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TRABALHO DE ENFERMAGEM EM UMA UNIDADE DE EMERGÊNCIA HOSPITALAR E TRANSTORNOS MENTAIS. Artigos de Pesquisa INTRODUÇÃO

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RESUMO: RESUMO: RESUMO: RESUMO:

RESUMO: Este estudo objetivou estimar a prevalência de transtornos mentais comuns (TMC) na equipe de enfermagem da unidade de emergência de um hospital geral do município de Feira de Santana, Bahia, e analisar sua associação com os aspectos psicossociais do trabalho. Foi realizado estudo epidemiológico de corte transversal, com 80 profissionais de enfermagem, em 2001. Utilizou-se um formulário com o Job Content Questionnaire, o Self-Reporting Questionnaire-20, referentes às características sociodemográficas e condições e aspectos psicossociais do trabalho. A prevalência geral de TMC foi 26,3%. Entre as enfermeiras a prevalência alcançou 53,3% e entre as técnicas, auxiliares e atendentes de enfermagem, 20,0% (Razão de Prevalência: 2,67 e Intervalo de Confiança: 1,35-5,26). A prevalência dos transtornos foi maior no grupo de alta exigência (33,3%). Fatores organizacionais podem estar relacionados ao TMC, requerendo a adoção de medidas para promover a saúde e melhor qualidade de vida desses profissionais.

Palavras-chave: Palavras-chave: Palavras-chave: Palavras-chave:

Palavras-chave: Transtorno mental; trabalho; enfermagem; emergência. ABSTRACT

ABSTRACT ABSTRACT ABSTRACT

ABSTRACT: : : : : This research aimed at estimating psychological distress (PD) prevalence rates on a nursing team assigned at the emergency unit of a public hospital in Feira de Santana, Bahia, Brazil, and at analyzing its psychosocial aspects. A cross-sectional study with all nurses and nursing assistants of the emergency unit was carried out in 2001. Data was collected with the use of a questionnaire including Job Content Questionnaire, Self-Reporting Questionnaire-20 and questions on sociodemographic and work conditions. Total prevalence of PD was 26.3%. Nurses presented higher PD prevalence (53.3%) compared to nursing assistants (20.0%) (RP:2.67;IC:1,35-5,26). PD prevalence was higher in the high strain group (33.3%). Results show that organizational factors reinforce the relevance of preventive action in the health sector in the promotion of life quality of those professionals.

Keywords: Keywords: Keywords: Keywords:

Keywords: Mental disorders; work; nursing; emergency. RESUMEN

RESUMEN RESUMEN RESUMEN

RESUMEN: Este estudio tuvo como objetivo estimar la prevalencia de Trastornos Mentales Comunes (TMC) en el equipo de enfermería de una unidad de emergencia de un hospital general del Municipio de Feira de Santana, Bahia – Brasil, así como analizar su asociación con los aspectos psicosociales del trabajo. Se optó por el estudio de corte transversal, con 80 profesionales de enfermería, en 2001. Para la colecta de datos, se utilizó un cuestionario que incluía el Job Content Questionaire, el Self-Reporting Questionaire-20 y cuestiones referentes a las características sociodemográficas y condiciones y aspectos psicosociales del trabajo. La prevalencia general de TMC fue 26,3%. Entre las enfermeras la prevalencia de TMC fue 53,3% y entre las técnicas, auxiliares y ayudantes de enfermería fue 20,0% (Razón de Prevalencia: 2,67: Intervalo de Confianza: 1,35-5,26). La prevalencia de los trastornos fue mayor en el grupo de alta exigencia con 33,3%. Factores organizativos pueden estar relacionados al TMC, requeriendo la adopción de medidas para promover la salud y mejor calidad de vida de esos profesionales.

Palabras Clave: Palabras Clave: Palabras Clave: Palabras Clave:

Palabras Clave: Trastorno mental; trabajo; enfermería; emergencia.

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P e s q u i s a

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Paloma de Sousa PinhoI

Tânia Maria de AraújoII

IMestre em Saúde Coletiva. Núcleo de Epidemiologia - Departamento de Saúde - Universidade Estadual de Feira de Santana. E-mail: palomapinho@yahoo.com.br.

Endereço: Km 3 – BR 116 – CAMPUS UNIVERSITÁRIO – Avenida Universitária, s/n – Departamento de Saúde/Núcleo de Epidemiologia – Sexto Módulo. CEP: 44031-460 – Feira de Santana – Ba, Brasil.

IIDoutora em Saúde Pública. Núcleo de Epidemiologia - Departamento de Saúde - Universidade Estadual de Feira de Santana

I

NTRODUÇÃO

O

s profissionais de

enfermagem, no contexto hospitalar, representam o maior contingente de trabalhadores. Vários estudos destacam que as condições de trabalho vivenciadas por esses

trabalhadores ocasionam problemas de saúde, acarretando prejuízos pessoais, sociais e econômicos. O estresse no trabalho é decorrente da inserção do indivíduo nesse contexto, pois o

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“trabalho, além de possibilitar crescimento, transformação, reconhecimento e independência pessoal, também causa problemas de insatisfação, desinteresse, apatia e irritação”1:181.

As condições insatisfatórias relacionadas a fa-tores como extensas jornadas de trabalho, ausência de períodos de descanso, plantões em finais de sema-na, períodos de trabalho fatigante, além da ausência de participação nos processos de tomada de decisões, interferem direta ou indiretamente na saúde do tra-balhador e muitas vezes o trabalho deixa de significar satisfação e torna-se fonte de sofrimento, exploração, doença e morte2,3.

Pesquisa sobre saúde mental entre ocupações de alto estresse, realizada pelo National Institute for Occupational Safety and Health (NIOSH), revela que entre as 130 ocupações estudadas a enfermagem ocu-pava o 27º lugar, considerando-se problemas de saú-de mental relacionados à ocupação4.

Os trabalhadores de enfermagem prestam assis-tência em setores considerados desgastantes, tanto pela carga de trabalho como pelas especificidades das tarefas, e nesse panorama encontra-se a unidade de emergência.

Pode-se considerar que a maior fonte de satisfa-ção no trabalho em unidade de emergência concen-tra-se no fato de que as suas intervenções auxiliam na manutenção da vida humana, já entre seus principais estressores encontram-se o número reduzido de fun-cionários da equipe; falta de respaldo institucional e profissional; carga de trabalho fatigante; necessidade de realização de tarefas em tempo reduzido; descon-tentamento com o trabalho; falta de comunicação e compreensão por parte da supervisão de serviço; as-sistência e relacionamento com pacientes e familia-res; ambiente físico da unidade e tecnologia de equi-pamentos5.

Partindo, então, do pressuposto que o ambien-te hospitalar é caracambien-terizado por um tipo de traba-lho com forte carga emocional, onde vida e morte se misturam para compor um cenário desgastante e, não raro, frustrante6, avaliar as características do

traba-lho e sua relação com a saúde dos trabalhadores, em uma unidade de emergência, torna-se relevante para se pensar em estratégias para a promoção da saúde.

Assim, este estudo tem como objetivo avaliar os transtornos mentais comuns (TMC) na equipe de enfermagem da emergência de um hospital geral de Feira de Santana-Bahia, avaliando os aspectos psicossociais do trabalho associados ao adoecimento observado.

R

EFERENCIAL

T

EÓRICO

O

s profissionais de

enfermagem estão sujeitos ao estresse organizacional similar a outros trabalhadores, entretanto, enfrentam uma exigência emocional adicional devido à natureza da profissão, pois suas atividades são marcadas por riscos de ordem biológica, física, química, ergonômica, mecânica, psicológica e social. Além do mais, o trabalho de enfermagem significa ter como agente de trabalho o homem, e, como sujeito de ação, o próprio homem.

Os hospitais, principalmente em unidades de emergência, constituem locais de aglutinação de pacientes acometidos por diferentes problemas de saúde, assistidos por diversos trabalhadores, convivendo com altas demandas emocionais onde dor e morte são freqüentes3.

Espera-se que o trabalho seja algo prazeroso, com os requisitos mínimos para a atuação e para a qualida-de qualida-de vida dos indivíduos, no entanto, algumas carac-terísticas podem estar relacionadas ao estresse: pro-blemas de comunicação com a equipe, assistência prestada imediata, interferência na vida pessoal, car-ga de trabalho, além dos conflitos internos entre a equipe e a falta de respaldo do profissional5.

As situações de demanda constante de traba-lho sem períodos de descanso levam à permanência de níveis elevados dos hormônios de adaptação, o que resulta em alteração das fases do sono, altera-ções no ritmo cardíaco, ansiedade, angústia e aumen-to da contratura muscular7.

Alguns autores destacam ainda que os própri-os profissionais referem condições inadequadas de trabalho, baixos salários, déficit tanto nos recursos materiais como humanos e desvalorização dos pro-fissionais de enfermagem2,8, o que exige o

desenvol-vimento de estratégias defensivas contra a ansieda-de gerada pelo próprio trabalho, na tentativa ansieda-de pro-teger-se da sobrecarga emocional e afetiva face ao contato com a dor e o sofrimento de tal profissão.

Esse cenário dá visibilidade aos problemas re-lacionados à saúde mental desses profissionais onde podemos destacar os TMC, adoecimento psíquico caracterizado por sintomas como ansiedade, deprsão, irritabilidade, dificuldade de concentração, es-quecimento e fadiga, os indicam atualmente um gra-ve problema de saúde pública9.

Os transtornos mentais se apresentam quando as exigências do meio e do trabalho ultrapassam a capacidade de adaptação do sujeito, tornando mais

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amplo os sentimentos de indignidade e inutilidade, alimentando a sensação de adoecimento intelectu-al, falta de imaginação e, conseqüentemente, afetan-do o comportamento produtivo10.

No Brasil, os transtornos mentais representam importante parcela dos gastos em saúde e podem cau-sar incapacidade grave e definitiva, inclusive a inca-pacidade de trabalhar11. Pacientes com transtornos

mentais apresentam também taxas de mortalidade mais elevadas e prejuízos importantes nas funções so-ciais e físicas, além de estarem relacionados a incapa-cidades e aposentadorias precoces12.

Assim, a avaliação dos percentuais referentes aos TMC nos trabalhadores de enfermagem torna-se importante para compreender sua ocorrência de acordo com suas diferentes características, bem como identificar os potenciais fatores de riscos a eles associados. O diagnóstico proveniente dessa avaliação pode ser capaz de fornecer informações relevantes para nortear as políticas de intervenção nas instituições hospitalares, diminuindo ou prevenindo tais agravos.

M

ETODOLOGIA

T

rata-se de estudo

epidemiológico de corte trans-versal, cujos dados foram coletados, em 2001, entre os profissionais da equipe de enfermagem do setor da emergência de um hospital geral do município de Fei-ra de Santana, Bahia. A equipe de enfermagem do hospital estudado era formada por profissionais que exerciam as funções de enfermeiro, técnico, auxiliar e atendente de enfermagem, que trabalhavam em tur-nos alternados, diurtur-nos, noturtur-nos e plantões, sendo distribuídos nos setores de pequena cirurgia, enferma-ria feminina, enfermaenferma-ria masculina e enfermaenferma-ria pediátrica.

Na etapa de sensibilização dos trabalhadores para participar deste estudo, a pesquisadora acompanhou alguns plantões no setor para realização de contatos prévios. Já na etapa de coleta dos dados, devido às características das escalas de trabalho existentes na unidade, os questionários foram distribuídos e então agendados dia e horário mais viáveis para a devolução dos mesmos.

A equipe de enfermagem que trabalhava na emergência do hospital totalizava 101 profissionais, no entanto, 4 (4,0%) se recusaram a responder e 17 (16,8%) não foram encontrados para agendamento da atividade, assim o estudo registrou taxa de res-posta de 80 (79,2%) trabalhadores.

Como instrumento para coleta de dados, utilizou-se um questionário com seis blocos de questões. O questionário contemplou, entre outros aspectos, condições sociodemográficas, características do trabalho, aspectos psicossociais do trabalho através do Job Content Questionnaire (JCQ) e a saúde mental através do Self-Reporting Questionnaire (SRQ-20).

Foi definida como variável dependente o TMC, avaliado através do SRQ-20. Esse questionário foi projetado, pela Organização Mundial de Saúde, a par-tir de quatro instrumentos de pesquisas psiquiátri-cas já existentes, sendo hoje um importante instru-mento para screening de transtornos mentais e um bom indicador de morbidade psíquica. É considera-do um métoconsidera-do de investigação rápiconsidera-do e de fácil ad-ministração e, embora não envolva detalhes diag-nósticos, possibilitam a mensuração do fenômeno em uma amostra ampla13.

O SRQ-20 é um instrumento auto-aplicável contendo escala de sim/não para cada resposta. O ponto de corte usado para suspeição de TMC foi sete ou mais respostas positivas. Esse ponto de corte já foi utilizado em outras pesquisas8,14-17.

Como variáveis de interesse, foram avaliadas características sociodemográficas (idade, sexo, situ-ação conjugal e grau de instrução); trabalho profis-sional (categoria profisprofis-sional, cargo de chefia, turno de trabalho, duplo emprego) e aspectos psicossociais do trabalho (Modelo Demanda-Controle).

O JCQ é um instrumento que objetiva estudar a influência da demanda e do controle na experiên-cia psicossoexperiên-cial no trabalho e o impacto sobre a saú-de do trabalhador18, ou seja, a presença da interação

entre a alta demanda de carga psicológica do traba-lho e o baixo poder de decisão do trabalhador sobre suas tarefas. Esse instrumento derivou do modelo denominado Demanda-Controle ou Job Strain Model que destaca duas dimensões centrais no estudo de aspectos psicossociais do trabalho: demanda psicoló-gica referente às exigências psicolópsicoló-gicas enfrentadas pelo trabalhador durante a realização das suas ativi-dades laborais, como o ritmo de trabalho e/ou a faci-lidade ou não em executá-lo; e o controle das ativi-dades laborais pelo trabalhador, que contempla as habilidades do funcionário (criatividade, possibilida-de possibilida-de aprendizagem) e a sua autonomia possibilida-de possibilida-decisão, incluindo o ritmo como estas são executadas8.

Para composição dos grupos do Modelo De-manda-Controle de Karasek, as variáveis demanda e controle foram dicotomizadas. A partir da combi-nação entre essas duas dimensões construiu-se os

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quatro grupos previstos no modelo: baixa exigência (baixo controle e baixa demanda), trabalho passivo (alto controle e baixa demanda), trabalho ativo (alto controle e alta demanda) e alta exigência (baixo con-trole e alta demanda). Os profissionais de enferma-gem submetidos a uma combinação de alta demanda e baixo controle (alta exigência) foram considerados como grupo exposto. Aqueles expostos a alta deman-da e alto controle (trabalho ativo) ou a alto controle e baixa demanda (trabalho passivo) foram considera-dos como grupo de exposição intermediária e aqueles com baixo controle e baixa demanda (baixa exigên-cia) foram considerados como não expostos ou grupo de referência.

Inicialmente, foi realizada a descrição da popu-lação estudada. Em seguida, foram calculadas as prevalências e razões de prevalência (RP) e seus res-pectivos intervalos de confiança (IC) de 95%. Para construção do banco e análise dos dados, foram utili-zados os programas SPSS versão 10.0 for Windows e Epi Info 6.0.

A pesquisa seguiu as normas e recomendações da Resolução nº196/96 do Conselho Nacional de Saúde, e todos os entrevistados participaram de forma voluntária e anônima, sendo previamente informados sobre os objetivos do estudo e de que poderiam desistir a qualquer momento.

R

ESULTADOSE

D

ISCUSSÃO

A

nalisando os dados

obtidos, observou-se re-levância na ocorrência dos transtornos mentais co-muns na equipe de enfermagem, no entanto, a aná-lise apresentada deve ser considerada com cautela, uma vez que os achados basearam-se em análises bivariadas, tendo em vista apenas a exposição e o efeito, pois não foram analisadas variáveis de confundimento ou interação com análise de regres-são logística múltipla, procedi-mentos necessários para conclusões mais acuradas em um estudo de associa-ção. Além do mais, o tamanho da população do estu-do (n=80) foi limitaestu-do para este tema, valenestu-do como estudo exploratório.

Caracterização dos Trabalhadores

A análise das variáveis sociodemográficas de-monstrou tratar-se de uma população predominante-mente feminina (86,3%) e com idade igual ou maior que 36 anos (56,3%). A maioria tinha apenas o ensi-no médio e quase a metade possuía companheiro(a). Segundo a renda, observou-se que a maior parte re-cebia mais de três salários mínimos (86,3%).

Parte significativa dos entrevistados era compos-ta por técnicos, auxiliares ou atendentes de enferma-gem (81,3%). O trabalho em turnos prolongados, de 12 a 24 horas de trabalho, foi referido por 78,5% dos profissionais. Apenas 8,8% ocupavam cargo de che-fia e exerciam outra atividade, caracterizando duplo emprego, e foi uma realidade para quase 1/4 dos en-trevistados (21,3%).

Transtornos Mentais Comuns

A prevalência global de Transtornos Mentais Comuns (TMC) alcançou 26,3% da população pesquisada.

Ao avaliar a associação entre presença de TMC e características sociodemográficas da população, observou-se prevalência do sexo feminino, com idade acima de 36 anos, estado civil solteira, nível superior de escolaridade e renda de até 3 salários mínimos. As diferenças observadas, contudo, não apresentaram significância estatística, conforme mostra a Tabela 1.

O trabalho de enfermagem é exercido majorita-riamente por mulheres e, historicamente, as ativida-des de cuidar, assistir, alimentar, prover elementos in-dispensáveis ao bom desenvolvimento do enfermo sempre estiveram delegadas às mulheres3,8,19. Além do

mais, a inserção feminina no mercado de trabalho tem-se intensificado nas últimas três décadas no contexto brasileiro, pois, segundo os censos, as taxas de partici-pação feminina aumentaram em todos os grupos etários até os 60 anos20.

O nível de escolaridade não revelou diferen-ças significantes, no entanto, a prevalência do TMC foi observada entre os que tinham nível superior, em consonância com os resultados encontrados na ca-tegoria profissional de enfermeiros, com risco duas vezes maior que o apresentado por técnicos e auxili-ares de enfermagem. Tal fato pode ser explicado por-que neste setor (emergência) os enfermeiros assu-mem papel fundamental e de grande responsabili-dade, já que ficam responsáveis por inúmeros paci-entes, com tomadas de decisões imediatas e decisi-vas, em que se trabalha com vida e morte no contex-to de infalibilidade; além do mais, esses profissionais também precisam administrar os recursos humanos, técnicos e auxiliares de enfermagem e garantir a dis-ponibilidade e a qualidade de recursos materiais e de infra-estrutura que permitam à equipe atuar no atendimento emergencial21.

Vale ressaltar que na associação de TMC com trabalho profissional apenas as diferenças observa-das segundo a categoria profissional foram

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estatisti-camente significantes: os enfermeiros apresentaram duas vezes mais transtornos mentais que os técni-cos, auxiliares e atendentes de enfermagem (RP: 2,67; 1,35-5,26).

O papel da enfermeira no ambiente hospitalar tem sido apontado como estressante e fatigante8, já

que as necessidades de decisões rápidas e acertadas são freqüentes e seu controle torna-se maior na ausência do médico. Essas responsabili-dades assumidas, apesar da autonomia proporcio-nada, conformam uma situação com vários pontos de tensão, conflitos e atritos, revelando, neste cenário, aspectos referentes às relações de poder que se apresentam nos processos de trabalho. Tais experiências são, com freqüência, negativas e podem ter conseqüências graves, e por vezes irreparáveis, para a saúde e o bem-estar físico, psicológico e social do profissional22.

Aqueles que trabalhavam em jornadas prolon-gadas, assim como aqueles que ocupavam cargo de chefia também foram mais afetados, de acordo com a Tabela 1.

No Brasil, é comum que o profissional de enfer-magem mantenha dois empregos, o que acumula lon-gas horas de trabalho, além disso, estudos também confirmam que longas jornadas de trabalho estão es-treitamente relacionadas a desordens musculoesquelé-ticas, hipertensão arterial, doenças do coração, estresse, tensão, irritabilidade, insônia, fatores relevantes para qualidade de vida desses trabalhadores7,23.

A sobrecarga de trabalho, rodízios de horários e sistema de plantão são fontes de pressão para os profissionais no exercício de suas atividades, e o pro-longamento da jornada de trabalho acaba intensifi-cando o desgaste físico e psicológico do trabalhador, resultando em fator desencadeante de estresse e so-frimento mental.

Aqueles que possuíam cargo de chefia apresen-taram maior prevalência de TMC; infere-se que as características da organização do trabalho hospita-lar com seus múltiplos níveis de autoridade, heterogeneidade de pessoal, condições de trabalho inadequadas e falta de controle sobre as decisões

es-*SM = Salário Mínimo (R$ 181,00)

**SN/MT/P – Serviço Noturno (12h)/Manhã e Tarde (12h) e Plantão (24h) *** Sem escala fixa, alternando períodos de 6h, 12h e 24h

TTTTTABELAABELAABELAABELA 1: ABELA 1: 1: 1: Prevalência percentual de transtornos mentais comuns (TMC) segundo características 1: sociodemográficas e trabalho profissional nos trabalhadores de enfermagem da emergência do hospital geral. Feira de Santana, BA, 2001.

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tejam diretamente relacionados ao aparecimento de conflitos, podendo acarretar adoecimento psíquico24.

Aspectos Psicossociais do Trabalho: modelo

demanda-controle

Os serviços de emergência recebem alta deman-da de pacientes, e a tendência deman-da equipe é trabalhar com rapidez e eficácia para minimizar as situações de risco de morte.

Assim, duas dimensões do trabalho foram ava-liadas: o controle e a demanda psicológica na ativi-dade desenvolvida. Pode-se perceber certa relevân-cia de alguns fatores, pois a demanda psicológica en-volvida no trabalho estava mais associada a eleva-das prevalências de transtornos mentais comuns que os aspectos relacionados ao controle.

Nesse sentido, observou-se que os profissionais que tinham pouca liberdade nas suas decisões apresen-taram maior prevalência de transtornos mentais (30,3%) do que aqueles que tinham mais autonomia (24,4%). Outro dado instigante foi observado quando questionados se seu trabalho requeria criatividade ou se o mesmo exigia um certo nível de habilidade; os que responderam que não requeria tais características apre-sentaram duas vezes mais transtorno mental do que os que referiram sim. Além do mais, aquela atividade que não dava oportunidade para desenvolver habilidades especiais (41,7%) também foi um fator de risco para a ocorrência de TMC, como mostra Tabela 2.

Com relação aos aspectos de demanda psico-lógica envolvida na atividade de trabalho, alguns

aspectos se mostraram relevantes para a ocorrên-cia de TMC, por exemplo, ter um ritmo acelerado de trabalho, assim como possuir um volume exces-sivo de trabalho levou a maiores prevalências de transtornos mentais, 42,9% e 31,4% respectivamen-te. Observou-se também que os profissionais que não estavam livres de demandas conflitantes apre-sentaram prevalência de TMC de 32,8% contra 10,5% para aqueles que se consideravam livres de conflitos.

Interrupções constantes na realização de suas tarefas também aumentaram a prevalência, chegan-do a 17,1% entre aqueles que não tinham suas tare-fas interrompidas e a 33,3% para aqueles que tinham suas tarefas interrompidas antes de sua conclusão, conforme Tabela 2.

Quando as demandas são experimentadas como um estímulo, mais do que uma carga, o equilí-brio entre os chamados hormônios do estresse muda: a produção de adrenalina é tipicamente alta, enquan-to a produção de cortisol é baixa. Nessas condições, portanto, o custo de realização da tarefa, para o cor-po, é inferior ao trabalho realizado sob condições demandantes e pouco estimulante25.

Essas evidências corroboram a hipótese de que o não-balanceamento entre demandas laborais e ní-vel de controle exercido no atendimento a essas de-mandas, e o tempo em que se experimenta essa situa-ção de desequilíbrio, eleva a produsitua-ção de hormônios do estresse que, por sua vez, podem desencadear pro-cessos de adoecimento físico e mental26.

*Sim = raramente + freqüente + muito freqüente / **Não = nunca

TTTTTABELAABELAABELAABELAABELA 2: 2: 2: 2: 2: Prevalência de transtornos mentais comuns (TMC) segundo características do controle sobre o trabalho e da demanda psicológica, nos trabalhadores de enfermagem da emergência do hospital geral. Feira de Santana, BA, 2001.

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As repercussões negativas à saúde, decorrentes do controle sobre o trabalho e da demanda psicológi-ca enfrentada, revelaram, segundo o Modelo Deman-da-Controle de Karasek, que o grupo exposto a alta demanda e baixo controle (alta exigência) apresen-tou prevalência de TMC em relação ao grupo de refe-rência com baixa demanda e baixo controle (baixa exigência), no entanto, a diferença observada não foi estatisticamente significante (RP: 1,17; IC:0,39-3,49). Observou-se que o trabalho ativo (alta demanda e alto controle) revelou a mais baixa incidência (10,5%) de transtornos mentais comuns. Ver Tabela 3.

cadear intensa angústia naqueles que trabalham dia-riamente com estes fatores. Portanto, fica patente a necessidade de maior produção de pesquisas sobre a saúde mental e o trabalho da equipe de enfermagem, as quais poderão contribuir para uma melhor compre-ensão da dinâmica do trabalho e recomendação de condutas que promovam a saúde desses profissionais, tornando mais humana e integradora a relação saú-de-trabalho.

C

ONCLUSÕES

H

á uma estreita

ligação entre o trabalho e o tra-balhador, que pode ser compreendida com a vivência direta e ininterrupta dos profissionais de enferma-gem com o processo de dor, morte, sofrimento, de-sespero, incompreensão, irritabi-lidade e tantos ou-tros sentimentos e reações desencadeadas pelo pro-cesso saúde e doença5, principalmente em

atendi-mento de emergência.

A prevalência do TCM entre os profissionais de enfermagem investigados foi maior no grupo de alta exigência – 33%. Os resultados confirmaram a associação positiva entre trabalho de alta exigên-cia e transtornos mentais comuns, de acordo com o modelo de Karasek, em que o trabalho em condi-ções de baixo controle e alta demanda é um fator prejudicial à saúde dos trabalhadores

Assim, sabendo-se que o pessoal de enferma-gem de uma unidade de emergência constitui uma categoria profissional submetida a um processo de trabalho desgastante com características de alta de-manda e intensos conflitos e relacionado à maior ocorrência de agravos à sua saúde física e mental, é preciso que essa categoria repense sua própria práti-ca e condições ocupacionais precárias e as organiza-ções implantem e implementem novas políticas de trabalho, no sentido de prevenir as doenças ocupacionais, e, conseqüentemente, melhorar a qua-lidade do serviço e assistência de enfermagem pres-tada nesse setor de tantas intercorrências.

R

EFERÊNCIAS

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TTTTTABELAABELAABELAABELAABELA 3: 3: 3: 3: 3: Prevalência de transtornos mentais comuns (TMC) segundo Modelo Demanda-Controle, nos trabalhadores de enfermagem da emergência de um hospital geral. Feira de Santana, BA, 2001.

O presente estudo confirmou a associação posi-tiva entre trabalho de alta exigência e trans-tornos mentais, concernente com o modelo de Karasek, em que o trabalho em condições de baixo controle e alta demanda é um fator nocivo à saúde dos trabalhado-res. O modelo também prediz que trabalho na condi-ção de baixa demanda psicológica e baixo grau de controle pode conduzir ao declínio na atividade glo-bal do indivíduo e à redução da capacidade de produ-zir soluções para as atividades e problemas enfrenta-dos. Neste artigo, profissionais submetidos a esse tipo de situação também apresentaram elevada prevalência de transtornos mentais.

Entretanto, a pesquisa demonstrou que profis-sionais submetidos a alto controle e alta demanda apresentaram a menor prevalência, apontando o efei-to positivo do trabalho ativo sobre a saúde das pes-soas, pois, nesta situação, o grau de controle pode indicar uma medida de autonomia, de liberdade para o uso de habilidades e qualificação26,

contrabalan-çando os efeitos negativos oriundos das altas deman-das psicológicas.

Por fim, a morte, as queixas, as dores, uma cons-tante no ambiente hospitalar, são capazes de

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Recebido em: 04.12.2006 Aprovado em: 20.08.2007

Referências

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