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Rev Latino- am Enferm agem 2007 setem bro- outubro; 15( 5)www.eerp.usp.br/ rlae Art igo Original
1 Trabalho ext raído de dissert ação de m est rado. Apoio financeiro da Fapesp; 2 Terapeut a ocupacional, Mest randa; 3 Enferm eira, Livre- docent e em Enferm agem em Saúde Colet iva, Professor Titular. Escola de Enferm agem , da Universidade de São Paulo, Brasil
PROJETO POLÍ TI CO DE ATENÇÃO AO ADOLESCENTE NO MUNI CÍ PI O DE SÃO CARLOS
1Lar a de Paula Eduar do2
Em ik o Yosh ik aw a Egr y3
O Est at ut o da Criança e do Adolescent e ( ECA) , criado em 1990, am pliou a at uação do Est ado brasileiro
n a im p lem en t ação d as p olít icas p ú b licas aos ad olescen t es. Há m u it as in st it u ições q u e v isam at en d er aos
adolescent es, ent r et ant o, o siner gism o delas é pouco conhecido. O obj et ivo dest e est udo foi o de saber com o
elas at uam e est ão organizadas no âm bit o m unicipal. A m et odologia é descrit iva e a população foi represent ada
pelas inst it uições que at endem os adolescent es na cidade de São Car los, SP. Os dados for am colhidos por
m eio de docu m en t os e de en t r ev ist as j u n t o aos dir igen t es in st it u cion ais. Vin t e in st it u ições par t icipar am da
pesquisa. O result ado m ost rou que elas são bast ant e dist int as ent re si: enquant o a m aioria delas est á cent rada
em at i v i d ad es d e co m p l em en t ação esco l ar e en si n o p r o f i ssi o n al i zan t e, o u t r as at en d em ex cl u si v am en t e
adolescen t es au t or es de at os in f r acion ais. Em bor a pr esen t e n u m er icam en t e, as in st it u ições de at en ção ao
adolescent e não se encont r am ainda or quest r adas em pr ol da consecução do ECA.
DESCRI TORES: adolescent e; polít icas públicas; saúde pública
POLI TI CAL PROJECT OF ADOLESCENT CARE I N SÃO CARLOS, BRAZI L
The Brazilian Child and Adolescent St at ut e was est ablished in 1990. Since t hen m any inst it ut ions have
been creat ed t o at t end adolescent s. This st udy aim ed t o underst and how t hese inst it ut ions have been organized
in São Car los, Nor t heast of São Paulo, Br azil. This is a descr ipt iv e st udy , w hose dat a w er e collect ed t hr ough
int er v iew s w it h t he dir ect or s of 20 inst it ut ions. They r epor t ed differ ences in t er m s of obj ect iv es, t ar get public
age, religious orient at ion, et c. While m ost inst it ut ions have focused on leisure act ivit ies and professional educat ion,
som e of t hem at t end only adolescent s w ho have com m it t ed som e kind of illegal act . Alt hough t here are m any
different w ays t o assist adolescent s, it seem s t hat t heir act ions are not int egrat ed t ow ards t he im plem ent at ion
of t he Child and Adolescent St at ut e.
DESCRI PTORS: adolescent ; public policies; public healt h
POLÍ TI CAS PÚBLI CAS PARA LOS ADOLESCENTES EN LA CI UDAD DE SAO CARLOS
El Est at ut o del Niño y del Adolescent e ( ECA) fue est ablecido en Brasil en 1990 y am plió la act uación del
est ado en la im plem ent ación de las polít icas a los adolescent es. En las ciudades, hay m uchas inst it uciones que
asist en a est os gr upos poblacionales, per o su act uación sinér gica t odav ía no es conocida. El obj et iv o de est a
invest igación fue conocer com o ellas act úan e est án organizadas en el nivel m unicipal. El escenario de est udio
fue el Municipio de Sao Car los, localizada en el nor oest e del Est ado de Sao Paulo. Fuer on ent r ev ist ados 2 0
dir igent es inst it ucionales. El r esult ado m ost r ó que hay m uchas difer encias en la act uación: la m ayor ía de ellas
ofr ece act iv idades de depor t es y r ecr eación; per o ot r a par t e se ocupa de los adolescent es aut or es de act os
infr acción ales. Au nqu e el m unicipio cu en t a con nu m er osas in st it ucion es, t odav ía no est á or ganizada par a el
t ot al cum plim ient o del ECA.
I NTRODUÇÃO
O
Est at ut o da Cr iança e do Adolescent e( 1)( ECA) f ez em er gir u m n ov o par adigm a, pois esse grupo social passa a ser com preendido com o suj eitos em condição peculiar de desenvolvim ento e, portanto, devem receber at enção priorit ária e acesso garant ido aos ser v iços e con d ições d e saú d e, alim en t ação, educação, lazer, cult ura, esport es, profissionalização, dignidade, respeit o e convívio social ( Art .4º . Tít ulo I - Das Disposições Prelim inares) .
A sociedade con t em por ân ea t em cada v ez m ais se preocupado com os adolescent es. Na m ídia, os principais alvos de discussão são adolescentes que com et em at os infracionais por est arem se t ornando am eaça em t er m os d e v iolên cia, ag r essiv id ad e e delinqüência. Conseqüência disso, punições e m edidas socioeducat iv as, cit adas no ECA, e pr oj et os de lei com o a r edução da idade penal par a 16 ou at é 14 anos, t am bém t êm gerado discussões.
O Est a t u t o t r o u x e n o t ít u l o a m u d a n ça p r in cip al: a ex p r essão p ar a d esig n ar esse g r u p o p a ssa d e “ m e n o r ” ( e x p r e ssã o q u e se t o r n o u p ej or at iv a) , p ar a “ cr ian ça e ad ol escen t e”, o q u e parece revelar um a orientação diferente de que esses i n d i v íd u o s são d o t ad o s n ão só d e d ev er es, m as principalm ent e de direit os.
Até o século XVI I I , não havia o que se cham a hoj e de adolescência, pois essa fase era confundida com a infância. A noção de j uventude estava ligada à força da idade. Entre os séculos XI V e XVI I I as idades d e v i d a n ã o co r r e sp o n d i a m a p e n a s à s e t a p a s biológicas e sim às funções sociais( 2).
Enquanto alguns autores utilizam referências, ou dem ar cador es cr onológicos, agr egados a out r os com p on en t es e at r ib u t os p ar a con seg u ir em u m a definição m ais am pla de adolescência, há t rabalhos que quest ionam um a definição universal e genérica sem considerar o m om ent o hist órico das sociedades na qual est ão inser idos. Ver ificou- se, por t ant o, um esb oço d e com p r een d er a ad olescên cia com o u m
const r ut o social, em oposição à com um ent e adot ada
concepção de adolescência com o est at ut o de fixidez e im ut abilidade, por est ar r efer ida a um fenôm eno físico, há a am pliação desse ent endim ent o enquant o fenôm eno social, subordinada ao m odo de produção vigent e( 3).
Os i n d i v íd u o s q u e p e r t e n ce m à m e sm a geração, que nasceram no m esm o ano, são dot ados d e si t u a çã o co m u m n a d i m e n sã o h i st ó r i ca d o
processo social. Assim , poder- se- ia com preender esse fenôm eno social com o sit uação que poderia ser seria e deduzida dos fat or es biológicos básicos, m as se fosse realizado, est ar- se- ia ignorando o fat o de que os, seres hum anos se relacionam e que isso se dá de acordo com a dim ensão histórica do processo social( 4).
Se por um lado a posição de classe pode ser ex plicada pelas con dições econ ôm icas e sociais, a situação etária é determ inada pela form a com o certos p a d r õ e s d e e x p e r i ê n ci a e p e n sa m e n t o f o r a m passados na t ransição de um a geração para a out ra. O fato é que a criação e a acum ulação cultural não se dão pelos m esm os indivíduos, e sim pelo surgim ent o cont ínuo de novos grupos et ários e pela form a com o esses novos indivíduos ent ram em cont at o com essa herança acum ulada, determ inando com o um a geração a p r e e n d e o s v a l o r e s, o s co m p o r t a m e n t o s, sent im ent os, cult ura e o conhecim ent o adquirido na época( 4).
To r n a r - se a d u l t o e a m a d u r e ce r si g n i f i ca adquirir t odas as habilidades im prescindíveis para a v ida cot idian a da sociedade, n o caso, da cam ada social em quest ão( 5).
Na sociedade contem porânea, o j ovem passa por transição com plexa para chegar ao m undo adulto. A f a m íl i a a p a r e ce co m o p r i n ci p a l i n st i t u i çã o d e socialização, na qual são apreendidos os valores pós-m oder n os ( n eoliber ais) de au t o- r ealização, pr azer, a p o l o g i a à p e r f o r m a n c e i n d i v i d u a l , co n su m o , com pet ição ent re out ros. A escola possui o papel da in st it u ição d e socialização p ela ed u cação f or m al, sen do qu e essa se en con t r a abalada pela posição t om ada pelo Est ado. As perspect ivas de t rabalho ao sair d a escola est ão d ir et am en t e r elacion ad as ao m e r ca d o d e t r a b a l h o t e r ce i r i za d o , f l e x ív e l e autônom o. Há, inclusive, questionam ento atual da real necessidade da educação for m al com o per spect iv a de inserção social( 6).
As necessidades do adolescent e ext rapolam as condições orgânico- biológicas, e a organização de p r o g r a m a s v o l t a d o s a e sse g r u p o r e q u e r a con sider ação das dim en sões social e colet iv a. Há, a i n d a , a n e ce ssi d a d e d o co n h e ci m e n t o e d o envolvim ent o com o cot idiano dos adolescent es e do con t ex t o em qu e os m esm os est ão in ser idos par a que os cont eúdos dos pr ogr am as sej am adapt ados às difer ent es m odalidades de dem andas indiv iduais e colet ivas( 7).
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est udos que com provam que esse é um grupo et ário sadio, ao m enos tem sido, do ponto de vista biológico. Ent ret ant o, a violência, as doenças com o a AI DS, a d r o g a d i çã o q u e a ca d a d i a e x p a n d e e n t r e o s adolescent es, principalm ent e das classes subalt ernas, t êm m ost rado exat am ent e o inverso.
Há q u a t r o d é ca d a s q u e , n o s p a íse s e m desen v olv im en t o, a faix a dem ogr áfica adolescen t e v em sendo r econhecida, pois além de r epr esent ar 25% da população ger al, os adolescent es t êm sido os p r in cip ais alv os d e v iolên cias, r esu lt an d o em núm er o alar m ant e de m or t es e seqüelas causadas p o r a t o s v i o l e n t o s, a ci d e n t e s d e t r â n si t o e co n t a m i n a çõ e s p o r d o e n ça s, d e co r r e n t e s d a s condições precárias a que est á suj eit a a m aior part e das populações desses países( 7).
O Br asil, seg u in d o as r ecom en d ações d a Or g a n i za çã o Pa n - Am e r i ca n a d a Sa ú d e ( OPAS) , im plantou, a partir de 1989, através do Ministério da Sa ú d e , o Pr o g r a m a d e Sa ú d e d o Ad o l e sce n t e ( PROSAD) . Foi r ealizada pesquisa no m unicípio do Rio de Janeiro, em 1994, para verificar as condições básicas par a a pr est ação da at en ção in t egr al aos adolescent es nas unidades de saúde. Os result ados obt idos das 7 0 u n idades est u dadas, n as qu ais 4 9 par t icipav am do PROSAD, m ost r ar am qu e apen as terça parte atendia m eninos e m eninas de rua, tendo os adolescent es que r equisit av am o pr ogr am a por problem as de saúde com o m aior alvo de at enção( 8).
No m unicípio de São Carlos, SP, verificou- se preocupação m aior com o cum prim ent o das m edidas socioedu cat iv as e a pr ev en ção de delit os, do qu e opções quando o adolescent e est á desassist ido ou lesad o n o seu d ir eit o. I sso ocor r e p r in cip alm en t e n aq u el e co n j u n t o f o r m ad o p o r ad o l escen t es q u e vivenciam sit uações de ext rem a hum ilhação social e fam iliar, violência, drogadição, falt a de suport e para o seu desen v olv im en t o f ísico e psíqu ico, h ist ór ias essas t ão freqüent es.
Apesar da pr eocupação ex ist ent e por par t e dos profissionais que cont at am adolescent es at ravés de proj etos e program as, não há estudo sistem atizado acer ca das polít icas de at enção ao adolescent e no m unicípio de São Car los, SP, obj et o e razão dest e est udo. De fat o, em pesquisa realizada no prim eiro sem est r e dest e ano dur ant e a pr im eir a fase dest e est u d o, j u n t o às p r in cip ais b ases d e r ef er ên cias verificou- se que exist em m uit os est udos que t rat am das questões pontuais de adolescente, m as raram ente das políticas. Ainda, constata- se que, nos últim os anos,
foram criados serviços específicos para o atendim ento do adolescente para possibilitar o acesso dos m esm os ao s seu s d i r ei t o s. Assi m , est e t r ab al h o t em p o r finalidade subsidiar a r enov ação do pr oj et o polít ico de at enção ao adolescent e no âm bit o m unicipal.
OBJETI VOS DO ESTUDO
O presente estudo tem por obj etivo conhecer os program as de atendim ento aos adolescentes, suas finalidades ou m ot ivações.
METODOLOGI A
Trata- se de estudo descritivo utilizando- se da Teor ia de I n t er v en ção Pr áx ica da En fer m agem em Saú d e Colet iv a( 9 ), p r in cip alm en t e n a cap t ação d a
r eal i d ad e o b j et i v a d as i n st i t u i çõ es q u e at en d em adolescent es em São Carlos, SP.
O cenár io de est udo é o m unicípio de São Carlos, sit uado na região nordest e do Est ado de São Pau lo, d ist an t e 2 2 8 k m d a cap it al, ocu p an d o ár ea geográfica de 1.141km , da qual o perím et ro urbano é de 67,25km . A população atual, segundo o I BGE, é d e 1 9 2 . 9 9 8 h a b i t a n t e s, d o s q u a i s 3 5 . 0 0 0 sã o adolescent es de 10 a 19 anos. A econom ia de São Carlos, SP gira em t orno das at ividades indust riais e de agropecuária, pert encendo ao “ cint urão do leit e” do Est ado de São Pau lo; pr odu z t am bém lar an j a, can a- de- açú car, t om at e, caf é, m ilh o, ar r oz, ov os, f r an go e car n e. A cidade é u m dos pólos de alt a t ecnologia no Brasil, abriga diversas indúst rias, das quais m ais de 70 produzem itens de alta tecnologia( 10).
Esse m u n i cíp i o a b r i g a h o j e d u a s u n i v e r si d a d e s p ú b l i ca s: a Un i v e r si d a d e d e Sã o Pa u l o e a Univ er sidade Feder al de São Car los, além de duas unidades de pesquisa da EMBRAPA e duas faculdades particulares, contando aproxim adam ente com oito m il universit ários e 2.500 pesquisadores. São Carlos, SP t ornou- se um dos pólos t ecnológicos, educacionais e cient íficos m ais im por t ant es do País e, a par t ir das d escr ições r ealizad as, p od e- se con sid er á- lo com o cam po bastante propício para a realização da pesquisa propost a no present e t rabalho.
O e st u d o r e co r r e u à f o n t e p r i m á r i a ( depoim en t os dos at or es en v olv idos n a gest ão de p r o g r a m a s) e f o n t e se cu n d á r i a d o cu m e n t a l ( program as, proj et os, relat órios e regim ent os) . Para
iden t if icar os pr ogr am as ex ist en t es n o m u n icípio, d est i n ad o s ao at en d i m en t o d e ad o l escen t es, f o i r e a l i za d o l e v a n t a m e n t o j u n t o a o s ó r g ã o s r esponsáv eis pelo cadast r am ent o dos pr ogr am as e entidades que desenvolvem trabalhos específicos com essa população. A principal fonte de identificação dos pr ogr am as é o cadast r o no Conselho Municipal dos Dir eit os da Cr iança e do Adolescent e ( CMDCA) , em co n f o r m i d a d e co m a s d e t e r m i n a çõ e s d o ECA. Pa r t i ci p a r a m t a m b é m n o r e co n h e ci m e n t o d o s pr ogr am as as Secr et ar ias Municipais de Educação, Sa ú d e, Esp o r t es e La zer, I n f â n ci a e Ju v en t u d e, Cidadan ia e Assist ên cia Social, além do Con selh o Municipal de Cidadania e Assist ência Social.
I d en t i f i cad o s o s p r o g r am as, en t i d ad es e p r o j e t o s, f o r a m r e a l i za d a s e n t r e v i st a s co m o s r e sp o n sá v e i s i n st i t u ci o n a i s, u t i l i za n d o - se d e quest ionário sem i- est rut urado. As ent revist as foram gravadas, t ranscrit as e subm et idas à análise sim ples de cont eúdo ou respost as. Por se t rat ar de pesquisa que lida com seres hum anos o proj et o foi aprovado pelo Com it ê de Ét ica da Escola de Enfer m agem da USP ( Resolução nº 196/ 96 do CONEP ) .
RESULTADOS E DI SCUSSÃO
Fo r a m i d e n t i f i ca d o s 4 4 p r o g r a m a s cadastrados nos conselhos e/ ou ligados às secretarias m unicipais. Vint e inst it uições for am ent r ev ist adas, respondendo coincident em ent e por 44 program as. As d em ais n ão f or am en t r ev ist ad as p elas seg u in t es r azões: n ão p er m it ir am en t r ev ist a, m u d ar am d e finalidade, não at ender am no per íodo de colet a de dados.
De m aneira geral, os program as de at enção a o a d o l e sce n t e a p o n t a m p a r a q u a t r o p r i n ci p a i s f i n a l i d a d e s o u m o t i v a ç õ e s : p r o f i s s i o n a l i z a ç ã o , c o m p l e m e n t a ç ã o e s c o l a r, e s p o r t e s e s a ú d e / educação. O prim eiro est á volt ado para a faixa et ária ent r e 14 e 18 anos, o segundo 12 e 14 anos e os dois últ im os ent r e 12 e 18 anos, em bor a a ofer t a m aior ocorra at é os 14 anos. Além desses t rabalhos o co r r em aq u el es q u e v i sam cu m p r i r as m ed i d as socioed u cat iv as d escr it as n o ECA, o ab r ig o e as at iv idades r ealizadas n os cen t r os com u n it ár ios. A m ot ivação de pr ofissionalização é realizada por t rês inst it uições de cunho filant r ópico que ofer ecem ao t odo os segu in t es cu r sos: au x iliar adm in ist r at iv o, padaria, confeit aria, m arcenaria, elét rica, aerografia,
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A segunda m ot ivação dos program as é a de m aior ocorrência e est á dest inada à com plem ent ação
escolar das crianças e adolescentes de sete a quatorze
anos, no caso deste estudo deu-se ênfase aqueles que se encontram na faixa etária de doze a quatorze anos. O prim eiro requisito para participar desses program as é estar m atriculado e freqüentado a escola, o segundo est á vinculado principalm ent e à renda, em algum as situações abrem - se exceções quando há situações de risco pessoal (violência, uso de drogas, explorações...). As a t i v i d a d e s o f e r e ci d a s, n o g e r a l , t r a t a m d e : al i m en t ação, r ecr eação, r ef or ço escol ar, of i ci n as art esanais, orient ação fam iliar, inform át ica, higiene e orient ação religiosa. Mais duas ent idades podem ser in clu íd as n esse it em p or of er ecer em as m esm as at ividades, porém possuem a condição part icular de n ão ex igir em qu e o adolescen t e est ej a n a escola, abrindo, port ant o, a possibilidade de part icipação de pessoas qu e se en con t r am em sit u ações de r isco pessoal e social m aior com o, por exem plo, a situação de rua. Essas duas últ im as não possuem núm ero de v ag as d ef in id o, acolh en d o t od os q u e ap ar ecer em naquele dia de at endim ent o, am bas r elat am que a o sci l a çã o d esses a d o l escen t es n a f r eq ü ên ci a a o program a é m uito grande, e que os m esm os não são d e sl i g a d o s co m o a co n t e ce n o s d e m a i s ca so s, e ent endem que t al população exige essa flexibilidade. Nas outras seis instituições, a procura por vagas ocorre quase duas vezes a m ais que o núm ero definido, que chega a 369 adolescent es. Os obj et ivos e finalidades dessas instituições estão centrados fortem ente na idéia de t irar os adolescent es carent es das ruas e m ant ê-los em atividades, sendo que assim acreditam m anter essa população afast ada da crim inalidade, do uso de drogas e outras situações de risco. Apenas um a enfatiza o obj et ivo de resgat ar a aut o- est im a e t rabalhar as pot encialidades dos adolescent es. A falt a de dinheiro é a dificuldade m ais apresent ada pelas inst it uições, em bora t enha aparecido t am bém cert a escassez de recursos hum anos e a falta de sede própria. Surgiram questões interessantes sobre a falta de conhecim ento dos representantes políticos sobre o trabalho realizado, e a reivindicação de que as universidades present es no m unicípio cont ribuíssem de algum a form a com a instituição. O preconceito da sociedade em relação aos a d o l escen t es q u e f r eq ü en t a m essa s i n st i t u i çõ es apar eceu n o r elat o de u m a delas, com o u m a das p r i n ci p ai s d i f i cu l d ad es d a i n t er v en ção co m essa população. Valorização e resgate da dignidade, acesso a o l a zer, ed u ca çã o , a l i m en t a çã o, ci d a d a n i a ,
responsabilidade dos pais em relação ao adolescente, est ar em um am bient e saudáv el for am alguns dos conceit os cit ados em r elação ao t r abalho r ealizado frente ao ECA. A am pliação da atuação em relação à f am ília e m aior par t icipação do poder pú blico em relação ao acesso dos adolescent es aos seus direit os foram reivindicadas por um a das ent idades. Som ent e u m dos t r abalh os declar ou n ão u sar o ECA com o r efer ência.
A m otivação dos program as para a educação
e saú d e foi en con t r ado em cin co pr ogr am as: dois
ligados à deficiência m ent al, um à deficiência física, um de lábios fissurados e deficient es audit ivos, e o últim o relacionado à saúde m ental. Com exceção dos dois pr im eir os que t r at am de escolas de educação especial e preparação para o trabalho, os dem ais estão lig ad os d ir et am en t e ao at en d im en t o à saú d e e à in clu são social. A en t r ad a n esses ser v iços ex ig e a v a l i a çã o d e e q u i p e m u l t i d i sci p l i n a r o u encam inham ent o m édico. At ualm ent e são at endidos 163 adolescent es e a procura por esse at endim ent o v ar ia m u it o, dif icu lt an do a pr ecisão da dem an da. Poucos trabalhadores e a falta de recursos financeiros sã o a s d i f i cu l d a d e s m a i o r e s. O p r e co n ce i t o d a socied ad e em r elação à p op u lação at en d id a cr ia m uit os obst áculos para a at uação na inclusão social. Considerações sobre o ECA aparece de form a m uit o d if u sa, r elacion ad as à p r ot eção e à p r ocu r a p elo Co n sel h o Tu t el a r em si t u a çõ es d e a b a n d o n o d e t rat am ent o ou m aus- t rat os por part e dos fam iliares. Ex i st e m d o i s p r o g r a m a s n o m u n i cíp i o referentes ao esport e: um program a com dez proj etos da Secretaria de Esportes e Lazer, e um de um a escola filant rópica de fut ebol. Am bos recebem adolescent es por pr ocur a espont ânea, com m uit as v agas ( cer ca de 1500) e, em alguns m om ent os, ficam inclusiv e com vagas ociosas. Avaliam que isso ocorre por falta d e d i v u l g a çã o d o t r a b a l h o , p e l a d i f i cu l d a d e d o t ransport e e adesão dos adolescent es aos proj et os. A form ação do cidadão através do esporte, o esporte, a com pet ição, o lazer e at ividade física coordenada são os obj et ivos e finalidades desses t rabalhos, cuj a m et a é am pliar a ofert a de m odalidades esport ivas e a com preensão do esporte com o direito da população ao lazer, à cult ura, à at ividade física orient ada e aos hábitos saudáveis de vida, até para a im plantação de p o l ít i ca s p ú b l i ca s d e esp o r t e e l a zer. Am b o s o s pr ogr am as acr edit am qu e o espor t e pode agr egar f o r ça s co m o s d e m a i s t r a b a l h o s r e a l i za d o s n o m u n icíp io p ar a acr escen t ar às at iv id ad es car át er
educat ivo de form ação de cidadania e conquist a de igualdade social, para isso, falt a a com preensão por par t e dos adm in ist r ador es das secr et ar ias por u m lado, e a ausência de união entre as instituições sem fins lucrativos pelo outro. Frente ao ECA, dizem segui-lo enquant o princípio.
A im plant ação das m edidas socioedu cat iv as cit adas no est at ut o est á sendo realizada at ravés de duas das vint e ent idades ent revist adas: um a delas é r e sp o n sá v e l p e l a a co l h i d a d o s a d o l e sce n t e s en cam in h ad os p ela p olícia, t r iag em , or ien t ação e en cam in h am en t o aos d em ais ser v iços d a r eg ião, a p o i o e o r i e n t a çã o f a m i l i a r, d e f e n so r i a p ú b l i ca , cadastro, atendim ento inicial em regim e de internação e pela int ernação provisória por at é 45 dias; a out ra en t id ad e ad m in ist r a as m ed id as d e p r est ação d e se r v i ço à co m u n i d a d e , l i b e r d a d e a ssi st i d a e sem iliber dade. A som a das v agas de t odos esses at endim ent os chega a at ingir 245 adolescent es. Os obj et ivos est ão diret am ent e ligados ao cum prim ent o do Tìt ulo I I I do ECA - Da prát ica de At o I nfracional. As d i f i cu l d a d es d a s a t i v i d a d es est ã o v i n cu l a d a s principalm ente à integração dos setores e à interação com os parceiros, que cria obst áculos e aum ent a o tem po de resposta entre os serviços. O trabalho com as fam ílias t am bém t em sido alvo de discussão para haver m elhora e eficácia no atendim ento. O program a d e se m i l i b e r d a d e p o ssu i v a g a s so m e n t e p a r a adolescent es do sexo m asculino, e quando ocorre a n ecessidade de in clu são de m en in as são t om adas m edidas provisórias e alt ernat ivas.
Ex i st e m d o i s a b r i g o s n o m u n i cíp i o p a r a crianças e adolescentes entre 0 e 17 anos. Em relação ao ECA, afirm am ter seu trabalho pautado no m esm o, no ent ant o, for necer at enção int egr al às cr ianças e aos adolescent es é um a das m aiores dificuldades do abrigo, que se vê cum prindo m elhor a área social e pr ocu r a por par cer ia n a ár ea da edu cação par a a r ealização de pr oj et o pedagógico.
Por fim , os nove Cent ros Com unit ários ligados à Se cr e t a r i a d e Ci d a d a n i a e Assi st ê n ci a So ci a l realizam as at ividades que m ais cham am a at enção das crianças e adolescentes, e perm ite a participação dos m esm os: fut ebol, j azz, dança, cinem a e oficinas de cont ar hist ór ias. A fr eqüência dos adolescent es aos CC é grande, no entanto, varia de acordo com a região e at ividades oferecidas, há int ensidade m aior em t r ês deles, em t or no de 3 5 0 adolescent es. De m aneir a ger al, m uit as v ezes funciona com o post os d e a ssi st ê n ci a so ci a l ( a l v o d e ca m p a n h a s d e
arrecadação de casacos, cest as básicas e dist ribuição d o s m e sm o s) , n o e n t a n t o , m e scl a a t i v i d a d e s com u n it ár ias, d e lazer e cu lt u r a, a d ep en d er d o p r o f i ssi o n a l p r e se n t e e d a m a n e i r a co m o a com unidade local com preende e ocupa o espaço. O direit o à infância, à recreação, ao lazer e á cult ura são apont ados com o form a de cum prim ent o ao ECA, entretanto, é perceptível que a potência desse recurso poderia ser m uit a m aior se houvesse polít ica pública m ais sinérgica de at enção.
D e m a n e i r a g e r a l , f o r a m a p o n t a d o s benefícios aos adolescentes que conseguem participar dos program as exist ent es no m unicípio, porém , com exceção dos esportes e das m edidas socioeducativas, t odos os out ros t rabalhos t êm dem anda m uit o m aior do que o núm er o de v agas ofer ecidas. A pr incipal m otivação de cada um a das instituições diferem entre si, m esm o que o t ipo de at endim ent o sej a parecido, na Figura, a seguir, isso poder ser visualizado.
0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5
1
Inclusão social
Prevenir delinqüencia
Atender adolescentes de baixa renda
Formar o cidadão através do esporte
Tirar o adolescente da rua
Cumprimento de medidas socioeducativas Resgatar auto-estima
Profissionalização
Atender adolescentes em situação de risco Atender adolescentes com deficiência mental Não existe clareza na política de atenção
Figura 1 - Principal obj et ivo dos program as/ proj et os
0 1000 2000 3000 4000 Centros comunitarios
Abrigo Esportes Medidas socioeducativas Complementação escolar Profissionalização Saúde/Educação
Nº. Vagas
Demanda
Figura 2 - Relação da dem anda por vagas disponíveis
Online
Rev Latino- am Enferm agem 2007 setem bro- outubro; 15( 5)www.eerp.usp.br/ rlae
o pr ocesso de socialização da cr iança, e vão var iar de acordo com a sociedade e cult ura na qual est ão i n se r i d o s( 3 ). Nã o h á cl a r a co m p r e e n sã o d a
adolescência enquant o fenôm eno social, com reflexos na m aneir a de inser ção social dos adolescent es no m odo de produção vigente. Ainda vigora a percepção do est udo( 7) que avalia a cobert ura, a adequação, a
acessibilidade e o padrão de ut ilização do serviço de Saúde dos Adolescent es da com unidade de Em aú, Belém , Pará, entre 1994 e 1996, em que foi constatado bom grau de adequação do program a à sua finalidade, em bora necessit asse aj ust es principalm ent e no it em r e cu r so s h u m a n o s, a t e n d i m e n t o s d i r e ci o n a d o s especialm ent e à assist ência curat iva e individual. Os aut or es deix ar am r ecom endações per cebidas com o n e ce ssi d a d e s n o se n t i d o d e r e v e r t e r o m o d e l o a ssi st e n ci a l p r e v a l e n t e , d e m o d o a e n f a t i za r at iv idades pr ev ent iv as, colet iv as e educat iv as par a m aior potencial de efetividade na prom oção da saúde da população adolescent e.
Na r et om ada da hist ór ia, v er ifica- se que a pr eocupação social com os j ov ens apar ece a par t ir da era indust rial m oderna, quando surge o int eresse n a capacit ação t écn ica do j ov em par a o t r abalh o. Coincident em ent e ou não, a m aioria dos program as e p r o j e t o s h o j e e x i st e n t e s n o Br a si l p a r a o at en d i m en t o d e ad olescen t es est á r el aci on ad a à capacitação do j ovem para o trabalho, para a inserção n o m odo capit alist a de pr odu ção. Aqu i se f ala de j ovens de cert as classes sociais e, nesse sent ido, os proj et os polít icos encont r am - se dir ecionados.
Ch am a at en ção o f at o d e q u e, em b or a a m aioria das inst it uições t enha cit ado que o ECA rege seus obj et ivos, nenhum a delas coloca a garant ia do acesso do adolescent e aos serviços prest ados com o prioridade, quer dizer, elas agem em cim a de recortes ocorridos na vida do adolescent e, sej a ele a falt a de renda, a situação de risco, a perda da auto- estim a, o
envolvim ento em ocorrência de ato infracional ou até m esm o a am eaça que ele pode vir a representar para a sociedade. Esse dado con fer e com ou t r o est u do r ealizado( 11), que buscou conhecer o lugar ocupado
por adolescent es, concret os, no discurso dom inant e da Saúde Pública, sobre saúde integral do adolescente, o que per m it iu ident ificar os r eais dest inat ár ios do Pr o g r a m a d e Sa ú d e I n t e g r a l d o Ad o l e sce n t e : adolescent es pobr es. É possív el ident ificar t am bém que as polít icas públicas funcionam com o m eios de r e g u l a çã o so ci a l , m a t e r i a l i za n d o d e t e r m i n a d o s co n t r a t o s so ci a i s e st a b e l e ci d o s, q u e a ca r r e t a m desigualdades sociais( 12).
CONCLUSÕES
As inst it uições est udadas apr esent ar am - se m uit o difer ent es ent r e si em t er m os de obj et iv os, t am anho e faix a et ár ia do público- alv o, or ient ação religiosa ou laica, tipo e quantidade de trabalhadores, ent r e out r os. Enquant o a m aior ia delas focaliza as at iv id ad es d e assist en cialism o e com p lem en t ação escolar, out ras ofer ecem ensino pr ofissionalizant e, esport es, at endim ent os de saúde e educação, e, por fim , algum as atendem exclusivam ente os adolescentes au t or es de at os in f r acion ais, sej a pr opor cion an do abrigo e cum prindo ações aos adolescentes em situação de risco pessoal e social, ou adm inist rando m edidas socioeducat iv as, t ais com o pr est ação de ser v iços à com u n id ad e, lib er d ad e assist id a e sem ilib er d ad e. Form ar o adolescente através do esporte e prevenir a delinqüência são as m ot iv ações ou finalidades que cobr em m aior quant idade de adolescent es. Em bor a haj a diversos órgãos para a at enção ao adolescent e, há m uito a ser feito para a orquestração e sinergism o de suas ações em prol da consecução do Estatuto da Criança e do Adolescent e.
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