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A elevação do jogo a objecto de estudo constitui um imperativo, porquanto o conhecimento da sua lógica e dos seus Princípios tem implicações importantes nos planos de ensino, treino e controlo da prestação dos jogadores e das equipas (Garganta & Gréhaigne, 1999).

A planificação conceptual da Organização da equipa estabelecida a partir de um determinado Modelo de Jogo, deverá fundamentar-se na base de um sentido unitário que é expresso pela seguinte noção objectiva: a posse ou não da bola Correia (2003, citado por Laranjeira, 2009).

No Futebol, tal como nos outros Jogos Desportivos Colectivos (JDC), face a situações de oposição dos adversários, os jogadores devem coordenar as acções com a finalidade de recuperar, conservar e fazer progredir o móbil de jogo (bola), tendo como objectivo criar situações de finalização e marcar golo (Gréhaigne & Guillon, 1992, citado por Garganta & Gréhaigne, 1999).

Um dos grandes problemas do jogo de Futebol consiste em conseguir oportunidades de finalização (Castelo, 1992) e, quando concede ênfase ao Processo Ofensivo, estamos a retirar do jogo partes do mesmo (momentos e princípios), decompondo-o e articulando-o em acções também elas complexas, não no sentido de o partir, mas sim de privilegiar as relações e os hábitos (Carvalhal, 2001).

“A posse de bola é um objectivo parcial do jogo”

“Desde que colocaram as balizas no campo de futebol, vence o que consegue meter a bola lá dentro e não o que mais a tem” J. M. Lillo “Também o futebol foi atacado pela necessidade de eficácia e há quem se atreve a perguntar para que serve jogar bem. É tentador contar que um dia ousaram perguntar a Borges para que serve a poesia e este contestou com mais perguntas: Para que serve um amanhecer? Para que servem as carícias? Para que serve o odor do café? Cada pergunta soava como uma sentença: serve para o prazer, para a emoção, para viver”

“Toda a equipa que trata bem a bola, trata bem o espectador” Jorge Valdano

Gréhaigne (1989) sustenta que é possível caracterizar os traços/comportamentos determinantes e as situações desencadeantes dos momentos de ruptura produzida no sistema ataque-defesa aquando da marcação de um golo.

Para se estudar esses momentos chave, é necessário analisar o Processo Ofensivo que se inicia quando a equipa entra em posse de bola e, sem infringir as leis de jogo, através de acções individuais e colectivas, criar situações de finalização para obter golo (Queiroz, 1983). Garganta (1997) defende que uma equipa se encontra em posse de bola, quando qualquer um dos seus jogadores respeita, pelo menos, uma das seguintes situações: a) realiza pelo menos três contactos consecutivos com a bola; b) executa um passe positivo (permite manter a posse de bola); c) realiza um remate (finalização).

Num jogo de Futebol, o objectivo principal é marcar mais golos que o adversário e só será possível se essa equipa encontrar soluções para a resolução prática dos problemas que se lhe apresentam durante a competição. Sabe-se que apenas 1% dos ataques terminam com a obtenção de golo (Dufour, 1993).

A necessidade imperial de tornar o Processo Ofensivo mais objectivo e concretizador, conduzindo à criação de um maior número de oportunidades de golo, tem sido uma preocupação de todos aqueles que pretendem ver aumentada a qualidade e espectacularidade deste JDC (Luhtanen, 1993). Estes factos justificam que a procura de traços e de variações comportamentais, individuais e colectivas, tenha sido maioritariamente dirigida para as acções ofensivas (Luhtanen, 1993).

Nesta procura incessante da eficácia, é indispensável que os jogadores conheçam os Princípios gerais que regem as suas condutas no ataque: assegurar e conservar a posse de bola, progredir e atacar de forma permanente a baliza adversária e concretizar em golo os ataques (Antón, 2003).

Observamos com muita frequência a inexistência duma relação directa entre as equipas com mais posse de bola e os melhores resultados desportivos. No entanto, a equipa que tem a posse da bola tem também a

No Processo Ofensivo é preciso conservar e proteger a posse da bola, tanto desde uma perspectiva individual – que se traduz na qualidade técnico- táctica de controlo da bola, na sua protecção, na sua condução, no seu drible, no passe, como na qualidade da coordenação colectiva – expressa na prática pela distribuição e organização dos apoios em cada momento, o dinamismo colectivo (Antón, 2003).

A posse de bola pode fazer-se em várias zonas do campo, o que, por vezes, impede a tentativa de conseguir golo de forma imediata, obrigando a equipa a levar a bola para zonas mais próximas da baliza adversária.

Cruyff (2009) lembra que cada passe, cada movimento, tem de ter um sentido, ou seja, se fazes ‘posse por posse’ e se estás em zona de perigo, mais cedo ou mais tarde um jogador comete um erro e a equipa torna-se vulnerável aos contra-ataques dos adversários. É importante que os jogadores/equipas saibam o que fazer quando têm a bola, pois quanto menos uma equipa perder a bola menos vezes precisa de se organizar para a recuperar.

A posse de bola, para além da concretização do objectivo de jogo, permite que as equipas (Castelo, 1994): controlem o ritmo de jogo; surpreendam a equipa adversária através da mudança contínua do centro de jogo; obriguem os adversários a passar por longos períodos sem a posse de bola, levando-os a entrar em crise de raciocínio.

Ao longo da história do Futebol, as defesas foram-se reforçando progressivamente (inclusão de maior número de jogadores inseridos na fase defensiva), com o intuito de resistirem a ataques cada vez mais fortes e organizados, tendo como consequência a supremacia da defesa em relação ao ataque. Neste sentido, é sublinhada a necessidade de descobrir automatismos no Processo Ofensivo para surpreender, criar desordem/desequilíbrio e ultrapassar as defesas adversárias.

Determinados Modelos de Jogo privilegiam os passes curtos com predominância para as ‘lateralizações’, outros passes longos e em profundidade, e ainda outros combinam estas duas características, passes curtos integrados com acções de ‘desencaixe’, que se tornam selectivamente efectivas consoante a situação ou conjectura do momento do jogo (Dias, 2000, citado por Laranjeira, 2009).

Na actualidade, o FC Barcelona é um exemplo do Futebol positivo, pela beleza geométrica coloca nos lances ofensivos, que normalmente se traduz em muitos golos. Guardiola, actual Treinador do FC Barcelona, herdeiro da Escola de Cruyff e da Metodologia geométrica de Van Gaal, enquanto jogador era considerado o ‘arquitecto no centro do terreno’, pela forma simples e elegante com que delineava todas as jogadas e tornava o jogo colectivo. Só se pode transmitir aquilo que se sente e Guardiola transmite aos seus jogadores a sua ideia de jogo, falando-lhes de posição, desequilíbrio, circulação, desejo de ganhar, trabalhar para ser melhor.

Portanto, para que se possa avaliar correctamente a eficácia do Processo Ofensivo, é importante considerar todas as situações que permitem perceber o nível de produção de jogo ofensivo das equipas e não apenas aqueles que conduzem à obtenção de golo (Garganta, 1997).

Um estudo sobre o Mundial de Futebol de 2006 na Alemanha (Bueno, 2006) chegou a conclusão que as zonas de maior pressão e densidade de jogadores correspondem a zona de meio-campo. Cruyff (2002) refere que, no seu tempo, colocava 4 médios que sabiam dominar a bola nesta zona, posicionados em losango. Guardiola aquando da sua passagem pela equipa B do FC Barcelona também utilizou uma estrutura com 4 médios em losango, subindo um dos defesas para integrar a posição de médio-centro.

O estudo refere igualmente algumas formas de combater este aspecto no treino, aconselhando a utilizar situações que propiciem uma rápida circulação da bola no centro do terreno e mudanças de orientação do jogo, de forma a combater a pressão dos adversários nestas zonas do campo. Outra das conclusões desse estudo menciona a imprescindibilidade de dominar um amplo repertório de ‘estilos’ de jogo de ataque.

Daqui se percebe a imprescindibilidade de estudar e analisar os Métodos de Jogo Ofensivo. Estes evidenciam a forma de organização das acções dos jogadores na fase ofensiva, com o intuito de concretizar um conjunto de Princípios implícitos no Modelo de Jogo da equipa, garantindo a racionalização do processo, desde a recuperação da bola até à progressão/finalização e/ou manutenção da posse de bola (Garganta, 1997). O referenciado autor apresenta três Métodos de Jogo Ofensivo no seu estudo:

• CONTRA-ATAQUE – A bola é recuperada no meio campo defensivo e a equipa adversária apresenta-se avançada no terreno de jogo e desequilibrada defensivamente; utilizam-se preferencialmente passes longos e para a frente; a circulação da bola é realizada mais em profundidade do que em largura, com desmarcações de ruptura; realizam-se passes em número reduzido (igual ou inferior a 5); há uma rápida transição da zona de conquista da bola para a zona de finalização, baixo tempo de realização do ataque, em regra, igual ou inferior a 12’’; o ritmo de jogo é elevado (elevada velocidade de circulação da bola e de jogadores).

• ATAQUE RÁPIDO – A bola é recuperada no meio campo defensivo ou ofensivo e a equipa adversária apresenta-se equilibrada defensivamente; a circulação da bola é realizada em profundidade e em largura, com passes rápidos, curtos e longos alternados e desmarcações de ruptura; o número máximo de passes realizados não ultrapassa os 7; o tempo de realização do ataque não ultrapassa, em regra, os 18’’; o ritmo de jogo é elevado (elevada velocidade de circulação da bola e dos jogadores).

• ATAQUE POSICIONAL – A bola é recuperada no meio campo defensivo ou ofensivo e a equipa adversária apresenta-se equilibrada defensivamente; a circulação da bola é realizada mais em largura do que em profundidade, com passes curtos e desmarcações de apoio; número de passes acima dos 7; o tempo de realização do ataque é elevado (superior a 18’’); o ritmo de jogo é lento relativamente aos dois métodos anteriores (menor velocidade de circulação da bola e dos jogadores).

Um Ataque Posicional só pode ser realizado havendo variabilidade de acções e ritmos de intervenção, domínio da bola e a colaboração com os colegas de equipa (Antón, 2003). Através da análise da táctica grupal das equipas participantes no Mundial de futebol de 2006 na Alemanha (Bueno, 2006) veio a constatar-se que estilos de ataque posicionais mais elaborados

também são eficazes para combater os ‘sistemas defensivos’ das melhores selecções do campeonato.

O FC Barcelona de Guardiola veio dar força a esta constatação, pois a partir do seu jogo percebeu-se que a posse/circulação da bola com critério também pode ser um meio importante para conseguir entrar nos espaços criados.

No contexto actual, parece que muitas equipas se sentem mais confortáveis sem a bola, procurando esperar pelos erros dos adversários. O mesmo estudo (Bueno, 2006) chegou à conclusão que estilos de jogo baseados no contra-ataque e ataques rápidos, que tanto êxito tiveram em edições anteriores dos Mundiais, não tiveram tanta importância como seria esperado.

2.5 Princípios/indicadores tácticos específicos de qualidade no