 30042000, 30043200, 30043900, 30044000, 30045000 e 30049000 (algumas categorias) margem inicial de 15% e desgravação total até 2015. 30043100 desgravação total imediata. 30049030 (substitutos do plasma humano) 30% no primeiro ano em cima do patrimônio histórico e 100% em 2015. 100% de preferência desde

janeiro de 1995.

Preferência de 80% para os produtos 30042000, 30043100, 30043200, 30043900 e 30049000 incluídas pelo Primeiro Protocolo Adicional (100% para alguns 30049000). 30% em 28 de fevereiro de 1997 e 100% em 1 de janeiro de 2006 para os códigos 30041010, 30042000, 30043900, 30045010, 30045090, 30049020 e 30049090 (para uso veterinário, os produtos têm margem de 100% desde a entrada em vigor do acordo).

Acesso preferencial anterior para 3004? Sim (12% de preferência – ALADI) Sim (20% de preferência – ALADI) Sim: - ACE 39 (apenas 30049030 – 30%) - ALADI (12%, 30043100 e 30044000) Sim: - ACE 39 (apenas 30049030 – 30%) - ALADI (12%, para os demais) Sim: - ALADI – 20% Sim: - ALADI – 20% Sim: - ALADI – 8%

Fonte: ALADI e Mdic. Elaboração: Prospectiva Consultoria

Tabela 1

Principais acordos assinados entre o Brasil e os países da América Latina referentes à posição 3004

(33)

14 Anterior a este acordo havia o Acordo de Preferência Tarifária Regional n° 4 (Segundo Protocolo Adicional

de 26 de junho de 1990), chancelado por todos os países-membros da ALADI, estabelece a Preferência Tarifária Regional (PTR), conforme previsto no Art. 5 do Tratado de Montevidéu – TM 80. Nele, o Chile (país de desenvolvimento intermediário, segundo a classificação) outorga à Argentina, México e Brasil 12% de margem de preferência tarifária para os códigos 30043100 e 30044000. É imperativo indicar que podem existir divergên-cias entre as listas de exceções utilizadas por cada país e a lista em NALADI/SH 96 (fonte: Mdic).

15 European Free Trade Agreement.

IV. As Exportações Brasileiras de Medicamentos

para o Chile: Estudo de Caso

1. O Acordo Comercial

O ACORDO DE COMPLEMENTAÇÃO ECONÔMICA do Brasil com o Chile (ACE-35) foi assinado no dia 25 de junho de 1996. De acordo com o cronograma de desgravação tarifária, concedeu-se inicialmente uma margem de preferência de 50%14, a qual chegou a 100% no ano de 2004, para a maior

parte dos medicamentos, incluindo as oito linhas tarifárias (NCM) mais exportadas do Brasil para o Chile. Isso significa que as exportações brasileiras, desde o ano passado, ingressam neste país com tarifa zero.

Durante todo o período analisado, a tarifa efetiva praticada pelo Chile para os principais medicamentos aqui analisados foi de 6%, enquanto a tarifa consolidada na OMC situa-se na casa dos 25%. Na prática, entretanto, os vários acordos comerciais assinados pelo Chile têm reduzido as tarifas praticadas a zero. A única diferença refere-se às datas de vigência dos acordos comerciais. Tal ponto pode ser visualizado no quadro abaixo:

Quadro 1

Ano de desgravação tarifária completa das importações de medicamentos do Chile por países/blocos

Ano País/Bloco

agosto de 1999 México

fevereiro de 2003 União Européia janeiro de 2004 Estados Unidos janeiro de 2004 Brasil e Argentina dezembro de 2004 EFTA15(inclui Suíça)

(34)

Portanto, ainda que o acordo comercial tenha garantido uma vantagem tarifária provisória – já que a mesma se erodia paulatinamente ou era até mesmo superada com a assinatura de acordos de livre-comércio do Chile com outros países – hoje as posições de mercado independem dos acordos comerciais, ao menos no caso das exportações de medicamentos para este país.

De qualquer forma, entre 1996 e 2002, apenas o México e a Argentina possuíam condições de acesso ao mercado chileno, em termos de tarifas, melhores ou semelhantes às encontradas pelo Brasil (no caso do México, a tarifa zero passa a valer desde agosto de 1999)16.

Essa margem tarifária deve ter permitido que algumas empresas nacionais e empresas de capital estrangeiro direcionassem parte da suas vendas para o mercado chileno. A partir de 2004, entretanto, os diferenciais tarifários tendem a zero, e outros fatores competitivos passam a ser estratégicos.

2. Dados Quantitativos

2.1 O Dinamismo das Exportações

As exportações brasileiras de medicamentos para o Chile cresceram ao longo do período pós-acordo comercial, ainda que a relação entre a performance das exportações e a margem de desgravação tarifária não seja plena, já que existem outras variáveis intervenientes que influenciam tanto sobre o volume como sobre o valor das vendas externas.

Em primeiro lugar, deve-se ressaltar uma maior diversificação das exportações brasileiras de medicamentos para o Chile: enquanto em 1996, as oito principais NCMs exportadas respondiam por quase 100% das exportações, essa participação em 2004 chegava a 85% (gráfico 1)17.

Paralelamente, observa-se durante este período a expansão das exportações até então marginais de medicamentos contidos nas NCMs 30049059 (outros medicamentos com produtos da posição 2930 a 2932 em doses), 30049069 (outros medicamentos com compostos de heterocíclicos exclusivamente de heteroátomos de nitrogênio – azoto – em doses) e 30049079 (outros medicamentos com compostos heterocíclicos em doses).

16 Para o ritmo de desgravação tarifária para medicamentos do Mercosul para o Chile ver tabela 2 à frente.

(35)

Gráfico 1

Exportações totais e oito principais NCMs do Brasil para o Chile – medicamentos, 1996 a 2004

Fonte: Aliceweb/Mdic; Elaboração Prospectiva.

Em linhas gerais, as exportações totais do Brasil para o Chile, que se situavam em torno de US$ 7,4 milhões em 1996, encostam na casa dos US$ 10 milhões no período 1999-2000, para sofrer uma pequena queda até o ano de 2002. Ao final do período analisado, as exportações brasileiras de medicamentos para o Chile se recuperam de forma importante, superando a casa dos US$ 15 milhões no ano de 2004.

Percebe-se, dessa forma, entre 1996 e 2004, um crescimento de 100% da exportação em dólares e de 1.000% em volume, o que aponta para uma importante queda de preços de alguns dos produtos exportados pelo Brasil ou para uma maior concentração das exportações em bens de menor valor agregado.

Tudo indica que essa queda de preços tenha sido motivada pela desvalorização cambial, já que os principais saltos em termos de volume concentram-se nos períodos pós-1998 e pós-2002.

Verificam-se, também, algumas diferenças na relação entre a evolução das exportações em valor e volume. No primeiro período (pós-1998), nota-se uma expansão do volume exportado fundamentada na queda dos preços. Já, no período seguinte (pós-2002), a exportação, tanto em volume como em valor, sofre uma elevação expressiva, e os preços se mantiveram relativamente constantes (gráfico 2).

1996

Total exportado da posição 3004 0 2 4 6 8 10 12 14 16

Total exportado das 8 linhas tarifárias Percentual exportado das 8 linhas tarifárias

1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 M il h õ e s U S $ 0% 20% 40% 60% 80% 100% 120%

Referências

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