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A toponímia cearense em documentos do século XIX

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE HUMANIDADES

DEPARTAMENTO DE LETRAS VERNÁCULAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LINGUÍSTICA

PATRÍCIA DE OLIVEIRA BATISTA

A TOPONÍMIA CEARENSE NO SÉCULO XIX

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A TOPONÍMIA CEARENSE NO SÉCULO XIX

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Linguística da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Linguística. Área de concentração: Linguística.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Emilia Maria Peixoto Farias.

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Universidade Federal do Ceará

Biblioteca de Ciências Humanas

B337t Batista, Patrícia de Oliveira.

A toponímia cearense no século XIX / Patrícia de Oliveira Batista. – 2011.

143 f. : il. color., enc. ; 30 cm.

Dissertação (mestrado) – Universidade Federal do Ceará, Centro de Humanidades,

Departamento de Letras Vernáculas, Programa de Pós-Graduação em Linguística, Fortaleza, 2011. Área de Concentração: Linguística.

Orientação: Profa. Dra. Emilia Maria Peixoto Farias.

1.Nomes geográficos – Ceará – Séc.XIX. 2.Toponímia. I. Título.

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PATRÍCIA DE OLIVEIRA BATISTA

A TOPONÍMIA CEARENSE NO SÉCULO XIX

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Linguística da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Linguística. Área de concentração: Linguística.

Aprovada em: ___/___/______.

BANCA EXAMINADORA

________________________________________ Prof.ª Dr.ª Emilia Maria Peixoto Farias (Orientadora)

Universidade Federal do Ceará (UFC)

_________________________________________ Prof. Prof. Dr. Antonio Luciano Pontes Universidade Estadual do Ceará (UECE)

_________________________________________ Prof.ª Dr.ª Maria Elias Soares

Universidade Federal do Ceará (UFC)

_________________________________________ Prof.ª Dr.ª Maria do Socorro Silva de Aragão (Suplente)

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, por tudo.

À minha família, pelo apoio em todos os meus desafios.

À minha orientadora, Prof.ª Dr.ª Emilia Maria Peixoto Farias, pelo profissionalismo com que me conduziu desde o período de iniciação científica, pela orientação criteriosa e pelas palavras valiosas de incentivo.

Aos professores e funcionários do Programa de Pós-Graduação em Linguística, em especial à Prof.ª Dr.ª Maria Elias Soares, pelas críticas fundamentais, tanto durante suas aulas, como no exame de qualificação do projeto de pesquisa.

Ao Prof. Dr. Antonio Luciano Pontes, pelas importantes críticas e sugestões para o desenvolvimento deste trabalho.

À Prof.ª Dr.ª Maria do Socorro Silva de Aragão, pela contribuição com sugestões bibliográficas.

Ao Prof. Dr. Expedito Eloísio Ximenes, pelo incentivo no desenvolvimento desta pesquisa, pelas valiosas informações compartilhadas e, sobretudo, por ter me contagiado com o seu apreço pela Filologia e pela Linguística Histórica.

À Prof.ª Dr.ª Rosemeire Selma Monteiro-Plantin, por ter me acolhido no Estágio de Docência no curso de Letras durante o curso de Mestrado.

Aos mestres e amigos dos grupos de pesquisa Tradições Discursivas do Ceará (TRADICE) e Práticas de Edição de Textos do Estado do Ceará (PRAETECE), pelo ambiente familiar com que acolhem todos os seus integrantes e pelos momentos de aprendizado.

Aos amigos do Programa de Pós-Graduação em Linguística e do Curso de Letras, pelo convívio saudável e pelas críticas e sugestões.

Aos funcionários do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Arquivo Público do Estado do Ceará (APEC), pela atenção especial no fornecimento de informações e documentos para esta pesquisa.

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RESUMO

A Toponímia é a ciência que estuda os nomes próprios de lugares. Os estudos toponímicos têm se revelado de grande importância para o resgate de características culturais, ideológicas e linguísticas dos grupos humanos que habitaram ou habitam um dado lugar, bem como para a recuperação de aspectos físicos do próprio lugar. Com base nessas considerações, o objetivo deste trabalho foi descrever a motivação toponímica de 54 nomes de lugares que aparecem registrados nos 67 autos de querela editados por Ximenes (2006) e traçar o perfil toponomástico do Ceará oitocentista até os dias atuais, a fim de identificar as possíveis mudanças toponomásticas ocorridas ao longo do tempo. Os fundamentos teóricos e os procedimentos metodológicos que nortearam esta pesquisa tiveram como base as contribuições de Dick (1992), que descreveu um modelo taxionômico toponímico, o qual apresenta 27 taxes, sendo 11 de natureza física e 16 de natureza antropocultural. Os dados foram registrados em fichas lexicográfico-toponímicas que constituem o modelo proposto por Dick (2004). Verificou-se que 53% dos topônimos são de natureza antropocultural e 47% são de natureza física. A partir de pesquisa bibliográfica e documental, foi possível reconstituir importantes aspectos históricos, geográficos, culturais e linguísticos do Ceará por meio da análise de seus topônimos.

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ABSTRACT

Toponymy is the science of proper names of places. Toponymic studies have proved great importance for the rescue of cultural, ideological and linguistic features of groups of humans who lived or live in a given place, as well as for the recovery of the physical aspects of the place itself. Based on these considerations, the aim os this study was to describe the toponymic motivation of 54 place names out of the 67 ones recorded in the records of complaint edited by Ximenes (2006) and to describe the toponomastic profile of Ceará from nineteenth century to the present days, in order to identify possible toponomastic changes occurring over time. The theoretical fundaments and methodological procedures that guided this research was based on the contributions of Dick (1992), who described a taxonomic toponymic model featuring 27 taxes, out of which 11 are physical natured and 16 are of antropocultural nature. Data were recorded in lexical-toponymic cards which is the model proposed by Dick (2004). It was found that 53% of the toponyms are of antropocultural nature and 47% are of physical nature. From literature and documental research, it was possible to reconstruct important aspects of history, geography, culture and linguistics of Ceará through the analysis of its place names.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Ficha 1 – Modelo de ficha lexicográfico-toponímica ... 51

Ficha 2 – Modelo de ficha lexicográfico-toponímica preenchida ... 52

Ficha 3 – Ficha lexicográfico-toponímica adaptada ... 53

Ficha 4 – Ficha lexicográfico-toponímica adaptada e preenchida ... 53

Gráfico 1 – Distribuição dos topônimos nas categorias de natureza física e antropocultural ... 62

Gráfico 2 – Distribuição dos topônimos em taxes léxico-semânticas de natureza física ... 63

Gráfico 3 – Distribuição dos topônimos em taxes léxico-semânticas de natureza antropocultural ... 66

Quadro 1 – Municípios da Mesorregião 1 (Noroeste Cearense) ... 46

Quadro 2 – Municípios da Mesorregião 2 (Norte Cearense) ... 47

Quadro 3 – Municípios da Mesorregião 3 (Região Metropolitana de Fortaleza) ... 48

Quadro 4 – Municípios da Mesorregião 4 (Sertões Cearenses) ... 48

Quadro 5 – Municípios da Mesorregião 5 (Jaguaribe) ... 49

Quadro 6 – Municípios da Mesorregião 6 (Centro-Sul Cearense) ... 49

Quadro 7 – Municípios da Mesorregião 7 (Sul Cearense) ... 50

Quadro 8 – Classificação e definição dos topônimos de natureza física ... 55

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 12

2 BREVE CRONOLOGIA DOS ESTUDOS TOPONÍMICOS ... 16

3 TOPONÍMIA: princípios teóricos ... 27

3.1 A atividade humana de nomeação ... 27

3.2 Lexicologia, Onomástica e Toponímia: definições ... 28

3.3 Toponímia e interdisciplinaridade ... 31

3.4 O topônimo ... 34

3.4.1 O signo linguístico, o signo toponímico e a questão da motivação ... 34

3.4.2 Origem e importância ... 38

3.4.3 Estrutura ... 40

3.5 Classificação léxico-semântica dos topônimos ... 42

3.5.1 Taxes de natureza física ... 42

3.5.2 Taxes de natureza antropocultural ... 43

4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ... 44

4.1 A pesquisa documental ... 44

4.2 A pesquisa bilbiográfica ………..……….………….…. 44

4.3 Técnicas para coleta e delimitação do corpus ………...… 45

4.4 Classificação dos topônimos em Meso e Microrregioes ……… 45

4.5 Instrumento de registro e arquivamento dos dados ……… 51

4.6 Classificação dos topônimos em taxes ... 54

4.6.1 Taxes de natureza física ... 55

4.6.2 Taxes de natureza antropocultural ... 55

4.7 Procedimentos e critérios para análise dos dados ... 56

5 A TOPONÍMIA CEARENSE EM DOCUMENTOS DO SÉCULO XIX ... 58

5.1 Perfil toponomástico do Ceará no século XIX ... 60

5.2 Percurso toponomástico e taxionômico dos nomes de lugares cearenses 69 5.2.1 Percurso toponomástico dos denominativos de vilas ... 70

5.2.2 Percurso taxionômico dos denominativos de vilas ... 78

5.2.3 Percurso toponomástico dos denominativos de povoações ... 80

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5.2.5 Percurso toponomástico dos denominativos de serras ... 88

5.2.6 Percurso taxionômico dos denominativos de serras ... 89

5.2.7 Percurso toponomástico dos denominativos de ribeiras e rios ... 90

5.2.8 Percurso taxionômico dos denominativos de ribeiras e rios ... 91

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 92

REFERÊNCIAS ... 95

APÊNDICES ... 102

APÊNDICE A –Corpus extraído dos 67 Autos de Querela ... 103

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1 INTRODUÇÃO

O ato de nomear é uma atividade humana tão antiga quanto a própria linguagem, por meio do qual são registradas e perpetuadas características culturais, sociais e linguísticas dos indivíduos nomeadores. O denominativo de lugar, por sua vez, desde os tempos mais remotos, orienta o homem na ocupação dos espaços geográficos e na demarcação de seu território.

A Toponímia, subárea da Onomástica, investiga os nomes próprios de lugares e, de forma interdisciplinar, os aspectos extralinguísticos que subsidiam o ato denominativo, aspectos históricos, geográficos e sociais, por exemplo.

No Brasil, os primeiros estudos em Toponímia concentravam-se na etimologia das palavras de língua indígena, com vistas a uma reconstituição também de natureza histórica e geográfica. Dick (2006, p. 94), quando traça o panorama dos primeiros estudos sobre Toponímia no Brasil, mostra que, no início, devido às condições de colonização, os estudos concentravam-se “[...] mais nas línguas da terra, especialmente no tupi antigo, do que no próprio elenco denominativo do português.” Interessava às pesquisas tradicionais a perspectiva descritiva da língua, tendo como base suas características etimológicas e morfológicas e os dados da significação dos nomes geográficos.

Considerado o pioneiro, Sampaio (1901)1 destacou-se na investigação toponímica

brasileira com a publicação de sua obra O tupi na geografia nacional, em que apresenta um estudo sobre a influência do tupi nos topônimos brasileiros (TIZIO, 2009).

Posteriormente, surgem os trabalhos de Cardoso (1961)2, como a publicação

Toponímia Brasílica, elaborada a partir de investigações sobre a influência das línguas karib e

arawak na toponímia da Amazônia.

Outro importante colaborador para os estudos toponímicos no Brasil foi Drumond (1965)3, que pesquisou os topônimos de origem bororo da região Centro-Oeste. Em sua obra

Contribuição do bororo à toponímia brasílica, evidencia a ausência de sistematicidade metodológica na investigação toponímica e sinaliza que os estudos toponímicos brasileiros feitos até então tinham como base os nomes de origem tupi.

Atualmente, a Toponímia busca, entre outros objetivos, recuperar as motivações

1 SAMPAIO, Teodoro. O tupi na geografia nacional. 1901.

2 CARDOSO, Armando Levy. Toponímia Brasílica. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora, v. 09,

1961, 475p. (Coleção General Benício).

3 DRUMOND, Carlos. Contribuição do bororo à toponímia brasílica. São Paulo: Instituto de Estudos

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que influenciaram a constituição dos nomes de lugares, relacionadas às circunstâncias de formação dos espaços ocupados pelo homem, contribuindo para a elucidação de informações valiosas sobre a memória social de grupos humanos. Os topônimos, na condição de registros vivos da cultura de um povo, comprovam a riqueza lexical de uma língua, já que neles são preservados valores, crenças e tradições que marcaram uma sociedade.

Nessa perspectiva, a partir do levantamento de bibliografia sobre estudos toponímicos no estado do Ceará, observamos que as investigações sobre o seu perfil toponomástico são escassas frente à tradição de pesquisas em Toponímia desenvolvidas em outros estados brasileiros, principalmente no que diz respeito à busca da motivação semântica dos topônimos contemporâneos aos períodos mais remotos da ocupação do território cearense. A partir disso, sentimos que um trabalho voltado para um período histórico específico, neste caso o início do século XIX, poderia ampliar o conhecimento sobre a realidade toponímica cearense, bem como resgatar os aspectos socioculturais preservados em seus topônimos.

Diferentemente da maioria das pesquisas toponímicas, que partem de registros hodiernos para se recuperar o passado dos lugares, o nosso ponto de partida é o próprio passado, documentos oitocentistas denominados autos de querela. Acreditamos que quanto mais próximos forem esses documentos da época de ocupação da Capitania do Ceará mais informações eles podem nos revelar sobre as circunstâncias de ocupação e o contexto motivacional do ato denominativo do espaço ocupado.

Nossa escolha por registros do século XIX justifica-se, primeiramente, por pertencerem a um período da história do Brasil caracterizado pela circulação de grande volume de documentos públicos e oficiais. Trata-se de manuscritos originais e muitos deles sem uma cópia, de onde advém a importância das edições paleográficas e filológicas que garantem a preservação desses documentos antigos.

Os autos de querela são documentos que pertencem à esfera judicial, nos quais estão registrados diferentes tipos de crimes ocorridos na Capitania do Siará Grande. Neles há informações diversas sobre a vida e os costumes das pessoas do século XIX, bem como informações sobre a situação geográfica, política, social, administrativa e cultural da colônia de um modo geral.

A escolha por autos de querela deve-se ao fato de esses registros já se encontrarem editados e publicados, conforme normas de edição semidiplomática adotadas por Ximenes (2006) para conservação de informações o mais próximo possível dos manuscritos.

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filológicas na dimensão linguística, que busca caracterizar a língua quanto aos seus aspectos paleográficos, textuais, discursivos, lexicais, para citar alguns, recuperados em documentos antigos. Estudos dessa natureza vêm sendo desenvolvidos por pesquisadores como Ximenes (2004, 2006, 2009), responsável por impulsionar, no Ceará, as pesquisas em Filologia, e por outros pesquisadores que compõem os grupos de pesquisa Tradições Discursivas do Ceará (TRADICE) e Prática de Edição de Textos do Estado Ceará (PRAETECE). O TRADICE, enquanto integrante do Projeto para a História do Português Brasileiro (PHPB), tem como objetivo reconstituir a história linguístico-social do Brasil, por meio da caracterização de diferentes práticas discursivas atinentes aos diferentes períodos da história da nossa língua. Já o PRAETECE tem como objetivo a preservação de documentos e edição de textos para estudos da língua portuguesa e da história social e cultural do estado do Ceará.

Diante do exposto, objetivamos nesta pesquisa: (i) descrever a origem e a motivação de 54 nomes de lugares cearenses coletados em documentos do século XIX; (ii) classificar os topônimos com base nas categorias taxionômicas de natureza física e antropocultural propostas por Dick (1992); (iii) analisar qualitativa e quantitativamente os topônimos de acordo com as taxes de natureza física e antropocultural; (iv) traçar o percurso onomástico dos 54 topônimos a fim de resgatar a história de mudança desses denominativos.

As hipóteses que orientaram esta pesquisa são: (i) os topônimos cearenses refletem aspectos da realidade sócio-histórica do período em que ocorreu a nomeação; (ii) o léxico toponímico de lugares cearenses do século XIX tem como base taxes de natureza física e antropocultural; (iii) qualitativamente, o resgate de informações históricas sobre o território cearense contribui sobremaneira para o esclarecimento das mudanças toponomásticas, bem como da causa motivacional de cada denominação; (iv) quantitativamente, as taxes de natureza antropocultural se sobrepõem às de natureza física.

Nosso trabalho está organizado em sete capítulos: o primeiro, Introdução, apresenta a motivação da pesquisa e os objetivos delineados nesta investigação; o segundo,

Breve cronologia dos estudos toponímicos, apresenta as principais investigações toponímicas realizadas em diferentes países, no Brasil e, especificamente, no Ceará, de modo que conheçamos a literatura produzida sobre o tema.

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O quarto capítulo, Procedimentos metodológicos, trata das diretrizes de execução desta pesquisa; do instrumento de registro e arquivamento dos dados; da classificação dos topônimos em taxes e dos procedimentos e critérios para análise dos dados.

O quinto capítulo, A Toponímia cearense em documentos do século XIX, apresenta a análise e a discussão do enquadramento dos topônimos no modelo taxionômico proposto por Dick (1992), que taxes são mais recorrentes e as transformações toponomásticas de cada lugar, encerrando com a descrição das singularidades do perfil toponímico cearense oitocentista.

Posteriormente, são apresentadas as Considerações finais, seguidas das

Referências e dos Apêndices, em que constam as fichas lexicográfico-toponímicas de todos os topônimos analisados e o detalhamento do corpus.

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2 BREVE CRONOLOGIA DOS ESTUDOS TOPONÍMICOS

Os estudos sobre nomes próprios de lugar mostram que esses designativos além de constituírem o léxico comum de uma língua, também são responsáveis pela preservação de valores culturais e ideológicos pertencentes a uma determinada comunidade geográfica. Revestido de importância linguística e extralinguística, o topos tem sido objeto de reflexão ao longo dos séculos. Apresentamos, a seguir, alguns trabalhos realizados sob o âmbito da Onomástica e da Toponímia em diferentes partes do mundo, no Brasil e, especificamente, no Ceará.

Como corpo disciplinar sistematizado, a Toponímia, ciência que estuda os nomes próprios de lugar, surgiu na Europa, mais particularmente na França, por volta de 1878, com Auguste Longnon, responsável por introduzir os primeiros estudos regulares na École Pratique des Hautes-Études e no Colégio de França. Após a morte de Longnon, alguns de seus alunos publicaram, por volta de 1912, a obra Les noms de lieu de la France, a partir do curso ministrado pelo professor (DICK, 1992).

Em 1922, Albert Dauzat, por ocasião de uma conferência na mesma École

Pratique, retomou os estudos toponímicos interrompidos com a morte de Longnon. Em sua

Chronique de Toponymie, Dauzat reuniu uma bibliografia com diversas fontes e trabalhos até então publicados sobre nomes antigos de lugares.

Segundo Dick (1992, p.1), com vistas à sistematização dos processos de investigações toponímicas, Dauzat organizou o I Congresso Internacional de Toponímia e Antroponímia, em 1938, reunindo vinte e um países. As propostas de estudos contempladas no evento podem ser assim resumidas: realização periódica de congressos internacionais de Toponímia e Antroponímia; criação de uma Sociedade Internacional de Toponímia e Antroponímia; criação, nos países que não possuírem, de departamentos oficiais para a elaboração de glossários de nomenclatura geográfica e sistematização dos processos de pesquisas.

O segundo Congresso Internacional de Toponímia e Antroponímia também foi em Paris, em 1947, e o terceiro em Bruxelas, em 1949. De acordo com Lillo (1995), a partir daí organizou-se um Comitê Internacional de Ciências Onomásticas, que fundou a revista

Onoma. Simultaneamente, surge a revista Onomástica, editada por Dauzat, a qual foi posteriormente conhecida pelo nome de Revue Internationale d’Onomastique.

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modelos de “orientação temática” que marcaram as pesquisas na antiga União Soviética: problemas gerais de teoria toponímica e de métodos de pesquisas geográficas; os nomes geográficos da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS); nomes geográficos de países estrangeiros. Pospelov destacou as contribuições do Instituto de Linguística da Academia de Ciências da Ucrânia e a Sociedade Geográfica Russa, os quais possuem Comissões Toponímicas (DICK, 1992).

No que concerne aos estudos toponímicos na Espanha, podemos destacar o trabalho de Nieto Ballester (1997), que, em seu Breve diccionario de topónimos españoles, apresenta uma análise significativa de topônimos espanhóis influenciados por diferentes etnias: pré-romanos, relacionados aos topônimos que já existiam antes da romanização da península Ibérica; latino-românicos, trazidos pelos romanos; moçárabes, palavras remanescentes da língua latina falada nos territórios dominados pelos árabes; germânicos, surgidos no período de enfraquecimento do Império Romano na Península Ibérica; e árabes, topônimos trazidos a partir do século VIII quando se iniciou o domínio árabe na Espanha.

Sobre estudos de topônimos portugueses, podemos destacar os trabalhos de Vasconcelos (1931)4 e Carvalhinhos (2003, 2004, 2005, 2007). Vasconcelos (1931), em sua

obra Opúsculos Vol. III, sugere uma divisão dos estudos dos nomes geográficos em três níveis: classificação por línguas, estudo das transformações fonéticas e da formação gramatical do topônimo e divisão dos nomes em categorias segundo as causas que os originaram (TIZIO, 2008, p. 20).

Carvalhinhos (2003, 2004, 2005, 2007) vem somar importantes contribuições no que concerne aos estudos toponímicos de Portugal. Em Onomástica e lexicologia: o léxico toponímico como catalisador e fundo de memória. Estudo de caso: os sociotopônimos de Aveiro (Portugal), Carvalhinhos (2003) analisa topônimos portugueses que denominam profissões, instituições, delimitações de terras ou aspectos da vida rural. Os topônimos analisados demonstraram uma tendência conservadora na toponímia do país, além da permanência de arcaísmos, palavras cujo surgimento provável terá sido no século XVI, e predominância de topônimos que refletem a relação entre o homem e a terra e as atividades agrícolas.

Em A onomástica e o resgate semântico: as antas, Carvalhinhos (2004) apresenta um estudo sobre a lexia anta, que em Portugal refere-se a um monumento de pedra e no Brasil de animal, e discute sobre a importância do contexto extralinguístico como forma de esclarecer as interpretações sobre a motivação de dado topônimo.

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Em Hierotoponímia portuguesa: os nomes de Nossa Senhora, Carvalhinhos (2005) analisa os 1.195 hierotopônimos referenes à entidade Nossa Senhora e propõe uma subcategorização semântica, a fim de identificar a motivação do segundo elemento, isto é, o título específico dado a Nossa Senhora. Nesta perspectiva, a pesquisadora identificou que os títulos atribuídos a Nossa Senhora refletem o estado de espírito dos devotos (Senhora dos Aflitos, Senhora da Piedade), objetos ou fatos sagrados, lugares e elementos físicos referentes à natureza (Nossa Senhora dos Olivais, Senhora das Areias, Senhora da Estrela, Senhora do Vale, Senhora da Fonte) etc.

Carvalhinhos (2007), em seu artigo Arcaísmos morfológicos na toponímia de Portugal, analisa alguns topônimos presentes na região portuguesa de Aveiro a fim de exemplificar casos de arcaísmos morfológicos, representados por sufixos em desuso na atualidade, os quais remetem, pelo menos, ao século X. A autora esclarece que pela natureza cristalizada dos morfemas estes auxiliam na recuperação do significado dos topônimos, evidenciando informações concernentes a épocas pretéritas do lugar estudado.

Em relação às pesquisas toponímicas sobre a África, Dick (1992, p. 3) descreve que foram realizados os seguintes estudos: a forma de registro dos topônimos nativos, considerando-se a heterogeneidade linguística; um apanhado geral sobre a toponímia sul-africana; a toponímia berbere no Saara Ocidental; a grafia dos topônimos marroquinos e a formação dos nomes tribais dos berberefones do Marrocos.

Em relação à Ásia, Dick (1992, p. 3) apresenta os estudos sobre a toponímia da Turquia, os quais procuraram descrever a influência dos topônimos da Ásia-Média sobre a Ásia-Menor, em virtude da migração, e a relação entre Toponímia e vida social em Istambul.

No que concerne aos estudos toponímicos no continente americano, destacam-se os trabalhos desenvolvidos nos Estados Unidos e no Canadá, principalmente em virtude de nesses países existirem diversos pesquisadores e órgãos especializados em Toponímia.

Nos Estados Unidos, destaca-se a revista Names, publicada oficialmente pela

American Name Society, fundada em 1951, em Detroit. Alguns dos principais objetivos desta revista são: estudar a etimologia, a origem, o significado e a aplicação das mais diversas categorias de nomes (geográfico, pessoal, científico, comercial e popular); divulgar os resultados desses estudos e conscientizar o povo americano sobre a importância dos nomes em todos os campos do conhecimento humano.

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De acordo com Dick (1992, p. 25), embora seja plausível a tentativa de sistematização de uma classificação toponímica, a aplicabilidade das categorias propostas por Stewart pode não satisfazer a todos os casos, pois alguns topos podem não ocorrer em todos os sistemas onomásticos, de forma a limitar o emprego das taxes.

No Canadá, destaca-se o Grupo de Estudos de Coronímia e de Terminologia Geográfica, que existe desde 1966 e que, embora seja associado ao Departamento de Geografia da Universidade de Laval (Québec), pretende integrar todas as áreas que se interessam pelo tema, principalmente a linguística, a história e a antropologia.

Sobre os estudos toponímicos no Chile, podemos citar o trabalho de Lillo (1995), que analisou os topônimos pré-hispânicos e hispânicos da região de La Araucanía, no sul do país, aprofundando os estudos toponímicos ao privilegiar a busca pela motivação inicial que influenciou o denominador no momento em que batizou os lugares estudados. Os topônimos estudados por Lillo (1995) são em sua maioria de origem mapuche5, seguidos pelos

topônimos de colônias europeias não hispânicas e, posteriormente, os nomes de origem hispânica. Os topônimos hispânicos caracterizam-se pela presença da “cruz”, da “espada” e do “diabo”. No caso dos topônimos mapuches, destacam-se nomes relacionados ao meio natural (morfotoponímia) e cultural (mitotoponímia).

No que diz respeito às pesquisas toponímicas no Brasil, destacamos as importantes contribuições de Dick (1980)6 e Santos (1983). Em sua tese de doutoramento

intitulada A motivação toponímica. Princípios teóricos e modelo taxeonômicos, Dick (1980) estudou as principais motivações semânticas dos topônimos e propôs um modelo de taxionomias léxico-semânticas que têm servido de modelo para diversas pesquisas (DICK, 1992).

Santos (1983), por sua vez, apresenta uma rica bibliografia de 169 trabalhos sobre

Toponímia. A obra divide-se em duas partes: Toponímia Geral, relacionada à Geografia, à Cartografia, à categorização dos nomes de cidades e rios brasileiros; e Linguística Geral, que

aborda a questão dos nomes de lugares relacionados à cultura indígena e ao folclore brasileiro.

Seguindo o percurso histórico de pesquisas brasileiras sobre Toponímia, é possível mencionar outros importantes trabalhos de Dick. Na obra A motivação toponímica e

5Segundo Lillo (1995), “o nome mapuche designa o conjunto de tribos indígenas que viviam dos dois lados da

Cordilheira dos Andes e falavam um mesmo idioma, mapudungun, que tinham os mesmos costumes, crenças e organização intena”.

6 DICK, Maria Vicentina de Paula do Amaral. A motivação toponímica. Princípios teóricos e modelos

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a realidade brasileira (1990), a pesquisadora apresenta o processo de transformação da toponímia brasileira, sob uma perspectiva fonética, bem como discute sobre os principais modelos taxionômicos que servem de referência para pesquisadores na atualidade.

Em Toponímia e Antroponímia no Brasil. Coletânea de estudos, Dick (1992) apresenta algumas reflexões sobre o desenvolvimento da Toponímia no Brasil, desde os primeiros estudos às perspectivas de pesquisas futuras, discute sobre a estrutura, a função do signo toponímico e o problema das taxionomias toponímicas, bem como apresenta breves trabalhos a respeito dos topônimos de origem indígena e africana, dos aspectos funcionais da Antroponímia e do Atlas Toponímico do Estado de São Paulo.

Dick (1996) apresenta a relação entre Toponímia e Dialetologia para o estudo da linguística geral. A autora afirma que para o esclarecimento da estrutura dos registros onomásticos é importante relacioná-los aos estratos dialetais e etnolinguísticos da região pesquisada.

Em A Motivação Etno-toponímica. Perspectivas Sincrônicas e Diacrônicas, Dick (1998b) discute sobre a motivação toponímica, pautada como verbalização de ideias, pensamentos, sentimentos e simbolismos religiosos, por exemplo, a qual resulta de um pensamento particularizante de indivíduos isolados ou de um grupo social.

Dick (1999), em seu artigo Contribuição do léxico indígena e africano ao português do Brasil, apresenta os principais campos de interferência indígena no vocabulário do Português Brasileiro (PB) analisados a partir de um corpus que corresponde ao período do quinhentismo ao setecentismo. As principais influências léxicas de origem indígena aparecem na: fitonímia, zoonímia, hidronímia, geomorfonímia, ergonímia e, menos recorrente, noonímia ou cultura espiritual. Quanto ao contato do PB com as línguas africanas, verificam-se os verificam-seguintes campos léxico-verificam-semânticos: fitonímia, zoonímia, litonímia, toponímia, hieronímia (deuses e cultos) e outros relacionados a festas, danças, moléstias, doenças etc.

Dick (2006) apresenta alguns aspectos conceituais de Toponímia e um breve percurso do desenvolvimento dessa área de investigação no Brasil, com o objetivo de introduzir estudantes no conhecimento científico dos estudos onomásticos e toponímicos. Posteriormente, apresenta os métodos e as fontes para a pesquisa toponímica.

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geográficos dos municípios (rios, lagoas, serras, bairros, vilas, sítios etc.), a classificação segundo o modelo tipológico taxionômico para se chegar ao traço motivador comum do município; e, por último, a representação cartográfica dos dados levantados.

Dick (2007a) faz referência a topônimos dos séculos XVI ao XVIII registrados por August Saint-Hilaire, em sua viagem às nascentes do São Francisco no início do século XIX. Neste aspecto, este trabalho se aproxima com o que estamos desenvolvendo por estudar topônimos registrados em documentos de sincronias distantes.

Em seu artigo A terminologia nas ciências onomásticas. Estudo de caso: o Projeto ATESP, Dick (2007b) apresenta um breve percurso histórico dos estudos onomásticos, faz considerações a respeito da terminologia toponímica de natureza taxionômica e retoma reflexões que ela fez em estudos anteriores para defender a natureza terminológica dos topônimos e dos antropônimos.

Seguindo uma perspectiva histórica, destaca-se o estudo de Santos e Seabra (2009), que, a partir de dois mapas históricos, o “Mapa da Capitania de Minas Gerais com as Divisas de suas Comarcas” (1778) e a “Carta Geográfica da Capitania de Minas Gerais” (1804), analisam os topônimos de assentamentos da população da Comarca do Serro Frio, território que envolve municípios das mesorregiões geográficas do Jequitinhonha, Norte de Minas e Metropolitana de Belo Horizonte. Nesse estudo, constatou-se uma maior produtividade de topônimos de natureza física, os hidrotopônimos e os litotopônimos.

No Brasil, atualmente, para a coleta e o registro de dados toponímicos, os pesquisadores se utilizam de diferentes fontes, que incluem desde cartas topográficas, arquivos de órgãos oficiais, a relatos orais de moradores e documentos diversos. A maioria das pesquisas visa a contribuições teóricas para o refinamento de modelos taxionômicos de classificação dos topônimos, resgatando informações sócio-históricas, etimológicas, etnolinguísticas e culturais, tanto de natureza sincrônica como diacrônica. Muitas dessas pesquisas são utilizadas como fonte de dados na elaboração de atlas linguísticos de cidades e regiões.

Na Região Sudeste, uma das mais produtivas no que concerne a estudos em Toponímia, destacam-se os trabalhos de Lopes (2008), Fazzio (2008), Tizio (2008) e Tizio (2009). Lopes (2008) analisou 177 topônimos que denominam acidentes geográficos físicos e humanos da zona rural de São João Batista da Glória (MG), fazendo o resgate histórico-social, utilizando, inclusive, relatos orais com pessoas dos lugres estudados.

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Tizio (2008) analisou os nomes atribuídos ao rio Tietê (SP), desde seus hidrotopônimos aos aglomerados urbanos distribuídos ao longo de toda a sua extensão, verifica como esses nomes foram dados e por quais alterações eles passaram ao longo do tempo e conclui com uma proposta de lei para normalização da nomeação de hidrelétricas e logradouros públicos no Brasil.

Em seu trabalho de doutoramento, Tizio (2009) analisa os nomes dos loteamentos que deram origem a oitenta bairros de Santo André, a partir do estudo toponímico em uma perspectiva diacrônico-contrastiva, a fim de se alcançar fatores que levaram à fixação desses nomes.

Em Minas Gerais, destacamos o trabalho de Santos e Seabra (2009), no qual analisam os topônimos de assentamentos da população da Comarca do Serro Frio, território que envolve municípios das mesorregiões geográficas do Jequitinhonha, Norte de Minas e Metropolitana de Belo Horizonte.

Na Região Sul, destacam-se os trabalhos de Zamariano (2006), Toponímia paranaense do período histórico de 1648 a 1853, que investiga os nomes dos municípios paranaenses fundados nesse período; e de Moreira (2006), A toponímia paranaense na rota dos tropeiros: Caminho das Missões e Estrada de Palmas, que analisa a influência do ciclo econômico do Tropeirismo registrada em topônimos paranaenses.

Na Região Centro-Oeste, merece destaque a diversidade dos estudos toponímicos, como os de: Santos (2005), que analisou os topônimos que constituem o município de Barra do Garças, localizado na microrregião do Médio Araguaia (MT); Dargel e Isquerdo (2005), que analisaram os estratos linguísticos referentes aos acidentes geográficos do Bolsão mato-grossense; Maeda (2006), referente aos nomes de Fazendas localizadas no Pantanal Sul-mato-grossense; e Carvalho (2010), que analisou os topônimos de córregos, ribeiras, rios, serras etc, que constituem a mesorregião Sudeste Mato-grossense.

Na Região Norte, mencionamos os trabalhos de Sousa (2007a), que aplicou os procedimentos metodológicos descritos em Dick (1992, 2001) para a elaboração do atlas toponímico do Estado do Acre; Carneiro (2007), que descreveu a realidade toponímica do território Wapixana (RR) a partir de aspectos dialetológicos; e Andrade (2006), que analisou cerca de 1.350 topônimos de origem indígena, registrados em 127 cartas topográficas do estado do Tocantins.

Na Região Nordeste, destaca-se o trabalho de Curvelo (2009), intitulado

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distribuídos em cinco mesorregiões, com o objetivo de investigar a motivação toponomástica desses designativos e determinar qual das categorias taxionômicas, a de natureza física ou a de natureza antropocultural, prevalece na ação nomeadora maranhense. Além disso, a autora estabelece o percurso onomástico dos 217 topônimos e agrupa-os em quatro sincronias: 1600, 1700, 1800 e 1900.

Quanto ao estudo dos topônimos baianos, podemos citar o trabalho de Oliveira (2008), intitulado Iconicidade toponímica na Chapada Diamantina: estudo de caso, no qual são analisados 108 topônimos designativos de sítios turísticos na área conhecida como Circuito do Diamante. Diferentemente de outros trabalhos que seguem o modelo metodológico do ATB, em Oliveira (2008) os signos toponímicos são analisados quanto as suas propriedades semânticas e icônicas.

No que diz respeito aos atlas toponímicos desenvolvidos ou em desenvolvimento no país, destacamos o Projeto Atlas Toponímico do Brasil: parte geral e variantes regionais -ATB, coordenado pela professora Maria Vicentina de Paula do Amaral Dick, da Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.

A proposta inicial do ATB foi ampliar o estudo toponímico a todos os estados do país seguindo a metodologia já adotada no desenvolvimento do Projeto ATESP Atlas Toponímico do Estado de São Paulo, que partia de uma pesquisa cartográfica dos 573 municípios que constituíam o Estado na época do levantamento. As cartas consultadas para o desenvolvimento do ATESP foram elaboradas pelo Instituto Geológico do Estado ou pela Prefeitura de São Paulo, além disso, também foram consultados, como fontes complementares, documentos históricos referentes aos locais investigados.

Também estão vinculados ao ATB o Atlas Toponímico do Estado de Minas Gerais – Projeto ATEMIG; o Atlas Toponímico do Estado do Mato Grosso do Sul – Projeto ATEMS; o Atlas Toponímico do Tocantins – ATT ; o Atlas Toponímico de Origem Indígena do Tocantins – Projeto ATITO; o Atlas Toponímico da Amazônia Ocidental Brasileira –

Projeto ATAOB e o Atlas Toponímico do Estado do Ceará – Projeto ATEC7. Além destes,

estão previstos os levantamentos cartográficos dos Estados da Paraíba, Maranhão e Goiás. No projeto ATEMIG, são investigados os nomes de cidades mineiras distribuídas em 10 Mesorregiões que compõem o Estado, com cerca de 850 municípios.

O ATEMS, coordenado pela professora Aparecida Negri Isquerdo, da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, integra mais duas Instituições de Ensino

7 Sobre o ATEC, encontramos pouquíssimas referências e publicações, todas demonstrando ser ainda um projeto

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Superior, a Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul e a Universidade Federal de Grande Dourados, além da rede municipal de ensino de Mato Grosso do Sul e de Goiás. De caráter interinstitucional, o ATEMS é uma variante do ATB e objetiva a catalogação, a análise e a cartografação da toponímia oficial do estado. A base de dados do ATEMS já contém cerca de 7.000 topônimos.

O ATT, coordenado pela professora Karylleila dos Santos Andrade, tem por objetivo o estudo da motivação dos designativos de lugar registrados em cartas municipais. Além do estudo dialetológico, são investigadas a etimologia, a estrutura gramatical e a correção fonêmica dos topônimos coletados.

Na elaboração do ATITO, também sob a coordenação da professora Karylleila dos Santos Andrade,foram investigados topônimos de origem indígena de natureza física (rio, córrego, ribeirão) e antropocultural (fazenda, sítio, chácara etc.). Os resultados parciais indicam que a língua tupi prevalece na motivação dos 1.350 topônimos identificados nas cartas topográficas do Estado do Tocantins.

O ATAOB, sob a coordenação do professor Alexandre de Melo Sousa, da Universidade Federal do Acre, tem sido desenvolvido desde 2006. O ATAOB tem como objetivo geral traçar o perfil toponímico do Estado do Acre, a partir dos designativos de lugar registrados em cartas topográficas oficiais.

Em relação ao estado do Ceará, não identificamos ainda pesquisas sistemáticas sobre a motivação toponímica e as análises de categorias taxionômicas, já que a maior parte dos estudos reporta-se à origem, à etimologia e às transformações toponomásticas dos designativos de lugar.

Ao longo do tempo, muitos pesquisadores buscaram dados em registros oficiais do estado, sejam eles atuais ou concernentes a épocas distantes. Diante da dificuldade de coletar os topônimos em mapas cartográficos, os nomes eram retirados de cartas régias, datas de concessão de sesmarias, ofícios e portarias, já que o passado revela a ausência de uma tradição em elaborar cartas topográficas sobre o Ceará, devido a sua ocupação tardia em relação às demais capitanias do país, iniciada somente nos primeiros anos do século XVIII.

De acordo com Jucá Neto (2010), o Ceará, em virtude da ausência de atrativos econômicos e por ainda pertencer à Capitania de Pernambuco até 1799, teve pouca visibilidade inclusive nos registros cartográficos. No fim do século XVII e no século XVIII, o Ceará foi registrado como terra inóspita, e durante os anos setecentos ainda não possuía uma demarcação oficial de suas fronteiras territoriais.

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engenheiro e naturalista João da Silva Feijó, em Capitania do Ceará; Dividida/pelo Campo Illuminado de cor, em que aparecem registradas as vilas de Fortaleza, Arronches, Messejana, Soure, Aquiraz, Aracati, Icó, Crato, Campo Maior, Sobral, Granja, Vila Nova del Rei, Viçosa e Montemor o Novo (JUCÁ NETO, 2010).

Em 1812, também de autoria de Feijó, foi elaborada a Carta Topographica / da / Capitania do Ceará / que a / SAR / o Príncipe Regente / Nosso Senhor / Dedica / Luiz Barba Alardo de Menezes, em que aparecem registradas 16 vilas cearenses, Aquiraz, Aracati, Arronches, São Bernardo, Campo Maior, Crato, Fortaleza, Granja, Icó, São João do Príncipe, Messejana, a Vila Nova d‟El Rei, Sobral, Soure, Monte Mor-o-Novo D‟América e Vila Viçosa Real (JUCÁ NETO, 2010).

Apesar dos esforços de Feijó, os registros não eram precisos. Em alguns casos, havia vilas registradas na primeira carta e omitidas em outras. Além disso, os registros cartográficos não davam conta de todos os acidentes geográficos contemporâneos à sua elaboração. Dessa forma, os documentos manuscritos conseguiam suprir as informações referentes aos mais diversos espaços que constituíam o território cearense.

Muitos nomes de lugares, com suas localizações e transformações, foram registrados em documentos da esfera judicial e administrativa, por exemplo, e foram recuperados e preservados em estudos de diversos pesquisadores que deixaram um legado inquestionável sobre a história do Ceará, dentre os quais é inegável a contribuição de Studart (1923, 1924) e Seraine (1946, 1947, 1948, 1961).

Nas edições de número XXXVII e XXXVIII, da Revista do Instituto do Ceará, Studart (1923), a pedido da Sociedade de Geographia do Rio de Janeiro, em comemoração ao 1º centenário da Independência do Brasil, apresenta um artigo, dividido nos dois volumes mencionados, sobre a Geographia do Ceará, no qual faz todo um resgate histórico sobre a ocupação do território cearense, desde as primeiras visitas, às concessões de sesmarias, dos primeiros governadores a criação das vilas que constituíam o espaço cearense. O pesquisador apresenta uma relação de cerca de 160 mapas e cartas topográficas que registravam o espaço brasileiro, de modo geral, e alguns o território cearense, principalmente a sua costa.

Na segunda parte do artigo, publicada em 1924, Studart apresenta detalhes da geografia do Ceará, desde informações sobre aspectos físicos, constituição geológica, à descrição de enseadas, bahias, portos, lagos, lagoas, montanhas, serras, rios e riquezas minerais, além de fazer um percurso das cidades cearenses, retomando fatos a época da criação das vilas e povoados.

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publicado na edição LXII da Revista do Instituto do Ceará, apresenta um panorama sobre os primeiros estudos em toponímia no Estado. Este artigo é a segunda parte de outro publicado com mesmo título no volume anterior, o de número LXI, no qual apresenta um levantamento de designativos indígenas de localidades cearenses.

Seraine (1948) aponta dados preciosos, pois resgata a memória linguística e cultural do povo cearense. O pesquisador mostra informações etimológicas e históricas das principais vilas, como Acaraú, Aquiraz, Baturité, Crateús, Caucaia, Icó, Ipu, Uruburetama etc. Além disso, apresenta as leis que autorizaram a elevação e transferência das vilas e as possíveis mudanças toponomásticas ocorridas nesse processo.

Em Topônimos de Portugal no Ceará, Seraine (1961) apresenta um levantamento de topônimos de origem portuguesa que substituíram nomes indígenas vigentes até o início do século XIX e descreve o processo de mudança toponomástica dessas localidades, revelando as leis e decretos régios que instituíram tais mudanças.

Falcão (1993) publicou o Pequeno Atlas Toponímico do Ceará, no qual apresentava os topônimos de 200 povoados, 672 distritos e 184 municípios cearenses. Nesse estudo, o pesquisador apresenta uma substanciosa coletânea dos nomes de lugares do Ceará e faz um levantamento das principais leis e decretos nacionais e estaduais que normatizaram a ação denominativa de lugares ao longo da história. Nessa obra, são apresentadas, também, em alguns topônimos, características etimológicas e notas sobre a história política e social relevantes para a compreensão do nome do lugar, além da localização das meso e microrregiões cearenses contemporâneas à publicação da obra.

Destacamos, ainda, a elaboração o trabalho de Sousa (2007b), que analisou a toponímia das praias cearenses, cuja descrição mostrou haver predominância de topônimos de natureza física nesse ambiente geográfico estudado.

A partir dos trabalhos apresentados, identificamos uma bibliografia escassa em relação à toponímia cearense. Muitos trabalhos apresentam apenas uma lista de topônimos, seguidos de suas etimologias e do contexto histórico em que surgiram. Face à pesquisa desenvolvida por Sousa (2007b), fazem-se necessários, portanto, outros estudos que investiguem a motivação toponímica dos denominativos cearenses, fundamentados nos modelos teóricos e metodológicos norteadores das pesquisas toponímicas recentemente desenvolvidas ou em desenvolvimento.

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3 TOPONÍMIA: princípios teóricos

3.1 A atividade humana de nomeação

Por meio da linguagem, o conhecimento, os costumes e as crenças são registrados e perpetuados de geração a geração, de modo a constituírem a memória individual e social dos grupos humanos. A ação de nomear as coisas tem acompanhado o homem no curso de sua existência e é uma atividade linguística indispensável a qualquer grupo social, por permitir ao homem apropriar-se, de forma simbólica, da realidade.

Para Biderman (2001, p. 13), a nomeação da realidade “[...] pode ser considerada como a etapa primeira no percurso científico do espírito humano de conhecimento do mundo.” É pelo processo de nomeação que o homem registra seu conhecimento não apenas sobre aspectos biofísicos, como também sobre valores pessoais e sociais que emergem do universo que o cerca.

Os nomes auxiliam o homem a se organizar no tempo, no espaço ou em seu grupo, pois são responsáveis por ordenar os dados da experiência humana e armazená-los em categorizações linguísticas. Nesta perspectiva, a nomeação é a atividade responsável pela geração do léxico das línguas naturais, pois, como afirma Biderman (2001, p. 13), “[...] ao reunir os objetos em grupos, identificando semelhanças e, inversamente, discriminando os traços distintivos que individualizam esses seres e objetos em entidades diferentes, o homem foi estruturando o mundo que o cerca, rotulando essas entidades discriminadas.”

É por meio desses rótulos que o homem interage com a realidade. Dessa forma, diferentes grupos humanos classificaram a realidade de acordo com suas experiências, inseridos em contextos culturais distintos. Segundo Biderman (1998c, p. 179),

[...] o vocabulário exerce um papel crucial na veiculação do significado, que é, afinal de contas, o objeto da comunicação lingüística. [...] o léxico é o lugar da estocagem da significação e dos conteúdos significantes da linguagem humana. [...] no aparato lingüístico da memória humana, o léxico é o lugar do conhecimento sob o rótulo sintético de palavras – os signos lingüísticos.

O léxico é uma forma de registrar o conhecimento do universo que nos cerca, pois está diretamente relacionado ao processo de nomeação e à apreensão cognitiva da realidade.

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expressa.” (SAPIR, 1961, p.21).

Notemos que esse raciocínio coincide com a colocação de Biderman (1998a, p. 12) de que o léxico é considerado um patrimônio vocabular das línguas naturais.

Para as línguas de civilização, esse patrimônio constitui um tesouro cultural abstrato, ou seja, uma herança de signos lexicais herdados e de uma série de modelos categoriais para gerar novas palavras. Os modelos formais dos signos lingüísticos preexistem, portanto, ao indivíduo. No seu processo individual de cognição da realidade, o falante incorpora o vocabulário nomeador das realidades cognoscentes juntamente com os modelos formais que configuram o sistema lexical (BIDERMAN, 1998a, p. 12).

Assim, o léxico assume diferentes papeis, pois nomeia ao mesmo tempo que designa, descreve, sugere, delimita etc. De acordo com Biderman (1998b, p. 112), “[...] quando o referente é um objeto da realidade física, a nomeação pode chegar a um grau máximo de identidade entre palavra e coisa referida praticamente identificando o nome com seu referente. É o caso dos nomes próprios, sobretudo topônimos.”

3.2 Lexicologia, Onomástica e Toponímia: definições

A ciência que estuda o léxico de uma língua é a Lexicologia. Segundo Biderman (2001, p. 16), “A Lexicologia, ciência antiga, tem como objetos básicos de estudo e análise a palavra, a categorização lexical e a estruturação do léxico.”

O léxico, o objeto de estudo da Lexicologia, constitui-se, para Biderman (1998a, p. 11), como “[...] uma forma de registrar o conhecimento do universo.” A palavra, portanto, não é apenas uma forma de identificação, mas um registro que assegura a existência de um referente extralinguístico, que até o momento do batismo tinha sua existência despercebida pelo homem.

Segundo Vilela (1994, p. 10), “A Lexicologia costuma ser definida como a ciência do léxico de uma língua [...] e tem como objeto o relacionamento do léxico com os restantes subsistemas da língua, incidindo, sobretudo, na análise da estrutura interna do léxico, nas suas relações e inter-relações.”

Identificando a possibilidade de relacionar o léxico de línguas diferentes, Houaiss, Villar e Franco (2009, p. 1750) definem a Lexicologia como

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A Onomástica, por sua vez, representa um dos campos de investigação da Lexicologia. Para Dubois et al. (1993, p. 441), “Onomástica é o ramo da Lexicologia que

estuda a origem dos nomes próprios. Divide-se, às vezes, esse estudo em antroponímia (que diz respeito aos nomes próprios de pessoa) e toponímia (que diz respeito aos nomes de lugar).”

Esse posicionamento assemelha-se à colocação de Dick (2001, p. 81), para quem “o sistema onomástico utiliza-se dos mesmos constituintes disponíveis no léxico virtual de uma língua”, ou seja, as palavras que inicialmente integram o léxico de uso comum na língua passam à categoria de nomes próprios, ou topônimos, ao nomearem lugares.

Na mesma perspectiva, Dick (1992) define a palavra toponímia como sendo de origem nas palavras gregas topos (lugar) e onyma (nome), significando “nome de lugar”, ou

seja, a ciência que estuda a origem e a significação dos nomes de lugares. A pesquisadora considera que o estudo toponímico abrange os designativos geográficos de natureza física (rios, riachos, córregos, serra etc) e os de natureza antropocultural (aldeias, povoados, cidades, bairros, patrimônios etc).

A Toponímia, como afirma Dubois et al. (1993, p. 590), “[...] é o ramo da

Linguística que se ocupa da origem dos nomes de lugares, de suas relações com a língua do país, com as línguas de outros países ou com línguas desaparecidas.”

Dick (1990, p. 22) considera que a toponímia representa algo além de um recorte do léxico da língua comum, é como um depósito de informações sócio-histórico-culturais. Dessa forma, os topônimos,

[...] além de distinguirem, identificarem os acidentes de um determinado espaço geográfico, também se constituem como verdadeiros testemunhos históricos, podendo registrar fatos e ocorrências de momentos diferentes da vida de uma população, razão pela qual o nome adquire um valor que transcende ao próprio ato da nomeação. Assim, se a toponímia de uma região pode ser considerada como a crônica de um povo, registrando o presente para o conhecimento das gerações futuras, o topônimo configura-se como o instrumento dessa projeção temporal. (DICK, 1990, p. 22).

Na mesma perspectiva, Dargel e Isquerdo (2005, s/p) salientam que a Toponímia não se detém apenas no estudo linguístico, ou seja, contrariam a concepção tradicional de que o estudo do topônimo limita-se à descrição intralinguística de busca da etimologia, da estrutura morfológica e do significado, pois se trata de uma “[...] disciplina de caráter aberto, inacabado, dinâmico e interdisciplinar.”

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A toponímia (do grego topos, <<lugar>>, ónoma, <<nome>>) pode ser definida como o estudo da origem e significação dos nomes próprios de lugar, quer se trate de nomes próprios de núcleos de povoações (cidades, vilas, aldeias, etc), quer de nomes de regiões, de montes, de lagos, de mares, etc. Como tal disciplina científica é, por sua vez, uma parte dos estudos gerais de onomástica, disciplina esta que pode ser definida de forma mais geral como o estudo da origem e significação dos nomes próprios, sejam estes antropônimos (nomes próprios de pessoa), topônimos,

etnônimos (nomes de povos ou estirpes) (NIETO BALLESTER, 1997, p. 11,

tradução nossa)8.

Esse posicionamento é claramente admitido pelo antropólogo e toponimista venezuelano Salazar-Quijada (1985), para quem a Toponímia representa “[...] o estudo integral, no espaço e no tempo, dos aspectos históricos, geográficos, econômicos, sócio-antropológicos e lingüísticos, que permitiram e permitem que um nome de lugar tenha origem e subsista”.

Nieto Ballester (1997, p. 12) também associa os estudos toponomásticos a outras áreas do conhecimento e acrescenta que a Toponímia se trata, essencialmente, de estudos linguísticos, por isso o pesquisador

[...] deverá ter necessariamente importantes conhecimentos de fonética histórica, lexicologia, morfologia e dialetologia (entre outras áreas linguísticas) de uma ou mais línguas, em função do território estudado. Esta natureza linguística, contudo, não impede que sejamos bem conscientes do território em comum que a toponímia divide com outros estudos humanísticos. É importante dizer que da história do lugar, de sua economia, da flora e agricultura são absolutamente imprescindíveis em nossos estudos. A toponímia, portanto, necessita dos conhecimentos de todos estes campos de estudo e, por sua vez, proporciona dados de considerável valor a todos eles. (NIETO BALLESTER, 1997, p. 12, tradução nossa)9.

O estudo toponímico está inserido no campo de investigação linguística, mas é importante que o pesquisador busque informações extralinguísticas relacionadas à história, à cultura e à geografia do território estudado para assegurar confiabilidade aos seus resultados no que diz respeito, principalmente, à busca da motivação toponímia. É esta perspectiva extralinguística que caracteriza os estudos toponímicos atuais, em oposição ao tradicional

8 La toponimia (del griego topos, <<lugar>>, ónoma, <<nombre>>) puede ser definida como el estudio del

origen y significación de los nombre propios de lugar, ya se trate de nombres propios de núcleos de población (ciudades, villas, aldeãs, etc.), nombres de regiones, de montes, de lagos, de mares, etc. Como tal disciplina científica es, a su vez, uma parte de los estudios generelaes de onomástica, disciplina ésta que puede ser definida más en general como el estudio del origen y significación de los nombres propios, ya sean éstos

antropónimos (nombres propios de persona), topónimos, etnónimos (nombres de pueblos o estirpes) (NIETTO

BALLESTER, 1997, p. 11).

9 [...] deberá tener necesariamente importantes conocimientos de fonética histórica, lexicologia, morfología y

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levantamento da origem e significação dos topônimos de um lugar.

A partir das definições apresentadas anteriormente, percebemos que a Toponímia, atualmente, apresenta-se como um exercício interdisciplinar de investigação dos nomes de lugares. Apresentaremos a seguir alguns estudos toponímicos que seguiram este viés.

3.3 Toponímia e interdisciplinaridade

A Toponímia, atualmente, supera o caráter de mero diletantismo e abrange uma multiplicidade de perspectivas de investigação. Como afirma Dick (1992), “[...] é uma disciplina que se volta para a História, a Geografia, a Linguística, a Antropologia, a Psicologia Social e, até mesmo, à Zoologia, à Botânica, à Arqueologia, de acordo com a formação intelectual do pesquisador.” Nesta relação com outras áreas do conhecimento humano, a Toponímia “[...] recebe, ao mesmo tempo que lhes fornece, subsídios preciosos para suas configurações teóricas.” (DICK, 1992).

No que concerne à relação entre Toponímia, Geografia e Cartografia, destacamos o trabalho de Santos (2005), que, preocupado com a problemática da padronização de nomes geográficos, sinaliza para a necessidade de criação de uma comissão de nomes geográficos no Brasil. Segundo o pesquisador, sob o viés geográfico, existe uma distinção entre topônimo e

nome geográfico. O nome geográfico aparece como topônimo normalizado, padronizado que

é usado como referência geográfica em registros cartográficos.

De acordo com Dick (2007b, p. 463), inicialmente, a Toponímia utilizou o vocabulário de origem terminológico-geográfica, aplicado no processo de referencialização de acidentes geográficos. Nessa fase, o designativo de acidente geográfico era usado em função denominativa, como se fosse um nome, esse processo é chamado de toponimização do fato geográfico. Nesta circunstância, dispensava-se o uso de expressões substitutivas ou próprias, estabelecendo uma relação de iconicidade entre o referente e o signo toponímico.

Na dimensão linguística, os topônimos podem ser estudados sob diferentes perspectivas: descrição dos estratos linguísticos registrados nos designativos de lugar, investigação sobre a motivação semântica dos topônimos, classificação taxionômica dos nomes, análise de taxes predominantes, descrição do percurso onomástico, relativo às mudanças de nomes (TAVARES, 2008).

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território e ao relacioná-los aos povos que por lá passaram, serão evidenciados fatores culturais, linguísticos e sociais que constituem a memória social sobre um lugar, tornando os topônimos verdadeiros tesouros linguísticos testemunhos de sua história.

Em Aspectos de Etnolinguística –a Toponímica carioca e paulistana–contrastes e confrontos, Dick (2003) propõe-se a fazer um estudo contrastivo simultâneo de duas regiões, diferentemente das práticas onomásticas comuns, em que se analisa uma área de cada vez. O objetivo do seu trabalho é verificar em que pontos os topônimos cariocas e paulistanos coincidem ou se diferem em dois campos, o geomorfonímico e hodonímico. Segundo a autora,

na perspectiva sincrônica dos estudos contrastivos, a etnolinguística firmou-se como decorrência da necessidade de se entender as variantes e as invariantes sociais, bem como os níveis de linguagem que modelam os pensamentos e o modo de ser e de viver da população em análise. (DICK, 2003, s/p.).

Observa-se, portanto, que a Toponímia serve-se dos dados etnolinguísticos e dialetológicos para descrever o léxico toponomástico. Dessa forma, complementa a linguista,

O estudo da Toponímia brasileira, como parte aplicada da lingüística geral, envolve, principalmente, e antes de tudo, o reconhecimento dos estratos dialetais que estruturaram, no território, a forma de expressão vernacular. É desse ângulo maior, ou seja, do reconhecimento etnolinguístico das camadas superpostas que se poderá buscar, então, as diversidades gramaticais, semânticas e etnográficas dos registros onomásticos. (DICK, 2001, s/p).

Sob a ótica dos estudos interdisciplinares, Dick (2008) apresenta em seu artigo A toponímia como meio de investigação linguística e antropocultural a relação entre Toponímia, Dialetologia e Etnolinguística. Segundo a pesquisadora,

É pela conjunção dos diversos dialetos e falares presentes em um determinado território que se estrutura o léxico regional, considerando-se não só as tendências normalizadoras da língua-padrão como a presença de minorias étnicas ainda participativas ou, mesmo, como dado documental, se extintas. A Toponímia serve-se, assim, dessa circunstância de baserve-se, equivalente ou próxima a um substrato vocabular, para aí deitar suas raízes, aproveitando-se do material lingüístico que mais se adéqüe à configuração dos conceitos que deve transmitir. (DICK, 2008, p. 215-216).

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vividos por um grupo e que, pela união ente Toponímia e Dialetologia, a tentativa de recuperar e compreender enunciados linguísticos de tempos pretéritos torna-se mais eficaz.

Ainda no âmbito linguístico, a interface Toponímia e Lexicografia, embora menos privilegiada, surge como um campo valioso para os estudos onomásticos. Segundo Isquerdo e Castiglioni (2010, p. 295),

é particularmente desafiadora a etapa relativa ao tratamento lexicográfico da toponímia, que implica na construção de um modelo de microestrutura, com base nos parâmetros gerais estabelecidos na metodologia geral do Projeto ATB, adequada a cada realidade regional e em consonância com os fundamentos da Lexicografia contemporânea.

Contribuem para esta linha de análise nos estudos onomásticos os atlas toponímicos de cidades e regiões, os quais aceleram o processo de elaboração de obras lexicográficas por já apresentarem dados toponímicos sistematizados, a exemplo das fichas lexicográfico-toponímicas.

Nesta perspectiva, encontra-se em fase inicial de elaboração o dicionário de topônimos sul-mato-grossenses que compõem o projeto ATEMS. Segundo Isquerdo e Castiglioni (2010, p. 303), a microestrutura dos verbetes sugerida para o Glossário de topônimos do Bolsão sul-mato-grossense, contém dados obrigatórios e optativos.

São dados obrigatórios: topônimo, nome do acidente geográfico, tipo do acidente, localização, microrregião, taxionomia, origem, estrutura morfológica e nota, neste último item, a inserção de informações geográficas acerca do topônimo (localização no mapa, limites, etc.) configurou-se como obrigatória. E dados optativos: gentílicos, nomes anteriores, a variante lexical, a etimologia, o histórico, as informações enciclopédicas, o contexto e a remissiva. (ISQUERDO; CASTIGLIONI, 2010, p. 303).

Sob a perspectiva das ciências do léxico, além da Lexicografia, muitos pesquisadores têm relacionado Onomástica à Terminologia. Segundo Braga (2008, p. 9),

a Terminologia lida com conceitos, que fazem referência ao saber específico de uma área, enquanto a Onomástica lida com elementos mais culturais do que tecnológicos, com valores humanos, procurando demonstrar quais as influências sofridas para que certo nome fosse preferido ao invés de outro.

Para a autora, as duas ciências também guardam semelhanças, como no que diz respeito ao direcionamento da análise, já que um nome de lugar pode vir a ser um termo e um termo pode tornar-se um nome de lugar.

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povo, analisando os mais variados aspectos: linguístico, literário e sócio-histórico (SANTOS, 2006, p. 79). Os textos editados por filólogos podem preservar verdadeiros tesouros linguísticos, sejam características ortográficas, sintáticas ou lexicais.

Segundo Santos (2006, p. 79),

a Filologia e a Linguística, portanto, têm mantido ao longo do tempo uma relação de complementaridade, ou seja, a Filologia textual, através do resgate e edição de textos, serve à Linguística, fornecendo subsídios que permitam caracterizar a língua atestada nos textos, estudando-os para obter os dados e classificá-los adequadamente, ocupando-se de explicar esses dados.

Desse modo, a Filologia apresenta aos linguistas diversas possibilidades de estudo, tanto em perspectiva sincrônica, distante ou atual, como em perspectiva diacrônica. Para o campo de estudos do léxico, a Filologia pode contribuir com a recuperação de textos fidedignos a partir dos quais se pode identificar o estado da língua em uma determinada época, em seus aspectos fonético-fonológicos, morfológicos, sintáticos e semânticos, bem como fornecer, para o caso específico da Toponímia, um corpus de denominativos de lugar que podem encontrar-se preservados apenas nestes documentos.

Nesta perspectiva, a presente pesquisa tem como ponto de partida os 67 autos de querela editados por Ximenes (2006), a partir dos quais serão recuperadas características léxico-semânticas sobre os nomes de lugares que constituíam o território cearense no início do século XIX. Acreditamos que muitos registros toponímicos estão preservados nesses documentos e que eles podem revelar informações preciosas, tanto de natureza linguística, como histórica e social.

3.4 O topônimo

3.4.1 O signo linguístico, o signo toponímico e a questão da motivação

Desde os tempos mais antigos, pesquisadores ocuparam-se do estudo da linguagem. Inicialmente associadas à filosofia, as reflexões sobre a natureza da linguagem apresentam perspectivas de análise complexas e distintas ao longo do tempo. Uma dessas reflexões diz respeito à ligação semântica entre objeto e nome.

Imagem

Gráfico 1 – Distribuição dos topônimos nas categorias de natureza física e antropocultural
Gráfico 2 – Distribuição dos topônimos em taxes léxico-semânticas de natureza física.
Gráfico  3  –   Distribuição  dos  topônimos  em  taxes  léxico-semânticas  de  natureza  antropocultural

Referências

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