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PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

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Academic year: 2021

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Registro: 2020.0000885726

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos do Agravo de Instrumento nº 2122886-69.2020.8.26.0000, da Comarca de Paulínia, em que são agravantes DEAD SEA WORKS LIMITED, IBERPOTASH S.A. e YUNNAN PHOSPHATE HAIKOU CO. LTD, é agravada FERTILIZANTES HERINGER (EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL).

ACORDAM, em 2ª Câmara Reservada de Direito Empresarial

do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão "Deram provimento ao recurso, com observação e determinação. V. U.", de conformidade com voto do Relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos.

Desembargadores SÉRGIO SHIMURA (Presidente) e MAURÍCIO PESSOA.

São Paulo, 27 de outubro de 2020

GRAVA BRAZIL RELATOR

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AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº: 2122886-69.2020.8.26.0000

AGRAVANTES: DEAD SEA WORKS LIMITED, IBERPOTASH S.A. E YUNNAN PHOSPHATE HAIKOU CO. LTD

AGRAVADA: FERTILIZANTES HERINGER (EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL)

INTERESSADA: LASPRO CONSULTORES LTDA (ADMINISTRADORA JUDICIAL)

COMARCA: PAULÍNIA

JUÍZA PROLATORA: MARTA BRANDÃO PISTELLI

Agravo de Instrumento – Recuperação Judicial – Decisão agravada que entendeu extemporâneas manifestações dos credores quanto à opção de recebimento de seus créditos, apresentadas após 20.03.2020, observado o prazo de trinta dias da publicação da decisão homologatória do plano de recuperação judicial, neste previsto, à exceção dos credores cujos patronos não foram dela intimados – Inconformismo – Acolhimento – Pandemia de Covid-19 cujos efeitos já eram sentidos no Brasil e no mundo antes de 20.03.2020 – Atividades e processo decisório das empresas que foram afetados em diferentes momentos e de diferentes formas – Prejuízo ao exame das opções de recebimento dos créditos previstas no plano de recuperação judicial homologado e à tomada de decisão a respeito por parte de diversos credores – Oposição de

embargos de declaração em face da decisão

homologatória, republicação da decisão homologatória e da decisão integrativa e suspensão dos prazos processuais em razão da pandemia que também foram eventos aptos a causar confusão ou, no mínimo, gerar dúvida razoável a credores quanto ao prazo para exercício da opção – Por outro lado, inexistência de prejuízo à recuperanda, a quem cabia estar preparada, quaisquer que fossem as opções dos credores, por ela própria elaboradas e ofertadas – Exigência que se mantém, haja vista a discussão travada a respeito do prazo para exercício da opção em primeiro e segundo graus – Decisão agravada reformada, para

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devolver o prazo em questão para todos os credores (art.

1.005, caput , do CPC), nos termos desta decisão –

Recurso provido, com observação e determinação.

VOTO Nº 33120

1 – Trata-se de agravo de instrumento tirado de

decisão prolatada no processo de recuperação judicial de Fertilizantes Heringer S.A., com o seguinte teor, no que releva para o recurso (fls. 17.866/17.868 dos autos de origem):

“Fls. 17690/17694 e 17719/17729:

Na esteira do expressado pela Recuperanda e Administradora Judicial, não há falar em suspensão de prazos no presente feito.

Ora, de início é necessário fazer a distinção entre prazos processuais e prazos materiais.

Sabe-se que o prazo é o lapso temporal entre o termo inicial e o termo final. Sendo assim, há formas diferentes de contagem dos prazos em razão da natureza deles, podendo o prazo [ser] processual ou material.

No prazo processual, contam-se apenas os dias úteis; no material, conta-se o prazo em dias corridos. A diferença entre a natureza dos prazos é que para os atos praticados dentro do processo, incidirá a contagem para prazos processuais, ou seja, em dias úteis e, para os atos praticados fora do processo, a contagem será a do prazo material, ou seja, em dias corridos.

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No caso em tela, patente que trata-se de prazo material, contado em dias corridos, portanto. Isto pois, trata-se de prazo definido em Assembleia Geral de Credores, fora dos autos, definindo atos a serem praticados também fora dos autos, através do envio de e-mail pelos credores diretamente à Administradora Judicial.

Assim, uma vez esgotado o prazo material para envio da opção à administradora judicial, não há falar em suspensão ou sua extensão fundamentada na suspensão dos prazos processuais, sob pena de configurar tratamento desigual a credores em situação de igualdade. Ademais, como bem destacado pela Administradora Judicial, mesmo que fosse considerada a data do 'lockdown' (24/03/2020), verifica-se que o prazo para o envio dos dados findou-se 4 dias antes da medida decretada pelo governo estadual, não havendo qualquer prejuízo aos credores.”

Opostos embargos de declaração, foram rejeitados (fls. 18.718/18.721).

Inconformadas, recorrem Dead Sea Works Limited, Yunnan Phosphate Haikou Co. Ltd e Iberpotash S.A. Em resumo, sustentam que, em razão dos efeitos da pandemia de covid-19, que começaram na China ainda em novembro de 2019 e já eram sentidos na Europa e no Brasil antes de 20.03.2020, advogados de credores brasileiros e estrangeiros

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tiveram dificuldades em contatar seus clientes e obter retorno deles, bem como os credores, sobretudo os estrangeiros, tiveram prejudicada a análise e esclarecimento de eventuais dúvidas sobre as opções de pagamento oferecidas, impedindo que manifestassem sua escolha até aquela data. Destacam que prova disso foram os vinte e dois pedidos de prorrogação de prazo, apresentados, em sua maioria, por credores estabelecidos em locais considerados como epicentro da pandemia. Defendem que a decisão agravada fere os princípios da isonomia e da razoabilidade, sendo irrelevante a natureza do prazo diante da excepcionalidade da situação. Invocam recomendação do CNJ de que os magistrados atuantes na justiça estadual autorizem modificações nos planos de recuperação judicial, quando comprovada a diminuição na capacidade de cumprimento de obrigações em decorrência da pandemia de covid-19, e quanto à possibilidade de prorrogação do stay period , de modo que o próprio CNJ teria admitido a flexibilização de prazos materiais quando a pandemia inviabilize seu cumprimento. Alegam que os credores quirografários e, entre estes, os estrangeiros, em especial, como é o seu caso (sediadas na China, Espanha e Israel), são prejudicados com a decisão agravada. Alegam que tentaram obter esclarecimentos sobre as opções dias antes do encerramento do prazo apontado na decisão agravada, primeiro, junto à

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administradora judicial, e, na sequência, junto à recuperanda, por orientação da primeira, e que, após demora nas respostas, justificada por estarem todos trabalhando remotamente em razão da pandemia, ainda assim não obtiveram o esclarecimento pretendido. Asseveram que a agravada não sofrerá prejuízo com a reforma da decisão recorrida, haja vista que não atrasaria em nada o andamento da recuperação judicial, nem o pagamento dos quirografários, sujeito a período de carência. Destacam que, no Brasil, as medidas relacionadas à pandemia iniciaram muito antes de 24.03.2020, data considerada pelo juízo de origem como termo inicial dos reflexos dela, inclusive as adotadas pelo CNJ e por este Tribunal, dentre outras, que elencam. Requerem a reforma da decisão agravada, “prorrogando-se o prazo de opção de pagamento dos credores quirografários, previsto na cláusula 3.3. do Plano de

Recuperação Judicial, em pelo menos 15 (quinze) dias”. Não houve

pedido de efeito suspensivo, nem de antecipação da tutela recursal.

O recurso foi processado (fls. 616/619). A contraminuta foi juntada a fls. 631/641. Manifestação do administrador judicial a fls. 622/629, opinando pelo desprovimento do recurso.

Ouvida, a d. Procuradoria Geral de Justiça, por meio de parecer da lavra do i. Promotor Washington Gonçalves

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Vilela Jr., se posicionou pelo desprovimento do recurso (fls. 646/647).

A r. decisão agravada e a prova da intimação encontram-se a fls. 68/70 e 64/67. O preparo foi recolhido (fls. 14/15).

É o relatório do necessário.

2 O recurso deve ser provido.

Trata-se, no caso, de discussão concernente à prorrogação de prazo previsto no plano de recuperação judicial da agravada, homologado pelo juízo de origem, para que os credores informassem, diretamente à recuperanda e à administradora judicial, a forma escolhida para recebimento de seu crédito, dentre as opções previstas no plano homologado. Previu-se, para essa finalidade, o prazo de 30 (trinta) dias, contados da publicação da decisão homologatória.

Diversos credores, contudo, apresentaram pedidos de prorrogação de prazo, ou enviaram suas opções após 30 (trinta) dias corridos da publicação da decisão homologatória, sob argumentos diversos, sendo os principais deles: (i) não terem os patronos do credor, embora requerida

sua habilitação nos autos, sido intimados da decisão homologatória; (ii) a oposição de embargos de declaração em

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judicial, a republicação desta e da decisão integrativa, e a suspensão dos prazos processuais determinada em razão da pandemia de Covid-19; e (iii) dificuldades causadas pela

pandemia, no Brasil e em outros países, iniciadas muito antes de 24.03.2020, que impactaram o processo decisório das empresas, sobretudo aquelas com controladoras estrangeiras, que foram antes afetadas, impedindo-as de examinar adequadamente, no prazo previsto, as opções ofertadas.

Compartilha-se do entendimento da agravante de que a discussão quanto à natureza material ou processual do prazo em questão, que foi o fundamento central da decisão agravada, é irrelevante para a decisão sobre a matéria debatida.

Isso porque é fato público e notório que a pandemia de Covid-19 se iniciou e teve seus efeitos sentidos muito antes de 20.03.2020. Na Europa e na Ásia, em fevereiro de 2020, quando publicada, pela primeira vez, a decisão homologatória (DJE de 19.02.2020), a pandemia já havia se instalado. No Brasil, no início de março de 2020, os efeitos da pandemia já eram sentidos, e empresas, comércios, instituições públicas e privadas, já começavam a tomar providências para evitar o alastramento do vírus, independentemente da decretação oficial de quarentena e da suspensão de prazos processuais.

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Nesse contexto, é, até mesmo, intuitivo que o processo decisório das empresas, sobretudo (mas não se limitando a) daquelas controladas por empresas estrangeiras, tenha sido prejudicado pela pandemia. Não se tratava, apenas, de enviar um e-mail à agravada manifestando a opção escolhida. Tratava-se, nos níveis hierárquicos com poderes para a tomada de decisão, de examinar cada uma das opções ofertadas (seis diferentes para os credores quirografários) e escolher a opção de recebimento do crédito que o credor entendesse melhor lhe atender, entre aquelas propostas pela devedora.

No entendimento deste Relator, não se pode penalizar os credores cujos patronos foram intimados da decisão homologatória do plano de recuperação judicial, desde a primeira publicação, mas que tiveram o processo decisório afetado pela pandemia, prejudicando a análise e tomada de decisão sobre a opção de recebimento dos créditos que lhes seria mais conveniente.

Data venia de entendimento diverso, isso não implica violação ao princípio da isonomia. Primeiro, porque cada credor poderia fazer a escolha que lhe aprouvesse, independentemente das escolhas feitas pelos demais credores. Segundo, porque os credores podem ter sido afetados de formas diferentes pela pandemia de Covid-19. E terceiro,

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porque eventual prorrogação ou devolução do prazo para manifestação da opção poderia valer para todos os credores, até mesmo para aqueles que já manifestaram suas opções, de forma a evitar qualquer tipo de prejuízo a estes, à luz do tempo decorrido desde que o fizeram.

Por outro lado, não se vislumbra legitimidade na oposição da agravada à extensão ou devolução desse prazo. Não há prejuízo à recuperanda. Foi ela própria quem elaborou e propôs as opções de recebimento dos créditos, para que os credores escolhessem. Cabia-lhe estar preparada para quaisquer que fossem as opções dos credores, entre aquelas ofertadas. Suscitada a discussão quanto ao prazo em primeiro grau e trazida ao segundo grau, cabia-lhe, também, estar preparada ante o que viesse a ser decidido a respeito.

Por fim, convém mencionar que o Conselho Nacional de Justiça recomendou flexibilidade em questões relacionadas a processos de recuperação judicial, à luz dos efeitos da pandemia (Recomendação n. 63). Essa possível flexibilidade não pode se aplicar apenas às devedoras/recuperandas, pois não foram as únicas impactadas pela situação excepcional ocorrida no Brasil e no mundo. No caso, essa flexibilidade se justifica em favor dos credores, para garantir que todos tenham efetiva e idêntica condição de examinar e escolher a opção de recebimento do crédito que

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melhor lhe atende, o que, repita-se, não impõe prejuízo à recuperanda, que foi quem elaborou as opções, para que os credores escolhessem.

Sem prejuízo do acima exposto, anota-se que a oposição de diversos embargos de declaração em face da decisão homologatória do plano de recuperação judicial (ainda que versando sobre outros pontos); a republicação da decisão homologatória e da decisão dos embargos de declaração; e a suspensão dos prazos processuais a partir de 16.03.2020, em razão da pandemia de Covid-19; também foram eventos aptos a causar confusão ou, no mínimo, dúvida razoável aos credores quanto ao prazo de exercício da opção, justificando a devolução desse prazo a todos, desta feita, com total clareza em relação ao termo inicial e final. Não à toa, esses fatores levaram a opiniões divergentes entre os i. representantes do Ministério Público que examinaram a questão em segundo grau, no âmbito dos recursos interpostos por diversos credores em face da decisão agravada (veja-se, por exemplo, o parecer ofertado pelo i. Procurador Carlos Alberto Amin Filho no AI n. 2183505-62.2020.8.26.0000, julgado conjuntamente com este).

3 Pelos fundamentos expostos, de rigor a

reforma da decisão agravada, nos seguintes termos:

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aqueles que já tenham manifestado opção anteriormente (art. 1.005, caput , do CPC), o prazo de 30 (trinta) dias corridos para informar à recuperanda a opção escolhida para recebimento de seus créditos, contado o prazo do primeiro dia útil seguinte ao da data de publicação deste acórdão, que deverá ser realizada em nome de todos os advogados cadastrados no processo de origem;

(ii) com a devolução do prazo, e de modo a

garantir a isonomia entre todos os credores, haja vista o tempo decorrido, poderá haver alteração, pelos credores que assim desejarem, da opção que tenham manifestado anteriormente, desde que observado o prazo designado no item (i);

(iii) para os credores que não se manifestarem

no prazo ora designado, valerá (desde que seus patronos tenham sido devidamente intimados desse v. acórdão): (a) a

opção já manifestada anteriormente (ainda que fora do prazo apontado na decisão agravada), ou (b) a opção residual

prevista no plano de recuperação judicial para os credores que não se manifestassem sobre a opção escolhida.

Observa-se que essa decisão se aplica exclusivamente ao prazo ora tratado e que é objeto do recurso (prazo de trinta dias para os credores apresentarem a opção escolhida para recebimento de seus créditos, dentre aquelas

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previstas no plano homologado), não se aplicando a qualquer outro prazo previsto no plano de recuperação judicial homologado.

Deverá a Serventia zelar para que todos os advogados cuja habilitação foi requerida nos autos de origem estejam cadastrados antes da publicação do v. acórdão.

4 - Eventuais embargos declaratórios serão

julgados em sessão virtual, salvo se manifestada oposição na própria petição de interposição dos embargos, nos termos da Resolução n.º 549/2011, do C. Órgão Especial, deste E. Tribunal de Justiça, entendendo-se o silêncio como concordância.

5 Ante o exposto, dá-se provimento ao recurso,

com observação e determinação. É o voto.

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