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A dinâmica do losango enquanto geometria funcional do jogo de futebol: estudo sobre o desempenho ofensivo do sector intermédio através da análise sequencial

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Academic year: 2021

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(1)MARCO ANTÓNIO SANTOS E SILVA. Porto 2009.

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(3) A dinâmica do LOSANGO, enquanto geometria de organização funcional do jogo de Futebol. Estudo sobre o desempenho ofensivo do sector intermédio, através da análise sequencial.. Monografia realizada no âmbito da disciplina de Seminário do 5º ano da licenciatura em Desporto e Educação Física, na área de Alto Rendimento – Futebol, da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. Orientador: Professor Doutor Júlio Manuel Garganta da Silva Marco António Santos e Silva Porto, 2009. 3.

(4) Silva, M. (2009). A dinâmica do LOSANGO, enquanto geometria de organização funcional do jogo de Futebol. Estudo sobre o desempenho ofensivo do sector intermédio, através da análise sequencial. Dissertação de Licenciatura. Porto: FADEUP. Palavras-Chave: PROCESSO OFENSIVO; SECTOR INTERMÉDIO; PADRÕES DE JOGO; METODOLOGIA OBSERVACIONAL; FUTEBOL; ORGANIZAÇÃO TÁCTICA.. 4.

(5) AGRADECIMENTOS Ao Professor Doutor Júlio Garganta, orientador deste trabalho monográfico6 O conhecimento alargado sobre a temática e a humildade com que se relaciona com as pessoas é de facto extraordinária6 Os seus conselhos são uma fonte de entusiasmo para tentarmos ser MAIS E MELHOR6 É um orgulho ter recebido as suas orientações neste estudo6 Tudo parece tornar-se mais simples aos seus olhos6. Aos meus pais e irmã6 que me proporcionaram tudo o que fosse necessário para concluir este trabalho6 Dou-lhes RAZÃO6 A eles devo TUDO!. À Liliana6 pois reconheço que foi sempre bastante compreensiva e soube ULTRAPASSAR comigo as noites de maior trabalho6. Ao Toni6 que desde o primeiro ao último momento se disponibilizou SEMPRE para ajudar! O seu entusiasmo quando se refere à análise sequencial é cativante e deixa perceber que a sua paixão é mesmo o Futebol6. 5.

(6) 6.

(7) ÍNDICE GERAL AGRADECIMENTOS ................................................................................................................................... 5 ÍNDICE GERAL ............................................................................................................................................ 7 ÍNDICE DE FIGURAS .................................................................................................................................. 8 ÍNDICE DE QUADROS ........................................................................................................................... 9 RESUMO ................................................................................................................................................... 13 1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................................................... 17 1.1 Hipóteses ................................................................................................................................ 22 2. REVISÃO DA LITERATURA .................................................................................................................. 25 2.1 O ‘Jogo’ enquanto sistema multi-variável ........................................................................................ 25 2.2 Sobre a necessidade de partir para a ‘construção’ do Jogo que se quer e definição de princípios de actuação… ............................................................................................................................................ 28 2.3 Entender o Futebol numa perspectiva holística: relação de profunda intimidade entre os quatro momentos de jogo (‘Casamento perfeito’) ............................................................................................. 33 2.4 A posse de bola (princípio colectivo) como imperativo para se chegar a um Processo Ofensivo mais eficaz ............................................................................................................................................ 36 2.5 Princípios/indicadores tácticos específicos de qualidade no Processo Ofensivo ............................ 42 2.5.1 Qualidade na recepção e no passe ......................................................................................... 42 2.5.2 Posicionamento diagonal para passes com segurança........................................................... 43 2.5.3 Construir triângulos e losangos posicionais para criar linhas de passe................................... 44 2.5.4 Criação e aproveitamento de espaços livres ........................................................................... 44 2.5.5 Circulação da bola (em velocidade…) e jogo em ‘campo grande’ ........................................... 45 2.5.6 Variabilidade nas respostas dos jogadores e na utilização dos espaços de jogo.................... 45 2.5.7 Variação do ritmo de jogo ........................................................................................................ 46 2.6 A Organização Ofensiva do sector intermédio: Losango geometria na parte (sector) que está no todo (estrutura) ...................................................................................................................................... 48 3. MATERIAL E MÉTODOS ....................................................................................................................... 57 3.1 O Recurso à Metodologia observacional e proposta conceptual .................................................... 57 3.2 Desenho Observacional e Instrumento de Observação .................................................................. 63 3.3 Observação e registo dos dados ..................................................................................................... 78 3.3.1 Critérios taxonómicos da Metodologia Observacional ............................................................. 78 3.3.2 Procedimentos de observação ................................................................................................ 79 3.3.3 Procedimentos de registo ........................................................................................................ 79 3.3.3.1 Directrizes para o registo das sequências PO ...................................................................... 80 3.3.4 Fase exploratória ..................................................................................................................... 86 3.3.5 Análise da qualidade dos dados .............................................................................................. 86 3.4 Amostra de Observação .................................................................................................................. 89 3.4.1 Justificação da selecção da amostra ....................................................................................... 89 3.4.2 Selecção da Amostra Observacional ....................................................................................... 91 3.5 Análise dos dados ........................................................................................................................... 93 3.5.1 Análise sequencial ................................................................................................................... 93 3.5.2 Procedimento dos dados ......................................................................................................... 94 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................................................. 99 4.1 Análise sequencial........................................................................................................................... 99 4.2.1 Padrões de jogo encontrados para as condutas de Desenvolvimento do Processo Ofensivo (DPO) ............................................................................................................................................. 100 5. CONCLUSÕES .................................................................................................................................... 129 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................................. 133 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................................... 143. 7.

(8) ÍNDICE DE FIGURAS Fig. 1 Losango. Fig. 2 Formação dum losango no meio-campo da equipa do FC Barcelona. Fig. 3 Interacção do processo de análise do jogo com o treino e a performance (Garganta, 1997). Fig. 4 Proposta de Modelo de organização da dinâmica do jogo de futebol. Fig. 5 Desenhos Observacionais em quadrantes definidos (Adaptado Anguera in Barreira, 2006:72. Fig. 6 Momento de início do Processo Ofensivo. Fig. 7 Desenvolvimento do Processo Ofensivo 1. Fig. 8 Desenvolvimento do Processo Ofensivo 2. Fig. 9 Desenvolvimento do Processo Ofensivo 3. Fig. 10 Desenvolvimento do Processo Ofensivo 4. Fig. 11 Desenvolvimento do Processo Ofensivo 5. Fig. 12 Final do Processo Ofensivo. Fig. 13 Losango no meio-campo do FC Barcelona. Fig. 14 Losango no meio-campo do FC Barcelona. Fig. 15 Losango no meio-campo do FC Barcelona. Fig. 16 Padrões prováveis para a conduta DPpmlgcv Fig. 17 Padrões prováveis para a conduta DPplat Fig. 18 Padrões prováveis para a conduta DPplprcv Fig. 19 Padrões prováveis para a conduta DPpllgcv. 8.

(9) ÍNDICE DE QUADROS Quadro 4.1 Critério 1 do Formato de campo: Início do Processo Ofensivo (IPO) Quadro 4.2 Critério 2 do Formato de campo: Desenvolvimento do Processo Ofensivo Quadro 4.3 Critério 3 do Formato de campo: Final do Processo Ofensivo Quadro 4.4 Critério 4 do Formato de campo: Ritmo de Jogo Quadro 4.5 Critério 5 do Formato de campo: Espacialização do Terreno de Jogo Quadro 4.6 Critério 6 do Formato de campo: Centro do Jogo Quadro 4.7 O instrumento de observação: combinação formato de campo e sistema de categorias Quadro 4.8 Sessão de Observação para a análise da qualidade dos dados pela concordância intra-observador Quadro 4.9 Análise da qualidade de dados: resultados da fiabilidade para cada um dos critérios de Formato de Campo (FC) Quadro 4.10 Sentido prospectivo e retrospectivo utilizado para a análise sequencial de retardos, tendo como condutas critério o catálogo de condutas de desenvolvimento e final do Processo Ofensivo. Quadro 5.1 Padrão de conduta ou “max lag” definitivo para a conduta critério de Desenvolvimento do Processo Ofensivo por acção individual, tendo como condutas objecto as condutas comportamentais (IPO, DPO, FPO); as condutas estruturais (ETJ) e as contextuais (CJ e RJ). Quadro 5.2 Padrão de conduta ou “max lag” definitivo para a conduta critério de Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe curto em profundidade, tendo como condutas objecto as condutas comportamentais (IPO, DPO, FPO); as condutas estruturais (ETJ) e as contextuais (CJ, RJ). Quadro 5.3 Padrão de conduta ou “max lag” definitivo para a conduta critério de Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe curto em largura, tendo como condutas objecto as condutas comportamentais (IPO, DPO, FPO); as condutas estruturais (ETJ) e as contextuais (CJ, RJ). Quadro 5.4 Padrão de conduta ou “max lag” definitivo para a conduta critério de Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe médio atrasado, tendo como condutas objecto as condutas comportamentais (IPO, DPO, FPO); as condutas estruturais (ETJ) e as contextuais (CJ, RJ). Quadro 5.5 Padrão de conduta ou “max lag” definitivo para a conduta critério de Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe médio em profundidade sem variação de corredor, tendo como condutas objecto as condutas comportamentais (IPO, DPO, FPO); as condutas estruturais (ETJ) e as contextuais (CJ, RJ). Quadro 5.6 Padrão de conduta ou “max lag” definitivo para a conduta critério de Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe médio em profundidade com variação de. 9.

(10) corredor, tendo como condutas objecto as condutas comportamentais (IPO, DPO, FPO); as condutas estruturais (ETJ) e as contextuais (CJ, RJ). Quadro 5.7 Padrão de conduta ou “max lag” definitivo para a conduta critério de Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe médio em largura com variação de corredor, tendo como condutas objecto as condutas comportamentais (IPO, DPO, FPO); as condutas estruturais (ETJ) e as contextuais (CJ, RJ). Quadro 5.8 Padrão de conduta ou “max lag” definitivo para a conduta critério de Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe longo atrasado, tendo como condutas objecto as condutas regulares (IPO, DPO, FPO); as condutas estruturais (ETJ) e as contextuais (CJ, RJ). Quadro 5.9 Padrão de conduta ou “max lag” definitivo para a conduta critério de Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe longo em profundidade sem variação de corredor, tendo como condutas objecto as condutas regulares (IPO, DPO, FPO); as condutas estruturais (ETJ) e as contextuais (CJ, RJ). Quadro 5.10 Padrão de conduta ou “max lag” definitivo para a conduta critério de Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe longo em profundidade com variação de corredor, tendo como condutas objecto as condutas regulares (IPO, DPO, FPO); as condutas estruturais (ETJ) e as contextuais (CJ, RJ). Quadro 5.11 Padrão de conduta ou “max lag” definitivo para a conduta critério de Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe longo em largura com variação de corredor, tendo como condutas objecto as condutas regulares (IPO, DPO, FPO); as condutas estruturais (ETJ) e as contextuais (CJ, RJ). Quadro 5.12 Padrão de conduta ou “max lag” definitivo para a conduta critério de Desenvolvimento do Processo Ofensivo por cruzamento, tendo como condutas objecto as condutas regulares (IPO, DPO, FPO, RJ); as condutas estruturais (ETJ) e as contextuais (CJ).. 10.

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(13) RESUMO O Futebol é um jogo de preponderância táctica que necessita de uma continuada e eficaz resolução das situações de jogo, constrangendo os jogadores a adaptar-se e readaptar-se a novas situações de jogo. Por se tratar duma actividade não-linear, não é possível estabelecer-se um ciclo de comportamento antecipadamente, pois cada situação de jogo tem diversas formas de poder ser resolvida. No entanto, o estudo do fluxo de comportamentos dos jogadores/equipas de Futebol permite um mais ajustado conhecimento do jogo e, sobretudo, dos padrões táctico-técnicos que o configuram que se descobrem e isso permite-nos melhor intervir sobre ele. No presente estudo desenvolveu-se um instrumento de observação ad hoc, no sentido de detectar os padrões de conduta do Processo Ofensivo de equipas que colocavam quatro jogadores organizados em losango no sector intermédio e procurou-se associá-los à eficácia do ataque. Foram codificados 10 jogos que se enquadram numa Filosofia de jogo orientada por um Futebol positivo e de iniciativa, das quais saliento o FC Barcelona de Josep Guardiola. Para o tratamento e análise dos dados recorreu-se ao Software SDIS-GSEQ de Bakeman y Quera, devido à sua especificidade para analisar eventos múltiplos. •. Os resultados permitiram concluir que: durante o Desenvolvimento do. Processo Ofensivo, um contexto de interacção de superioridade numérica, relacionado com um losango no Centro do Jogo, permite um Final do Processo Ofensivo com eficácia; a utilização do passe médio em largura com variação de corredor seguido dum passe médio em profundidade com ou sem variação de corredor, associados a acções individuais activam a eficácia no Final do Processo Ofensivo; a utilização da variação de corredores no decorrer do Desenvolvimento do Processo Ofensivo é indispensável na criação de situações de pré-finalização e de finalização; o Desenvolvimento do Processo Ofensivo por passe curto em largura ou profundidade permite a continuidade do ataque; Finais do Processo Ofensivo com eficácia são activados por zonas do sector ofensivo e acções individuais em ritmo rápido; o Processo Ofensivo termina frequentemente com a recuperação da posse de bola pelo adversário.. Palavras-chave: Futebol, Táctica, Ataque, Análise do Jogo, Análise Sequencial, Observação. 13.

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(17) 1. INTRODUÇÃO. “O objectivo do ser humano: actualizar-se, alcançar o seu máximo potencial” Bruce Lee “Uma mente inteligente é uma mente INQUIETA. Não se sente satisfeita com explicações, com conclusões; nem se trata de una mente que crê, porque crer é outra forma de conclusão” Bruce Lee "Recomeça... se puderes, sem angústia e sem pressa e os passos que deres, nesse caminho duro do futuro, dá-os em liberdade, enquanto não alcances não descanses, de nenhum fruto queiras só metade" Miguel Torga “O Futebol parece-se com o ‘ópio do povo’. É um bom entretenimento comparado com o pão e circo que os políticos oferecem ao povo” J. M. Lillo. É facilmente reconhecido por todos que, em equipas de Futebol de alto rendimento, o único objectivo é vencer. Valoriza-se em grande medida o resultado (produto), menosprezando muitas vezes a forma de o conseguir (processo). Neste contexto, tratando-se dum objectivo, é ao mesmo tempo uma necessidade de sobrevivência. Existem várias formas de jogar e atingir resultados. Por vezes, observase que Treinadores estão tão preocupados com o ganhar e o perder que se esquecem do que é realmente importante: jogar. Ora, para se jogar duma determinada forma é preciso treinar porque o Futebol é algo que se vai construindo. Os Treinadores deverão ter como preocupação comum recolher informação do jogo e perceber como é possível intervir sobre os processos de ensino-aprendizagem e de treino para os tornar mais eficazes/eficientes. Neste sentido, será importante treinar para jogar e jogar para treinar. Van Gaal (citado por Pacheco, 2005) refere mesmo que “Treinar é mais importante que jogar e é nos treinos que se forma a base de todo o jogo”. A análise do fenómeno do Futebol pode ser ambígua porque este tem vários sentidos, múltiplas Filosofias e Concepções, permitindo interpretações diversas e, por isso, está dependente do conhecimento que temos dele. Refira-. 17.

(18) se portanto a imprescindibilidade de investigar o Futebol, tornando-o objecto de estudo. O Futebol apresenta uma especificidade, uma essencialidade táctica (Gréhaigne, 1989; Garganta, 1995) porque é nela e através dela que se consubstanciam os comportamentos que ocorrem durante um jogo (Garganta, 1997). Sabe-se que a dimensão táctica ainda é pouco pesquisada face à importância que lhe é atribuída no jogo, como resultado da dificuldade que envolve o seu estudo. Estudar e definir categorias de observação na dimensão táctica, através de análises quantitativas e qualitativas, é realmente uma tarefa de enorme complexidade. Garganta (2008) refere que a consciência de que os constrangimentos tácticos assumem uma importância vital nos Jogos Desportivos (JD), fez com que a partir da segunda metade da década de oitenta, a identificação de padrões tácticos, conseguida com base nos comportamentos patenteados pelos jogadores e pelas equipas, passasse a ocupar a agenda dos investigadores. O estudo do fluxo conductural no Futebol é fundamental, no sentido de ficarmos a conhecer melhor o jogo e tornar possível uma intervenção mais direccionada no processo de treino. O Futebol de Alto Rendimento exige cada vez mais dos jogadores e mais propriamente das equipas, acções táctico-técnicas e procedimentos colectivos que induzam o desequilíbrio defensivo na organização do adversário, na perspectiva de contrariar o crescente equilíbrio entre as equipas. Os Treinadores têm a missão de criar imagens e conhecimentos específicos para que os jogadores saibam o que fazer, quando fazer, como fazer e porquê fazer, apresentando uma determinada ordem e, dentro dela, possam expressar a sua criatividade em prol do colectivo. O objectivo primário do Futebol é marcar mais golos que o adversário e isso só será possível tendo a posse de bola. Deve referir-se contudo que as regras não atribuem golos apenas pelo tempo de posse de bola ou pelo número de passes realizados. A equipa que tem a posse de bola tem a iniciativa. do. jogo,. podendo. variar. entre. jogo. interior/exterior. ou. curto/médio/longo, circular a bola a diferentes velocidades, jogar em amplitude/profundidade, com o objectivo de criar instabilidade e surpresa no adversário e no final marcar golo(s). 18.

(19) No Futebol actual, a ideia de que é preciso ‘encaixar’ no adversário cria dificuldades acrescidas, sobrevalorizando os adversários em detrimento da própria equipa e concedendo primazia à transpiração em detrimento da inspiração (Galeano, 2006). Os Treinadores que se preocupam em desenvolver uma boa dinâmica com base nos princípios de jogo e coloquem novos desafios aos jogadores/equipa no que diz respeito à utilização de variantes estruturais no decorrer do jogo poderão, de alguma forma, criar mais problemas aos seus adversários. Citando o exemplo dum Treinador de referência, podemos referir que José Mourinho tem variado entre a utilização de duas estruturas: o 1-4-3-3 e o 1-4-4-2, sobressaindo a forma como se organizam no sector intermédio, isto é, triângulo ou losango, respectivamente. A partir dos anos 70 começou a falar-se de ‘Futebol do centrocampismo’ (Lobo, 2007:148), começando a ouvir-se os treinadores assumir que os jogos se ganham no meio-campo. No Futebol actual, percebe-se que os treinadores têm necessidade de ocupar e dominar o meio-campo para neutralizar o adversário no espaço onde se começam a congeminar, de forma mais precisa, as jogadas de ataque (Lobo, 2007:148). Pensa-se que a densidade de jogadores na zona intermédia está relacionada com o controlo e domínio do jogo. Prieto Castro (2009), a respeito dum jogo entre Real Madrid CF e FC Barcelona mencionava que a equipa que conseguisse dominar a zona central do terreno de jogo seria capaz de impor o seu estilo de jogo, um baseado na recuperação e no contra-ataque e outro fundamentado em inúmeras combinações e na velocidade de circulação da bola. Referia-se ainda ao facto das características táctico-técnicas de cada um dos médios influenciarem directamente na ideia e na Filosofia de jogo que propõem os respectivos Treinadores. A organização posicional em losango resulta do recuo dum dos avançados do 1-4-3-3. No plano geométrico, o losango é um bom habitat para um meio-campo pois toca em largura os seus vários pontos e dá vida a cada espaço de relva (Lobo, 2007), permitindo uma ocupação mais racional no meiocampo e mais segurança no momento ofensivo. A organização do sector intermédio decorre de critérios pré-estabelecidos e dum processo de ensino19.

(20) aprendizagem, relacionado com regularidades que se pretendem adquirir em sintonia com o Modelo de Jogo do Treinador. Num desporto de equipa como é o caso do Futebol, o estudo das suas interacções (dinâmica) é uma tarefa árdua e extremamente complexa devido à abundância de figuras interactivas que se apresentam nas diferentes posições relativas de ambas equipas e à fugacidade que caracteriza esta modalidade desportiva. Esta dificuldade é resultado da subjectividade normalmente associada ao ‘jogo de opiniões’ em relação aos indicadores desencadeadores do sucesso que se produz no Futebol. Urge assim falar na metodologia observacional e nas técnicas de análise sequencial. enquanto. modelo. de. análise. adequado. ao. estudo. dos. comportamentos, condutas e relações que se estabelecem num jogo de Futebol. Esta análise deverá basear-se na utilização de um instrumento de observação que permita canalizar toda esta ampla casuística de potenciais relações interactivas (Villaseñor, López, Anguera, 2005). Procederemos à definição duma ferramenta observacional que permita uma análise dos Processos Ofensivos1 dentro da organização de jogo destas equipas e em confronto com os adversários. As competições são a fonte privilegiada de informação útil para o treino (Cramer, 1987, citado por Garganta, 1997). É importante recorrer-se à observação/análise das equipas mais representativas de um nível superior de rendimento (Castelo, 1992), para que os dados recolhidos sejam relevantes. Seleccionaram-se. algumas. equipas. para. a. realização. das. observações/análises. A escolha está relacionada com uma Filosofia de Jogo com iniciativa e na qual ter a posse de bola é ponto fulcral no desenvolvimento do jogo. Sendo assim seleccionamos o AFC Ajax de Louis Van Gaal  1-3-4-3; a Selecção Espanhola de Louis Aragonês  1-4-4-2; o FC Barcelona de Josep Guardiola  1-4-3-3 1-4-4-2 e a Selecção Argentina orientado por Marcelo Bielsa  1-3-4-3 porque, como diria Galeano (2006), eu também sou um “mendigo do bom futebol”. Este trabalho está indubitavelmente muito associado ao modelo de pensamento e paradigma de Josep Guardiola, actual Treinador do F.C.. 1. O conceito de Processo Ofensivo é abordado no ponto 3.1 do capítulo 3, referente ao Material e Métodos. 20.

(21) Barcelona, ‘cérebro’ do mítico Dream Team do FC Barcelona e considerado por muitos como o médio-centro com melhor interpretação de jogo do mundo, herdeiro da Filosofia de Johan Cruyff e do Método académico e sistemático de Louis Van Gaal. Atentemos no seu paradigma, o seu pensamento sobre o jogo quando abraçou a carreira de treinador: “Jogo de posição, abrir o campo pelos corredores laterais, assumir riscos, jogar ao ataque (6). O. objectivo. deste. trabalho. monográfico. passa. por. estudar. o. desempenho ofensivo do sector intermédio através da análise sequencial, no sentido de identificar padrões de comportamento (regularidades) que os jogadores/equipas adoptam em função dum determinado contexto (interacção no Centro de Jogo) e dum espaço, para provocar ruptura ou desorganização no equilíbrio defensivo do adversário e conduzam a um Processo Ofensivo eficaz. Uma Monografia é um trabalho académico original sobre um tema/problema que se pretende bem determinado e delimitado. A pertinência deste estudo está relacionada com o conhecimento do jogo e com a realidade prática do Futebol. Por outro lado, o conhecimento adquirido acerca da Metodologia Observacional com base na análise sequencial será de extrema utilidade no futuro. Considero um grande desafio e obviamente uma responsabilidade, mas acredito piamente que os resultados proporcionar-meão satisfação aquando da sua apresentação à comunidade científica.. 21.

(22) 1.1 Hipóteses Depois de se definir os objectivos do estudo procedeu-se à formulação das seguintes hipóteses:. Hipótese 1 - Existem comportamentos no Processo Ofensivo que, devido à sua elevada regularidade e probabilidade, permitem afirmar que ocorrem para além do acaso.. Hipótese 2 - A criação de superioridade numérica no centro de jogo (zona intermédia), durante o Desenvolvimento do Processo Ofensivo, relaciona-se com um Final com eficácia.. Hipótese 3 - A combinação do passe em largura com variação de corredor e do passe médio em profundidade (com ou sem variação de corredor) durante o Desenvolvimento do Processo Ofensivo no sector intermédio, tem como consequência um ataque com eficácia.. Hipótese 4 - A utilização do passe curto (em largura e profundidade) e a variação de corredores de jogo durante o Desenvolvimento do Processo Ofensivo no sector intermédio e ofensivo potenciam a eficácia no Processo Ofensivo.. 22.

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(25) 2. REVISÃO DA LITERATURA 2.1 O ‘Jogo’ de Futebol enquanto sistema2 multi-variável. “O Futebol é sempre o mesmo, aos olhos da sociedade é que mudou” Jorge Valdano “Para aprender necessitamos em primeiro lugar de compreender o que queremos aprender” J. A. Marina. O Futebol tem a capacidade de nos colocar em contacto, como na dança, com algo do nosso corpo que podemos chamar a pré-história dos nossos movimentos (Dimitrijevic, 2007). É proibido – se és jogador de campo – todo o uso da mão e do braço, ou seja, os órgãos com que habitualmente se realizam todos os actos e nos quais se alcança o maior grau de precisão, de rendimento e de destreza. Há de alguma forma uma necessidade absoluta dum retorno às funções arcaicas, contrariando aquilo que é natural. O Futebol está sujeito à mesma lógica do que vai acontecendo na sociedade. Valdano (2007) refere que uma equipa é uma sociedade em miniatura que ensina muito sobre a condição humana, constituindo-se como um laboratório para analisar os comportamentos do ser humano. Uma equipa de Futebol pode ser definida como um sistema social, caracterizado pela interrelação dos seus sujeitos integrantes e destes com o meio ambiente. Valdano (2007) lembra a presença no Futebol de três maravilhas humanas: “a memória (dos nossos ídolos, das pessoas que nos levaram ao estádio pela primeira vez, da nossa infância vinculada ao jogo), a emoção (que depende da incerteza dos resultados, do sentimento de pertença que provoca a nossa equipa e da beleza) e os sonhos (pela capacidade que este desporto tem de renovar as ilusões a cada semana).” O Futebol constitui-se como um desporto de cooperação-oposição, entre dois sistemas complexos, que tentam permanecer em equilíbrio e desequilibrar o adversário. Seirul-lo (2009) afirma que o Futebol está numa A Teoria dos Sistemas tem como principal objectivo: o esforço humano para prever o futuro. Segundo Bertalanffy (1975), sistema é um conjunto de unidades reciprocamente relacionadas, de onde decorrem dois conceitos: o de objectivo e o de totalidade. Estes dois conceitos retratam duas características básicas de um sistema. 2. 25.

(26) sub-zona limite entre a ordem e o caos3 dissipativo, portanto pertencente ao âmbito da complexidade, de tal modo que a informação e interacções são as suas emergências mais notáveis. Segundo o mesmo autor, a informação refere um nível próximo da zona da ordem e outro produtor de inesperados e às vezes desconhecidos, padrões informacionais próximos do caos. É óbvio que a ambição de qualquer Treinador é tentar ser o ‘Deus de Laplace’ e conseguir prever com uma certeza infinitesimal a evolução do jogo, controlar esse sistema multivariável. Neste contexto, é relevante fazer a seguinte pergunta retórica: será que alguém consegue indicar previamente, com exactidão, o produto de uma quantidade inumerável de interacções, se estas estão em contínuo dinamismo? Poder-se-á pensar que o Treinador talvez prefira substituir a variabilidade pela estereotipia na expectativa de que as atitudes dos seus jogadores sejam previstas e articuladas com a máxima certeza, de que as propriedades topológicas do movimento que eles manifestam sejam as menos variáveis. Ele deve, no entanto, aperceber-se que a máxima estereotipia, correspondendo à mínima variabilidade, corresponde, também, à mínima adaptabilidade (Cunha e Silva, 1995). Galeano (2006) menciona que, por muito que o Futebol se mecanize, por muito que se torne previsível e enfadonho, o jogo terá sempre lugar para jogadores como o Cristiano Ronaldo, o Deco, o Eto. Leitão (2004) acrescenta que o jogo de Futebol deixaria de ser jogo se não houvesse a variável imprevisibilidade e todas as outras variáveis fossem controladas. Neste caso, a criatividade terá sempre o seu lugar reservado num campo de Futebol, pois o detalhe é, realmente, o que confere espectacularidade ao jogo. Na impossibilidade de abordar o Futebol na sua total expressão, é importante perceber de que forma a entrada por uma ‘porta principal’ de acesso ao conhecimento do fenómeno do jogo, pode contribuir para clarificar o seu entendimento e viabilizar uma intervenção mais eficaz (Garganta, 1997). Neste sentido, a Análise do Jogo pode ajudar a perceber um pouco do que. 3 O Caos é a teoria que explica o funcionamento de sistemas dinâmicos não lineares (complexos). Trata-se do chamado caos determinístico, pois existe uma equação (atractor) que define o seu comportamento. O caos pode ser definido como um processo complexo qualitativo e não-linear – caracterizado pela imprevisibilidade de comportamento e pela grande sensibilidade a pequenas variações nas condições iniciais de um sistema dinâmico (Gleick, 1989).. 26.

(27) ‘esconde’ o Futebol, entendendo o que acontece, onde, como, quando e porquê e identificando padrões e sistemas complexos no jogo. Ao retirar informação pertinente dos jogos pode tornar-se os processos de. ensino-aprendizagem. mais. específicos.. A. sistematização. destas. informações permite configurar modelos da actividade de jogo (Godik & Popov, 1993, citado por Garganta, 1997), que possibilitam, não só construir métodos de treino mais eficazes (Franks e tal., 1983, Talaga, 1985, citados por Garganta, 1997) e estratégias de trabalho mais profícuas (Olsen, 1988, citado por Garganta, 1997), mas também indiciar tendências evolutivas (Franks & Goodman, 1986, citados por Garganta, 1997). A imprevisibilidade e aleatoriedade presentes no Futebol colocam aos jogadores uma exigência de avaliação, antecipação e adaptação constantes e isto treina-se. Aliás, o Futebol é uma escola de superação pessoal que ensina a procurar a recompensa: o jogador treina para dar uma melhor versão de si mesmo no dia do jogo porque a prática ajuda a assimilar extremos tão simples como ganhar e perder (Valdano, 2007). Neste campo deve referir-se que as acções específicas do Futebol só fazem sentido quando executadas em ambientes contextualizados de jogo. Em termos globais, a defesa tem ganho uma evidente preponderância em relação ao ataque e como consequência disso é cada vez mais relevante estudar o Processo Ofensivo para perceber como é que este pode tornar-se mais objectivo, através da criação de oportunidades de finalização e concretização das mesmas.. 27.

(28) 2.2 Sobre a necessidade de partir para a ‘construção’ do Jogo que se quer e definição de princípios de actuação'. “A bola é redonda em todos os sítios, mas em alguns países é tratada melhor. O Futebol holandês é uma escola ambulante à qual se deve roubar exemplos” Jorge Valdano “Este Barça é de Guardiola porque foi quem marcou o caminho, mas é de todos porque foi o primeiro a insistir que nada é mais importante que nada. Guardiola foi fundamental na mudança de mentalidade” “Partimos de uma ideia comum. Crescemos dum conceito comum. Esta equipa, acima de tudo, é uma ideia. Defendemos uma maneira de jogar e acreditamos nela desde o início” Andrés Iniesta "O Treinador tem de ser um guia, um condutor que põe a andar uma ideia” Jorge Valdano. A prática do Futebol ao mais alto nível de rendimento, impõe aos jogadores e às equipas uma forte disciplina táctica, aliada a uma sólida automatização das habilidades. Por outro lado reclama comportamentos criativos, que, através da surpresa, do inesperado, provoquem rupturas na lógica organizativa do adversário (Garganta, 1997). A identificação e o registo de variáveis de qualidade através da análise dos comportamentos dos jogadores em contexto de jogo são imprescindíveis para a evolução do Futebol. Neste sentido, refira-se que a pertinência do estudo dos problemas inerentes ao jogo e ao jogador deverá situar-se mais ao nível da interacção dos factores do que em cada um deles per se (Garganta & Gréhaigne, 1999). A abordagem sistémica do jogo de Futebol constitui uma importante referência a considerar nos processos de ensino e treino no Futebol, na medida em que oferece a possibilidade de identificar e avaliar acções/sequências de jogo que, pela sua frequente ocorrência, ou por induzirem desequilíbrios (ofensivos e defensivos) importantes, se afiguram representativos da dinâmica das partidas (Garganta & Gréhaigne, 1999). Garganta (1998) refere que as análises de jogo focando os comportamentos da equipa e jogadores, através da identificação das. 28.

(29) regularidades e variações das acções de jogo, bem como a eficácia e eficiência ofensiva/defensiva são mais profícuas em relação à recolha de dados quantitativos relativos a acções terminais não contextualizadas. Estas análises devem tentar assinalar os padrões de comportamento mais eficazes e representativos dos diferentes momentos/fases de jogo, com base na identidade da equipa e de acordo com o seu Modelo de Organização preconizado (regularidades). No Futebol, a ideia central, o ponto de partida é a Concepção. Tal como defende Cruyff (2002) é preciso ter uma cultura própria, um ideal, que tem a ver com saber o que queres jogar e com quem queres fazê-lo. O Treinador deve ter um corpo de ideias concretas acerca de como quer que o jogo seja praticado. De seguida torna-se importante elaborar e conceber Modelos, construções simbólicas com a ajuda das quais se pode definir projectos de acção, avaliar os seus processos e a sua eficácia (Le Moigne, 1990). Por isso, o Modelo de Jogo orientador é imperial no sentido de criar um contexto comum de significados, conhecimentos partilhados, normas de conduta e proporcionar aos seus membros uma identidade colectiva e um âmbito claramente delimitado que estes sentem como seu (Fritjof Capra, 2009). A identificação com o Projecto de Jogo é decisiva para que esse jogo possa chegar a ser profundamente significativo para a totalidade do conjunto e assentar num corpo particular de conhecimento (Cano, 2009). Morcillo (2009), citando Cano (2004), revela que o conhecimento não é uma meta, não é um espaço onde chegar, não é um porto onde atracar, mas sim uma espiral onde se ingressa, impulsionado por uma ignorância assumida, que se manifesta uma e outra vez, propulsionado pelo motor da preocupação. Neste contexto, qualquer grupo orientado por um objectivo comum inicia o seu processo de transformação para a equipa ao nível das suas metas, tarefas, responsabilidades, deveres e direitos (Noguera, 2005). Messi (2009) em entrevista ao ‘El Mundo Desportivo’ a propósito da Liga dos Campeões mencionava que “6o que mais importa é que façamos o nosso Futebol, que cheguemos à final com a nossa Filosofia de Futebol6” Deve ocorrer uma clara identificação entre as ideias do Treinador e as características dos jogadores que dispõe. Por exemplo, um Treinador pode entender que a ocupação da zona intermediária se torna mais racional através 29.

(30) dum meio-campo organizado em losango, mas depois não ter jogadores que possuam características para esta forma de organização. Portanto, a partir do momento em que o Modelo está bem definido, o Treinador tenta operacionalizar o Projecto de Jogo num contexto de crescimento (treino/competição), modelando as relações e interacções dos jogadores duma forma sempre contextualizada pelo jogar que se pretende. Carvalhal (2001) refere que o guião de todo o processo de treino deverá ser o Modelo de Jogo Adoptado, estando este dependente de um sistema de relações que vai articular uma determinada forma de jogar, subjacente a uma estrutura específica. As tomadas de decisão dos jogadores não podem acontecer de forma casual, mas baseadas nos Princípios orientadores do Modelo que, em conjunto com determinadas regras de acção, farão com que a equipa actue com uma lógica interna de funcionamento. Representam a fonte de acção e definem as propriedades invariáveis sobre as quais se realizará a estrutura fundamental de desenvolvimento dos acontecimentos (Bayer, 1986). Um Princípio de Jogo é o início de um comportamento que o Treinador pretende que a equipa assuma em termos colectivos bem como os jogadores em termos individuais (Guilherme Oliveira, 2006). É fundamental definir os Princípios de Jogo que balizem os comportamentos colectivos, visto que o jogo pelo seu carácter imprevisível não permite acções planeadas na sua plenitude, pois vai sendo construído conforme as respostas que os jogadores vão oferecendo pontualmente naquelas situações. Estas respostas surgem da interacção dos jogadores com a equipa, com o adversário, com a posição da bola e de muitas outras variáveis. Os comportamentos exteriorizados pelos futebolistas durante o jogo traduzem, em grande parte, o resultado das adaptações provocadas pelo processo de treino (Garganta, 1997). Neste campo, o Treinador tem a responsabilidade de operacionalizar os Princípios tácticos de interacção, desenvolvendo regularidades na desordem do jogo e solidez à dinâmica da equipa e avaliar constantemente se o jogo corresponde ao que foi idealizado. O processo de treino tem como objectivo o desenvolvimento de respostas às exigências desportivas e sua aplicação na competição (Marques, 1983 e Lehnert, 1986, citado por Leitão, 2004). Amieiro (2005) refere que 30.

(31) “treinar é fabricar o jogar que se pretende”. É por esta razão que o Futebol é considerado um fenómeno construído (Frade, 2002 citado por Amieiro, 2004). No treino desenvolve-se a familiaridade (intimidade) nas relações que se estabelecem entre os jogadores e a continuidade destas interacções ajuda-os a reconhecer as respostas mais adequadas ao contexto, através da cumplicidade comportamental que se vai adquirindo. O líder de todo o processo deve ser dominador táctico do jogo (ao nível do conhecimento e cultura táctica) e ter inteligência emocional para gerir os problemas que a equipa vai apresentando, exercitando e valorizando mais uns Princípios de Jogo num determinado momento em detrimento doutros. É importante que se seleccionem exercícios que, pela sua estrutura e funcionalidade, promovam de forma não consciente comportamentos e conhecimentos adequados ao pretendido, em consonância com os Princípios do Modelo de Jogo do Treinador. Durante a sua realização, o Treinador deve funcionar como catalisador positivo dos comportamentos desejados, associando-lhes emoções positivas e/ou. marcadores. somáticos. positivos. e. inibindo. os. comportamentos. inadequados (Oliveira, 2004), promovendo uma descoberta guiada aos jogadores. A automatização das condutas apenas acontece através duma repetição intencional dos gestos correctos (Armental, 2004). Vamos supor um exemplo apresentado por Oliveira (2004): uma equipa cuja disposição dos jogadores do seu sector do meio-campo é em losango. O Treinador propõe um exercício de posse/circulação da bola entre duas equipas de quatro jogadores, com o objectivo de fazer chegar a um quinto jogador. Se a disposição dos jogadores é em losango, as adaptações, os comportamentos e as imagens mentais/conhecimentos criados estão relacionados com o pretendido. Pelo contrário se a disposição dos jogadores fosse em quadrado isso já não se verificava. Através dos dados recolhidos no jogo, o Treinador faz uma avaliação constante dos comportamentos e interacções que necessitam de ser melhoradas e direcciona a atenção dos jogadores para o que se pretende potenciar no treino/competição. A impossibilidade de identificar a totalidade dos condicionalismos e de constrangimentos fundamentais que induzem alterações importantes no 31.

(32) decurso dos acontecimentos (Garganta, 1997), está relacionada com uma ‘irregularidade regular’, uma ‘imprevisibilidade previsível’ e uma ‘desordem ordenada’ que se manifesta no fenómeno do Futebol. A evolução positiva nos meios de análise tem permitido melhorar: i) o conhecimento da organização do jogo e dos factores que concorrem para o sucesso desportivo; ii) o planeamento e a organização do treino, tornando os seus conteúdos mais objectivos e específicos; e iii) a regulação da aprendizagem, do treino e da competição (Garganta, 1998).. 32.

(33) 2.3 Entender o Futebol numa perspectiva holística: relação de profunda intimidade entre os quatro momentos de jogo (‘Casamento perfeito’). “É sabido que a água (H2O) é um meio essencial para apagar o fogo, no entanto, se separarmos as suas componentes, hidrogénio e oxigénio, qualquer uma destas ao invés de apagar o fogo, incandesce-o ainda mais” Karl Popper “Não podes tapar um olho e jogar só uma coisa: Defender ou Atacar!” J. M. Lillo “Temos ainda que caminhar bastante no entendimento, na sistematização destas coisas, no sentido de perceber as suas conexões e de entender o Jogo como um fluxo contínuo” Júlio Garganta. O Futebol tem, na sua essência, quatro momentos que estão presentes em qualquer partida que seja disputada: •. Momento de Organização Defensiva;. •. Momento de Transição defesa-ataque;. •. Momento de Organização ofensiva;. •. Momento de Transição ataque-defesa.. A natureza complexa e não-linear do jogo não permite que seja prevista a ordem em que esses quatro momentos irão ocorrer, não se conseguindo antever uma linha de progressão única, pois esta vai sendo desenhada de acordo com as respostas colectivas dos jogadores e das equipas aos estímulos do jogo. Chamam-se momentos (e não fases) pelo facto da ordem de apresentação ser arbitrária e não sequencial (Oliveira, 2004). Os diversos momentos do jogo (ataque, defesa, transição para ataque e transição para defesa) não podem ser vistos como estanques em si mesmos, isto é, eles dependem-se mutuamente e na construção dos Princípios de cada um deles temos de ter em conta a ligação com os restantes sob pena de haver uma desarticulação comprometedora da qualidade do jogo” (Frade, 2004a, in Campos, 2008). No Futebol é preciso entender o Processo Ofensivo como o momento em que a equipa tem a posse da bola e o Processo Defensivo como o momento em que a posse de bola é do adversário. A Transição ataque-defesa 33.

(34) corresponde ao momento de perda da bola e a Transição defesa-ataque corresponde ao momento de ganho da posse de bola. Estes processos estão intrinsecamente tão interligados que seria impensável tanto analisá-los como treiná-los de forma isolada. O. momento. de. Organização. Defensiva. caracteriza-se. pelos. comportamentos assumidos pela equipa quando não tem a posse da bola com o objectivo de se organizar de forma a impedir a equipa adversária de preparar, criar situações de golo e de marcar golo (Oliveira, 2004). A recuperação da posse de bola é uma tarefa que pode tornar-se mais ou menos complicada dependendo do nível de operacionalização nos Princípios Defensivos de jogo, ao nível organizacional, operacional e estrutural. E está também ligada ao jogo posicional do adversário, à sua capacidade de circular a bola e de progredir em direcção ao campo e baliza do adversário. Segundo Amieiro (2005), a Organização Defensiva só conseguirá ser verdadeiramente colectiva se as acções táctico-técnicas realizadas por cada um dos onze jogadores forem perspectivadas em função de uma ideia comum, respeitando um referencial colectivo, em que as tarefas individuais dos jogadores se relacionam e regulam entre si. O autor ainda afirma que apenas assim o ‘todo’ (equipa que defende) conseguirá ser maior que a soma das partes que o constituem (comportamentos táctico-técnicos de cada jogador). Frade (2002) afirma que para uma equipa atacar com muitos jogadores sem tornar-se desequilibrada deve “dar particular atenção aos timings de transição”. Para se treinar as Transições Defensivas e Ofensivas são necessários Princípios de Jogo bem estabelecidos. O momento de Transição ataque-defesa é caracterizado pelos comportamentos que se devem assumir durante os segundos após se perder a posse de bola (Oliveira, 2004). Ao perder a bola, deve-se definir referências para pressionar o portador da bola rapidamente, reorganizar-se em linhas mais recuadas ou coordenar as duas respostas numa análise rápida da situação. Portanto, no momento da perda da bola, a equipa passa por um período de desequilíbrio, na procura incessante de novo equilíbrio. O momento de Transição defesa-ataque é caracterizado pelos comportamentos que se devem ter durante os segundos imediatos ao ganharse a posse de bola. Quando recupera a bola, a equipa deve saber se é o 34.

(35) momento de contra-atacar, tirar a bola da zona de pressão ou alternar entre ambos de acordo com o comportamento do adversário. Numa situação de contra-ataque, a equipa que recupera a posse de bola tenta aproveitar o facto do adversário ainda não ter conseguido o equilíbrio defensivo. O. momento. de. Organização. Ofensiva. é. caracterizado. pelos. comportamentos que a equipa assume aquando da posse de bola com o objectivo de preparar e criar situações ofensivas de forma a marcar golo. Uma equipa que tem a posse de bola procura organizar-se para ter equilíbrio ofensivo, na tentativa de destabilizar o equilíbrio defensivo do adversário. Sabe-se que o Futebol é, dentro dos Jogos Desportivos Colectivos, aquele que tem menor índice de concretização/finalização dos ataques. Bate (1988, in Laranjeira, 2009) considera que as equipas que tiverem maior posse de bola, terão maiores hipóteses de aumentar o número de entradas no último terço de terreno e assim obter situações de marcação de golo e a diminuição do número de entradas na zona defensiva por parte da equipa adversária. Cruyff (2009) conta que a equipa do FC Barcelona, pela sua maneira de jogar, corre menos do que parece porque os jogadores se divertem com a bola, fazendo com que os adversários sejam obrigados a correr atrás dela. O mesmo autor refere-se ao estilo ofensivo desta equipa, caracterizando-o pelo “toque, a posição, o meinho6”. O autor sempre defendeu que é possível ganhar jogando bonito, dando espectáculo e por isso quando se joga bem e se ganha, tudo custa menos. Acrescenta dizendo que o ponto de partida é que a equipa mande em campo, que tenha a iniciativa, que tente atacar sempre – “atacar bem para defender melhor” (Cruyff, 2009), garantindo que se a equipa em posse de bola fizer bem os movimentos ofensivos defenderá melhor. Quando a equipa joga bem está mais perto de marcar golos e ter resultados positivos. Fernandez (2003, citado por Laranjeira, 2009) expõe que a Organização Ofensiva de uma equipa deve englobar um conjunto de acções relacionadas com o equilíbrio defensivo, com o qual se procura que a equipa esteja preparada e organizada perante uma perda de bola, ou seja, que a equipa antecipe estes momentos.. 35.

(36) 2.4 A posse de bola (princípio colectivo) como imperativo para se chegar a um Processo Ofensivo mais eficaz “A posse de bola é um objectivo parcial do jogo” “Desde que colocaram as balizas no campo de futebol, vence o que consegue meter a bola lá dentro e não o que mais a tem” J. M. Lillo “Também o futebol foi atacado pela necessidade de eficácia e há quem se atreve a perguntar para que serve jogar bem. É tentador contar que um dia ousaram perguntar a Borges para que serve a poesia e este contestou com mais perguntas: Para que serve um amanhecer? Para que servem as carícias? Para que serve o odor do café? Cada pergunta soava como uma sentença: serve para o prazer, para a emoção, para viver” “Toda a equipa que trata bem a bola, trata bem o espectador” Jorge Valdano. A elevação do jogo a objecto de estudo constitui um imperativo, porquanto o conhecimento da sua lógica e dos seus Princípios tem implicações importantes nos planos de ensino, treino e controlo da prestação dos jogadores e das equipas (Garganta & Gréhaigne, 1999). A planificação conceptual da Organização da equipa estabelecida a partir de um determinado Modelo de Jogo, deverá fundamentar-se na base de um sentido unitário que é expresso pela seguinte noção objectiva: a posse ou não da bola Correia (2003, citado por Laranjeira, 2009). No Futebol, tal como nos outros Jogos Desportivos Colectivos (JDC), face a situações de oposição dos adversários, os jogadores devem coordenar as acções com a finalidade de recuperar, conservar e fazer progredir o móbil de jogo (bola), tendo como objectivo criar situações de finalização e marcar golo (Gréhaigne & Guillon, 1992, citado por Garganta & Gréhaigne, 1999). Um dos grandes problemas do jogo de Futebol consiste em conseguir oportunidades de finalização (Castelo, 1992) e, quando concede ênfase ao Processo Ofensivo, estamos a retirar do jogo partes do mesmo (momentos e princípios), decompondo-o e articulando-o em acções também elas complexas, não no sentido de o partir, mas sim de privilegiar as relações e os hábitos (Carvalhal, 2001).. 36.

(37) Gréhaigne. (1989). sustenta. que. é. possível. caracterizar. os. traços/comportamentos determinantes e as situações desencadeantes dos momentos de ruptura produzida no sistema ataque-defesa aquando da marcação de um golo. Para se estudar esses momentos chave, é necessário analisar o Processo Ofensivo que se inicia quando a equipa entra em posse de bola e, sem infringir as leis de jogo, através de acções individuais e colectivas, criar situações de finalização para obter golo (Queiroz, 1983). Garganta (1997) defende que uma equipa se encontra em posse de bola, quando qualquer um dos seus jogadores respeita, pelo menos, uma das seguintes situações: a) realiza pelo menos três contactos consecutivos com a bola; b) executa um passe positivo (permite manter a posse de bola); c) realiza um remate (finalização). Num jogo de Futebol, o objectivo principal é marcar mais golos que o adversário e só será possível se essa equipa encontrar soluções para a resolução prática dos problemas que se lhe apresentam durante a competição. Sabe-se que apenas 1% dos ataques terminam com a obtenção de golo (Dufour, 1993). A necessidade imperial de tornar o Processo Ofensivo mais objectivo e concretizador, conduzindo à criação de um maior número de oportunidades de golo, tem sido uma preocupação de todos aqueles que pretendem ver aumentada a qualidade e espectacularidade deste JDC (Luhtanen, 1993). Estes. factos. justificam. que. a. procura. de. traços. e. de. variações. comportamentais, individuais e colectivas, tenha sido maioritariamente dirigida para as acções ofensivas (Luhtanen, 1993). Nesta procura incessante da eficácia, é indispensável que os jogadores conheçam os Princípios gerais que regem as suas condutas no ataque: assegurar e conservar a posse de bola, progredir e atacar de forma permanente a baliza adversária e concretizar em golo os ataques (Antón, 2003). Observamos com muita frequência a inexistência duma relação directa entre as equipas com mais posse de bola e os melhores resultados desportivos. No entanto, a equipa que tem a posse da bola tem também a iniciativa, sendo condição ‘sine qua non’ para poder ganhar um jogo. 37.

(38) No Processo Ofensivo é preciso conservar e proteger a posse da bola, tanto desde uma perspectiva individual – que se traduz na qualidade técnicotáctica de controlo da bola, na sua protecção, na sua condução, no seu drible, no passe, como na qualidade da coordenação colectiva – expressa na prática pela distribuição e organização dos apoios em cada momento, o dinamismo colectivo (Antón, 2003). A posse de bola pode fazer-se em várias zonas do campo, o que, por vezes, impede a tentativa de conseguir golo de forma imediata, obrigando a equipa a levar a bola para zonas mais próximas da baliza adversária. Cruyff (2009) lembra que cada passe, cada movimento, tem de ter um sentido, ou seja, se fazes ‘posse por posse’ e se estás em zona de perigo, mais cedo ou mais tarde um jogador comete um erro e a equipa torna-se vulnerável aos contra-ataques dos adversários. É importante que os jogadores/equipas saibam o que fazer quando têm a bola, pois quanto menos uma equipa perder a bola menos vezes precisa de se organizar para a recuperar. A posse de bola, para além da concretização do objectivo de jogo, permite que as equipas (Castelo, 1994): controlem o ritmo de jogo; surpreendam a equipa adversária através da mudança contínua do centro de jogo; obriguem os adversários a passar por longos períodos sem a posse de bola, levando-os a entrar em crise de raciocínio. Ao longo da história do Futebol, as defesas foram-se reforçando progressivamente (inclusão de maior número de jogadores inseridos na fase defensiva), com o intuito de resistirem a ataques cada vez mais fortes e organizados, tendo como consequência a supremacia da defesa em relação ao ataque. Neste sentido, é sublinhada a necessidade de descobrir automatismos no Processo Ofensivo para surpreender, criar desordem/desequilíbrio e ultrapassar as defesas adversárias. Determinados Modelos de Jogo privilegiam os passes curtos com predominância. para. as. ‘lateralizações’,. outros. passes. longos. e. em. profundidade, e ainda outros combinam estas duas características, passes curtos integrados com acções de ‘desencaixe’, que se tornam selectivamente efectivas consoante a situação ou conjectura do momento do jogo (Dias, 2000, citado por Laranjeira, 2009).. 38.

(39) Na actualidade, o FC Barcelona é um exemplo do Futebol positivo, pela beleza geométrica coloca nos lances ofensivos, que normalmente se traduz em muitos golos. Guardiola, actual Treinador do FC Barcelona, herdeiro da Escola de Cruyff e da Metodologia geométrica de Van Gaal, enquanto jogador era considerado o ‘arquitecto no centro do terreno’, pela forma simples e elegante com que delineava todas as jogadas e tornava o jogo colectivo. Só se pode transmitir aquilo que se sente e Guardiola transmite aos seus jogadores a sua ideia de jogo, falando-lhes de posição, desequilíbrio, circulação, desejo de ganhar, trabalhar para ser melhor. Portanto, para que se possa avaliar correctamente a eficácia do Processo Ofensivo, é importante considerar todas as situações que permitem perceber o nível de produção de jogo ofensivo das equipas e não apenas aqueles que conduzem à obtenção de golo (Garganta, 1997). Um estudo sobre o Mundial de Futebol de 2006 na Alemanha (Bueno, 2006) chegou a conclusão que as zonas de maior pressão e densidade de jogadores correspondem a zona de meio-campo. Cruyff (2002) refere que, no seu tempo, colocava 4 médios que sabiam dominar a bola nesta zona, posicionados em losango. Guardiola aquando da sua passagem pela equipa B do FC Barcelona também utilizou uma estrutura com 4 médios em losango, subindo um dos defesas para integrar a posição de médio-centro. O estudo refere igualmente algumas formas de combater este aspecto no treino, aconselhando a utilizar situações que propiciem uma rápida circulação da bola no centro do terreno e mudanças de orientação do jogo, de forma a combater a pressão dos adversários nestas zonas do campo. Outra das conclusões desse estudo menciona a imprescindibilidade de dominar um amplo repertório de ‘estilos’ de jogo de ataque. Daqui se percebe a imprescindibilidade de estudar e analisar os Métodos de Jogo Ofensivo. Estes evidenciam a forma de organização das acções dos jogadores na fase ofensiva, com o intuito de concretizar um conjunto de Princípios implícitos no Modelo de Jogo da equipa, garantindo a racionalização. do. processo,. desde. a. recuperação. da. bola. até. à. progressão/finalização e/ou manutenção da posse de bola (Garganta, 1997). O referenciado autor apresenta três Métodos de Jogo Ofensivo no seu estudo:. 39.

(40) •. CONTRA-ATAQUE – A bola é recuperada no meio campo defensivo e a equipa adversária apresenta-se avançada no terreno de jogo e desequilibrada defensivamente; utilizam-se preferencialmente passes longos e para a frente; a circulação da bola é realizada mais em profundidade do que em largura, com desmarcações de ruptura; realizam-se passes em número reduzido (igual ou inferior a 5); há uma rápida transição da zona de conquista da bola para a zona de finalização, baixo tempo de realização do ataque, em regra, igual ou inferior a 12’’; o ritmo de jogo é elevado (elevada velocidade de circulação da bola e de jogadores).. •. ATAQUE RÁPIDO – A bola é recuperada no meio campo defensivo ou ofensivo e a equipa adversária apresenta-se equilibrada defensivamente; a circulação da bola é realizada em profundidade e em largura, com passes rápidos, curtos e longos alternados e desmarcações de ruptura; o número máximo de passes realizados não ultrapassa os 7; o tempo de realização do ataque não ultrapassa, em regra, os 18’’; o ritmo de jogo é elevado (elevada velocidade de circulação da bola e dos jogadores).. •. ATAQUE POSICIONAL – A bola é recuperada no meio campo defensivo ou ofensivo e a equipa adversária apresenta-se equilibrada defensivamente; a circulação da bola é realizada mais em largura do que em profundidade, com passes curtos e desmarcações de apoio; número de passes acima dos 7; o tempo de realização do ataque é elevado (superior a 18’’); o ritmo de jogo é lento relativamente aos dois métodos anteriores (menor velocidade de circulação da bola e dos jogadores).. Um Ataque Posicional só pode ser realizado havendo variabilidade de acções e ritmos de intervenção, domínio da bola e a colaboração com os colegas de equipa (Antón, 2003). Através da análise da táctica grupal das equipas participantes no Mundial de futebol de 2006 na Alemanha (Bueno, 2006) veio a constatar-se que estilos de ataque posicionais mais elaborados 40.

(41) também são eficazes para combater os ‘sistemas defensivos’ das melhores selecções do campeonato. O FC Barcelona de Guardiola veio dar força a esta constatação, pois a partir do seu jogo percebeu-se que a posse/circulação da bola com critério também pode ser um meio importante para conseguir entrar nos espaços criados. No contexto actual, parece que muitas equipas se sentem mais confortáveis sem a bola, procurando esperar pelos erros dos adversários. O mesmo estudo (Bueno, 2006) chegou à conclusão que estilos de jogo baseados no contra-ataque e ataques rápidos, que tanto êxito tiveram em edições anteriores dos Mundiais, não tiveram tanta importância como seria esperado.. 41.

(42) 2.5 Princípios/indicadores tácticos específicos de qualidade no Processo Ofensivo. “Há muitas maneiras de jogar futebol, mas quando escolhes um estilo, uma ideia, em que se tenta unir a beleza do jogo com a vitória, sempre que ela acontece, sentes mais prazer, desfrutas e sentes mais felicidade que os demais” Johan Cruyff. Os princípios específicos do jogo colectivo ajudam a precisar mais detalhadamente os comportamentos do jogador e a melhorar a organização racional da equipa. Durante o Processo Ofensivo é necessário o desenvolvimento de determinadas acções que permitam a concretização dos princípios gerais do ataque. A finalidade de qualquer acção ofensiva é provocar efeito surpresa, no sentido de criar e explorar o desequilíbrio induzido no dispositivo adversário.. 2.5.1 Qualidade na recepção e no passe Garganta (1997) observou que o tipo de passe e de ritmo de jogo estão associados à eficácia ofensiva das equipas de futebol. O Futebol é, na sua essência, um ‘jogo de passes’ e nesse sentido, um ponto imperial para que o jogo seja fluído e tenha alguma continuidade é a qualidade na recepção-passe. Neste sentido, a segurança no passe implica que o jogador que passa eleja adequadamente e o jogador que recebe se desmarque oportunamente (Antón, 2003). Cruyff (2009) relata que quando se realiza um passe é importante não colocar em problemas o colega a quem este pretende endereçar a bola. Há, na realidade, jogadores que se destacam pela qualidade técnico-táctica no controlo e passe. Guardiola destaca a velocidade de execução do primeiro controlo (recepção) de Iniesta pelo facto de permitir dar continuidade ao jogo. A missão do Treinador é reforçar a consecução de hábitos, de conteúdos, de condutas, através da tomada de decisões no Processo Ofensivo 42.

(43) e Defensivo e ainda nos momentos de Transição, em função das circunstâncias que se apresentam. Segundo Garganta (1997), o desenvolvimento do comportamento dos jogadores num jogo decorre da relação entre a permanência de invariantes, da manifestação de regularidades e da produção de novidade. No decorrer dum jogo, o observador não consegue aferir sobre o processo interno de tomada de decisão, mas pode tentar perceber o nível de adequação à situação e contexto. Expõe que o processo de interpretação e reflexão sobre o jogo decorre em primeira análise da natureza dos modelos (representações) do observador. Cruyff (2002) subiu várias vezes de escalão etário porque os seus Treinadores. acharam. conveniente. que. houvesse. um. incremento. de. dificuldade/complexidade na sua formação, o que o obrigou a desenvolver o raciocínio táctico, no sentido que conseguisse ver o campo mais rápido e passasse a bola mais cedo, tomando decisões mais eficazes.. 2.5.2 Posicionamento diagonal para passes com segurança Um outro indicador que permite assegurar a qualidade é a realização dos passes em trajectórias diagonais. Os jogadores sem bola devem posicionar-se como receptores em diagonal e entrelinhas em relação ao jogador que tem a bola, já que assim possibilitam que os passes se façam de forma a ir eliminando zonas de configuração espacial adversária ou pelo menos de alguns jogadores (Silva, 2004). Na opinião de Guardiola (2009), quando uma equipa está em fase defensiva é muito mais difícil controlar uma bola em diagonal. Para que haja uma visão mais ampla do terreno de jogo, o jogador deve ainda tentar receber a bola com a posição do corpo de “perfil” em relação ao portador da bola.. 43.

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Fig. 1 Losango
Fig.  2  Formação  dum  LOSANGO  no  meio-campo  da  equipa do FC Barcelona.
Fig. 4 Proposta de Modelo de organização da dinâmica do jogo de futebol.
Fig.  5  Desenhos  Observacionais  em  quadrantes  definidos  (Adaptado Anguera in Barreira, 2006:72)
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Referências

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