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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO ESPECIAL JOÃO HENRIQUE DA SILVA

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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO ESPECIAL

JOÃO HENRIQUE DA SILVA

FEDERAÇÃO NACIONAL DAS APAES, HEGEMONIA E PROPOSTAS

EDUCACIONAIS (1990-2015)

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS

CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO ESPECIAL

JOÃO HENRIQUE DA SILVA

FEDERAÇÃO NACIONAL DAS APAES, HEGEMONIA E PROPOSTAS

EDUCACIONAIS (1990-2015)

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação Especial da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), como requisito para a obtenção do título de Doutor em Educação Especial.

Área de concentração: Educação do Indivíduo Especial

Linha de Pesquisa: Produção Científica e Formação de Recursos Humanos em Educação Especial

Orientadora: Profa. Dra. Kátia Regina Moreno Caiado (UFSCar)

Coorientadora: Profa. Dra. Heulália Charalo Rafante (UFC)

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Tese (doutorado)-Universidade Federal de São Carlos, campus São Carlos, São Carlos

Orientador: Dra. Kátia Regina Moreno Caiado

Banca examinadora: Dra. Kátia Regina Moreno Caiado, Dra. Rosalba Maria Cardoso Garcia, Dra. Heulália Charalo Rafante, Dra. Adriana Garcia Gonçalves, Dr. Marcos Martins Francisco

Bibliografia

1. Educação Especial. 2. Federação Nacional das Apaes. 3. Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais. I. Orientador. II. Universidade Federal de São Carlos. III. Título.

Ficha catalográfica elaborada pelo Programa de Geração Automática da Secretaria Geral de Informática (SIn).

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Dedico esta pesquisa ao meu primo Bruno Brandão, que representa para mim todas as

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AGRADECIMENTOS

A gratidão é fundamental na entrega da pesquisa. No decorrer da investigação, passamos por momentos de descobertas e turbulências da vida, redefinições do projeto de pesquisa e novos direcionamentos para cumprir a etapa do método de exposição, como fala Karl Marx.

Por isso, nesta tese, agradeço, incialmente, à orientadora Dra. Kátia Caiado, que sempre ouviu com atenção as minhas angústias acadêmicas, orientou-me para a leitura crítica do mundo e das políticas educacionais. Abriu outros horizontes de pesquisa. Agradeço, também, à professora Dra. Heulália Rafante – Universidade Federal do Ceará – que, com sua pesquisa na área da história da educação especial, mostrou-me os percursos a serem trilhados na pesquisa histórico-documental e na apreensão do pensamento gramsciano.

Agradeço à UFSCar, campi sede – São Carlos – e de Sorocaba, por ceder o espaço de investigação, de leitura, de aprendizado e de partilha. E também à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), que financiou o estudo mediante bolsa de estudos, o que oportunizou a dedicação integral à pesquisa e às atividades do grupo de pesquisa. Sem a bolsa, não teria condições de fazer um trabalho arqueológico e genealógico da atuação e das propostas educacionais da Fenapaes no Brasil.

Aliás, este trabalho também teve significativa colaboração do grupo NEPEDE-EEs – Núcleo de Estudos e Pesquisas em Direito à Educação – Educação Especial. O grupo foi parceiro no desenvolvimento do objeto de pesquisa. Ajudou-me a manter o foco da pesquisa e aprofundar os estudos na área dos fundamentos da educação, em especial, o conhecimento da pedagogia histórico-crítica.

Meu agradecimento também aos professores do PPGEEs/UFSCar-São Carlos que auxiliaram no entendimento histórico e educacional das pessoas com deficiência, em especial as professoras Dra. Rosimeire Orlando e Dra. Adriana Garcia Gonçalves. Também agradeço à professora Dra. Maria Cristian Hayashi, que me ensinou a desenvolver pesquisas bibliométricas. Sua experiência na abordagem de pesquisa possibilitou-me desenvolver com rigor e profundidade as revisões de literatura, aprendizado que carregarei para toda a vida profissional e acadêmica.

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nos caminhos do pensamento marxiano e de seus interlocutores, bem como na fundamentação da educação.

Agradeço ao professor Dr. Paulo Lima (PPGEd/UFSCar-So), que abriu as janelas do contexto internacional e nacional para aprofundar a análise das políticas públicas.

Agradeço também ao grupo de pesquisa em Educação Especial da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), nas pessoas das professoras Dra. Rosalba Garcia e Dra. Maria Helena Michels, que propiciaram a revisão dos objetivos e dos procedimentos metodológicos da pesquisa. A reunião realizada na UFSC, em maio de 2016, constituiu um momento propício para o avanço metodológico do estudo.

Agradeço, em especial, aos (às) professores (as) examinadores (as) da banca de qualificação e de defesa – Dra. Heulália, Dra. Rosalba Garcia, Dr. Marcos Martins e Dra. Adriana Garcia – cujas contribuições foram fundamentais para o aprofundamento necessário à pesquisa. As análises pertinentes colaboraram na coerência teórico-metodológica, bem como no avanço investigativo e na produção do texto. As recomendações, tanto na banca de qualificação quanto na defesa, foram preciosas e aprimoraram a qualidade do trabalho.

Meu reconhecimento ao meu companheiro Emerson Yamaguti, que sempre esteve ao meu lado, incentivando-me sempre. Graças a sua presença e apoio pude ter forças para finalizar este estudo. Agradeço à minha família que mora em Bom Repouso-MG, com destaque para a minha mãe, Conceição, que me motivou, na sua simplicidade e solidariedade, a concluir o doutorado.

Aos amigos que fiz em Dourados-MS, São Carlos-SP e Sorocaba-SP. Em especial, ao professor Dr. Douglas Melo da Universidade Federal do Espírito Santo, jovem pesquisador com baixa visão, que me instruiu na leitura gramsciana e nas análises das políticas públicas. Às amigas que me deram muito apoio nos estudos: Kátia Hanna, Ilma Saramago, Gislaine Azevedo. Agradeço também a Renata Vecina, que fez o trabalho de revisão de língua portuguesa do texto da tese, de forma cuidadosa e crítica.

Ao Movimento Livre Independente, associação e movimento social e político de pessoas com deficiência, de Sorocaba/SP, do qual participo desde 2015. Participar da luta social e política em Sorocaba ajudou-me a entender o pensamento de Gramsci e a interferir na realidade sociopolítica.

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E a Espiritualidade Amiga, que me deu forças e serenidade para concretizar o trabalho, incentivar a paciência, a sabedoria e o discernimento no decorrer da pesquisa. Rendo-lhe graças!

MUITO OBRIGADO A TODOS!

Uma pesquisa é o resultado de relações interpessoais e intrapessoais, da

interiorização da exterioridade e exteriorização da interioridade, do

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A consciência individual da esmagadora maioria das crianças reflete relações civis e culturais diversas e antagônicas às que são refletidas pelos programas escolares: o “certo” de uma cultura evoluída torna-se “verdadeiro” nos quadros de uma cultura fossilizada e anacrônica, não existe unidade entre escola e vida e, por isso, não existe unidade entre instrução e educação.

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SILVA, João Henrique da. Federação Nacional das Apaes, hegemonia e propostas educacionais (1990-2015). 2017. 384f. Tese (Doutorado em Educação Especial) – Centro de Educação e Ciências Humanas, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2017.

RESUMO

A Federação Nacional das Apaes (Fenapaes) foi constituída em 1963, com a participação das 12 primeiras Associações de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apaes) que existiam no Brasil. Atualmente, a Fenapaes constitui-se na agremiação de mais de duas mil Apaes que se dedicam a oferecer um complexo de serviços às pessoas com deficiência, principalmente aquelas com deficiência intelectual e múltipla. A partir de uma revisão da literatura, constata-se escassez de pesquisas que investiguem, especificamente, a atuação da Fenapaes na política educacional, e que analisem suas propostas educacionais. A presente pesquisa tem por objetivo geral analisar a participação da Fenapaes na disputa pela hegemonia no campo das políticas de Educação Especial, bem como examinar as propostas educacionais da Fenapaes para as pessoas com deficiência, entre os anos de 1990 a 2015. Por objetivos específicos elegeu-se: identificar a gênese e o desenvolvimento do movimento apaeano no Brasil; analisar o contexto econômico, político e social referente ao período analisado – 1990 a 2015; verificar os mecanismos utilizados pela Fenapaes para se inserir e se consolidar no campo da Educação Especial no Brasil no período em análise; problematizar o conceito de deficiência preconizado pela Fenapaes, em sua relação com a proposta educacional da instituição e com a disputa pela hegemonia no campo da educação especial; examinar os movimentos – mudanças, permanências e contradições – nas propostas para a educação especial realizada pela Federação e articulada com as políticas públicas educacionais Trata-se de uma pesquisa sustentada no método materialista histórico e dialético, fundamentado no pensamento de Antonio Gramsci. Utiliza-se, como procedimento metodológico, a pesquisa documental e algumas ferramentas da Análise Crítica do Discurso proposta por Norman Fairclough. As fontes documentais correspondem a 30 documentos: textos administrativos e políticos da Fenapaes, o Projeto Águia, o Projeto Sinergia e o Programa “Apae Educadora”, bem como os diversos documentos da Federação, as legislações brasileiras e os acordos internacionais firmados pelo Brasil. Os resultados da pesquisa apresentam que, desde a constituição da Federação Nacional, os dirigentes compunham-se de intelectuais orgânicos vinculados à burguesia, que participaram e/ou influenciaram o Estado brasileiro. A partir do ano de 1990, o neoliberalismo no país interferiu significativamente nas políticas educacionais, em especial, no investimento e no apoio técnico-financeiro às sociedades civis. Assim, a Fenapaes se organizou administrativamente e estruturou suas propostas educacionais na disputa pela hegemonia no campo da educação. Em 2003, o novo governo federal promoveu a política da “inclusão escolar total”, proposta recomendada pelos organismos multilaterais. Tal medida implicou na correlação de forças sociais e políticas no Estado, o que instigou a Fenapaes a reestruturar os serviços e as propostas educacionais. No período estudado, a Fenapaes apresentou propostas educacionais que advogavam o reconhecimento oficial das Apaes como escolas especiais e a realização de programas pedagógicos especializados, de educação profissional, de educação física e o atendimento educacional especializado integral e integrado. Conclui-se que as propostas educacionais da Fenapaes se fundamentam no neoprodutivismo, uma vez que não apresentam diretrizes para garantir o saber sistematizado e a formação de intelectuais para e do seu grupo – as pessoas com deficiência intelectual e múltipla – o que poderia propiciar viver a cidadania no sentido ressignificado em relação a seu valor econômico e gnosiológico.

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SILVA, João Henrique da. National Federation of Apaes in Brazil, hegemony and educational proposals (1990-2015). 2017. 384f. Thesis (PhD in Special Education) – Center of Education and Human Science, São Carlos Federal University, São Carlos, 2017.

ABSTRACT

Apaes National Federation (Fenapaes) was constituted in 1963 with the participation of the first twelve Apaes (Association of Parents and Friends of People with Disability) in Brazil. Nowadays, Fenapaes is a body of more than two thousand Apaes dedicated to offer a variety of services mainly to those with intellectual and multiple disabilities. A review of the literature demonstrated a scarcity of researches that investigate specifically the intervention of Fenapaes regarding educational policies, as well as that investigate its educational proposals. This study has a general main analyze the participation of Fenapaes in the dispute for hegemony in the field of Special Education, as well as to consider the educational proposals of Fenapaes for people with disability between the years 1990 and 2015. As specific objectives were elected: identify the geneses and the development of the Apae movement in Brazil; analyze the economic, political and social context of the period in question – 1990 a 2015; verify the mechanism employed by Fenapaes to be part of and to consolidate itself in the field of Special Education in Brazil during that time; discuss the concept of disability preconized by Fenapaes in relation to its educational proposal and with the dispute for hegemony in the field of special education; analyze the movements – changes, permanency, and contradictions – in the proposals for Special Education made by the Federation articulated to the educational public policies. This research is backed by the historical materialism and dialectical method, based on the thought of Antonio Gramsci. The documental research is used as the methodological procedure and some analytical tools from Norman Fairclough’s proposal of Critical Discourse Analysis. The documental resources and primaries correspond to 26 documents which encompass administrative and political texts from Fenapaes, the “Projeto Águia”, the “Projeto Sinergia” and the Program “Apae Educadora”, as well as several documents of Fenapaes, Brazilian legislations, and international agreements settle by Brazil. The results demonstrate that since the constitution of the National Federation its leading role was played by organic intellectuals related to the bourgeoisie that participated and/or influenced the Brazilian State. From 1990, the neoliberalism in the country interfered greatly on the educational policies, in special in investments and in technical and financial support to the civil societies. Thus, Fenapaes organized its administration and structured its educational policies in the dispute for the hegemony in the field of Education. In 2003, the new federal government promotes the policy of “full inclusion”, which had been recommended by multilateral organisms. Such policy had implication on the correlation of social and political forces in the State, what causes Fenapaes to restructure services and educational proposes. In the period analyzed here, Fenapaes presented educational proposals that advocate the official recognition of the Apaes as special schools and the realization of specialized pedagogic programs, professional education, physical education and specialized educational attendance, full-time and integrated. The conclusion is that Fenapaes’ educational proposals are grounded on the neoprodutivism, since it doesn’t present guidelines to ensure the systematic knowledge and formation of intellectuals from and for the group, the people with intellectual and multiple disabilities, what could allow them to exercise their citizenship in its re-signification sense, as its economic and gnosiologic value.

(13)

SILVA, João Henrique da. Federación Nacional de las Apaes en Brasil, hegemonía y

propuestas educativas (1990-2015). 2017. 384f. Tesis (Doctorado en Educación Especial) –

Centro de Educación y Ciencias Humanas, Universidad Federal de São Carlos, São Carlos, 2017.

RESUMEN

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Símbolo da Fenapaes de 1972 134

Figura 2 – Presidente da República cumprimenta apaeanos – parte I 177 Figura 3 – Presidente da República cumprimenta apaeanos – parte II 177

Figura 4 –Número de unidades Apaeanas (1954-1990) 190

Figura 5 – Distribuição de unidades apaeanas por anos (1990-2016) 192 Figura 6 – Distribuição dos números das Apaes pelo Brasil por região/município

(2013-2014) 193

Figura 7 – Apaes filiadas na Região Norte 194

Figura 8 – Apaes filiadas na Região Nordeste 195

Figura 9 – Apaes filiadas na Região Centro-Oeste 195

Figura 10 – Apaes filiadas na Região Sudeste 196

Figura 11 – Apaes filiadas na Região Sul 196

Figura 12 – Áreas de abrangência dos serviços/Apaes 219

Figura 13 – Marca da Apae 237

Figura 14 – Estrutura da Educação Nacional Senac - SP e a abrangência da Apae

Educadora 258

Figura 15 – Estrutura organizacional da Apae Educadora 259 Figura 16 – Estrutura organizacional da modalidade educação especial no espaço da

escola especial 262

Figura 17 – Estrutura da proposta: arte, cultura, educação e trabalho no movimento

apaeano 265

Figura 18 – Estrutura da proposta educação física, desporto e lazer para o movimento

apaeano 277

Figura 19 – Proposta de educação física pela coordenadoria nacional de educação física,

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Total de trabalhos referentes ao balanço de produção sobre Fenapaes e suas

propostas educacionais 030

Quadro 2 – Classificação das pesquisas sobre a Fenapaes por eixo temático 031 Quadro 3 – Fontes primárias: documentos administrativos e políticos da Fenapaes 091 Quadro 4 – Fonte primária: Projeto Águia: gestão 1998-2003 093 Quadro 5 – Fonte primária: Projeto Águia: gestão 2009-2011 093

Quadro 6 – Fonte primária: Projeto Sinergia 094

Quadro 7 – Fonte primária: Programa Apae Educadora – a escola que buscamos 094 Quadro 8 – Fundação das primeiras entidades apaeanas entre 1954 a 1969 125 Quadro 9 – Presidentes da Federação Nacional da Fenapaes (1965-1991) 131 Quadro 10 – Concepções de educação presentes nas edições da Revista Mensagem da

Apae entre 1963 a 1990 137

Quadro 11 – Assuntos ou informações relacionadas a atuação política da Fenapaes presentes nas edições Mensagem da Apae entre 1963 a 1990 143 Quadro 12 – Representantes nacionais das Apaes e Pestalozzis na Assembleia

Constituinte 157

Quadro 13 – Equivalência de presença de Apaes nos municípios brasileiros 197 Quadro 14 – Qualificação, profissão e gestões assumidas pelos (ex) presidentes da

Fenapaes entre 1991-2015 200

Quadro 15 – Intelectuais que participaram na formulação do Programa Apae

(16)

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AACD Associação de Assistência à Criança Deficiente

AADID Associação Americana de Deficiência Intelectual e Desenvolvimento AAIDD American Association on Intellectual and Developmental Disabilities AARM Associação Americana de Retardo Mental

ABA Associação Brasileira de Autismo

ABDM Associação Brasileira para o Estudo Científico da Deficiente Mental ABEDEV Associação Brasileira de Educadores de Deficientes Visuais

ABIH-RJ Associação Brasileira da Indústria Hoteleira

ABONG Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais ABRADEF Associação Brasileira de Deficientes Físicos

ACD Análise Crítica do Discurso

ADEFERJ Associação dos Deficientes Físicos do Estado do Rio de Janeiro ADFEGO Associação dos Deficientes Físicos do Estado de Goiás

ADTO Análise de Discurso Textualmente Orientada AEE Atendimento Educacional Especializado AIPD Ano Internacional da Pessoa Deficiente

ALEG Assembleia Legislativa do estado de Guanabara ALERJ Assembleia Legislativa do estado de Rio de Janeiro APA Associação Americana de Psicologia

APAE Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais APEC Associação Pernambucana de Cegos

ARENA Aliança Renovadora Nacional AVD Atividades de Vida Diária

BDTD Biblioteca Digital de Teses e Dissertações BID Banco Interamericano de Desenvolvimento

BM Banco Mundial

BPC Benefício de Prestação Continuada

CADEME Campanha Nacional de Educação e Reabilitação de Deficientes Mentais CRPD Comitê Brasileiro de Organizações Representativas das Pessoas com

Deficiência

CBT Confederação Brasileira de Tênis CCJ Constituição, Cidadania e Justiça

CEB Câmara de Educação Básica

CENESP Centro Nacional de Educação Especial

CID Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde

CIF Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde CPB Comitê Paralímpico Brasileiro

CPSP Clube dos Paraplégicos de São Paulo

COHA Centro de Orientação Profissional Helena Antipoff CEPAL Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe COMPROMISSO Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação

CONADE Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Portadora de Deficiência CONANDA Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente CNAS Conselho Nacional de Assistência Social

(17)

CNS Conselho Nacional de Saúde

CORDE Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa com Deficiência CVI-RIO Centro de Vida Independente – Rio de Janeiro

DEC Departamento de Educação Complementar

DSM Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders ECA Estatuto da Criança e do Adolescente

ECE Educação, Cultura e Esporte EJA Educação de Jovens e Adultos

EPT Esporte para Todos

ES Estado do Espírito Santo

EUA Estados Unidos da América

FCD Fraternidade Cristã de Doentes e Deficientes FEAPAES Federação das Apaes do Estado

FEBEM Federação Brasileira de Entidades de e para Cegos

FENAPAES Federação Nacional das Associações de Pais e Amigos dos Excepcionais FENASP Federação Nacional das Sociedades Pestalozzi

FENEIS Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos

FGV Fundação Getúlio Vargas

FHC Fernando Henrique Cardoso

FMI Fundo Monetário Internacional FUNDAÇÃO SM Fundação Sociedade de Maria

FUNDEB Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação

FUNDEF Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério

GTEE Grupo Tarefa Educação Especial

GRAACC Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer

HI Handicap Internacional

IASSID International Association for the Scientific Study of Intellectual Disabilities

IBC Instituto Benjamin Constant

IBICT Instituto Brasileiro de Informação Científica e Tecnológica IDC International Disability Caucus

IID Instituto Interamericano sobre Deficiência IMG Instituto Mara Gabrilli

INES Instituto Nacional de Educação dos Surdos

INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira IRM Instituto Rodrigo Mendes

ITF International Tennis Federation

LBI Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência LDBEN Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional LEPED Laboratório de Estudos e Pesquisas em Diferenças LOAS Lei Orgânica de Assistência Social

MEC Ministério da Educação

MG Estado de Minas Gerais

MNDDPPD Movimento Nacional de Defesa dos Direitos das Pessoas Portadoras de Deficiência

MORHAN Movimento de Reintegração de Pessoas Atingidas pela Hanseníase MTE Ministério do Trabalho e Emprego

(18)

NH Nova Hamburgo (cidade)

NID Núcleo de Integração de Deficientes

OEI Organização dos Estados Ibero-Americanos OMS Organização Mundial da Saúde

ONCB Organização Nacional de Cegos do Brasil

ONEDEF Organização de Entidades de Pessoas com Deficiência Física ONGS Organizações Não-Governamentais

ONU Organizações das Nações Unidas

OSCIP Organização da Sociedade Civil de Interesse Público

PAED Programa de Complementação ao Atendimento Educacional Especializado às Pessoas Portadoras de Deficiência

PCNs Parâmetros Curriculares Nacionais PDE Plano de Desenvolvimento da Educação PDDE Programa Dinheiro Direto na Escola PDT Partido Democrático Trabalhista

PDRA Plano Diretor da Reforma do Aparelho de Estado

PECT Processo de Educação Profissional e Colocação no Trabalho PET Programa de Educação Tutorial

PFL Partido da Frente Liberal

PIIE Peterson International Institute for Economics PLANFOR Plano Nacional de Educação Profissional PMDB Partido do Movimento Democrático Brasileiro PNE Plano Nacional de Educação

PNEE Política Nacional de Educação Especial

PNEE-PEI Política Nacional da Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva

PNDU Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento PNQ Plano Nacional de Qualificação

POA Porto Alegre (cidade)

PR Estado do Paraná

PR Partido Republicano

PROEP Programa de Expansão da Educação Profissional PSDB Partido da Social Democracia Brasileira

PT Partido dos Trabalhadores PUC Pontifícia Universidade Católica

REDALYC Red de Revistas Cientificas de America Latina y el Caribe, España y Portugal

RS Estado do Rio Grande do Sul SCIELO Scientific Electronic Library Online

SEDH/PR Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República SEED Secretaria de Educação e Desporto

SEESP Secretaria de Educação Especial

SENAC Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial SESC Serviço Social do Comércio

SESI Serviço Social da Indústria

SP Estado de São Paulo

TCH Teoria do Capital Humano

TGD Transtornos Globais do Desenvolvimento UDN União Democrática Nacional

(19)

UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura. UNICAMP Universidade Estadual de Campinas

UNICEF Fundo das Nações Unidas para a Infância

(20)

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO 020

INTRODUÇÃO 022

Balanço da produção acadêmica sobre a Fenapaes Desenho da pesquisa: problemas, objetivos e método Organização da tese

Incentivos à pesquisa histórica e política educacional

028 046 053 054

1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA-METODOLÓGICA DA PESQUISA 057

1.1 Método materialista histórico e dialético 057

1.2 Conceitos fundamentais gramscianos 061

1.3 Procedimentos metodológicos para a pesquisa documental 082

1.3.1 Periodização 095

1.3.2 Elementos da Análise Crítica do Discurso 100

2. GÊNESE E DESENVOLVIMENTO DO MOVIMENTO APAEANO

(1954-1990): HISTÓRIA, EDUCAÇÃO E POLÍTICA 107

2.1 Fundação da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais: origem e

constituição de um movimento filantrópico 108

2.2 Surgimento da Fenapaes: organização e atividades 126

2.3 Concepções de educação da Fenapaes (1963-1990) 136

2.4 Atuação e influência da Fenapaes na história política brasileira (1963-1989): Ditadura Militar, Assembleia Constituinte e Carta Política de 1988 142

3. FENAPAES E A DISPUTA PELA HEGEMONIA NO CAMPO

EDUCACIONAL (1990-2015) 166

3.1 Neoliberalismo, sociedade civil e políticas públicas educacionais na transição do

século XX para o século XXI 167

3.2 Evolução das Apaes no Brasil (1950-2014): expressão do crescimento da

sociedade civil num regime neoliberal 189

3.3 Organização institucional da Fenapaes e a disputa pela hegemonia no campo

educacional (1990-2015) 199

3.3.1 Intelectuais da Fenapaes 200

3.3.2 Intelectuais de movimentos sociais ou instituições a favor da educação inclusiva 206

3.3.3 Organização administrativa e estruturação dos serviços da Fenapaes para a disputa

da hegemonia nas políticas educacionais entre 1990 e 2002 213

3.3.4 Reorganização administrativa e reestruturação dos serviços da Fenapaes para a disputa da hegemonia nas políticas educacionais entre 2003 e 2015 223

3.3.5 Conceito de deficiência na Fenapaes como ferramenta discursiva para a disputa pela

hegemonia 244

(21)

4.1 Apae e a educação Escolar 256

4.2 Programas pedagógicos especializados 263

4.3 Apae e a educação profissional 266

4.4 Apae e a educação física 275

4.5 Apae e o atendimento educacional especializado integral e integrado 280

4.6 Apae e a educação inclusiva 285

4.7 Teorias pedagógicas e a Fenapaes 287

CONSIDERAÇÕES FINAIS 300

REFERÊNCIAS 309

APÊNDICES 342

Apêndice A – Fontes secundárias 342

Apêndice B – Intelectuais que participaram da construção e organização dos

programas e projetos da Fenapaes (1997-2015) 348

Apêndice C – Deficiência e suas significações nos documentos da Fenapaes

(1997-2015) 355

(22)

APRESENTAÇÃO

O linguista britânico N. Fairclough nos ensina que o discurso é uma construção sócio-histórica e política. Agimos discursivamente e representamos discursivamente o mundo social à nossa volta. Por isso, torna-se necessário, neste trabalho, o pesquisador fazer uma breve apresentação do lugar do qual ele fala. Iniciei minha trajetória acadêmica no curso de bacharelado em filosofia na Faculdade Católica de Pouso Alegre (Facapa, 2006-2008), com o objetivo de exercer o ofício de professor de filosofia no Ensino Médio. A graduação contribuiu para que eu construísse novas formas de leitura de mundo a partir de análises e metodologias de investigações de pensamentos filosóficos, do conhecimento da história da filosofia e do aprofundamento filosófico da corrente existencialista.

Lecionei sociologia, filosofia, ética e ensino religioso, entre 2009 a 2011, nas escolas de educação básica na rede estadual de Minas Gerais (MG), experiência que me ajudou a articular teoria e prática. Essas vivências em sala de aula somam-se às contribuições de outros cursos que frequentei: formação pedagógica em filosofia e especialização em direito educacional. Esses cursos oportunizaram compreender a dinâmica pedagógica e jurídica do contexto escolar.

No ano de 2011, iniciei o curso de Direito e lecionei como professor substituto em Educação Especial na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), campus

Pantanal (CPAN), na cidade de Corumbá, MS. A UFMS foi um espaço institucional no qual pude colocar em prática e a aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da minha experiência e na formação na educação. Aliás, na instituição, pude aprofundar os estudos sobre o pensamento de P. Bourdieu no Programa de Pós-graduação em Educação Social.

Comecei, em 2012, o mestrado em educação na Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), onde participei do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Inclusiva (GEPEI), coordenado pela professora e minha ex-orientadora Dra. Marilda Bruno. A dissertação desenvolvida analisou a formação de professores para o atendimento educacional especializado nas escolas indígenas da Terra Indígena de Dourados, MS, fundamentando-se na sócio-antropologia e nos Estudos Culturais.

(23)
(24)

INTRODUÇÃO

Na história da educação especial, as instituições privadas filantrópicas ocuparam, e ainda ocupam, o protagonismo na área educacional e em outros serviços. Estudos de Jannuzzi (2012), Mazzotta (2011), Bueno (2011) e Kassar (1999) evidenciam o caráter filantrópico da educação especial, que se mantém há muitas décadas, e as políticas públicas atuais que consolidam as parcerias privadas. Porém, poucos estudiosos se dedicam aos estudos concernentes à história da educação especial. Com o intuito de diminuir essa lacuna, buscou-se traçar um percurso histórico e político1 da Federação Nacional das Apaes (Fenapaes) e analisar

as suas propostas educacionais entre 1990 a 2015.

A Fenapaes é uma agremiação de 2.156 unidades de associações civis2

denominadas de Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), coordenadas por vinte e quatro Federações Estaduais, abrangendo todos os estados brasileiros e atendendo diariamente, nos seus diversos campos de atuação, cerca de 250.000 pessoas com deficiência intelectual3 e múltipla. No campo da educação, no ano de 2016, foram quase 120 mil

atendimentos. (FENAPAES, 2016).

De acordo com a Coordenadora Nacional de Educação da Fenapaes, Fabiana Maria das Graças Soares de Oliveira, a proposta pedagógica da Federação “[...] consiste na organização das turmas com um número reduzido de alunos e professores especializados, atuantes na identificação das necessidades de seus alunos e no planejamento das respostas educativas conforme as demandas” (MENSAGEM DA APAE, 2014, p. 118).

A Fenapaes foi fundada em 1962, após oito anos da existência da primeira unidade, a Apae da Guanabara. É importante esclarecer que o conjunto de unidades apaeanas,

1 Compreende-se a política como “forças sociais em luta”, conforme o pensamento de Gramsci (2007).

2 “A Federação Nacional das Apaes, com sede própria localizada no SDS, Bloco “Q”, no 44 Edifício Venâncio

IV, Cobertura, Asa Sul, Brasília-DF, é uma associação civil, reconhecida como entidade de assessoramento, de defesa e garantia de direitos nos termos do inciso II e III do art. 2o do Decreto no 6.308/07, que presta atendimento diário às suas filiadas. Compõe-se de 22 funcionários, 1 estagiário, 50 voluntários permanentes e 5 voluntários eventuais” (FENAPAES, 2015, p. 15).

3 Emprego tanto a terminologia deficiência mental como a deficiência intelectual porque há estudos que utilizavam

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das federações estaduais das Apaes e da Federação Nacional é chamado de Rede Apae. Esse conjunto, somado à força mobilizadora dos pais ou “mães especiais”, dos “amigos da causa” e das pessoas com deficiência, denomina-se Movimento Apaeano. (MENSAGEM DA APAE, 2014).

Para o atual vice-presidente da Federação, José Turozi (gestão 2015-2017), o Movimento Apaeano é

[...] constituído por milhares de famílias, amigos e voluntários fazem parte deste grande contingente de pessoas que se unem com o firme propósito de lutar pela garantia dos direitos da pessoa com deficiência, a fim de proporcionar melhores condições de educação, saúde, assistência social, educação para o trabalho, na perspectiva de sua inclusão na sociedade em que vive (MENSAGEM DA APAE, 2014, p. 4).

De acordo com o ex-presidente da Fenapaes, Flávio José Arns,

O Movimento das Apaes, ou Movimento Apaeano, é considerado o maior do mundo na luta em defesa dos direitos das pessoas com deficiência mental [...]. A importância do Movimento está no trabalho voltado para a busca da qualidade de vida do portador de deficiência, desde a sua concepção até a velhice, através da prestação de serviços de qualidade. O Movimento é importante para a inclusão social da pessoa com deficiência mental e apoio à sua família, por meio de um esforço coordenado dos pais, profissionais, amigos e da própria pessoa portadora de deficiência [sic] (MENSAGEM DA APAE, 2014, p. 15-16).

Nesta pesquisa, constato que a Fenapaes, como um bloco político, atua como intermediadora entre a pessoa com deficiência, a família e o Estado. Ela representa a força mobilizadora de intelectuais orgânicos vinculados à burguesia, que prestam serviços assistenciais na área da educação, da saúde e da assistência social. Como sociedade civil4, a

Fenapaes sustenta-se no pilar da philanthropia, isto é, no “amor à humanidade”, e é constituída

por pessoas que Abraçam a causa de pessoa com deficiência intelectual e a causa de pessoa com deficiência intelectual associada a outras deficiências?

De acordo com Mestriner (2008, p. 14), a filantropia pode ser entendida tanto no sentido restrito quanto no amplo. No primeiro, “constitui-se no sentimento, na preocupação do favorecido com o outro que nada tem, portanto, no gesto voluntarista, sem intenção de lucro, de apropriação de qualquer bem”. Já no sentido amplo, “supõe o sentimento mais humanitário: a intenção de que o ser humano tenha garantida a condição digna de vida”.

4 Sociedade civil, no pensamento gramsciano, constitui um dos dois grandes “planos” superestruturais do Estado.

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Todavia, a filantropia esconde seu significado ideológico na assistência social5,

por meio da qual direciona-se aos segmentos da população que vivem sob o signo da exclusão social, neste caso, da pessoa com deficiência, mas não cumpre a perspectiva cidadã de ruptura da subalternidade (MESTRINER, 2008). O “Estado fez com que a assistência social transitasse sempre no campo da solidariedade, filantropia e benemerência, princípios que nem sempre representam direitos sociais, mas apenas benevolência paliativa” (MESTRINER, 2008, p. 21). Para Mestriner, “não é claro nem transparente o caráter da relação entre Estado e as organizações filantrópicas ou sem fins lucrativos. Estabelece-se nesta área uma complexa relação, que acaba escamoteando o dever do Estado e subordinando a atenção à benesse do setor privado” (2008, p. 18).

Essas benesses encontram-se presentes na relação do Estado com a Fenapaes, que representa as pessoas com deficiência intelectual e múltiplas, desde a sua fundação. A Federação possui parcerias privadas e públicas, bem como a representatividade no Congresso Nacional e no Estado, em sentido estrito. Construiu-se, ao longo da história da política pública educacional, o legado de que o melhor espaço para atender às demandas da pessoa com deficiência seria o das entidades filantrópicas. As legislações, fruto do embate de forças políticas, garantem, até hoje, às entidades filantrópicas, a tarefa de prestar serviços ao público com deficiência intelectual, assegurando financiamento e convênios com o Poder Público.

Após a 62 anos de fundação da primeira Apae e há 54 anos da Federação, ou seja, mais do que a metade de um século, a Rede Apae conta com uma camada de intelectuais6

que propicia a manutenção de sua atividade de forma assistencialista e caritativa, financiada com recursos públicos e privados. Conforme o Relatório de Atividades da Fenapaes do ano de 2014, a Federação “[...] conta com os recursos advindos das contribuições de suas filiadas e da realização de campanhas nacionais, promovendo articulação junto a órgãos públicos e empresas privadas para obtenção de recursos por meio de doações, parcerias e celebração

5 A assistência social “compreende um conjunto de ações e atividades desenvolvidas nas áreas pública e privada,

com o objetivo de suprir, sanar ou prevenir, por meio de métodos e técnicas próprias, deficiências e necessidades de indivíduos ou grupos quanto à sobrevivência, convivência e autonomia social” (MESTRINER, 2008, p. 16)

6 Gramsci (2001a, p. 15) explica que “todo grupo social, nascendo no terreno originário de uma função essencial

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de convênios e contratos” (2015, p. 15, grifos meus). A Rede Apae disputa o fundo público em diversas áreas ou setores, não atua setorialmente. Fundamentando-me em Montaño e Duriguetto (2011, p. 306), a Fenapaes desenvolve “[...] ações que expressam funções a partir de valores [...]”, isto é,

[...] as ações desenvolvidas por organizações da sociedade civil, que assume as funções de resposta às demandas sociais (antes de responsabilidade fundamental do Estado), a partir dos valores de solidariedade local, voluntariado, autorresponsabilização e individualização (substituindo os valores de solidariedade social e universalidade e direito dos serviços, típicos do Estado de “Bem-Estar”). (MONTAÑO; DURIGUETTO, 2011, p. 306).

As Apaes, orientadas pela Fenapaes e Federações estaduais, por exemplo, promovem arrecadação de fundos por meio de eventos culturais, educacionais e políticos. A exemplificar: realização de festas temáticas, como a junina e a natalina, e eventos como a “Semana da Pessoa com Deficiência Intelectual”, realizados, anualmente, de 21 a 28 de agosto. Inclusive, a Fenapaes define diretrizes para um trabalho estruturado e organizado visando à sustentabilidade institucional, mediante a promoção de campanhas como Apae Noel, Cartões de Natal, Apae Energia, Apae Energia Fone, Apae Assinatura (Revista Educativa “Amigos da Apae”, Revista “Apae Ciência”, Revista “Mensagem da Apae” e “Jornal Apaeano Nacional”), Selo “Empresa Amiga das Apaes”, ou ainda campanhas conveniadas com o setor privado (Banco Bradesco, TeleBrasil, Band). Além disso, promove o licenciamento de personagens “Amigos da Apae”, Programa de Identificação Genética, Programa de Proteção a Gestante, Apae Inteligente. (FENAPAES, 2006, 2009; MENSAGEM DA APAE, 2014).

As Apaes recebem repasses de verbas públicas, como a verba do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) para o atendimento educacional especializado (AEE) que, por sua vez, é um atendimento complementar à educação escolar para pessoas com deficiência. Também são contempladas com os recursos do Programa Dinheiro Direto na Escola (PDEE) que se referem à

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Atualmente, conforme os dados do Censo Escolar de 2014, o Brasil possui 886.815 matrículas de alunos público-alvo da modalidade educação especial na Educação Básica, seja no ensino regular ou em escolas exclusivamente especializadas. Há 698.768 alunos matriculados nas classes comuns do ensino regular ou Educação de Jovens e Adultos (EJA), equivalente a 78,79% do total de matrículas. E existem 188.047 matrículas em escolas exclusivamente especializadas e/ou em classes especiais de ensino regular e/ou EJA. Isto é, aproximadamente 21,21% de matrículas em instituições públicas e privadas especializadas para o público da educação especial. No caso de matrículas de pessoas com deficiência intelectual em classes comuns (ensino regular e EJA), há 448.503, o equivalente a 64% de todos os alunos matriculados público-alvo da modalidade de Educação Especial, conforme o Censo Escolar de 2014. Esse alto índice se confirma também para os alunos matriculados em escolas exclusivamente especializadas, que apresentam 166.414 matrículas de pessoas com deficiência intelectual, o que representa, 25,96% do total de alunos com deficiência intelectual matriculados em escolas “especiais”. Os dados expressam, assim, que as instituições públicas e privadas exclusivas da educação especial possuem majoritariamente alunos com deficiência intelectual. (INEP, 2014).

A própria Fenapaes, na Revista Mensagem da Apae (2014), diz que atende mais de 250 mil pessoas com deficiência intelectual associada a outras, número muito superior ao que consta nos dados do Censo Escolar, porque, além de as Apaes oferecerem o AEE e a substituição do ensino regular, também desenvolvem diversos projetos na área da educação profissional para esse público, que, segundo acredita a direção das Apaes, já passou da idade escolar.

Vale lembrar que as atividades das Apaes abrangem as dimensões sociais e políticas da saúde, da educação, da assistência social, do trabalho e do lazer (FENAPAES, 2001a; JANNUZZI; CAIADO, 2013). Nesta pesquisa, o enfoque é sobre a dimensão social e político da educação, porque essa área de investigação constitui uma prestação de um serviço essencial, amplamente difundido e defendido, no Brasil, para as pessoas com deficiência intelectual.

Mas o que é educação?

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ao ensino, visto que ele é um dos aspectos da educação. A educação possui sua especificidade na institucionalização do pedagógico por meio da escola. Assim, “[...] a escola configura-se numa situação privilegiada, a partir da qual podemos detectar a dimensão pedagógica que subsiste imbricada no interior da prática social global” (SAVIANI, 2015b, p. 288). Desta forma, “a escola é uma instituição cujo papel consiste na socialização do saber sistematizado” (SAVIANI, 2015b, p. 288).

Gramsci parte de uma visão ampla da educação, segundo a qual ela se compõe “[...] de todos os processos sociais que mediatizam a vida social e se caracterizam por processos de ensino e aprendizagem que se desenvolvem na escola e fora dela” (MARTINS, 2014, p. 291).

A Federação designa a Apae como escola especial, embora não haja reconhecimento oficial como escolas em nível federal. Haveria uma política educacional que teria a função de socializar o saber sistematizado exclusivamente num formato “especializado” ou “especial” para pessoas com deficiência?

Na Política Nacional da Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva - PNEE-PEI (2008), a Apae pode oferecer o AEE. A PNEE-PEI estabelece que o atendimento educacional, no modelo de salas de recursos multifuncionais, deve ocorrer de forma complementar e suplementar para a formação educacional do estudante público-alvo da educação especial, inclusive o AEE deve ocorrer no contraturno da aula da sala comum. Entretanto, a PNEE-PEI e o Decreto n. 7.611/2011 dispõem que o AEE é ofertado preferencialmente nas escolas regulares, ou seja, o AEE também pode ocorrer em instituições privadas-assistenciais. A Fenapaes, por sua vez, questiona essa política, ressignificando os termos “Educação Especial” e “AEE”. Ela reduz a modalidade educação especial ao AEE. Desse modo, as suas Federações de Apaes dos estados procuram o reconhecimento e a autorização dessas unidades para funcionar como escolas por meio da deliberação dos Conselhos Estaduais de Educação. Tais Conselhos podem autorizar o funcionamento das Apaes como escola especial, embora não haja regulamentação nacional, desde que as Apaes apresentem seus regimentos internos, seus projetos políticos-pedagógicos, entre outros documentos, para serem registradas nas Diretorias ou Superintendências de ensino. Desse modo, há possibilidade de as Apaes substituírem o acesso do aluno à escola regular, apesar da PNEE-PEI prescrever que a educação escolar não pode ser substituída por outros tipos de serviços.

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o próprio acesso aos rudimentos desse saber”. Será que a Fenapaes, por meio de suas filiadas, objetiva que o saber sistematizado seja adquirido pelo público atendido?

A tensão política está posta! A Fenapaes defende o modelo de escola especial. Ela, como sociedade civil, que possui intelectuais orgânicos, mantém um espaço de autoridade e reconhecimento no Estado, pois seus intelectuais se portam como mediadores do Poder Público, da família e da pessoa com deficiência. Isso permite que elas permaneçam como instituições que prestam atendimento educacional, apesar dos embates nas formulações de políticas públicas.

Esta tese, calcada no materialismo histórico e dialético, entende que um dos primeiros passos para o pesquisador realizar uma análise do objeto de estudo é o resgate crítico da produção teórica ou do conhecimento já produzido sobre a problemática em tela.

As pesquisas já produzidas podem nos dar indícios sobre o papel da Fenapaes nas políticas educacionais brasileiras e, principalmente, dar visibilidade às propostas educacionais da agremiadora de instituições privadas-assistenciais.

Por isso, apresento, nesta introdução, como a literatura científica, que foi produzida e, também, que circula no âmbito dos programas de pós-graduação do país, bem como nos periódicos científicos, refletiu em relação aos projetos educacionais da Fenapaes no Brasil.

Balanço da produção acadêmica sobre a Fenapaes

Gramsci nos alerta que a ciência não é somente base da vida, aquela que libera os olhos de qualquer ilusão ideológica, ela também é uma superestrutura, uma ideologia. A ciência “[...] jamais apresenta como nua [sic] noção objetiva; ela aparece sempre revista por uma ideologia e, concretamente, a ciência é a união do fato objetivo com uma hipótese, ou um sistema de hipóteses, que superam o mero fato objeto” (GRAMSCI, 2014, p. 175).

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nas sensações, o que é necessário e o que é arbitrário, individual, transitório” (GRAMSCI, 2014, p. 173).

Assim, Gramsci nos encaminha para cuidados metodológicos e para a leitura dialética da realidade, principalmente na análise da produção científica sobre um determinado tema. O tema desta pesquisa teve contribuições do estudo bibliométrico7 sobre a Fenapaes.

Encontrei apenas dois estudos, quais sejam, Salaberry (2007) e Johann (2011), na Biblioteca Digital de Teses e Dissertações do Instituto Brasileiro de Informação Científica e Tecnológica do Instituto Brasileiro de Informação para Ciência e Tecnologia (BDTD/IBICT)8. Em seguida,

busquei fazer um amplo levantamento de trabalhos com expressões “Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais” e “Instituição (ões) Especializada (s)” nessa biblioteca e em outros bancos de dados, como o Portal Periódico da Capes, a biblioteca eletrônica Scientific Electronic Library Online (SciELO) e a Red de Revistas Científicas de América Latina y el Caribe, España y Portugal (Redalyc)9. Os resultados dessas investigações foram submetidos à publicação em

revistas e anais de eventos (SILVA, J. 2017, 2016a, 2016b; SILVA; HAYASHI, 2015; SILVA, ALMEIDA; CAIADO, 2016).

O recorte temporal não foi pré-definido, no intuito de coletar o maior número possível de estudos. Na biblioteca eletrônica SciELO, não foi localizado nenhum trabalho. Na ferramenta de buscas da internet Google Acadêmico e Livros, foram encontrados diversos trabalhos que citam a referida associação ou livros e documentos das associações de todo o Brasil. No total, somam-se vinte e oito dissertações e teses, doze artigos e dois livros

O quadro 1 faz uma releitura dos dados coletados, por meio dos quais selecionei os trabalhos que possuem como eixo central de análise a seguinte questão: como os autores discutem as propostas educacionais da Fenapaes? Essa questão foi elaborada com base na hipótese inicial de que as pesquisas selecionadas trazem elementos para discutir a concepção de educação da Fenapaes ou, ainda, pistas das propostas referentes ao serviço educacional às pessoas com deficiência assistidas por unidades apaeanas, sob as diretrizes da Fenapaes.

7 A Bibliometria pauta-se pelo princípio de analisar a atividade científica ou técnica pelos estudos quantitativos

das publicações. De acordo com Sacardo (2012, p. 18), os estudos bibliométricos são úteis para mapear um campo científico, avaliar a pesquisa acadêmica, “[...] bem como para orientar rumos e estratégias de financiamento de pesquisas e apontar o alcance analítico para o estudo de um campo científico”.

8 Decidi pelo IBICT porque o Banco de Teses da CAPES estava passando por reformulação e apresentava somente

registros a partir de 2010, enquanto a BDTD/IBICT possuía registros de anos anteriores.

9 Trata-se de uma plataforma essencial que presta serviços de informação científica de acesso aberto em nível

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Quadro 1 - Total de trabalhos referente ao balanço de produção sobre Fenapaes e suas propostas educacionais Banco de

dados

Tipo de produção

Quantidade Área de conhecimento

Instituições

Portal de Periódicos da

Capes

Artigos 2 Psicologia e

Educação

Universidade de Brasília, Universidade Estadual do Oeste do Paraná

Redalyc Artigos 3 Psicologia e

Educação

Universidade de Brasília, Universidade Salgado de Oliveira e Universidade Estadual

do Oeste do Paraná Biblioteca

Digital de Teses e Dissertações

Dissertação 5 Educação e

Ciência Política

Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Pontifícia Universidade Católica – São Paulo e

Rio Grande do Sul, Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Universidade Regional de

Blumenau

Tese 1 Educação Universidade Estadual de Campinas

Outros Livros 2 Psicologia e

Educação

Mackenzie e Unicamp/UFSCar

Tese10 1 Psicologia Universidade de São Paulo

Total 14

Fonte: elaboração própria.

A produção acadêmica nos mostra que a área majoritária dos estudos está relacionada à área da psicologia e educação, campos científicos que se dedicam às dimensões educativa e psicológica da deficiência. A maioria dos trabalhos foi realizada em nível de mestrado e nas universidades públicas, como a Universidade de Brasília e a Universidade Estadual do Oeste do Paraná.

A produção científica pode ser contemplada em três eixos, a partir da questão anteriormente formulada: a) propostas educacionais; b) educação física e c) educação profissional. O primeiro eixo traz subsídios para compreender quais as concepções e os fundamentos das propostas educacionais da Fenapaes. O segundo trata da disciplina educação física como componente complementar do currículo das Apaes. E o terceiro diz respeito à modalidade de ensino educação profissional articulada à qualificação para o trabalho. A classificação dos quatorze estudos pode ser vista no quadro 2.

10 Tese encontrada por outras fontes, porque os descritores na BDTD não possibilitaram, a priori, sua localização.

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Quadro 2 – Classificação das pesquisas sobre a Fenapaes por eixo temático

Eixo Quantidade Autor (es)

Propostas educacionais 7 Silva, A. (1995), D’Antino (1998), Losekann (2005), Meletti (2006), Salaberry (2007), Jannuzzi e Caiado (2013), Schipper e Witzel (2015)

Educação Física 1 Piffer (2011)

Educação Profissional 6 Silva, A. (2000), Mourão e Borges-Andrade (2005), Murce Meneses e Abbad (2009), Johann (2011), Mourão, Sampaio e Duarte (2012), Zago Figueiredo e Johann (2013)

Fonte: elaboração própria.

O quadro 2 expõe que três pesquisas foram desenvolvidas no final do século XX (SILVA, A., 1995; 2000; D’ANTINO, 1998). A dissertação de Adriana Giugni da Silva é pioneira por descortinar a constituição das Apaes como uma rede nacional de educação especial. No seu doutorado, a autora dedicou-se à análise da educação profissional da Apae de São Paulo. Outras onze pesquisas foram desenvolvidas no século XXI, a partir do ano de 2005, logo após a política do governo federal a favor do projeto de uma educação inclusiva. Todavia, a Fenapaes existe há 54 anos, marcada por uma relação de influência política com o Estado. O quadro 2 evidencia que a educação profissional é um tema muito pesquisado no universo da atuação da Fenapaes. A educação física também é recorrente em estudo sobre as Apaes (SILVA; HAYASHI, 2015). Porém, somente uma pesquisa pode nos ajudar a entender a disciplina em relação à proposta da Fenapaes, a de Piffer (2011). Outras são uma ratificação da necessidade da disciplina da educação física no espaço das entidades. Aliás, os trabalhos sobre as propostas educacionais da Fenapaes possuem muitos objetivos diferentes entre si, entretanto, a maioria dos estudos concentra-se no Programa “Apae Educadora”, publicado pela Fenapaes em 2001. A seguir, discuto os estudos mencionados no quadro 2.

Propostas educacionais

O trabalho de Silva, A. (1995, p. 22) procura examinar o modo pelo qual essa instituição privada de educação especial se constituiu como rede nacional de ensino, bem como verificar quais as principais tendências, em termos de produção científica, expressas por meio dos congressos nacionais das Apaes. O estudo documental abrange documentos originais das Apaes, registros de atas, reuniões, registros de atas de fundação, relatos mimeografados, anais de congressos das Apaes, livros de registros, revistas Mensagem da Apae e outros arquivos.

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desenvolvidas ao longo do período que compreende os anos de 1962 a 1994. As atividades envolvem congressos nacionais, olimpíadas (competições esportivas de âmbito nacional), exposições de arte e artesanato (divulgação da habilidade artística e criativa), publicação de periódico trimestral – revista Mensagem da Apae – e campanhas de esclarecimento público sobre o problema do excepcional. Por meio dessas atividades, Silva, A. (1995) procura compreender o caráter de articulação, de pesquisa e de propaganda nacional da Apae no trabalho de atendimento às pessoas com deficiência intelectual.

Silva, A. (1995, p. 99) constatou que “a Fenapaes garantiu a incorporação das propostas mais avançadas no campo da educação especial, e, por outro lado, desenvolveu-se e influenciou as políticas públicas nas regiões mais desenvolvidas”. A Federação influenciou “[...] nos caminhos da educação especial no Brasil, não só no nível de atendimento direto e político, mas também, no campo técnico-científico, por intermédio de encontros, simpósios” (SILVA, A. 1995, p. 101).

A autora também fez mapeamentos e análise dos temas e assuntos dos congressos nacionais das Apaes, dirigido pela Fenapaes, ao longo das quatro décadas, de 1960 a 1990. Ela levantou 157 assuntos em seis temas, quais sejam: educação (n=57), psicologia (n=35), saúde (n=19), organização (n=18), legislação (n=15) e trabalho (n=13). Os dois primeiros temas – Educação e Psicologia – perfazem 58,6% (92 entre 157 assuntos).

Desse modo, segundo Silva, A. (1995, p. 118),

Isso significa que a constituição da Apae, como rede nacional de atendimento à pessoa portadora de deficiência, se deu na hegemonia da questão educacional. O atendimento clínico e psicológico está relacionado a esta primeira preocupação na área da Educação Especial: garantir a formação global da pessoa excepcional, sempre acompanhada da profissionalização [grifos meus].

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D’Antino (1998) reflete criticamente sobre a atuação da Fenapaes no Brasil, por meio do resgate histórico e político da atuação dessa rede no âmbito sociopolítico. O universo de sua pesquisa diz respeito a três instituições educacionais particulares – Associação A, B e C –, de caráter assistencial-filantrópico, formadas e dirigidas por pais de crianças e adolescentes com deficiência mental e/ou múltipla. Ela aborda o surgimento da Fenapaes, para considerar que essa organização conseguiu a ampliação do atendimento educacional e/ou clínico às pessoas com deficiência mental e/ou múltipla. Para a autora, a Federação “[...] estimulou e viabilizou movimentos dirigidos às conquistas legais, garantindo (nas letras da lei) os direitos de cidadania dos indivíduos com deficiência” (D’ANTINO, 1998, p. 40-41).

A Fenapaes ganhou espaço na política de atendimento ao referido público, principalmente na obtenção recursos do Poder Público. D’Antino discute que as associações possuem uma prática autônoma de gerir os recursos, porém, “[...] mantêm relações de dependência econômica com o Estado e com a sociedade civil” (1998, p. 41). Elas assumiram importância no cenário da educação especial porque se apoiam no espírito caritativo e humanitário. As associações constituem espaços de facilitação da reprodução e perpetuação do caráter benemerente e assistencial.

D’Antino (1998) identificou que a Associação A tem a tarefa primordial no cuidado e assistencia da pessoa com deficiência. De forma diferente, as Associações B e C possuem propósito educacional explícito. A dimensão técnico-pedagógica das três associações é assumida pelos pais, dirigentes da instituição, que se sentem “donos” da associação/escola e, quando os pais buscam conhecimento nessa dimensão, determinam e controlam o fazer técnico-pedagógico. A autora verificou, também, que esse fazer pedagógico é uma consequência do aspecto administrativo, ou seja, a educação submete-se aos ditames da lógica administrativa (D’ANTINO, 1998).

No entanto, a pesquisa de D’Antino (1998) não nos possibilita compreender quais elementos compõem a proposta educacional das associações, o que elas entendem por educação, a concepção de ensino e aprendizagem, a organização do atendimento educacional, haja vista que o foco do estudo diz respeito a “[...] enfocar as relações estabelecidas entre o grupo de pais-dirigentes e o grupo de técnico-agentes” (D’ANTINO, 1998, p. 19).

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Referencial de Atuação – Relatório Analítico/novembro de 1997, os manuais do Projeto Águia e a Coleção Educação Ação chamada Apae Educadora: a escola que buscamos. Esses documentos são particularmente interessantes, pois elucidam o projeto educacional da Fenapaes, concebido nos finais do século XX.

O trabalho objetivou analisar

[...] em que medida a Apae parte em sua fundação de uma atuação de ajuda mútua, caracterizada por um viés filantrópico e vinculada à esfera privada e transforma-se ao longo dos anos em uma organização comprometida com o interesse público, aproxima-se do Estado incorporando práticas comuns a outras ONGs que existem no momento atual: principalmente a representação do seu público-alvo em conselhos gestores (LOSEKANN, 2005, p. 11-12).

Losekann (2005, p. 45) entende que a Federação Nacional “[…] desenvolveu uma série de documentos, que devem orientar as associações municipais, no sentido de criar uma identidade unívoca para o movimento” e identificou que o movimento apaeano

[…] incorporou questões do atual debate sobre o papel das organizações da sociedade civil e sua função pública. A primeira, é com relação à participação nos conselhos. Esta é colocada como uma forma estratégica para a defesa de direitos do público alvo, o que demonstra uma visão clara da importância dos conselhos na formulação de políticas públicas. Desta forma, as relações com o poder executivo estão basicamente estabelecidas através destes conselhos. Um segundo aspecto, é o sentido de deliberação ressaltado como a forma exata que se pretende para influir em tais políticas. Ora, espaços de deliberação, como já foi dito antes, são uma das formas atuais mais identificadas por aqueles que defendem um alastramento dos mecanismos democráticos (LOSEKANN, 2005, p. 45).

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O estudo de Losekann (2005) constatou que as Apaes municipais do estado do RS são integralmente sustentadas pelo Estado, seja no nível municipal, estadual ou federal. Porém, as Apaes diversificam o serviço prestado na área educacional, pois, em algumas localidades, são substitutivas ao ensino e, em outras, atuam como complementar da educação das pessoas com deficiência. Losekann (2005) demonstra que a relação da Apae com o Estado está, principalmente, vinculada e projetada na questão dos financiamentos, verbas e recursos, além do contexto de que “[...] a APAE é responsável por 45% dos atendimentos educacionais aos portadores de deficiência [sic] no Brasil” (LOSEKANN, 2005, p. 102-103). No entanto, o

trabalho de Losekann não discute as especificidades desses atendimentos, que é justamente o que a presente tese se propõe a investigar.

A tese de doutorado de Meletti (2006) estudou a proposta curricular elaborada pela Federação Nacional, “Apae Educadora: a escola que buscamos”, o currículo elaborado pela Apae pesquisada (não identificada), filiada à Fenapaes, e o seu Relatório de Atividades do ano de 2002. Segundo a pesquisa, a Federação representa a consolidação do setor privado no Brasil, uma vez que “[...] entre as décadas de 1960 e 1970, o ‘espaço vazio’ da educação especial pública foi efetivamente ocupado pelas instituições especiais privadas, principalmente pelas Apaes” (MELETTI, 2006, p. 26). A pesquisadora ressaltou que as instituições especiais absorveram uma expressiva parte da verba pública destinada à educação especial no Brasil desde o seu surgimento. Também fez críticas ao programa “Apae Educadora”, aos serviços educacionais, à defesa da instituição como escola especial e à proposta curricular educacional. Tais apreciações serão oportunas para a análise dos dados desta tese.

A dissertação de mestrado de Salaberry (2007) é muito interessante por narrar a história do movimento apaeano e suas influências no contexto sociopolítico brasileiro. Salaberry (2007) apresenta, na introdução do seu trabalho, que o motivo de investigar a relação da proposta da Apae Educadora com a unidade da Apae-POA deve-se ao fato de “[...] ter trabalhado por seis anos na administração de uma Escola da Apae e ter estudado e implantado junto à comunidade escolar a proposta da Apae Educadora” (SALABERRY, 2007, p. 9).

(38)

pessoa com deficiência identificadas nas Apaes do Brasil.

Essas concepções filosóficas foram denominadas como: segregacionista-assistencialista, integrativa/integradora, inclusiva/transformadora. Essas concepções, segundo o documento em questão, podem ser identificadas nas ações e decisões das Apaes. A Fenapaes visava a que as Apaes consolidassem a concepção filosófica inclusiva/transformadora11, com o

que a pesquisadora concorda:

Mesmo sabendo das diferenças entre as unidades, o movimento apaeano adotou a concepção inclusiva /transformadora como parâmetro para elaborar sua missão e demais propostas, resultantes do planejamento estratégico. Assim, uma Apae Educadora, a proposta de escola idealizada pelo movimento apaeano, está sustentada filosoficamente, em relação à pessoa deficiente mental, nas premissas da concepção inclusiva/transformadora (SALABERRY, 2007, p. 96).

Dessa forma, Salaberry (2007) apoiou-se nessas concepções como referencial teórico para analisar as falas da diretoria, dos profissionais da instituição, dos professores e alunos da Apae-POA. A análise das entrevistas trabalhou com os seguintes eixos: a concepção de pessoa “deficiente mental”, a concepção da entidade Apae e a prática escolar (gestão e papel da escola, ensino e aprendizagem e avaliação). Salaberry constatou que não há uma concepção única em relação à pessoa com “deficiência mental” na Apae estudada. Quanto à concepção da instituição Apae, a autora afirma que predominou, entre os participantes da pesquisa, a concepção inclusiva/transformadora. Salaberry também observou, na Apae de Porto Alegre, que as práticas na escola, a função da unidade escolar e sua gestão encontram-se numa concepção inclusiva/transformadora. Ela afirma que, nesses aspectos, “[...] há ênfase na prestação de serviços no aspecto pedagógico” (SALABERRY, 2007, p. 110). A autora considerou, inclusive, que a aprendizagem e a avaliação aproximam-se da concepção inclusiva/transformadora, defendida pela Fenapaes. Porém, Salaberry (2007, p. 111) concluiu que, em relação à proposta do Programa “Apae Educadora”,

[...] há uma fragilidade na atuação dos professores, no sentido de criar em sala de aula espaços interativos, com propostas coletivas, respeitando a singularidade do aluno, pois os aspectos coletivos evidenciam-se nas competências atitudinais. Quanto à aquisição do conhecimento, este se dá de forma individual.

11 Nessa concepção, a missão das Apaes é garantir qualidade de vida. Elas têm o papel de “[...] oferecer diferentes

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Figura 1 – Símbolo da Fenapaes de 1972
Figura 3 – Presidente da República cumprimenta apaeanos – parte II
Figura 4 - Número de unidades Apaeanas (1954-1990)
Figura 5 – Distribuição de unidades apaeanas por anos (1990-2016)
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Referências

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