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1. Introdução - IBCCRIM Badaró direitointertemporalereformaCPP

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Bole t im I BCCRI M n º 1 8 8 - Ju lh o / 2 0 0 8

Pr oble m a s de dir e it o in t e r t e m por a l e a s a lt e r a çõe s do código de pr oce sso pe n a l

Gust avo Henrique Righi I vahy Badaró

1 . I n t r odu çã o

A reform a pont ual do Código de Processo Penal t eve cont inuação com a recent e edição da Lei n. 11.689, de 9 de j unho de 2008, que alt erou o procedim ent o dos crim es dolosos cont ra a vida, e da Lei n. 11.690, da m esm a dat a, que m odificou a disciplina da prova. Mais recent em ent e, foi aprovada a Lei n. 11.719, de 20 de j unho de 2008, que alt erou o procedim ent o com um , ordinário e sum ário. A t rês leis t erão um a vacat io legis de 60 dias, o que significa que as duas prim eiras ent rarão em vigor no dia 9 de agost o de 2008, e a t erceira, no dia 22 de agost o de 2008. Em breve, acredit a- se, serão ainda aprovados o Proj et o de Lei n. 4.208/ 01, que m odifica as m edidas caut elares, e o Proj et o de Lei n. 4.206/ 01, que dá nova sist em át ica aos recursos e ações aut ônom as de im pugnação.

O present e est udo t em por obj et o a quest ão da sucessão de leis processuais e os feit os pendent es, com a finalidade de, em poucas linhas, est abelecer parâm et ros gerais — ainda que não se t rat em de regras absolut as e inflexíveis — para orient ar o int érpret e nos problem as que surgirão com o início de vigência das novas leis processuais penais.

2 . A n a t u r e za da s n or m a s j u r ídica s e a s r e gr a s de D ir e it o in t e r t e m por a l

No Direit o Penal, o problem a da sucessão de leis no t em po é resolvido segundo a garant ia

const it ucional de que a lei penal não ret roagirá, salvo para beneficiar o réu ( CR, art . 5º , inc. LV) . Já no cam po processual penal, a norm a geral de Direit o int ert em poral é expressa pelo princípio t em pus regit act um, previst o no art . 2º do CPP: “A lei processual penal aplicar- se- á desde logo, sem prej uízo da validade dos at os realizados sob a vigência da lei ant erior.”

Rou bie r j á cham ava a at enção para a dist inção ent re o princípio geral do efeit o im ediat o, de um

lado, e a ret roat ividade, de out ro( 1) . Ret roat ividade é a im posição de um a lei a fat os pret érit os ou sit uações consum adas ant es do início de sua vigência. Já a aplicação im ediat a da lei é a sua

incidência sobre fat os e sit uações pendent es quando de sua ent rada em vigor( 2) .

Do pont o de vist a do at o processual, não há ret roat ividade, com o explica H é lio Tor n a gh i: “A norm a

de Direit o Judiciário penal t em a ver com os at os processuais, não com o at o delit ivo. Nenhum at o do processo poderá ser prat icado a não ser na form a da lei que lhe sej a ant erior, m as nada im pede que sej a post erior à infração penal. Não há, nesse caso, ret roat ividade da lei processual penal, m as aplicação im ediat a. Ret roat ividade haveria se a lei processual nova m odificasse ou invadisse at os processuais prat icados ant es de sua ent rada em vigor”( 3) .

Tal dist inção, cont udo, m erece ressalva, por represent ar um a visão parcial do problem a.

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aferição, um referencial cronológico. Se o referencial não for o m esm o para am bos os fenôm enos, a com paração não t erá sent ido lógico. A ret roat ividade da lei penal leva em cont a o t em pus delict i. Já a aplicação im ediat a da lei processual leva em cont a o m om ent o da prát ica do at o processual. Tal at o processual necessariam ent e será post erior ao delit o, pois int egra um processo que visa apurar j ust am ent e t al delit o prat icado no passado. Assim , não coincidindo os referenciais, falar que a aplicação im ediat a da lei processual não fere a vedação da irret roat ividade da lei penal pode ser um m ero art ifício de ret órica, para violar a garant ia decorrent e do princípio da irret roat ividade da lei penal m ais gravosa.

Se, de um lado, a lei processual nova pode ser aplicada aos fut uros at os do processo, m esm o que esse t enha por obj et o crim e com et ido ant es do início de vigência da nova lei e, de out ro, não é

possível aplicar a lei penal para crim es com et idos ant eriorm ent e a sua vigência, t orna- se fundam ent al definir a nat ureza j urídica dos diversos inst it ut os disciplinados pela lei nova, para ident ificar e aplicar a regra de sucessão de leis adequada a cada hipót ese.

Há norm as de carát er exclusivam ent e penal e norm as processuais puras. Todavia, a dout rina t am bém reconhece a exist ência das cham adas norm as m ist as ou norm as processuais m at eriais, em bora haj a cont rovérsia quant o a m aior ou m enor am plit ude de t ais conceit os. Um a corrent e rest rit iva ent ende que são norm as processuais m ist as ou de cont eúdo m at erial, aquelas que, em bora disciplinadas em diplom as processuais penais, disponham sobre o cont eúdo da pret ensão punit iva, com o aquelas relat ivas ao direit o de queixa ou de represent ação, à prescrição e à decadência, ao perdão, à perem pção, ent re out ras( 4) .

Já a corrent e am pliat iva considera com o norm a processual de cont eúdo m at erial aquelas que

est abeleçam condições de procedibilidade, const it uição e com pet ência dos t ribunais, m eios de prova e eficácia probat ória, graus de recurso, liberdade condicional, prisão prevent iva, fiança, m odalidade de execução da pena e t odas as dem ais norm as que t enham por cont eúdo m at éria que sej a direit o ou garant ia const it ucional do cidadão( 5) .

Preferível a corrent e ext ensiva. Todas as norm as que disciplinem e regulem , am pliando ou lim it ando, direit os e garant ias pessoais const it ucionalm ent e assegurados, m esm o sob a form a de leis

processuais, não perdem o seu cont eúdo m at erial, com o por exem plo, as que est abelecem as

hipót eses de cabim ent o ou o t em po de duração das prisões caut elares, a possibilidade de concessão de liberdade provisória, ent re out ras. Para t ais inst it ut os, a regra de Direit o int ert em poral deverá ser a m esm a aplicada a t odas as norm as penais, qual sej a, a da ant erioridade da lei, vedada a

ret roat ividade da lex gravior( 6) .

3 . N or m a s pr oce ssu a is pe n a is e o D ir e it o in t e r t e m por a l

A lei nova de carát er puram ent e processual não se aplica aos processos j á encerrados, devendo respeit ar os fact a praet erit a, em relação aos quais há verdadeiro direit o adquirido processual( 7) . Por out ro lado, a lei processual nova aplicar- se- á aos processos que se iniciarem após sua ent rada em vigor. A dificuldade se coloca quant o àqueles processos que est ão em curso quando do início de vigência da lei processual nova: cont inuarão eles a serem regidos pela lei velha, que vigorava no seu início, ou passarão a t er o seu curso regido pela lei nova? Para resolver o problem a, pode se cogit ar de t rês sist em as: ( 1) o da unidade processual, ( 2) o das fases processuais, ( 3) o do isolam ent o dos at os processuais( 8) .

Pelo sist em a da unidade processual, um a única lei deve reger t odo o processo. No caso, a lei velha cont inuará ult ra- at iva. A solução opost a, de regência pela lei nova, im plicaria a sua ret roação, com a ineficácia dos at os processuais ant eriorm ent e prat icados, o que violaria os direit os processuais

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processuais, deve ser considerada, separadam ent e, cada um a das fases processuais aut ônom as, quais sej am , a post ulat ória, a ordinat ória, a inst rut ória, a decisória e a recursal, que poderão ser regidas, de per si, por um a lei diferent e. Conseqüent em ent e, lei ant erior será ult ra- at iva at é o final da fase que est ava em curso, quando ent rou em vigor a lei nova, que só passará a ser aplicada a part ir da fase seguint e. Finalm ent e, no sist em a do isolam ent o dos at os processuais, adm it e- se que cada at o deve ser regido por um a lei, o que perm it e que a lei velha regule os at os j á prat icados, ocorridos sob sua vigência, enquant o que a lei nova t erá aplicação im ediat a, passando a disciplinar os at os fut uros, sem as lim it ações relat ivas às fases do processo.

Pensando no direit o post o, poder- se- ia im aginar que a solução seria sim ples, bast ando aplicar o art . 2º do CPP que, sendo um a norm a de superdireit o, est abelece: “A lei processual penal aplicar- se- á desde logo, sem prej uízo da validade dos at os realizados sob a vigência da lei ant erior.” Trat a- se do sist em a do isolam ent o dos at os processuais, que poderá solucionar vários problem as de Direit o int ert em poral.

As novas regras probat órias da Lei n. 11.690/ 08 t erão aplicação im ediat a, com o por exem plo: a regra que reduz de dois para apenas um o núm ero de perit os oficiais ( CPP, art . 159, caput) , a que prevê o novo sist em a de pergunt as para as t est em unhas ( CPP, art . 212) , ou a que adm it e o assist ent e

t écnico nas perícias ( CPP, art . 159, § 3º ) . Tam bém será im ediat am ent e aplicável a nova hipót ese de absolvição previst a inc. V do art . 386 do CPP.

Da m esm a form a, m uit as m udanças da Lei n. 11.689/ 08, sobre o t ribunal do j úri, serão

im ediat am ent e aplicáveis, com o por exem plo, as que alt eram a sessão de j ulgam ent o, am pliando o núm ero de j urados para 25 ( CPP, art . 447) , possibilit ando o j ulgam ent o sem a presença do acusado ( CPP, 457, caput) , dando nova disciplina da inst rução em plenário, com a realização do int errogat ório após a oit iva das t est em unhas ( CPP, art . 473 e 474) , sim plificando dos quesit os ( CPP, art . 483) , ent re out ras. Tam bém poderão ser im ediat am ent e aplicáveis as novas hipót eses de absolvição sum ária ( CPP, art . 415, incs. I , I I e I I I ) .

Há casos, cont udo, que a previsão legal de aplicação im ediat a da lei nova ( CPP, art . 2º ) não poderá ser aplicada. Não se pode perder de vist a que o procedim ent o envolve um a seqüência de at os isolados, m as t eleologicam ent e unidos ent re si, de form a que um at o sej a causa do subseqüent e, e assim sucessivam ent e, at é o at o final. Logo, nem sem pre será possível o isolam ent o absolut o dos at os processuais, o que poderia gerar, segundo a advert ência de Ca r n e lu t t i, “o in- convenient e de

um a desconexão ou de um a desorient ação do processo quando, durant e o seu curso, int ervenha um a lei m odificadora, especialm ent e quando at os est abelecidos pela lei post erior não encont rem

convenient e preparação nos at os precedent es efet uados sob o regim e da lei ant erior”( 9) . Por t al m ot ivo, há casos em que o j uiz deverá adot ar o crit ério do isolam ent o das fases processuais( 10) .

Assim , não será possível adot ar o novo procedim ent o do iudicium accusat ionis, inst it uído pela lei nova, para os processos em que j á t enham sido realizadas a audiência de int errogat ório e a audiência de oit iva de t est em unhas de acusação, segundo o regim e at ual do CPP. Nest e caso, com o a inst rução com eçou segundo as regras at uais, que prevêem um a fase decisória escrit a, haverá grande confusão caso se pret enda aplicar im ediat am ent e, apenas em part e, a nova disciplina de audiência concent rada de inst rução e debat es. Com relação ao iudicium causae, bast a pensar na hipót ese de longas sessões de j ulgam ent os, que duram dois ou t rês dias, em que ficará claro que, se a lei nova ent rar em vigor “durant e” a sessão do plenário do j úri, m esm o assim t odo j ulgam ent o deverá seguir o procedim ent o da lei ant iga. A sessão de j ulgam ent o é um at o processual com plexo, que não poderá ser regido por duas leis dist int as.

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4.207/ 01 criava um a fase int erm ediária de j uízo de adm issibilidade da acusação e concent rando os at os de inst rução, debat es e j ulgam ent o em um a única audiência. Todavia, por força de em endas na Câm ara dos Deput ados, t al m udança acabou não sendo incorporada à Lei 11.719/ 08, que cont inua prevendo o recebim ent o im ediat o da denúncia ou queixa, ant es da apresent ação da defesa. Se

som ent e t iver ocorrido o oferecim ent o da denúncia ou queixa, quando o início de vigência da lei nova, o j uiz poderá aplicar im ediat am ent e a nova redação do art . 396, caput, do CPP, e det erm inar a

cit ação do acusado para oferecer respost a no prazo de 10 dias, ao invés de cit á- lo, para o int errogat ório, com o na sist em át ica at ual. Porém , j á t iver havido o recebim ent o da denúncia, a cit ação e o int errogat ório, de acordo com a lei at ual, não será possível “m ist urar” as duas fases

post ulat órias. Deverá ent ão, ser apresent ada, no prazo de 3 dias, a im propriam ent e cham ada “defesa prévia”, segundo a sist em át ica at ual do art . 395 do CPP, que t erá eficácia ult ra- at iva. Será

necessário, port ant o, adot ar o sist em a das fases processuais, com a aplicação da lei nova som ent e a part ir da fase inst rut ória. Mesm o assim , haverá algum a necessidade de adapt ação, t endo em vist a, que, segundo o regim e at ual, o int errogat ório int egra a fase post ulat ória, e precede o início da inst rução, enquant o que no regim e proj et ado o int errogat ório será realizada na audiência una de inst rução, debat es e j ulgam ent o, depois de serem ouvidas as t est em unhas.

4 . Re cu r sos

Quant o aos recursos, os principais problem as de Direit o int ert em poral são: ( 1) a criação de um recurso novo ou a supressão de um recurso ant eriorm ent e exist ent e: ( 2) ou a alt eração do prazo de int erposição ou do procedim ent o de um recurso j á previst o em lei.

Obviam ent e, as decisões proferidas quando j á em vigor a lei nova, t erão seu sist em a recursal

int egralm ent e regidos pelas novas regras. A dificuldade surge quando a decisão é proferida e, ant es da int erposição do recurso, ou durant e o seu processam ent o, sobrevier um a nova lei.

A regra geral de Direit o int ert em poral para os recursos é: a lei que irá reger o recurso é a lei do m om ent o em que foi proferida a decisão recorrível( 11) . I st o é, o regim e vigent e no m om ent o em que o at o processual t ornou- se im pugnável, irá reger a m at éria, definindo o recuso cabível( 12) .

No caso das sent enças escrit as, elas som ent e se consideram proferidas quando publicadas em cart ório ( CPP, art . 389) , pois é nesse m om ent o em que passa a valer com o at o j urisdicional. Ant es disso, a sent ença é m ero at o part icular do j uiz, um est udo ou parecer privado, sem força vinculant e. Ressalt e- se que a “publicação em cart ório” não há que ser confundida com a int im ação da sent ença pela “publicação na im prensa” ( CPP, art . 372, § 1º ) . A publicação na im prensa oficial represent a apenas o t erm o inicial para o exercício de um direit o — o de recorrer — que preexist ent e, nascido no dia em que se proferiu o j ulgado( 13) .

Trat ando- se de decisões int erlocut órias proferidas por escrit o, não há exigência de publicação em cart ório, com o ocorre em relação às sent enças. Nest e caso, haveria insegurança j urídica se se considerasse que a decisão foi “proferida” no m om ent o que é lança pelo j uiz, segundo a dat a

const ant e dos aut os. Seria im possível qualquer form a de cont role quant o a t al m om ent o. Assim , deve se considerar, para fins de Direit o int ert em poral, que a decisão int erlocut ória escrit a é “proferida” no m om ent o em que as part es são int im adas de t al decisão. Se as int im ações ocorrerem em m om ent os dist int os, por ex., o Minist ério Público int im ado pessoalm ent e num dia, e a defesa, int im ada pela im prensa, t rês ou quat ro dias depois, considerar- se- á a decisão “publicada” quando ocorrer a prim eira int im ação, pois nesse m om ent o ela se t ornou “pública”, ainda que apenas para um a das part es. A lei em vigor nesse dia, será a “lei do recurso” cont ra t al decisão.

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conseqüent em ent e, a norm a aplicável. O at o processual t orna- se público no m om ent o em que proferido na presença das part es, sendo inclusive desnecessária a int im ação. A m esm a regra se aplica no caso de decisões colegiadas, t om adas em sessão de j ulgam ent o pelos t ribunais, em que se considera proferido o acórdão no m om ent o em que o president e, de público, anuncia o result ado do j ulgam ent o( 14) . I st o é, a lei vigent e no dia da sessão de j ulgam ent o irá reger o recurso a ser

int erpost o.

Definido o m arco cronológico — o m o- m ent o em que a decisão é proferida — será a lei vigent e em t al m om ent o que irá reger o cabim ent o do recurso e os dem ais pressupost os de adm issibilidade recursal, m esm o que a lei nova passe a viger ant es da efet iva int erposição do recurso. Assim , se a lei vigent e quando a decisão foi proferida previa recurso cont ra t al at o, essa lei será ult ra- at iva e o recurso será cabível, ainda que a nova lei que o ext inguiu inicie sua vigência ant es m esm o da int erposição do recurso. No m om ent o em que a decisão foi proferida, a part e prej udicada passou a t er o direit o adquirido processual de im pugnar t al at o, segundo a lei da época.

Assim , por exem plo, aprovada a supressão do prot est o por novo j úri, t al regra som ent e valerá para as condenações proferidas após o início de vigência da lei. Por out ro lado, se a lei nova criar um det erm inado recurso, não exist ent e quando a decisão foi proferida, t al at o será irrecorrível. É o que ocorrerá com event ual criação do agravo ret ido ou com o agravo de inst rum ent o cont ra a decisão que, por exem plo, considerar lícit a ou ilícit a a prova, segundo a redação proj et ada para o novo inc. VI do art igo 582 do CPP.

O processam ent o do recurso t am bém deverá seguir a lei vigent e no m om ent o em que a decisão foi proferida, que igualm ent e disciplinará o t râm it e recursal, os efeit os do recurso( 15) , bem com o o seu j ulgam ent o pelo t ribunal. Ou sej a, os recursos int erponíveis segundo a lei ant erior, bem com aqueles efet ivam ent e int erpost os sob sua vigência, e ainda não j ulgados, deverão cont inuar a ser regidos pelas regras da lei ant iga, m esm o que sej am abolidos ou m odificados pela lei nova.

Há, cont udo, respeit ável corrent e em cont rário, considerando que a lei nova irá det erm inar o

processam ent o do recurso( 16) , post o que não se t rat a de quest ão ligada ao seu cabim ent o, para os quais vige a lei do t em po da publicação da sent ença, m as sobre a form a de int erposição, que segue a lei vigent e ao t em po do at o, vez que, segundo D in a m a r co, “inexist e direit o adquirido a realizá- lo, no

fut uro, pelas form as revogadas”( 17).

Com relação ao prazo recursal, o problem a surgirá quando a lei nova am pliar ou reduzir os prazos dos recursos ant eriorm ent e exist ent es, desde que t ais prazos ainda não t enham principiado ou est ej am em curso. Por out ro lado, é cert o que os prazos j á vencidos sob a lei ant iga não poderão ser dilat ados ou reabert os, m esm o que t enham sido am pliados pela lei nova. Já t erá havido a preclusão t em poral, sob a regência da lei ant iga e, nest e caso, a reabert ura do prazo afet aria o direit o adquirido da part e cont rária( 18) .

Os prazos recursais iniciados segundo a lei ant iga por ela deverão cont inuar a fluir, at é o respect ivo t érm ino( 19) . A lei nova não t erá qualquer influência, nem para alongá- los, nem para abreviá- los. As part es t êm o direit o “ao prazo preclusivo da lei ant iga”, bem com o o int eresse público im põe que os prazos recursais t enham “carát er absolut am ent e perem pt ório”( 20) .

Ao m ais, a am pliação dos prazos recursais m uit as vezes é um a form a de com pensar um a m udança procedim ent al, principalm ent e na form a de int erposição do recurso, que se t orna m ais com plexa ou exige m aior at ividade da part e. Foi o que ocorreu com a am pliação do prazo do agravo, no Código de Processo Civil, que passou de 5 para 10 dias, em razão da part e t er que j á inst ruir o recurso, quando de sua int erposição, com as peças necessárias, bem com o t er que prot ocolá- lo diret am ent e no

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dias, bem com o novo agravo, a ser int erpost o em 10 dias, que subst it uirá o recurso em sent ido est rit o, cuj o prazo é de 15 dias. At ualm ent e, a int erposição desses recursos não vem acom panhada de razões recursais, que deverão ser apresent ada post eriorm ent e, em prazo próprio. Já na nova sist em át ica recursal, os prazos serão m aiores, m as os recursos j á deverão ser int erpost os

acom panhados de razões recursais. Nest es casos, é fácil perceber que se a form a de int erposição cont inuasse a ser a da lei ant iga, m ais sim ples, m as o prazo recursal fosse o da lei nova, m ais dilat ado, o lapso t em poral acrescido não t eria j ust ificat iva e t ornaria m as lent a a t ram it ação do recurso.

5 . Pr isã o ca u t e la r e libe r da de pr ovisór ia

Há cont rovérsia dout rinária sobre a regra de Direit o int ert em poral que deve ser aplicada no caso de prisão caut elar e liberdade provisória.

Um a corrent e, part indo da prem issa de que os inst it ut os de direit o m at erial são apenas aqueles que det erm inam , am pliam ou dim inuem o j us puniendi ou o j us pu- ni- t ionis, considera que as m edidas caut elares envolvendo prisão e liberdade, por não int erferirem na relação j urídico- punit iva ( relação m at erial) , são inst it ut os de nat ureza processual penal, suj eit os ao princípio t em pus regit act um( 21) . Conseqüent em ent e, a criação de um a nova hipót ese de prisão ou a vedação de liberdade provisória, poderiam ser aplicadas em processo que t enham por obj et o crim es com et idos ant es do início de vigência da lei nova, m esm o que est a se m ost re m ais gravosa.

Tem prevalecido, cont udo, o ent endim ent o de que as norm as sobre m edidas caut elares privat ivas ou rest rit ivas da liberdade, por envolverem o st at us libert at is do indivíduo, afet ando direit os e garant ias que lhe são const it ucionalm ent e assegurados, t êm cont eúdo m ist o e, port ant o, seguem a regra de Direit o int ert em poral do art . 5º , inc. LV, da Const it uição( 22) .

De se lem brar, ainda, que o art . 2º do Decret o- lei nº 3.931, de 11 de dezem bro de 1941 — Lei de I nt rodução ao Código de Processo Penal —, prevendo regra de Direit o int ert em poral ou t ransit ório, quando do início da vigência do CPP, det erm inava que: “À prisão prevent iva e à fiança aplicar- se- ão os disposit ivos que forem m ais favoráveis.”( 23) E, com o esclarece H é lio Tor n a gh i, “a Lei de

I nt rodução ao Código de Processo Penal cont ém norm as que, em bora relat ivas ao m om ent o da ent rada em vigor do Código de Processos Penal, perm it em a inferência de alguns princípios gerais”( 24).

Nesse pont o, o Proj et o de Lei n. 4.208/ 01 não prevê nenhum a sit uação m ais gravosa ao acusado, no que t oca às m edidas caut elares pessoais. Ao cont rário, cria um a série de m edidas alt ernat ivas à prisão prevent iva, que t erão aplicação im ediat a. Por out ro lado, se for aprovado algum a regra nova m ais benéfica, por exem plo, ext inguindo a prisão prevent iva para garant ia da ordem pública, t al norm a poderá ser aplicada ret roat ivam ent e, levando ao reconhecim ent o da ilegalidade da prisão ant eriorm ent e decret ada.

6 . Con clu sõe s

Sem a pret ensão de est abelecer regras absolut as, o que seria im possível em t em a de Direit o int ert em poral, podem ser sum ariadas as seguint es conclusões:

1 – A regra geral de Direit o int ert em poral no processo penal é, nos t erm os do art . 2º do CPP, a aplicação im ediat a da lei nova: t em pus regit act um.

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diz respeit o a garant ias const it ucionais do acusado, em especial envolvendo seu st at us libert at is, disciplinando prisões caut elares e liberdade provisória, devem seguir m esm a regra int ert em poral direit o m at erial: a lei nova não ret roagirá, salvo para beneficiar o acusado ( CR, art . 5º , inc. LV) .

3 – No caso de regras que alt eram o procedim ent o, nem sem pre será possível a aplicação do princípio geral t em pus regit act um, devendo ser aplicado o sist em a das fases processuais, quando a aplicação im ediat a puder com prom et er a at uação int egrada dos diversos at os que com põem um procedim ent o unit ário.

4 – Quant o aos recursos, a regra de Direit o int ert em poral é que a lei vigent e no m om ent o em que a decisão recorrível foi proferida deverá cont inuar a disciplinar o cabim ent o, os pressupost os de

adm issibilidade recursal, o procedim ent o e os efeit os do recurso, m esm o depois do início de vigência da lei nova.

Not as

( 1) Pa u l Rou bie r, Le Conflit de Lois dans le Tem ps. Paris: Librairie du Recueil Sirey, 1933. v. I I , p.

676, n. 139.

( 2) Câ n dido Ra n ge l D in a m a r co. A Reform a do Código de Processo Civil. 3ª ed., São Paulo;

Malheiros, 1996, p. 39.

( 3) I nst it uições de Processo Penal. 2ª ed., São Paulo: Saraiva, 1979. v. 1, p. 174; Cf., ainda: Edga r d M a ga lh ã e s N or on h a. Curso de Direit o Processual Penal. 10ª ed., São Paulo: Saraiva, 1978, p. 12.

No m esm o sent ido, no processo civil: José Ca r los Ba r bosa M or e ir a. “Problem as da Ação Popular”.

I n Direit o Processual Civil (Ensaios e Pareceres) . Rio de Janeiro, Borsoi, 1971, p. 216; W e llin gt on M or e ir a Pim e n t e l. A Aplicação do Novo Código de Processo Civil às Causas Pendent es. 2ª ed., Rio

de Janeiro: CEJUR, 1974, p. 11.

( 4) Nesse sent ido: Fe r n a n do da Cost a Tou r in h o Filh o. Processo Penal. 12ª ed., São Paulo:

Saraiva, 1990. v. 1, p. 104.

( 5) Am é r ico Ta ipa de Ca r va lh o. Sucessão de Leis Penais. Coim bra, Edit ora Coim bra, 1990, p. 223.

( 6) Nesse sent ido, cf.: Giova n n i Le on e. Manuale di Dirit t o Processuale Penale, 13ª ed., Napoli:

Jovene, 1988, p. 23. Na dout rina nacional, para Rogé r io La u r ia Tu cci (Direit o I nt ert em poral e a

Nova Codificação Processual Penal: Subsídios para Sist em at ização e Aplicação do Direit o Transit ório no Processo Penal Brasileiro. São Paulo: Bushat sky, 1973, pp. 22 e 119) as norm as processuais penais m ist as são aquelas que t rat am da queixa, da decadência, da renúncia, do perdão e da perem pção, bem com o as regras sobre prisão caut elar. No m esm o sent ido: Gu ilh e r m e de Sou za N u cci. Código de Processo Penal Com ent ado. 3ª ed., São Paulo: RT, 2004, pp. 62- 63.

( 7) Ga le n o La ce r da. O Novo Direit o Processual Civil e os Feit os Pendent es. Rio de Janeiro: Forense,

1974, p. 13.

( 8) Nesse sent ido: An t on io Ca r los de Ar a ú j o Cin t r a, Ada Pe lle gr in i Gr in ove r, Câ n dido Ra n ge l D in a m a r co. Teoria Geral do Processo. 18ª ed., São Paulo: Malheiros, 2002, p. 98.

(8)

( 10) Pim e n t e l, A Aplicação..., p. 24.

( 11) Nesse sent ido, cf.: Am ílca r de Ca st r o. Com ent ários ao Código de Processo Civil. Rio de

Janeiro: Forense, 1941. v. X, p. 528; J.M . de Ca r va lh o Sa n t os. Código de Processo Civil

I nt erpret ado. Rio de Janeiro: Freit as Bast os, 1947. v. X, p. 421; Ga le n o La ce r da. O Novo Direit o...,

p. 68. Com relação ao processo penal, cf.: Tu cci, Direit o I nt ert em poral..., p. 38.

( 12) Pim e n t e l, A Aplicação..., p. 22.

( 13) Ga le n o La ce r da, O Novo Direit o..., p. 71.

( 14) Ga le n o La ce r da, O Novo Direit o..., p. 68.

( 15) Tu cci, Direit o I nt ert em poral..., pp. 37- 38.

( 16) Pim e n t e l, A Aplicação..., p. 22.

( 17) D in a m a r co, A Reform a..., p. 172.

( 18) D in a m a r co, A Reform a..., p. 172.

( 19) Cf.: Ga le n o La ce r da, O Novo Direit o..., p. 69; Pim e n t e l, A Aplicação..., p. 22.

( 20) Ga le n o La ce r da, O Novo Direit o..., p. 69.

( 21) Nesse sent ido: José Fr e de r ico M a r qu e s. Elem ent os de Direit o Processual Penal. Rio de

Janeiro: Forense, 1965. v. 1, pp. 52- 53; Ju lio Fa bbr in i M ir a be t e. Processo Penal. 16ª ed., São

Paulo: At las, 2004, p. 61; D a m á sio E. de Je su s. “Prisão e liberdade provisória: nat ureza j urídica”, in

Tribuna do Direit o, n. 20, dez. 1994, p. 6. Na j urisprudência, com relação à liberdade provisória: TJSP, MS n. 95.127- 3, 1ª Câm . Cim ., rel. des. Ja r ba s M a zzon i, j . 20.08.1990, v.u., RT 661/ 281;

TJSP, HC n. 98.901.3/ 5, rel. des. Ce lso Lim on gi, j . 10.10.1990, v.u. Em sent ido cont rário, pela

aplicação da lei m ais benéfica ao acusado: STJ, HC n. 2.898- 0/ PE, 6ª Turm a, rel. m in. Adh e m a r M a cie l, j . 17.08.1993, v.u., DJ 11.01.1993.

( 22) Tu cci (Direit o I nt ert em poral..., p. 36) afirm a que “as m edidas rest rit ivas de liberdade hum ana

devem sem pre ser t rat adas com benignidade”. Com algum a variação de argum ent os, m as no sent ido de que as norm as que rest rinj am direit os const it ucionais do acusado, seguirão a regra de que a lei nova não ret roagirá, salvo quando m ais benéfica ao acusado, cf.: Jor ge Figu e ir e do D ia s. Direit o

Processual Penal, t ext os coligidos por M a r ia Joã o An t u n e s, Coim bra: Secção de t ext os da Faculdade

de Direit o da Universidade de Coim bra, 1988- 9, pp. 76- 7, n. 118. Na dout rina nacional: Odon e

Sa n gu in é. “Prisão provisória e princípios const it ucionais”, in Fascículos de Ciências Penais, n. 5, abr./

j un. 1992, pp. 102- 103; Lu iz Flá vio Gom e s. “A irret roat ividade da lei nº 8.930/ 94”, in Bole t im d o

I n st it u t o Br a sile ir o d e Ciê n cia s Cr im in a is, n. 22, out . 1994, p. 7.

(9)

( 24) Curso de Processo Penal. 4ª ed., São Paulo: Saraiva, 1987. v. 1, p. 24. No m esm o sent ido:

Ju lio M ir a be t e, Processo Penal, p. 62.

Gu st a vo H e n r iqu e Righ i I va h y Ba da r ó

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