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A distribuição dos royalties do petróleo na perspectiva do pacto federativo brasileiro: uma análise dos critérios adotados pela lei nº 12.7342012

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ FACULDADE DE DIREITO

SAMUEL CUNHA DE OLIVEIRA

PROJETO DE PESQUISA

A DISTRIBUIÇÃO DOS ROYALTIES DO PETRÓLEO NA PERSPECTIVA DO

PACTO FEDERATIVO BRASILEIRO: UMA ANÁLISE DOS CRITÉRIOS ADOTADOS PELA LEI Nº 12.734/2012

ALUNO DE ENSINO MÉDIO NÃO PRO

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SAMUEL CUNHA DE OLIVEIRA

A DISTRIBUIÇÃO DOS ROYALTIES DO PETRÓLEO NA PERSPECTIVA DO PACTO FEDERATIVO BRASILEIRO: UMA ANÁLISE DOS CRITÉRIOS ADOTADOS PELA LEI

Nº 12.734/2012

Monografia apresentada à Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Orientador: Prof. Msc. William Paiva Marques Júnior

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Universidade Federal do Ceará

Biblioteca Setorial da Faculdade de Direito

O48d Oliveira, Samuel Cunha de.

A distribuição dos royalties do petróleo na perspectiva do pacto federativo brasileiro: uma análise dos critérios adotados pela lei nº 12.734/2012 / Samuel Cunha de Oliveira. – 2013.

70 f. : enc. ; 30 cm.

Monografia (graduação) – Universidade Federal do Ceará, Faculdade de Direito, Curso de Direito, Fortaleza, 2013.

Área de Concentração: Direito Constitucional. Orientação: Prof. Me. William Paiva Marques Júnior.

1. Recursos minerais marinhos - Brasil. 2. Royalties do Petróleo. 3. Federalismo – Brasil. 4. Inconstitucionalidade das leis. I. Marques Júnior, William Paiva (orient.). II. Universidade Federal do Ceará – Graduação em Direito. III. Título.

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SAMUEL CUNHA DE OLIVEIRA

A DISTRIBUIÇÃO DOS ROYALTIES DO PETRÓLEO NA PERSPECTIVA DO PACTO FEDERATIVO BRASILEIRO: UMA ANÁLISE DOS CRITÉRIOS ADOTADOS PELA LEI

Nº 12.734/2012

Monografia apresentada à Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Aprovada em: ___/___/___

BANCA EXAMINADORA

________________________________

Prof. Msc. William Paiva Marques Júnior (Orientador)

Universidade Federal do Ceará - UFC

________________________________

Mestranda Ana Cecília Bezerra de Aguiar

Universidade Federal do Ceará - UFC

________________________________

Mestranda Fernanda Castelo Branco Araújo

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AGRADECIMENTOS

Muitas pessoas contribuíram, de alguma forma, para a realização deste trabalho.

Contudo, devo especiais agradecimentos:

A Deus, por ter me dado forças e capacidade para a realização de todos os meus

objetivos até aqui;

Aos meus pais, pela educação que me proporcionaram, sem dúvida a melhor herança

que poderia receber. Especiais agradecimentos à minha mãe, pela leitura deste trabalho;

Ao Professor William Paiva Marques Júnior, pela disponibilidade e paciência na

orientação desta monografia;

Às mestrandas Ana Cecília Bezerra de Aguiar e Fernanda Castelo Branco Araújo,

por terem aceitado o convite para compor a banca examinadora deste trabalho;

Ao Prof. Dr. Martonio Mont’Alverne Barreto Lima, meu chefe durante os dois anos em que estagiei na Procuradoria Geral do Município de Fortaleza, pelo exemplo de excelência

profissional e acadêmica, cujas lições levarei por toda a vida;

À Nyvea, por ter tornado os meus dias mais felizes nessa reta final de Faculdade,

fazendo com que a tarefa de concluir este trabalho fosse menos difícil;

Aos diversos amigos que fiz na Faculdade de Direito da UFC, notadamente: Alan e

Mário, pelas inúmeras discussões sobre temas de extrema relevância que tivemos nesses

últimos cinco anos, bem como pelo companheirismo durante as fantásticas aulas na Casa de

Cultura Francesa; Daniel, por ser um cara naturalmente hilariante; Jonas, futuro Prefeito da

Caponga; Rafael Santiago; Victor, o maior filósofo de todos os tempos; Tiago, pelas piadas

engraçadas. Devo ainda especiais agradecimentos ao Paulo e ao Yuri, pelas diversas

confraternizações;

A todos os meus familiares, pelo apoio e incentivo;

À torcida do Ferroviário Atlético Clube, em especial aos “Tubarões”, pelo exemplo

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(8)

RESUMO

O presente trabalho visa analisar as alterações promovidas pela Lei nº 12.734/2012 na

distribuição dos recursos oriundos do pagamento de royalties pela exploração de petróleo

entre os entes federativos brasileiros. O referido diploma tem como objetivo aumentar as

quantias direcionadas à generalidade das unidades federadas, reduzindo-se a participação dos

Estados e Municípios produtores de petróleo, os quais eram beneficiados pela legislação

anterior. A constitucionalidade das aludidas modificações foi questionada pelos Estados

produtores por meio de diversas ações no Supremo Tribunal Federal, o que levou à suspensão

da eficácia de diversos dispositivos da Lei nº 12.734/2012, em sede de medida cautelar. Neste

estudo, busca-se aferir a constitucionalidade da mencionada legislação em face do modelo de

federalismo adotado no Brasil pela Constituição de 1988. Como resultado, após pesquisa de

caráter bibliográfico e jurisprudencial, conclui-se que as alterações promovidas pela Lei nº

12.734/2012 estão em consonância com a Constituição, notadamente com o modelo de

federalismo por esta delineado, que se fundamenta na cooperação e na solidariedade entre os

entes federados.

(9)

ABSTRACT

The present study analyzes the changes introduced by Law No. 12.734/2012 in the

distribution of funds from the payment of royalties for oil exploration among the Brazilian

federative units. The Act aims to increase the amounts directed to the generality of the

federated units, reducing the participation of oil producing States and Municipalities, which

were benefited by the previous legislation. The constitutionality of the aforementioned

modifications was questioned by producing states through various lawsuits in the Supreme

Court, which led to the suspension of the effectiveness of certain provisions of Law No.

12.734/2012 in injunctive relief. In this study, we sought to assess the constitutionality of that

legislation before the model of federalism adopted in Brazil by the 1988 Constitution. As a

result, after a bibliographic and case research, the study came to the conclusion that the

changes introduced by Law No. 12.734/2012 are in line with the Constitution, notably with

the model of federalism outlined in it, which is based on cooperation and solidarity among the

federated entities.

(10)

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Porcentagem dos municípios por região e categoria do IDHM - 2010 (%)

... 29

Tabela 2 Alterações promovidas pela Lei nº 12.734/2012 na repartição dos royalties do

(11)

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABRAMT Associação Brasileira dos Municípios com Terminais Marítimos, Fluviais e Terrestres de Embarque e Desembarque de Petróleo e Gás Natural

AMPROGAS Associação dos Municípios Produtores de Gás Natural, Petróleo,

Possuidores de Gasodutos, Oleodutos, Áreas de Tancagem, Estação de Bombeamento de Zona de Influência da Bacia de Santos

ADI Ação Direta de Inconstitucionalidade

CF/88 Constituição da República Federativa do Brasil de 1988

CFEM Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais

CNM Confederação Nacional dos Municípios

DF Distrito Federal

FPE Fundo de Participação dos Estados

FPM Fundo de Participação dos Municípios

IAF Instituto dos Auditores Fiscais da Bahia

ICMS Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias e

sobre Prestações de Serviços de Transporte Interestadual e

Intermunicipal e de Comunicação

IDHM Índice de Desenvolvimento Humano Municipal

OAB Ordem dos Advogados do Brasil

OMPETRO Organização dos Municípios Produtores de Petróleo e Gás e Limítrofes da Zona de Produção Principal da Bacia de Campos

RE Recurso Extraordinário

(12)

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 12

2 O PACTO FEDERATIVO BRASILEIRO E O PRINCÍPIO DA SOLIDARIEDADE CONSTITUCIONAL ... 16

2.1 Origens, conceituação e tipologia do federalismo ... 16

2.1.1 Origens e evolução histórica do federalismo ... 16

2.1.2 Conceito da forma federativa de Estado ... 19

2.1.3 Tipologia do federalismo ... 20

2.2 Breve histórico do federalismo no Brasil ... 22

2.3 O pacto federativo instituído pela Constituição de 1988 ... 24

2.4 O pacto federativo brasileiro e o princípio da solidariedade constitucional ... 26

3 O REGIME JURÍDICO DOS ROYALTIES DO PETRÓLEO NO BRASIL ... 32

3.1 O papel do Estado na atividade econômica da exploração de petróleo ... 32

3.2 O art. 20, §1º da Constituição Federal: diferenças entre a participação nos resultados da exploração de recursos naturais e a compensação por essa exploração ... 35

3.3 O enquadramento dos royalties sobre a exploração de petróleo em face das duas alternativas postas pelo art. 20, §1º da Constituição Federal ... 40

4 ROYALTIES DO PETRÓLEO E PACTO FEDERATIVO NO BRASIL: ALTERAÇÕES PROMOVIDAS NA REPARTIÇÃO DOS ROYALTIES ENTRE OS ENTES FEDERADOS PELA LEI Nº 12.734/2012 ... 44

4.1 A distribuição dos royalties do petróleo entre os entes federados: um breve histórico ...44

4.2 As alterações promovidas pela Lei nº 12.734/2012 na repartição dos royalties do petróleo entre os entes federativos ... 47

4.2.1 Descrição das alterações ... 47

4.2.2 As Ações Diretas de Inconstitucionalidade contra a Lei nº 12.734/2012: análise da constitucionalidade das alterações promovidas pelo referido diploma ... 49

(13)

4.2.2.2 Violação do art. 155, §2º, X, “b” da Constituição... 53

4.2.2.3 Extensão das mudanças inclusive para os contratos de concessão anteriores à sua

vigência...57

4.3 Argumentos a favor das alterações promovidas pela Lei nº 12.734/2012 na distribuição dos royalties do petróleo entre os entes federativos ... 60

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 63

(14)

1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como objeto de estudo as alterações promovidas pela Lei

nº 12.734/2012 nas regras de distribuição dos royalties e da participação especial devidos em

função da exploração de petróleo, gás natural e outros hidrocarbonetos fluidos entre os entes

federados brasileiros1. A referida modificação legislativa acarretou intensas discussões

políticas e jurídicas, no que se transformou em um verdadeiro conflito federativo, o que

demonstra a relevância do tema.

Com efeito, em nações que adotam a forma federativa de Estado, como é o caso

do Brasil, a questão de como deve ser feita a apropriação dos resultados econômicos da

exploração de recursos petrolíferos pelos diversos entes federados é fonte de grandes

controvérsias, na medida em que as regiões onde os hidrocarbonetos são extraídos,

geralmente, pretendem absorver uma maior parcela das rendas resultantes dessa produção, ao

passo em que os entes da Federação não produtores buscam uma distribuição mais abrangente

das rendas auferidas entre toda a nação (BERCOVICI, 2011, p. 344-345).

Com a edição da Lei nº 12.734/2012, essa discussão ganhou novo destaque no

Brasil, haja vista que o referido diploma legal diminuiu a participação dos Estados e

Municípios produtores na percepção dos royalties do petróleo, favorecendo uma maior

distribuição entre a generalidade dos entes federativos.

A alteração promovida pelo Congresso Nacional teve sua constitucionalidade

questionada pelos Estados produtores, os quais foram prejudicados pelas novas regras, que

destinaram maiores recursos para Estados e Municípios não produtores. Nesse sentido, foram

propostas as seguintes Ações Diretas de Inconstitucionalidade perante o Supremo Tribunal

Federal: pelo Governador do Estado do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, a ADI nº 4917; pela

Mesa Diretora do Poder Legislativo do Rio de Janeiro, a ADI nº 4918; pelo Governador do

Espírito Santo, Renato Casagrande, a ADI nº 4916; e pelo Governador de São Paulo, Geraldo

Alckmin, a ADI nº 4920. Todas essas ações foram distribuídas à relatoria da Ministra Cármen

Lúcia.

Os novos critérios de distribuição dos royalties do petróleo foram atacados em

seus aspectos de mérito pelos seguintes fundamentos: a) as novas regras iriam de encontro ao

1

(15)

disposto no art. 20, §1º da Constituição Federal, já que os royalties teriam natureza

compensatória, e não redistributiva; b) a Lei nº 12.734/2012 violaria o art. 155, §2º, X, “b” da

Constituição, tendo em vista que os royalties teriam também a função de compensar as

regiões produtoras da imunidade tributária sobre operações que destinem a outros Estados

petróleo, inclusive lubrificantes, combustíveis líquidos e gasosos dele derivados.

Questionou-se, ainda, a aplicação imediata dos novos critérios de distribuição, o que iria de encontro aos

princípios da segurança jurídica, boa-fé objetiva, do ato jurídico perfeito e da

responsabilidade fiscal. Por esses motivos, conforme o entendimento dos Estados produtores,

as modificações introduzidas pela Lei nº 12.734/2012 violariam o pacto federativo brasileiro,

tal como instituído pela Constituição de 1988.

A ministra relatora da ADI nº 4917, Cármen Lúcia, em sede de medida cautelar,

acolheu os argumentos trazidos pelo governador fluminense, suspendendo os efeitos das

alterações promovidas pela Lei 12.734/2012, ad referendum do Plenário do STF.

A questão, contudo, permanece polêmica. Prova disso é o fato de que, desde a

concessão da liminar pela Ministra Cármen Lúcia, onze Estados e entidades entraram com

pedido de admissão como amicus curiae na ADI nº 4917, dos quais sete defendem a

constitucionalidade das alterações promovidas pela Lei nº 12.734/2012, e quatro apoiam as

pretensões do Governo do Rio de Janeiro2 (PINTO, 2013, online).

Assim, percebe-se que a problemática até aqui discutida é relevante, pois traz

importantes reflexos no que concerne ao equilíbrio do pacto federativo brasileiro, haja vista os

interesses conflitantes entre os diversos entes da Federação, a qual, diga-se, constitui cláusula

pétrea da ordem constitucional vigente, conforme disposto no art. 60, §4º, I da Constituição

da República.

Portanto, diante da carência de um posicionamento pacífico sobre o tema, e dos

evidentes impactos sociais e econômicos que a questão traz para o País, justifica-se a

realização de uma pesquisa monográfica que forneça subsídios para o deslinde de uma

solução possível para essa discussão, respondendo à seguinte indagação norteadora: os

critérios de distribuição dos royalties do petróleo entre os entes federados seguidos pela Lei nº

2 Defendendo a constitucionalidade da nova lei, pretendem ingressar como amicus curiae na ADI 4917 os

(16)

12.734/2012 estão de acordo com o modelo de federalismo instituído no Brasil pela

Constituição de 1988?

Para atingir esses objetivos, buscou-se realizar pesquisa bibliográfica e

jurisprudencial, bem como analisar os diversos diplomas legais referentes à matéria. No que

concerne à exposição, o estudo foi dividido em três capítulos.

No primeiro capítulo, buscou-se inicialmente compreender como se deu a

evolução histórica do federalismo, analisar a sua conceituação doutrinária e as suas diversas

tipologias. Posteriormente, o foco do estudo foi direcionado para a experiência brasileira,

tendo sido demonstrado o histórico da forma federativa de Estado em nosso País, desde a sua

primeira aparição, com a Proclamação da República, até a Constituição atualmente em vigor.

O modelo de federalismo proposto pelo constituinte de 1988 foi descrito e relacionado com o

princípio da solidariedade, destacando-se a opção política tomada pela Constituição Federal

no sentido da superação das desigualdades sociais e regionais.

No segundo capítulo, foi apresentado o regime jurídico dos royalties devidos pela

exploração de recursos petrolíferos, com ênfase no seu enquadramento nos parâmetros

estabelecidos pela Constituição Federal, notadamente em seu art. 20, §1º, que estabelece duas

figuras distintas sob as quais a remuneração pela exploração de recursos naturais pode se

apresentar: a compensação financeira e a participação nos resultados. Essa discussão é

fundamental para a análise dos argumentos utilizados pelos Estados produtores nas Ações

Diretas de Inconstitucionalidade propostas contra a Lei nº 12.734/2012, notadamente o de que

os royalties possuem natureza compensatória, motivo pelo qual não poderiam ser distribuídos

a unidades federativas não produtoras de petróleo.

No último capítulo deste estudo, foram analisadas de forma mais detida as

modificações introduzidas pela Lei nº 12.734/2012 na distribuição dos royalties do petróleo

entre os entes federativos. Inicialmente, foi feito um breve histórico da distribuição dos

royalties petrolíferos entre as unidades federadas no Brasil, buscando-se analisar quais as

reais inovações da Lei nº 12.734/2012. Após, foram descritos os argumentos contrários e

favoráveis às alterações, para que fosse possível analisar a sua constitucionalidade, tendo em

vista o modelo de federalismo adotado no Brasil pela Constituição de 1988, e descrito no

primeiro capítulo deste trabalho. Nesse contexto, a decisão prolatada em sede de medida

cautelar pela Ministra Cármen Lúcia, que suspendeu a eficácia das alterações promovidas pela

(17)

Por fim, têm-se as considerações finais, em que foram apresentados os resultados

da presente pesquisa, com uma resposta possível sobre a constitucionalidade das alterações

(18)

2 O PACTO FEDERATIVO BRASILEIRO E O PRINCÍPIO DA SOLIDARIEDADE CONSTITUCIONAL

A forma de distribuição espacial do poder nas entidades políticas reveste-se de

características singulares de acordo com a formação histórica e cultural de um determinado

povo, dando origem a diferentes formas de Estado.

Em certas regiões, busca-se uma maior centralização das decisões estatais, o que

acarreta a formação de Estados unitários. Por outro lado, diversos povos adotam formulações

jurídico-políticas que favorecem uma maior dispersão do poder no território nacional, com

vistas à autonomia das coletividades locais, no que se configuram Estados de forma

federativa.

No Brasil, ao longo da história, a forma de Estado adotada modificou-se

sensivelmente, a depender dos diferentes regimes políticos vigentes em um determinado

período.

Diante dessa construção histórica, neste capítulo será abordado o pacto federativo

brasileiro tal como instituído pelo constituinte de 1988, articulando-o com o princípio da

solidariedade constitucional.

2.1 Origens, conceituação e tipologia do federalismo

Para que se entenda a estruturação do federalismo brasileiro, cumpre ressaltar a

formação histórica da referida forma de Estado, bem como as suas conceituações e tipologias

doutrinárias, com o fito de se entender qual a espécie de Estado federal foi instituído pela

Constituição de 1988 no Brasil. É o que se fará a seguir.

2.1.1 Origens e evolução histórica do federalismo

Ao se buscar a gênese da ideia de federalismo, é importante ressaltar a formação

dos Estados Unidos da América, tendo em vista o seu caráter de pioneirismo.

Com efeito, a Revolução Americana, que culminou com a independência das treze

colônias britânicas na América do Norte em 1776, resultou no estabelecimento inicial das

colônias recém-independentes como treze Estados soberanos, embora unidos nacionalmente

na forma de uma Confederação, cujo arcabouço jurídico foi delineado nos Articles of

(19)

e ratificados por todos em 17813. O modelo confederativo adotado não previa a existência de

um Chefe do Executivo nacional, tampouco a criação de tribunais de âmbito federal. O que

havia era, apenas, um Congresso, em que cada Estado tinha igual representação, com

competências bastante restritas (BEARD; BEARD, 1921, p. 111).

De fato, conceitualmente, pode-se dizer que uma Confederação constitui-se de

uma união de Estados soberanos e autônomos, que, por meio de um tratado, isto é, um

instrumento de Direito Internacional, buscam determinados fins comuns, em razão de

afinidades históricas, geográficas, culturais ou políticas. Assim, a Confederação não se

relaciona juridicamente com cidadãos individualmente considerados, os quais se submetem à

soberania de seus próprios Estados, mas sim com os entes de Direito Público confederados.

Ainda, é interessante notar que os entes confederados podem, a qualquer momento, optar pela

secessão, na medida em que permanecem com sua soberania intacta (BONAVIDES, 1993, p.

187-189).

Percebe-se, desse modo, que uma organização confederativa favorece uma maior

descentralização, mantendo a soberania dos centros de poder locais, ao contrário do que

ocorreria se as colônias se unissem em um Estado de forma unitária. Sabe-se que a Revolução

Americana foi uma luta em nome de ideias como a igualdade natural, a liberdade de empresa

e o direito de propriedade (CHÂTELET; DUHAMEL; PISIER-KOUCHNER, 2000, p. 88),

ou seja, bandeiras de cunho eminentemente liberal. Diante das formas de organização política

conhecidas até então, os fundadores dos Estados Unidos entenderam que a confederativa era a

que, em tese, melhor se adaptava a essa ideologia, na medida em que evitava a centralização e

fortalecimento do poder estatal, mantendo, por outro lado, laços de união entre as treze

colônias.

A realidade, contudo, demonstrou que a organização confederativa adotada com

os Articles of Confederation não era a mais adequada para o equilíbrio e a prosperidade dos

Estados Unidos:

O governo sob os Artigos da Confederação não tinha nem a força, nem os recursos necessários para lidar com os problemas da reconstrução deixados pela guerra. [...] Os dois grandes poderes do governo, o militar e o financeiro, eram retidos. O Congresso, é verdade, poderia autorizar despesas, mas tinha que contar com os Estados para o pagamento das contribuições para satisfazer as suas contas. Também

3

A soberania de cada Estado foi garantida no art. 2º dos Articles of Confederation, que dispunha: “Art. 2. Cada Estado retém a sua soberania, liberdade e independência, e todo poder, jurisdição e direito que não seja por essa confederação expressamente delegado aos Estados Unidos, reunidos no Congresso”. (UNITED STATES OF AMERICA, online, tradução livre) No original: “Art. 2. Each State retains its sovereignty, freedom, and independence, and every power, jurisdiction, and right, which is not by this confederation, expressly delegated to

(20)

poderia pedir a criação de um exército, mas ele só poderia pedir aos Estados para suprir suas respectivas quotas de soldados. Não poderia lançar impostos nem impor obrigações para um só cidadão em todo o país. Poderia agir apenas por meio dos governos estaduais. (BEARD; BEARD, 1921, p.139-140, tradução livre)4

Diante dessa situação, o Congresso dos Estados Unidos convocou, em 1787, uma

Convenção Nacional, com o intuito de revisar os Articles of Confederation. Contudo, ao final

da Convenção, o que se deu foi a elaboração de uma Constituição inteiramente nova, que

instituiu uma forma de Estado igualmente inovadora, nunca antes vista na história: o Estado

federal, modelo visto como mais adequado à preservação da unidade das ex-colônias

norte-americanas, mantendo, por outro lado, a desconcentração do poder político, com a existência

de duas esferas distintas de poder, quais sejam, a federal e a estadual5 (BERCOVICI, 2004, p.

12).

A novidade, contudo, gerou preocupações, porquanto se temia que a nova

Constituição resultasse em um grande Estado unitário, em que os poderes locais pouca

relevância tivessem. Nesse contexto, cabe ressaltar que a formação do novo modelo foi

defendida pelos Artigos Federalistas (Federalist papers), escritos por Alexander Hamilton,

James Madison e John Jay, onde se procurou demonstrar, com o fito de acalmar os críticos,

que a preeminência na ordem federalista permaneceria com os Estados membros, os quais,

contudo, estariam mais protegidos em casos de guerra e calamidades:

Os poderes delegados para o governo federal pela constituição proposta são poucos e definidos. Aqueles que irão permanecer com os governos estaduais são numerosos e indefinidos. Os primeiros serão exercidos principalmente em assuntos externos, como guerra, paz, negociações e comércio exterior, com o que o poder de tributar estará, em sua maior parte, relacionado. Os poderes reservados aos diversos estados irão se estender sobre todos os assuntos que, no curso natural das coisas, afetam as vidas, liberdades e propriedades das pessoas, e a ordem interna, o progresso e a prosperidade do estado. (HAMILTON; MADISON; JAY, 2006, p. 259-260, tradução nossa)6

4 No original: “The government under the Articles of Confederation had neither the strength nor the resources

necessary to cope with the problems of reconstruction left by the war. [...] The two great powers of government, military and financial, were withheld. Congress, it is true, could authorize expenditures but had to rely upon the states for the payment of contributions to meet its bills. It could also order the establishment of an army, but it could only request the states to supply their respective quotas of soldiers. It could not lay taxes nor bring any pressure to bear upon a single citizen in the whole country. It could act only through the medium of the state

governments”. (BEARD; BEARD, 1921, p.139-140)

5 De fato, conforme salienta Paulo Bonavides, o Estado federal é fenômeno que tem o seu surgimento na Idade Moderna, não tendo sido concebido pelos povos antigos: “A antiguidade a rigor não conheceu o fenômeno

federativo com os característicos usualmente ostentados no Estado moderno. O que os gregos por exemplo denominavam Federação é aquilo que os modernos chamam Confederação. A Federação propriamente dita não a conheceram nem praticaram os antigos, visto que a mesma, tanto quanto o sistema representativo ou a separação de poderes, é das poucas idéias novas que a moderna ciência política inseriu em suas páginas nos três últimos

séculos de desenvolvimento.” (BONAVIDES, 1993, p. 206)

6 No original: “The powers delegated by the proposed constitution to the federal government, are few and

(21)

Ao final, contudo, a forma federativa de Estado, instituída pela nova Constituição

dos Estados Unidos da América, solidificou-se, estando vigente naquele país até os dias

atuais.

2.1.2 Conceito da forma federativa de Estado

As características que devem estar presentes para que possa haver uma Federação

são elencadas por Paulo Bonavides, com ênfase na autonomia dos Estados membros e na

existência de uma instância judiciária superior, capaz de resolver os conflitos jurídicos

eventualmente surgidos entre os entes federados:

Na verdade, como assinala o constitucionalista João Mangabeira, há Federação onde a tutela constitucional garante a autonomia dos Estados, onde estes participam de competência constitucional própria, onde a Constituição não se reforma sem a audiência e o consentimento dos Estados-membros, onde, por último, acima da vontade dos componentes da organização política, paira uma instância judiciária superior, tribunal supremo, com poderes para dirimir conflitos porventura suscitados entre a União e os referidos Estados. (BONAVIDES, 2007, p. 178).

É importante notar que a autonomia dos Estados membros não se confunde com a

soberania, que diz respeito somente ao Estado Federal considerado em seu todo. Nesse

sentido são as considerações de José Afonso da Silva a respeito do tema:

No Estado federal há que distinguir soberania e autonomia e seus respectivos titulares. Houve muita discussão sobre a natureza jurídica do Estado federal, mas, hoje, já está definido que o Estado federal, o todo, como pessoa reconhecida pelo Direito internacional, é o único titular da soberania, considerada poder supremo consistente na capacidade de autodeterminação. Os Estados federados são titulares tão-só de autonomia, compreendida como governo próprio dentro do círculo de competências traçadas pela Constituição Federal. (SILVA, 2009, p. 100, grifos do autor)

Percebe-se, destarte, que o federalismo, ao garantir a autonomia dos entes

federados, contrapõe-se à forma unitária de Estado, que tem como traço capital, conforme

aponta Bonavides, com apoio em Charles Durand, a “[...] inteira ausência de coletividades

inferiores, providas de órgãos próprios” (BONAVIDES, 1993, p. 167).

exercised principally on external objects, as war, peace, negotiation, and foreign commerce; with which the power of taxation will, for the most part, be connected. The powers reserved to the several states will extend to all the objects, which, in the ordinary course of affairs, concern the lives, liberties, and properties of the people;

(22)

Por outro lado, ao mesmo tempo em que é garantida a autonomia dos Estados

federados, no modelo federalista, ao contrário do que ocorre nas Confederações, permite-se

que a União Federal edite leis que se dirijam não somente aos Estados, mas aos cidadãos

individualmente considerados; disponha de competência administrativa própria; e estruture

um sistema judiciário de âmbito federal (BONAVIDES, 1993, p. 209).

Além da autonomia dos entes federados e da existência de uma instância

judiciária superior, salientadas por Bonavides, são características marcantes de um Estado

federal: a existência de uma Constituição7, que traga a repartição das competências entre as

diversas pessoas políticas da Federação; a inexistência do direito de secessão, com a

consequente possibilidade de intervenção nos Estados federados pela União, como forma de

garantir a unidade federal; e, por fim, a real participação dos entes federados na formação da

vontade da Federação (MENDES; COELHO; BRANCO, 2009, p. 849-851).

Em suma, pode-se conceituar o Estado federal como aquele, dotado de soberania e

indivisibilidade, em que coexistem diferentes esferas de governo autônomas, cujas

competências estejam delineadas em um texto constitucional rígido, e no qual as controvérsias

entre os entes federados sejam resolvidas por uma corte jurisdicional superior.

2.1.3 Tipologia do federalismo

Muito embora o Estado Federal, para que seja assim considerado, deva possuir um

núcleo mínimo de características específicas desse modelo político, o fato é que, diante das

diversas formações históricas, geográficas e econômicas dos países que adotaram o

federalismo, este pode se apresentar sob diferentes tipologias.

Em primeiro lugar, a doutrina ressalta que o federalismo pode se dar por

agregação ou por desagregação. A distinção, nesse caso, é simples: o Estado federal formado

por agregação corresponde a Estados que, antes independentes e soberanos, decidem se unir

para compor uma única unidade estatal; no que se chama de um movimento centrípeto. Já o

Estado federal decorrente da desagregação representa as experiências históricas de Estados

unitários que, por algum motivo, descentralizam-se, como ocorreu no Brasil, após um

movimento centrífugo (TAVARES, 2007, p. 955).

7 De acordo com André Ramos Tavares (2007, p. 961), essa Constituição deve ser rígida, para que não haja

(23)

Conforme visto, o surgimento do federalismo deu-se como uma decorrência da

Revolução Americana, em um contexto de predomínio do ideário liberal. Desse modo, o

modelo de Estado federal inicialmente construído pela experiência norte-americana

evidenciava a pouca possibilidade de interferência estatal, notadamente da União, na área

econômica, com a predominância do federalismo de tipo dualista (dual federalism), isto é,

consubstanciado em uma separação rígida de competências entre os entes federados, com

pouco ou nenhum espaço de cooperação entre os componentes da Nação (BERCOVICI, 2002,

p.15).

A crise de 1929, no entanto, demonstrou os limites do capitalismo encarado como

laissez-faire, o que ensejou, notadamente a partir do New Deal proposto pelo então presidente

norte-americano Franklin Roosevelt, uma maior interferência estatal nos assuntos

econômicos, como forma de tentar reverter os problemas ocasionados pela Grande Depressão.

Ganha força, então, a ideia do chamado Estado Social, o qual levou ao abandono do

federalismo rigidamente dualista, para dar lugar ao federalismo de tipo cooperativo

(cooperative federalism), em que a separação das atribuições e competências de cada ente

federativo não é tão bem definida como no federalismo dual (TAVARES, 2007, p. 956).

Outro aspecto marcante do federalismo cooperativo é que esse modelo fundamenta-se na

cooperação entre as unidades federadas, tendo em vista o desenvolvimento equilibrado de

toda a Nação (BERCOVICI, 2003, p. 77).

No tocante à tipologia do federalismo, deve ser analisada, igualmente, a simetria

entre os entes federados. Com efeito, é comum que, em uma Federação, existam níveis de

discrepância fática entre os entes, a qual pode se manifestar por diferenças econômicas,

sociais e mesmo linguísticas. Tendo em vista os distintos graus de simetria existentes em uma

Federação, a doutrina elenca o federalismo como simétrico ou assimétrico. Os Estados

Unidos, por exemplo, são considerados um caso de federalismo simétrico, já que, em virtude

do elevado grau de homogeneidade de desenvolvimento e cultura, todos os Estados são

considerados formalmente iguais. Por outro lado, países como a Suíça possuem um

federalismo de tipo assimétrico, dadas as grandes diferenças culturais e linguísticas existentes

entre os entes federados (TAVARES, 2007, p. 957).

É importante ressaltar que a assimetria fática em geral acaba por levar à

construção de estruturas jurídicas que permitam compensar essas disparidades, como assinala

(24)

[...] todos os Estados, unitários ou federais, possuem alguma forma de assimetria jurídica, para de tal feita corrigirem as assimetrias fáticas mais visíveis, e que, por assim dizer, possam obliterar a governabilidade no território nacional. Na persecução desse objetivo, algumas providências são então correlativas às diferenças mais gravosas à eficácia das políticas estatais e de manutenção da própria legitimidade governamental. (ZIMMERMANN, 1999, p. 61)

Também ressalta Zimmermann a existência de um federalismo de tipo orgânico,

que seria aquele em que as unidades federadas são formadas à imagem e semelhança de um

do poder central (ZIMMERMANN, 1999, p. 65). Com efeito, nas palavras do referido

doutrinador:

Encontramos, de tal maneira, algumas Constituições que obrigam os Estados-membros a se espelharem na vontade exclusiva da União, até naqueles detalhes de ordem mais nitidamente secundária. As leis estaduais acabam então sem relevância alguma, subordinadas que estão ao princípio sufocante da hierarquização das normas jurídicas. Assim, transforma-se a autonomia estadual nesta espécie de princípio desmoralizado, assistindo-se, ademais, à marcha centralizadora que põe termos finais às vantagens democráticas da descentralização política. (ZIMMERMANN, 1999, p. 65, grifo do autor)

Fala-se ainda, em sede doutrinária, de um “federalismo de integração”, que

representaria, nos dizeres de André Ramos Tavares (2007, p. 958), “...modalidade na qual as

características próprias do federalismo cooperativo seriam acentuadas, levando à

preponderância do Governo federal”. Gilberto Bercovici (2001, p. 55), por outro lado, aponta o “federalismo de integração” como uma construção teórica de juristas apoiadores do regime

militar brasileiro, por meio da qual se buscou escamotear o que realmente ocorreu naquele

período histórico: a completa supressão do federalismo.

2.2 Breve histórico do federalismo no Brasil

Ao contrário do que ocorreu em outras regiões da América, onde, com a

independência das colônias europeias, foram criadas repúblicas, o Brasil independente

organizou-se, inicialmente, como uma monarquia, dando origem a um Estado de forma

unitária.

A proclamação da República no Brasil, cujo arcabouço jurídico foi inicialmente

delineado pelo Decreto nº 1, de 1889, e posteriormente ratificado pela Constituição de 1891,

(25)

Estado8. Com efeito, naquele ano, constata-se uma modificação tríplice, porquanto se passou

de uma monarquia parlamentar unitária a uma república federal presidencialista.9 (BITAR,

1974, p. 44).

A adoção do federalismo pela República recém-proclamada se deu ainda no

contexto de predomínio ideológico do liberalismo, em fins do século XIX, o que significou a

preferência por um Estado federal de tipo dualista clássico, em que pouca ou nenhuma

cooperação havia entre os entes federados, ou entre estes e a União. Essa opção teve impactos

na questão das desigualdades regionais, como aponta Bercovici:

O resultado desse sistema foi a manutenção de desigualdades gritantes entre os vários membros da Federação. Os três Estados economicamente mais fortes (São Paulo, Minas Gerais e, em menor grau, Rio Grande do Sul) dominavam a República. Não é coincidência terem sido esses Estados os únicos que não sofreram intervenção federal, sob qualquer pretexto, até 1930. Podemos considerar como periféricos, mas sem poder efetivo, os Estados do Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco. Todos os demais dependiam diretamente da União, que, por sua vez, era dominada pelos jogos de alianças dos três grandes Estados. (BERCOVICI, 2001, p. 45)

Contudo, a Revolução de 1930, liderada por Getúlio Vargas, pôs fim ao regime

instituído pela Constituição de 1891, processo que se completou com a Constituição de 1934.

Conquanto tenha mantido a forma federativa de Estado, o referido texto constitucional

promoveu mudanças em relação ao modelo vigente na Primeira República. Com efeito, atento

ao novo momento histórico, o constituinte de 1934 ampliou as possibilidades de cooperação

entre os entes federativos, dando ênfase à solidariedade entre a União e os Estados membros

(BERCOVICI, 2001, p. 50). Por outro lado, argumenta-se que a Constituição de 1934

promoveu a centralização do poder nas mãos da União, cujas competências privativas

aumentaram (TAVARES, 2007, p. 967).

Em 1937, Getúlio Vargas instaura o Estado Novo, o que acarreta nova mudança

de Constituição. Assim, foi outorgada a Carta de 1937. Ainda que, formalmente, tenha sido

8 Muito embora, como dito, a Federação tenha sido de fato adotada no Brasil somente a partir do Decreto nº 1, de

1889, aspirações em prol do federalismo já vinham sendo concebidas dentro mesmo dos círculos monarquistas. Com efeito, Paulo Bonavides, ao tratar do histórico da Federação em nosso País, assevera: “[...] Esta (a Federação), ou já se desejava, no sentir de monarquistas abalizados, da índole liberal de Nabuco e Rui, ou já se aguardava, por solução lógica e idônea aos antagonismos e crises que desde muito dilaceravam o corpo político da Monarquia. O Decreto 1 foi apenas o coroamento vitorioso de velhas aspirações autonomistas que, não se podendo fazer nos quadros institucionais do Império por um ato reformista, se fizeram pela via improvisa da ação revolucionária de 15 de novembro de 1889, resultando assim na implantação do sistema republicano.” (BONAVIDES, 2004, p. 390)

9 É interessante notar que o Decreto nº 1, de 1889, proclama, no seu art. 3º, uma “legítima soberania” de que os

Estados membros seriam dotados. Trata-se, evidentemente, de uma impropriedade técnica do legislador, ou, nas

palavras de Bitar (1974, p. 45), de um “delírio de primeira hora”, porquanto, como visto, no federalismo, os

(26)

mantida a forma federativa de Estado, conforme o disposto no art. 3º da referida

Constituição10, o fato é que, na prática, conforme apontou Karl Loewenstein (1942, p. 52), em

estudo destinado a analisar o Brasil durante o período do Estado Novo, o País transformou-se

em um Estado unitário, de sorte que as unidades federadas tornaram-se meras subdivisões

administrativas da União.

Com a deposição de Vargas em 1945, e o consequente fim do Estado Novo,

promulga-se uma nova Constituição em 1946. No que concerne ao tema do federalismo,

adotou-se o tipo cooperativo, confirmando a tendência estabelecida pela Constituição de

1934. O problema das desigualdades regionais passou a ser enfrentado de forma mais efetiva,

como salienta Gilberto Bercovici:

A Constituição de 1946 consolidou a estrutura cooperativa no federalismo brasileiro, prevista já em 1934, com grande ênfase na redução dos desequilíbrios regionais, favorecendo, apesar do reforço do poder federal, a cooperação e integração nacional. Foi sob a vigência desta Constituição, na década de 1950, que a Questão Regional ganhou importância no debate político nacional, com a concepção de que a atuação estatal e o planejamento eram elementos essenciais para o desenvolvimento, de acordo com as diretrizes elaboradas pela recém-criada CEPAL. Desde então, todas as constituições brasileiras têm a preocupação de tentar consagrar instrumentos para a superação das desigualdades regionais. (BERCOVICI, 2001, p. 52)

A Constituição de 1946, entretanto, vigorou por curto período. É que, com o golpe

de 1964, iniciou-se um processo que culminou com a outorga, pelo regime militar, da Carta

de 1967, e da Emenda Constitucional nº 1, de 1969, as quais, conforme anota José Afonso da

Silva (2009, p. 99), mantinham o federalismo apenas de forma nominal, centralizando,

novamente, o poder nas mãos do governo central.

2.3 O pacto federativo instituído pela Constituição de 1988

Com o progressivo enfraquecimento do governo militar, abriu-se caminho para a

redemocratização no Brasil durante a década de 1980. O processo de abertura política

culminou com a promulgação da Constituição de 1988, a qual reestabeleceu o pacto

federativo brasileiro. Com efeito, o vigente texto constitucional inicia-se já com a

proclamação do Brasil como uma República Federativa, formada pela união indissolúvel dos

Estados, Municípios e Distrito Federal. Outro fator que demonstra a importância dada pelo

constituinte originário à Federação é a presença da forma federativa de Estado no rol das

(27)

cláusulas pétreas (art. 60, §4º, I da Constituição), isto é, aquelas matérias que não poderão ser

alteradas nem mesmo por emenda constitucional.

No que concerne aos entes federados, existe certa controvérsia doutrinária quanto

à posição dos Municípios a partir da Constituição de 1988. Silva (2009, p. 474-475), por

exemplo, não reconhece os Municípios como entidade federativa autônoma, entendendo que

se tratam apenas de divisões dos Estados. Na obra de Mendes, Coelho e Branco (2009, p. 865)

afirma-se que, embora seja predominante a posição de que os Municípios tornaram-se

integrantes da Federação a partir da Constituição de 1988, existem fortes argumentos em

contrário, na medida em que: a) os Municípios não participam da formação da vontade

federal, o que se dá no Senado; b) os Municípios não possuem Poder Judiciário próprio; c) a

intervenção nos Municípios ficou a cargo dos Estados, e não da União. O entendimento de

Bonavides (2009, p. 344), por outro lado, é no sentido de que, a partir da Constituição de

1988, a posição do Município é “indissociável da essência do próprio sistema federativo”.

Não obstante os posicionamentos em contrário, diante do texto constitucional

vigente, é clara a natureza de ente federativo conferida aos Municípios, na medida em que

estes são autônomos, dispondo de governo e competência legislativa próprios, como

decorrência direta da Constituição Federal. É possível, seguramente, atribuir certas

características únicas aos Municípios, que dão uma dose de singularidade à sua posição no

contexto do federalismo, mas nunca negar a essas entidades o status de ente federativo.

Entender de maneira diversa equivaleria a contrariar o texto literal da Constituição, que, como

visto, proclama já em seu artigo inaugural que a Federação brasileira é formada pela união

indissolúvel de Estados, Municípios e Distrito Federal.

Quanto às características elementares do federalismo, todas estão presentes na

ordem constitucional vigente. Com efeito, além da indissolubilidade, proclamada já pelo art.

1º da Constituição, a autonomia de cada um dos entes federados foi garantida no art. 18,

segundo o qual a República Federativa do Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito

Federal e os Municípios, sendo todos estes autônomos.

Igualmente, foi prevista a existência de uma instância judicial superior para

dirimir os conflitos entre os entes federados. É o que dispõe o art. 102, I, “f” da Constituição,

que elencou como uma das competências do Supremo Tribunal Federal o julgamento

originário das causas e conflitos entre a União e os Estados, a União e o Distrito Federal, ou

(28)

2.4 O pacto federativo brasileiro e o princípio da solidariedade constitucional

Conforme exposto, o federalismo em geral baseia-se em alguns caracteres

fundamentais, tais como a autonomia, a indissolubilidade, a existência de uma constituição

rígida e de uma instância judiciária superior, todos os quais estão presentes no atual pacto

federativo brasileiro. Outros princípios, contudo, são fundamentais para se compreender a

federação tal como delineada pela Constituição de 1988.

Nesse contexto, é de suma importância a noção de solidariedade, na medida em

que, a partir dela, torna-se possível derivar a possibilidade de exigências e prestações

recíprocas entre os integrantes do corpo social. Com efeito, aponta Marcio Augusto de

Vasconcelos Diniz:

O primeiro contato com a noção de solidariedade mostra uma relação de pertinência: as nossas ações sociais repercutem, positiva ou negativamente, em relação a todos os demais membros da Comunidade. A solidariedade implica, por outro lado, a co-responsabilidade, a compreensão da transcendência social das ações humanas, vem a ser, do co-existir e do con-viver comunitário. Percebe-se, aqui, igualmente, a sua inegável dimensão ética, em virtude do necessário reconhecimento mútuo de todos como pessoas, iguais em direitos e obrigações, que dá suporte a exigências recíprocas de ajuda ou sustento. (DINIZ, 2008, p. 32)

A solidariedade revela, destarte, uma responsabilidade dos membros de uma

coletividade com relação aos seus semelhantes, na medida em que o ser humano não pode se

desenvolver de maneira isolada, mas somente quando inserido em um contexto de interações

com outras pessoas. Sendo assim, cada um deve, a partir do reconhecimento da dignidade

ínsita ao homem, ou seja, de que o ser humano jamais pode ser visto como um meio, mas sim

como um fim em si mesmo, velar pelo bem estar de todos, e vice versa, com vistas ao

equilíbrio e harmonia da comunidade.

Visto sob uma perspectiva jurídica, a solidariedade alcançou o patamar de

princípio, o que, na clássica definição de Celso Antônio Bandeira de Mello, significa:

[...] mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele, disposição fundamental que se irradia sobre diferentes normas, compondo-lhes o espírito e servindo de critério para exata compreensão e inteligência delas, exatamente porque define a lógica e a racionalidade do sistema normativo, conferindo-lhe a tônica que lhe dá sentido harmônico. [...] (BANDEIRA DE MELLO, 2009, p. 53).

Inicialmente desenvolvido no âmbito do Direito Privado, o referido princípio

(29)

Na seara constitucional, a presença do aludido postulado decorre de previsão expressa da

Constituição de 1988, segundo a qual constitui objetivo da República “construir uma

sociedade livre, justa e solidária” (CF/88, art. 3º, I, grifo nosso), além do que, conforme

proclama o constituinte de 1988 em seu Preâmbulo, buscou-se, a partir da Constituição,

instituir um Estado Democrático, segundo os valores de uma sociedade fraterna (ARAÚJO;

MARQUES JÚNIOR, 2008).

De fato, o princípio da solidariedade ganha maior relevo, no contexto do Direito

Constitucional, com o estabelecimento do Estado Social, isto é, aquele que pretende garantir,

além dos direitos de liberdade (direitos de primeira dimensão), os direitos de segunda

dimensão, quais sejam, os direitos de igualdade, de cunho social11:

Sob essa ótica, quando a realização dos direitos sociais, ainda que sob o aspecto do mínimo vital, ocorre com base no princípio da solidariedade, tem-se a necessidade de tornar-se eficaz o princípio geral de que os indivíduos (concidadãos) são chamados a adimplir certos deveres ou exigências constitucionais para a tutela e realização dos valores constitucionais fundamentais que decorrem, inclusive, das concepções do que seja o bem comum: salus populi suprema lex est. Com efeito, a solidariedade, como valor, fornece as bases da convivência social, reconhecida e prefigurada pela sociedade e pelo constituinte, superando-se uma visão atomístca [sic] e promovendo um senso ou vínculo de comunidade. (DINIZ, 2008, p. 39)

Diante dessas considerações, pode-se dizer que a solidariedade, hodiernamente,

não é vista apenas como um princípio que deve informar as relações interpessoais, isto é,

entre indivíduos de uma determinada comunidade, com vistas ao bem comum. Sob outra

perspectiva, é lícito afirmar que também nas comunidades formadas por entes políticos

(federações, confederações, uniões comunitárias etc.), o princípio da solidariedade se faz

presente, na relação entre as diversas entidades-membro, como forma de promover a

harmonia e a permanência da unidade política. Como salienta Abrantes:

11 É usual a classificação dos direitos fundamentais em gerações, nomenclatura que, não obstante, é criticada por Paulo Bonavides, que prefere o termo “dimensão”: “[...] o vocábulo dimensão substitui, com vantagem lógica e qualitativa, o termo ‘geração’, caso este último venha a induzir apenas sucessão cronológica e, portanto, suposta

caducidade dos direitos das gerações antecedentes, o que não é verdade. [...]” (BONAVIDES, 2009, p. 571-572). Abstraindo-se a questão de nomenclatura, a doutrina aponta atualmente as seguintes gerações (ou dimensões) de direitos fundamentais: os direitos de primeira dimensão seriam os direitos individuais e políticos, relacionados à liberdade; os direitos de segunda dimensão são os direitos sociais, bem como os econômicos, buscando-se uma maior igualdade entre os membros da comunidade; os direitos de terceira dimensão são aqueles titularizados coletiva ou difusamente, tais como o direito do consumidor e o ambiental; a quarta dimensão de direitos fundamentais seria aquela que se relaciona à globalização política, conforme Paulo Bonavides, ou em uma tutela diferenciada de certos grupos sociais vulneráveis (crianças, idosos, negros etc.). (TAVARES, 2007, p. 428-431) Paulo Bonavides (2009, p. 579-593) arrola ainda uma nova dimensão de direitos fundamentais, qual seja, a

(30)

O Princípio Constitucional da Solidariedade esta [sic] presente quando há uma Federação ou em um ente como a União Européia (onde ocorre um pacto /tratado/acordo entre vários Estados ou Estados Soberanos) - em que se impõe a cooperação, colaboração, partilha, divisão, distribuição de encargos, de sucessos e insucessos, e de vantagens e desvantagens, trocas de experiências e de tecnologias entre os Estados, ou entre regiões de um mesmo Estado. (ABRANTES, 2004, p. 130)

No tocante aos Estados que adotam a forma federativa, portanto, o princípio da

solidariedade também se impõe, mormente naqueles em que há certo grau de disparidade de

desenvolvimento econômico e social entre as diversas regiões. Com efeito, diante do

estabelecimento de um Estado Social, marcado pela ideia de igualdade, não mais se aceita que

determinadas regiões de um Estado Federal alcancem altos níveis de desenvolvimento,

enquanto outras permanecem em níveis de elevada pobreza. Como uma tentativa de

solucionar esse problema, foi desenvolvida a tipologia do federalismo cooperativo,

fundamentada, em grande medida, na solidariedade entre os entes federados. Nesse sentido, é

interessante trazer à baila o pensamento de Gilberto Bercovici acerca da matéria:

O Federalismo Cooperativo está em estreita relação com o Estado intervencionista (o chamado Estado Social), que tem por objetivos, entre outros, a igualação das condições de vida e a redução das desigualdades sócio-econômicas em todo o território nacional (no nosso caso, inclusive, por determinação expressa do art. 3º da Constituição de 1988, conforme veremos adiante). É justamente a exigência de solidariedade do Estado Social que fez com que fosse formulado um princípio de fidelidade federal que vincula a União e os entes federados, condicionando e orientando suas políticas na direção da diminuição das desigualdades sociais. Não é possível, porém, a uniformização das condições sociais de vida entre os vários entes federados se estes não tiverem capacidade suficiente (não apenas econômica, mas também política) para satisfazer plenamente todas as suas funções. Assim, a forma cooperativa de Federalismo tem por objetivo fundamental a igualação de capacidade dos membros da Federação. (BERCOVICI, 2003, p. 78-79)

O Brasil caracteriza-se por uma marcante diferença entre os níveis de

desenvolvimento alcançado pelas diversas regiões, situação que, não obstante os avanços

obtidos nas últimas décadas, ainda persiste. Com efeito, basta uma análise dos dados

referentes ao Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) para constatar que os

Estados do Norte, Nordeste e Centro-Oeste brasileiros possuem a maior parte de seus

Municípios enquadrados no IDHM de nível médio, baixo ou muito baixo; ao passo em que,

nas regiões Sul e Sudeste, a maioria dos municípios tem alto Índice de Desenvolvimento

(31)

Tabela 1- Porcentagem dos municípios por região e categoria do IDHM - 2010 (%)

REGIÕES DESENVOLVIMENTO HUMANO

MUITO BAIXO BAIXO MÉDIO ALTO MUITO

ALTO

NORTE 4,0 40,1 50,3 5,6

NORDESTE 0,8 61,3 36,1 1,9

SUDESTE 4,4 41,7 52,2 1,7

SUL 0,4 33,7 64,7 1,2

CENTRO-OESTE

2,1 56,9 40,8 0,2

BRASIL 0,6 24,6 40,1 33,9 0,8

Fonte: Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (2013).

Atento a essa realidade, o constituinte de 1988 estampou como objetivos

fundamentais da República “garantir o desenvolvimento nacional” e “reduzir as desigualdades

sociais e regionais” (CF/88, art. 3º, II e III), bem como alçou à categoria de princípio da atividade econômica “a redução das desigualdades regionais e sociais” (CF/88, art. 170, VII). É evidente que os dispositivos citados devem ser interpretados de forma harmônica entre si,

de modo que se pode concluir, sem muitas dificuldades, que o desenvolvimento nacional, e

toda a atividade econômica desenvolvida no Brasil, deve se dar de forma equânime entre as

diversas regiões do País, com o fito de, progressivamente, reduzir as disparidades existentes

entre as diversas partes da Nação.

Outros dispositivos constitucionais apontam para a redução das desigualdades

regionais como um objetivo a ser alcançado pela República do Brasil. Nesse sentido, o art.

151, I admite a concessão de incentivos fiscais que promovam o equilíbrio do

desenvolvimento socioeconômico entre as diferentes regiões do País; o art. 43, por seu turno,

proclama que a União poderá articular sua ação, para efeitos administrativos, em um mesmo

complexo geoeconômico e social, visando à redução das desigualdades regionais.

Percebe-se, desse modo, a importância que a questão da desigualdade entre as

regiões do País tem no texto constitucional vigente, perpassando, assim, todo o ordenamento

jurídico. Nesse sentido, pode-se dizer que a busca pela redução das desigualdades regionais é

um vetor interpretativo que deve vincular toda a atividade estatal, em suas diferentes

manifestações, quais sejam, legislativa, executiva e judicial, bem como, em certa medida, a

atuação dos agentes privados. Conforme aponta Gilberto Bercovici:

(32)

as políticas públicas, medidas legislativas e decisões judiciais) se conformar formal e materialmente ao programa inscrito no texto constitucional. (BERCOVICI, 2003, p. 100)

A concretização desse objetivo depende, fundamentalmente, da solidariedade no

relacionamento entre os entes federados, na perspectiva de um federalismo de tipo

cooperativo. De fato, como salienta Luis Alberto Costa:

Nosso federalismo comporta um amplo, complexo e singular sistema de inter-relações de participação, cooperação e integração entre União, Estados e Municípios, o que implica numa importante correlação entre o federalismo e o princípio da solidariedade, estampado no inc. III do art. 3º da Carta de 1988. Trata-se de uma forma de inter-relacionamento federativo em que Trata-se busca não somente as condições para que cada ente federado, a seu modo, concretize os direitos sociais fundamentais, mas, indo além disso, para que todas as entidades federativas alcancem esse objetivo da forma mais equânime possível. (COSTA, 2013, p. 14)

Cabe salientar que a solidariedade e a cooperação entre os entes federados

prevista na Constituição de 1988 não se resume a meros enunciados programáticos ou

teóricos. Como exemplo prático dessa opção do constituinte, pode ser citado o mecanismo de

transferências de verbas oriundas da arrecadação tributária entre os entes federados, previsto

no art. 159 da Carta Política, segundo o qual deverão ser divididos pela União 48% (quarenta

e oito por cento) do Imposto de Renda e do Imposto sobre Produtos Industrializados da

seguinte forma: a) 21,5% (vinte e um inteiros e cinco décimos por cento) ao Fundo de

Participação dos Estados e do Distrito Federal; b) 22,5% (vinte e dois inteiros e cinco décimos

por cento) ao Fundo de Participação dos Municípios; c) 3% (três por cento), para aplicação

em programas de financiamento ao setor produtivo das Regiões Norte, Nordeste e

Centro-Oeste, através de suas instituições financeiras de caráter regional, de acordo com os planos

regionais de desenvolvimento, ficando assegurada ao semiárido do Nordeste a metade dos

recursos destinados à Região, na forma que a lei estabelecer; d) 1% (um por cento) ao Fundo

de Participação dos Municípios, que será entregue no primeiro decêndio do mês de dezembro

de cada ano.

Além do fato de que a União deverá destinar uma parcela especial de recursos

para o financiamento do setor produtivo das Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, as

quais, como demonstrado, são as que possuem os piores indicadores de desenvolvimento

humano, deve-se ressaltar o fato de que os fundos de participação mencionados no parágrafo

anterior devem ter as suas verbas distribuídas de forma a promover o equilíbrio

(33)

Federal, em mais uma manifestação da solidariedade constitucionalmente exigida entre os

diversos entes da Federação.

Portanto, pelo que foi até aqui exposto, torna-se lícito concluir que o pacto

federativo brasileiro instituído em 1988, indo além de uma simples autonomia dos entes

federados, adotou o modelo cooperativo, fundamentado, a seu turno, no princípio da

solidariedade, de modo que todos os componentes da federação, isto é, União, Estados,

Distrito Federal e Municípios, devem atuar, no contexto da atividade econômica, de forma

conjunta e integrada, visando garantir um desenvolvimento nacional equilibrado, com a

diminuição, e progressiva eliminação, das disparidades regionais existentes no País e, por

conseguinte, das desigualdades sociais no interior de toda a comunidade.

Diante dessa opção política formulada no texto constitucional, nos marcos de uma

Constituição Dirigente, cabe ao Estado, e também à sociedade, formular mecanismos que a

concretizem, mormente quando da interpretação de dispositivos infraconstitucionais. Tendo a

concretização dos princípios e objetivos fundamentais da República caráter vinculante para o

intérprete; no que se inclui, certamente, o atual modelo federativo brasileiro, fundamentado na

cooperação e solidariedade entre os entes federados, toda a atividade estatal (executiva,

(34)

3 O REGIME JURÍDICO DOS ROYALTIES DO PETRÓLEO NO BRASIL

O petróleo é um recurso mineral há muito conhecido da humanidade, não obstante

somente no século XIX sua exploração em maior escala tenha se iniciado. Aponta-se, como

marco inicial dessa reviravolta, a perfuração de um poço na Pensilvânia, EUA, em 1859, de

onde se podia obter petróleo de boa qualidade e, por conseguinte, fácil refino. (LUCCHESI,

1998, p. 17).

Por ter se tornado, ao longo dos dois séculos passados, um recurso natural

estratégico para o desenvolvimento das mais diversas atividades industriais, angariando assim

grande valor econômico, é de suma importância que a exploração do petróleo se dê em

consonância com objetivos que melhor atendam ao interesse público, de forma que os

resultados financeiros da extração mineral beneficiem a toda a coletividade.

Nesse diapasão, será abordado no presente capítulo o regime jurídico adotado no

Brasil para a regulamentação de uma das principais formas de remuneração ao Poder Público

pela exploração de petróleo, isto é, os royalties.

3.1 O papel do Estado na atividade econômica da exploração de petróleo

Como visto, o petróleo é um bem de grande importância para a economia

moderna, o que torna necessário a adoção de mecanismos tendentes a fazer com que a sua

exploração se dê em benefício coletivo, e não somente de poucas empresas cuja atuação

ocorra nesse segmento. Nesse contexto, deve ser salientado o importante papel que cabe ao

Estado no que concerne à exploração desse recurso natural, conforme aponta Gilberto

Bercovici:

O papel do Estado é central para a política energética em geral e, em particular, no setor de petróleo, servindo para coibir o poder econômico dos grandes oligopólios, garantir a exploração não-predatória das jazidas e defender o interesse da coletividade, além de atuar de forma estratégica, militar e economicamente, controlando o suprimento de petróleo e derivados. (BERCOVICI, 2011, p. 314)

Dentro desses parâmetros, no Brasil, o constituinte de 1988 houve por bem

determinar, no art. 20, IX da Constituição, que os recursos minerais, inclusive os do subsolo,

constituem bens integrantes do patrimônio da União, no que se inclui, evidentemente, o

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