Glauce Hiromi Yonamine
Nutricionista
Unidade de Alergia e Imunologia – ICr - HCFMUSP Unidade de Gastroenterologia – ICr - HCFMUSP
Especialista em Saúde, Nutrição e Alimentação Infantil - UNIFESP Mestre em Ciências - Depto de Pediatria – FMUSP Membro do Departamento Científico do Instituto Girassol
2017
Alergias não mediadas por IgE
Proctocolite/proctite alérgica induzida por
proteína alimentar
Enterocolite alérgica induzida por proteína
alimentar (FPIES) Enteropatia alérgica
induzida por proteína alimentar
Sem manifestações de anafilaxia Resolução: 1 a 3 anos Exames de apoio limitados Reações tardias, inespecíficas Maior dificuldade para o diagnóstico
Risco de erro na identificação dos desencadeantes Agudo Reações imediatas/em poucas horas Moderadas a Graves Resolução: 3 a 5 anos
Evidências da literatura e diretrizes
Alergias não mediadas por IgE
Riscos nutricionais
Dieta de exclusão para
Tratamento
Dieta de exclusão para
Diagnóstico
Cuidados com a dieta de exclusão
Duração limitada
Menor tempo possível até melhora dos sintomas Menor restrição alimentar
possível
Desencadeamento para diagnóstico
Duração prolongada Exclusão dos alimentos
confirmados
Desencadeamento para tolerância
Diagnóstico: dieta de exclusão por 2 a 4 semanas ou menor tempo até melhora dos sintomas com reintrodução planejada e intencional
Orientar cuidados
com a dieta de
exclusão
Promover evolução
nutricional adequada
Orientar cuidados
com a dieta de
exclusão
Promover evolução
nutricional adequada
Segurança
Do ponto de vista alérgico
Educação
Dieta de exclusão total
Produtos industrializados
Ambiente de risco
Consortium of Food Allergy Research
http://www.cofargroup.org/
Food Allergy Research & Education
O que é contato cruzado?
Contato entre diferentes alimentos
Pequenas quantidades da proteína alergênica são
capazes de desencadear reações em pessoas alérgicas
Termo novo – conhecido como “contaminação cruzada”
www.foodallergy.org
Exemplos de contato cruzado
Contato cruzado direto (alérgeno foi diretamente utilizado e
removido da preparação)
Exemplo de contato cruzado indireto
(alérgeno não foi diretamente utilizado)
Tirar o queijo do cheesebúrguer para transformá-lo em hambúrguer
Preparar cheesebúrguer e utilizar a espátula (sem lavar) para preparar um
hambúrguer
Remover camarão da salada Não lavar as mãos após manipular camarão antes de preparar a próxima
salada Retirar pasta de amendoim de um
pedaço de pão e utilizá-lo para preparar outro sanduíche
Compartilhar a mesma faca para pasta de amendoim e geleia (apenas
Prevenção de contato cruzado
Garantir higienização apropriada
Alimento isento do alérgeno sem
contato com alimentos com o alérgeno
www.foodallergy.org
Como orientar a leitura de rótulos?
Ler sempre: ato da compra, armazenamento e consumo
Sinônimos e termos não relacionados
Medicamentos
Serviço de Atendimento ao Consumidor
Noimark L, Gardner J, Warner JO. Pediatr Allergy Immunol 2009: 20: 500–504.
Pieretti MM, Chung D, Pacenza R, Slotkin T, Sicherer SH. J Allergy Clin Immunol 2009; 124: 337-41.
Cardoso AL, Yonamine GH. Abordagem nutricional na alergia à proteína do leite de vaca. In: Nutrologia básica e avançada, 2010.
Cuidado com produtos SEM
LACTOSE!
Termos sinônimos e não sinônimos
FAAN. www.foodallergy.org
Steinman HA. “Hidden” allergens in foods. J Allergy Clin Immunol 98 (2): 241-50, 1996. CoFAR. web.emmes.com/study/cofar/
Koerner CB, Sampson HA. Diets and nutrition. In: Metcalfe DD, Sampson HA, Simon RA. Eds. Adverse reactions to foods and food additives. Oxford, UK: Blackweel Scientific 461-484, 1996.
Sinônimo de leite:
Caseína
Caseinato
Proteína do soro
Não sinônimo de leite:
Lactato
Leite de coco
Manteiga de cacau
RDC 26/2015 – alimentos e bebidas
Trigo (centeio, cevada, aveia e suas estirpes hibridizadas); crustáceos; ovos; peixes; amendoim; soja; leite de todos os mamíferos; amêndoa; avelã; castanha de caju; castanha do Pará; macadâmia; nozes; pecã; pistaches; pinoli; castanhas; além de látex natural.
“Alérgicos: Contém...”, “Alérgicos: Contém derivados de...” ou “Alérgicos:
Contém ... e derivados”.
“Alérgicos: Pode conter...”.
Exclusão de “traços” para todos?
Não se recomenda exclusão rotineira de produtos com
declaração de alerta para alérgenos em pacientes com
FPIES.
Força de recomendação: fraca.
Força da evidência: IV
Grau de evidência: D
Individualizar
Nowak-Wegrzyn et al. J Allergy Clin Immunol 2017; 139: 1111-26.
Orientar cuidados
com a dieta
Promover evolução
nutricional adequada
Terapia nutricional
Mãe e/ou criança
Idade da criança
Alérgenos excluídos
Substitutos adequados
Terapia nutricional
Avaliação do estado nutricional:
Antropométrica: peso, estatura, perímetro cefálico
Evolução na curva de crescimento
Alimentação: alimentos consumidos e não consumidos
Exames laboratoriais
Plano alimentar:
Adequado à idade e condição nutricional
Correção de erros alimentares: refeições, composição, variação, administração e disciplina
Recomendações nutricionais – recomendações para crianças saudáveis (Dietary Reference Intakes - IOM)
Terapia nutricional: 0 a 6 meses
Aleitamento materno exclusivo até 6 meses:
Dieta de exclusão materna de alérgenos alimentares Orientação nutricional à mãe – avaliar risco vs benefício
FPIES (raro) – não excluir alérgenos alimentares rotineiramente,
se tolerados
Proctocolite – até 20% das crianças em aleitamento materno
apresenta resolução espontânea do sangramento sem mudanças na dieta materna
Luyt et al. Clin Exp Allergy 2014: 44, 642-672. Caubet et al. Pediatr Allergy Immunol 2017; 28: 6-17. Sicherer et al. Management of food allergy: avoidance. UpToDate, 2017.
Nowak-Wegrzyn et al. J Allergy Clin Immunol 2017; 139: 1111-26.
Terapia nutricional: 0 a 6 meses
Na APLV, se necessário utilizar fórmula:
Fórmula extensamente hidrolisada de soro ou caseína
Melhora a barreira epitelial
Modula a diferenciação de células T
Diminui a inflamação
Fórmula extensamente hidrolisada de arroz (relativamente nova)
Se diagnóstico com fórmula de aminoácidos, realizar teste de provocação com fórmula extensamente hidrolisada
Terapia nutricional: maiores de 6
meses
6 a 11 meses:
Manutenção do aleitamento materno ou fórmula especial
Introdução lenta e gradual dos alimentos
Observação
Maiores de 1 ano:
Dieta geral isenta do (s) alérgeno (s)
Aleitamento até 2 anos
Fórmula especial, manter se necessário:
Desnutrição
Alergias múltiplas
Fleischer et al. J Allergy Clin Immunol: in practice 2013; 1: 29-36.
Introdução de alimentos
Food Protein Induced Enterocolitis Syndrome (FPIES)
Grupo de alimentos
Menor risco (iniciar introdução)
Maior risco (postergar introdução)
Vegetais Brócolis, abóbora, couve-flor Batata doce Frutas Abacate, pêssego, melancia,
ameixa, morango
Banana
Cereais Quinoa Aveia, arroz
Carnes Carne bovina (risco moderado) Aves, peixe, ovo
Leguminosas Feijão Ervilha
Soja (se alergia a leite de vaca)
Sugestão de introdução de alimentos. Importante individualizar.
Nowak-Wegrzyn et al. J Allergy Clin Immunol 2017; 139: 1111-26. Oferecer um alimento por vez
Riscos nutricionais
Groetch et al. J Allergy Clin Immunol Pract 2017; 5: 312-24.
Alimentos Principais nutrientes
Leite de vaca Proteína, cálcio, magnésio, fósforo, vitamina A, B6, B12, D, riboflavina, ácido pantotênico
Soja Proteína, cálcio, fósforo, magnésio, ferro, zinco, tiamina, riboflavina, vitamina B6, ácido fólico
Ovo Proteína, ferro, selênio, biotina, vitamina A, B12, ácido pantotênico, ácido fólico, riboflavina
Trigo Carboidrato, zinco, selênio, tiamina, niacina, riboflavina, ácido fólico, ferro, magnésio, fibra dietética
Amendoim/frutas oleaginosas
Proteína, selênio, zinco, manganês, magnésio, niacina, fósforo, vitamina E e B6, ácido alfa linolênico, ácido linoleico Peixes/Crustáceos Proteína, iodo, zinco, fósforo, selênio, niacina
Peixes gordurosos: vitamina A e D, ômega-3
Riscos nutricionais
Grupo alimentar Porções por dia Exemplos de alimentos (avaliar permitidos individualmente) Porção recomendada (1 – 3 anos) Grãos Raízes e tubérculos6 Arroz, milho, batata, quinoa, amaranto, mandioca, mandioquinha, inhame, cará,
batata doce, macarrão Pães, biscoitos, bolos sem
alérgenos 2 a 3 colheres de sopa
¼ a ½ fatia Frutas e
vegetais
5 Frescos ou congelados ¼ xícara Substitutos
do leite
3 – 4 Fórmulas especiais Bebidas alternativas fortificadas
120 ml Proteína 2 – 3 Carnes frescas ou congeladas
Leguminosas
2 a 3 colheres de sopa 2 a 4 colheres de sopa Óleos de 3 (depende da Margarina sem leite e sem soja e 1 colher de chá (5ml)
Bebidas vegetais
Não indicadas < 1 ano. Preferencialmente > 2 anos.
Bebidas de arroz (> 4,5 anos)
Risco nutricional
Grande variabilidade de composição nutricional
Calorias Proteínas Gorduras Fortificação Custo Uso em culinária
Luyt et al. Clin Exp Allergy 2014: 44, 642-672. Hojsak et al. JPGN 2015; 60(1): 142-145.
Adaptação à alimentação
Produtos específicos para alérgicos, locais de compra
Receitas de acordo com faixa etária
Como substituir o alérgeno em receitas
Leite: água ou suco de frutas ou bebidas alternativas; creme de
soja/arroz
Ovo: 1 colher de chá de fermento, 1 colher de sopa de água, 1
colher de sopa de vinagre ou 1 colher de sopa de farinha de linhaça ou chia misturado em 3 colheres de sopa de água
Trigo: mix de farinhas de glúten - 1kg de farinha de arroz, 330g de
fécula de batata, 165g de araruta ou 3 xícaras de farinha de arroz, 1 xícara de fécula de batata, ½ xícara de polvilho doce
Alimentação fora de casa
Recursos online
Groetch et al. J Allergy Clin Immunol Pract 2017; 5: 312-24. www.acelbra.org.br
Comportamento alimentar
Dificuldade alimentar:
Seletividade / pouca variedade
Disfagia
“Lentidão” para comer
Motivos: número de alimentos excluídos, retardo no diagnóstico, doença orgânica, baixo ganho de peso e alimentação mecânica, dificuldade de transição de textura, eventos traumáticos
Proctocolite / proctite alérgica menor risco de dificuldades alimentares
Maslin K, et al. Pediatr Allergy Immunol. 2016 Mar;27(2):141-6. Shanahan L et al. J Psychosom Res. 2014 Dec;77(6):468-73. Meyer R et al. J Gastroenterol Hepatol 2014; 29: 1764-1769. Maslin K, et al. Pediatr Allergy Immunol. 2015 Sep;26(6):503-8.
Impacto da dieta de exclusão
Sobrecarga pelos sintomas:
Sangue nas fezes (proctocolite / proctite)
Dificuldade de sono
Choro persistente
Dor abdominal
Qualidade de vida comprometida:
Transgressões acidentais e demora na melhora dos sintomas
Riscos:
Aceitação da alimentação
Não postergar introdução de alimentos
Diferentes texturas (de acordo com idade/alimento): cru, purê
fino ou grosso, purê com pedaços, cozidos macios em
pedaços (“finger food”), crocantes (congelados, assados,
chips)
Local apropriado: à mesa, sem distrações
Utensílios: copo, canudo, colher
Relação positiva com alimentação
Avaliar necessidade de encaminhamento para fonoaudiologia
Groetch et al. J Allergy Clin Immunol Pract 2017; 5: 312-24. Mattingly et al. J Pulm Respir Med 2015; 5(4).