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Cemarx 2018 A DIALÉTICA MARXIANA EM FACE DA DIALÉTICA HEGELIANA.

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Cemarx 2018

A DIALÉTICA MARXIANA EM FACE DA DIALÉTICA HEGELIANA.

Hélio Ázara de Oliveira

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1. Introdução

Passados duzentos anos de seu nascimento e ao menos cento e cinquenta anos após a publicação do núcleo de sua Crítica da Economia Política, os estudos sobre Marx ganham novamente força, suas obras, ou ao menos, a história de preparação destas e os materiais preparatórios que restavam inéditos passam a ser publicados. O imenso trabalho da Marx- Engels Gesamtausgabe (MEGA) nos dá acesso ao “laboratório de Marx”, para usar uma expressão de Michael Heinrich

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, mas é evidente que o mero trabalho editorial e mesmo filológico não tem o poder de sanar as inúmeras dificuldades textuais e interpretativas sobre o pensamento de Marx. Soma-se a isso o fato de que recentemente, por conta da a atual “crise de sobreacumulação” (Cf. GRESPAN, 2009, p. 11-7), Marx foi “reavaliado”

no debate econômico mesmo por teóricos ligados ao FMI e pela revista The Economist.

No âmbito das ciências sociais este debate parece ser novamente presidido pelos extremos

“Marx atual”, “Marx ultrapassado”

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. Ao contrário de ser uma novidade, semelhante

“avaliação” de sua obra data dos tempos em que o autor era ainda vivo e em muito se confunde com os ciclos de vida do capital, tudo se passaria como se “na fase expansiva do ciclo de vida do capitalismo, Marx e sua obra aparecessem sempre como ultrapassados e superados; por outro lado, na fase regressiva ou destrutiva de riqueza do ciclo, o autor de O Capital é geralmente saudado como novidade e “reavaliado” (ÁZARA, 2017, p.

114).

Em Filosofia, no entanto, o debate que caracterizou no século XX a recepção de Marx no Ocidente foi demarcado por dois polos. De um lado os que admitiam um “Marx hegeliano ou dialético”, de outro os que sustentavam um “Marx materialista, não- hegeliano ou não-dialético”. Nesse debate, O “Marx hegeliano” parecia muito pouco

1 Doutor em Filosofia pela Unicamp. Professor da UFCG e pesquisador ligado ao CEMODECON helioazara@hotmail.com.

2 O conteúdo da entrevista a que remetemos está disponível em: https://www.ufmg.br/90anos/alemao- michael-heinrich-especialista-na-obra-de-marx-faz-conferencia-nesta-sexta-sobre-atualidade-de-o-capital/

3 Tratamos disto em outro lugar: Sobre o conceito bifronte de capital, in “Sob os olhos da crítica”, Macapá, EdUnifap, 2017.

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“materialista” para seus adversários, já o “Marx materialista” parecia muito pouco dialético a seus opositores “hegelianos”. Hoje sabemos pela MEGA que, como disse Heinrich: “não se encontra um texto de Marx em que ele tenha usado o termo

‘materialismo dialético’. Ele usou os termos ‘dialética’ e ‘materialismo’, mas você não vai encontrar algum tipo de teoria filosófica geral; ao contrário, depois de 1845, Marx falou de modo crítico sobre a Filosofia. ”

Mais do que caracterizar o debate tal como este se travava em meados do século passado, o fundamental aqui é abandonar a caracterização de Marx como um Filósofo sistemático de tipo hegeliano, no entanto “materialista”. Marx seria entendido como o fundador de uma “ciência” e de uma “filosofia” e que juntos formariam um certo

“sistema” de pensamento. E isto foi completado pela posteridade ao ponto em que, para usar a expressão de Giannotti “não houve moda no pensamento do século XX que não tivesse sua contrafacção marxista” (GIANNOTTI, 2002, p. 232). Não é nosso objetivo primordial, ao menos neste breve texto, operar uma crítica a esta hipérbole da Crítica da Economia Política em um suposto sistema de pensamento, contudo é preciso atentar para o fato de que esta “hipérbole” marcou os manuais de marxismo que difundiram a Filosofia marxista e a visão de mundo marxista. Para fazer as vezes de um sistema são produzidas

“obras”, que funcionariam como as partes desse sistema, os famosos “textos de Marx- Engels sobre estética, educação, filosofia, antropologia, etc. “Obras” que hoje carecem de autenticidade, isto é, seu estatuto de “obra” não procede, são partes de um “sistema”

que não existe.

Mas se Marx não é um Filósofo, se não tem um sistema filosófico, poderia ter ele uma dialética? Como se sabe, ser dialético em filosofia, não é sinônimo de ser hegeliano, muito embora seja Hegel o maior representante moderno desta tradição filosófica. A dialética é tão antiga quanto a Filosofia, e ao contrário do que possa parecer, “o termo dialética não é de uso frequente em Hegel”, embora seja de fundamental importância (KERVÉGAN, 2005, p.78).

A dialética para Hegel é um poder que a razão tem de introduzir no entendimento

de cada categoria existente uma negação, é essa negação que “confere ao pensamento

plasticidade e processualidade” (idem), mas ela opera, para a especulação, também no

nível do real, dos entes reais, pois como diz Hegel na Lógica da Essência, segundo libro

de sua Ciência da Lógica: “todas as coisas são em si mesmas contraditórias” (HEGEL,

2011, p.101-169). A dimensão negativa da dialética é o motor tanto da derivação

categorial, ao nível da Lógica, quanto da realidade efetiva, ao nível da natureza e do

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espírito. Essa é ao menos a pretensão interior da obra Ciência da Lógica, ser a um só tempo uma Lógica e um Ontologia.

Marx embora não estivesse se ocupando de Filosofia, entra novamente em contato com a Lógica de Hegel, em um episódio narrado como um “mero acaso”, recebe de Feiligrath o exemplar da Lógica hegeliana deixado em Londres por Bakunin, preso. Em carta a Engels de 16 de janeiro de 1858, Marx relata que “folhear” a obra lhe ajudou no

“método de elaboração” (Bearbeiten) de seu manuscrito.

O texto mais explícito de Marx sobre dialética é o Posfácio da Segunda Edição de O capital, de 1873. É nele que Marx diz ser sua exposição dialética, é nele que Marx identifica um “caroço racional” da dialética, bem como seu lado “místico” que Marx identifica como “o positivismo acrítico” da especulação. Para Marx o método dialético consiste de duas partes, a saber, de um lado o “método de pesquisa [...] que capta detalhadamente a matéria” (MARX, 1982, p.20), e que como veremos se aproxima do momento do “entendimento” hegeliano, de outro o “método de exposição”. É este método que Marx “aplicaria” em O capital, e que seria, em um sentido determinado, dialético.

Que significa dizer que a exposição tem um caráter dialético? Significa dizer que a dinâmica da exposição é presidida por oposições que estruturam a obra, a saber, as oposições entre valor de uso e valor (primeira seção do “capítulo sobre o valor”); trabalho concreto e trabalho abstrato (segunda seção); forma de valor relativa e forma de valor equivalente (terceira seção); “relações reificadas entre as pessoas e relações sociais ente as coisas (Marx, Idem, p.71) (seção quarta); mercadoria e dinheiro (capítulo 2); até a oposição contraditória e estruturante da obra, aquela entre capital e trabalho assalariado.

Dialética, portanto, em Marx é antes de tudo método de exposição e crítica da

Economia Política. Não é um estilo de filósofo, e sim, de acordo com o que pensa Marx,

uma forma de expor os resultados da crítica de um modo não exterior ao objeto. Como o

objeto, a relação-capital, se apresenta de modo contraditório, exige um tratamento

dialético. Os estudos de Economia Política empreendidos por Marx em sua estada na

Inglaterra levaram-no a um novo exame sobre a dialética hegeliana e foi então que tomou

corpo a ideia de uma “exposição dialética, ao mesmo crítica e sistematizadora das formas

econômicas fundamentais do capitalismo” (GRESPAN, 2015, p. 152). Marx parece que

esteve sempre atento ao perigo deste empreendimento de fazer derivar do capital todas as

formas sociais e os conceitos do pensamento burguês. E diz explicitamente nos

Grundrisse que seria precisa “corrigir a impressão idealista de que se trata apenas da

dialética de conceitos”. Contudo, em uma carta a Engels de 9 de dezembro de 1861 Marx

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diz que na pretendida continuação de Para a Crítica da Economia Política “o método estará muito mais oculto”. Cremos que a tarefa da pesquisa sobre Marx no momento consiste em explicitar o que o autor ocultou: o método de elaboração e o método de exposição dos resultados da crítica.

2. Exposição e Dialética

O conceito de “método de exposição”, nos estudos sobre Marx no Brasil remetem ao trabalho seminal de Marcos Lutz Müller, método de exposição, dizíamos, guarda, em Marx, claras “reminiscências do conceito hegeliano de Exposição” (MÜLLER, 1982, p.

20), embora não seja redutível a este. Dialética é, em Marx, antes de tudo método de exposição e crítica da Economia Política. Para um esclarecimento da dialética marxiana como método de exposição, bem como de suas “reminiscências” hegelianas e de suas especificidades no uso de Marx, remetemos o leito ao artigo já clássico do professor Müller. Neste podemos perceber as diferenças impostas ao método pela recusa do elemento especulativo da dialética.

Dentre os três movimentos próprios do que Hegel chama de “elemento Lógico”

tal como expostos no Conceito mais preciso e divisão da Lógica (§ 79-83 da Enciclopédia

das Ciências Filosóficas, Tomo I – A Ciência da Lógica), Marx se apropriaria tão

somente dos dois primeiros movimentos, a saber, do primeiro que consiste no momento

do entendimento, que apreende e entende positivamente o objeto, e do segundo

movimento, o propriamente dialético ou negativamente racional, que suspende as

determinações fixadas pelo entendimento e as faz, por força de seu próprio

automovimento, se ultrapassar para as determinações opostas. O terceiro movimento, o

especulativo ou positivamente racional é aquele que Marx rejeitaria como “místico e

mistificador”, pois este, por assim dizer, suprimiria a diferença e a contradição em busca

de uma unidade identitária e essencial, e seria este terceiro movimento, uma vez aplicado

a uma contradição real como a que preside o sistema capitalista, um “positivismo

acrítico” que dissolveria a contradição essencial em nome de uma identidade formal e

abstrata, fruto da especulação e transfiguração do real. A exposição do conceito de capital

como tal assume a “forma de uma exposição que explicita a contradição imanente desse

sistema e a faz aparecer como matriz geradora de todas as formas sociais e de todos os

conceitos do pensamento burguês” (GRESPAN, 2015, p.152). Essa contradição é, como

sabemos, a contradição entre capital e trabalho.

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3. Oposição e Contradição-capital

Marx encontra enorme dificuldade

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para expor a relação entre capital e trabalho como uma relação que se determina rigorosamente como uma oposição, usando uma linguagem que está na base destas determinações reflexivas, trata-se de uma relação na qual “o diferente não tem frente a si o outro em geral, mas seu outro, isto é, cada um tem sua própria determinação só na sua relação ao outro; só é refletido sobre si enquanto é refletido no outro, e o outro, do mesmo modo, cada um é assim seu outro do outro”

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. É como oposição que fixa os polos ou os relatos como positivo e negativo específicos um do outro que o capital deve ser entendido, é neste sentido que se define como relação- capital, que determina seu outro como especificamente diverso, como trabalho assalariado.

Certamente o trabalho como não-capital, como oposto ao não-trabalho inclui o capital como “momento” constitutivo, pois seu “ser-si-mesmo” se define em oposição a seu outro. Ele poderia, por isso, constituir-se como um todo que poderia abarcar seu negativo. Mas para Marx, não se tratando de uma mera dialética de conceitos, antes como movimento sistemático do capital que inclui a especificidade histórica deste modo de produção, esta possibilidade é negada ao trabalho justamente pelo caráter abrangente e vampiresco do capital. Devido a este seu caráter abrangente, apenas o capital subordina o trabalho como seu momento e forma apenas de seu lado uma totalidade. A contradição em O Capital é, como explicitam as teses de Theunissen (1974) e Grespan (2002), a contradição “em si” e não a contradição “posta”, uma vez que é condição para que haja este segundo modo da contradição

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duas totalidades em oposição e ambas deveriam incluir o seu outro como momento e o excluir como uma totalidade

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. Na dialética de Marx apenas o trabalho é incluído como momento do capital, como “capital variável”, e assim o capital como todo se rebaixa a momento ideal da totalidade que ele mesmo compõe e se opõe a seu outro, assumindo a forma de capital constante. O capital, portanto, como formula Grespan,

4 Parte destas dificuldades são a causa do abandono de seções ou livros inteiros, como ocorreu com os Grundrisse, até que a exposição encontrasse correspondência com o objeto exposto. Grande parte da dificuldade, como se sabe, está na passagem da circulação simples de mercadorias para o conceito de capital. Tema do Livro I d’O capital.

5 Enciclopédia das Ciências Filosóficas, I, A Ciência da Lógica, §119, grifos do autor.

6 C.f. Wissenschaft der Logik, II, p. 65, Tradução brasileira p. 379.

7 C.F, Theunissen, 1974, especialmente a tese 8 da parte I do artigo; Grespan, 2002, p. 35ss.

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“enquanto momento, corporificado nos meios de produção, [...]

exclui de si o outro momento, o trabalho vivo, por outro lado, enquanto totalidade, ele inclui em si seu outro como capital variável. É a mesma estrutura lógica da oposição contraditória de Hegel, vista pelo ângulo de um dos termos, o capital”

(GRESPAN, 2002, p. 39).

É evidente que o mesmo não pode ocorrer do lado do trabalho, dada a separação original entre propriedade e trabalho e dado o poder usurpador real do capital. Devido a isso o trabalho não pode rebaixar o capital a seu momento, e não compõe de seu lado uma totalidade. Capital e trabalho assim determinados formam uma oposição contraditória

8

. O capital, portanto, para se constituir como sujeito de seu processo de formação e expansão, pressupõe que o trabalho esteja contraposto a ele como não-capital, na linguagem dos Grundrisse

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. Há um duplo aspecto nesta relação, uma vez que o capital deve tanto afirmar o trabalho como parte sua, pois sem seu outro ele não chega a ser o que é, valor que a si mesmo valoriza, mas, de outro lado, o capital deve negar o trabalho como totalidade a ele oposta, subordinando-o a si, formal e realmente.

Mas este trabalho que forma o outro do capital não é qualquer trabalho, nem o trabalho em geral, é antes o trabalho assalariado e que tem em seu portador, o trabalhador livre ou assalariado, uma existência temporalmente determinada. O trabalhador, e, de modo mais profundo, a população é condição e resultado do sistema. Ele e apenas ele forma o polo oposto ao capital, um polo de pobreza, como diz Marx, pois “sua carência de valor (Wertlosigkeit) e sua desvalorização constituem a premissa do capital e a condição do trabalho livre em geral” (G., p. 199). Assim o trabalhador duplamente livre é uma condição dada pela acumulação original, mas é igualmente seu resultado, pois o que o sistema reiteradamente cria é a si mesmo, isto é, a separação original é reposta pelo próprio processo e se torna seu resultado. A relação que pressupõe para seu início um extremo de riqueza e outro de não-riqueza, tem como resultado mais direto a reposição da condição original, o não-trabalho de um lado como polo de riqueza, o não-capital como polo oposto de pobreza. São estes os termos da contradição viva. “Cada elemento posto é ao mesmo tempo suposto, tal é o caso com todo sistema orgânico” (G., p. 199), assim o

8 Para o leitor interessado em saber os detalhes do “por que [...] a estrutura lógica da contradição materialista não pode passar de uma a outra formar, isto é, de “em-si” a “para-si”, remetemos o leitor ao artigo de Grespan e as Teses referidas acima.

9 Grundrisse der Kritik der Politischen Ökonomie. Marx-Engels Werke, Berlim, Dietz Verlag, 1974. Aqui abreviado pela letra G, seguida da paginação em algarismos arábicos.

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sistema tem a figura do vivo, mas, como a sua relação com a sua substância é contraditória, Marx o estiliza como morto-vivo, na famosa metáfora vampírica.

À guisa de conclusão

Grespan chama a atenção para o caráter ainda não suficientemente explicitado pela pesquisa dos motivos que levaram Marx a caracterizar o capital como um sujeito

“que pretende se mover na realidade como um conceito no pensamento” (GRESPAN, 2015, p.153). Esta seria uma lacuna no trabalho de Reichelt e, portanto, uma tarefa para a pesquisa em curso. De fato, procuramos mostrar em nossa tese como Marx se utiliza da caracterização hegeliana da infinitude da vontade, entendida como princípio determinante da subjetividade moderna, para estilizar a subjetividade própria do capital. Assim Marx faz com que “esta possibilidade absoluta de poder abstrair de toda determinação na qual eu me encontro ou que pus em mim, a fuga de todo conteúdo como de uma barreira”

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seja entendida como um movimento próprio do sujeito-capital. Especialmente nas seções 3 e 4 de O capital que correspondem respectivamente à produção do mais-valor absoluto ou subsunção formal, e à produção do mais-valor relativo ou subsunção real.

Em nosso trabalho de doutoramento chamamos atenção para o uso por assim dizer heurístico que Marx empreende das noções de Limite e Barreira para estruturar o núcleo de seu próprio conceito de capital, pois este tem em sua constante alteração quantitativa uma condição vital, uma vez que apenas seu impulso constante a superar seus limites o torna um processo sem fim. Na incorporação que Marx faz destes operadores lógicos se explicita como o capital para ultrapassar seus limites imanentes de valorização “supera- se-em-si” e passa igualmente a considerar cada limite uma barreira a superar. Foi então preciso determinar o que são os limites do capital

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, bem como em que consiste o impulso (Trieb) à sua superação, e ainda o modo pelo qual o capital “supera-se-em-si” e faz de seu limite uma barreira. Vemos como no tratamento deste tema no livro primeiro de O capital, nos aproximamos de uma conceituação do que é “o capital como tal”, que nos permite estudar em que consiste a contradição-capital e como ela se estrutura. “Por isso,

10 Linhas Fundamentais da Filosofia do Direito, § 5. Interessante notar que o que vemos nesta passagem é o próprio Hegel fazendo o operador lógico da “dialética da finitude” atuar na determinação da subjetividade moderna como tendo na infinitude da vontade seu princípio motor.

11 Como somos informados pelos Grundrisse, o limite qualitativo do capital é dado pela “jornada de trabalho, o tempo em que pode ser eficaz a capacidade de trabalho do operário dentro das 24hs – o grau de desenvolvimento das forças produtivas – e a população, que expressa a quantidade de jornadas de trabalho simultâneas” (G., p. 278). Nossos próximos três capítulos têm estes “entes” por analisar.

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para o valor que se conserva como valor em si, seu aumento coincide com sua conservação, já que tende continuamente a superar sua barreira quantitativa, a qual contradiz sua determinação formal, sua universalidade intrínseca. O enriquecimento se converte assim em finalidade em si” (G., p. 181).

Neste sentido, o capital é sujeito, mas um sujeito cego e automático, uma vez que a totalidade que o capital constitui é apenas uma totalidade formal, em oposição à totalidade substancial que apenas o trabalho poderia compor, pois, apenas o trabalho abstrato é fonte viva do valor. Ele é sujeito usurpador por subordinar a si o verdadeiro sujeito, o trabalho assalariado. Por isso a subjetividade do capital é contraditória ou vampírica e impede que a verdadeira substância seja sujeito. De seu lado, a subjetividade do trabalho refere-se, neste contexto, apenas como oposição à objetividade do trabalho passado, morto e que suga para reviver e permanecer no ser a sua vitalidade. Sua subjetividade corresponde à sua despossessão.

BIBLIOGRAFIA

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________ O Método da Economia Política. Terceira parte: Introdução [À Crítica da Economia Política]. Tradução de Fausto Castilho, in Crítica Marxista, n° 30, São Paulo, Editora da UNESP, 2010.

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Referências

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