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(‘Casamento perfeito’)

O Futebol tem, na sua essência, quatro momentos que estão presentes em qualquer partida que seja disputada:

• Momento de Organização Defensiva; • Momento de Transição defesa-ataque; • Momento de Organização ofensiva; • Momento de Transição ataque-defesa.

A natureza complexa e não-linear do jogo não permite que seja prevista a ordem em que esses quatro momentos irão ocorrer, não se conseguindo antever uma linha de progressão única, pois esta vai sendo desenhada de acordo com as respostas colectivas dos jogadores e das equipas aos estímulos do jogo. Chamam-se momentos (e não fases) pelo facto da ordem de apresentação ser arbitrária e não sequencial (Oliveira, 2004).

Os diversos momentos do jogo (ataque, defesa, transição para ataque e transição para defesa) não podem ser vistos como estanques em si mesmos, isto é, eles dependem-se mutuamente e na construção dos Princípios de cada um deles temos de ter em conta a ligação com os restantes sob pena de haver uma desarticulação comprometedora da qualidade do jogo” (Frade, 2004a, in Campos, 2008).

No Futebol é preciso entender o Processo Ofensivo como o momento em que a equipa tem a posse da bola e o Processo Defensivo como o momento em que a posse de bola é do adversário. A Transição ataque-defesa

“É sabido que a água (H2O) é um meio essencial para apagar o fogo, no entanto, se separarmos as suas componentes, hidrogénio e oxigénio, qualquer uma destas ao invés de apagar o fogo, incandesce-o ainda mais” Karl Popper

“Não podes tapar um olho e jogar só uma coisa: Defender ou Atacar!” J. M. Lillo

“Temos ainda que caminhar bastante no entendimento, na

sistematização destas coisas, no sentido de perceber as suas conexões e de entender o Jogo como um fluxo contínuo” Júlio Garganta

corresponde ao momento de perda da bola e a Transição defesa-ataque corresponde ao momento de ganho da posse de bola. Estes processos estão intrinsecamente tão interligados que seria impensável tanto analisá-los como treiná-los de forma isolada.

O momento de Organização Defensiva caracteriza-se pelos comportamentos assumidos pela equipa quando não tem a posse da bola com o objectivo de se organizar de forma a impedir a equipa adversária de preparar, criar situações de golo e de marcar golo (Oliveira, 2004). A recuperação da posse de bola é uma tarefa que pode tornar-se mais ou menos complicada dependendo do nível de operacionalização nos Princípios Defensivos de jogo, ao nível organizacional, operacional e estrutural. E está também ligada ao jogo posicional do adversário, à sua capacidade de circular a bola e de progredir em direcção ao campo e baliza do adversário.

Segundo Amieiro (2005), a Organização Defensiva só conseguirá ser verdadeiramente colectiva se as acções táctico-técnicas realizadas por cada um dos onze jogadores forem perspectivadas em função de uma ideia comum, respeitando um referencial colectivo, em que as tarefas individuais dos jogadores se relacionam e regulam entre si. O autor ainda afirma que apenas assim o ‘todo’ (equipa que defende) conseguirá ser maior que a soma das partes que o constituem (comportamentos táctico-técnicos de cada jogador).

Frade (2002) afirma que para uma equipa atacar com muitos jogadores sem tornar-se desequilibrada deve “dar particular atenção aos timings de transição”. Para se treinar as Transições Defensivas e Ofensivas são necessários Princípios de Jogo bem estabelecidos. O momento de Transição ataque-defesa é caracterizado pelos comportamentos que se devem assumir durante os segundos após se perder a posse de bola (Oliveira, 2004). Ao perder a bola, deve-se definir referências para pressionar o portador da bola rapidamente, reorganizar-se em linhas mais recuadas ou coordenar as duas respostas numa análise rápida da situação. Portanto, no momento da perda da bola, a equipa passa por um período de desequilíbrio, na procura incessante de novo equilíbrio.

O momento de Transição defesa-ataque é caracterizado pelos comportamentos que se devem ter durante os segundos imediatos ao ganhar- se a posse de bola. Quando recupera a bola, a equipa deve saber se é o

momento de contra-atacar, tirar a bola da zona de pressão ou alternar entre ambos de acordo com o comportamento do adversário. Numa situação de contra-ataque, a equipa que recupera a posse de bola tenta aproveitar o facto do adversário ainda não ter conseguido o equilíbrio defensivo.

O momento de Organização Ofensiva é caracterizado pelos comportamentos que a equipa assume aquando da posse de bola com o objectivo de preparar e criar situações ofensivas de forma a marcar golo. Uma equipa que tem a posse de bola procura organizar-se para ter equilíbrio ofensivo, na tentativa de destabilizar o equilíbrio defensivo do adversário.

Sabe-se que o Futebol é, dentro dos Jogos Desportivos Colectivos, aquele que tem menor índice de concretização/finalização dos ataques. Bate (1988, in Laranjeira, 2009) considera que as equipas que tiverem maior posse de bola, terão maiores hipóteses de aumentar o número de entradas no último terço de terreno e assim obter situações de marcação de golo e a diminuição do número de entradas na zona defensiva por parte da equipa adversária.

Cruyff (2009) conta que a equipa do FC Barcelona, pela sua maneira de jogar, corre menos do que parece porque os jogadores se divertem com a bola, fazendo com que os adversários sejam obrigados a correr atrás dela. O mesmo autor refere-se ao estilo ofensivo desta equipa, caracterizando-o pelo “toque, a posição, o meinho6”. O autor sempre defendeu que é possível ganhar jogando bonito, dando espectáculo e por isso quando se joga bem e se ganha, tudo custa menos. Acrescenta dizendo que o ponto de partida é que a equipa mande em campo, que tenha a iniciativa, que tente atacar sempre – “atacar bem para defender melhor” (Cruyff, 2009), garantindo que se a equipa em posse de bola fizer bem os movimentos ofensivos defenderá melhor.

Quando a equipa joga bem está mais perto de marcar golos e ter resultados positivos. Fernandez (2003, citado por Laranjeira, 2009) expõe que a Organização Ofensiva de uma equipa deve englobar um conjunto de acções relacionadas com o equilíbrio defensivo, com o qual se procura que a equipa esteja preparada e organizada perante uma perda de bola, ou seja, que a equipa antecipe estes momentos.

2.4 A posse de bola (princípio colectivo) como imperativo para