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Reconstrução de estados de sistemas quânticos compostos e caracterização de emaranhamento por operações locais e comunicação clássica

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Academic year: 2021

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Instituto de F´

ısica Gleb Wataghin

Reconstru¸c˜

ao de estados de sistemas

quˆ

anticos compostos e caracteriza¸c˜

ao de

emaranhamento por opera¸c˜

oes locais e

comunica¸c˜

ao cl´

assica

Frank E. S. Steinhoff

Orientador: Marcos C´

esar de Oliveira

Disserta¸c˜ao apresentada ao Instituto de F´ısica Gleb Wataghin para a obten¸c˜ao do t´ıtulo de Mestre em F´ısica.

Este exemplar corresponde `a reda¸c˜ao final da Disserta¸c˜ao de Mestrado defendida pelo aluno Frank Eduardo da Silva Steinhoff e aprovada pela Comiss˜ao Julgadora.

Campinas, 23 de mar¸co de 2009.

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(3)
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iii ”Falas de civiliza¸c˜ao, e de n˜ao dever ser, Ou de n˜ao dever ser assim. Dizes que todos sofrem, ou a maioria de todos, Com as coisas humanas postas desta maneira. Dizes que se fossem diferentes, sofreriam menos. Dizem que se fossem como tu queres, seria melhor. Escuto sem te ouvir. Para quˆe te quereria eu ouvir? Ouvindo-te nada ficaria sabendo. Se as coisas fossem diferentes, seriam diferentes: eis tudo. Se as coisas fossem como tu queres, seriam s´o como tu queres. Ai de ti e de todos os que levam a vida A querer inventar a m´aquina de fazer felicidade!” Alberto Caeiro - Poemas Inconjuntos

(5)

Gostaria de agredecer minha m˜ae e minha av´o por sempre estarem ao meu lado, pelo apoio e pelos sacrif´ıcios que fizeram para que eu chegasse onde estou. Aos meus amigos de S˜ao Bernardo do Campo e aos da f´ısica, da matem´atica, da moradia, da sala de estudos do DFMC e da Unicamp em geral. Em especial gostaria de agradecer `a Denise, minha namorada, por ter aparecido na minha vida na hora certa. Ao meu orientador de tese, Marcos C´esar de Oliveira, por me incentivar, mostrar o que ´e relevante e confiar em mim. Agrade¸co pelos dois anos de pesquisa, com os quais aprendi muito. Ao meu orientador de inicia¸c˜ao Alberto Saa, pelos ”anticorpos”e ao professor Carlos Our´ıvio Escobar, por se mostrar um ´otimo professor. Ao Grupo de Teoria, em particular Gustavo Rigolin, M´arcio Corn´elio, Thiago Oliveira e Jo˜ao Paulo por me ajudarem em muitas ocasi˜oes. Por fim, agrade¸co `a CAPES pelo incentivo financeiro.

(6)

Resumo

Propomos um m´etodo para obten¸c˜ao de propriedades de sistemas quˆanticos compostos utilizando apenas medi¸c˜oes estritamente locais e comunica¸c˜ao cl´assica. Isso difere dos esquemas usualmente utilizados em protocolos de informa¸c˜ao quˆantica, que se utilizam em sua maioria de opera¸c˜oes globais e/ou opera¸c˜oes locais conjuntas. Nosso tratamento consiste em analisar o efeito de medi¸c˜oes em um subsistema sobre as submatrizes da matriz densidade do sistema composto. Analisamos ent˜ao como outros subsistemas po-dem ser expressos em termos dessas submatrizes, obtendo assim o efeito das medi¸c˜oes feitas em um subsistema sobre os outros. Aplicamos esse resultado - v´alido para siste-mas com espa¸cos de Hilbert discretos de dimens˜ao arbitr´aria - a dois problesiste-mas centrais em protocolos de informa¸c˜ao quˆantica: a reconstru¸c˜ao de estados de sistemas compos-tos e a caracteriza¸c˜ao de emaranhamento. Para a tarefa de reconstru¸c˜ao, mostramos como determinar um estado de um sistema composto de dimens˜ao finita arbitr´aria utilizando apenas medi¸c˜oes locais e comunica¸c˜ao cl´assica de uma via. A vantagem de nossa proposta est´a em eliminar a necessidade de medi¸c˜oes conjuntas, o que se traduz, no contexto de ´otica linear, em eliminar medi¸c˜oes de coincidˆencia. Analisamos a carac-teriza¸c˜ao de emaranhamento considerando classes especiais de estados. Para estados com alta simetria - estados isotr´opicos, de Werner e de simetria rotacional constitu´ıdos por um qubit e um qudit - mostramos uma rela¸c˜ao entre o grau de emaranhamento e a diferen¸ca de popula¸c˜ao medida por um subsistema condicionada a medi¸c˜oes de pari-dade do outro subsistema, rela¸c˜ao essa j´a evidenciada em estados gaussianos sim´etricos. Al´em disso, propomos uma nova fam´ılia de estados cujo emaranhamento pode ser ca-racterizado com muito menos recursos do que os utilizados para a reconstru¸c˜ao, sendo esses recursos estritamente locais.

(7)

We propose a method to obtain properties of composite quantum systems using stric-tly local measurements and classical communication only. This differs from schemes usually employed in quantum information protocols where global and/or joint local operations are commonly used. Our treatment consists of analysing the effect of mea-surements of a system over submatrices of the density matrix of the compound system. We analyse then how copies of a subsystem can be expressed in terms of these sub-matrices, obtaining thus the effect of the measurements done in a subsystem upon the others. We apply this result - valid for discrete Hilbert spaces of arbitrary dimension - to two central problems in quantum information protocols: the state reconstruction of composite systems and entanglement characterization. For the reconstruction task, we show how to determine a state of a arbitrary finite dimension composite system using local measurements and one-way classical communnication only. The advantage of our proposal lies in elimnating the need for joint measurements, which translates as eliminating coincidence measurements in linear optics context. We analyse entanglement characterization considering special classes of states. For high symmetry states -isotropic states, Werner states and rotationally symmetric states composed of a qubit and a qudit - we show a relation between entanglement degree and population dif-ference measured by one subsystem conditioned to parity measurements of the other subsystem, this relation already present in gaussian symmetric states. Moreover, we propose a new family os states whose entanglement can be characterized with much fewer resources than that used for reconstruction, this resources being strictly local.

(8)

Sum´

ario

Agradecimentos iv Resumo v Abstract vi Introdu¸c˜ao 1 1 Fundamentos 4 1.1 Opera¸c˜oes quˆanticas . . . 4 1.1.1 Medi¸c˜oes . . . 7

1.1.2 Opera¸c˜oes locais, globais e o paradigma SLOCC . . . 8

1.2 Proje¸c˜oes locais e submatrizes globais . . . 10

1.2.1 Exemplo: dois qubits . . . 14

2 Determina¸c˜ao de estados quˆanticos 15 2.1 Sistemas de uma parte . . . 15

2.1.1 Um qubit . . . 15

2.1.2 Um qudit . . . 18

2.2 Sistemas compostos . . . 22

2.2.1 M´ultiplos qubits . . . 22

2.2.2 Caso geral . . . 23

2.3 Reconstru¸c˜ao de estados via medi¸c˜oes projetivas locais e comunica¸c˜ao cl´assica de uma via . . . 24

2.3.1 Dois qubits . . . 24

2.3.2 Caso geral bipartite . . . 28

2.3.3 Generaliza¸c˜ao para sistemas multipartites . . . 32

2.4 Minimiza¸c˜ao de recursos experimentais . . . 33

3 Emaranhamento 36 3.1 Defini¸c˜ao . . . 36

3.2 Crit´erios de separabilidade . . . 38

(9)

3.2.1 Decomposi¸c˜ao de Schmidt . . . 38

3.2.2 Crit´erio Peres-Horodecki . . . 39

3.3 Quantifica¸c˜ao de emaranhamento . . . 42

3.3.1 Axiomas . . . 42

3.3.2 Exemplos de medidas . . . 43

3.4 Caracteriza¸c˜ao de emaranhamento por opera¸c˜oes locais e comunica¸c˜ao cl´assica . . . 45

3.4.1 Estados isotr´opicos e de Werner . . . 46

3.4.2 Estados de simetria rotacional compostos por um qubit e um qudit 51 3.4.3 Novas fam´ılias de estados emaranhados . . . 52

Conclus˜oes e perspectivas 63

(10)

Introdu¸c˜

ao

Sistemas quˆanticos compostos tˆem atra´ıdo cada vez mais a aten¸c˜ao da comunidade cient´ıfica por seus fenˆomenos singulares e pela alta complexidade de seus problemas. Desde o c´elebre artigo de Einstein, Podolsky e Rosen [1], percebeu-se que sistemas de mais de uma parte merecem um tratamento diferenciado. Nesse sentido, obter as propriedades f´ısicas dos estados que descrevem tais sistemas ´e de suma importˆancia.

A maneira mais direta de obter qualquer propriedade f´ısica de um estado ´e atrav´es do m´etodo chamado reconstru¸c˜ao de estados, tamb´em conhecido como tomo-grafia quˆantica. Esse m´etodo consiste em obter os elementos da matriz densidade de um estado quˆantico atrav´es da medi¸c˜oes de observ´aveis apropriados. Estamos assim reconstruindo a matriz densidade, que, como ´e bem sabido [2, 3], cont´em qualquer informa¸c˜ao sobre o sistema. O primeiro trabalho a colocar a quest˜ao de como deter-minar um estado quˆantico ´e devido a Fano [4]. Desde ent˜ao, diversos m´etodos foram desenvolvidos [5, 6, 7, 8, 9, 10] para sistemas de uma parte.

Para sistemas compostos, devemos medir as correla¸c˜oes entre os subsistemas [11]. Os m´etodos atuais de tomografia nesse caso se baseiam em medi¸c˜oes sobre o sistema global ou medi¸c˜oes conjuntas nos subsistemas. As ´ultimas apresentam uma certa vantagem sobre as primeiras se considerarmos um cen´ario em que os subsistemas est˜ao separados espacialmente, o chamado paradigma dos laborat´orios distantes. Nessa situa¸c˜ao, realizar uma medi¸c˜ao sobre o sistema global ´e uma tarefa praticamente im-poss´ıvel. Entretanto, medi¸c˜oes conjuntas tamb´em apresentam uma dificuldade: elas precisam ser realizadas em coincidˆencia. Quando o sistema ´e constitu´ıdo de muitas partes, essa exigˆencia trar´a complica¸c˜oes consider´aveis aos protocolos de reconstru¸c˜ao, pois todas as medi¸c˜oes precisar˜ao satisfazer essa restri¸c˜ao.

N˜ao haveria uma forma mais flex´ıvel de obter os elementos da matriz den-sidade? Propomos com a presente disserta¸c˜ao uma maneira alternativa de extrair informa¸c˜ao sobre um estado de um sistema composto, utilizando apenas medi¸c˜oes pro-jetivas estritamente locais com o aux´ılio de comunica¸c˜ao cl´assica entre as partes. Por medi¸c˜oes estritamente locais entendemos medi¸c˜oes nos subsistemas que n˜ao precisam ser feitas em coincidˆencia. O m´etodo desenvolvido baseia-se no efeito que medi¸c˜oes em um subsistema tem sobre submatrizes da matriz densidade do sistema global. Essas modifica¸c˜oes valer˜ao para todo o estado global, consequentemente modificando os

(11)

fias locais determinar˜ao todas as submatrizes e, portanto, o estado global.

Nosso tratamento do problema de reconstru¸c˜ao ´e embasado no efeito de um subsistema sobre os outros. Essa ´e uma caracter´ıstica tipicamente quˆantica: opera¸c˜oes em um subsistema afetam outros subsistemas, caracter´ıstica essa explicitada pelo Te-orema de Bell [12] e mais recentemente pela redescoberta do fenˆomeno de influˆencia (steering)[13]. Esse fenˆomeno ´e uma consequˆencia direta do emaranhamento quˆantico entre estados, sendo que os dois fenˆomenos aparecem no artigo original de Schr¨odin-ger [14]. Atualmente, o emaranhamento est´a no centro de debates sobre a mecˆanica quˆantica de sistemas compostos, tanto por quest˜oes de fundamentos da teoria, quanto por poss´ıveis aplica¸c˜oes tecnol´ogicas [35]. ´E portanto altamente desej´avel um entendi-mento maior desse fenˆomeno.

´

E claro que a reconstru¸c˜ao de um estado fornece todas as caracter´ısticas deste, inclusive o emaranhamento. Mas a tomografia completa cont´em muito mais informa¸c˜ao do que precisamos. Al´em disso, determinar um estado consome um n´umero consi-der´avel de recursos experimentais. Necessita-se assim de uma maneira mais direta de caracterizar o emaranhamento de um sistema. H´a atualmente trabalhos nesse sentido [44, 45, 46]; por´em, na maioria dos casos utilizam-se tamb´em opera¸c˜oes globais e/ou opera¸c˜oes conjuntas.

Nessa dire¸c˜ao, nosso m´etodo baseado na rela¸c˜ao entre medi¸c˜oes locais e sub-matrizes globais mostrou-se adequado para caracterizar o emaranhamento de classes especiais de estados, sem recorrer `a reconstru¸c˜ao completa usual. A vantagem ´e que utilizamos apenas medi¸c˜oes estritamente locais e comunica¸c˜ao cl´assica. Assim, temos um m´etodo alternativo de caracteriza¸c˜ao de emaranhamento para casos em que se tem algum conhecimento pr´evio sobre o estado.

A disserta¸c˜ao ´e dividida da seguinte maneira: No Cap´ıtulo 1, damos primei-ramente uma vis˜ao geral do formalismo de opera¸c˜oes quˆanticas, pois este descreve a maneira como podemos manipular nossos estados e a informa¸c˜ao sobre o sistema. De particular interesse s˜ao as opera¸c˜oes feitas num sistema composto. Fazemos al-gumas considera¸c˜oes sobre as diferen¸cas entre opera¸c˜oes locais determin´ısticas e n˜ao-determin´ısticas e entre opera¸c˜oes conjuntas e opera¸c˜oes estritamente locais. Apresen-tamos ent˜ao nossa abordagem do efeito de medi¸c˜oes em um subsistema sobre outros, expressando o estado de um subsistema ap´os ocorrida uma proje¸c˜ao em outro sub-sistema, sendo que fazemos isso em termos de submatrizes globais convenientes. No Cap´ıtulo 2, mostramos os m´etodos de reconstru¸c˜ao atualmente existentes, tanto para sistemas de uma parte quanto para sistemas compostos. Apresentamos ent˜ao nossa proposta alternativa, que se utiliza apenas de medi¸c˜oes projetivas estritamente locais

(12)

e comunica¸c˜ao cl´assica de uma via. Obtemos uma condi¸c˜ao que qualquer esquema de medi¸c˜ao projetiva deve satisfazer para realizar uma tomografia completa de um sis-tema bipartite de dimens˜ao finita arbitr´aria. Nosso m´etodo ´e, portanto, bastante geral. Por´em, em vista de implementa¸c˜oes experimentais atuais, analisamos medi¸c˜oes proje-tivas que j´a s˜ao realizadas em alguns sistemas. Obtemos uma consider´avel redu¸c˜ao no n´umero de detectores para sistemas de muitos qubits, al´em de uma redu¸c˜ao signi-ficativa no n´umero de c´opias consumido no protocolo. Generalizamos nosso esquema para sistemas multipartites, de uma forma bastante simples. Tamb´em apresentamos uma proposta sobre como minimizar o n´umero de diferentes arranjos experimentais usados na reconstru¸c˜ao, baseados num resultado recente [28]. No cap´ıtulo 3, ap´os uma discuss˜ao introdut´oria sobre emaranhamento, aplicamos nosso m´etodo `a caracte-riza¸c˜ao (detec¸c˜ao e quantifica¸c˜ao) do emaranhamento de classes especiais de estados. Para estados com alta simetria - estados isotr´opicos, de Werner e de simetria rota-cional constitu´ıdos por um qubit e um qudit - mostramos uma rela¸c˜ao entre o grau de emaranhamento e a diferen¸ca de popula¸c˜ao medida por um subsistema condicio-nada a medi¸c˜oes de paridade do outro subsistema. Al´em disso, constru´ımos uma nova classe de estados cujo emaranhamento pode ser caracterizado apenas com medi¸c˜oes locais e comunica¸c˜ao cl´assica de uma via e com menos recursos que os utilizados para a reconstru¸c˜ao total do estado.

(13)

Fundamentos

1.1

Opera¸c˜

oes quˆ

anticas

A evolu¸c˜ao temporal de um estado quˆantico de um sistema f´ısico pode ser, na grande maioria dos casos, descrita pelo formalismo de opera¸c˜oes quˆanticas. Nesse formalismo, um estado quˆantico arbitr´ario ρ evolui para um estado

ρ′ = Λ(ρ)

trΛ(ρ) (1.1)

atrav´es do mapa Λ, que deve satisfazer algums axiomas bastante razo´aveis. Antes, por´em, de enunciar esses axiomas, vamos descrever brevemente a modelagem que est´a por tr´as do formalismo.

Se o sistema f´ısico que estamos tratando for isolado, a evolu¸c˜ao temporal ´e bem descrita por uma opera¸c˜ao unit´aria U . Entretanto, para um sistema que interage com o meio, podemos ter evolu¸c˜oes que n˜ao seguem essa regra. Em geral, ao consi-derarmos apenas uma parte de um sistema f´ısico sujeito a uma evolu¸c˜ao unit´aria, a evolu¸c˜ao temporal dessa parte n˜ao ser´a unit´aria. Suponhamos ent˜ao um estado inicial ρ arbitr´ario atuando em um espa¸co de Hilbert H, que chamaremos de sistema princi-pal. Suponhamos tamb´em que temos um sistema auxiliar, ou ancilla, com espa¸co de Hilbert Hanc, e que o estado inicial desse sistema seja ρanc = |e0ihe0|. N˜ao perdemos

nada em generalidade nos restringindo a um estado puro, pois um estado misto sempre pode ser visto como um estado puro se aumentarmos convenientemente o espa¸co de Hilbert1. Esse estado pode ser, por exemplo, o estado fundamental do sistema auxiliar.

Consideremos que o estado do sistema composto, ρ ⊗ ρanc, sofra uma evolu¸c˜ao

unit´aria U : ρ ⊗ ρanc → U(ρ ⊗ ρanc)U†. Ao focarmos apenas a transforma¸c˜ao sofrida

por ρ, vemos que esse estado evolui para

ρ → Λ(ρ) = tranc[U (ρ ⊗ |e0ihe0|)U†]. (1.2)

1

Ver Decomposi¸c˜ao de Schmidt, adiante.

(14)

CAP´ITULO 1. FUNDAMENTOS 5

Para avaliar o tra¸co parcial, podemos completar a base do sistema auxiliar a partir de |e0i, ficando com uma base ortonormal {|eki}, onde k varia de 0 a dimHanc. Assim,

ficamos com

Λ(ρ) =X

k

hek|[U(ρ ⊗ |e0ihe0|)U†]|eki =

X

k

hek|U|e0iρhe0|U|eki. (1.3)

No sistema principal, Ek= hek|U|e0i representa um operador com elementos de matriz

(Ek)ij = hi|Ek|ji, onde {|ii} - o ´ındice i variando de 0 a dimH − 1 - ´e uma base

ortonormal de H. Assim, podemos expressar a evolu¸c˜ao sofrida por ρ da seguinte maneira:

ρ → Λ(ρ) =X

k

EkρEk†. (1.4)

Chamamos a representa¸c˜ao da opera¸c˜ao Λ acima de Representa¸c˜ao de Kraus [15, 16, 17], ou de Representa¸c˜ao em Soma de Operadores. Essa representa¸c˜ao n˜ao ´e unica, j´a que poder´ıamos ter escolhido uma base diferente de Hanc para tomar o tra¸co parcial.

A primeira propriedade satisfeita pelos operadores Ek segue da unitariedade

de U : X k EkEk† = X k

hek|U|e0ihe0|U|eki

= he0|U( X k |ekihek|)U|e0i = he0| UU† | {z } I |e0i ⇒X k EkEk† = I (1.5)

onde I ´e o operador identidade atuando em H. Que a transforma¸c˜ao Λ preserva a hermiticidade, o tra¸co e a positividade do operador ρ ´e facilmente verific´avel.

Chegamos na Representa¸c˜ao de Kraus observando como uma transforma¸c˜ao unit´aria afeta um subsistema. Mostramos agora que uma dada representa¸c˜ao em soma de operadores sempre pode ser vista como uma opera¸c˜ao unit´aria ao estendermos con-venientemente o espa¸co de Hilbert do sistema principal. Ou seja, um dado sistema sempre pode ser visto como um subsistema de um sistema maior em que a evolu¸c˜ao f´ısica ´e a convencional. Para ver isso, basta tomar o sistema auxiliar com dimHanc

com valor no m´ınimo igual ao n´umero de termos presentes na soma de operadores. Tomando uma base ortonormal {|eki} do sistema auxiliar, definimos

U |ii ⊗ |e0i =

X

k

Ek|ii ⊗ |eki. (1.6)

A transforma¸c˜ao U acima preserva o produto interno: hi′| ⊗ he0|U†U |ii ⊗ |e0i = X k′ Ek′hi′| ⊗ hek′| ! X k Ek|ii ⊗ |eki ! (1.7)

(15)

= X

k

hi′|Ek†Ek|ii (1.8)

= hi′|ii. (1.9)

Obtemos ent˜ao uma opera¸c˜ao unit´aria definindo apropriadamente U na base {|ii⊗|eki}.

Essa transforma¸c˜ao corresponde `a soma de operadores no sistema H, como pode ser verificado tra¸cando-se o sistema Hanc:

tranc[U (ρ ⊗ |e0ihe0|)U†] = tranc[U (

X

i,j

ρij|iihj| ⊗ |e0ihe0|)U†] (1.10)

= tranc[ X i,j ρij( X k Ek|ii ⊗ |eki)( X k′ Ek′hj| ⊗ hek′|)] = X ek′′ hek′′|[ X i,j ρij( X k Ek|ii ⊗ |eki)( X k′ Ek′hj| ⊗ hek′|)]|ek′′i = X k Ek( X i,j ρij|iihj|)Ek† = X k EkρEk†.

Assim, a representa¸c˜ao em soma de operadores ´e equivalente a uma opera¸c˜ao unit´aria num espa¸co de Hilbert convenientemente estendido.

Podemos dar uma interpreta¸c˜ao f´ısica `a representa¸c˜ao em soma de operadores considerando que com probabilidade pk= tr(EkρEk†), o estado ´e levado a

ρk =

EkρEk†

tr(EkρEk†)

.

Assim, podemos escrever Λ(ρ) = Pkpkρk: a opera¸c˜ao Λ ´e portanto composta de

sub-opera¸c˜oes que levam o estado ρ num estado ρk com probabilidade pk. Essa

in-terpreta¸c˜ao surge naturalmente quando consideramos medi¸c˜oes projetivas na base de H. Al´em disso, ela permite relaxarmos a condi¸c˜ao (1.5) para PkEkEk† ≤ I, a fim

de considerarmos opera¸c˜oes mais gerais que ocorrem com uma certa probabilidade de sucesso. Assim, dizemos que uma opera¸c˜ao Λ(ρ) = PkEkρEk† ocorre com

probabili-dade trΛ(ρ) = tr(PkEkρEk†) = tr(

P

kEk†Ekρ). Vale ressaltar que essa probabilidade

de sucesso ´e intr´ınseca ao processo.

Num desenvolvimento mais formal, uma opera¸c˜ao quˆantica Λ ´e um mapa que leva um operador densidade ρ atuando num espa¸co de Hilbert H em um operador den-sidade ρ′ = Λ(ρ)/trΛ(ρ) atuando num espa¸co de Hilbert He que satisfaz os seguintes

axiomas:

1. A probabilidade do processo representado por Λ ocorrer ´e trΛ(ρ). Logo,

0 ≤ tr[Λ(ρ)] ≤ 1. (1.11)

2. O mapa Λ ´e linear-convexo no conjunto das matrizes densidade, isto ´e,

Λ(X i piρi) = X i piΛ(ρi) (1.12)

(16)

CAP´ITULO 1. FUNDAMENTOS 7

onde pi ≥ 0, Pipi = 1 e ρi s˜ao operadores densidade.

3. O mapa Λ ´e Completamente Positivo, isto ´e, al´em de ser positivo em H, qualquer extens˜ao Λ ⊗ I ´e tamb´em um mapa positivo. Por mapa positivo entende-se um mapa que leve operadores positivos em operadores positivos. Imp˜oe-se essa condi¸c˜ao para que estados sejam levados em estados tanto nos subsistemas quanto no sistema composto.

´

E poss´ıvel mostrar que um mapa que satisfaz os axiomas acima possui uma repre-senta¸c˜ao em soma de operadores [18], isto ´e, pode ser expresso como Λ(ρ) =PkEkρEk†,

com PkEkEk†≤ I.

No que segue, chamaremos opera¸c˜oes que preservam o tra¸co, isto ´e, tais que

P

kEkEk†= I, de opera¸c˜oes determin´ısticas, j´a que

trΛ(ρ) = tr(X k EkρEk†) = tr( X k EkEk† | {z } =I ρ) = tr(ρ) = 1, (1.13)

ou seja, essas opera¸c˜oes acontecem com probabilidade 1. As opera¸c˜oes em quePkEkEk† <

I ser˜ao chamadas de n˜ao-determin´ısticas ou estoc´asticas. Consideramos agora uma aplica¸c˜ao do formalismo de opera¸c˜oes quˆanticas que ser´a fundamental nas discuss˜oes futuras.

1.1.1

Medi¸c˜

oes

Assim como um sistema f´ısico pode estar sujeito a uma evolu¸c˜ao n˜ao-unit´aria, podemos ter esquemas de medi¸c˜ao que v˜ao al´em das usuais medi¸c˜oes projetivas. Estas, como ´e bem sabido, s˜ao dadas por um conjunto de operadores {Pk} que s˜ao projetores,

PkPk† = Pk, ortogonais, PkPk′ = δkk′Pk e que satisfazem a rela¸c˜ao de completeza

P

kPk = I. Entretanto, na pr´atica as medi¸c˜oes projetivas n˜ao d˜ao conta de descrever

todas as maneiras que podemos obter informa¸c˜ao de um sistema quˆantico.

Em geral, uma medi¸c˜ao quˆantica ´e descrita por um conjunto {Mm} de

opera-dores de medi¸c˜ao atuando no espa¸co de Hilbert do sistema. A ´unica restri¸c˜ao sobre esses operadores ´e a rela¸c˜ao de completeza PmMmMm† = I. Assim, dado o estado ρ

do sistema, a probabilidade de ocorrˆencia do resultado m ´e dada por

p(m) = tr(Mm†Mmρ), (1.14)

e o estado p´os-selecionado, isto ´e, o estado dado que o resultado m ocorreu ´e ρm =

MmρMm†

tr(MmMm†ρ)

. (1.15)

O que ser´a importante em discuss˜oes futuras ´e o fato de que qualquer medi¸c˜ao pode ser entendida como uma medi¸c˜ao projetiva num sistema convenientemente modificado.

(17)

Para ver isso, adicionemos ao sistema uma ancilla com base ortonormal {|eki}.

O espa¸co de Hilbert auxiliar Hanc deve ter dimens˜ao no m´ınimo igual ao n´umero de

resultados m. Definimos ent˜ao uma opera¸c˜ao unit´aria atuando no espa¸co H ⊗ Hanc da

seguinte maneira:

U |ψi|e0i =

X

m

Mm|ψi|emi. (1.16)

A opera¸c˜ao U transforma um estado qualquer de H ⊗ Hanc da seguinte maneira

ρ ⊗ |e0ihe0| → U(ρ ⊗ |e0ihe0|)U† =

X i,j ρij( X m Mm|ii ⊗ |mi)( X m′ hj| ⊗ hm′|Mm†′). (1.17)

Se fizermos a proje¸c˜ao Pm = I ⊗ |mihm| e tra¸carmos o sistema auxiliar, temos que

tranc(PmU ρU†Pm) = Mm(

X

i,j

ρij|iihj|)Mm† = MmρMm†.

Assim, se realizarmos uma medi¸c˜ao projetiva na base do sistema auxiliar, ou seja, com projetores {Pk} - com k variando de 0 a dimHanc− 1 - no sistema H obtemos o

resultado m com probabilidade

p(m) = tr(MmρMm†) = tr(Mm†Mmρ),

sendo o estado p´os-selecionado dado por ρm = tranc(PmU ρU †P m) p(m) = MmρMm† tr(Mm†Mmρ) .

Assim, introduzindo um sistema auxiliar, aplicando a transforma¸c˜ao U que implementa a opera¸c˜ao quˆantica representada pelos operadores Mm e realizando uma medi¸c˜ao

pro-jetiva na base do sistema auxiliar, recuperamos no sistema principal o esquema de medi¸c˜ao generalizada. Essa ´e tamb´em uma poss´ıvel implementa¸c˜ao dentre v´arias -de uma medi¸c˜ao generalizada. O importante aqui ´e que vamos po-der nos restringir a medi¸c˜oes projetivas sem perda de generalidade. Isso trar´a uma boa simplifica¸c˜ao nas discuss˜oes futuras.

1.1.2

Opera¸c˜

oes locais, globais e o paradigma SLOCC

Chegamos ao formalismo de opera¸c˜oes quˆanticas considerando uma opera¸c˜ao unit´aria arbitr´aria num sistema composto cujos estados eram descorrelacionados, isto ´e, estados produto ρ = ρA ⊗ ρB. Se consider´assemos apenas opera¸c˜oes unit´arias do tipo U =

UA ⊗ UB, por exemplo, ver´ıamos que o sistema global evoluiria para ρ′ = U ρU† =

(UAρAUA†) ⊗ (UBρBUB†). Como cada subsistema estaria sujeito a uma transforma¸c˜ao

unit´aria, tanto faz nesse caso considerar a evolu¸c˜ao global quanto a evolu¸c˜ao individual de cada parte. Em outras palavras, nada de novo surge com opera¸c˜oes do tipo U =

(18)

CAP´ITULO 1. FUNDAMENTOS 9

UA⊗ UB. Surge assim a necessidade de se diferenciar opera¸c˜oes que correlacionam os

subsistemas daquelas que n˜ao o fazem.

Chamamos uma opera¸c˜ao de local se os subsistemas evoluem independente-mente. A forma mais geral de uma opera¸c˜ao desse tipo para um sistema bipartite ´e dada por

Λlocal(ρ) =

X

i,j

Ai⊗ BjρA†i ⊗ Bj†, (1.18)

onde os operadores Ai e Bj obedecemPi,jAi†Ai⊗B†jBj ≤ I; a generaliza¸c˜ao para o caso

multipartite ´e imediata. Nenhum tipo de correla¸c˜ao pode ser gerado com opera¸c˜oes desse tipo.

Chamamos uma opera¸c˜ao de global quando ela n˜ao for local, isto ´e, quando n˜ao puder ser decomposta como (1.18). Uma opera¸c˜ao global pode aumentar ou diminuir correla¸c˜oes entre os subsistemas, dado que nesse caso sempre temos algum tipo de intera¸c˜ao entre as partes.

Por fim, temos uma classe importante de opera¸c˜oes em que podemos utilizar comunica¸c˜ao cl´assica entre as partes, juntamente com opera¸c˜oes quˆanticas locais. Com esse tipo de opera¸c˜oes pode-se aumentar as correla¸c˜oes cl´assicas2 entre os subsistemas,

mas n˜ao as quˆanticas. Podemos sempre escrevˆe-las na forma ΛLOCC(ρ) =

X

i

Ai⊗ BiρA†i ⊗ Bi†, (1.19)

onde PiA†iAi⊗ Bi†Bi = I e LOCC denota a sigla em inglˆes para Local Operation and

Classical Communnication. Note o ´ındice comum no somat´orio: isso significa que em algum momento Alice e Bob combinaram, via comunica¸c˜ao cl´assica, a ordem em que iriam aplicar as opera¸c˜oes em seus subsistemas.

Para sermos mais precisos, a forma acima define uma classe de opera¸c˜oes co-nhecida como opera¸c˜oes separ´aveis. Toda LOCC, ou seja, todo procedimento experi-mental que se utiliza de opera¸c˜oes locais com o aux´ılio de comunica¸c˜ao cl´assica pode ser expresso dessa forma. Mas o contr´ario, por incr´ıvel que pare¸ca, n˜ao ´e verdade [22]: h´a opera¸c˜oes separ´aveis que n˜ao podem ser implementadas por opera¸c˜oes locais e comunica¸c˜ao cl´assica.

Entretanto, se relaxarmos a condi¸c˜ao de preserva¸c˜ao do tra¸co para PiA†iAi⊗

Bi†Bi ≤ I, ou seja, usarmos opera¸c˜oes locais estoc´asticas, poderemos implementar

qual-quer opera¸c˜ao separ´avel [23], havendo uma probabilidade intr´ınseca de falha. Definimos ent˜ao a classe mais geral de opera¸c˜oes

ΛSLOCC(ρ) =

X

i

Ai⊗ BiρA†i ⊗ B†i, (1.20)

2

Vamos diferenciar correla¸c˜oes cl´assicas de quˆanticas, quando analisarmos o fenˆomeno do emara-nhamento.

(19)

onde AiA†i⊗ BiBi†≤ I, onde SLOCC vem de Stochastic Local Operations and Classical

Communnication. As SLOCC foram propostas por Bennett et al [20].

A restri¸c˜ao a esse tipo de opera¸c˜oes ganhou o status de paradigma na Teoria de Informa¸c˜ao Quˆantica, dada sua crescente importˆancia. Isso fica mais claro ao consi-derarmos subsistemas que est˜ao a longas distˆancias espaciais uns dos outros. Realizar opera¸c˜oes globais torna-se uma tarefa impratic´avel nesse cen´ario, j´a que n˜ao h´a como as partes criarem uma nova intera¸c˜ao. Assumimos ent˜ao que Alice e Bob podem reali-zar opera¸c˜oes quˆanticas locais em seus estados e que tamb´em podem trocar informa¸c˜ao cl´assica entre si - e apenas isso.

1.2

Proje¸c˜

oes locais e submatrizes globais

Como vimos, uma evolu¸c˜ao temporal arbitr´aria sempre pode ser vista como uma trans-forma¸c˜ao unit´aria num sistema maior. Uma medi¸c˜ao arbitr´aria, por sua vez, tamb´em sempre pode ser vista como uma medi¸c˜ao projetiva num sistema aumentado conveni-entemente. Portanto, para todos os fins pr´aticos, vamos nos restringir a esses dois tipos de opera¸c˜oes. No entanto, ´e claro que as considera¸c˜oes dadas valer˜ao para qualquer tipo de opera¸c˜ao.

A diferen¸ca entre essas duas opera¸c˜oes que ser´a relevante em nossa discuss˜ao ´e o fato de opera¸c˜oes unit´arias serem determin´ısticas, enquanto que proje¸c˜oes s˜ao n˜ao-determin´ısticas: enquanto U U† = I, para qualquer operador unit´ario U , temos que

PkPk† = Pk≤ I.

Se, por exemplo, para um estado arbitr´ario ρ de um sistema bipartite aplicar-mos a opera¸c˜ao U = UA⊗ UB,

ρ→ (UU A⊗ UB)ρ(UA† ⊗ UB†), (1.21)

vemos que isso ´e equivalente a aplicarmos primeiramente UA⊗ IB e depois IA⊗ UB:

ρ(UA⊗IB)◦(IA⊗UB)

→ (UA⊗ IB)(IA⊗ UB)ρ(IA⊗ UB†)(UA† ⊗ IB). (1.22)

Entretanto, isso n˜ao ´e verdade para proje¸c˜oes; aplicar duas proje¸c˜oes conjuntamente, ρPi⊗Pj (Pi⊗ Pj)ρ(Pi⊗ Pj)

tr[(Pi⊗ Pj)ρ]

, (1.23)

n˜ao ´e o mesmo que aplicar cada opera¸c˜ao separadamente: ρ(Pi⊗IB)◦(IA⊗Pj) (Pi⊗ Pj)ρ(Pi⊗ Pj)

tr[(Pi⊗ IB)ρ]tr[(IA⊗ Pj)ρ]

. (1.24)

Para realizar a proje¸c˜ao Pi ⊗ Pj precisamos exigir que as opera¸c˜oes Pi e Pj ocorram

simultaneamente3 em seus subsistemas. A fim de evitar isso - uma restri¸c˜ao que

com-plicar´a protocolos de reconstru¸c˜ao, por exemplo - vamos nos restringir a opera¸c˜oes

3

(20)

CAP´ITULO 1. FUNDAMENTOS 11

quˆanticas estritamente locais do tipo Λ ⊗ IB ou IA⊗ Λ, onde Λ ´e uma opera¸c˜ao

qual-quer.

Mais ainda, vemos que opera¸c˜oes determin´ısticas locais n˜ao alteram a descri¸c˜ao individual dos subsistemas:

trA[(UA⊗ IB)ρ(UA† ⊗ IB)] = trA[UAUA†

| {z }

IA

⊗IBρ] = ρB, (1.25)

enquanto que para opera¸c˜oes n˜ao-determin´ısticas temos trA[(Pi⊗ IB)ρ]

tr[(Pi⊗ IB)ρ]

= ρiB6= ρB. (1.26)

onde ρi

B ´e o estado de Bob condicionado ao resultado i de Alice. Assim, num sistema

bipartite, as opera¸c˜oes estritamente locais que devemos realizar sobre um subsistema para influenciar o outro devem ser opera¸c˜oes n˜ao-determin´ısticas. Restringimos ent˜ao nossa discuss˜ao a proje¸c˜oes pelos seguintes motivos:

1. Pelo que acabamos de ver, proje¸c˜oes num subsistema afetam o outro subsistema; 2. Qualquer medi¸c˜ao pode ser vista como uma medi¸c˜ao projetiva;

3. Proje¸c˜oes s˜ao mais simples do ponto de vista matem´atico;

4. H´a diversos esquemas experimentais para realiza¸c˜ao de proje¸c˜oes;

5. Ap´os a proje¸c˜ao, o subsistema que realizou a medi¸c˜ao ´e deixado num estado puro e, portanto, n˜ao afetar´a subsequentes medi¸c˜oes realizadas. Isso ser´a fundamental para tarefas envolvendo sistemas multipartites.

Surge naturalmente a quest˜ao: num sistema bipartite, como as medi¸c˜oes de um sub-sistema afetam o outro? Vamos adotar uma aproxima¸c˜ao operacional para responder essa quest˜ao, considerando como as medi¸c˜oes de Alice afetam submatrizes da matriz densidade global, submatrizes essas escolhidas convenientemente para que a descri¸c˜ao do estado de Bob - ap´os as medi¸c˜oes - surja de maneira elegante. Essa id´eia ficar´a mais clara ao apresentarmos os resultados. Apresentamos primeiramente o caso geral de um sistema bipartite de dimens˜ao finita4 arbitr´ario. Depois damos um exemplo

considerando o caso simples de dois qubits.

Na base computacional padr˜ao {|0, 0i, |0, 1i, . . . , |0, dB−1i, |1, 0i, |1, 1i, . . . , |dA−

1, dB − 1i}, a matriz densidade de um estado arbitr´ario pode ser escrita da seguinte

4

Na verdade, as demonstra¸c˜oes valer˜ao tamb´em para um sistema de dimens˜ao infinita discreto. Mas para as aplica¸c˜oes que consideraremos ´e conveniente considerarmos apenas sistemas de dimens˜ao finita.

(21)

maneira: ρ =      A00 . . . A0,dA−1 ... . .. ... A†0,dA−1 . . . AdA−1,dA−1     . (1.27)

onde as Aij s˜ao submatrizes de dimens˜ao dB× dB. Se Alice realizar uma proje¸c˜ao P|ψi,

o que queremos descobrir ´e como expressar o estado p´os-selecionado de Bob - e aqui adotamos a nota¸c˜ao ρ|ψiB - em termos das submatrizes Aij.

Antes de provar o resultado geral, precisamos mostrar o seguinte lema, que relaciona a matriz densidade (anterior a qualquer opera¸c˜ao no sistema) de Alice com as submatrizes Aij:

Lema 1 A matriz densidade de Alice ´e dada por:

ρA= trBρ =      trA00 . . . trA0,dA−1 ... . .. ... trA∗ 0,dA−1 . . . trAdA−1,dA−1     , (1.28)

isto ´e, os elementos de matriz de Alice s˜ao os tra¸cos das submatrizes globais corres-pondentes.

Prova: Na base computacional padr˜ao, temos que ρ = dA−1 X i,k=0 dB−1 X j,l=0 ρijkl|ijihkl|. (1.29)

O estado de Alice ´e obtido tomando o tra¸co parcial ρA = trBρ = Pdν=0B−1Bhν|ρ|νiB

-onde os vetores |νiB pertencem ao espa¸co HB. Um termo arbitr´ario dessa soma ´e dado

por Bhν|ρ|νiB = Bhν|   dA−1 X i,k=0 dB−1 X j,l=0 ρijkl|ijihkl|  |νiB (1.30) = dA−1 X i,k=0 dB−1 X j,l=0 ρijkl|iihk|δνjδlν = dA−1 X i,k=0 ρiνkν|iihk|

e o estado de Alice pode ser expresso como ρA= dB−1 X ν=0 Bhν|ρ|νiB = dB−1 X ν=0 dA−1 X i,k=0 ρiνkν|iihk|. (1.31)

(22)

CAP´ITULO 1. FUNDAMENTOS 13

Um elemento de matriz arbitr´ario de ρA ´e

(ρA)µη = hµ|ρA|ηi = dB−1

X

ν=0

ρµνην, (1.32)

enquanto um elemento de matriz arbitr´ario da submatriz Aµη ´e

(Aµη)αβ = ρµαηβ. (1.33)

Calculando o tra¸co dessa submatriz, temos que trAµη =Pdα=0B−1ρµαηα e essa express˜ao

´e idˆentica a (1.32) (a menos do ´ındice mudo).

Logo, os elementos de matriz do estado de Alice s˜ao simplesmente os tra¸cos das submatrizes globais correspondentes: (ρA)ij = trAij. Com esse resultado, podemos

mostrar a seguinte proposi¸c˜ao, que d´a a rela¸c˜ao entre o estado de Bob ap´os uma proje¸c˜ao realizada por Alice e as submatrizes da matriz densidade global do sistema: Proposi¸c˜ao 1 Seja |ψi = PdA−1

m=0 αm|mi um estado arbitr´ario de Alice e seja P|ψi =

|ψihψ| o correspondente projetor nesse estado. Ent˜ao o estado de Bob ap´os Alice realizar a proje¸c˜ao P|ψi ´e dado por

ρ|ψiB = P m,nαmαn∗Anm P m,nαmα∗n(ρA)nm , (1.34)

onde Amn ´e uma submatriz da matriz densidade global e (ρA)mn ´e um elemento de

matriz do estado (pr´e-selecionado) de Alice.

Prova: Fazemos primeiramente o seguinte c´alculo

 P|ψi⊗ IB  ρ =   dA−1 X m,n=0 αmα∗n|mihn| ⊗ IB     dA−1 X i,k=0 dB−1 X j,l=0 ρijkl|ijihkl|   (1.35) = dA−1 X m,n,i,k=0 dB−1 X j,l=0 αmα∗nρijkl|mjihkl|δni = dA−1 X m,n,k=0 dB−1 X j,l=0 αmα∗nρnjkl|mjihkl|.

O tra¸co parcial sobre o sistema de Alice nos fornece trA[(P|ψi⊗ IB)ρ] = dA−1 X ν=0 Ahν|   dA−1 X m,n,k=0 dB−1 X j,l=0 αmα∗nρnjkl|mjihkl|  |νiA (1.36) = dA−1 X ν,m,n=0 dB−1 X j,l=0 αmα∗nρnjklδνmδkν|jihl| = dA−1 X m,n=0 αmα∗n   dB−1 X j,l=0 ρnjml|jihl|  .

(23)

Comparando a ´ultima express˜ao entre parˆenteses com (1.33), vemos que trA[(P|ψi ⊗ IB)ρ] = Pdm,n=0A−1 αmα∗nAnm. Concluindo, ρ|ψiB = trA[(P|ψi⊗ IB)ρ] tr[(P|ψi⊗ IB)ρ] = P m,nαmα∗nAnm P m,nαmα∗ntrAnm = P m,nαmα∗nAnm P m,nαmα∗n(ρA)nm , (1.37)

onde usamos o Lema 1 na ´ultima igualdade.

Assim, expressamos de maneira elegante o estado de Bob ap´os Alice realizar uma proje¸c˜ao |ψi. Vale notar que se as submatrizes tiverem alguma propriedade ma-tem´atica pertinente, isso ser´a refletido no estado p´os-selecionado de Bob. Tamb´em, se o estado ρ|ψiB tiver alguma propriedade relevante, isso poder´a causar restri¸c˜oes `as subma-trizes globais. Isso pode ser usado para analisar propriedades globais via observa¸c˜oes locais ou ainda construir exemplos artificiais de estados para an´alises matem´aticas.

Damos agora um exemplo da discuss˜ao acima para o caso em que o sistema bipartite ´e constitu´ıdo de dois sistemas de dois n´ıveis.

1.2.1

Exemplo: dois qubits

Na base computacional padr˜ao {|00i, |01i, |10i, |11i}, a matriz densidade de um estado arbitr´ario de dois qubits pode ser escrita da seguinte maneira

ρ =   A00 A01 A†01 A11  ,

onde A00, A11e A01s˜ao submatrizes de dimens˜ao 2×2. Em termos dessas submatrizes,

o estado de Alice ´e dado por

ρA= trBρ =   trA00 trA01 (trA01)∗ trA11  ,

de acordo com o Lema 1.

Um estado arbitr´ario no sistema de Alice ´e dado por |ψi = a|0i+b|1i. Assim, se Alice efetuar a proje¸c˜ao P|ψi= |ψihψ| nesse estado, Bob ter´a um estado p´os-selecionado dado pela Proposi¸c˜ao 1:

ρ|ψiB = |a| 2A 00+ |b|2A11+ (a∗b)A01+ (ab∗)A†01 |a|2 A)00+ |b|2(ρA)11+ (a∗b)(ρA)01+ (ab∗)(ρA)10 .

Se, por exemplo, Alice e Bob compartilharem um estado bipartite e Alice efetuar uma medi¸c˜ao de σz em seu estado, obter´a resultados ±1, realizando uma proje¸c˜ao no estado

|0i ou |1i, respectivamente. Assim, ap´os a medi¸c˜ao de Alice, o estado de Bob ser´a dado por um dos dois estados abaixo:

ρ|0iB = A00 (ρA)00

; ρ|1iB = A11 (ρA)11

(24)

Cap´ıtulo 2

Determina¸c˜

ao de estados quˆ

anticos

2.1

Sistemas de uma parte

Antes de atacar o problema de reconstru¸c˜ao de um estado de um sistema quˆantico composto, devemos entender como ´e a tarefa de reconstru¸c˜ao para um sistema de uma parte. Al´em disso, em nosso tratamento da reconstru¸c˜ao bipartite e multipartite usaremos tomografias estritamente locais, que s˜ao no fundo tomografias de sistemas de uma parte. A fim de introduzir alguns conceitos, consideramos primeiramente a reconstru¸c˜ao de um qubit. Ent˜ao passamos a um sistema com n´umero arbitr´ario de n´ıveis.

2.1.1

Um qubit

´

E bem sabido que um estado ρ de um qubit pode ser expandido na base {I, σx, σy, σz}

das matrizes 2 × 2 da seguinte maneira: ρ = 1

2(I + ~r · ~σ) ,

onde ~r = (hσxi, hσyi, hσzi) ´e o chamado vetor de Bloch do estado e ~σ = (σx, σy, σz) ´e

um vetor formado pelas matrizes de Pauli. Para determinar completamente o estado, basta ent˜ao determinar o vetor de Bloch ~r, ou seja, temos de obter de alguma maneira os valores esperados hσii para i = x, y, z.

O valor m´edio de um observ´avel n˜ao ´e obtido com uma medi¸c˜ao apenas. Para obter cada valor hσii = tr(σiρ), realizam-se medi¸c˜oes projetivas do observ´avel σi em

v´arios estados preparados identicamente ao estado ρ que se quer reconstruir. Isso ´e equivalente a repetir v´arias vezes o procedimento de prepara¸c˜ao do estado e medi¸c˜ao de σi. Quanto mais medi¸c˜oes realizarem-se, melhor ser´a a aproxima¸c˜ao ao valor ideal.

Entretanto, quanto melhor a aproxima¸c˜ao, maior o n´umero de recursos a serem consu-midos no processo, ou ainda, maior o tempo gasto. Apesar de um qubit ser um sistema

(25)

simples demais para que essa caracter´ıstica seja relevante, em sistemas de maior di-mensionalidade veremos que isso causar´a grande parte das dificuldades com a tarefa de reconstru¸c˜ao.

´

E conveniente expressarmos a identidade e as matrizes de Pauli em termos de projetores, a fim de entendermos o processo de medi¸c˜ao. Em termos de suas decom-posi¸c˜oes espectrais, temos que

I = P|0i+ P|1i; σx = P1 2(|0i+|1i) − P 1 √ 2(|0i−|1i); σy = P1 2(|0i+i|1i)− P 1 √ 2(|0i−i|1i); σz = P|0i− P|1i.

Se obtivermos os valores m´edios dos projetores acima, teremos os valores m´edios das matrizes de Pauli. O valor m´edio de um projetor ´e igual `a probabilidade de proje¸c˜ao: hP|ψii = tr(P|ψiρ) = p|ψi, onde p|ψi´e a probabilidade de proje¸c˜ao em |ψi. Aqui usamos

a interpreta¸c˜ao usual de uma probabilidade como uma frequˆencia m´edia de eventos [2]. Assim, se num experimento com n repeti¸c˜oes tivermos nψ ocorrˆencias da proje¸c˜ao P|ψi,

a probabilidade medida ´e de nψ/n, que ´e o mesmo que o valor m´edio do projetor.

Na pr´atica, para obter o n´umero de ocorrˆencias nψ, vemos a contagem dada

por um detector na sa´ıda de um aparato que prepara |ψi. Vamos exemplificar esse procedimento considerando dois sistemas f´ısicos muito utilizados para codifica¸c˜ao de qubits: qubits em sistemas de spin 1/2 e qubits de polariza¸c˜ao.

A codifica¸c˜ao de uma part´ıcula de spin 1/2 se d´a atribuindo |0i e |1i aos estados respectivos de spin para cima e para baixo com rela¸c˜ao `a dire¸c˜ao z de um aparato de Stern-Gerlach. Assim, a fim de obter os valores p|0i e p|1i, colocamos um detector para cada sa´ıda do aparato - se for um feixe de el´etrons, por exemplo, colocamos detectores de corrente el´etrica no anteparo. Passamos o feixe do estado a ser determinado pelo aparato de Stern-Gerlach; o n´umero de part´ıculas contado em cada detector dividido pelo n´umero total de part´ıculas dar´a os valores respectivos p|0i = n/n e p|1i = n/n. Para obter os outros valores, basta girar o aparato adequadamente. Por exemplo, se quisermos os valores p1

2(|0i±|1i), giramos o aparato de Stern-Gerlach de forma que o eixo x coincida com a dire¸c˜ao z do campo. Basta ent˜ao colocar dois detectores no anteparo e repetir o procedimento.

A codifica¸c˜ao em sistemas de ´otica linear embasada em polariza¸c˜ao ´e feita atribuindo |0i e |1i aos estados de polariza¸c˜ao horizontal e vertical de um f´oton, res-pectivamente. Para medir p|0i e p|1i, utilizamos um divisor de feixes polarizado com um detector de f´otons em cada sa´ıda. Passamos ent˜ao o feixe do estado desconhecido pelo divisor, de forma que p|0i = nH/n e p|1i= nV/n.

Nesses sistemas uma proje¸c˜ao arbitr´aria pode ser implementada colocando an-tes do divisor de feixes uma composi¸c˜ao adequada de placas de meio e/ou de quarto

(26)

CAP´ITULO 2. DETERMINAC¸ ˜AO DE ESTADOS QU ˆANTICOS 17

de onda. A a¸c˜ao dessas placas corresponde a uma rota¸c˜ao da esfera de Poincar´e, de forma a alinhar um estado puro qualquer com o estado horizontal de polariza¸c˜ao.

Figura 2.1: Arranjo experimental para gera¸c˜ao de uma proje¸c˜ao arbitr´aria num qubit de polariza¸c˜ao |ψi, superposi¸c˜ao dos estados |0i ≡ |Hi e |1i ≡ |V i: (a) representa¸c˜ao do esquema com uma lˆamina de quarto de onda (QWP), uma lˆamina de meia-onda (HWP) e um divisor de feixes polarizado; (b) representa¸c˜ao da rota¸c˜ao do estado |ψi (´e o estado em que estamos projetando, n˜ao o estado incidente) na esfera de Poincar´e; a lˆamina de quarto de onda manda |ψi no equador enquanto (c) a lˆamina de meia onda gira o estado que est´a no equador at´e |Hi. Dessa maneira, a proje¸c˜ao ocorre se detectarmos f´otons em |Hi. (Figura extra´ıda de [11]).

Em geral, se fizermos uma medi¸c˜ao projetiva num estado |ψi, teremos duas alternativas mutuamente excludentes: ou o estado ´e projetado realmente - dizemos que realizamos a proje¸c˜ao P|ψi; ou ele ser´a projetado num estado ortogonal |ψi

-dizemos que realizamos a proje¸c˜ao Pi.

Para um qubit, temos a vantagem de n˜ao existirem muitas alternativas. Nesse caso, vale a identidade P|ψi+ Pi = I, o que implica p|ψi+ pi = 1. Por exemplo, para a matriz σx, vemos que hσxi = 2p1

2(|0i+|1i) − 1. N˜ao ´e necess´ario, portanto, considerar a proje¸c˜ao P1

2(|0i−|1i), pois a outra j´a fornece informa¸c˜ao suficiente para o c´alculo do valor m´edio. Experimentalmente, isso significa que n˜ao ser˜ao necess´arios dois detectores para inferir cada valor m´edio e sim apenas um j´a que apenas um valor p|ψi ´e necess´ario.

Vamos agora introduzir uma nota¸c˜ao que ser´a util adiante. Chamando I = σ0,

σx= σ1, σy = σ2, σz = σ3, podemos expressar a matriz densidade de dois qubits como

ρ = 1 2 3 X i=0 Siσi

Os parˆametros Si, conhecidos na literatura como parˆametros de Stokes, s˜ao dados por

Si = hσii. Em termos das probabilidades de proje¸c˜ao p|ψi, temos que

(27)

S1 = p1 2(|0i+|1i) − p 1 √ 2(|0i−|1i); S2 = p1 2(|0i+i|1i)− p 1 √ 2(|0i−i|1i); S3 = p|0i− p|1i.

Como vimos, os projetores considerados at´e agora tˆem implementa¸c˜ao f´ısica para siste-mas f´ısicos como part´ıculas de spin 1/2 e polariza¸c˜ao de f´otons e h´a diversos esquesiste-mas de codifica¸c˜ao de qubits em que isso tamb´em vale, como, por exemplo, ´atomos de dois n´ıveis (efetivos). Por´em, poder´ıamos considerar outro conjunto de projetores para realizar a tarefa de reconstru¸c˜ao.

Considerando trˆes estados diferentes |ψii (i = 1, 2, 3), introduzimos

opera-dores τi = |ψiihψi| − |ψ⊥i ihψi⊥| em analogia `a decomposi¸c˜ao das matrizes de Pauli;

definindo τ0 = σ0 = I, teremos parˆametros an´alogos aos parˆametros de Stokes dados

por Ti = tr(τiρ). Poderemos obter os parˆametros de Stokes expressando os valores

Ti em fun¸c˜ao dos Si, isto ´e, Ti = PjaijSk. O sistema de equa¸c˜oes assim obtido ser´a

invers´ıvel caso os estados |ψii formem um conjunto linearmente independente. A

vanta-gem dessa alternativa est´a na liberdade que temos de escolher os projetores; em alguns sistemas f´ısicos poderemos ter um conjunto de projetores mais adaptado ao problema em quest˜ao, ou ainda, pode ser que esse seja o ´unico conjunto dispon´ıvel.

2.1.2

Um qudit

Apesar de a maioria dos protocolos de informa¸c˜ao quˆantica lidar com qubits, devido `as analogias feitas com bits cl´assicos e `a simplicidade no tratamento, temos situa¸c˜oes em que devemos considerar sistemas com mais de dois n´ıveis [24, 25, 26]. Al´em disso, h´a situa¸c˜oes em que um sistema composto de muitos qubits pode ser visto como um sistema de muitos n´ıveis - estados de soma de momento angular, por exemplo. Verificaremos isso tamb´em em nosso tratamento da reconstru¸c˜ao de estados de muitos qubits.

H´a representa¸c˜oes em termos de um vetor de Bloch para qudits que se utilizam dos geradores do grupo SU (d). Entretanto, apresentamos primeiro uma representa¸c˜ao mais adequada `a tomografia do estado. Para um estado de um sistema de d n´ıveis, podemos expressar a matriz densidade da seguinte maneira:

ρ = d−1X i=0 ρiiP|ii+ d−1X 0≤j<k≤d−1 Re(ρjk)Xjk− d−1X 0≤j<k≤d−1 Im(ρjk)Yjk, (2.1) onde P|ii= |iihi|; Xjk = 1 √ 2(|jihk| + |kihj|); Yjk = −i √ 2(|jihk| − |kihj|). (2.2) Os observ´aveis acima formam uma base ortonormal das matrizes d × d1. ´E f´acil ver

1

(28)

CAP´ITULO 2. DETERMINAC¸ ˜AO DE ESTADOS QU ˆANTICOS 19

que

hP|iii = ρii; hXjki = Re(ρjk); hYjki = −Im(ρjk). (2.3)

Assim, os valores m´edios de P|ii, Xjk e Yjk fornecem todos os elementos da matriz

densidade ρ. Se obtivermos esses valores de alguma maneira, reconstru´ıremos o estado. Os projetores P|iis˜ao projetores nos estados que formam a base computacional e sup˜oe-se ent˜ao que seus valores m´edios s˜ao facilmente obtidos. Os valores m´edios de Xjk e Yjk, entretanto, n˜ao s˜ao t˜ao imediatos de obter, j´a que esses observ´aveis n˜ao

representam, em geral, vari´aveis dinˆamicas. A id´eia ent˜ao ´e expandir esses operadores em termos de observ´aveis que representem quantidades f´ısicas cujos valores m´edios podem ser medidos2. Chamando esses observ´aveis de Q

i, fazemos Xjk = PixiQi e

Yjk =Pi′yi′Qi′, de modo que hXjki =PixihQii e hYjki =Pi′yi′hQi′i.

Uma expans˜ao natural desse tipo ´e a pr´opria decomposi¸c˜ao espectral dos ope-radores. Vamos aproveitar os projetores que resultam dessas decomposi¸c˜oes, j´a que h´a propostas de implementa¸c˜oes experimentais destes [6, 7, 8, 9].

Figura 2.2: Gera¸c˜ao de um qudit arbitr´ario usando ´otica linear [8]. Os n´ıveis do sistema s˜ao codificados no comprimento de caminho ´otico atravessado. As reflectividades R dos divisores de feixe s˜ao dadas. Controlando as fases φi, controlamos a superposi¸c˜ao.

Note que esse esquema assume a gera¸c˜ao de um f´oton por vez.

A decomposi¸c˜ao espectral dos operadores ´e simplesmente Xjk = √12(P|ji+|ki−

P|ji−|ki) e Yjk = √12(P|ji+i|ki− P|ji−i|ki). Os projetores que utilizaremos ser˜ao ent˜ao P|ii,

P|ji±|ki e P|ji±i|ki com 0 ≤ i ≤ d − 1 e 0 ≤ j < k ≤ d − 1.

2

(29)

´

E importante mostrar uma propriedade desses projetores que usaremos em v´arias ocasi˜oes.

P|ji+|ki+ P|ji−|ki= 2|jihj| + 2|kihk| = 2(P|ji+ P|ki). (2.4) A mesma identidade ´e v´alida para os projetores

P|ji+i|ki+ P|ji−i|ki= 2|jihj| + 2|kihk| = 2(P|ji+ P|ki). (2.5) Poderemos dessa maneira eliminar alguns projetores de forma an´aloga ao caso de dois qubits. Se medirmos primeiramente todos os valores p|ii = hP|iii, determinaremos todos os elementos de matriz diagonais ρii = p|ii. Al´em disso, teremos que para quaisquer

valores j e k, o valor p|ji + p|ki, j´a determinado, ser´a igual a um valor constante. Considerando (2.4), vemos que

p|ji+|ki+ p|ji−|ki = 2(p|ji+ p|ki) = gjk. (2.6)

Logo, podemos fazer p|ji+|ki= gjk−p|ji−|ki, de forma que hXjki = √12(2p|ji+|ki−gjk), ou

ainda, hXjki = √12(cjk−2p|ji−|ki). Por(2.5) vemos que isso tamb´em vale para Yjk. Assim

podemos desconsiderar metade dos projetores associados a Xjk e Yjk. Na pr´atica, isso

corresponde a eliminar metade dos detectores nas medi¸c˜oes.

De certa forma, o que estamos fazendo ´e considerar os n´ıveis dois a dois sepa-radamente, como se eles fossem um sistema de dois n´ıveis. Temos ent˜ao uma ”rela¸c˜ao de completeza”(2.4) - j´a que |jihj| + |kihk| ´e a ”identidade”do subespa¸co de |ji e |ki. Mais ainda, Xjk e Yjk s˜ao as ”matrizes de Pauli”desse subespa¸co, obedecendo rela¸c˜oes

an´alogas `as matrizes de Pauli de um qubit. Essas caracter´ısticas resultam da pr´opria estrutura de SU (d); como veremos, Xjk e Yjk s˜ao geradores desse grupo.

Vetor de Bloch e parˆametros de Stokes para qudits

Aqui apresentamos a forma usual de se definir um vetor de Bloch para sistemas de d n´ıveis. H´a tamb´em outras maneiras, que podem ser encontradas na referˆencia [27].

As matrizes de Pauli s˜ao o conjunto gerador padr˜ao do grupo SU (2) e foram utilizadas para construir a representa¸c˜ao da matriz densidade de um qubit em termos de um vetor de Bloch. Nada mais natural do que utilizar o conjunto gerador padr˜ao de SU (d) para obter um vetor de Bloch para a matriz densidade de um qudit.

Os geradores de SU (d) s˜ao dados por trˆes tipos distintos de operadores: 1. d22−d operadores sim´etricos:

λjks = |jihk| + |kihj|, 0 ≤ j < k ≤ d − 1 (2.7)

2. d22−d operadores anti-sim´etricos:

(30)

CAP´ITULO 2. DETERMINAC¸ ˜AO DE ESTADOS QU ˆANTICOS 21 3. d − 1 operadores diagonais: λl = s 2 l(l + 1)   l−1 X j=0 |jihj| − l|lihl|  , 1 ≤ l ≤ d − 1 (2.9)

N´os podemos ent˜ao expandir uma matriz densidade de um qudit como ρ = 1

dI + ~r · ~λ, (2.10)

onde ~r = ({hλjk

s i}, {hλjka i}, {hλli}) ´e um vetor formado pelos valores m´edios dos v´arios

geradores de SU (d), com as componentes ordenadas, enquanto que ~λ = ({λjk

s }, {λjka }, {λl})

´e um vetor formado pelos geradores de SU (d).

Podemos obter tamb´em uma representa¸c˜ao em termos de parˆametros de Sto-kes [8],[11]. Definindo λ0 = I, podemos expandir uma matriz densidade da seguinte

maneira: ρ = S0λ0+ d−1X l=0 Slλl+ d−1X j,k;0≤j<k≤d−1 Ssjkλjks + Sajkλjka (2.11)

onde cada parˆametro de Stokes ´e dado por

S0 = 1 d; (2.12) Sl = s 2 l(l + 1)   l−1 X j=0 p|ji− lp|li  ; (2.13) Ssjk = p1 2(|ji+|ki)− p 1 √ 2(|ji−|ki); (2.14) Sajk = p1 2(|ji+i|ki)− p 1 √ 2(|ji−i|ki). (2.15) Tomando um ordenamento conveniente dos geradores de SU (d), podemos colocar essa expans˜ao na forma mais compacta

ρ =

d2−1

X

i=0

Siλi. (2.16)

Essa forma ser´a ´util na estimativa do n´umero de recursos experimentais usados e na obten¸c˜ao de expans˜oes similares para sistemas compostos. Fica evidente ent˜ao que precisamos de d2− 1 parˆametros reais para determinar o estado de um qudit.

Podere-mos eliminar metade dos projetores n˜ao-diagonais, dadas as rela¸c˜oes (2.4) e (2.5). Nos atuais esquemas de medi¸c˜ao projetiva, cada projetor n˜ao-diagonal exige uma imple-menta¸c˜ao experimental. Como veremos, os projetores diagonais P|iipodem ser obtidos com uma medi¸c˜ao apenas. Assim, com os atuais esquemas de medi¸c˜ao, precisaremos de 2(d2 − d)/2 diferentes arranjos para os projetores n˜ao-diagonais mais um arranjo

para os diagonais, ou seja, precisaremos de um total de d2− d + 1 diferentes arranjos

experimentais. Apresentaremos em se¸c˜oes posteriores uma proposta para minimizar esse n´umero.

(31)

2.2

Sistemas compostos

Passamos agora ao caso de sistemas compostos. Tratamos inicialmente o caso de m´ultiplos qubits, tanto pela facilidade quanto pelo apelo devido `as aplica¸c˜oes em pro-tocolos de informa¸c˜ao quˆantica. Depois fazemos uma breve discuss˜ao para sistemas compostos de dimens˜ao arbitr´aria. Aqui revisamos os m´etodos de reconstru¸c˜ao que s˜ao empregados atualmente [11], a fim de compar´a-los adiante com nossa abordagem.

2.2.1

ultiplos qubits

Dois qubits

Vamos analisar a tarefa de reconstru¸c˜ao para um sistema composto de dois sistemas HA, HB de dois n´ıveis. Uma base para as matrizes que atuam em H = HA⊗ HB

´e formada pelos produtos tensoriais {σi ⊗ σj}3i,j=0. Podemos expandir uma matriz

densidade ρ arbitr´aria atuando em H da seguinte maneira: ρ = 1 4 3 X i,j=0 Si,jσi⊗ σj. (2.17) Os 42 − 1 = 15 parˆametros de Stokes S

i,j (S0,0 = 1, obviamente) correspondem aos

valores m´edios Si,j = hσi⊗σji. Assim, se medirmos esses valores, utilizando um grande

n´umero de estados identicamente preparados, determinaremos a matriz densidade ρ. Note que os parˆametros S0,i e Sj,0, com i, j 6= 0, s˜ao justamente os parˆametros para

que Alice e Bob determinem seus estados.

As medi¸c˜oes de hσi ⊗ σji, para i, j 6= 0 s˜ao medi¸c˜oes de correla¸c˜ao. Para

part´ıculas de spin 1/2, por exemplo, temos que hσi ⊗ σji = cos(θi,j), onde θi,j ´e o

ˆangulo medido por Alice e Bob entre as dire¸c˜oes i e j. Para determinar o valor, os dois devem primeiramente combinar em quais dire¸c˜oes medir e depois passar o resultado das medi¸c˜oes. Mais do que isso, essa medi¸c˜ao deve ser conjunta. Para sistemas ´oticos, por exemplo, essas medi¸c˜oes devem ser feitas em coincidˆencia.

Teremos sempre 15 parˆametros de Stokes a determinar, mas conseguiremos reduzir o n´umero de diferentes arranjos experimentais. Primeiro, considerando (2.17) e escrevendo cada matriz de Pauli em termos de sua decomposi¸c˜ao espectral, σi =

Pii− P|ψi⊥i, vemos que

Si,0 = piψii+ p|ψiψ⊥ii− p|ψ⊥iψii− p|ψ⊥i ψ⊥i i; (2.18) S0,j = p|ψjψji− p|ψjψj⊥i+ p|ψ⊥jψji− p|ψj⊥ψj⊥i; (2.19) Si,j = piψji− p|ψiψ⊥ji− p|ψi⊥ψji+ p|ψ⊥i ψj⊥i. (2.20) com i, j = 1, 2, 3 e onde usamos σ0 = P|ψii+ P|ψ⊥i i. Fica f´acil ver pela express˜ao acima que muitas das medi¸c˜oes ser˜ao redundantes. De fato, para qualquer i, os parˆametros

(32)

CAP´ITULO 2. DETERMINAC¸ ˜AO DE ESTADOS QU ˆANTICOS 23

de Stokes Si,0, S0,i e Si,i precisar˜ao dos mesmos valores m´edios para serem inferidos.

Isso causar´a uma significativa redu¸c˜ao no n´umero de arranjos experimentais: ser˜ao 9, ao inv´es de 15.

A medi¸c˜ao projetiva {P|ψiψji, P|ψiψ⊥ji, P|ψi⊥ψji, P|ψ⊥i ψ⊥ji}, se realizada com dois detectores de cada lado, ter´a melhores resultados que uma medi¸c˜ao em que Alice e Bob tˆem apenas um detector cada. Se, por exemplo, Alice tem um detector para |ψii

e Bob tem um para |ψji apenas, ent˜ao, durante as medi¸c˜oes, os estados que

estive-rem em |ψiψj⊥i, |ψi⊥ψji, |ψ⊥i ψj⊥i nunca ser˜ao detectados e perderemos a informa¸c˜ao

sobre eles. Usando dois detectores, n˜ao precisaremos repetir medi¸c˜oes, ou seja, usare-mos um n´umero de c´opias menor. Nesse caso, um arranjo experimental determinar´a completamente um parˆametro de Stokes.

n qubits

O espa¸co de estados para n qubits ser´a dado por H = H1⊗ H2⊗ . . . ⊗ Hn, onde Hi ´e

o espa¸co de Hilbert do i-´esimo qubit. Uma base das matrizes que atuam nesse sistema ser´a formada pelos v´arios produtos tensoriais {σi1⊗ σi2⊗ . . . ⊗ σin}, onde os ´ındices ik variam de 0 a 3. Uma matriz densidade arbitr´aria poder´a ser expandida como

ρ = 1 2n 3 X i1,i2,...,in=0 Si1,i2,...,inσi1 ⊗ σi2 ⊗ . . . ⊗ σin. (2.21)

Para cada σik teremos uma decomposi¸c˜ao espectral da forma P|ψiki±P|ψik⊥i, com o sinal positivo para ik = 0 e negativo caso contr´ario. Dessa forma, os parˆametros de Stokes

podem ser expressos como

Si1,i2,...,in = p|ψi1ψi2...ψini± p|ψi1ψi2...ψin⊥i. . . ± p|ψ⊥i1ψ⊥i2...ψ⊥ini. (2.22) Como no caso de dois qubits, muitas medi¸c˜oes se mostrar˜ao redundantes; o n´umero de diferentes arranjos experimentais necess´ario ser´a dado por 3n, um ganho dram´atico

considerando os 4n− 1 que seriam necess´arios sem essa observa¸c˜ao. Para um

aprovei-tamento ´otimo, utilizam-se 2n detectores, todos em coincidˆencia.

2.2.2

Caso geral

Os procedimentos para sistemas compostos de dimens˜oes arbitr´arias s˜ao an´alogos aos adotados para m´ultiplos qubits. Deve ser claro aqui que uma matriz densidade ar-bitr´aria deve ser expandida como

ρ = d2 H−1 X i1,i2,...,in=0 Si1,i2,...,inλi1 ⊗ λi2 ⊗ . . . ⊗ λin, (2.23)

onde dH = dH1.dH2. . . . .dHn ´e a dimens˜ao do espa¸co de estados do sistema, H = H1⊗ . . . ⊗ Hn (e dHi ´e a dimens˜ao do i-´esimo subsistema). A decomposi¸c˜ao espectral

(33)

de um operador λik arbitr´ario ficar´a em termos dos projetores P|ii, P|ji±|ki ou P|ji±i|ki. Teremos d2

H− 1 parˆametros de Stokes, que podem ser expressos por

Si1,i2,...,in = p|ψi1ψi2...ψini± pi1ψi2...ψ⊥

ini. . . ± p|ψ⊥i1ψ⊥i2...ψ⊥ini. (2.24) Aqui as regras de cancelamento tamb´em valer˜ao e n˜ao ´e dif´ıcil ver que o n´umero de diferentes arranjos experimentais ser´a dado por (d2

H1−1).(d

2

H2−1) . . . (d

2

Hn−1). Como o n´umero de proje¸c˜oes numa medida projetiva ´e dHk, teremos que usar dH1+dH2+. . .+dHn detectores no total para otimizarmos a medi¸c˜ao.

2.3

Reconstru¸c˜

ao de estados via medi¸c˜

oes

projeti-vas locais e comunica¸c˜

ao cl´

assica de uma via

Descrevemos aqui nosso tratamento da tarefa de reconstru¸c˜ao sob o ponto de vista da Proposi¸c˜ao 1. Mostraremos como reconstruir um estado de um sistema quˆantico composto usando medi¸c˜oes estritamente locais e comunica¸c˜ao cl´assica de uma via. N˜ao precisaremos impor que as medi¸c˜oes sejam conjuntas em nenhum momento, o que representa uma simplifica¸c˜ao consider´avel com rela¸c˜ao aos protocolos atuais.

2.3.1

Dois qubits

Abordamos primeiramente o caso mais simples de dois qubits. Como vimos, a matriz densidade de dois qubits pode ser expressa por

ρ =   A00 A01 A†01 A11  , (2.25)

onde A00, A11 e A01 s˜ao submatrizes de dimens˜ao 2 × 2.

Se Alice realizar uma proje¸c˜ao num estado |ψi = a|0i + b|1i, o estado p´os-selecionado de Bob ser´a dado pela Proposi¸c˜ao 1,

ρ|ψiB = |a| 2A 00+ |b|2A11+ (a∗b)A01+ (ab∗)A†01 |a|2 A)00+ |b|2(ρA)11+ (a∗b)(ρA)01+ (ab∗)(ρA)10 , (2.26)

como verificamos anteriormente. ´E natural indagar como ficaria a express˜ao acima para as proje¸c˜oes que resultam das medi¸c˜oes das matrizes de Pauli.

Se Alice realizar uma medi¸c˜ao de σz, poder´a obter os resultados ±1. Caso

ocorra resultado +1, seu estado ser´a projetado no estado |0i. O estado de Bob ser´a ent˜ao

ρ|0iB = A00 (ρA)00

(34)

CAP´ITULO 2. DETERMINAC¸ ˜AO DE ESTADOS QU ˆANTICOS 25

Caso ocorra resultado −1, o estado de Alice ser´a projetado em |1i e o estado corres-pondente de Bob ser´a

ρ|1iB = A11 (ρA)11

. (2.28)

Da mesma maneira, se Alice medir σx obter´a resultados ±1 e o estado de Bob ser´a

ρ|0i±|1iB = A00+ A11± (A01+ A

† 01)

(ρA)00+ (ρA)11± 2Re[(ρA)01]

, (2.29)

de acordo com os resultados ±1 de Alice. Finalmente, se Alice medir σy, os estados de

Bob ap´os essas medi¸c˜oes ser˜ao

ρ|0i±i|1iB = A00+ A11± i(A01− A

† 01)

(ρA)00+ (ρA)11∓ 2Im[(ρA)01]

, (2.30)

de acordo com os resultados de Alice.

Agora, ao inv´es de expressar os estados p´os-selecionados de Bob em termos das submatrizes globais, expressaremos estas em termos dos estados p´os-selecionados e dos elementos de matriz do estado pr´e-selecionado de Alice:

A00= ρ|0iB (ρA)00; A11 = ρ|1iB(ρA)11; (2.31)

A00+ A11± (A01+ A†01) = ρ|0i±|1iB {(ρA)00+ (ρA)11± 2Re[(ρA)01]}; (2.32)

A00+ A11± i(A01− A†01) = ρ|0i±i|1iB {(ρA)00+ (ρA)11∓ 2Im[(ρA)01]}. (2.33)

Obtivemos assim um sistema de equa¸c˜oes para as submatrizes globais em termos dos estados locais de Alice e Bob. Esse sistema de equa¸c˜oes ´e superdeterminado, j´a que h´a 5 equa¸c˜oes para a determina¸c˜ao de 3 submatrizes.

Antes de prosseguir, vamos reescrever essas equa¸c˜oes numa forma mais familiar. O estado de Alice, em termos das matrizes de Pauli, ´e dado por

ρA= 1 2I + 1 2(xAσx+ yAσy+ zAσz) = 1 2   1 + zA xA− iyA xA+ iyA 1 − zA  . (2.34)

Reescrevemos ent˜ao o sistema de equa¸c˜oes para as submatrizes da seguinte maneira: A00= 1 + zA 2 ρ |0i B ; A11 = 1 − z A 2 ρ |1i B ; (2.35) A00+ A11± (A01+ A†01) = (1 ± xA)ρ|0i±|1iB ; (2.36) A00+ A11± i(A01− A†01) = (1 ± yA)ρ|0i±i|1iB . (2.37)

(35)

Veremos agora como utilizar a informa¸c˜ao contida nas equa¸c˜oes acima para realizar a tarefa de reconstru¸c˜ao do estado global ρ utilizando apenas proje¸c˜oes locais e comu-nica¸c˜ao cl´assica de uma via.

Suponhamos que Alice e Bob possuam muitas c´opias do estado ρ que eles de-sejam reconstruir; consideramos que a ´unica forma de comunica¸c˜ao entre os dois ´e a cl´assica. Suponhamos tamb´em que Bob precise de NB c´opias de um estado em seu

subsistema para que ele consiga reconstru´ı-lo com uma boa estimativa. Aqui estamos considerando tamb´em as c´opias adicionais para a minimiza¸c˜ao dos erros que inevita-velmente acontecem na tomografia local de Bob. Em outras palavras, NB deve ser

o n´umero de c´opias que Bob necessita para reconstruir um estado arbitr´ario no pior cen´ario experimental poss´ıvel.

Primeiramente, determinam-se as submatrizes diagonais. Para isso, Alice mede σz em suas c´opias, obtendo resultados ±1 e comunica a Bob seus resultados. De

acordo com esses resultados, o estado de Bob ser´a ρ|0iB ou ρ|1iB . Bob ent˜ao vai separando seus estados em dois subconjuntos, um correspondente a resultados +1, o outro a resultados −1. Quando um dos subconjuntos possuir NB c´opias - e em alguma altura

isso vai acontecer - Bob vai ter um n´umero de estados suficientes nesse subconjunto para realizar uma tomografia. Ele faz precisamente isso com esses estados, determinando o estado do subconjunto.

Por exemplo, digamos que Alice, durante suas medi¸c˜oes, obteve NB resultados

+1. Bob ter´a ent˜ao NB estados ρ|0iB , cuja matriz densidade ele ainda n˜ao conhece;

ele poder´a ent˜ao utilizar esses estados para, atrav´es de um procedimento tomogr´afico qualquer, determinar a matriz densidade de ρ|0iB. Al´em disso, Alice tem um n´umero de medi¸c˜oes mais que suficiente para determinar o valor zA = 2p|0i − 1, onde p|0i ´e

simplesmente o n´umero NB/N e N ´e o n´umero de medi¸c˜oes tomados. Atrav´es da

primeira equa¸c˜ao de (2.35), Bob pode determinar A00.

Nesse exemplo, para determinar A11, basta continuar a medir σzat´e a ocorrˆencia

de NB resultados −1: Bob ent˜ao poder´a fazer a tomografia de ρ|1iB e, atrav´es da

se-gunda equa¸c˜ao de (2.35) obter A11. Entretanto, h´a uma situa¸c˜ao extrema que pode

vir a ocorrer. Se o valor p|0i for muito pr´oximo a 1, de forma que p|1i ´e muito pr´oximo a zero, Alice ter´a de efetuar muitas medi¸c˜oes para obter NB resultados −1, talvez um

n´umero de medi¸c˜oes al´em dos seus recursos. Nesse caso, podemos fazer a aproxima¸c˜ao A11= 1−z2Aρ|1iB ≈ 02×2, a matriz nula de dimens˜ao 2 × 2.

Depois de determinar as submatrizes diagonais, precisamos determinar A01 (e

consequentemente A†01). Alice mede σx em seus estados, obtendo resultados ±1, que

ela comunica a Bob. De acordo com esses resultados, o estado de Bob ser´a ρ|0i+|1iB ou ρ|0i−|1iB . Bob ent˜ao vai separando seus estados em dois subconjuntos, um correspondente a resultados +1, o outro a resultados −1. Aqui teremos uma diferen¸ca com rela¸c˜ao ao caso diagonal, devido `a redundˆancia das equa¸c˜oes (2.36). Assim que Alice obtiver NB

(36)

CAP´ITULO 2. DETERMINAC¸ ˜AO DE ESTADOS QU ˆANTICOS 27

Figura 2.3: Protocolo de reconstru¸c˜ao para dois qubits. Bob divide seus estados em dois subconjuntos, de acordo com os resultados de medi¸c˜ao ±1 de Alice (vermelho ou verde). Se Alice estiver medindo σz, Bob far´a a reconstru¸c˜ao dos estados nos dois

subconjuntos. Para σx e σy, ele precisa apenas determinar o estado do subconjunto

correspondente ao resultado que ocorreu NB vezes primeiro.

vezes o mesmo resultado, ela pode parar. Por exemplo, se ela obtiver NB resultados

+1, ela p´ara de medir. Bob ter´a ent˜ao NB estados ρ|0i+|1iB , os quais ele usar´a para

tomografia. Veja que Bob pode inferir o valor de xA com os resultados de Alice:

xA = NB/N , onde N ´e o n´umero total de medi¸c˜oes. Como as submatrizes diagonais

A00e A11j´a foram determinadas, teremos que, por (2.36), A01+A†01 = [(1±xA)ρ|0i+|1iB ]−

(A00+ A11), de forma que determinamos A01+ A†01.

Se repetirmos o procedimento com σy, obteremos A01−A†01 por (2.37) e,

conse-quentemente, A01. Teremos determinado dessa forma todas as submatrizes globais, ou

seja, teremos reconstru´ıdo o estado ρ, usando apenas medi¸c˜oes projetivas estritamente locais e comunica¸c˜ao cl´assica de uma via.

N˜ao h´a necessidade de utilizar 4 detectores. Bob precisa apenas saber se Alice obteve resultado +1 ou −1 ao medir seu estado; para isso, Alice necessita de apenas um detector. Da mesma maneira, ao reconstruir os estados dos subconjuntos, Bob precisa de apenas um detector tamb´em, j´a que ele realiza uma tomografia local. Portanto, s˜ao necess´arios apenas 2 detectores. O n´umero de arranjos experimentais, entretanto, continua sendo 9, j´a que h´a 3 arranjos na tomografia de Bob para cada um dos 3 arranjos de Alice.

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