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Taxas de juros e spreads bancários : a atuação dos bancos públicos brasileiros no segmento de recursos livres do mercado de crédito em 2012

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE ECONOMIA

EDSON GUERREIRO

Taxas de Juros e Spreads Bancários: A Atuação dos

Bancos Públicos Brasileiros no Segmento de Recursos

Livres do Mercado de Crédito em 2012

CAMPINAS

2015

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EDSON GUERREIRO

Taxas de Juros e Spreads Bancários: A Atuação dos

Bancos Públicos Brasileiros no Segmento de Recursos

Livres do Mercado de Crédito em 2012

Profa. Dra. Ana Rosa Ribeiro de Mendonça Sarti – Orientadora

Profa. Dra. Rosangela Ballini – Coorientadora

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Econômicas, do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas, para obtenção do título de Mestre em Ciências Econômicas.

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELO ALUNO EDSON GUERREIRO, ORIENTADO PELA PROFA. DRA. ANA ROSA RIBEIRO DE MENDONÇA SARTI E COORIENTADO PELA PROFA. DRA. ROSANGELA BALLINI.

CAMPINAS

2015

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DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

EDSON GUERREIRO

Taxas de Juros e Spreads Bancários: A Atuação dos

Bancos Públicos Brasileiros no Segmento de Recursos

Livres do Mercado de Crédito em 2012

Defendida em 13/08/2015

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Dedico este trabalho aos meus pais, Nelson e Vanda, à minha irmã, Fábia, e ao meu irmão Daniel (in memorian).

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AGRADECIMENTOS

Para a conclusão dessa dissertação de mestrado, contei com o apoio imprescindível de diversas pessoas que, de uma forma ou outra, contribuíram para que o meu sonho de cursar o mestrado em economia se tornasse realidade. Expresso aqui o meu profundo e sincero agradecimento a todos que me auxiliaram ao longo dessa jornada.

No Banco Central, agradeço especialmente ao Elker, amigo com quem tive a sorte de trabalhar em Brasília e que gentilmente aceitou ser o meu orientador técnico; ao Renato Baldini, José Albuquerque, Anderson Toshio e principalmente ao Clayton, que me ajudaram com o levantamento das informações utilizadas na análise empírica; e a todos do Departamento de Organização do Sistema Financeiro – Deorf e da Universidade do Banco Central – Unibacen que, de forma direta ou indireta, possibilitaram que eu cursasse o mestrado no âmbito do Programa de Pós Graduação do Banco Central.

Registro o meu especial agradecimento às Professoras Ana Rosa Ribeiro de Mendonça Sarti e Rosângela Ballini, respectivamente, orientadora e coorientadora deste trabalho, pela atenção, dedicação e paciência, mas também pelo agradável convívio e pelo rico aprendizado proporcionado; e aos Professores Bruno Martarello de Conti e Carlos Eduardo Ferreira de Carvalho, pela participação na banca e pelas valiosas sugestões para a redação final desta dissertação.

Também sou muito grato aos Professores do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas e aos amigos que lá encontrei, que tornaram essa experiência acadêmica a mais agradável possível. Ainda agradeço a todos os funcionários do Instituto de Economia, em particular, à Fátima e à Geisa da Secretaria de Pós-Graduação, por toda atenção e gentileza.

No âmbito familiar, destino o meu mais profundo e sincero agradecimento aos meus pais, Nelson e Vanda; à minha irmã, Fábia; e ao meu irmão, Daniel (in memoriam), que sempre estiveram ao meu lado e com quem sei que sempre poderei contar. Também agradeço à minha tia Dulcineia pela calorosa acolhida em sua casa durante as primeiras semanas de aula.

Por fim, agradeço a todos que não citei nos agradecimentos, mas que, de alguma forma, também contribuíram para a concretização deste trabalho.

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The study of money, above all other fields in economics, is one in which complexity is used to disguise truth or to evade truth, not to reveal it.

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RESUMO

Em 2012, os gestores da política econômica induziram os bancos públicos brasileiros, principalmente Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, a diminuírem as taxas de juros e os spreads bancários cobrados em suas operações de crédito com recursos livres, com o propósito de aumentar a concorrência no Sistema Financeiro Nacional, tanto em razão dos elevados spreads bancários cobrados à época, quanto em função da expressiva redução da taxa Selic observada entre agosto de 2011 e outubro de 2012. O principal propósito desta dissertação é o de avaliar se os bancos públicos brasileiros foram capazes de exercer alguma influência sobre o preço do crédito com recursos livres cobrado pelos bancos privados nacionais e estrangeiros em 2012. Tal análise empírica será precedida por uma discussão teórica que contemplará o comportamento dos bancos em uma economia monetária, incluindo a comparação entre as visões neoclássica e pós-keynesiana da firma bancária, além de também abordar alguns aspectos da presença do Estado no sistema financeiro, principalmente por meio do controle de instituições financeiras.

Palavras chave: bancos, crédito, taxas de juros, spread, concorrência ABSTRACT

In 2012, policy makers induced the brazilian public banks, especially Banco do Brasil and Caixa Econômica Federal, to decrease interest rates and bank spreads charged on their loans (nonearmarked credit), in order to increase competition in the financial system, mainly because of the high banking spreads charged at the time and the significant reduction in the Selic interest rate observed between August 2011 and October 2012. The main purpose of this work is to assess whether the Brazilian public banks were able to exert some influence on the price of nonearmarked credit charged by domestic and foreign private banks in 2012. This empirical analysis will be preceded by a theoretical discussion that will address the behavior of banks in a monetary economy, including the comparison between neoclassical and post-keynesian views. It will be also discussed some aspects of the presence of the State in the financial system, especially by the equity control of financial institutions.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Taxa de juros (r*) que maximiza o retorno financeiro esperado dos empréstimos concedidos por um banco...29 Figura 2 – Graus de liquidez e de rentabilidade das opções disponíveis para aplicações de recursos...48 Figura 3: Composição do balanço patrimonial de um banco comercial antes e após a concessão de um empréstimo...63 Figura 4: Processo de criação de novo poder de compra com base no exemplo do financiamento de um imóvel...65 Figura 5: Criação de novo poder de compra para o conjunto dos bancos...77 Figura 6: Evolução mensal dos saldos das operações de crédito (com recursos livres e direcionados), em valores absolutos e em relação ao PIB, por tipo de controle, entre março de 2007 e setembro de 2014...100 Figura 7: Evolução mensal das participações de mercado de instituições financeiras públicas e privadas no total de operações de crédito (recursos livres e direcionados) realizadas no SFN, entre março de 2007 e setembro de 2014...102 Figura 8: Variação (p.p.) das taxas de inadimplência (%) entre março de 2011 e fevereiro de 2012...114 Figura 9: Variação (p.p.) das taxas de juros (%) entre março de 2011 e fevereiro de 2012...114 Figura 10: Variação (p.p.) dos spreads bancários (%) entre março de 2011 e fevereiro de 2012...115 Figura 11: Variação (p.p.) das taxas de captação (%) entre março de 2011 e fevereiro de 2012...116 Figura 12: Variação (p.p.) das taxas de juros (%) entre fevereiro e dezembro de 2012...118 Figura 13: Variação (p.p.) dos spreads bancários (%) entre fevereiro e dezembro de 2012...118 Figura 14: Resumo da variação (p.p.) das taxas de juros entre fevereiro e dezembro de 2012 por segmentos e modalidades de crédito...119 Figura 15: Resumo da variação (p.p.) dos spreads bancários entre fevereiro e dezembro de 2012 por segmentos e modalidades de crédito...120 Figura 16: Evolução da participação das principais modalidades de crédito nos saldos em carteira e nos volumes de concessões acumulados em 12 meses dos

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bancos privados nacionais, entre março de 2011 e setembro de 2014 (segmento de pessoas físicas) ...121 Figura 17: Variação (p.p.) das taxas de captação (%) entre fevereiro e dezembro de 2012...122 Figura 18: Resumo da variação (p.p.) das taxas de captação entre fevereiro e dezembro de 2012 por segmentos e modalidades de crédito...123 Figura 19: Variação (p.p.) das taxas de inadimplência (%) entre fevereiro e dezembro de 2012...124 Figura 20: Resumo da variação (p.p.) das taxas de inadimplência entre fevereiro e dezembro de 2012 por segmentos e modalidades de crédito...125 Figura 21: Variação (p.p.) das taxas de juros (%) entre dezembro de 2012 e setembro de 2014...128 Figura 22: Variação (p.p.) dos spreads bancários (%) entre dezembro de 2012 e setembro de 2014...129 Figura 23: Variação (p.p.) das taxas de inadimplência (%) entre dezembro de 2012 e setembro de 2014...129 Figura 24: Variação (p.p.) das taxas de captação (%) entre dezembro de 2012 e setembro de 2014...130 Figura 25: Spread bancário prefixado cobrado por bancos públicos e privados entre 2004 e 2007 (em % ao ano) ...132

Figura 26: Evolução mensal dos saldos em carteira das operações de crédito com recursos livres (total) em valores absolutos e em relação ao PIB...134 Figura 27: Evolução mensal dos saldos em carteira das operações de crédito com recursos livres (pessoas físicas) em valores absolutos e em relação ao PIB...135 Figura 28: Evolução mensal dos saldos em carteira das operações de crédito com recursos livres (pessoas jurídicas) em valores absolutos e em relação ao PIB...136 Figura 29: Evolução mensal das concessões das operações de crédito com recursos livres (total) em valores absolutos e em relação ao PIB...138 Figura 30: Evolução mensal das concessões das operações de crédito com recursos livres (pessoas físicas) em valores absolutos e em relação ao PIB...139 Figura 31: Evolução mensal das concessões das operações de crédito com recursos livres (pessoas jurídicas) em valores absolutos e em relação ao PIB...140 Figura 32: Evolução mensal dos prazos médios de concessão das operações de crédito com recursos livres (total) ...141

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Figura 33: Evolução mensal dos prazos médios de concessão das operações de crédito com recursos livres (pessoas físicas) ...142 Figura 34: Evolução mensal dos prazos médios de concessão das operações de crédito com recursos livres (pessoas jurídicas) ...142 Figura 35: Evolução mensal dos prazos médios de carteira das operações de crédito com recursos livres (total) ...143 Figura 36: Evolução mensal dos prazos médios de carteira das operações de crédito com recursos livres (pessoas físicas) ...143 Figura 37: Evolução mensal dos prazos médios de carteira das operações de crédito com recursos livres (pessoas jurídicas) ...144 Figura 38: Evolução mensal das participações de mercado (% SFN) das operações de crédito com recursos livres (total) ...145 Figura 39: Evolução mensal das participações de mercado (% SFN) das operações de crédito com recursos livres (pessoas físicas) ...146 Figura 40: Evolução mensal das participações de mercado (% SFN) das operações de crédito com recursos livres (pessoas jurídicas) ...146

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LISTA DE ANEXOS

Anexo 1 – Taxas de juros...165

Anexo 2 – Spreads bancários...177

Anexo 3 – Taxas de captação...189

Anexo 4 – Taxas de inadimplência...201

Anexo 5 – Evolução da participação das principais modalidades de crédito nos saldos em carteira e nos volumes de concessões acumulados em 12 meses...213

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

BANESPA – Banco do Estado de São Paulo BANESTES – Banco do Estado do Espírito Santo BANRISUL – Banco do Estado do Rio Grande do Sul BASA – Banco da Amazônia

BB – Banco do Brasil

BCB – Banco Central do Brasil BNB – Banco do Nordeste

BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social BRB – Banco de Brasília

CEF – Caixa Econômica Federal

CEPAL – Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe CMN – Conselho Monetário Nacional

COPOM – Comitê de Política Monetária

DPGE – Depósitos a Prazo com Garantia Especial EMGEA – Empresa Gestora de Ativos

FGC – Fundo Garantidor de Crédito FMI – Fundo Monetário Internacional HME – Hipótese de mercados eficientes

HSBC – Hong Kong and Shangai Banking Corporation HME – Hipótese de mercados eficientes

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IHH – Índice Herfindahl-Hirchman

IOF – Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguro, ou relativas a Títulos e Valores Mobiliários

IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada IPI – Imposto sobre Produtos Industrializados ONU – Organização das Nações Unidas PIB – Produto Interno Bruto

PROEF – Programa de Fortalecimento das Instituições Financeiras Federais

PROER – Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional

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PROES – Programa de Incentivo à Redução do Setor Público Estadual na Atividade Bancária

RAET – Regime de Administração Especial Temporária REBC – Relatório de Economia Bancária e Crédito REF – Relatório de Estabilidade Financeira

RC4 – Razão de concentração dos quatro maiores bancos SCR – Sistema de Informações de Crédito

SFH – Sistema Financeiro da Habitação SFN – Sistema Financeiro Nacional

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SUMÁRIO

Introdução...1 Capítulo 1: O comportamento dos bancos em uma economia monetária...6 1.1. Introdução...6 1.2. Teoria neoclássica da firma bancária: diferentes abordagens...7 1.2.1. A abordagem keynesiana ortodoxa da firma bancária...8 1.2.1.1. A concepção de firma bancária de Gurley e Shaw...9 1.2.1.2. A “visão nova” de Tobin...12 1.2.1.3. Tobin e a decisão de emprestar dos bancos...18 1.2.1.4. Síntese da contribuição de Tobin...19 1.2.2. A abordagem de mercados competitivos de Fama...22 1.2.3. O racionamento de crédito de Stiglitz e Weiss...27 1.2.4. Concepção neoclássica da firma bancária...30 1.3. Fundamentação teórica para a abordagem da firma bancária sob uma perspectiva pós-keynesiana...32 1.3.1. Caracterização de uma economia monetária...34 1.3.2. Incerteza...36 1.3.3. A preferência pela liquidez...39 1.3.3.1. A preferência pela liquidez e o comportamento dos bancos...46 1.3.4. A natureza da moeda bancária...50 1.4. Características e impactos da atividade bancária sob uma perspectiva

pós-keynesiana...55 1.4.1. O circuito finance-funding...56 1.4.2. A oferta endógena de moeda...60 1.4.3. A criação de moeda ou de novo poder de compra pelos bancos

comerciais...62 1.4.4. Minsky: a hipótese da instabilidade financeira e o comportamento pró-cíclico dos bancos...66 1.4.4.1. As posturas financeiras: hedge, especulativa e Ponzi...69 1.4.4.2. Da robustez à instabilidade financeira...70 1.5. Concepção pós-keynesiana da firma bancária...72

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1.6. Comparação entre as abordagens neoclássica e pós-keynesiana da firma bancária...73 1.7. A intervenção do Estado no sistema financeiro...82 1.7.1. O modelo Shaw-Mckinnon e os enfoques novo e pós-keynesiano...84 1.7.1.1. O modelo Shaw-McKinnon e a “política de repressão financeira”...84 1.7.1.2. O enfoque novo-keynesiano e as “falhas de mercado”...86 1.7.1.3. O enfoque pós-keynesiano e a instabilidade e a fragilidade financeira...87 1.8. A presença do Estado no setor bancário por meio de bancos públicos...89 1.8.1. Competição no setor bancário e bancos públicos...93 Capítulo 2 - A redução de taxas de juros e dos spreads bancários dos bancos públicos em 2012...96 2.1. Contexto...96 2.2. Hipótese...107 2.3. Metodologia...108 2.3.1. Base de dados...108 2.3.2. Amostra de bancos...109 2.3.3. Estrutura da análise...110 2.4. Análise do comportamento das taxas de juros e dos spreads bancários do segmento de recursos livres...113 2.4.1 Período entre março de 2011 e fevereiro de 2012...113 2.4.2 Período entre fevereiro e dezembro de 2012...117 2.4.3 Período entre dezembro de 2012 e setembro de 2014...127 2.4.4 Período entre março de 2011 e setembro de 2014...131 2.5. Análise da evolução dos saldos em carteira, dos volumes de concessões e das participações de mercado entre março de 2011 e setembro de 201...133 2.5.1. Análise da evolução dos saldos em carteira...133 2.5.2. Análise da evolução dos volumes de concessões...137 2.5.3. Participações de mercado...145 2.6. Conclusão...149

Conclusões, considerações finais e sugestões para novos estudos...151

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Introdução

A análise histórica da criação e da atuação dos bancos públicos brasileiros mostra que são vários os fatores que levaram o Estado Brasileiro a se envolver com a atividade bancária. Resulta de um longo e integrado processo histórico atrelado ao desenvolvimento econômico do País, caracterizado por crises financeiras e cambiais, bem como pela busca por soluções voltadas a suprir deficiências estruturais dos sistemas bancário e monetário nacionais (Costa Neto, 2004).

A atuação dos principais bancos públicos brasileiros com o propósito de minimizar os impactos da crise financeira internacional que eclodiu em setembro de 20081 sobre a atividade econômica do país, bem como com vistas a induzir a redução das taxas de juros e dos spreads bancários cobrados pelos bancos privados nacionais e estrangeiros em 2012, notadamente no segmento de recursos livres do mercado de crédito, não foge a esse contexto histórico.

O Banco do Brasil, instituição pública fundada em 1808, foi o primeiro banco comercial brasileiro, tendo sido fechado após a volta da família real para Portugal em 1829. Posteriormente, em 1853, foi constituído outro Banco do Brasil, instituição financeira pública resultante da capitalização e da fusão de dois bancos privados em dificuldades financeiras à época: O Banco do Brasil, de Mauá, e o Banco Comercial do Rio de Janeiro. Em 1893, fundiu-se com o Banco da República dos Estados Unidos do Brasil, passando a se chamar Banco da República do Brasil (Lundberg, 2011; Banco do Brasil, 2010).

Em 1905, após uma crise bancária, o então Banco da República do Brasil, esteve à iminência de quebrar e devido à posição central que ocupava no SFN, bem como ao seu papel “semioficial” de banqueiro do governo, o Tesouro Federal interveio para socorrê-lo. O banco que surgiu desse movimento foi então chamado de Banco do Brasil (doravante, BB), ficando sob controle direto da União. Anos mais tarde, em 1923, o BB tornou-se o único agente do governo autorizado a operar câmbio e em 1942 passou a exercer a função de autoridade monetária (Andrade e Deos, 2009).

1 Mês que marca a eclosão da crise com a quebra do Banco Lehman Brothers, nos Estados Unidos da América,

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Já a Caixa Econômica Federal (CEF) foi constituída como casa de penhores em 1861, passando a atuar de forma mais ativa no mercado de crédito somente a partir da década de 1930, iniciando suas operações voltadas ao crédito imobiliário somente em 1931 (Lundberg, 2011).

Por sua vez, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) foi constituído em 19522, com o propósito de financiar a atividade industrial brasileira. A visão desenvolvimentista guiou a criação do BNDES, bem como grande parte de sua atuação, com base nas ideias da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe – CEPAL (Ferreira et al. 2015).

Com as reformas financeiras de 1964 (Lei 4.595), foi criado o Banco Central do Brasil (BCB), que passou a exercer funções até então desempenhadas pelo BB e pela Superintendência da Moeda e do Crédito (SUMOC). Contudo, o BB conservou caráter híbrido de autoridade monetária e de banco de fomento e banco comercial até 1986, quando, no contexto das reformas implementadas pelo Plano Cruzado, foram introduzidas mudanças nas relações do BB com o BCB e o Tesouro Nacional (Andrade e Deos, 2009; Ferreira et. al. 2015).

Lundberg (2011) também destaca que tais reformas instituíram o Sistema Financeiro da Habitação (SFH), importante para a consolidação da caderneta de poupança e do financiamento imobiliário, contribuindo para a liderança da CEF no financiamento à habitação; além de também terem criado o Sistema Nacional de Crédito Rural, que possibilitou o aumento da oferta de crédito agrícola pelo BB e a sua consolidação como líder do setor. O autor também destaca a importância dos empréstimos bancários realizados pelos bancos públicos durante o “milagre econômico brasileiro”, entre 1968 e 1973, em que aqueles bancos foram responsáveis por 62,6% dos empréstimos em 1968; por 63,4% em 1970; por 59,7% em 1973; e por 66,0% em 1975.

Posteriormente, após as duas crises do petróleo, em 1973 e 1979, e a crise da dívida externa da década de 1980, o Brasil passou a enfrentar uma grave situação econômica. Os anos 1980 foram marcados principalmente pela diminuição do ritmo do crescimento econômico do País, pela inflação em elevação e por sucessivos planos econômicos que não obtiveram êxito em seu combate. Somente

2 O BNDES foi constituído originalmente com o nome de Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico

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na década seguinte, em 1994, o Plano Real foi finalmente capaz de conter a inflação.

Com a maior estabilidade econômica proporcionada pelo plano Real e com a perda dos ganhos decorrentes da inflação, diversos bancos passaram a enfrentar dificuldades financeiras. Entre 1995 e 1997, por meio do Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional (PROER), vários bancos privados foram liquidados ou colocados em regime de administração especial temporária (RAET) para posterior venda, cabendo destacar a compra do Banco Nacional pelo Unibanco e a do Bamerindus pelo Hong Kong and Shangai Banking Corporation (HSBC).

Nas décadas de 1980 e 1990, também passou a prevalecer o consenso de Washington, cujo receituário neoliberal pregava a minimização do papel do Estado na economia, inclusive com a defesa da privatização de bancos estatais (Deos e Mendonça, 2010).

No Brasil, por intermédio do Programa de Incentivo à Redução do Setor Público Estadual na Atividade Bancária (PROES), vários bancos estaduais que já se encontravam insolventes, em função de empréstimos aos Estados que detinham seu controle, foram privatizados, entre eles, o Banco do Estado de São Paulo (Banespa), que foi vendido ao Banco Santander em 2000.

Os bancos públicos federais, por sua vez, foram saneados por meio do Programa de Fortalecimento das Instituições Financeiras Federais (PROEF), com a criação, em 2001, da Empresa Gestora de Ativos (EMGEA), que recebeu e passou a gerir créditos de difícil liquidação daqueles bancos (Lundberg, 2011).

Em que pese a estabilização de preços e o crescimento do crédito nos primeiros meses após a implementação do Plano Real, entre o primeiro trimestre de 1994 e o primeiro trimestre de 2003, o crédito total3 recuou de aproximadamente 37,0% para apenas 21,8% do PIB (produto interno bruto). Os principais responsáveis por tal redução foram os bancos públicos, cuja participação diminuiu de 20,9% para 8,2% do PIB no mesmo período, redução explicada em grande parte pelas intervenções e privatizações de bancos públicos, as quais envolveram a aquisição de dívidas dos governos estaduais com seus próprios bancos (PROES)

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pelo governo federal, além de baixas de créditos de difícil liquidação acumulados pelos bancos públicos federais durante o período inflacionário (Lundberg, 2011).

A partir de 2003, o crédito retoma a sua trajetória de crescimento, sob a liderança do crédito livre concedido pelas instituições financeiras privadas, ao mesmo tempo em que há redução do crédito direcionado, que cai de 37,5% para 29,4% do total das operações de crédito do SFN (Lundberg, 2011).

Após a fase de reestruturação e saneamento do SFN, os mais importantes bancos públicos em atuação no País passam a ser: BB, CEF e BNDES, detentores de grande parcela dos saldos e das concessões com crédito direcionado: no crédito agrícola, no financiamento à habitação e no financiamento de longo prazo. Nos casos específicos de BB e CEF, também merece destaque o fato de ambos ofertarem crédito com recursos livres para pessoas físicas e jurídicas, não se restringindo ao crédito direcionado, como o BNDES.

Além dos três bancos federais citados, cabe também destacar o Banco da Amazônia (BASA) e o Banco do Nordeste (BNB), ambos voltados ao desenvolvimento de suas respectivas regiões de atuação: Amazônia e Nordeste. Quanto aos bancos públicos estaduais, convém mencionar o Banco do Estado do Rio Grande do Sul (Banrisul), o Banco do Estado do Espírito Santo (Banestes) e o Banco de Brasília (BRB), os quais concentram suas operações em seus respectivos Estados: Rio Grande do Sul, Espírito Santo e Distrito Federal.

Após a eclosão da recente crise financeira internacional, em setembro de 2008, os bancos públicos brasileiros, especialmente os federais, atuaram de forma anticíclica a fim de minimizar os impactos da crise no País, principalmente entre setembro de 2008 e setembro de 2009.

Anos mais tarde, durante o primeiro governo Dilma Rousseff, após sinais de desaceleração da atividade econômica em 2011, os bancos públicos federais voltaram a aumentar a sua oferta de crédito, sobretudo entre setembro de 2011 e dezembro de 2012, a fim de estimular a atividade econômica.

É importante observar que o aumento da oferta de crédito dos bancos públicos brasileiros, imediatamente após a crise financeira internacional de 2008, bem como no primeiro Governo Dilma Rousseff, não se restringiu ao segmento de recursos direcionados, contemplando também o segmento de recursos livres. Desde então, os bancos públicos, que já eram líderes com grande margem de vantagem para os bancos privados no segmento de recursos direcionados, passaram a

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assumir importância crescente também no segmento de recursos livres, não só em função de suas ações anticíclicas ou de estímulo à atividade econômica, mas também em razão do maior conservadorismo dos bancos privados na concessão de crédito após a crise.

Ademais, entre o primeiro e o segundo trimestres de 2012, os policy

makers induziram os bancos públicos brasileiros, principalmente BB e CEF, a

diminuírem as taxas de juros e os spreads bancários cobrados em suas operações de crédito, especialmente com recursos livres, com o propósito de aumentar a concorrência no SFN, tanto em razão dos elevados spreads bancários cobrados à época, quanto em função do ciclo de redução da taxa Selic que teve início em agosto de 2011, o qual reduziu a meta da taxa básica de juros básica da economia de 12,25% ao ano, naquele mês, para 7,25% ao ano, em outubro de 2012.

Por meio desta última ação, voltada ao aumento da concorrência no setor bancário, o Governo Federal tinha como meta principal provocar uma redução das taxas de juros e dos spreads bancários dos bancos privados nacionais e estrangeiros, favorecendo o barateamento do crédito no segmento de recursos livres e proporcionando um novo estímulo à atividade econômica.

O principal propósito desta dissertação é o de avaliar se os bancos públicos brasileiros foram capazes de exercer alguma influência sobre o preço do crédito com recursos livres cobrado pelos bancos privados nacionais e estrangeiros em 2012.

Além desta introdução, esse trabalho contempla dois capítulos. No capítulo 1, conceitual, será abordado o comportamento da firma bancária, tanto sob a perspectiva pós-keynesiana, quanto sob a neoclássica, com posterior comparação entre ambas as visões. Ademais, também serão discutidos alguns aspectos da intervenção do Estado no sistema financeiro e de sua presença no setor bancário por meio de bancos públicos.

No capítulo 2, será realizada a análise empírica dos dados levantados, a fim de avaliar se os mesmos sustentam ou não a hipótese principal deste trabalho. Neste capítulo, serão detalhados a base de dados utilizada, os critérios para a seleção da amostra dos bancos selecionados e a metodologia adotada para a análise.

Por fim, serão apresentadas as conclusões e as considerações finais, bem como algumas sugestões para novos estudos.

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Capítulo 1 – O comportamento dos bancos em uma economia monetária

1.1. Introdução

O objetivo principal deste capítulo é o de discutir os fatores que determinam o comportamento dos bancos em uma economia monetária, sob uma perspectiva teórica pós-keynesiana. Além disso e a título de contraste, a abordagem pós-keynesiana ou heterodoxa da firma bancária será comparada com a abordagem neoclássica ou ortodoxa, a fim de confrontar o papel dos bancos como meros intermediários financeiros (abordagem neoclássica) com o de instituições capazes de criar novo poder de compra (abordagem pós-keynesiana).

Com o objetivo de avançar na contextualização do objeto da discussão da presente dissertação, aspectos relacionados à intervenção do Estado no sistema financeiro e à sua presença na atividade bancária mediante o controle de instituições financeiras serão discutidos.

Nesse sentido, além dessa introdução, esse capítulo é composto por sete seções. Na seção 1.2, serão elaboradas sínteses de alguns importantes trabalhos de autores neoclássicos voltados ao estudo da firma bancária: Gurley e Shaw (1955), Tobin (1982, 1987), Fama (1980) e Stiglitz e Weiss (1981). Ao final, será construído um quadro que possa ser representativo da visão neoclássica da firma bancária.

Na seção 1.3, com base nos trabalhos de Keynes e de autores pós-keynesianos como Minsky, Davidson, Carvalho, Wray, entre outros, serão tratados importantes conceitos necessários à compreensão do comportamento da firma bancária em uma economia monetária, em linha com a perspectiva teórica em questão.

Na seção que se segue, apoiado no referencial teórico pós-keynesiano apresentado na seção anterior, serão apresentadas duas das principais decorrências da atividade bancária: o circuito finance-funding e a oferta endógena de moeda; bem como dois de seus principais impactos sobre a economia: a criação de novo poder de compra e a hipótese da instabilidade financeira de Minsky.

O objeto da seção 1.5 diz respeito à síntese da visão da firma bancária sob uma perspectiva pós-keynesiana que, em seguida, será comparada com a visão neoclássica na seção seguinte.

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Por fim, nas seções 1.7 e 1.8, serão discutidos, respectivamente, aspectos da intervenção do Estado no sistema financeiro e de sua presença na atividade bancária por intermédio de bancos públicos.

1.2. Teoria neoclássica da firma bancária: diferentes abordagens

Conforme observam Snowdon e Vane (2005, p. 28), classificar, “rotular” e relacionar economistas a determinadas escolas do pensamento econômico é algo que pode empobrecer a sofisticação, a abrangência e a profundidade de suas visões. Nesse sentido, Hoover4 (1988 apud Snowdon e Vane, 2005, pp. 28-29) destaca que qualquer economista é melhor descrito por um conjunto de características, ressaltando que qualquer definição enfatizará algumas daquelas em detrimento de outras.

Porém, em que pese a perda da riqueza das visões de cada economista, quando agrupadas em diferentes escolas do pensamento econômico, com base nos traços em comum que compartilham, conforme observam Snowdow e Vane (2005), tal sistematização será adotada nesse trabalho, a fim de facilitar a comparação de diferentes ideias e conceitos, bem como a identificação dos pontos de convergência ou divergência.

Snowdon e Vane (2005, p. 28) identificaram sete5 escolas do pensamento econômico que contribuíram de forma significativa para a evolução da macroeconomia no século XX: i) keynesiana ortodoxa (também denominada síntese neoclássica ou velho keynesiana) ; ii) monetarista ortodoxa; iii) novo clássica; iv) ciclos reais de negócios; v) novo keynesiana; vi) pós-keynesiana; e vii) austríaca.

Vercelli6 (1991 apud Snowdon; Vane, 2005, p. 29) destaca um importante ponto em comum mantido por tais escolas do pensamento econômico:

4

Hoover, K.D. (1988). “The New Classical Macroeconomics: A Sceptical Inquiry”. Oxford: Basil Blackwell.

5 Para classificações alternativas das escolas do pensamento econômico, ver também: Cross, R. (1982).

“Economic Theory and Policy in the U.K.: An Outline and Assessment of the Controversies”. Oxford: Martin Robertson; e Phelps, E.S. (1990). “Seven Schools of Macroeconomic Thought”. Oxford: Oxford University Press. Snowdon e Vane (2005, p. 29) ainda identificam uma oitava escola que surgiu na última década do século XX: a “nova síntese neoclássica”, a qual combina elementos das escolas novo clássica e novo keynesiana, todavia, os autores não dedicam nenhum capítulo específico para o seu estudo.

6 Vercelli, A. (1991). “Methodological Foundations of Macroeconomics: Keynes and Lucas”. Cambridge:

(33)

In discussing these various schools of thought it is important to remember that the work of Keynes remains the ‘main single point of reference, either positive or negative, for all the schools of macroeconomics’. Therefore, it is hardly surprising that all the schools define themselves in relation to the ideas originally put forward by Keynes in his General Theory, ‘either as a development of some version of his thought or as a restoration of some version of pre-Keynesian classical thought’ (Vercelli, 1991, p. 3).

Nesta seção, serão tratados trabalhos de alguns autores de grande relevância para a discussão da firma bancária sob uma perspectiva ortodoxa ou neoclássica, vinculados a três das sete escolas do pensamento econômico acima citadas: i) keynesiana ortodoxa: Gurley e Shaw (1955) e Tobin (1982, 1987); ii) ciclos reais de negócios: Fama (1980); e iii) novo keynesiana: Stiglitz e Weiss (1981).

Esta seção contempla sínteses dos trabalhos dos autores citados, sendo que, ao final, será feito um esforço de sistematização, com o propósito de destacar as principais características da firma bancária segundo a abordagem neoclássica.

1.2.1. A abordagem keynesiana ortodoxa da firma bancária

Segundo Paula (2014), o conceito convencional de firma bancária, em que os bancos comerciais7 restringem-se ao papel de meros intermediários financeiros, apenas alocando a poupança das unidades superavitárias entre as deficitárias, foi desenvolvido inicialmente por Gurley e Shaw (1955).

Posteriormente, Tobin (1987), em artigo seminal publicado originalmente em 1963, aprimorou a abordagem de Gurley e Shaw (1955), denominando-a de

“new view” (“visão nova”), segundo a qual os bancos procuram satisfazer

simultaneamente as preferências de portfólio de agentes econômicos deficitários e superavitários, ao mesmo tempo em que buscam maximizar seus ganhos financeiros (PAULA, 2014).

Dymski (1992) afirma que os trabalhos de Gurley e Shaw (1955) e de Tobin (1987) contribuíram para a construção da “visão nova” de intermediação financeira. Observa, entretanto, que, embora a construção da “visão nova” tenha

7

Bancos comerciais são todas as instituições financeiras autorizadas a receber depósitos à vista do público. No Brasil, esse conjunto de instituições financeiras, denominadas bancárias, é constituído por: bancos públicos (federais, regionais ou estaduais), caixas econômicas, bancos privados (nacionais e estrangeiros) e bancos múltiplos com carteira de depósitos à vista (independentemente do tipo de controle). Também cabe observar que, no contexto deste trabalho, os bancos comerciais poderão ser denominados simplesmente bancos, quando a especificação não se fizer necessária para a clareza do argumento.

(34)

origem nos trabalhos de Gurley e Shaw (1955) e de Goldsmith (1958)8, foi Tobin quem cunhou o termo em seu artigo de 1963.

Mais tarde, Tobin (1982) desenvolveu um modelo em que um banco comercial maximizador de lucros constitui seu portfólio de investimentos por meio da adoção de uma postura cujo traço distintivo é a precaução, uma vez que toma decisões sobre a composição de sua carteira de ativos sem ter completo conhecimento de como os seus depósitos evoluirão.

Nesta subseção, serão elaboradas sínteses dos trabalhos de Gurley e Shaw (1955) e de Tobin (1982, 1987).

1.2.1.1. A concepção de firma bancária de Gurley e Shaw

Gurley e Shaw (1955, p. 516) iniciam o desenvolvimento de sua concepção de firma bancária por meio da definição de três tipos de unidades econômicas em função de seus gastos e receitas: i) as de orçamento equilibrado: cujos gastos igualam as receitas; ii) as de orçamento superavitário: cujos gastos são inferiores às receitas, constituindo, portanto, unidades fornecedoras de “fundos emprestáveis”9

; e iii) as de orçamento deficitário: cujos gastos são superiores às receitas, caracterizando-se, dessa forma, como unidades que demandam “fundos emprestáveis”.

Para a elaboração de sua argumentação, os autores também fazem referência a dois “corolários financeiros” derivados das identidades macroeconômicas ex-post entre receitas e despesas e entre poupança e investimento para o conjunto das unidades econômicas.

De acordo com o primeiro corolário, a oferta de “fundos emprestáveis” iguala a sua demanda. Por sua vez, o segundo corolário sustenta que o aumento de ativos financeiros líquidos das unidades superavitárias corresponde ao aumento de passivos financeiros líquidos das unidades deficitárias (GURLEY; SHAW, 1955, pp. 516-517).

8 Goldsmith, R. W. (1958). “Financial Intermediaries in the American Economy since 1900”. Princeton, NJ:

Princeton University Press.

9

Resumidamente, a teoria dos “fundos emprestáveis” sustenta que os agentes econômicos superavitários, por meio de intermediários financeiros, disponibilizam sua poupança (“fundos emprestáveis”) aos agentes econômicos deficitários, sendo a taxa de juros determinada pela oferta e demanda de “fundos emprestáveis”.

(35)

Os autores também identificam três formas de financiamento de despesas, elementos importantes para a sua construção teórica, a saber: i)

self-finance (autofinanciamento); ii) direct self-finance (finanças diretas); e iii) indirect self-finance

(finanças indiretas). O autofinanciamento ocorre quando as unidades econômicas financiam os seus gastos por meio de sua própria renda. Já as finanças diretas envolvem a captação de recursos pelas unidades deficitárias diretamente das unidades superavitárias, mediante a emissão de títulos (“direct debt”) pelas primeiras, sendo que, nesse caso, o aumento dos passivos acompanha pari passu o aumento da riqueza. Já as finanças indiretas contemplam o envolvimento de intermediários financeiros que captam “fundos emprestáveis” das unidades superavitárias, alocando-os, em seguida, entre as unidades deficitárias. Os autores ainda classificam a primeira forma de financiamento como interna e as duas últimas como externas.

Os pesquisadores observam que o desenvolvimento econômico seria mais lento na hipótese de não haver o envolvimento de intermediários financeiros e de apenas o autofinanciamento e as finanças diretas estarem disponíveis. Em seguida, destacam que a intervenção de intermediários financeiros no fluxo de “fundos emprestáveis” eleva a taxa com que os passivos crescem em relação à renda e a riqueza (GURLEY; SHAW, 1955, pp. 518-519).

Para justificar como a introdução de intermediários financeiros no fluxo de “fundos emprestáveis” favoreceria o crescimento dos passivos (debt) e, consequentemente, o desenvolvimento econômico, em comparação ao autofinanciamento e às finanças diretas, os autores desenvolvem um intrincado, porém, pouco convincente raciocínio, em uma das notas de rodapé10 de seu trabalho. Este mostra como os passivos dos intermediários financeiros passam a se multiplicar a uma taxa maior que a da renda e a da riqueza por meio da existência de um fator multiplicativo (“multilpicative factor”).

Embora o referido fator possa lembrar o multiplicador bancário, não pode ser tomado como tal, uma vez que os autores fazem uma crítica contundente ao conceito de firma bancária vinculado à teoria do multiplicador. Segundo esta, a multiplicação dos ativos e passivos dos bancos comerciais se daria de forma ilimitada (ao menos na ausência de requerimentos legais de reserva), conferindo

10

(36)

àquelas instituições financeiras um status superior ao das demais, com o que os autores não concordam.

Apesar de os autores não fazerem qualquer referência direta ao multiplicador bancário, a crítica ao mesmo está implícita, ao deixarem claro que divergem da doutrina convencional11 à época. Ao considerarem os bancos comerciais como apenas mais um entre outros tantos intermediários financeiros, os quais compartilham as mesmas funções com as demais instituições financeiras, no que tange às finanças indiretas, os pesquisadores evidenciam que não concordam com a visão de que os bancos comerciais mereçam destaque em função de sua capacidade “não controlada” de “criarem “fundos emprestáveis””12

, enquanto aos demais intermediários financeiros caberia apenas a modesta função de alocar “fundos emprestáveis” criados em algum outro lugar (GURLEY e SHAW, 1955, p. 521).

Em seguida, Gurley e Shaw sustentam que nem bancos comerciais, nem outros intermediários financeiros “criam “fundos emprestáveis””, o que seria privilégio das unidades econômicas superavitárias. Segundo os autores, bancos comerciais e as demais instituições financeiras criam formas especiais de ativos financeiros13 para que as unidades superavitárias possam acumulá-los como recompensa à restrição de seus gastos correntes ou de seus investimentos em bens de capital.

Assim, na visão dos pesquisadores, quaisquer intermediários financeiros, bancos comerciais ou não, apenas “criariam crédito” por meio da intermediação de “fundos emprestáveis”, permitindo a diversificação dos portfólios das unidades superavitárias (GURLEY; SHAW, 1955, p. 521).

No que diz respeito ao monopólio virtual do sistema de pagamentos pelos bancos comerciais, Gurley e Shaw consideram que tal fato não representa motivo suficiente para que os mesmos exerçam o papel de protagonistas, com as demais instituições financeiras exercendo apenas o papel de coadjuvantes na intermediação de “fundos emprestáveis”. Segundo os autores, ambos os tipos de instituições

11 Tobin (1987) também faz uma crítica à doutrina convencional da firma bancária, vinculada ao multiplicador

bancário, denominando-a de “visão velha”, em contraposição à nova abordagem que propõe: a “visão nova”. Essa crítica de Tobin será abordada na subseção seguinte.

12 Como será visto adiante, os bancos comerciais não criam “fundos emprestáveis”, mas sim depósitos

bancários ou moeda bancária, os quais estão diretamente relacionados à criação de novo poder de compra pelos mesmos.

13 No texto, os autores se referem a depósitos à vista e também a depósitos a prazo, como por exemplo

(37)

financeiras são simplesmente intermediários de “fundos emprestáveis”, sendo as preferências do público que determinam que tipo de instituição criará crédito em qualquer período e não a administração do sistema de pagamentos pelos bancos comerciais (GURLEY e SHAW, 1955, pp. 521-522).

Dessa forma, Gurley e Shaw, ao afirmarem que a criação de ““fundos emprestáveis”” é prerrogativa das unidades superavitárias, consideram os bancos comerciais como meros intermediários financeiros, cujo papel principal é o de captar os referidos fundos, a fim de alocá-los entre as unidades deficitárias. Nesse sentido, os bancos não criam novo poder de compra, pois a sua capacidade de conceder crédito depende da criação de ““fundos emprestáveis”” pelas unidades superavitárias.

A seguir, será tratada a “visão nova” de Tobin, que, embora esteja em linha com o trabalho de Gurley e Shaw, avança ao caracterizar os bancos como firmas maximizadoras de lucros.

1.2.1.2. A “visão nova” de Tobin

O principal ponto em comum dos trabalhos de Gurley e Shaw (1955) e de Tobin (1987) relaciona-se à crítica que ambos fazem à teoria do multiplicador bancário, segundo a qual os bancos comerciais criam moeda bancária de forma passiva.

O tratamento dado à firma bancária na abordagem keynesiana ortodoxa ou velho keynesiana evoluiu de uma visão vinculada à teoria do multiplicador bancário, que Tobin (1987) denominou de “old view” (“visão velha”), para outra em que as instituições financeiras procuram satisfazer tanto as preferências de portfólio de agentes econômicos superavitários, quanto as dos deficitários; ao mesmo tempo em que procuram maximizar seus ganhos financeiros, que Tobin (1987), em contraposição à “visão velha”, denominou de “new view” (“visão nova”).

De acordo com a “visão velha”, os bancos comerciais teriam o poder de criar moeda bancária14 de forma ilimitada, sendo restringidos apenas pelos requerimentos legais de reserva determinados pelas autoridades monetárias. Dessa forma, o volume total de depósitos à vista dos bancos comerciais não passaria de

14

(38)

uma mera questão de aritmética, representando apenas o resultado do produto do total de suas reservas pelo multiplicador bancário (correspondente ao inverso da taxa de reservas exigida pelo banco central).

Os principais questionamentos de Tobin (1987), concernentes à “visão velha”, estão relacionados ao fato de que a criação de moeda não depende exclusivamente de uma dada base de reservas e do requerimento de reservas determinado pela autoridade monetária e nem do protagonismo que a teoria do multiplicador bancário confere aos bancos comerciais no processo de criação de moeda. Tobin sustenta a sua argumentação com base em três críticas principais à “visão velha”.

A primeira delas diz respeito ao fato de que a “visão velha” trata o conjunto dos bancos comerciais como um ente único, reduzindo-o a um único banco comercial monopolista, conforme afirma Paula (2014). Dessa forma, os empréstimos concedidos por um determinado banco retornariam integralmente ao mesmo sob a forma de depósitos bancários, com as suas obrigações (depósitos à vista) acompanhando necessariamente o crescimento de seus ativos (empréstimos), o que, segundo Tobin (1987), seria o mesmo que afirmar: “[...] depositors entrust to

bankers whatever amounts the bankers lend” (Tobin, 1987, p. 272).

Segundo Tobin (1987), quando se toma um banco comercial de forma individual, dentre um conjunto de bancos comerciais, não há garantia alguma de que os empréstimos concedidos por aquele banco em particular retornem a ele sob a forma de depósitos bancários e nem de que seus depósitos à vista acompanhem

pari passu o crescimento de seus empréstimos, mesmo após sucessivas rodadas de

concessão de empréstimos e de criação de moeda bancária. Isto porque tais empréstimos15 poderiam acabar sendo depositados, parcial ou integralmente, em algum outro banco comercial ou ainda investidos em alguma das diversas alternativas de aplicações financeiras oferecidas pelos demais bancos comerciais ou por outras instituições financeiras não bancárias16.

15

Na verdade, não são os empréstimos (ativos bancários) que são depositados em outras instituições financeiras, mas sim os depósitos à vista (passivos bancários) originados por aqueles empréstimos.

16 No Brasil, o conjunto de instituições financeiras não bancárias é composto por: associações de poupança e

empréstimo; bancos de desenvolvimento (incluído o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social - BNDES); bancos de investimento; companhias hipotecárias; sociedades de arrendamento mercantil; sociedades corretoras e distribuidoras de valores mobiliários; sociedades de crédito, financiamento e investimento; e sociedades de crédito imobiliário.

(39)

O autor ainda argumenta que outros dois fatores também devem ser considerados na determinação dos volumes de depósitos dos bancos comerciais: i) os bancos não estão limitados por quaisquer quantidades dadas de reservas, uma vez que também podem obtê-las por meio de empréstimos tomados do banco central17 ou no mercado interbancário, bem como pela venda de ativos; e ii) mesmo na hipótese de um banco comercial monopolista, este ainda poderia perder depósitos em função de eventuais fluxos de capitais para o exterior e da quantidade de moeda que o público decidisse manter em seu poder.

A segunda crítica de Tobin (1987) refere-se ao tratamento especial que é dado aos bancos comerciais em razão da natureza de seus depósitos à vista, considerados meios de pagamento, assim como o papel-moeda em poder do público, o que acaba por dividir as instituições financeiras entre aquelas que criam meios de pagamento ou moeda escritural18 (bancos comerciais) e as que não criam (as instituições financeiras não bancárias). Tobin não concorda com esse tratamento especial dado aos bancos comerciais, deixando a sua opinião evidente na seguinte passagem: “The special attention given to commercial banks in economic analysis is

usually justified by the observation that, alone among intermediaries, banks ‘create’ means of payment. This rationale is on its face far from convincing” (TOBIN, 1987, p.

275).

Além disso, em que pese o fato de os bancos comerciais poderem criar moeda bancária apenas por meio da concessão de empréstimos, ao creditarem, em contrapartida, as contas correntes de seus clientes, Tobin (1987) o entende como superficial e irrelevante para ser utilizado como argumento que possa diferenciar os bancos comerciais das demais instituições financeiras não bancárias. Isto porque, se por um lado, essas últimas não podem criar moeda escritural da mesma forma que

17

Apesar de Tobin reconhecer que os bancos comerciais podem tomar reservas emprestadas diretamente da autoridade monetária ou no mercado interbancário, o autor afirma que aqueles bancos não criam meios de pagamento, isto é, novo poder de compra, por considerar a oferta de moeda como exógena, ponto que será abordado adiante.

18 Segundo Simonsen e Cysne (1995, p. 21): “Por definição, moeda escritural [ou moeda bancária] corresponde

aos depósitos à vista do público nos bancos comerciais e no banco central, excetuando-se aí os depósitos da União no banco central”. No caso específico do Brasil, a Constituição de 1988 determina que os recursos do Tesouro Nacional sejam depositados exclusivamente no BCB, enquanto os recursos de pessoas físicas e demais pessoas jurídicas (incluindo governos estaduais e municipais, autarquias e sociedades de economia mista) sejam depositados nos bancos comerciais. Na prática, como o BCB não aceita depósitos do público (exceto os da União), a moeda escritural no Brasil pode ser representada apenas pelos depósitos do público nos bancos comerciais.

(40)

os bancos comerciais, por outro lado, os recursos que aqueles bancos depositam nas contas de seus clientes (em contrapartida aos empréstimos) são imediatamente utilizados, aumentando o volume de seus depósitos à vista não mais do que por um breve momento (TOBIN, 1987, p. 276).

O autor também afirma que a vantagem proporcionada pelas contas correntes dos bancos comerciais seria limitada, uma vez que os depósitos à vista, embora sejam considerados meios de pagamento, não pagam juros19, de tal sorte que não conferem nenhuma imunidade àqueles bancos na competição por fundos com as demais instituições financeiras, as quais também podem atrair recursos para as suas operações de crédito por meio de diferenciais de juros em seus depósitos a prazo, dada a variação da demanda do público por depósitos à vista em função das taxas de juros pagas pelas demais alternativas de investimentos (TOBIN, 1987, pp. 275-276).

Assim, no sentido da argumentação de Tobin, um aumento das taxas de juros dos depósitos a prazo implicaria uma diminuição da demanda do público por depósitos à vista; enquanto uma diminuição das taxas de juros dos depósitos a prazo implicaria um aumento da demanda por depósitos à vista.

Outro ponto importante destacado por Tobin (1987) e ainda relacionado à sua segunda crítica diz respeito ao seu questionamento sobre o que deve ser considerado meios de pagamento. Por convenção, meios de pagamentos são ativos de liquidez imediata representados pela moeda corrente em poder do público e pela moeda escritural (depósitos à vista nos bancos comerciais). Todavia, segundo Tobin (1987, p. 275), além de os depósitos a prazo compartilharem muitos dos atributos dos depósitos à vista, as instituições financeiras não bancárias raramente exercem o seu direito de exigirem aviso prévio para o resgate de recursos investidos naqueles depósitos.

Tobin (1987) argumenta que alguns depósitos a prazo e outros ativos financeiros de elevada liquidez tornariam pouco nítida a separação entre os ativos que são considerados “moeda” daqueles que não são; ou seja, os contornos de ambos os conjuntos de ativos não seriam precisos ou não estariam bem definidos, com um se sobrepondo ao outro.

19 As legislações de alguns países permitem o pagamento de juros sobre os depósitos à vista, porém, é comum

(41)

Dessa forma, a “visão nova” tende a tornar difusa tanto a distinção entre os ativos que são considerados “moeda” e aqueles que não são, quanto a distinção entre bancos comerciais e os demais intermediários financeiros.

Tobin (1987) considera que os bancos comerciais e as demais instituições financeiras não bancárias operam de forma similar, isto é, competem pelos recursos dos agentes econômicos superavitários com o objetivo de constituir o

funding necessário às suas operações de crédito destinadas a financiar os agentes

econômicos deficitários, da mesma forma como preconizam Gurley e Shaw (1955). Segundo o autor, as diferenças entre ambos os tipos de instituições financeiras estariam mais relacionadas aos requerimentos legais de reservas e ao não pagamento de juros sobre os depósitos à vista do que ao fato de os mesmos serem considerados meios de pagamento.

Embora Tobin reconheça que a natureza dos depósitos à vista20 confira certos privilégios aos bancos comerciais, como a possibilidade de poderem captar reservas diretamente do banco central ou no mercado interbancário, o autor não percebe a relevância desse ponto para a sua análise, muito provavelmente por se concentrar na demanda e na oferta de todo o espectro de ativos, bem como por considerar a oferta de moeda como determinada exogenamente pelo banco central, que administraria a base monetária por meio de controles quantitativos21.

A terceira crítica está vinculada ao papel que cabe às preferências do público na determinação do volume dos depósitos à vista. Tobin (1987) divide o público entre tomadores e emprestadores de recursos, cada qual com as suas respectivas preferências de portfólio, com os primeiros desejando se endividar para adquirir novos ativos, seja para consumo ou investimento, e os últimos desejando aplicar parte de sua riqueza em ativos financeiros com baixo risco de default. Os empréstimos concedidos aos tomadores de recursos constituem os ativos das instituições financeiras, enquanto seus passivos são constituídos pelos ativos dos emprestadores de recursos. Segundo Tobin, o propósito primordial das diversas instituições financeiras, incluindo os bancos comerciais, seria o de satisfazer simultaneamente as preferências de portfólio de agentes econômicos deficitários e superavitários, ao mesmo tempo em que procuram maximizar a sua rentabilidade,

20 Aspecto que será discutido com maiores detalhes mais adiante. 21

(42)

por meio da administração de seus ativos e passivos, sendo essa a essência da “visão nova”.

Apesar de Tobin (1987) reconhecer que os bancos comerciais procuram maximizar seus resultados financeiros por meio do gerenciamento diligente de seu portfólio de ativos e passivos, o autor ainda não percebe que aqueles bancos criam novo poder de compra22. Tobin considera que tanto as instituições financeiras bancárias, quanto as não bancárias, têm como principal característica a simples intermediação financeira. Assim, as oportunidades de aplicações dos bancos comerciais (do lado do ativo) também estariam limitadas pelos seus depósitos (do lado do passivo), com seus balanços sendo afetados pelas preferências dos agentes econômicos, da mesma forma que ocorreria com as instituições financeiras não bancárias.

O pesquisador também avalia que a expansão dos balanços de ambos os tipos de instituições financeiras seria limitada pela receita marginal de seus empréstimos e investimentos, no momento em que essa igualasse o custo marginal de captação de novos depósitos junto ao público. Dessa forma, os bancos comerciais não seriam qualitativamente diferentes das demais instituições financeiras não bancárias, uma vez que o processo que limita a expansão dessas últimas, também limitaria a expansão dos primeiros (TOBIN, 1987, p. 277).

O autor também destaca que em um regime monetário no qual não houvesse requerimentos de reservas, as preferências dos agentes econômicos superavitários e deficitários desempenhariam um papel ainda mais relevante na determinação dos depósitos à vista e a prazo. Nesse caso, os volumes dos ativos e dos passivos de todas as instituições financeiras, bancárias ou não, seriam determinados em um equilíbrio competitivo, em que as taxas de juros dos empréstimos de cada instituição financeira igualariam, na margem, as taxas de juros pagas aos seus depositantes (TOBIN, 1987, p. 278).

Entretanto, Tobin observa que em um regime em que a autoridade monetária impõe requerimentos de reservas e no qual os depósitos à vista não pagam juros (ou são limitados por um teto de taxa de juros), o referido equilíbrio competitivo nunca é atingido, com os retornos marginais dos empréstimos e

22

(43)

investimentos sempre excedendo os custos marginais de captação de novos depósitos junto ao público.

Nessas circunstâncias, os bancos comerciais, ao adquirirem novas reservas, seriam sempre capazes de auferir ganhos financeiros, ao aplicá-las em empréstimos e em outros ativos e, embora a expansão desses ativos reduzisse as suas taxas de juros, tal redução, segundo Tobin, não seria capaz de eliminar as margens de lucros entre as receitas proporcionadas pelos novos depósitos e os seus custos de captação, mas seria suficiente para induzir o público a aumentar o volume de seus depósitos à vista, dada a diminuição das taxas de juros dos demais ativos (TOBIN, 1987, p. 279).

Em seguida, abordaremos o trabalho de Tobin de 1982, em que o autor percebe que a decisão de emprestar dos bancos precede a dos depositantes.

1.2.1.3. Tobin e a decisão de emprestar dos bancos

Tobin (1982) aprimora a sua abordagem anterior ao desenvolver um modelo em que um banco comercial maximizador de lucros constitui seu portfólio de ativos por meio da adoção de uma postura cujo traço distintivo é a precaução, uma vez que toma suas decisões sobre a composição de suas carteiras de ativos sem ter completo conhecimento de como os seus depósitos evoluirão. Esse comportamento preventivo seria motivado tanto em função dos custos extras em que um banco pode incorrer, caso necessite obter reservas adicionais por meio de empréstimos tomados do banco central ou no mercado interbancário ou ainda mediante a venda de ativos; quanto pela renúncia a lucros de forma desnecessária, ao manter reservas em excesso, deixando de aplicá-las em ativos mais rentáveis, embora menos líquidos. De acordo com Tobin (1982, p. 524), essa postura mais cautelosa dos bancos estaria vinculada ao motivo precaução de Keynes: “The behavior of the bank in this

model is a prime example of what Keynes called the precautionary motive for holding money and other liquid assets.”

Nesse novo trabalho, Tobin divide os ativos de um banco em duas categorias principais: “loans and investments” (empréstimos e investimentos) e

“defensive assets” (ativos defensivos). O primeiro grupo é composto basicamente

por ativos com pouca ou nenhuma liquidez, os quais podem inclusive apresentar variação de valor ao longo do tempo, sendo que os bancos, de forma geral, somente

(44)

auferirão a renda prometida se os mantiver em carteira até o vencimento. Consequentemente, caso um banco necessite vender parte daqueles ativos, a fim de satisfazer as suas necessidades imediatas de reservas, há o risco de que tal venda ocorra com perda de rentabilidade. Além disso, para alguns daqueles ativos, principalmente empréstimos, há ainda a possibilidade de que o banco não encontre compradores.

Por sua vez, o segundo grupo é composto por meios de pagamentos: moeda e depósitos no banco central, bem como por ativos muito líquidos, de conversão imediata em meios de pagamento, como por exemplo: empréstimos a outros bancos no mercado interbancário e títulos públicos.

Dada a regulação a que estão submetidos, os bancos comerciais são obrigados a manter certa quantidade de reservas, definida pela autoridade monetária. Segundo Tobin, os bancos usualmente detêm ativos defensivos em montante superior ao volume de reservas determinado pelo Banco central. Essa diferença entre o montante de ativos defensivos e o volume de reservas exigido pela regulação, é denominada por Tobin (1982) de “defensive position” (posição defensiva), a qual seria resultado da avaliação que um banco faz ao ponderar a probabilidade de incorrer em custos extras (devido à falta de reservas) contra a probabilidade de perda de receitas (devido ao excesso de reservas).

Nesse sentido, os bancos estariam sempre procurando adequar os volumes de suas aplicações em ativos ilíquidos ou com pouca liquidez – porém, mais rentáveis – à incerteza associada ao seu fluxo de depósitos futuros, com o intuito de maximizar os seus ganhos financeiros.

1.2.1.4. Síntese da contribuição de Tobin

A “visão nova” de Tobin trouxe importantes contribuições para a abordagem da dinâmica da firma bancária neoclássica quando comparada à “visão velha”, cabendo destacar: i) a preocupação dos bancos em administrarem de forma eficiente seus ativos e passivos, a fim de maximizarem seus lucros; ii) a discussão relativa ao que deve ser considerado meio de pagamento e que instituições podem criá-los; iii) a crítica à teoria do multiplicador bancário; e iv) o reconhecimento de que os bancos não estão limitados por quaisquer quantidades dadas de reservas, acrescentando a este último ponto que, em função dos diferenciais de taxas de juros

(45)

em relação àquelas praticadas no mercado monetário e pelo banco central para o empréstimo de reservas, os bancos comerciais poderiam considerar vantajoso tomar reservas emprestadas eventual ou mesmo regularmente, dependendo das oportunidades de negócios proporcionadas pelo mercado, obviamente, com o propósito de ampliar as suas operações de crédito e de aumentar os seus lucros. Todavia, Tobin considera a oferta de moeda como sendo exógena, isto é, determinada pela autoridade monetária:

For the banking system as a whole the Federal Reserve's quantitative controls determine the supply of unborrowed reserves. But the extent to which this supply is left unused, or supplemented by borrowing at the discount window, depends on the economic circumstances confronting the banks–on available lending opportunities and on the whole structure of interest rates from the Federal Reserve's discount rate through the rates on mortgages and long-term securities. (TOBIN, 1987, pp. 279-280).

Da citação acima, o trecho: “For the banking system as a whole the

Federal Reserve's quantitative controls determine the supply of unborrowed reserves” (TOBIN, 1987, p. 280) nos permite inferir que Tobin considera a oferta de

moeda como exogenamente determinada pelo banco central23, por meio de seus controles quantitativos da base monetária. Já o trecho imediatamente seguinte: “But

the extent to which this supply is left unused, or supplemented by borrowing at the discount window, depends on the economic circumstances […]” (TOBIN, 1987, p.

280), evidencia que o autor avalia que os bancos comerciais podem utilizar uma menor ou maior parcela das reservas disponibilizadas pela autoridade monetária, dependendo das circunstâncias econômicas.

Em seu trabalho de 1982, Tobin dá mais um importante passo em sua análise, ao reconhecer que a decisão de conceder empréstimos de um banco comercial precede o conhecimento de seu volume futuro de depósitos: “The bank

must make this choice [de investir em ativos mais ou menos líquidos] before it knows what its volume of deposits will be” (TOBIN, 1982, p. 523).

Apesar disso, o autor continua a privilegiar, em sua análise, o papel de intermediação financeira dos bancos comerciais, o que fica claro nessa passagem:

“It [o trabalho do próprio Tobin] refers principally to the traditional distinctive

23 Nesse caso, o autor se refere especificamente ao Federal Reserve, o Banco Central norte-americano; porém,

Referências

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