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3. MATERIAL E MÉTODOS

3.1 O Recurso à Metodologia observacional e proposta conceptual

O Estudo do jogo a partir da observação do comportamento dos jogadores e das equipas tem vindo a constituir um forte argumento para a organização e avaliação dos processos de ensino e treino nos jogos desportivos colectivos (Franks & Goodman, 1986; Gréhaigne, 1989; Grosgeorge, 1990; Dufour, 1989, 1993; Latishkevitch & Dudin, 1992; Oliveira, 1993; Garganta, 1996; Hughes, 1996, citados por Garganta, 1997).

Face ao crescente interesse pelo estudo e análise dos JDC, a valência análise do jogo (AJ) tem vindo a constituir um argumento de crescente importância (Garganta, 1997).

No desporto actual, especialmente no alto rendimento, cada vez mais os treinadores recorrem à estatística com o intuito de tentarem potenciar e/ou rentabilizar a performance das suas equipas. O objectivo dos técnicos passa por fazerem uma análise estatística para poderem recolher o máximo de dados dos jogos que permitam dar informações pertinentes de forma objectiva e quantificável. Nesta análise estatística, fruto da observação recolhida verifica- se, por exemplo, o número de faltas, posições, remates, durações das jogadas, acções técnicas, etc. Conclui-se portanto que a regulação da prestação competitiva é fundamental como se pode comprovar na figura seguinte.

ANÁLISE DO JOGO: • Observação • Notação • Interpretação PERFORMANCE PLANIFICAÇÃO TREINO

No entanto, a busca de meios de análise que melhorem o conhecimento dos JDC é uma das questões mais complexas que se observa na literatura específica (Silva; Bañuelos; Garganta; Anguera; 2004).

A multiplicidade de factores que influenciam este tipo de desportos torna complexa a observação dos jogadores, na medida em que estes estão em constante movimento.

Os estudos iniciais nos JDC foram relacionados com aspectos fisiológicos, técnicos e técnico-tácticos, mas o reconhecimento da importância da dimensão Táctica na prestação dos jogadores e das equipas foi decisivo para uma abordagem mais adequada (Prudente, 2006, citado por Prudente, 2009).

Um jogo de Futebol é um fenómeno extremamente complexo e necessita obrigatoriamente de ferramentas fiáveis e rigorosas de observação/avaliação das diversas componentes. Segundo Anguera (2001), a utilização da observação na avaliação implica a manutenção de um equilíbrio entre a percepção (habitualmente substituída por um meio técnico com o objectivo de obter uma maior precisão), a interpretação (que implica completar de conteúdo as imagens ou sons percebidos), e o conhecimento prévio ou contextualização (que possibilita interpretar adequadamente o percebido em função do marco teórico que se sustenta, e de critérios contextuais, como físico, de conduta, social e organizativo ou institucional)”.

Garganta (1997) afirmou que a observação do jogo e análise do jogo referem-se a diferentes fases de um mesmo processo, isto significa, que quando se pretende analisar o conteúdo de um jogo é preciso observá-lo, para notar ou registar as informações consideradas mais importantes.

Procura-se analisar o jogo (competição) através da observação, notação e interpretação dos factos, promovendo uma avaliação dos comportamentos dos jogadores e das equipas para depois ajustar/adaptar os processos de treino, numa perspectiva de optimização (incremento de qualidade). Esta análise decorre do interesse dos investigadores e treinadores em perceber o tipo de acções que se associam à eficácia das equipas: uns, com o intuito de aumentar os conhecimentos acerca do conteúdo do jogo e da sua lógica; outros, com o objectivo de modelar as situações de treino na procura da

eficácia competitiva (Garganta, 1997). Este autor diz igualmente que a construção do treino deverá, em larga medida, decorrer da informação retirada do jogo (estrutura do movimento, estrutura da carga, natureza das tarefas, zonas de intervenção predominantes, funções prevalentes, modelo e concepção de jogo, 6etc).

Nos últimos anos, os estudos mediante a utilização da Metodologia Observacional sofreram um incremento significativo. A utilização desta Metodologia como método, com recurso às técnicas de Análise Sequencial com transições e de Coordenadas Polares, oferecem novas possibilidades na observação e análise dos comportamentos dos jogadores e das equipas (Prudente, 2009). Deste modo, é possível a captação de informação relativa às condutas ocorridas que permitem uma análise das regularidades, bem como, perceber como induzem ou inibem outras condutas, com base numa leitura probabilística da ocorrência dos eventos.

A Metodologia Observacional, pelas suas características, constitui um exemplo vivo da complementaridade entre o qualitativo e quantitativo (Anguera, 2004) e portanto a sua utilização garante a qualidade do registo, da análise dos dados e a investigação de padrões de conduta.

Constitui-se como uma das opções de estudo científico do comportamento humano que reúne características especiais no seu perfil básico (Anguera; Villaseñor; Losada; Mendo, 2000): a espontaneidade do comportamento, que implica a ausência da preparação da situação em análise; que este tenha lugar em contextos naturais, estando garantida a ausência de alterações de forma intromissiva e sem interferência da metodologia seleccionada e sabendo que: a) a conduta é extremamente sensível às condições iniciais, b) a conduta e o contexto implicam diversas interacções de variáveis, c) a conduta, analisada em blocos amplos, tende a presentear ciclos ou tendências repetitivas; que se trate de um estudo prioritariamente ideográfico; a elaboração de instrumentos ad hoc que passa por construir sistemas de categorias adaptados e, por último, que se garanta uma continuidade temporal que ofereça a base na qual actuará o nível inter- sesssional da amostra observacional.

unicamente aos mínimos requeridos mas que abram portas a novos estudos (Anguera; Villaseñor; Losada; Mendo, 2000).

Sendo assim, podemos dizer que o objecto de estudo do nosso trabalho será uma unidade de observação (equipa), inserido em qualquer dos seus âmbitos de actuação habitual (campo de Futebol), do qual iremos tentar captar a riqueza dos seus comportamentos no desempenho das suas responsabilidades ao nível do Processo Ofensivo, mediante um instrumento ad hoc.

É importante que este instrumento de observação permita a canalização das relações interactivas desejadas e consideradas relevantes para o estudo em causa. Será apresentada uma proposta conceptual para um mapeamento dinâmico do jogo de futebol (fig. 4).

Como foi supracitado, pretende-se analisar o Processo Ofensivo e sabe- se que para que o ataque seja mais eficaz, havendo um maior número de situações de finalização é importante, quer para a investigação quer para o treinador, conhecer não apenas o ponto culminante (o golo), como também todo o processo que lhe deu origem (Luhtanen, 1993; Basto & Garganta, 1996). Este processo tem como objectivos, a progressão e finalização, e a manutenção da posse da bola; englobando três fases que são a da construção

Final da posse de bola Início da posse de bola

Desenvolvimento da posse de bola Transição def- ataq Transição ataq- def Desenvolvimento da não posse de bola

Final da posse de bola Início da posse de bola

das acções ofensivas, criação de situações de finalização e a finalização; respeitando os princípios gerais de não permitir a inferioridade numérica, evitar a igualdade numérica e provocar a superioridade numérica; tendo como princípios específicos a penetração, a cobertura ofensiva, a mobilidade e o espaço; utilizando os seguinte factores: técnicas individuais (técnicas de remate, passe, condução, recepção, controlo e domínio, drible, finta e simulação, desmarcação, lançamento de linha lateral e princípios ofensivos), acções colectivas elementares (desmarcações, combinações, Princípios Ofensivos, permutas, compensações e desdobramentos e esquemas tácticos) e acções colectivas complexas (tarefas e funções, esquemas tácticos, circulações tácticas, sistemas tácticos, Métodos de Jogo Ofensivo) (Queiroz, 1983).

Formas de organização de base como o contra-ataque e o ataque rápido são caracterizadas pela rápida transição da zona de recuperação da posse da bola para as zonas de finalização, criando assim, continuamente condições de instabilidade do processo defensivo adversário (Castelo, 1996; Garganta, 1997).

Enquanto que o Ataque Posicional “é uma forma de ataque em que a fase de construção se revela mais demorada e elaborada e na qual a transição defesa-ataque se processa com predominância dos passes curtos, desmarcações de apoio e coberturas ofensivas” (Garganta, 1997:214).

Neste contexto, uma equipa inicia o Processo Ofensivo quando há uma recuperação da posse de bola, de forma directa (pressupõe a manutenção da fase dinâmica do jogo) ou indirecta (pressupõe a recuperação da posse de bola através da fase estática do jogo).

A posse de bola começa quando um jogador dessa mesma equipa mantém, de forma controlada, em termos táctico-técnicos, a posse da mesma e está em disposição de dar continuidade ou finalizar o processo ofensivo (Suárez, 1998). Logo, qualquer uma das intervenções dum jogador neste contexto será considerado uma acção ofensiva e como consequência fará parte do processo ofensivo.

O Desenvolvimento do Processo Ofensivo desenrola-se quando um jogador e companheiros da mesma equipa (colectivo) realizam um conjunto de

intervenções motoras que permitam manter a posse de bola, estando em disposição de dar continuidade ao Processo Ofensivo.

O Final do Processo Ofensivo ocorre quando se concretiza umas situações definidas no Critério de Formato de Campo 3 (ver mais à frente), quer tenha uma finalização eficaz ou não.