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2. GÊNESE E DESENVOLVIMENTO DO MOVIMENTO APAEANO (1954-1989): HISTÓRIA, EDUCAÇÃO E POLÍTICA

2.2 Surgimento da Fenapaes: organização e atividades

Cumpre acrescentar que, entre 1951 e 1955, aconteceram quatro edições dos Seminários da Infância Excepcional, organizados por Helena Antipoff e seus colaboradores, vinculados às Sociedades Pestalozzi (de Minas Gerais, do Rio de Janeiro e de São Paulo), em 1951, 1952, 1953, 1955. Esses seminários fortaleceram as ações realizadas pela Sociedade Pestalozzi do Brasil. O quarto seminário, em 1955, debruçou-se sobre a cooperação do governo no atendimento dos “excepcionais” e a efetiva participação dos entes representativos do Estado na elaboração de programas de atendimento aos “excepcionais”, ou melhor, o seminário recomendou que o governo deveria subvencionar as iniciativas privadas (RAFANTE, 2011).

O Estatuto de fundação da primeira Apae, de 1954, no Rio de Janeiro, já cogitava a possibilidade de formar uma Federação, vide Art. 29:

Quando for julgado conveniente, a Assembleia Geral poderá deliberar que a associação se reúna a outras de objetivos análogos, existentes no país, para constituírem uma Federação. Parágrafo único: Em tal oportunidade, a Federação passará a exercer as atividades associativas de escopo nacional e incluídas nestes Estatutos (ASSEMBLEIA GERAL..., 1954, p. 9).

Antônio Santos Figueira63, Stanislau Krynski64 e Severino Lopes65 realizaram a 1ª Reunião Nacional de Dirigentes Apaeanos na cidade de São Paulo. Ela foi presidida pelo Stanislau. Participaram da reunião os dirigentes de doze das dezesseis entidades existentes no país até 1962, das cidades de Caxias do Sul, Curitiba, Jundiaí, Muriaé, Natal, Porto Alegre, São Leopoldo, São Paulo, Londrina, Rio de Janeiro, Recife e Volta Redonda. (MENSAGEM DA APAE, 2014; FENAPAES, 2001a; ASSEMBLEIA GERAL..., 1963; DRUMOND, 2015).

Os organizadores da reunião consultaram Helena Antipoff sobre a criação de uma organização nacional. Antipoff considerou que as Apaes deviam se agrupar sob uma entidade única, com o objetivo de melhor advogar as causas de seus associados. Ela apoiou a criação de uma Federação Nacional (ANTIPOFF, 1996, p. 156 apud DRUMOND, 2015, p. 89).

63 Não foram localizadas informações a respeito de Antônio, conforme já descrito por Salaberry (2007). Somente há a notícia de que ele era professor e representante da Apae de Recife (MENSAGEM DA APAE, 1964a). A dificuldade de encontrar dados a respeito dele reside no fato de que o nome do professor se modifica em várias edições da Revista Mensagem da Apae. Por isso, prefiro utilizar o termo que consta no Estatuto de 1963. 64 Médico psiquiatra. Era conhecido por suas pesquisas no campo da deficiência mental. (DRUMOND, 2015). Era também professor Associado do Departamento Psiquiatria e Psicologia Médica da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (Memorial Bibliográfico do Serviço Social, 2017).

65 Era pai de uma pessoa com síndrome de down. Médico e presidente da Clínica Pedagógica Professor Heitor Carrilho, da cidade de Natal-RN. Foi um dos sócio-fundadores da Apae de Natal (Apae Natal, 2017). Posteriormente, atuou como médico em São Paulo (FENAPAES, 2009).

Na reunião em comento, surgiram duas propostas. A primeira defendia “[...] a formação de um conselho66 nacional, sem funções executivas, visando a comissão estatutária”, apoiada pela Apae de Natal-RN, pela Apae do Rio de Janeiro e defendida pelo professor Marcelo Silva Júnior (MENSAGEM DA APAE, 1963a, p. 9; 1988a). Outra proposta, da Apae de São Paulo, visava “[...] a constituição da federação67 das Apaes, com diretoria provisória, com funções executivas e encarregada da elaboração dos estatutos e organização da sociedade” (MENSAGEM DA APAE, 1963a, p. 9-10). Com nove votos a favor e três contra, a ampla maioria decidiu pela criação de uma Federação Nacional das Apaes, o que ocorreu no dia 10 de novembro de 1962, data que marca a fundação da Federação, que foi legalizada no ano seguinte, no dia 13 de julho de 1963. O primeiro presidente da diretoria provisória eleita foi o Dr. Antônio dos Santos Clemente Filho68.

A justificativa da criação da federação deve-se ao fator de que a organização das Apaes em Federação possibilita a ela ter uma função executiva nacional, garantindo maior controle e/ou domínio das ações de todas as Apaes filiadas. Segundo a própria Federação, desde a sua criação, havia uma preocupação em formar-se uma rede que comunicasse ideias e compromissos, articulando-se com a sociedade, órgãos públicos e privados. (FENAPAES, 2001a, 2009; MENSAGEM DA APAE, 2014, ASSEMBLEIA GERAL..., 1963).

A reunião discutiu também a criação da “Semana Nacional da Criança Retardada”, com comemoração simultânea em todo o Brasil, de 22 a 28 de agosto, aprovado por todos os presentes (MENSAGEM DA APAE, 1964a). Em 1964, o governo federal instituiu a Semana do Excepcional. Esse evento fez parte de uma das ações estratégicas da Campanha Nacional de Educação e Reabilitação de Deficientes Mentais (Cademe) e da parceria entre Fenapaes e Fenasp, desenvolvida desde 1954.

De acordo com Rafante (2011, p. 259),

[...] em 24 de agosto de 1964, o presidente da república, marechal Humberto de

66 Conselho visava ser um órgão consultivo e deliberativo dos interesses e decisões relacionados aos trabalhos das Apaes. Segundo o Dicionário Aurélio Básico da Língua Portuguesa (1995, p. 171), conselho pode significar: “corpo coletivo superior; reunião de pessoas para tratarem de assunto particular”.

67 O Dicionário Aurélio (1995, p. 292) define federação como “[...] associação ou aliança; associação sindical de grau superior que reúne ao menos cinco sindicatos representativos de atividades ou profissões idênticas, similares ou conexas”. Assim, a Federação congregaria todas as Apaes. As Apaes teriam uma representação significativa nas instâncias políticas e econômicas, principalmente porque as Apaes consistiam em personalidade jurídica de direito privado.

68 “Médico e professor da Universidade Federal de São Paulo, foi o primeiro coordenador do serviço de radiodiagnóstico da Unifesp (Universidade Federal do Estado de São Paulo) e também assumiu a direção executiva da CADEME em l964. Foi autor do livro: ‘Participação da Comunidade na integração das Pessoas com Deficiência Mental’, editado pelo Ministério da Educação em 1977 e conselheiro Científico da APAE de São Paulo”. (SALABERRY, 2007, p. 36).

Alencar Castelo Branco, lançou o Decreto n. 54.188, instituindo a Semana Nacional da Criança Excepcional, que seria comemorada de 21 a 28 de agosto, em todo o território nacional, cabendo ao ministro da Educação, solicitar, a todos os órgãos vinculados ao MEC, que promovessem a semana do “excepcional”.

Até hoje é realizada a “Semana Nacional da Pessoa com deficiência intelectual e múltipla” pelas Apaes, sob a direção da Fenapaes, objetivando discutir a deficiência intelectual/mental e chamar atenção do Poder Público e da sociedade para apoiar a causa das Apaes.

Logo após a sua fundação, a Federação Nacional lançou, em janeiro de 1963, o primeiro número e volume da revista designada “Mensagem da Apae”, que hoje continua a circular em todo o Brasil. Foi sugestão da Beatrice Bemis e consta no artigo 13, alínea j, do Estatuto da Apae. Na primeira edição, os editores informaram que o objetivo da revista era noticiar as atividades das Apaes e congregar esforços para consolidar as intenções do movimento (ASSEMBLEIA GERAL..., 1963). A revista constituiu, ao longo desses anos, um meio de organizar e difundir determinados tipos de cultura quanto à educação para as pessoas com deficiência.

No terceiro número da Revista, de 1963, Maria Amélia Vampré Xavier publicou um artigo no qual fala do horizonte a ser alcançado no Brasil com as Apaes:

É este um dos pontos fundamentais das Associações de Pais e Amigos dos Excepcionais – criar, antes de tudo, a mentalidade para a criação de numerosos agrupamentos de pais de excepcionais, como os que existem em quase todos os países adiantados, para enfrentar, decididamente, as causas, a prevenção, a orientação pedagógica, a terapêutica ocupacional – as diversas etapas por que passa o indivíduo excepcionais deficiente mental até atingir razoável a adaptação à sociedade (MENSAGEM DA APAE, 1963b, p. 2, grifos meus).

O discurso de Maria Amélia revela, na verdade, o objetivo das Apaes de normalizarem as pessoas com deficiência, como se houvesse um desajuste social na essência do ser humano que se encontra em situação da deficiência.

O primeiro evento realizado pela então Federação, chamado de 1º Congresso da Federação Nacional das Apaes, na própria cidade do Rio de Janeiro, foi realizado em 1963. No evento, que tratou de formalizar a Federação, foi aprovado o Estatuto e eleita a 1ª Diretoria da Federação (ASSEMBLEIA GERAL..., 1963; FENAPAES, 2001a). Nessa Assembleia Geral, dia 13 de julho de 1963, na Academia Nacional de Medicina, estavam presentes as dezesseis Apaes existentes. Na ata de fundação da Federação – Fenapaes –, os dirigentes dessas unidades tinham títulos ligados à profissão – como almirantes, médicos, professores – ou eram pessoas com capital político de suas cidades de origem. Inclusive, algumas unidades apaeanas

contribuíram financeiramente para a realização do evento e outras colaboraram na redação do Estatuto (ASSEMBLEIA GERAL..., 1963)

O Estatuto de 1963 dispôs, no art. 2º, que a Federação corresponde a uma “sociedade civil, de caráter assistencial e educacional sem intuitos lucrativos e com duração indeterminada” (ASSEMBLEIA GERAL..., 1963, p. 3). Um dos objetivos da Federação diz respeito à finalidade de “promover medidas de âmbito nacional que visem a assegurar o ajustamento e o bem-estar dos excepcionais, onde quer que se encontrem” (ASSEMBLEIA GERAL..., 1963, p. 4, art. 3, alínea a), o que se sustentava na finalidade da primeira Apae e visava à ampliação desse modelo para outras localidades.

A Federação também redigiu dez propostas no estatuto, das quais realço três que se articulam à área da educação, quais sejam: “[...] promover e auxiliar a formação e o funcionamento de novas Apaes”; “estimular e auxiliar a criação de escolas especializadas e oficinas protegidas, oficiais ou particulares”; “solicitar e receber quaisquer auxílios, doações, contribuições de órgãos oficiais ou de particulares, bem como arrecadar as contribuições das entidades filiadas” – art. 4, alíneas b, f, j. (ASSEMBLEIA GERAL..., 1963, p. 4).

Tendo presentes essas características no primeiro documento administrativo da Federação, vislumbro que suas finalidades e propostas conversam com a formulação do Estatuto da Apae-RJ. Desde o seu começo, estava presente a ideia de formar e qualificar os técnicos, estabelecer diretrizes para os serviços e espaços de formação para o trabalho. Contudo, o projeto de constituir escolas foi suscitado a partir de 1960, quando os dirigentes das Apaes perceberam que as próprias escolas de educação básica não atendiam aos “excepcionais”.

Já existia um grande número de analfabetos sem deficiência e as pessoas com deficiência continuavam à margem, segregadas social e escolarmente. As famílias que tinham uma formação básica entendiam a necessidade de instruir seus filhos e viam nas Apaes a oportunidade de trabalhar a capacidade laboral dos alunos com deficiência, pois não reconheciam as potencialidades das crianças “excepcionais” É pertinente acrescentar que o próprio Estatuto da Fenapaes manteve a definição de “excepcional” do documento da Apae-RJ (ASSEMBLEIA..., 1954), cujo conceito permanece centrado no indivíduo, como se a deficiência gerasse a incapacidade.

Por vários anos, a Federação Nacional funcionou provisoriamente no consultório do Dr. Stanislau Krynski, em São Paulo. O primeiro presidente eleito foi Dr. Antônio Clemente dos Santos Filho, que já atuava como presidente provisório. Ele trabalhou na gestão 1963-1965. No momento em que foi transferir a presidência da Fenapaes para Antônio Santos Figueira, em 1965, Dr. Antônio Clemente expressou a seguinte missão das Apaes:

Os objetivos das Apaes transcendem a instalação de escolas, clínicas, oficinas, englobando o atendimento de todas as necessidades dos retardados, onde e quando elas se apresentam. Mais ainda: esses objetos incluem o estímulo constante as autoridades para que aceitem as responsabilidades que lhes cabem na educação e recuperação dos retardados mentais. São objetivos indeclináveis que não poderiam ser atingidos por nenhuma outra instituição ou órgão público (MENSAGEM DA APAE, 1965a, p. 6, grifos meus).

Entre os dias 7 a 10 de julho de 1965, aconteceu o II Congresso Nacional das Apaes, em Recife-PE, ocasião em que foi fundada a Associação Brasileira para o Estudo Científico da Deficiente Mental (ABDM), filiada à Associação Internacional para o Estudo Científico do Deficiente Mental. O presidente da associação brasileira eleito foi o Dr. Stanislau. Tal fundação representa o avanço e o intercâmbio da Fenapaes com outros intelectuais do exterior. (MENSAGEM DA APAE, 1965a).

Ao longo dos anos, a Fenapaes procurou se reorganizar. Uma das primeiras necessidades era possuir uma sede que pudesse representar as Apaes em todo o Brasil. Assim, a sede da Federação foi transferida para Brasília, em 1968, com o apoio do governo militar. Segundo o relato do terceiro presidente da Fenapaes, cel. José Cândido Maes Borba, a instituição “[...] deveria estar localizada na capital do Brasil, visando, assim, facilitar as relações e inter-relações com os órgãos públicos e segmentos sociais em âmbito nacional” (FENAPAES, 2001a, p. 24).

Como esclarecem Jannuzzi e Caiado (2013), a transferência da Fenapaes para Brasília está relacionada à ditadura militar. O próprio presidente da Fenapaes, José Cândido, coronel do exército, tinha um perfil condizente com o governo. A transferência da sede “[...] evidencia a preocupação política do movimento apaeano de estar próximo a pessoas e órgãos do poder e, dessa forma, de exercer influência política” (JANNUZZI; CAIADO, 2013, p. 12). Até mesmo o presidente do país, General Emílio Garrastazu Médici (1969-1974), esteve presente no V Congresso Nacional das Apaes, realizado no Rio de Janeiro, no ano de 1971, evidenciando a influência da Fenapaes na sociedade política (MENSAGEM DA APAE, 2014).

A Fenapaes, projetando-se nacionalmente, instigou a criação de uma Federação Nacional das Associações Pestalozzi (Fenasp), fundada em 9 de agosto de 1970, por iniciativa da Helena Antipoff e concretizada na liderança de Lizair Guarino. A criação da Federação aconteceu após o encerramento da Semana do Excepcional, e a formalização ocorreu no dia 27 de agosto daquele ano. A Federação das Pestalozzi foi criada com o objetivo de fortalecer o movimento pestalozziano no país, principalmente na década de 1970, caracterizada pela aliança entre o governo e os tecnocratas e pela presidência do país nas mãos do General Médici. Para

Lizair, o propósito da Fenasp era de “[...] obter soluções cristãs e humanas para o excepcional” (THAMSTEN, 1999, p. 78). Hoje, a Fenasp conta com 178 Associações Pestalozzi e diversas entidades análogas, em 20 estados do país (FENASP, 2015). Ambas as federações – Fenapaes e Fenasp – conquistaram reconhecimento da sociedade civil por prestarem serviços na área da saúde, educação, trabalho e assistência social para as pessoas com deficiência intelectual/mental (MENSAGEM DA APAE, 2014; THAMSTEN, 1999).

As gestões da Fenapaes tiveram seis presidentes até o ano de 1991, como podemos ver no quadro 9.

Quadro 9 – Presidentes da Federação Nacional da Fenapaes (1965-1991)

Gestão Presidente Perfil profissional69

1963-1965 Antônio Clemente dos Santos Filho Médico e professor

1965-1967 Antônio Santos Figueira (In Memoriam) Pediatra

1967-1977 José Cândido Maes Borba (In Memoriam) Coronel do exército

1977-1981 Justino Alves Pereira70 Médico e deputado

1981-1987 Elpídio Araújo Neris71 Professor universitário

1987-1991 Nelson de Carvalho Seixas72 Médico e deputado

Fonte: FENAPAES, 2009, 2001; MENSAGEM DA APAE, 2014.

69 As buscas para identificar o perfil profissional dos presidentes da Fenapaes abrangeram varreduras nas diversas ferramentas: busca da internet; nos jornais eletrônicos de circulação nacional; nos acervos digitais de câmaras municipais, assembleias legislativas estaduais e no congresso nacional; no Centro de Pesquisa e Documento de História Contemporânea do Brasil da FGV; nos endereços eletrônicos das Apaes às quais o presidente era vinculado ou da federação estadual da qual ele participava. Novas investigações históricas precisam ser perscrutadas para melhor identificação e explicitação do perfil dos dirigentes apaeanos.

70“[...]. Elegeu-se vereador à Câmara Municipal de Ibiporã [do estado do Paraná] e, no pleito de outubro de 1958, alcançou uma suplência de deputado estadual na legenda da Frente Democrática do Paraná, formada pela União Democrática Nacional (UDN) e o Partido Republicano (PR). Não chegou a assumir o mandato nessa ocasião. Secretário de Saúde Pública do governo paranaense na gestão de Nei Braga (1961-1965), elegeu-se no pleito de outubro de 1962 deputado à Assembleia Legislativa do Paraná na legenda da UDN, assumindo o mandato em fevereiro do ano seguinte. Com a extinção dos partidos políticos pelo Ato Institucional nº 2 (27/10/1965) e a posterior instauração do bipartidarismo, filiou-se à Aliança Renovadora Nacional (Arena). Nessa legenda se elegeu deputado federal pelo Paraná no pleito de novembro de 1966, assumindo o mandato em fevereiro do ano seguinte. Em novembro de 1970 elegeu-se suplente de deputado federal por seu estado, sempre na legenda da Arena. Em janeiro de 1971 deixou a Câmara dos Deputados, não voltando a exercer o mandato” (FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS, 2017).

71 Cursou bacharelado em Direito na Universidade de São Paulo, concluindo o curso em 1954. Trabalhou como advogado do Banco do Brasil (INSTITUTO SOLIDARE, 2013).

72 Realizou os estudos universitários na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), concluindo- os em 1952. Em 1964, foi um dos fundadores e primeiro presidente da APAE de São José do Rio Preto, na cidade natal, cargo que ocuparia até 1973 e que voltaria a exercer entre 1980 e 1986. “No pleito de novembro de 1972, elegeu-se vereador em sua cidade natal na legenda da Aliança Renovadora Nacional (Arena), partido de sustentação do regime militar instaurado no país em abril de 1964. Empossado em fevereiro seguinte, assumiu a presidência da Câmara Municipal de São José do Rio Preto, função que exerceu até o ano de 1974. Concluiu o mandato de vereador em janeiro de 1977, ao final da legislatura [...]. Em novembro de 1986, elegeu-se deputado federal constituinte por São Paulo, na legenda do Partido Democrático Trabalhista (PDT). Tomou posse em fevereiro do ano seguinte, quando se iniciaram os trabalhos da Assembleia Nacional Constituinte, integrando, como membro titular, a Subcomissão dos Negros, Populações Indígenas, Pessoas Deficientes e Minorias, da Comissão da Ordem Social e, como suplente, a Subcomissão de Saúde, Seguridade e do Meio Ambiente, da mesma comissão [...]. Em 1988 filiou-se ao recém-criado Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), formado por dissidentes do Partido do Movimento Democrático Brasileiro – PMDB”. (FUNDAÇAO GETULIO VARGAS, 2017).

O Planejamento Estratégico 2009-2011 da Fenapaes explica o perfil dos dirigentes da instituição:

No regime militar, seu presidente era um Coronel do Exército, que exerceu vários mandatos, em 1969, um deputado federal, na constituinte também, fato que se repetiu por diversas vezes na década de 90 e em 2004. O perfil de dirigente escolhido era de pessoas que pudessem exercer influência política (FENAPAES, 2009, p. 12, grifos meu).

A Fenapaes confirma que os perfis dos ex-presidentes eram aqueles que pudessem exercer influência política. Os ex-presidentes, intelectuais orgânicos vinculados à classe fundamental burguesa, foram os responsáveis por dar direção ao movimento e possibilitar a concretização dos objetivos da entidade, conforme consta nos textos da Revistas Mensagem da Apae, em diferentes edições, dentre elas a de 2014. O perfil profissional dos ex- presidentes expõe que eles são profissionais liberais, que tiveram o direito à educação assegurado, num contexto educacional em que somente as pessoas economicamente favorecidas tinham o privilégio de ingressarem na escola e, inclusive, obterem certificação de Ensino Superior.

De acordo com Jannuzzi e Caiado (2013), esse movimento foi elaborado e dirigido pela “elite” letrada – termo empregado pelas autoras – com acesso ao poder público e sensível aos problemas enfrentados pelas pessoas com deficiência. Elas têm o mérito, desde a fundação da Fenapaes, de elaborar diversas ações para dar assistência a essas pessoas. Além do mais, diversas edições da Revista Mensagem da Apae, desde 1963, veicularam campanhas publicitárias de bancos privados e públicos e de empresas têxtis, telefônicas, automobilísticas e de aeronaves, entre outras. Em todos os números, havia publicidade e marketing, que tinham como destinatários pessoas das duas classes fundamentais, a burguesa e o proletariado.

A Fenapaes, como bloco intelectual orgânico vinculados à burguesia, mostrou que tinha a capacidade de se organizar e estruturar o seu Movimento. Por exemplo, o Estatuto de 1972, que reformulou da fundação da Fenapaes, possui uma caracterização mais elaborada do que a apresentada em 1963. O Estatuto de 1972 afirmou que a Fenapaes era “[...] uma associação civil, filantrópica, de caráter educacional, cultural, assistencial, de saúde, de estudo e pesquisa, desportivo e outros, com duração indeterminada, congregando, como filiadas, as Federações das Apaes dos Estados, as Apaes e outras entidades análogas [...]” (FENAPAES, 1972, p. 1, art. 2). Percebe-se, assim, que a Federação se remodelou para abranger outros serviços, como o de saúde e o desportivo e ratificou o caráter filantrópico da instituição.

O Estatuto de 1972 reformulou também a organização do movimento apaeano. O Estatuto de 1963 previa comissões encarregadas de estudos e da execução dos fins sociais relacionados às decisões da Diretoria da Fenapaes. Essas comissões poderiam ser locais, estaduais e regionais (ASSEMBLEIA..., 1963, art. 17, alíneas a, b, c).

O Estatuto em questão estabeleceu que os fins da entidade, em seu art. 4, eram

I - Promover a melhoria da qualidade de vida dos excepcionais, buscando assegurar o pleno exercício da cidadania;

II - promover e defender o progresso, o prestígio, a credibilidade e a unidade orgânica e filosófica do Movimento Apaeano;

III – atuar na definição da política nacional de atendimento ao excepcional, coordenando e fiscalizado sua execução pelas entidades filiadas [...]. (FENAPAES, 1972, p. 2).

Desse modo, o Estatuto de 1972 mudou a terminologia no objetivo primeiro da associação em relação àquele descrito quando foi fundada em 1962. Modificou, também, os termos “bem-estar” e “ajustamento social”, que condizem com as influências pestalozzianas, para “melhoria de qualidade de vida” e introduziu termos que carregam novos conceitos como “cidadania” e “movimento apaeano” (JANNUZZI; CAIADO, 2013).

Outra alteração fundamental foi a exclusão da exigência do estatuto anterior de a diretoria ter, em sua composição, a maioria composta por pais de pessoas com deficiência intelectual/mental, como estava descrito no Estatuto de 1963, no art. 9º, parágrafo primeiro: “a diretoria deverá constituir-se de maioria de pais de excepcionais, sendo o presidente obrigatoriamente pai de excepcional” (ASSEMBLEIA GERAL..., 1963). Note-se que permaneceu o requisito de o presidente da Federação ser pai de “excepcional”. Esse requisito