NOTAS DE AULAS E EXERCÍCIOS
RESOLVIDOS PARA A DISCIPLINA DE
EQUAÇÕES DIFERENCIAIS
Prof. Dr. Leandro Blass
Prof. Dr. Anderson Bihain
Equações Diferenciais
1.1Introdução
Muitas vezes em física, engenharia e outros ramos técnicos, há necessidade de encontrar uma função incógnita. Em muitos casos esta pesquisa leva a uma equação envolvendo derivadas (ou diferenciais) da função incógnita. Tais equações envolvendo derivadas (ou diferenciais) são chamadas equações diferenciais, em que a incógnita não é um número, mas uma função. Simbolicamente, uma equação diferencial pode ser escrita como:
F(x, y, y’ , y ’’, ... , y (n)) = 0
ou
F(x, y, dx dy
,
2 2
dx y d
, ...,
n n
dx y d
) = 0.
Se a função incógnita depende apenas de uma variável, temos uma equação diferencial ordinária. Se depender de mais de uma variável, temos uma equação diferencial parcial.
A ordem de uma equação diferencial é o número n que corresponde à ordem máxima das derivadas da equação.
O grau de uma equação diferencialé a maior potência da derivada de maior ordem. Exemplos: Determinar o grau e a ordem de cada uma das seguintes equações diferenciais.
(a) 7 0
3
2 2
dx dy dx dy
dx y d
(b) 3 0
2
y dx dy dx
dy
A Equação (a) é uma equação diferencial de primeiro grau de ordem 2 porque d2y/dx2 é a derivada de maior ordem na equação e está elevada à primeira potência. Notar que a terceira potência de dy/dx não tem influência no grau da Equação (a) porque dy/dx é de menor ordem que d2y/dx2.
A Equação (b), por outro lado, é uma equação diferencial de segundo grau e primeira ordem; dy/dx é a derivada de maior ordem (ordem 1) e 2 é a maior potência de dy/dx aparecendo na equação.
Uma solução deuma equação diferencial é uma função y = f (x) a qual, juntamente com as suas derivadas, satisfaz a equação diferencial dada.
Exemplos:
(a) Verificar que y = 4.e-x + 5 é uma solução da equação diferencial de segunda ordem e primeiro grau 2 0.
2 dx dy dx y d
Observando que x e dx
dy
.
4 e e x dx
y
d
. 4
2 2
e substituindo na equação diferencial dada, temos:
4.e-x + (– 4.e-x) = 0 0 = 0 é solução.
(b) Verificar que y = x
x e C e C . 1 . 1
é uma solução da equação diferencial de primeira ordem
e primeiro grau ( 1) 2
1 2
y
dx dy
.
A primeira derivada da equação dada é
2. 1 . . 2 x x e C e C dx dy
. Substituindo este resultado na
equação diferencial dada, temos:
2. 1 . . 2 x x e C e C =
1 . 1 . 1 2 1 2 2 x x e C e C =
2 2 2 2 2 . 1 . . 2 1 . . 2 1 2 1 x x x x x e C e C e C e C e C =
2 . 1 . . 4 2 1 x x e C e C
2. 1 . . 2 x x e C e C .
A solução y = 4.e-x + 5 no Exemplo (a) acima é um exemplo de uma solução particular de uma equação diferencial. Podemos verificar que y = 4.e-x + 3 é também uma solução particular da equação diferencial no exemplo (a). Deste modo, uma equação diferencial pode ter mais do que uma solução particular.
arbitrárias é chamada uma solução geral. Assim, a solução y = x
x
e C
e C
. 1
. 1
no Exemplo (b) ou y = 4.e-x + C no Exemplo (a) é um exemplo de uma solução geral.
Geometricamente, a solução geral de uma equação diferencial de primeira ordem representa uma família de curvas conhecidas como curvas-solução uma para cada valor da constante arbitrária.
Uma solução particular pode ser obtida se forem dadas certas condições iniciais. Uma condição inicial de uma equação diferencial é uma condição que especifica um valor particular de y, y0, correspondente a um valor particular de x, x0. Isto é, se y = f(x) pode ser uma solução da equação diferencial, então a função deve satisfazer a condição: y0 = f(x0). O problema de ser dada uma equação diferencial com condições iniciais é chamado um problema de valor inicial.
Um estudo completo de equações diferenciais incluiria um estudo de equações diferenciais de todos os graus e equações diferenciais parciais e ordinárias. Limitamos deste modo as nossas considerações às equações diferenciais ordinárias do primeiro grau.
Exemplos:
(a) Verificar que y = C1.cosx + C2.senx é uma solução geral da equação diferencial y’’ + y = 0. Primeiro, determinar as derivadas da função dada:
y' = - C1.senx + C2..cosx y’’= - C1.cosx - C2..senx Substituindo na equação diferencial, temos:
y’’ + y = 0
- C1.cosx - C2..senx + ( C1.cosx + C2..senx) = 0 - C1.cosx - C2..senx + C1.cosx + C2..senx = 0 0 = 0
Portanto, y = C1.cosx + C2..senx é uma solução geral da equação diferencial dada com duas constantes arbitrárias distintas.
(b) Mostre que y = C.e-2x é uma solução para a equação diferencial y’ + 2y = 0 e encontre a solução particular determinada pela condição inicial y(0) = 3.
Sabemos que y = C.e-2x é solução porque y’ = - 2.C.e-2x e y’ + 2y = - 2.C.e-2x + 2.( C.e-2x ) = 0.
y = C.e-2x 3 = C e-2.0 C = 3
e concluímos que a solução particular é y = 3.e-2x .
1.2Classificação das Equações Diferenciais de 1ª Ordem Equação diferencial de primeira ordem é da forma:
) , (x y f dy dy
Se g(x) é uma função continua dada, então a equação de primeira ordem
) (x g dx dy
Pode ser resolvida por integração. A solução é y
g(x)dxcExistem numerosos métodos desenvolvidos para resolver equações diferenciais ordinárias. Veremos de perto vários destes métodos. Certas equações diferenciais de primeira ordem podem ser mais facilmente resolvidas usando o método de separação de variáveis.
Uma equação diferencial de primeira ordem é uma relação envolvendo a primeira derivada. Isto é, pode ser escrita na forma:
0 )
, ( ) ,
(
dx dy y x N y x M
ou (multiplicando ambos os membros pela diferencial dx, onde dx 0)
M(x,y)dx + N(x,y)dy = 0
onde M(x,y) e N(x,y) são funções envolvendo as variáveis x e y. Para esse tipo de equação, pode-se juntar todos os termos contendo x com dx e todos os termos contendo y com dy, obtendo-pode-se uma solução através de integração. Tais equações são ditas separáveis, e o método de solução é o método de separação de variáveis. O método é descrito a seguir.
* Método de Separação de Variáveis
1. Coloque a equação na forma diferencial
M(x)dx + N(y)dy = 0 ou M(x)dx = - N(y)dy
2. Integre para obter a solução geral
M(x)dx
N(y)dyC.Exemplo 01: Reescreva a equação diferencial de primeiro grau x2yy’ – 2xy3 = 0 na forma da Equação geral das separações de variáveis.
x2yy’ – 2xy3 = 0 0 2 3
2 xy
dx dy y x
x2 ydy – 2xy3dx= 0 (multiplicando cada membro por dx)
-2xy3dx+ x2 ydy = 0 (multiplicando cada membro por 1/x2y3) ou
0 dy y
1 dx x 2
2
Neste exemplo, M(x) = - 2/x e N(y) = 1/y2. Por multiplicações e divisões apropriadas separamos a equação em termos onde cada um envolve apenas uma variável e a sua diferencial. Assim sendo, a solução geral pode ser obtida por integração de cada termo.
Exemplo 2: Determinar a solução geral da equação diferencial x2yy’ – 2xy3 = 0.
No Exemplo 1 determinamos que x2yy’ – 2xy3 = 0 pode ser escrita como
0 dy y
1 dx x 2
2
dx x 2 dy y
1
2
Integrando cada membro da equação, temos:
dxx dy y
2 1
2
C 2lnx y 1
-
ou
1 + 2ylnx + Cy = 0.
Nota 1: Quando a solução de uma equação diferencial envolver a integração de um termo na
forma u du
, escrevemos agora u C u
du
ln em vez de u Cu du
ln . Estamos agora percebendo que a solução é válida apenas quando u é positivo. Lembrar também de incluir aconstante de integração C.
Nota 2: Algumas regras para logaritmo na base e (e 2,718....).
Sendo a > 0 e b > 0 e IR, então temos as seguintes propriedades:
P1) ln(a . b) = lna + lnb P3) ln(a) = .lna P2) ln(a : b) = lna - lnb P4) elna
= a
Exemplo 3: Resolver a equação diferencial1 '
2
x y
y .
Tornando a escrever, temos:
1
2
x y dx dy
dx x
y dy
1
2
(multiplicar cada membro por dx)
1
2
x dx y
dy
(multiplicar cada membro por 1/y)
1
2 x
dx y
dy
lny = arctg x + C
y = earctgx +C
y = k.e arctgx, onde k = eC
Exemplo 4: Resolver a equação diferencial x(1 + y2) – y(1 + x2)y’= 0.
Tornando a escrever, temos:
1 2 1 2 0 dx dy x y y x
1 y2 dx y1x2 dy0x
0 1
1 2 2
y dy
y dx x x
ou
dy y y dx x x
2
2 1
1
y dy
y dx
x x
2
2 1
1
C y
x
ln(1 )
2 1 ) 1 ln( 2
1 2 2
ou
C y x
) 1 1 ln( 2 1
2 2
.
k y
x
ln 2 1 ) 1 1 ln( 2 1
2 2
ou k
y x
) 1 1 (
2 2
ou (1x2)k(1 y2)
ou x21kky2 0
Esta última equação é mais fácil de trabalhar porque já não envolve logaritmos naturais.
As equações C y x
) 1 1 ln( 2 1
2 2
e x21kky2 0são equivalentes. Elas diferem apenas na
forma da constante de integração. Praticando nos exercícios você ganhará experiência na escolha da forma mais apropriada para esta constante arbitrária.
Exemplo 5: Resolver a equação diferencial y’ – 2x = 0 sujeita à condição inicial de que y = 1 quando x = 2, ou seja, y(2) = 1.
A solução geral é:
y = x2 + C Substituindo y = 1 e x = 2, temos:
1 = (2)2 + C 1 = 4 + C - 3 = C
Portanto, a solução particular é
y = x2– 3
Exemplo 6: Resolver a equação diferencial y + xy’ = 0 sujeita à condição inicial de que y = 2 quando x = 3, ou seja, y(3) = 2.
Tornando a escrever, temos:
0
dx dy x y
0
y dy x dx
ou
y dy x
dx
y dy x
dx
lnx = - lny + C lnx + lny = C
ln
ln
,
xy C
xy C
ou
e e
C xy
Substituindo y = 2 quando x = 3, temos
3.2 = C 6 = C
Portanto, a solução particular desejada é: xy = 6 ou y = 6/x. Exemplo 7:
y2
dyexdx é uma equação de variáveis separáveis Solução:Por integração dos dois lados:
y
dy
exdxc
2
c e y x
2 2 2
Esta é a solução da equação diferencial.
Exemplo 8: Considere a seguinte Edo
1 y2
dxxydy0 Solução:
1y2
dxxydyEm seguida tenta-se colocar todas as funções de x do lado de dx e todas as funções de y do lado de dy: dy y y x dx 2 1 integrando: c dy y y x dx
21 y dy c
y
x
21 2 2 1
ln
x ln1 y2 c
2 1
ln lnxln 1 y2 c
1 2
1
C y
x
Esta é a solução da equação.
Exemplo 9: Considere a seguinte EDO:
1 '
1
y
e y 1 1
dx dy
e y ey
dx dy 1 1 y e dx
dy
dx e
dy y 1 dx
e dy e y y 1 c dx e dy e y y
1 e x c
y
1
ln 1ey Aex
y x
e Ae
1 ln
1Aex
y yln
1Aex
Algumas equações que não são separáveis podem vir a sê-lo mediante uma mudança de variáveis. Isso funciona para equações da forma y’ = f(x,y), onde f é uma função homogênia.
Definição 1.2.2 Função Homogênea
Se uma função f satisfaz
f(tx,ty) = tn f(x,y)
para algum número real n, então dizemos que f é uma função homogênea de grau n.
Exemplos: Determinar de as funções (1) e (2) são homogéneas: (1) f(x,y) = x2– 3xy + 5y2
f(tx,ty) = (tx)2– 3(tx)(ty) + 5(ty)2 = t2x2– 3t2 xy + 5t2y2
= t2[x2– 3xy + 5y2] = t2 f(x,y) função homogênea de grau dois.
(2) f(x,y) = x3 + y3 + 1.
f(tx,ty) = (tx)3 + (ty)3 + 1 t3 f(x,y) pois
t3.f(x,y) = t3x3 + t3y3 + t3 função não é homogênea.
OBS: Muitas vezes uma função homogênea pode ser reconhecida examinando o grau de cada termo.
Exemplos: Identificando pelo grau da função: (1) f(x,y) = 6xy3– x2y2
A função é homogênea de grau quatro. grau 4 grau 4
A função não é homogênea, pois os graus dos dois termos são diferentes
grau 2 grau 1
Definição 1.2.2 Equação Homogênea
Uma equação diferencial da forma
M(x,y)dx + N(x,y)dy = 0
é chamada homogênea se ambos os coeficientes M e N são funções homogêneas do mesmo grau.
Resolução de uma equação homogénea: uma equação homogénea resolve-se com base
na mudança de variável x y
u , substituindo-se a função u pela função y. Para isso determina-se
dx dy
. Como y ux, u dx du x dx dy
. A equação f(x,y) dx
dy
transforma-se na equação seguinte:
) , (x y f u dx du
x . A partir daqui a resolução depende da função f(x,y) pelo que se ilustra o método com exemplos.
Para resolver uma equação diferencial homogênea pelo método de separação de variável, basta fazer a mudança de variáveis dada pelo Teorema a seguir.
Teorema Mudança de Variáveis para Equações Homogêneas
Se M(x,y)dx + N(x,y)dy = 0 é homogênea, então ela pode ser transformada em uma equação diferencial cujas variáveis são separáveis pela mudança de variável y = v.x onde v é uma função diferenciável de x e dy/dx = v + x dv/dx.
OBS: São válidas também as substituições x = y.v e dx = y dv + v dy. Exemplo 1: Resolva a seguinte edo: (x2 + y2)dx + (x2– xy)dy = 0.
Solução: Como M(x,y) e N(x,y) são funções homogêneas de grau dois, tomamos y = v.x para obter dy = v dx + x dv. Então, substituindo, temos:
(x2+ v2x2)dx + (x2– vx2)vdx +(x2– vx2)xdv = 0
x2(1+ v2 + v – v2)dx + x3 (1 – v)dv = 0
x2(1 + v)dx + x3 (1 – v)dv = 0 (dividindo por x2) (1 + v)dx + x(1 – v)dv = 0
0 x dx dv v 1
v
1
0
x dx dv v 1
2
1
(utilizamos frações parciais)
Depois de integrar a última linha, obtemos:
-v + 2 ln1 + v+ lnx= lnc
lnx lnc
x y 1 2ln x
y
. (substituindo v)
Usando as propriedades do logaritmo, podemos escrever a solução precedente como:
x y cx
y x ln
2
.
A definição de um logaritmo implica:
xy
cxe
y 2
x .
Exemplo 2:
x y x
y dx
dy 2
cos
u dx du x dx
dy
u u
u dx du
x cos2 u
dx du
x cos2
x dx
u du
x dx u du 2cos cotg
u ln(x)k x x k yg
) ln( cot
Exemplo 3: 2x2y' x2 y2
2 2 2 2 1 x y dx dy u dx du x dx
dy
2 2 1 u2 u
dx du
x
u u
dx du
x 1 2
2
1 2
x dx u u du 2 1 2 1 2 0 21u2 u 1 2
4 4 2
u
22
1 2
1u u u
1 1 12
1 2
2
udu u udu uk x
u
ln 2 1 1 1 k x x y y x
y
ln
1 1
A x
x y y exp
1.2.3 Equações Diferenciais Exatas
Embora a equação,
y dx + x dy = 0
seja separável e homogênea, podemos ver que ela é também equivalente à diferencial do produto de x e y; isto é
y dx + x dy = d(xy) = 0.
então sua diferencial total é:
dy
y f dx x f dz
(1)
Agora, se f(x,y) = c, segue-se de (1) que:
dy 0 y f dx x f
(2)
Em outras palavras, dada uma família de curvas f(x,y) = c, podemos gerar uma equação diferencial de primeira ordem, calculando a diferencial total.
Exemplo 1: Se x2– 5xy + y3 = c, então por (2)
(2x –5y)dx + (-5x +3y2)dy = 0 ou
2
3y 5x
2x 5y dx
dy
.
Para nossos propósitos, é mais importante inverter o problema, isto é, dada uma equação como
2
3y 5x
2x 5y dx
dy
, (3)
podemos identificar a equação como sendo equivalente a d(x2– 5xy + y3) = 0? Obs: ote que a equação (3) não é separável nem homogênea.
Definição 1.2.3 Equação Exata
Uma equação diferencial
M(x,y)dx + N(x,y)dy
é uma diferencial exata em uma região R do plano xy se ela corresponde à diferencial total de alguma função f(x,y). Uma equação diferencial da forma
M(x,y)dx + N(x,y)dy = 0
é chamada de uma equação exata se a expressão do lado esquerdo é uma diferencial exata, ou seja, se existir uma função f(x,y) com derivadas parciais contínuas e tais que fx(x,y) = M(x,y) e
Exemplo 2: A equação x2y3 dx + x3y2 dy = 0 é exata, pois: d(
3 1
x3y3) = x2y3 dx + x3y2 dy.
O teorema seguinte é um teste para uma diferencial exata. Teorema Critério para uma Diferencial Exata
Sejam M(x, y) e N(x, y) funções contínuas com derivadas parciais contínuas em uma região R definida a < x < b, c < y < d. Então, uma condição necessária e suficiente para que
M(x,y)dx + N(x,y)dy
seja uma diferencial exata é
x N y M
. (4)
MÉTODO DE SOLUÇÃO
Dada a equação
M(x,y)dx + N(x,y)dy = 0 (5) Mostre primeiro que
x N y M
. Depois suponha que
x y M x f,
daí podemos encontrar f integrando M(x,y) com relação a x, considerando y constante.
f(x,y) =
M(x,y)dxg
y , (6) em que a função arbitrária g(y) é a constante de integração. Agora, derivando (6) com relação a y e supondo f/y = N(x,y):
y
f
y g dx y x M
y ( , ) ' =N
x,y . Assim,g’(y) = N(x,y) -
dx y x M
y ( , ) . (7) Finalmente, integre (7) com relação a y e substitua o resultado em (6). A solução para a equação é f(x,y) = c.
OBS: Poderíamos começar o procedimento acima com a suposição de que N
x y yf
,
. Exemplo 3: Resolva a EDO exata: 2xy dx + (x2– 1) dy = 0.
Solução: Como M(x,y) = 2xy e N(x,y) = x2– 1, temos
x N y M
= 2x.
Logo, a equação é exata e, pelo Teorema anterior, existe uma função f(x,y), tal que
x f
2xy e
y f
x2– 1. Da primeira dessas equações, obtemos, depois de integrar,
f(x,y) = x2y + g(y).
Derivando a última expressão com relação à y e igualando o resultado a N(x, y), temos
y f
x2+ g’(y) = x2– 1. Segue-se que
g’(y) = – 1 e g(y) = - y.
x2y – y = c.
OBS: Observe que a equação poderia também ser resolvida por separação de variáveis.
Exemplo 4: Resolva o problema de valor inicial:
(cosx senx – xy2) dx + y.(1 - x2) dy = 0, y (0) = 2.
Solução: A equação é exata, pois
x N y M
= - 2xy. Agora,
y f
y.(1 - x2)
f(x,y) = 2 y2
(1 - x2) + h(x).
x f
- xy2+ h’(x) = cosx senx – xy2. A última equação implica
h’(x) = cosx.senx
h(x) = cos . 2
1 -dx
cosx.senx 2x
(Método da Substituição)Logo, 2 y2
(1 - x2) cos2x 2 1
- = c1 ou
y2 (1 – x2) – cos2x = c,
y2 (1 – x2) – cos2x = 3.
FATORES INTEGRANTES
Algumas vezes, é possível converter uma equação diferencial não exata em uma equação exata multiplicando-a por uma função (x,y) chamada fator de integração. Porém, a equação exata resultante:
M(x,y) dx + N(x,y) dy = 0
pode não ser equivalente à original no sentido de que a solução para uma é também a solução para a outra. A multiplicação pode ocasionar perdas ou ganhos de soluções.
Exemplo 1: Se a equação diferencial,
2y dx + x dy = 0 (Não é uma equação exata)
for multiplicada pelo fator integrante (x,y) = x, a equação resultante
2xy dx + x2 dy = 0 (Equação exata)
é exata, ou seja, x x N y M
2
.
Pode ser difícil encontrar um fator integrante. No entanto, existem duas classes de equações diferenciais cujos fatores integrantes podem ser encontrados de maneira rotineira - aquelas que possuem fatores integrantes que são funções que dependem apenas de x ou apenas de y. O Teorema a seguir, que enunciaremos sem demonstração, fornece um roteiro para encontrar esses dois tipos especiais de fatores integrantes.
Teorema Fatores Integrantes
Considere a equação diferencial M(x,y)dx + N(x,y)dy = 0. 1. Se
y) N(x,
1
é uma função só de x, então eh(x)dx é um fator integrante. 2. Se
y) M(x,
1
[ Nx(x,y) - My(x,y)] = k(y)
é uma função só de y, então ek(y)dy é um fator integrante.
Exemplo 2: Encontre a solução geral da equação diferencial (y2– x) dx + 2y dy = 0. Solução: A equação dada não é exata, pois My(x,y) = 2y e Nx(x,y) = 0. Entretanto, como
y) N(x,
1
[My(x,y) – Nx(x,y)] = y 2
1
[2y – 0] = 1 = x0 = h(x)
temos que eh(x)dx= e1dx exé um fator integrante. Multiplicando a equação dada por ex, obtemos a equação diferencial exata.
(y2ex– x ex) dx + 2yex dy = 0 cuja solução é obtida da seguinte maneira:
f(x,y) =
N(x,y)dy
2yexdyy2ex g(x)f ’(x,y) = y2ex g'(x)= y2ex– x ex
) (
' x
g = – x ex (integração por partes)
Logo, g(x) = – x ex + ex , o que implica na solução geral y2ex – x ex + ex = c.
OBS: Um outro fator integrante é:
y)
y.N(x,
-y)
x.M(x,
1
)
,
(
x
y
(*)Exemplo 3: Resolva y’ = x
y xy2
.
Solução: Escrevendo a equação sob forma diferencial, temos
x y xy
2
dx dy
(xy2– y)dx – xdy = 0
y.(xy – 1)dx – x.(1)dy = 0 (multiplicando por – 1)
y.(1 - xy)dx + x.(1)dy = 0 (1)
De acordo com (*), temos:
(x,y) =
y.1-xy
-y.x.(1)
x.
1
=
yx -x -x.y
1
2 2y
=
2 2
x
-1
y =
2
) (x
1
y
Multiplicando (1) por (x,y), obtemos:
2
) (x
1
y
.[y.(1 - xy)dx + x.(1)dy] = 0,
ou seja,
0 1
1
2
2
que é exata. Aplicando o método de resolução de equação exata, chegamos à solução y = -1/(x.lncx)
1.2.4 Equações Diferenciais Lineares de Primeira ordem
Definimos a forma geral para uma equação diferencial linear de ordem n como,
a
x y g(x)dx d a dx
d a
dx d x
a 1 0
1 -n
1 -n 1 -n n n
n
y x y
x y
.
Lembre-se de que linearidade significa que todos os coeficientes são funções de x somente e que y e todas as suas derivadas são elevadas à primeira potência. Agora, quando n = 1, obtemos uma equação linear de primeira ordem.
Definição 1.2.4 Equação Linear
Uma equação diferencial da forma
a
x y g(x) dxd
a1 x y 0 é chamada de equação linear.
Dividindo pelo coeficiente a1(x), obtemos uma forma mais útil de uma equação linear:
. ( )dy
P x y Q x
dx . (1) Caso, Q x
0 é dita homogênea. Iremos trabalhar com os dois casos: linear homogênea e não homogênea.Procuramos uma solução para (1) em um intervalo I no qual as funções P(x) e Q(x) são contínuas. Na discussão a seguir, supomos que (1) possui uma solução.Usando diferenciais, podemos escrever a equação (1) como:
dy + [P(x).y - Q(x)]dx = 0 (2)
(x)dy + (x)[P(x).y - Q(x)]dx = 0 (3)
é uma equação diferencial exata. Pelo Teorema (Critério para uma Diferencial Exata), o lado esquerdo da equação (3) é uma diferencial exata se
x
(x)dy = y
(x)[P(x).y - Q(x)]dx (4)
ou
P(x) dx
dμ .
Esta é uma equação separável em que podemos determinar (x). Temos
P(x)dx d
ln
P(x)dx (5) assim
P(x)dx
) (x e
. (6)
Assim a função (x) definida em (6) é um fator de integração para a equação linear. Note que não precisamos usar uma constante de integração em (5), pois (3) não se altera se a multiplicarmos por uma constante. Ainda, (x) 0 para todo x em I, e é contínua e diferenciável.
Multiplicando a equação (1) por (6), obtemos:
P(x)dx
e e P
x y e Q(x)dx
dy P(x)dx P(x)dx
. P(x)dx
( ). P(x)dx dxd
e x Q e
y (integrando ambos os lados)
C dx e
x Q e
Assim sendo a solução geral é dada por
Q x e dx C
e
y P(x)dx
( ). P(x)dx . (7)Método de resolução para linear homogênea: - Colocar a Edo linear na forma padrão (1);
- Identificar P(x) e então encontrar o fator integrante eP x dx ;
- Multiplique a forma padrão pelo fator integrante. O lado esquerdo resultante é automaticamente a derivada do produto do fator integrante por y;
P x dx P x dx d
e y e f x
dx
- Integre ambos os lados desta última equação.
Ex1: Resolvendo a ED de primeira ordem homogênea dy 3y 0 dx
ln 3
3
3 0 3
3 3
ln 3 y x c
x
dy dy
y y Separando
dx dx
dy dy
dx Integrando dx
y y
y x c e e onde
y ce
usando o fatorintegrante
3 3
3 3 3
3
3 3
3 0 0
0
dx x
x x x
x
x x
e e Multiplicando a ED
dy d
e e y e y
dx dx
d
Integrando e y dx e y c y ce
Teorema Solução de uma Equação Diferencial Linear de Primeira Ordem não homogênea
Um fator integrante para a equação diferencial linear de primeira ordem y’ + P(x).y = Q(x) é (x)eP(x)dx. A solução da equação diferencial é
Q x e dx C
e
Exemplo: Encontre a solução geral de dy 3y 6 dx .
3
3 3 3 3 3
3 3
3 3
3
.int
3 6 6
6 2
: 2
P x dx x
x x x x x
x x
x x
x
F egrante e e Multilplicando a ED
dy d
e e y e e y e
dx dx
d
Integrando e y e dx
e y e c
Solução y ce
Exemplo Encontre a solução geral de 4y x6ex dx
dy
x .
Solução Escreva a equação como
x 5e
x y 4 dx
dy
x (dividindo por x) (8)
Como P(x) = -4/x, o fator integrante é
dx x 4 -P(x)dx
)
(x e e
= e-4 lnx = x –4.
Aqui, usamos a identidade básica blogbN = N, N > 0. Agora, multiplicamos (8) por este termo
x –4. 4 y x. 4x5ex x
4 x. dx
dy
x –4. 4x. 5y xex dx
dy (9)
e obtemos
x. 4.y xexdx
d . (10)
Segue-se da integração por partes que
x –4y = xex– ex + c ou
EQUAÇÕES DE BERNOULLI
A equação diferencial
x.y Q(x).ynP dx
dy
(1)
em que n é um número real qualquer, é chamada de equação de Bernoulli. Para n = 0 e n = 1, a equação (1) é linear em y. Agora, se y 0, (1) pode ser escrita como
x .y Q(x) Pdx d
y-n y 1-n . (2)
Se fizermos w = y1 – n, n 0, n 1, temos
dx dy y n 1 dx
dw n .
Com essa substituição, (2) transforma-se na equação linear
x .w (1 n).Q(x) n).P(1 dx
dw
. (3)
Resolvendo (3) e depois fazendo y1 – n = w, obtemos uma solução para (1), ou seja,
n
Q
x
e
dx
C
e
y
n
(1-n).P(x)dx (1-n).P(x)dx 1
).
(
).
1
(
.Exemplo Resolva 1 y xy2. x
dx
dy
Solução
Em (1), identificamos P(x) = 1/x, Q(x) = x e n = 2. Logo, a mudança de variável w = y1-2 = y –1 e
dx dy dx
dw 2
x. w x 1 dx
dw
(*)
O fator de integração para essa equação linear é ln 1
1
x e
e x
dx
x .
Multiplicando ambos os lados de (*) pelo seu fator integrante x –1, obtemos:
x w
x 1 dx
dw 1 1
1
x x
x
ou
1 w dx
dw 2
1
x
x
assim
. 1dx
d x1w .
Integrando essa última forma, obtemos:
x -1 w = - x + c ou w = - x2 + cx.
Referências Básicas
BOYCE, W. E. & DIPRIMA, R. C. Equações Diferenciais Elementares e Problemas de Valores de Contorno. 8. ed. LTC, 2006.
KREYSZIG, E., Matemática Superior, Vol. I e II, LTC Editora. ZILL, D.G., Equações Diferenciais, Vol.I e II, Ed. Makron, 2001.
Referências Complementares
BUTKOV, E., Física Matemática, LTC Editora, 1988.
CHURCHILL, R.V., Fourier Series and Boundary Value Problems, 2a. ed., Ed. McGraw-Hill, 1963. DAVIS, H.F., Fourier Series and Orthogonal Functions, Dover, 1963.
GUIDORIZZI, H.L. Um curso de cálculo.5. ed. Rio de Janeiro: LTC, 1997.V.4.
HILL, D. G. Equações Diferenciais com Aplicações em Modelagem. Thomson Learning. KAPLAN, W. Cálculo Avançado. Edgard Blucher, 1972. v. 2.