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1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA-METODOLÓGICA DA PESQUISA

1.3 Procedimentos metodológicos para a pesquisa documental

A Fenapaes, que assumiu, desde a sua fundação, o comando de cuidar e zelar pela qualidade de vida da pessoa com deficiência, via o tripé de serviços na área da educação, saúde e assistência social. No decorrer das décadas e conforme as relações políticas e econômicas, a Federação se reorganizou de acordo com os planos de suas relações sociais de produção material e o das relações políticas. Ela consolidou seu projeto educativo em documentos que expressam a materialização da ação na história. Os documentos orientam e disseminam os tipos e a organização dos serviços para as pessoas com deficiência, dentre eles, o serviço educacional. Este serviço, desde os anos de 1990, defende a Apae como uma escola especial e, para atingir esse objetivo de prestar serviço educacional, ao longo dos anos, a Fenapaes produziu textos que orientam e subsidiam suas propostas educacionais.

A Fenapaes também ocupa papel de destaque no cenário de políticas públicas, em especial na área da Educação. Ela é uma força capilar dentro do Estado. Ela constitui consentimento de grupos inseridos na esfera governamental para que as unidades apaeanas prestem serviço filantrópico na área da educação. Esse serviço foi realizado de forma substitutiva à educação escolar por muitas décadas. A partir da Política Nacional da Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (PNEE-PEI) de 2008, as entidades poderiam oferecer, de forma complementar, o atendimento educacional às pessoas com deficiência. Dependia das relações políticas com os municípios e estados. Até hoje, a centralidade da educação das pessoas com deficiência conquistada pela Federação mantém espaços entrincheirados na luta hegemônica, com representantes na sociedade política (funcionários do Estado, burocratas, magistrados) e na sociedade civil, com seus intelectuais orgânicos, que atuam dentro dos diversos “aparelhos privados” para tornar sua ideologia a dominante. Essa predominância nas políticas públicas educacionais da Fenapaes confirma-se na sua intensiva participação no Plano Nacional da Educação 2001-2020 e 2014-2024, quando conquistou a oferta do serviço educacional – seja substitutivo ou atendimento educacional especializado - para as instituições privadas-assistenciais.

Tendo presente essa organização institucional e a influência da Fenapaes nas políticas públicas, bem como a revisão de literatura apresentada no início da tese, são necessárias as seguintes problematizações: Por que e como a Rede Apae se consolidou como uma entidade relevante, social e politicamente, na área da educação especial em todo o Brasil? Como a Fenapaes participa e/ou influencia as políticas públicas educacionais, em especial, entre 1990 a 2015? Qual a concepção de deficiência presente nos documentos da Fenapaes? Quais

são as propostas educacionais da Fenapaes? Quais foram as mudanças e as tendências na área da Educação que podemos acompanhar nos discursos da Fenapaes entre 1990 a 2015? Quais foram os movimentos – mudanças, permanências e contradições – presentes nas propostas da Federação para a educação das pessoas com deficiência? De que forma essa proposta conjuga- se com as políticas públicas na área da educação especial?

Tais perguntas mostram que o processo de conhecimento a ser produzido nesta pesquisa constitui um momento do processo concreto (o real-concreto) – a Fenapaes possui propostas educacionais e é formuladora de políticas públicas educacionais – para o concreto pensado. A complexidade das relações que compõem o campo da realidade da Fenapaes é abstraída para fazer a análise e síntese das relações e determinações numerosas (concreto-de- pensamento), que representam a totalidade do objeto - Fenapaes. Como ensina, pois, Saviani, o “[...] processo de conhecimento é, ao mesmo tempo, indutivo-dedutivo, analítico-sintético, abstrato-concreto, lógico-histórico”29 (SAVIANI, 2015a, p. 33)

A análise em questão promove o recorte do período histórico a partir de 1990 por ele corresponder ao marco histórico-educacional brasileiro que introduz o debate da educação especial na perspectiva da educação inclusiva, via patrocínio das agências multilaterais. A educação inclusiva, aliás, está calcada na Teoria do Capital Humano. Esta se refere à formulação inicial do economista estadunidense Theodore Schultz (1902-1998), que foi difundida entre os técnicos da economia, das finanças, do planejamento e da educação.

A teoria do capital humano

[...] surgiu da preocupação em explicar os ganhos de produtividade gerados pelo “fator humano” na produção. A conclusão de tais esforços redundou na concepção de que o trabalho humano, quando qualificado por meio da educação, era um dos mais importantes meios para a ampliação da produtividade econômica, e, portanto, das taxas de lucro do capital. Aplicada ao campo educacional, a ideia de capital humano gerou toda uma concepção tecnicista sobre o ensino e sobre a organização da educação, o que acabou por mistificar seus reais objetivos (MINTO, 2017).

Segundo Saviani (2010, p. 20), a referida teoria concebe que a educação é “[...] um fator de desenvolvimento tanto pessoal como social suscetível de agregar valor, concorrendo, portanto, para o incremento da produtividade”

Por exemplo, retrato a relevância da Conferência de Jomtien, que introduz, com mais vigor, o debate de uma “escola para todos”. A análise delimita o ano de 2015, porque, na seara da política educacional, corresponde à publicação do Plano Nacional de Educação (PNE)

29 O processo de conhecimento, no método de Marx e Engels, pode ser consultado nos escritos de Gramsci (2007, 2014), Paulo Netto (2011), Duarte (2008), Saviani (2013a), entre outros.

2014-2024 e da aprovação do Estatuto da Pessoa com Deficiência – em vigor desde o começo do ano de 2016. Tanto no PNE quanto no Estatuto, a Federação Nacional encampou uma luta em defesa do serviço educacional das entidades filantrópicas, obtendo dispositivos nos documentos que reforçam o caráter substitutivo da escolarização, apesar de isso contrariar a orientação da PNEE-PEI (2008).

Dessa forma, esta tese tem por objetivo geral analisar a participação da Fenapaes na disputa pela hegemonia no campo da Educação Especial, bem como examinar as propostas educacionais da Fenapaes para as pessoas com deficiência, entre os anos de 1990 a 2015. Os objetivos específicos pretendem: a) identificar a gênese e o desenvolvimento do movimento apaeano no Brasil; b) analisar o contexto econômico, político e social referente ao período analisado - 1990 a 2015; c) verificar os mecanismos utilizados pela Fenapaes para se inserir e se consolidar no campo da Educação Especial no Brasil no período em análise; d) problematizar o conceito de deficiência preconizado pela Fenapaes, em sua relação com a proposta educacional da instituição e com a disputa pela hegemonia no campo da educação especial; e) examinar os movimentos – mudanças, permanências e contradições – nas propostas educacionais para a educação especial realizadas pela Federação e articuladas com as políticas públicas educacionais.

Compreendo, então, que a Federação, como sociedade civil, é um aparelho privado de hegemonia, constituído por intelectuais orgânicos vinculados à burguesia. Ou seja, os (ex) presidentes da instituição são profissionais liberais, que se articulam com diferentes frações do capital (industrial, bancário e financeiro) para dar prosseguimento às atividades da Federação, como a divulgação da Revista Mensagem da Apae, fundada em 1963. Essa revista é um dos meios para organizar e difundir determinado tipo de cultura da Federação, assim como os programas e projetos.

Os intelectuais da Fenapaes também compõem o Estado por assumir cargos políticos no Congresso Nacional, nas assembleias legislativas estaduais e nas câmaras municipais. Assim, eles compõem uma força política importante para disputa da hegemonia no campo educacional, e inclusive organizam-se como forças sociais, porque representam famílias de crianças e jovens com deficiência, as quais vivem obstruídas por falta de acessibilidades. Consequentemente, os dirigentes da Fenapaes orientam e influenciam a formulação de políticas públicas educacionais para as pessoas com deficiência, visando à perpetuação dos serviços prestados por entidades filantrópicas, custeados com recursos públicos, para financiar a estrutura física, o transporte escolar e a sustentação do quadro de professores.

exigências de qualificação ao mercado de trabalho. O atendimento educacional prioriza propostas de trabalhos ocupacionais e incentiva o sujeito a ser consumidor dos artefatos e serviços produzidos pelos homens. Não há uma especificidade pedagógica que possibilite o saber sistematizado. Tal proposta também constitui o discurso dos organismos multilaterais, que tem uma participação ativa junto às instâncias de formulação de políticas e de tomadas de decisão oficiais, na disputa do Estado. Os órgãos internacionais organizam os projetos das burguesias centrais articulando-os como boas propostas em escala mundial e difundem seu projeto de diferentes formas em diferentes países, necessitando dos Estados Nacionais para consolidar os diversos projetos desenvolvidos.

Já as instituições privadas-assistenciais objetivam a centralidade na definição de políticas, tanto na área da Educação, quanto na Saúde e na Assistência Social. Por tais razões, analiso que a Fenapaes, como aparelho privado de hegemonia, disputa a hegemonia na política educacional no que concerne à direção na modalidade educação especial. Essa hegemonia é ameaçada constantemente pelas agências multilaterais, que almejam legitimar a dinâmica do capital, que requerer mãos-de-obra barata, exércitos de reserva, diminuição das responsabilidades do Estado e adequação do sujeito às convenções sociais. Nesse contexto, a Fenapaes toma duas principais direções, a primeira concernente à escolha de dirigentes da Federação que possam ocupar cargos no Poder Público, principalmente mandatos políticos no Congresso Nacional, por meio do qual os representantes da Federação podem agir como interlocutor da Rede Apae. Já a segunda direção refere-se à reestruturação de seus programas, projetos e serviços para atender às exigências das políticas públicas educacionais, inclusive na contradição de atender aos anseios de uma “educação inclusiva”. A reestruturação acontece no plano do discurso e, como nos ensina Fairclough (2012, p. 313), “[...] os conhecimentos são produzidos, circulam e são consumidos como discursos, os quais são operados como novas formas de agir e de interagir (inclusive como novos gêneros) e inculcados como novas formas de ser, novas identidades (inclusive com novos estilos). ”

Tendo presente essa configuração da relação Fenapaes e a política educacional, fundamentada na teoria gramsciana, esta pesquisa reconhece que a ciência, como construção subjetiva, deve ser entendida como a relação dialética entre a estrutura e superestrutura, uma produção do intelecto feita no interior das relações sociais e de produção material (MARTINS, 2008a, p. 274). Isso nos leva a perceber que, conforme afirma Martins (2008a, p. 287),

[...] não há política separada da epistemologia, assim como também não há epistemologia sem política. É a conjunção de ambas que, segundo Gramsci,

movimenta objetiva e subjetivamente a formação econômica e social e lhe determina as suas características constitutivas (MARTINS, 2008a, p. 287).

Dessa maneira, a pesquisa faz uma análise técnica das propostas educacionais da Federação e outra da sua influência política, sustentadas no método materialista histórico e dialético, fazendo uso dos procedimentos metodológicos da pesquisa documental e de elementos da análise crítica do discurso.

Essa investigação, além de pesquisa bibliográfica, promove uma pesquisa

documental que contempla as fontes principais, o chamado “corpus documental”, e as fontes

complementares, que serão usadas quando forem necessárias. As fontes estão circunscritas ao período de 1990 a 2015.

Apoiando-me em Tremblay (1968, p. 279), entendo que os documentos são “[...] uma ferramenta indispensável para a reconstrução histórica de eventos passados, mesmo aqueles que têm ocorrido nos últimos períodos”30. Os documentos colaboram para operar um corte longitudinal que favorece “a observação do processo de maturação e do processo de desenvolvimento de um grupo, instituição ou cultura” (TREMBLAY, 1968, p. 283)31.

A pesquisa documental, no método materialista histórico e dialético, contribui para analisar e compreender a concreticidade do desenrolar sócio histórico da Fenapaes, via documentos que expressam sua prática social. Os discursos da Federação contêm a gênese e o desenvolvimento do real referente às propostas educacionais, isto é, os discursos analisados podem revelar os conflitos, as contradições, os interesses e as ideologias. Como Saviani (2013b) ensina, as fontes são construídas por produções humanas. Não representam a origem do fenômeno histórico, mas estão na origem, “[...] constituem o ponto de partida, a base, o ponto de apoio da construção historiográfica que é a reconstrução, no plano do conhecimento, do objeto histórico estudado” (SAVIANI, 2013b, p. 13). As fontes documentais são, então, “[...] a fonte do nosso conhecimento histórico, isto é, delas que brota, é nelas que se apoia o conhecimento que produzimos a respeito da história” (SAVIANI, 2013b, p. 13).

Shiroma, Campos e Garcia (2005, p. 429) explicam que documentos são relevantes para os pesquisadores “[...] porque fornecem pistas sobre como as instituições explicam a realidade e buscam legitimar suas atividades”, e também “[...] pelos mecanismos

30Tradução do trecho: “[...] les documents demeurent un outil indispensable pour la reconstitution historique des

événements passés, même ceux qui sont survenus à des périodes recentes”.

31 Tradução do trecho: “En permettant une coupe longitudinale, les documents nous renseignent sur le processus

utilizados para sua publicização, uma vez que muitos dos documentos oficiais, nacionais e internacionais são, hoje, facilmente obtidos via internet”.

Nesse sentido, considero os documentos da Fenapaes fundamentais para conseguir cumprir os objetivos estabelecidos neste estudo, uma vez que são norteadores para o serviço educacional e propõem orientações para a discussão e a proposição de políticas públicas. Nos documentos, podemos investigar os movimentos das propostas educacionais da Federação e analisar a disputa da Federação pelo poder na área da educação especial.

Inicialmente, o levantamento do corpus documental para a pesquisa deu-se por meio eletrônico, via acesso ao site da Federação32. Após a visita ao site, em julho de 2014, elaborei um painel para compreender os materiais disponibilizados de forma pública e gratuita. Todos os materiais foram baixados e arquivados. Em alguns deles, apenas constava o título e o documento era ilegível. Em seguida, pesquisei-os nas ferramentas de buscas da internet33. No

mês de agosto de 2015, o site da Federação passou por uma reformulação no design virtual e, por isso, alguns arquivos foram excluídos, outros modificados e ainda outros foram incluídos na plataforma digital.

Saviani (2013b) já nos alertava da necessidade de preservação das fontes que são substituídas pelas novas tecnologias decorrentes dos processos de informatização. Até mesmo determinadas máquinas que fazem a leitura de certas fontes eletrônicas estão tornando- se obsoletas, como o caso do disquete, CD-ROM e, hoje em dia, incluo a formatação dos sítios eletrônicos, uma vez que eles passam por constantes recriações, planejamentos e atualizações via softwares, almejando uma significativa interação com o usuário.

Ou seja, algumas fontes são perdidas nas teias da informatização. É preciso que nos preocupemos intencional e coletivamente “[...] com a geração, a manutenção, organização, disponibilização e preservação das múltiplas formas de fontes da história da educação brasileira” (SAVIANI, 2013b, p. 16).

Além desses materiais, foram levantados outros documentos no sítio eletrônico da Federação, tais como: históricos, notícias, eventos, campanhas, concursos, profissionais da área/recursos humanos, revistas eletrônicas. Dentre eles, destaca-se a Revista Mensagem da Apae e a Revista Apae Ciência. A primeira constitui uma publicação de notícias, textos técnicos e artigos direcionados aos gestores, professores e interessados em conhecer o trabalho da Apae.

32 Consultar: https://www.apaebrasil.org.br/

33 No site da Federação, diversos documentos estavam espalhados nas páginas ou menus e outros inseridos dentro de uma lógica interna da sua proposta organizacional, quais sejam: Home – A Federação; Transparência institucional; Políticas Estratégicas; Procuradoria Jurídica; Comunicação institucional; Programas; Pesquisas.

Sua primeira edição foi publicada em 1963, sendo importante fonte de estudo para se conhecer a história do movimento apaeano34. A segunda revista começou a ser publicada pela Federação em 2013, com o objetivo de discutir temas relacionados à inclusão social da pessoa com deficiência nas áreas da assistência social, ciência da educação e saúde.

Dessa maneira, organizei os documentos conforme o primeiro levantamento e complementei com novos arquivos, que foram inseridos no site da Fenapaes. A catalogação dos documentos tornou-se possível mediante a investigação perscrutada por Jannuzzi e Caiado (2013)35, que buscaram entender os objetivos e ações da instituição desde 1954 até o ano de 2011. As autoras também realizaram uma pesquisa documental. Elas analisaram as atas da Federação, os estatutos e os seguintes documentos: Projeto Águia (gestão 1998-2003), a Coleção Educação e Ação (Apae Educadora – a escola que buscamos: propostas orientadoras das ações educacionais), o texto “Posicionamento do movimento apaeano em defesa da inclusão escolar de pessoas com deficiência intelectual e múltipla” e os planejamentos estratégicos dos períodos de 2006 a 2008 e de 2009 a 2011.

No primeiro levantamento, o material empírico constituiu-se de sessenta e três documentos ou textos distribuídos da seguinte forma: 34 documentos administrativos e políticos (1954-2015), 16 documentos para as duas versões do Projeto Águia (1998-2003; 2009-2011), sete arquivos do Projeto Sinergia (2008-2011) e os cinco documentos do Programa “APAE Educadora” (2001).

Entretanto, tendo presente os objetivos desta pesquisa, foram redefinidas as fontes primárias para a análise. Selecionei os documentos que representam os marcos-chave do projeto educacional às pessoas com deficiência pela Federação. Também foram definidos os documentos representativos da política educacional que representam a “[...] expressão do processo e do resultado das disputas em cada momento histórico e em cada delimitação geopolítica” (GARCIA, 2016, p. 9).

Conforme Evangelista (2004, p. 15, grifo do autor), as fontes primárias são os documentos “[...] a partir do qual as análises são realizadas, são os documentos originais, base empírica da pesquisa”. In casu, foram selecionadas as fontes documentais e primárias que prescrevem a configuração das propostas educacionais nas Apaes e a influência da Federação

34 Bezerra (2017, p. 24), recentemente, empreendeu uma pesquisa que analisa e compreende as representações e estratégias (pro)postas, (re)produzidas e/ou assumidas pelo impresso da Fenapaes (1963-1973), que abordou a problemática do excepcional e promoveu a configuração de uma identidade apaeana federada. A pesquisadora Márcia de Souza Lehmkuhl também está analisando a referida Revista, percebendo ao longo do período de 1974 a 2008, as influências da instituição nas políticas de educação especial e a relação público e privado.

35 Aliás, cabe agradecimento às pesquisadoras, que cederam as atas da fundação da Apae e da Fenapaes, bem como os seus estatutos e a primeira versão do Projeto Águia, uma vez que não estavam disponíveis na plataforma digital.

na formulação de políticas educacionais e das legislações na área da educação especial. Os documentos produzidos por essa entidade refletem a sua concepção de homem, sociedade e educação. As fontes primárias abrangem, então, os documentos administrativos e políticos (quadro 3), o Projeto Águia (quadro 4 e 5), o Projeto Sinergia (quadro 6) e o Programa “Apae Educadora” (quadro 7).

O corpus documental também é composto de fontes complementares e secundárias36, que serão usadas quando necessário. “As fontes secundárias referem-se ao material que será utilizado pelo pesquisador para viabilizar sua análise” (EVANGELISTA, 2004, p. 25, grifo do autor). Refiro-me aos três tipos: a) outros documentos administrativos e políticos, do Projeto Águia, do Projeto Sinergia e das publicações da Mensagem da Apae, que não foram incorporados ao corpus documental de análise; b) as publicadas por agências multilaterais, por exemplo, a Declaração de Salamanca e a Convenção da ONU sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência (2006); c) as representativas das legislações (leis, decretos, portarias, resoluções) e os documentos nacionais da área da educação especial, por exemplo, a Política Nacional da Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva (2008).

Os documentos representativos das políticas educacionais são imprescindíveis para esta pesquisa, porque, como entende Shiroma, Campos e Garcia (2004), eles são amplamente divulgados em formato impresso e digital, e não são prontamente assimiláveis ou aplicáveis. Para a implementação da política educacional, os documentos precisam ser “[...] traduzidos, interpretados, adaptados de acordo com as vicissitudes e os jogos políticos que configuram o campo da educação em cada local [...]” (SHIROMA; CAMPOS; GARCIA, 2004, p. 8).

Os textos da política dão margens a interpretações e reinterpretações. Eles geram significados e sentidos diversos ao mesmo tempo. Como reflete Shiroma, Campos e Garcia (2004, p. 11), “[...] se os textos são, ao mesmo tempo, produto e produtores de orientações políticas no campo da educação, sua difusão e promulgação geram também situações de mudanças ou inovações, experienciadas no contexto das práticas educativas”.

Tais considerações são pertinentes para conseguir ler os textos produzidos pela Federação Nacional, que é uma forma de se reposicionar e reorganizar seus serviços. Dentre eles, trabalho com as fontes primárias, composta por documentos administrativos e políticos da Federação para nortear as funções a serem desempenhadas pela Rede Apae, inclusive, algumas

edições da Revista Mensagem Apae. Abaixo segue a lista dos documentos do período de 1998 a 2014 (Quadro 3).

Quadro 3 – Fontes primárias: documentos administrativos e políticos da Fenapaes Ano ou

gestão37

Título Descrição ou Assunto 1990 Revista Mensagem da Apae

– n. 56 Índice: Deficiência mental - um estudo epidemiológico. A importância da atividade artística de livre expressão no