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Academic year: 2021

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(1)

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

INSTITUTO DE CIˆENCIAS EXATAS

Departamento de Matem´atica

Disserta¸c˜ao de Mestrado

COORDENADAS DO ESPAC

¸ O DE

TEICHM ¨

ULLER.

Bruno Zanotelli Felippe

Orientador:

Francisco Dutenhefner

(2)

Conte´

udo

Introdu¸c˜ao 4

1 Geometria Hiperb´olica 6

1.1 Proje¸c˜ao Estereogr´afica . . . 6

1.2 Transforma¸c˜oes Lineares Fracion´arias . . . 16

1.3 Modelos para o Plano Hiperb´olico . . . 21

1.3.1 M´etricas conformes a m´etrica Euclidiana . . . 22

1.3.2 Modelo do semi-plano superior . . . 24

1.3.3 Modelo do disco unit´ario . . . 33

1.4 Isometrias do Plano Hiperb´olico . . . 39

1.5 C´ırculos Isom´etricos . . . 41

1.6 Classifica¸c˜ao das Isometrias do Plano Hiperb´olico . . . 45

2 Superf´ıcies de Riemann 47 2.1 Grupos Descont´ınuos . . . 47

(3)

2.3 Defini¸c˜oes e Exemplos . . . 50

3 Espa¸co de Teichm¨uller 54 3.1 Introdu¸c˜ao . . . 54

3.2 Defini¸c˜oes de espa¸co de Moduli e de Teichm¨uller . . . 57

3.3 Toro . . . 59

4 Coordenadas do Espa¸co de Teichm¨uller 76 4.1 Existˆencia e Unicidade de Cal¸cas . . . 76

4.1.1 Primeira Demonstra¸c˜ao . . . 77

4.1.2 Segunda Demonstra¸c˜ao . . . 85

4.2 Coordenadas Fenchel-Nielsen do Espa¸co de Teichm¨uller . . . 88

(4)

Introdu¸c˜

ao

Esta disserta¸c˜ao apresenta um estudo detalhado sobre estruturas conformes em superf´ıcies de Riemann, e mostra que uma mesma superf´ıcie topol´ogica pode estar munida de estru-turas conformes n˜ao equivalentes. Com o objetivo de caracterizar estruestru-turas conformes n˜ao equivalentes em uma mesma superf´ıcie, esta disserta¸c˜ao tem por objetivo apresentar as coordenadas de Fenchel-Nielsen para o espa¸co de Teichm¨uller de uma superf´ıcie de Riemann compacta de gˆenero g ≥ 2.

Essa disserta¸c˜ao est´a dividida em quatro cap´ıtulos, assim organizados:

O primeiro cap´ıtulo apresenta os principais conceitos e teoremas da Geometria Hiperb´olica Real plana que ser˜ao necess´arios para o estudo subseq¨uente das superf´ıcies de Riemann. Sobre esse cap´ıtulo ´e importante ressaltar que ele cont´em uma constru¸c˜ao detalhada da m´etrica hiperb´olica, como sendo, a menos de homotetia, a ´unica m´etrica do disco unit´ario D que tem a seguinte propriedade: invers˜oes em c´ırculos ortogonias a ∂D s˜ao isometrias. Acreditamos que esse ponto de vista para a constru¸c˜ao dessa m´etrica ´e intuitivo, e pode potencializar o aprendizado dessa geometria para os alunos que est˜ao ingressando nesse ramo da matem´atica. Entretanto, para a constru¸c˜ao dessa m´etrica, foi necess´ario o estudo de alguns fatos b´asicos de an´alise real e complexa. Dentro do poss´ıvel, tentamos colocar todos esses fatos dentro desse cap´ıtulo, tornando-o praticamente auto-suficiente.

(5)

fundamen-tal e de superf´ıcie de Riemann, apresentando uma forma de uniformizar tais superf´ıcies (Teorema de Uniformiza¸c˜ao de Riemann).

No terceiro cap´ıtulo s˜ao apresentadas as defini¸c˜oes de espa¸co de Moduli e de espa¸co Teichm¨uller. Al´em disso, com objetivo de apresentar as diferen¸cas entre esses dois espa¸cos, apresentamos um estudo detalhado do espa¸co de Moduli e do espa¸co de Teichm¨uller de uma cal¸ca. Acreditamos que o estudo dessa superf´ıcie simples, possa fazer com que o entendimento das diferen¸cas entre esses espa¸cos fique claro. Al´em disso, nesse cap´ıtulo, constru´ımos o espa¸co de Teichm¨uller de um toro.

No quarto cap´ıtulo, constru´ımos as coordenadas de Fenchel-Nielsen para o espa¸co de Teichm¨uller de uma superf´ıcie de Riemann compacta de gˆenero g ≥ 2. Para isso, esse cap´ıtulo apresenta um estudo detalhado de uma cal¸ca. O estudo dessas superf´ıcies ´e muito importante pois a partir da colagem de cal¸cas, pelas suas curvas de fronteira, podem ser constru´ıdas todas as superf´ıcies de Riemann compactas de gˆenero g ≥ 2.

(6)

Cap´ıtulo 1

Geometria Hiperb´

olica

1.1

Proje¸c˜

ao Estereogr´

afica

Definimos o Plano Complexo Estendido como sendo C∞= C ∪ {∞} .

Considere a esfera unit´aria em R3

S2 = {(x, y, z) ∈ R3 : x2+ y2+ z2 = 1} .

A proje¸c˜ao estereogr´afica π : C∞ → S2 ´e definida da seguinte maneira. Pense no

plano complexo C como o plano equatorial de S2: C = {(x, y, 0) ∈ R3}. Seja N = (0, 0, 1)

o p´olo norte de S2. Se z ∈ C, ent˜ao π(z) ´e a interse¸c˜ao de S2 com a reta que passa pelos

pontos z e N. Definimos tamb´em π(∞) = N.

(7)

Figura 1.1: Proje¸c˜ao Estereogr´afica. π(z) N z S2 C

Proje¸c˜ao Estereogr´afica em Coordenadas

Seja z = x+iy ∈ C e seja π(z) = (x1, x2, x3) ∈ S2. A reta que passa por N = (0, 0, 1) e

z = (x, y, 0) pode ser parametrizada por: P (t) = tN + (1 − t)z = ((1 − t)x, (1 − t)y, t), t ∈

R. Pela defini¸c˜ao da proje¸c˜ao estereogr´afica, temos que π(z) ´e o ponto P (t) tal que

kP (t)k = 1. Mas: kP (t)k = 1 (1 − t)2x2+ (1 − t)2y2+ t2 = 1 (1 − t)2(x2+ y2) = 1 − t2 (1 − t)2|z|2 = 1 − t2 (1 − t)(1 − t)|z|2 = (1 + t)(1 − t) (1 − t)|z|2 = (1 + t) |z|2− t|z|2 = 1 + t |z|2− 1 = t(|z|2 + 1) |z|2− 1 |z|2+ 1 = t ∴ x1 = (1 − t)x = · 1 − µ |z|2− 1 |z|2+ 1 ¶¸ x = · |z|2+ 1 − |z|2+ 1 |z|2+ 1 ¸ x = 2x |z|2 + 1 ∴ x2 = (1 − t)y = · 1 − µ |z|2− 1 |z|2+ 1 ¶¸ y = · |z|2 + 1 − |z|2+ 1 |z|2+ 1 ¸ y = 2y |z|2+ 1

(8)

∴ x3 = t = |z| 2− 1 |z|2 + 1 π(z) = µ 2x |z|2+ 1 , 2y |z|2+ 1 , |z|2− 1 |z|2+ 1π(z) = µ 2x x2+ y2+ 1 , 2y x2+ y2+ 1 , x2+ y2 − 1 x2+ y2+ 1

Vamos determinar a aplica¸c˜ao inversa da Proje¸c˜ao Estereogr´afica:

π−1 : S2 → C

Seja (x1, x2, x3) ∈ S2 e seja z = x + iy ∈ C∞ tal que π(z) = (x1, x2, x3). Do

desenvolvi-mento anterior, temos que:

x1 = (1 − t)x

x2 = (1 − t)y

x3 = t

Dessas trˆes equa¸c˜oes, temos:

x1 = (1 − x3)x x2 = (1 − x3)y ∴ x = x1 1 − x3 e y = x2 1 − x3 E assim z = x1+ ix2 1 − x3 .

(9)

Propriedades da Proje¸c˜ao Estereogr´afica

1. Se L ´e uma reta Euclidiana em C, ent˜ao π(C) ´e uma circunferˆencia em S2 passando

pelo p´olo norte N.

Figura 1.2: Proje¸c˜ao Estereogr´afica de uma Reta.

π(L) N

L

2. Se C ´e um c´ırculo Euclidiano em C, ent˜ao π(C) ´e um c´ırculo em S2, que n˜ao passa

pelo p´olo norte N.

Figura 1.3: Proje¸c˜ao Estereogr´afica de um C´ırculo.

π(C) N

C

3. Vale a rec´ıproca das propriedades (1) e (2):

Se C ´e um c´ırculo em S2 que passa pelo p´olo norte N, ent˜ao π−1(C) ´e uma reta em

(10)

Se C ´e um c´ırculo em S2 que n˜ao passa pelo p´olo norte N, ent˜ao π−1(C) ´e um

c´ırculo em C.

4. A proje¸c˜ao estereogr´afica preserva ˆangulos (aplica¸c˜ao conforme).

Observa¸c˜ao: Estas e outras propriedades da proje¸c˜ao estereogr´afica est˜ao demonstradas em [8].

Topologia em C

Sabemos que a proje¸c˜ao estereogr´afica π : C∞ → S2 ´e um bije¸c˜ao. A esfera unit´aria

tem uma topologia usual, herdada de R3. Desse modo podemos definir uma topologia

no plano complexo estendido impondo que a proje¸c˜ao estereogr´afica π : C∞ → S2 seja

um homeomorfismo. Desse modo, dizemos que um subconjunto A ⊂ C∞ ´e aberto se, e

somente se, π(A) ´e um subconjunto aberto de S2. Assim, abertos em C

s˜ao, ou abertos

usuais do plano complexo, ou complementares de compactos de C. Esses ´ultimos s˜ao as vizinhan¸cas do ponto ideal ∞ .

Invers˜ao em Retas

Seja dada uma reta L de equa¸c˜ao ax + by = c no plano complexo. 1 Se A = (a, b),

ent˜ao um ponto X = (x, y) pertence a L ⇔ hA, Xi = c. Observe que A ´e um vetor na dire¸c˜ao perpendicular `a reta L.

A fun¸c˜ao invers˜ao na reta L transforma um ponto X do plano no ponto X0 = φ(X)

tal que o segmento XX0 ´e perpendicular a L e o ponto m´edio de XX0 pertence a L.

1Ao longo desse texto, um n´umero complexo z = x + iy ∈ C tamb´em poder´a ser visto como o vetor (x, y) ∈ R2. A nota¸c˜ao h , i representa o produto escalar usual em R2.

(11)

Figura 1.4: Invers˜ao em Retas

L X

X0

Uma express˜ao para φ:

Como o segmento XX0 ´e paralelo ao vetor A, temos que existe λ ∈ R tal que

X0 = X + λA. Para o ponto m´edio do segmento XX0 pertencer `a reta L, devemos

ter: ¿ X + X0 2 , A À = c ¿ 2X + λA 2 , A À = c hX, Ai +λ 2hA, Ai = c λ = 2 µ c − hX, Ai hA, AiX0 = φ(X) = X + 2 µ c − hX, Ai hA, AiA

Propriedades: Seja φ a invers˜ao em uma reta. Ent˜ao:

(12)

2. φ transforma retas em retas. 3. φ transforma c´ırculos em c´ırculos. 4. φ(X) = X ⇔ X ∈ L.

5. φ preserva ˆangulos.

6. φ pode ser estendida a uma aplica¸c˜ao em C∞, impondo φ(∞) = ∞.

7. Seja L0 ´e uma reta no plano. Ent˜ao φ(L0) = L0 ⇔ L0 ´e perpendicular a L.

8. Seja C um c´ırculo no plano. Ent˜ao φ(C) = C ⇔ C ´e perpendicular a L.

Invers˜ao em C´ırculos

Seja dado um c´ırculo C de centro A e raio R no plano complexo C. A invers˜ao no c´ırculo C ´e definida por:

dado X ∈ C, X 6= A, o inverso de X ´e o ponto X0 na semi-reta S

AX, de origem A e que

passa por X, tal que AX0· AX = R2.

Figura 1.5: Invers˜ao em um C´ırculo.

C

A

T

X0

X

Uma express˜ao para φ:

(13)

X0 = A+ k −−→AX0 k · −−→ AX k−−→AX k Mas k−−→AX0 k= R2 k−−→AX k e −−→ AX = X − A Logo, X0 = φ(X) = A + R2 X − A k X − A k2

Propriedades: seja φ a invers˜ao em um c´ırculo C de centro A e raio R. Ent˜ao:

1. φ(X) = X ⇔ X ∈ C. 2. ∀ X ∈ C, φ ◦ φ(X) = X.

3. Se X pertence ao exterior de C, ent˜ao φ(X) pertence ao interior de C. 4. Se X pertence ao interior de C, ent˜ao φ(X) pertence ao exterior de C.

5. φ pode ser estendida a uma aplica¸c˜ao em C∞, impondo φ(A) = ∞ e φ(∞) = A.

6. Seja L uma reta no plano. Ent˜ao, φ(L) = L ⇔ L ´e perpendicular a C.

Invers˜ao em C´ırculos versus Proje¸c˜ao Estereogr´afica:

Com o objetivo de demonstrar outras propriedadas importantes da invers˜ao em um c´ırculo, vamos relacionar essa aplica¸c˜ao com a proje¸c˜ao estereogr´afica. Ent˜ao, seja C um c´ırculo de centro A e raio R no plano complexo. Seja S a esfera em R3 de centro A e raio

R (novamente pense no plano complexo como o plano equatorial de S). Seja π : C∞ → S

a proje¸c˜ao estereogr´afica pelo p´olo norte de S. Se iA: R3 → R3 ´e a invers˜ao no ponto A,

pode-se mostrar (veja livro [8]) que a invers˜ao φ(X) = X0 no c´ırculo C pode ser calculada

da seguinte maneira:

(a) Seja π(X) a proje¸c˜ao estereogr´afica de X sobre S; (b) Tome o ant´ıpoda iA(π(X)) do ponto π(X) nesta esfera;

(14)

(c) Projete este ponto no plano complexo, usando a aplica¸c˜ao inversa da proje¸c˜ao es-tereogr´afica π−1 para obter o ponto π−1◦ i

A◦ π(X);

(d) Tome o sim´etrico deste ponto em rela¸c˜ao a A, utilizando a aplica¸c˜ao iA.

Assim, iA◦ π−1◦ iA◦ π(X) = φ(X) = X0.

Figura 1.6: Invers˜ao em C´ırculos X Proje¸c˜ao Estereogr´afica.

S iAπ(X) π(X) φ(X) X π−1iAπ(X) N

Como iA ´e isometria Euclidiana, das propriedades da proje¸c˜ao estereogr´afica, vemos

que a invers˜ao φ tamb´em satizfaz as seguintes propriedades:

7. φ preserva ˆangulos.

8. φ transforma c´ırculos e retas em c´ırculos ou retas.

9. A imagem por φ de um c´ırculo ou de uma reta ´e uma reta ⇔ o c´ırculo ou a reta passam por A.

10. Se L ´e uma reta em C, ent˜ao φ(L) = L ⇔ L passa por A.

11. Se φ0 denota a invers˜ao no c´ırculo unit´ario de centro na origem e se f (X) = RX +A,

(15)

Observa¸c˜ao: se φ0 denota a invers˜ao no c´ırculo unit´ario de centro na origem, ent˜ao

φ0(X) =

X k X k2.

12. Seja φC a invers˜ao no c´ırculo C e seja Σ um c´ırculo no plano. Ent˜ao φC(Σ) = Σ ⇔ Σ

´e ortogonal a C.

Proposi¸c˜ao 1.1.1 Se φ denota a invers˜ao no c´ırculo de centro A e raio R, ent˜ao:

k φ(X) − φ(Y ) k= R 2 k X − A kk Y − A k k X − Y k ; ∀ X 6= A, Y 6= A ∈ C (1.1) Demonstra¸c˜ao: φ(X) = A + R2 X − A k X − A k2 e φ(Y ) = A + R 2 Y − A k Y − A k2 k φ(X) − φ(Y ) k= R2 ° ° ° °k X − A kX − A 2 Y − A k Y − A k2 ° ° ° ° = = R2 Ã ° ° ° °k X − A kX − A 2 ° ° ° ° 2 − 2 ¿ X − A k X − A k2, Y − A k Y − A k2 À + ° ° ° °k Y − A kY − A 2 ° ° ° ° 2 !12 = R2 µ 1 k X − A k2 − 2 ¿ X − A k X − A k2, Y − A k Y − A k2 À + 1 k Y − A k2 ¶1 2 = R2 k X − A k k Y − A k ¡ k Y − A k2 −2hX − A, Y − Ai+ k X − A k2 ¢12 = R2 k X − A k k Y − A k ¡

k Y k2 −2hY, Ai+ k A k2 −2(hX, Y i − hX, Ai − hY, Ai +

hA, Ai)+ k X k2 −2hX, Ai+ k A k2 ¢12

= R 2 k X − A k k Y − A k ¡ k Y k2 −2hX, Y i+ k X k2 ¢12 = R 2 k X − A k k Y − A k k X − Y k ¥

(16)

1.2

Transforma¸c˜

oes Lineares Fracion´

arias

Uma transforma¸c˜ao linear fracion´aria ´e um homeomorfismo g : C∞→ C∞ da forma

g(z) = az + b cz + d, a, b, c, d ∈ C, ad − bc 6= 0 com g(−d c) = ∞ e g(∞) = a c .

Uma transforma¸c˜ao linear fracion´aria g(z) = az + b

cz + d define uma matriz Mg =

  a b

c d

 de determinante n˜ao nulo.

O conjunto das transforma¸c˜oes lineares fracion´arias ´e um grupo com a opera¸c˜ao de composi¸c˜ao de fun¸c˜oes e ´e denotado por M2. Al´em disso, a aplica¸c˜ao

Ψ : GL(2, C) → M2

Mg 7→ g

define um homomorfismo de grupos, sendo

GL(2, C) = {matrizes 2x2 com coeficientes complexos e det 6= 0} .

Como Ψ ´e uma aplica¸c˜ao sobrejetora e KerΨ =      t 0 0 t ∈ GL(2, C), t ∈ C   , pelo Teorema do N´ucleo e da Imagem, a aplica¸c˜ao

Ψ :  GL(2, C)     t 0 0 t , t ∈ C   

→ M2 ´e um isomorfismo de grupos.

Desse modo, provamos que o grupo M2 das transforma¸c˜oes lineares fracion´arias ´e

isomorfo ao grupo projetivo geral, P GL(2, C), sendo: ∴ P GL(2, C) =GL(2, C)     t 0 0 t , t ∈ C   

(17)

Por outro lado, toda transforma¸c˜ao linear fracion´aria g(z) = az + b

cz + d pode ser

repre-sentada por uma matriz Mg =

  a b

c d

 de determinante 1, o que implica no seguinte homomorfismo de grupos

Ψ : SL(2, C) → M2

Mg 7→ g

onde SL(2, C) = {matrizes 2x2 com coeficientes complexos e det = 1} .

Nesse caso, Ψ ´e uma aplica¸c˜ao sobrejetora e KerΨ =      1 0 0 1   ,   −1 0 0 −1     . Assim pelo Teorema do N´ucleo e da Imagem, a aplica¸c˜ao

Ψ : SL(2, C)

{id, −id} → M

2 ´e um isomorfismo de grupos.

Desse modo, provamos que o grupo das transforma¸c˜oes lineares fracion´arias ´e isomorfo ao grupo especial linear projetivo, P SL(2, C), sendo:

∴ P SL(2, C) = SL(2, C)

{id, −id} .

Equivalˆencias

M2 ' P GL(2, C) ' P SL(2, C)

Teorema 1.2.1 O grupo M2 ´e gerado por rota¸c˜oes (z 7→ ze), transla¸c˜oes (z 7→ z + a),

dilata¸c˜oes (z 7→ kz, k > 0), e pela aplica¸c˜ao z 7→ 1 z .

Demonstra¸c˜ao: Seja g(z) = az + b

cz + d uma transforma¸c˜ao linear fracion´aria de M

2. Se c = 0, escreva g(z) na forma: g(z) = a d ¯ ¯ ¯a d ¯ ¯ ¯ · ¯ ¯ ¯a d ¯ ¯ ¯ · µ z + b a

(18)

Chegamos a esse resultado com a seguinte conta: g(z) = az + b d = az d + b d = a d µ z + b a ¶ = a d ¯ ¯ ¯a d ¯ ¯ ¯ · ¯ ¯ ¯a d ¯ ¯ ¯ · µ z + b a ¶ onde µ z + b a

´e uma transla¸c˜ao, multiplicar por ° ° °a d ° °

° ´e uma dilata¸c˜ao e por

a d ° ° °a d ° ° ° ´e uma rota¸c˜ao sendo o vetor unit´ario.

Se c 6= 0 e ad − bc = 1, escreva b = ad − 1 c e temos g(z) na forma: g(z) = − 1 |c|2 µ |c| c2 1 z + d c + a c

Chegamos a esse resultado com a seguinte conta:

g(z) = az + b cz + d = az + b µ z +d cc = az + ad − 1 c µ z + d cc = acz + ad − 1µ z + d cc2 = a(cz + d) − 1µ z + d cc2 = = ac(z + d c) − 1 µ z + d cc2 = ac(z + d c) µ z + d cc2 µ 1 z +d cc2 = a c 1 µ z + d cc2 = = − 1 |c|2 µ |c| c2 1 z + d c + a c onde z + d

c ´e uma transla¸c˜ao,

1

z +d c

´e uma invers˜ao,k c k

c ´e uma rota¸c˜ao sendo o vetor

1 µ

c k c k

¶ unit´ario. ¥

Teorema 1.2.2 Cada um dos geradores acima para M2 ´e uma composi¸c˜ao de duas

(19)

Demonstra¸c˜ao:

• A rota¸c˜ao g(z) = eiθz ´e a composi¸c˜ao da invers˜ao na reta sobre o eixo x seguida da

invers˜ao na reta que faz um ˆangulo θ

2 com o eixo x.

Figura 1.7: Rota¸c˜ao - composi¸c˜ao de duas invers˜oes em retas.

φ1

φ2

φ2φ1(z) = eiθz θ/2

• Para a transla¸c˜ao g(z) = z + a, seja L1 a reta que passa pela origem e seja L2 a reta

que passa pelo n´umero complexo a

2, ambas perpendiculares ao vetor representado pelo n´umero complexo a. Se φi ´e a invers˜ao em Li, i = 1, 2, ent˜ao g(z) = φ2φ1(z).

Figura 1.8: Transla¸c˜ao - composi¸c˜ao de duas invers˜oes em retas.

φ1 φ2

a φ2φ1(z) = z + a

kak

2

• Seja φ1 a invers˜ao no c´ırculo de raio 1 centrado na origem e seja φ2 a invers˜ao

no c´ırculo de raio 1

k centrado na origem. Temos que a dilata¸c˜ao g(z) = kz ´e a

(20)

Figura 1.9: Dilata¸c˜ao - composi¸c˜ao de duas invers˜oes em c´ırculos. φ1 φ2 1 √k φ2φ1(z) = kz • A aplica¸c˜ao g(z) = 1

z ´e a composi¸c˜ao da invers˜ao na reta sobre o eixo x seguida da

invers˜ao no c´ırculo unit´ario centrado na origem.

Figura 1.10: z 7→ 1

z - composi¸c˜ao de uma invers˜ao em c´ırculo e uma invers˜ao em reta. φ1 φ2 1 φ2φ1(z) = 1 z ¥ Classifica¸c˜ao das Transforma¸c˜oes Lineares Fracion´arias

Esta classifica¸c˜ao ´e dada pela quantidade de pontos fixos de g(z) = az + b

cz + d.

Ob-serve que g possui 1 ou 2 pontos fixos, que encontramos resolvendo a equa¸c˜ao quadr´atica

az + b cz + d = z z = a − d 2c ± 1 2c p (tr(γ))2− 4 .

Uma transforma¸c˜ao linear fracion´aria com exatamente um ponto fixo ´e chamada parab´olica. Uma transforma¸c˜ao parab´olica ´e conjugada a uma transla¸c˜ao z 7→ z + 1.

(21)

aplica¸c˜ao de pontos fixos 0 e ∞. Tal transforma¸c˜ao necessariamente tem a forma

z 7→ k2z, k ∈ C. Existem dois tipos especiais para essas tranforma¸c˜oes; as rota¸c˜oes,

da forma z 7→ eiθz, θ real, e 6= 1, e as dilata¸c˜oes, da forma z 7→ λz, 0 < λ 6= 1.

Uma transforma¸c˜ao conjugada a uma rota¸c˜ao ´e chamada el´ıptica e uma trans-forma¸c˜ao conjugada a uma dilata¸c˜ao ´e chamada hiperb´olica. Uma transforma¸c˜ao n˜ao el´ıptica com exatamente dois pontos fixos ´e chamada loxodrˆomica; isso inclui as trans-forma¸c˜oes hiperb´olicas.

Proposi¸c˜ao 1.2.3 Seja g(z) = az + b

cz + d uma transforma¸c˜ao linear fracion´aria. Ent˜ao: (i) tr2(g) ´e real, com 0 ≤ tr2(g) ≤ 4 se, e somente se, g ´e el´ıptica.

(ii) tr2(g) = 4 se, e somente se, g ´e parab´olica ou g ´e a identidade.

(iii) tr2(g) ´e real, com tr2(g) ≥ 4 se, e somente se, g ´e hiperb´olica.

(iv) tr2(g) n˜ao est´a no intervalo [0, ∞) se, e somente se, g ´e loxodrˆomica, mas n˜ao

hiperb´olica.

A demonstra¸c˜ao dessa proposi¸c˜ao pode ser encontrada no livro [7], cap´ıtulo 1, p´aginas 6 e 7.

1.3

Modelos para o Plano Hiperb´

olico

Nesta se¸c˜ao, vamos apresentar o modelo do semi-plano superior e o modelo do disco unit´ario para o plano hiperb´olico. Para isso, vamos definir o conceito de ponto e de reta nessa geometria em cada um desses modelos.

Al´em disso, vimos na se¸c˜ao anterior os conceitos de invers˜ao em reta e invers˜ao em c´ırculo no plano complexo. Veremos que, nesses modelos do plano hiperb´olico, as invers˜oes

(22)

em “retas hiperb´olicas” deixam o plano hiperb´olico invariante. Definiremos ent˜ao uma m´etrica no plano hiperb´olico impondo a condi¸c˜ao dessas invers˜oes serem isometrias.

Com o objetivo de deixar o texto mais auto-suficiente, apresentaremos uma breve recorda¸c˜ao de algumas defini¸c˜oes e de alguns teoremas de an´alise complexa que neces-sitaremos.

Observa¸c˜ao: apesar da dedu¸c˜ao da m´etrica hiperb´olica, no modelo do semi-plano superior e no modelo do disco unit´ario, estar presente no livro [2], vamos apresent´a-la novamente aqui com o seguinte enfoque: essa m´etrica ser´a considerada de modo que todas as transforma¸c˜oes lineares fracion´arias que preservam o plano hiperb´olico sejam isometrias.

1.3.1

etricas conformes a m´

etrica Euclidiana

Sabemos que uma fun¸c˜ao f : U ⊂ab C → C ´e diferenci´avel em z ∈ U se, e somente se,

existe uma matriz A2X2 tal que

f (w) = f (z) + A(w − z) + |w − z| · ²(w), sendo lim

w→z²(w) = 0 .

Nesta forma, A ´e a matriz Jacobiana de f = (f1, f2) em z = x + iy.

Jf (z) =   ∂f∂x1 ∂f1 ∂y ∂f2 ∂x ∂f2 ∂y .

Para o que pretendemos fazer, vamos precisar dos seguintes lemas cujas demonstra-¸c˜oes s˜ao imediatas.

Lema 1.3.1 Uma transforma¸c˜ao linear T : R2 → R2 preserva ˆangulos entre vetores se,

e somente se, T ´e um m´ultiplo positivo de uma transforma¸c˜ao ortogonal.

Lema 1.3.2 Seja f : U ⊂ab C → C uma aplica¸c˜ao diferenci´avel que preserva ˆangulos

entre quaisquer curvas em U. Ent˜ao ∀z ∈ U, Jf (z) ´e um m´ultiplo positivo de uma matriz ortogonal.

(23)

Nas hip´oteses do ´ultimo lema, se escrevermos Jf (z) = µ(z) · M(z), sendo M(z) uma matriz ortogonal, ent˜ao o coeficiente µ(z) pode ser calculado da seguinte maneira. Da defini¸c˜ao de diferenciabilidade: f (w) = f (z) + µ(z)M(z)(w − z) + |w − z| · ²(w) com lim w→z²(w) = 0 |f (w) − f (z)| |w − z| = ¯ ¯ ¯ ¯|w − z|µ(z) M(z)(w − z) + ²(w) ¯ ¯ ¯ ¯ lim w→z |f (w) − f (z)| |w − z| = ¯ ¯ ¯ ¯ limw→z µ µ(z) |w − z|M(z)(w − z) + ²(w) ¶¯¯ ¯ ¯ = = µ(z) lim w→z ¯ ¯ ¯ ¯|w − z|M(z) · (w − z) ¯ ¯ ¯ ¯ = µ(z) limw→z|w − z||w − z| = µ(z) · 1 ∴ µ(z) = lim w→z |f (w) − f (z)| |w − z| . (1.2)

Defini¸c˜ao 1.3.3 Seja U um aberto do plano complexo e seja λ : U → R uma fun¸c˜ao

cont´ınua e positiva. Uma m´etrica em U pode ser definida do seguinte modo: dados p e q pontos em U, a distˆancia entre estes pontos ´e dada por

d(p, q) = inf

Z 1

0

λ(γ(t))|γ0(t)|dt

sendo o ´ınfimo tomado sobre todos os caminhos γ : [0, 1] → U diferenci´aveis tais que γ(0) = p e γ(1) = q.

´

E f´acil mostrar que isso realmente define uma m´etrica em U, chamada de m´etrica conforme `a metrica Euclidiana de fun¸c˜ao densidade λ.

Nessa m´etrica, o comprimento de um caminho γ : [0, 1] → U ´e definido por kγk =

Z 1

0

(24)

Teorema 1.3.4 Seja f : U ⊂ C → U1 ⊂ C um homeomorfismo diferenci´avel entre

aber-tos do plano complexo, e seja λ : U → R uma fun¸c˜ao densidade. Suponhamos que f pre-serve ˆangulos entre curvas e que sua matriz jacobiana se escreva como Jf (z) = µ(z)·M(z), sendo M uma matriz ortogonal. A fun¸c˜ao λ1 : U1 → R definida por λ1(f (z)) =

λ(z) µ(z) define uma fun¸c˜ao densidade em U1 e essa torna a aplica¸c˜ao f : (U, d) → (U1, d1) uma

isometria, sendo d e d1 m´etricas conformes `a m´etrica Euclidiana de fun¸c˜oes densidade λ

e λ1 respectivamente.

Demonstra¸c˜ao:

Como f ´e um homeomorfismo diferenci´avel, uma caminho em U1 ligando os pontos

f (p) e f (q) se expressa como f ◦ γ : [0, 1] → U1 sendo γ um caminho em U ligando p a q.

Pela defini¸c˜ao da m´etrica d1 temos que:

d1(f (p), f (q)) = inf

Z 1

0

λ1(f ◦ γ(t))|(f ◦ γ)0(t)|dt

sendo o ´ınfimo tomado sobre todos os caminhos γ : [0, 1] → U diferenci´aveis tais que

γ(0) = p e γ(1) = q. Da´ı d1(f (p), f (q)) = inf Z γ λ(γ(t)) µ(γ(t)) · |Jf (γ(t)) · γ 0(t)|dt d1(f (p), f (q)) = inf Z γ λ(γ(t)) µ(γ(t)) · |µ(γ(t)) · M · γ 0(t)|dt d1(f (p), f (q)) = inf Z γ λ(γ(t)) · |M · γ0(t)|dt d1(f (p), f (q)) = inf Z γ λ(γ(t)) · |γ0(t)|dt = d(p, q) ¥

1.3.2

Modelo do semi-plano superior

O modelo do semi-plano superior para o plano hiperb´olico ´e o conjunto H2 = {z ∈ C : Im(z) > 0}. Podemos escrever tamb´em H2 = {(x, y) ∈ R2 : y > 0}.

(25)

As retas hiperb´olicas para o modelo do semi-plano superior s˜ao de dois tipos: ou semi-retas perpendiculares ao eixo x ou semi-c´ırculos centrados no eixo x.

Figura 1.11: Retas hiperb´olicas no modelo do semi-plano superior.

Vamos nos lembrar agora das aplica¸c˜oes de invers˜oes em retas ou c´ırculos definidas na se¸c˜ao 1.1 desse cap´ıtulo.

Podemos escrever a aplica¸c˜ao de invers˜ao na reta perpendicular ao eixo x no ponto

a ∈ R da seguinte forma:

Figura 1.12: Invers˜ao em reta perpendicular ao eixo x.

a

z φ(z)

φL(z) = −z + 2a

φL(x, y) = (−x + 2a, y)

(26)

Podemos escrever a aplica¸c˜ao de invers˜ao no c´ırculo de centro no ponto a ∈ eixo x e raio R da seguinte forma:

Figura 1.13: invers˜ao no c´ırculo de centro a ∈ eixo x e raio R.

a φΣ(z) = a + R z − a |z − a|2 φΣ(x, y) = µ a + R2 x − a (x − a)2+ y2 , R2 (x − a)2+ y2 ¶ Σ

Das propriedades enunciadas na se¸c˜ao 1.1, temos que as aplica¸c˜oes φL e φΣ s˜ao

homeomorfismos de H2 que preservam ˆangulos entre curvas.

Vamos definir agora uma fun¸c˜ao densidade λ : H2 → R de forma que as invers˜oes

φ em retas hiperb´olicas sejam isometrias φ : (H2, d) → (H2, d), em que d ´e a m´etrica

definida por λ.

Primeiramente vamos considerar a invers˜ao na semi-reta de equa¸c˜ao x = a. A invers˜ao nessa reta ´e dada por:

φ(x, y) = (−x + 2a, y)

Sua matriz Jacobiana ´e: Jφ(x, y) =

−1 0

0 1

. Uma vez que essa ´e ortogonal, vemos que µ(z) = 1.

Para φ ser uma isometria, pelo teorema 1.3.4, devemos ter:

λ(φ(z)) = λ(z), ∀ z ∈ H2

(27)

⇒ λ(x1, y) = λ(x2, y) ∀ x, a ∈ R, y > 0

Portanto, a fun¸c˜ao λ : H2 → R s´o depende da segunda coordenada do ponto z ∈ H2.

Vamos considerar agora invers˜oes em c´ırculos:

φ(x, y) = µ a + R2 x − a (x − a)2+ y2 , R 2 y (x − a)2+ y2 ¶

Sabemos que Jφ(z) = µ(z) · M, onde M ´e a matriz ortogonal, e

µ(z) = lim

w→z

|f (w) − f (z)| |w − z| .

Pela express˜ao (1.1), temos

µ(z) = lim w→z R2 |w − a||z − a| ∴ µ(z) = R 2 |z − a|2

Para φ ser isometria, pelo teorema 1.3.4, devemos ter:

λ(φ(z)) = λ(z)

µ(z) (1.3)

Acabamos de demonstrar, com a invers˜ao em retas, que a fun¸c˜ao λ : H2 → R s´o depende

da segunda coordenada. Deste modo, λ define uma fun¸c˜ao eλ : R+→ R, definida por

λ(z) = eλ(Im(z)), ∀ z ∈ H2 . De (1.3), obtemos e λ(Im(φ(z))) = eλ(Im(z)) µ(z) Como Im(φ(z)) = R 2

|z − a|2Im(z), devemos ter:

e λ µ R2 |z − a|2Im(z) ¶ = eλ(Im(z)) R2 |z − a|2

(28)

e λ µ R2 |z − a|2Im(z)· R 2 |z − a|2 = eλ(Im(z)) .

Essa igualdade implica que: eλ(tc) · t = eλ(c), ∀ t, c ∈ R+.

Para c = 1 obtemos eλ(t) · t = eλ(1) e assim eλ(t) = eλ(1)

t para todo t ∈ R

+. Da´ı

vemos que para a invers˜ao φ ser uma isometria basta definirmos a fun¸c˜ao densidade λ por: λ(z) = eλ(1)

Im(z). A constante multiplicativa eλ(1) pode ser escolhida como qualquer

n´umero real positivo. Em geral, define-se eλ(1) = 1 para que o plano hiperb´olico tenha

curvatura −1. Assim, a fun¸c˜ao densidade em H2 ´e dada por

λ(z) = 1 Im(z) e a distˆancia em H2 ´e d(p, q) = inf Z γ 1 Im(γ(t)) · |γ 0(t)|dt .

A distˆancia no semi-plano superior:

Vamos apresentar agora uma constru¸c˜ao expl´ıcita para a fun¸c˜ao distˆancia d(p, q) no semi-plano superior, em termos das coordenadas de p e q.

Seja γ : [0, 1] → H2 uma curva diferenci´avel ligando os pontos γ(0) = p e γ(1) = q.

Da f´ormula deduzida acima, temos que o comprimento da curva γ ´e dado por

|γ| =

Z 1

0

|γ0(t)|

Im(γ(t))dt (1.4)

A distˆancia entre p e q ´e definida por:

d(p, q) = inf |γ|

em que o ´ınfimo ´e tomado sobre todas tais curvas γ.

J´a sabemos que invers˜oes em semi-retas e semi-c´ırculos ortogonais ao eixo x s˜ao isometrias φ : (H2, d) → (H2, d).

• invers˜ao em semi-reta

(29)

• invers˜ao em semi-c´ırculo φ(z) = a + R2 |z − a|2(z − a) φ(z) = a + R 2 z − a φ(z) = az + R 2− a2 z − a ´

E importante observar que estas duas aplica¸c˜oes s˜ao casos particulares de aplica¸c˜oes

g : C∞→ C∞ do tipo g(z) =

az + b cz + d .

Como fizemos com as transforma¸c˜oes lineares fracion´arias, tamb´em podemos associar a uma transforma¸c˜ao do tipo g(z) = az + b

cz + d uma matriz Mg =   a b c d tal que Mg◦h = MgMh

Matrizes das Invers˜oes:

• Invers˜ao em reta: φ(z) = −z + 2a =   −1 2a 0 1  , com det(Mφ) = −1 < 0 • Invers˜ao em c´ırculo φ(z) = az + R 2− a2 z − a =   a R2− a2 1 a, com det(Mφ) = −R2 < 0

Teorema 1.3.5 Toda transforma¸c˜ao linear fracion´aria g(z) = az + b

cz + d , a, b, c, d ∈ R, ad − bc > 0 ´e uma isometria de H2.

Demonstra¸c˜ao:

Pelo teorema 1.2.2, pode-se concluir que uma transforma¸c˜ao linear fracion´aria

g(z) = az + b

cz + d com a, b, c, d ∈ R e ad − bc > 0 ´e uma composi¸c˜ao de um n´umero par de

invers˜oes em retas hiperb´olicas; semi-retas ou semi-c´ırculos ortogonais ao eixo x. Como cada uma dessas invers˜oes ´e uma isometria de H2, segue que g tamb´em ´e isometria.

(30)

Teorema 1.3.6 Dados z e w dois pontos quaisquer do semi-plano superior, temos que

d(z, w) = ln|z − w| + |z − w|

|z − w| − |z − w| (1.5)

Demonstra¸c˜ao:

Para demonstrar a igualdade, vamos mostrar que ambos os lados da express˜ao s˜ao invariantes por aplica¸c˜oes do tipo g(z) = az + b

cz + d , a, b, c, d ∈ R, ad − bc > 0.

O lado esquerdo da igualdade ´e invariante pois g ´e uma isometria e assim

d(g(z), g(w)) = d(z, w).

Sabemos que g ´e uma composi¸c˜ao de invers˜oes em semi-retas e semi-c´ırculos ortogo-nais ao eixo x. Como invers˜oes em retas s˜ao isometrias Euclidianas, temos que o lado direito da igualdade ´e invariante por tais aplica¸c˜oes.

Precisamos mostrar agora que a express˜ao ln|z − w| + |z − w|

|z − w| − |z − w| ´e invariante por

in-vers˜oes em c´ırculos centrados no eixo x . Seja φ(z) = a + R2

|z − a|2(z − a) a invers˜ao no

semi-c´ırculo de raio R e centro a ∈ R. Pela express˜ao 1.1, temos que:

|φ(z) − φ(w)| = R2 |z − a||w − a||z − w| Assim, temos: |φ(z) − φ(w)| + |φ(z) − φ(w)| |φ(z) − φ(w)| − |φ(z) − φ(w)| = |φ(z) − φ(w)| + |φ(z) − φ(w)| |φ(z) − φ(w)| − |φ(z) − φ(w)| = = R2|(w − z)| |(z − a)(w − a)| + R2|(w − z)| |(z − a)(w − a)| R2|(w − z)| |(z − a)(w − a)| R2|(w − z)| |(z − a)(w − a)| = R2|(w − z)| |(z − a)(w − a)|+ R2|(w − z)| |(z − a)(w − a)| R2|(w − z)| |(z − a)(w − a)|− R2|(w − z)| |(z − a)(w − a)| = = |w − z| + |w − z| |w − z| − |w − z| = |z − w| + |z − w| |z − w| − |z − w|

(31)

Portanto, ambos os lados da igualdade 1.5 s˜ao invariantes por g(z) = az + b

cz + d, a, b, c, d ∈ R, ad − bc > 0. Da´ı, para demonstrarmos essa igualdade, vamos considerar

pontos z e w em uma posi¸c˜ao conveniente do plano hiperb´olico.

Tome agora dois pontos distintos z e w em H2. Existe uma aplica¸c˜ao g(z) = az + b

cz + d, a, b, c, d ∈ R, ad − bc > 0 tal que g(z) e g(w) est˜ao sobre o eixo imagin´ario. Sendo assim,

basta verficarmos a igualdade para os pontos z = ip e w = iq. Sem perda de generalidade, podemos supor p < q.

Figura 1.14: Aplica¸c˜ao que leva z e w em ip e iq respectivamente.

L g(z) = ip

g(w) = iq z

w

Seja γ : [0, 1] → H2 um caminho ligando z = ip a w = iq, γ(t) = (x(t), y(t)) =

= x(t) + iy(t). Ent˜ao: |γ| = Z 1 0 |γ0(t)| Im(γ(t))dt = Z 1 0 p x02(t) + y02(t) y(t) dt ≥ Z 1 0 p y02(t) y(t) dt ≥ Z 1 0 y0(t) y(t)dt = ln y(t) ¯ ¯1 0 ⇒ |γ| ≥ ln y(1) − ln y(0) = ln(q) − ln(p) ∴ |γ| ≥ ln(q p)

(32)

Figura 1.15: Um caminho γ ligando z = ip a w = iq .

z = ip w = iq

Para a curva γ0(t) = i(p + t(q − p)), que ´e o segmento vertical de in´ıcio em z = ip e

final em z = iq, vemos que |γ0| = ln(

q p). Como d(z, w) = infγ|γ| conclu´ımos que d(ip, iq) = ln(q p) . (1.6) Voltando `a express˜ao d(z, w) = ln|z − w| + |z − w|

|z − w| − |z − w|, vemos que o seu lado direito

toma a forma

d(z, w) = ln

·

|ip − (−iq)| + |ip − iq| |ip − (−iq)| − |ip − iq|

¸ = ln µ |i(p + q)| + |i(p − q)| |i(p + q)| − |i(p − q)|

E como p, q ∈ R e q > p > 0, temos |i(p + q)| = p + q e |i(p − q)| = q − p

ln µ (p + q) + (q − p) (p + q) − (q − p) ¶ = ln µ 2q 2p ¶ = ln µ q p ¶ (1.7)

De (1.6) e (1.7), demonstramos a igualdade desejada. ¥

Observa¸c˜oes:

1. Se z = ip e w = iq (q > p), e γ(t) = (x(t), y(t)) ´e uma curva ligando z a w, vimos que |γ| ≥ ln

µ

q p

(33)

e somente se, x0(t) = 0 ∀ t e y0(t) > 0 ∀ t. E isso ocorre se, e somente se, x(t) = 0 ´e

constante e y(t) ´e crescente. Ent˜ao uma curva γ realiza a distˆancia entre z e w se, e somente se, γ parametriza o segmento de reta de z a w injetivamente.

2. Sejam z e w pontos quaisquer em H2. Seja L a ´unica reta de H2 passando por z e w.

O segmento [z, w] ´e o conjunto dos pontos de L que est˜ao entre z e w. Uma curva

γ, ligando z a w, realiza a distˆancia entre z e w se, e somente se, γ parametriza o

segmento [z, w] injetivamente.

3. Para quaisquer p e q reais positivos, ρ(ip, iq) = ¯ ¯ ¯ ¯ln µ q p ¶¯¯ ¯ ¯.

1.3.3

Modelo do disco unit´

ario

O modelo do disco unit´ario para o plano hiperb´olico ´e o conjunto D = {z ∈ C : |z| < 1} . Podemos escrever tamb´em D = {(x, y) ∈ R : x2+ y2 < 1} .

As retas hiperb´olicas para o modelo do disco unit´ario s˜ao de dois tipos: ou diˆametros de D ou arcos de circunferˆencia ortogonais a ∂D . Observe que as invers˜oes nessas retas hiperb´olicas deixam o disco D invariante.

Figura 1.16: Retas no disco unit´ario.

Vamos definir uma m´etrica d1 em D que torne as invers˜oes em retas hiperb´olicas

φ : (D, d1) → (D, d1) isometrias. Para isto, vamos determinar uma aplica¸c˜ao conforme

f : H2 → D e vamos definir a m´etrica d

(34)

seja isometria. Tal m´etrica d1 ser´a constru´ıda atrav´es de um fun¸c˜ao densidade λ1 em D,

constru´ıda como no teorema 1.3.4 . ´

E f´acil ver que a transforma¸c˜ao linear fracion´aria f (z) = z − i

z + i ´e um homeomorfismo

conforme de H2 sobre D. Isso porque ∂H2 ´e o c´ırculo no plano complexo estendido que

passa pelos pontos 0, 1, ∞ e f (∂H2) ´e o c´ırculo que passa pelos pontos f (0) = −1,

f (1) = 1 − i

1 + i = −i e f (∞) = 1 . M´etrica em D:

Na se¸c˜ao anterior, definimos uma densidade λ : H2 → R no semi-plano superior por

λ(z) = 1

Im(z), que gerou uma m´etrica d em H2: d(p, q) = inf γ Z γ |γ0(t)| Im(γ(t)) dt .

Agora, vamos definir uma densidade λ1 : D → R que torna a aplica¸c˜ao f : (H2, λ, d) →

(D, λ1, d1) uma isometria, sendo d1 a m´etrica definida por λ1. Pelo teorema 1.3.4,

deve-mos definir λ1 por λ1(f (z)) =

λ(z)

µ(z), onde Jf (z) = µ(z)M , M uma matriz ortogonal.

Podemos calcular µ(z), de acordo com a equa¸c˜ao (1.2).

f (w) − f (z) w − z = w − i w + i− z − i z + i w − z = (w − i)(z + i) − (w + i)(z − i) (w + i)(z + i)(w − z) = = wz + iw − iz + 1 − (wz − iw + iz + 1) (w + i)(z + i)(w − z) = 2iw − 2iz (w + i)(z + i)(w − z) = 2i (w + i)(z + i) Da´ı, segue que

|f (w) − f (z)| |w − z| = 2 |w + i||z + i| e portanto µ(z) = lim w→z |f (w) − f (z)| |w − z| = 2 |z + i|2 .

Por outro lado, temos que (escrevendo z = x + iy) 1 − |f (z)|2 = 1 − |z − i|2 |z + i|2 = |z + i|2− |z − i|2 |z + i|2 = x2+ (y + 1)2− [x2+ (y − 1)2] |z + i|2 =

(35)

= x

2+ y2+ 2y + 1 − (x2+ y2− 2y + 1)

|z + i|2 =

4y

|z + i|2 .

Da´ı, 1 −|f (z)|2 = 2 ·Im(z)·µ(z) , e a fun¸c˜ao densidade λ

1 no disco unit´ario toma a forma:

λ1(f (z)) = λ(z) µ(z) = 1 Im(z) 1 − |f (z)|2 2 · Im(z) = 2 1 − |f (z)|2 .

Desse modo, a fun¸c˜ao densidade λ1 no disco unit´ario deve ser definida por:

λ1(z) =

2

1 − |z|2 , ∀ z ∈ D .

Como vimos na subse¸c˜ao 1.3.1, essa fun¸c˜ao densidade define a seguinte m´etrica no disco unit´ario D: d1(p, q) = inf γ Z γ 2 1 − |γ(t)|2 0(t)|2dt

onde o ´ınfimo ´e tomado sobre todas os caminhos γ em D ligando p a q.

Observa¸c˜ao:

Seja φ : D → D a invers˜ao em uma reta hiperb´olica de D. Na m´etrica d1,

φ : (D, d1) → (D, d1) ´e uma isometria.

Demonstra¸c˜ao:

A m´etrica d1 foi constru´ıda para que

f : (H2, λ, d) → (D, λ 1, d1)

z 7→ z − i

z + i

seja uma isometria.

Seja φ a invers˜ao em uma reta hiperb´olica C do disco unit´ario D. Ent˜ao f−1(C) ´e

uma reta hiperb´olica em H2. Se φ ´e a invers˜ao em C, ent˜ao ψ = f−1φf ´e a invers˜ao em

f−1(C). Assim, temos φ = f ψf−1. E como, f e ψ s˜ao isometrias, segue que φ ´e uma

isometria.

(36)

Figura 1.17: Aplica¸c˜ao f que leva H2 em D. H2 D f φ y ψ y C f−1(C)

A m´etrica no disco unit´ario:

Sejam z e w dois pontos no disco unit´ario D. Seja γ : [0, 1] → D uma curva diferen-ci´avel ligando z a w. O comprimento de γ ´e dado por;

|γ| = Z 1 0 2 1 − |γ(t)|2 0(t)|2dt

A distˆancia entre z e w ´e d1(z, w) = inf |γ|.

Teorema 1.3.7 Para quaisquer z, w ∈ D

senh2 µ d1(z, w) 2 ¶ = |z − w| 2 (1 − |z|2)(1 − |w|2)

Demonstra¸c˜ao: Para demonstrar a igualdade, vamos mostrar que ambos os lados da express˜ao s˜ao invariantes por invers˜oes em retas hiperb´olicas de D.

As invers˜oes em retas φ : D → D foram constru´ıdas, na m´etrica d1 para serem

isometrias de D. Assim, o lado esquerdo da igualdade ´e invariante por invers˜oes em retas de D.

Seja φ : D → D a invers˜ao em um diˆametro. Como φ ´e isometria Euclidiana, temos que |φ(z) − φ(w)| = |z − w|, e |z| = |φ(z)| e |w| = |φ(w)|. Da´ı

|φ(z) − φ(w)|2

(1 − |φ(z)|2)(1 − |φ(w)|2) =

|z − w|2

(37)

e o lado direito da igualdade ´e invariante por invers˜ao em diˆametros.

Seja agora φ : D → D a invers˜ao em um arco de c´ırculo ortogonal a ∂D. Se φ ´e a invers˜ao no c´ırculo de centro a ∈ C e raio R. Ent˜ao, por

1 − |φ(z)|2 = R2

|z − a|2(1 − |z|

2), ∀ z ∈ D (Equa¸c˜ao 3.4.2 da p´agina 39 do livro [2]) ,

temos, |φ(z) − φ(w)|2 (1 − |φ(z)|2)(1 − |φ(w)|2) = |φ(z) − φ(w)|2 µ R2(1 − |z|2) |z − a|2 ¶ µ R2(1 − |w|2) |w − a|2 ¶ = = |φ(z) − φ(w)|2|z − a|2|w − a|2 R4(1 − |z|2)(1 − |w|2) e pela equa¸c˜ao (1.1) |φ(x) − φ(y)| = R 2 |x − a||y − a||x − y| temos = µ R4|z − w|2 |z − a|2|w − a|2 ¶ |z − a|2|w − a|2 R4(1 − |z|2)(1 − |w|2) = |z − w|2 (1 − |z|2)(1 − |w|2) .

Assim, o lado direito da igualdade tamb´em ´e invariante pela invers˜ao φ.

Agora, sejam dados dois pontos quaisquer z e w em D. Existe uma composi¸c˜ao de invers˜oes em diˆametros e arcos de circunferˆencias ortogonais a ∂D tal que g(z) = 0 e g(w) ´e um n´umero real positivo menor que 1. Deste modo, pelo que acabamos de demonstrar, ´e suficiente demonstrarmos a express˜ao desejada para o caso em que z = 0 e

w = r ∈ R, 0 < r < 1.

(38)

Figura 1.18: Curva γ ligando z e w. z=0 w=r γ |γ| = Z 1 0 2|γ0(t)| 1 − |γ(t)|2dt = 2 Z 1 0 p x0(t)2+ y0(t)2 1 − x2(t) − y2(t)dt ≥ 2 Z 1 0 p x0(t)2 1 − x2(t) − y2(t)dt ≥ ≥ 2 Z 1 0 x0(t) 1 − x2(t) − y2(t)dt ≥ 2 Z 1 0 x0(t) 1 − x2(t)dt .

Agora precisamos recordar a seguinte integral: Z 1 0 1 1 − t2dt = 1 2ln µ 1 + t 1 − t+ c. Da´ı, |γ| ≥ ln1 + x(t) 1 − x(t) ¯ ¯ ¯ ¯ 1 0 = ln1 + r 1 − r .

Quando γ(t) = rt, vemos que esse m´ınimo ´e atingido pois |γ| = ln1 + r 1 − r . Portanto, conclu´ımos que d1(z, w) = ln

1 + r 1 − r.

Agora, vamos verificar a express˜ao para d1(0, r) dada no enunciado do teorema.

Como senh2 µ d 2 ¶ = Ã ed2 − e− d 2 2 !2 = ed− 2 + e−d

4 , no lado esquerdo vemos que

senh2 µ d1(z, w) 2 ¶ = 1 + r 1 − r − 2 + 1 − r 1 + r 4 = = (1 + r)2− 2(1 + r)(1 − r) + (1 − r)2 4(1 − r)(1 + r) = r2 1 − r2

(39)

No lado direito: |z − w|2 (1 − |z|2)(1 − |w|2) = |0 − r|2 (1 − |0|2)(1 − |r|2) = r2 1 − r2 .

Portanto, a igualdade ´e v´alida. ¥

Observa¸c˜oes:

1. Se z = 0 e w = r > 0 e γ ´e um caminho ligando z a w, vimos que |γ| ≥ ln 1 + r 1 − r. Al´em disso, pelo desenvolvimento anterior, a igualdade ´e v´alida se, e somente se,

x0(t) > 0 e y0(t) = 0 ∀ t. E isso ocorre se, e somente se, x(t) ´e crescente e y(t)

´e constante. Ent˜ao a curva γ que realiza a distˆancia entre z e w se parametriza o segmento de reta ligando z a w injetivamente.

2. Sejam dados dois pontos z e w em D. Seja L a ´unica reta hiperb´olica por z e w e seja [z, w] o segmento de L de extremos z e w. Uma curva γ em D, ligando z a

w, realiza a distˆancia entre z e w se, e somente se, γ parametriza o semento [z, w]

injetivamente.

1.4

Isometrias do Plano Hiperb´

olico

Nesta se¸c˜ao, vamos calcular o grupo de isometrias do plano hiperb´olico no modelo do semi-plano superior e no modelo do disco unit´ario.

Semi-plano superior:

J´a vimos que toda transforma¸c˜ao linear fracion´aria g(z) = az + b

cz + d , ad − bc > 0, a, b, c, d ∈ R ´e uma isometria de H2, uma vez que s˜ao composi¸c˜oes de um n´umero par de

invers˜oes em retas hiperb´olicas.

Agora, seja dada uma isometria qualquer f : H2 → H2. Se L ´e o eixo imagin´ario

positivo, existe uma aplica¸c˜ao g, do tipo g(z) = az + b

cz + d , ad − bc > 0, a, b, c, d ∈ R tal

(40)

Aplicando uma dilata¸c˜ao z 7→ kz (k > 0) e, se necess´ario, a aplica¸c˜ao z 7→ −1

z,

vemos que existe uma aplica¸c˜ao h, do tipo h(z) = az + b

cz + d , ad − bc > 0, a, b, c, d ∈ R tal

que h ◦ f (i) = i e h ◦ f deixa invariante cada uma das semi-retas (i, +∞) e (0, i). Da´ı, conclu´ımos que h ◦ f fixa cada ponto do eixo imagin´ario positivo.

Agora seja dado um ponto qualquer em H2 e escreva z = x + iy e h ◦ f (z) = u + iv.

Para todo t > 0 qualquer,

d(it, z) = d(h ◦ f (it), h ◦ f (z)) = d(it, u + iv) .

Da express˜ao senh · 1 2d(z, w) ¸ = |z − w| 2[Im(z)Im(w)]12

encontrada no teorema 7.2.1 (iii), p´agina 130, do livro [2], obtemos: [x2 + (y − t)2]v = [u2+ (v − t)2]y .

Uma vez que esta igualdade deve ser verdadeira para todo t > 0, obtemos as igualdades

y = v e x2 = u2 . Da´ı, colclu´ımos que

h ◦ f (z) = z ou − z

para todo z ∈ H2.

Essas considera¸c˜oes demonstram o seguinte teorema:

Teorema 1.4.1 Toda isometria de H2 ´e de um dos tipos:

f (z) = az + b

cz + d ou f (z) =

a(−z) + b

c(−z) + d , onde a, b, c, d ∈ R e ad − bc > 0

Mais ainda, o grupo de isometrias Isom(H2) de H2 ´e gerado por invers˜oes em retas

hiperb´olicas.

Observa¸c˜ao: atrav´es de algumas contas, pode-se demonstrar a equivalˆencia entre a equa¸c˜ao senh · 1 2d(z, w) ¸ = |z − w| 2[Im(z)Im(w)]12

(41)

utilizada para a demonstra¸c˜ao acima e a equa¸c˜ao (1.5) demonstrada no teorema 1.3.6. Disco unit´ario:

Agora podemos calcular o grupo de isometrias do disco unit´ario utilizando o fato da aplica¸c˜ao f (z) = z − i

z + i ser uma isometria de H2 sobre D. Desse fato, temos que: Isom(D) = f ◦ Isom(H2) ◦ f−1 .

Efetuando algumas contas simples, do teorema anterior, essa igualdade demonstra o seguinte resultado:

Teorema 1.4.2 Toda isometria do disco unit´ario ´e de um dos tipos:

h(z) = az + c

cz + a ou h(z) =

az + c

cz + a , sendo a, c ∈ C com |a|

2− |c|2 = 1 .

Mais ainda, o grupo de isometrias Isom(D) de D ´e gerado por invers˜oes em retas hiperb´olicas.

1.5

C´ırculos Isom´

etricos

Com o objetivo de apresentar a classifica¸c˜ao das isometrias do plano hiperb´olico vamos primeiramente recordar o conceito de c´ırculo isom´etrico de uma transforma¸c˜ao linear fracion´aria.

Seja g(z) = az + b

cz + d um elemento de M

2 que n˜ao fixa o infinito, ou seja c 6= 0, tal que

ad − bc = 1.

Sejam α = g−1(∞) = −d

c e α0 = g(∞) = a c .

Temos que todas as retas que passam por α s˜ao levadas, pelo elemento g, em retas que passam por α0.

(42)

Figura 1.19: retas que passam por α s˜ao levadas em retas que passam por α0 .

L g(L)

α = g−1(∞) α0 = g(∞)

Isto implica que um c´ırculo centrado em α ´e transformado por g em um c´ırculo centrado em α0.

Figura 1.20: retas e c´ırculos que passam por α s˜ao levadas em retas e c´ırculos por α0

Σ g(Σ)

α

α0

Algebricamente, essa afirma¸c˜ao ´e uma conseq¨uˆencia do seguinte desenvolvimento:

|g(z) − α0| = ¯ ¯ ¯ ¯az + bcz + d ac ¯ ¯ ¯ ¯ = ¯ ¯ ¯ ¯acz + bc − acz − adc(cz + d) ¯ ¯ ¯ ¯ = ¯ ¯ ¯ ¯c(cz + d)−1 ¯ ¯ ¯ ¯ = |c||cz + d|1 = 1 |c|2 ¯ ¯ ¯ ¯z + dc ¯ ¯ ¯ ¯ = 1 |c|2|z − α| . Da´ı, temos |z − α| = R ⇔ |g(z) − α0| = 1

|c|2R. Portanto, o c´ırculo de centro α e raio R ´e

transformado por g no c´ırculo de centro α0 e raio 1

(43)

Figura 1.21: O c´ırculo de centro α e raio R ´e levado por g no c´ırculo de centro α0 e raio 1 |c|2R. Σ g(Σ) α α 0 R 1 |c|2R g

Conclu´ımos ent˜ao que existe um ´unico c´ırculo I de centro α e raio ρ = 1

|c| tal que g(I) ´e um c´ırculo de centro α0 e mesmo raio ρ. Denotamos por I o c´ırculo isom´etrico

de g e por I0 = g(I) o c´ırculo isom´etrico de g−1. Definimos o exterior do c´ırculo

isom´etrico I como Ext(I) = {z ∈ C : |z − α| > ρ} ∪ {∞}. E definimos o interior do c´ırculo isom´etrico I como Int(I) = {z ∈ C : |z − α| < ρ}.

Da igualdade |g(z) − α0| = ρ2

|z − α|, conclu´ımos que: • g(I) = I0

• g(Exterior(I)) = Interior(I0)

• g(Interior(I)) = Exterior(I0)

Teorema 1.5.1 Seja g ∈ M2 tal que g(∞) 6= ∞. Ent˜ao podemos escrever g = rji, sendo

i a invers˜ao no c´ırculo isom´etrico de g(I) e r e j s˜ao movimentos r´ıgidos Euclidianos.

Demonstra¸c˜ao:

Sejam I e I0 os c´ırculos isom´etricos de g e g−1 respectivamente. Sejam α = g−1(∞)

e α0 = g(∞) os centros de I e I0 respectivamente. Defina i a invers˜ao no c´ırculo I e j a

invers˜ao na mediatriz do segmento de extremidades α e α0. Caso α = α0, defina j como

a identidade.

(44)

• r(∞) = ∞ ; • r(α0) = α0 ;

• r(I0) = I0 .

Isto implica que r tem uma das seguintes formas:

• Se j 6= id, ent˜ao r(z) = eiθ(z − α0) + α0 e assim r ´e uma rota¸c˜ao ao redor do ponto

α0.

• Se j = id, ent˜ao r(z) = eiθ(z −α0)+α0 e assim r ´e uma reflex˜ao em uma reta seguida

de uma rota¸c˜ao ao redor do ponto α0.

Em qualquer um dos casos, conclu´ımos que r ´e um movimento r´ıgido Euclidiano. Como

r = gij implica que g = rji, o teorema fica demonstrado. ¥

Teorema 1.5.2 Seja g(z) = az + b

cz + d uma transforma¸c˜ao linear fracion´aria tal que g(∞) 6= ∞ e ad − bc = 1. Sejam I e I0 os c´ırculos isom´etricos de g e g−1,

respecti-vamente e seja tr(g) = a + d. Ent˜ao:

1. I e I0 concorrem em dois pontos ⇔ 0 < |tr2(g)| < 4.

2. I e I0 s˜ao tangentes ⇔ |tr2(g)| = 4

3. I e I0 s˜ao disjuntos ⇔ |tr2(g)| > 4;

4. I = I0 ⇔ |tr2(g)| = 0

Demonstra¸c˜ao:

O c´ırculo I tem como centro α = g−1(∞) = −d

c, o c´ırculo I0 tem como centro α0 = g(∞) = a

c e ambos esses c´ırculos possuem raio ρ =

1

|c|. Assim, I e I

0 s˜ao disjuntos

se, e somente se,

|α0 − α| > 2ρ ⇔ ¯ ¯ ¯ ¯ac − (−dc) ¯ ¯ ¯ ¯ > |c|2 ⇔ |a + d| > 2 ⇔ |tr(g)| > 2 ⇔ |tr2(g)| > 4 .

(45)

A demonstra¸c˜ao das outras propriedades pode ser feita de forma an´aloga. ¥

1.6

Classifica¸c˜

ao das Isometrias do Plano Hiperb´

olico

Seja g uma isometria conforme do plano hiperb´olico no modelo do semi-plano superior. Tal isometria pode ser estendida at´e uma aplica¸c˜ao linear fracion´aria eg definida no fecho

de H2. A aplica¸c˜ao eg : H2 → H2 possui pelo menos 1 ponto fixo em H2 . Dizemos que a

isometria g : H2 → H2 ´e:

1. El´ıptica se, e somente se, eg possui algum ponto fixo em H2 ;

2. Parab´olica se, e somente se, eg possui um ´unico ponto fixo que est´a em ∂H2 ;

3. Hiperb´olica se, e somente se, eg possui exatamente dois pontos fixos em ∂H2 .

Vamos mostrar que esta classifica¸c˜ao das isometrias coincide com a classifica¸c˜ao dos elementos de M2 dada na se¸c˜ao 1.2.

Seja g isometria conforme de H2. Suponha que g(∞) 6= ∞. Sabemos que podemos

escrever g = rji, sendo r rota¸c˜ao, i a invers˜ao no c´ırculo isom´etrico de g e j reflex˜ao em uma reta. Como α = g−1(∞) e α0 = g(∞) pertencem ao eixo x, conclu´ımos que I ∩ H2

e I0∩ H2 s˜ao geod´esicas de H2, e j tamb´em ´e a invers˜ao em uma geod´esica. Mas como g

deixa H2 invariante, conclu´ımos que r = id. Logo:

Teorema 1.6.1 Se g ∈ Isom(H2) holomorfa, ent˜ao podemos escrever g como g = σ 1σ2,

sendo σ1 e σ2 invers˜oes em geod´esicas Σ1 e Σ2 respectivamente.

Desse teorema podemos reinterpretar a classifica¸c˜ao das isometrias de H2 em termos

(46)

1. Se Σ1 e Σ2 s˜ao concorrentes, ent˜ao g = σ1σ2 ´e um elemento el´ıptico cujo ponto fixo

´e Σ1∩ Σ2 .

Figura 1.22: Isometria El´ıptica.

Σ1 Σ2

%Um ponto fixo em H

2

2. Se Σ1e Σ2s˜ao tangentes num ponto em H2, ent˜ao g = σ1σ2´e um elemento parab´olico

cujo ponto fixo ´e Σ1∩ Σ2 .

Figura 1.23: Isometria Parab´olica.

Σ1 Σ2

& Um ponto fixo em ∂H2

3. Se Σ1∩Σ2 = ∅, ent˜ao g = σ1σ2 ´e um elemento hiperb´olico. De fato, se Σ ´e a (´unica)

geod´esica de H2 perpendicular comum a Σ

1 e a Σ2, ent˜ao g tem como pontos fixos

os pontos finais de Σ em ∂H2 .

Figura 1.24: Isometria Hiperb´olica com pontos fixos p e q .

Σ1 Σ Σ2

(47)

Cap´ıtulo 2

Superf´ıcies de Riemann

2.1

Grupos Descont´ınuos

Seja X um espa¸co topol´ogico e G um grupo de homeomorfismos de X.

Dizemos que G age descontinuamente num ponto x ∈ X se existir uma vizinhan¸ca

U de x tal que g(U) ∩ U = ∅, exceto para um n´umero finito de aplica¸c˜oes g ∈ G.

O conjunto dos pontos x ∈ X em que G age descontinuamente ´e chamado conjunto regular e ´e denotado por Ω = Ω(G) .

Se g(U) ∩ U = ∅, ∀g ∈ G \ {id}, dizemos que a a¸c˜ao de G ´e livre e descont´ınua. Nesse caso, dizemos que U ´e uma “boa vizinhan¸ca” de x. O conjunto dos pontos x ∈ G, onde G age livre e descontinuamente ´e chamado conjunto livre regular e ´e denotado por Ω = ◦Ω(G) . Diretamente dessa defini¸c˜ao temos que ◦Ω ´e invariante pelo grupo G e ◦Ω ´e aberto em X.

A a¸c˜ao do grupo G em X define uma rela¸c˜ao de equivalˆencia: dizemos que dois pontos

x e y em X s˜ao equivalentes por G se existe g ∈ G tal que g(x) = y .

O conjunto das classes de equivalˆencia de um ponto ´e chamado ´orbita do ponto por

G. O conjunto dessas classes de equivalˆencia ´e denotado por X G .

(48)

Se p : X → X

G ´e a aplica¸c˜ao proje¸c˜ao, uma topologia em X

G ´e definida de tal modo

que p ´e cont´ınua e aberta: A ⊂ X

G ´e aberto ⇔ p−1(A) ⊂ X ´e aberto.

Defini¸c˜ao 2.1.1 Seja X o plano complexo estendido, X = C∞, e G um subgrupo do

Grupo das Transforma¸c˜oes Lineares Fracion´arias, G < M2. Se

Ω 6= ∅, ent˜ao G ´e

chamado de grupo Kleiniano.

2.2

Dom´ınios Fundamentais

Um dom´ınio fundamental D para um grupo Kleiniano G ´e um subconjunto aberto de Ω satisfazendo:

1. para todo g ∈ G \ {id}, g(D) ∩ D = ∅.

2. para todo z ∈ Ω, existe g ∈ G tal que g(z) ∈ D.

3. a fronteira de D ´e uni˜ao de pontos limites de G, e uma cole¸c˜ao finita ou enumer´avel de curvas. Cada uma dessas curvas est´a contida em Ω. A interse¸c˜ao dessas curvas com Ω s˜ao os lados de D.

4. os lados de D s˜ao identificados por elementos de G. Isto ´e, se s ´e um lado de D, ent˜ao existe um lado s0, n˜ao necessariamente distinto de s, e existe um elemento

n˜ao trivial g ∈ G, chamado identificador de lado, satisfazendo g(s) = s0. Tamb´em

temos que g2(s) = s e o identificador de lado de s0 para s ´e g−1.

5. Se {Sm} ´e uma sequˆencia de lados de D, ent˜ao, o diˆametro diam(Sm) → 0. Os

lados de D acumulam somente em pontos limites.

6. Somente uma quantidade finita de transladados de D encontram algum subconjunto compacto de Ω.

(49)

A regi˜ao de Ford

Considere um grupo Kleiniano G tal que ∞ ∈ Ω(G) . Isso implica que para todo

g ∈ G \ {id}, g(∞) 6= ∞, podemos considerar o c´ırculo isom´etrico Ig de g .

Teorema 2.2.1 Se G ´e um grupo Kleiniano tal que ∞ ∈◦Ω e se

F = \

g∈G\{id}

Ext(Ig)

ent˜ao F ´e um dom´ınio fundamental para G, chamado dom´ınio fundamental de Ford.

A demonstra¸c˜ao desse teorema pode ser encontrada no livro [4]. Pol´ıgonos Fundamentais no Plano Hiperb´olico

Seja X um dos espa¸cos X = D ou X = H2. Uma reta de X divide o plano hiperb´olico

em dois planos. Um pol´ıgono D em X ´e uma interse¸c˜ao finita ou enumer´avel de semi-planos. O fecho D de D ´e dado por segmentos de retas determinados pelas interse¸c˜oes dos semi-planos, chamados lados. Um v´ertice ´e um ponto determinado pela interse¸c˜ao de exatamente dois lados.

Defini¸c˜ao 2.2.2 Seja G um subgrupo discreto de Isom(X). Um pol´ıgono D ´e um pol´ıgono

fundamental para G se:

1. Para todo elemento n˜ao trivial g ∈ G, g(D) ∩ D = ∅. 2. Para todo x ∈ X, existe g ∈ G tal que g(x) ∈ D.

3. Os lados de D s˜ao identificados por elementos de G. Isto ´e, para cada lado s existe um lado s0, e existe um elemento ∈ G tal que g(s) = s0. Tal elemento g ´e um

identificador de lados.

4. Todo subconjunto compacto de X intercepta somente uma quantidade finita de G transladados de D.

Referências

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